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o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, no uso de suas atribuições que lhe confere a
Constituição Estadual, em apreciação aos presentes autos do Processo TC n? 02378/07, que trata da
prestação de contas do Sr. Alexandre Braga Pegado, ex-Prefeito Municipal de Conceição, exercício
de 2006, e
DECIDE, por deliberação unânime de seus membros, em sessão plenária hoje realizada, em
emitir PARECER CONTRÁRIO à aprovação das contas do Prefeito Municipal de Conceição, Sr.
Alexandre Braga Pegado, relativas ao exercício de 2006, encaminhando-o à consideração da Egrégia
Câmara de Vereadores, ressalvando de que essa decisão decorreu do exame dos fatos e provas
constantes dos autos, sendo suscetível de revisão se novos fatos ou provas, inclusive mediante
diligências especiais deste Tribunal, vierem a interferir de modo fundamental nas conclusões
alcançadas.
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Processo Te n° 02378/07
Além destes aspectos, a Auditoria apontou diversas irregularidades para as quais o interessado
apresentou defesa, fls. 1096/1115. Após análise da defesa apresentada, a Auditoria concluiu que foram
sanadas as irregularidades relativas à utilização da Reserva de Contingência como fonte de recursos
para abertura de créditos adicionais, não envio a este Tribunal das Tomadas de Preço na 01/2006 e
02/2006, divergência nas informações apresentadas no RGF e PCA relativas a Receita Corrente
Líquida, Despesa com Pessoal e Dívida Consolidada, e despesas insuficientemente comprovadas. O
Órgão de Instrução acatou parte dos argumentos e retificou o valor relativo a despesas sem licitação
que passou de R$ 502.292,09 para R$ 393.670,69, correspondendo a 13,57% da despesa licitável do
exercício e 3,50% da despesa orçamentária total. Quanto às demais irregularidades, foram mantidos os
entendimentos do relatório inicial, com as seguintes considerações por parte do Órgão Técnico:
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
Processo Te n° 02378/07
o defendente alegou que vem procedendo a uma reforma administrativa, reduzindo em mais de
40% os cargos comissionados. Discorda dos cálculos da Auditoria por ter incluído no cômputo de
pessoal despesas com serviços de terceiros que, segundo afirma, são relativas a profissionais
autônomos contratados em sua maioria através de procedimento licitatório. Com a retirada destes
gastos o percentual cairia para 57,28%. Acrescenta, ainda, que tomou medidas drásticas, através do
Decreto n° 01/2006, visando reduzir gastos com pessoal. Por fim, pleiteia exclusão da despesa com
profissionais da saúde do cálculo de pessoal devido à uma incongruência no cálculo, já que foram
aplicados 100% dos recursos repassados pela União com pessoal, enquanto que estes valores compõem
a RCL no percentual de apenas 60%.
A Auditoria não acatou os argumentos apresentados e afirma que os prestadores de serviços
desempenharam atividades como auxiliares em escolas, atendimento médico, limpeza pública, entre
outras, que se caracterizam como atuação em funções típicas de servidores do Município. Ressalta que
a inclusão dos recursos oriundos do Sistema Único de Saúde no cálculo da RCL obedece ao
determinado pela Lei de Responsabilidade Fiscal em seus artigos 2°, inciso IV, e 25 e que gastos com
Ações e Serviços Públicos de Saúde não se restringem a despesas com pessoal. Não se pode, então,
considerar equívoco nem impossibilidade legal e jurídica a inclusão dos recursos oriundos do SUS no
cálculo da RCL, nem excluir as despesas com os profissionais da saúde do cálculo das despesas com
pessoal. Observa, ainda, que no percentual de 60,52 não estão incluídas as despesas com obrigações
patronais previdenciárias.
Processo Te n° 02378/07
da RCL, conforme determina a Resolução do Senado Federal n" 40/2001, publicada em 21/12/2001 e
republicada em 10/04/2002.
o defendente alega que empenhou dívidas de gestões anteriores para honrar compromissos de
responsabilidade do Município. Associada a isso, houve a necessidade de realizar atividades
indispensáveis, como também a preocupação com o atendimento de algumas peculiaridades da gestão
pública. Registra que, ao final do exercício, as despesas empenhadas superaram as receitas devido ao
empenhamento de despesas de exercícios anteriores, a exemplo dos programas do SUS, cujas receitas
da competência de dezembro só foram creditadas em janeiro de 2007.
A Auditoria informa que o pagamento da dívida, que interfere no sistema orçamentário, foi de
apenas R$ 73.531,32. Ressalta, quanto às receitas do SUS, que analogamente ao ocorrido no exercício,
a receita de dezembro de 2005 foi contabilizada em janeiro de 2006. Observa também a ocorrência de
despesas de 2005 contabilizadas em 2006, assim como de 2006 contabilizadas em 2007. Neste último
caso, totalizaram R$ 613.472,75. Muitas das despesas referem-se a pessoal e deviam ter sido
empenhadas no próprio exercício, para que, entre outros objetivos, fosse demonstrado o verdadeiro
resultado orçamentário. O Órgão Técnico entende que princípios como o da transparência e o da
competência deixaram de ser obedecidos.
A defesa justifica que os valores transferidos concemem a ressarcimento do INSS sobre a folha
dos Professores do FUNDEF 60%, que é debitado na conta do FPM.
Não foi apresentada comprovação de que os débitos estão relacionados ao INSS sobre a folha
do FUNDEF. Além disso, o total retido sobre os pagamentos do magistério foi de R$ 72.766,47,
menor que o valor insuficientemente comprovado.
A Auditoria manteve a irregularidade tendo em vista que a despesa deve ser contabilizada em
obediência ao regime de competência, não acatando, portanto, a alegação do defendente de que as
despesas de pessoal foram devidamente empenhadas e pagas no exercício de 2007, posto que no
exercício em análise não existia fonte de recursos suficientes para suprir as dotações orçamentárias de
pessoal.
O defendente alega que as contratações foram por excepcional interesse público, de acordo com
preceito constitucional art. 37, IX, da CF, e regulamentadas pela Lei Municipal n? 297/2001. Informa
também que realizará concurso público para preenchimento de cargos, culminando por definitivamen e
acabar com este tipo de contratação.
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Processo Te n° 02378/07
A Auditoria observa que o valor das despesas com contratados por tempo determinando,
intervalo de 2003 a 2008, aumenta a cada ano. O tempo em que está perdurando a situação, usando o
contrato por tempo determinado de forma excessiva e sem caráter de transitoriedade, configura burla à
exigência de concurso público, o que caracteriza fraude constitucional. Sugere que o gestor seja
alertado a realizar concurso público e a adotar medidas de redução de despesas com pessoal, em
virtude da ultrapassagem dos limites estipulados pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
o interessado argumenta que, sendo a educação um direito de todos, não poderia haver
paralisação das atividades escolares por conta das condições físicas dos prédios.
O Órgão de Instrução entende que o desenvolvimento de ensino deve ocorrer em ambiente
propício. A situação encontrada nas escolas dos sítios Baixio e Roçado, com instalações físicas e
equipamentos sem a manutenção devida e sem estoque de merenda, compromete o desenvolvimento
do ensino nos moldes das exigências constitucionais.
O defendente alega que o transporte de estudantes da rede municipal de ensino é feito através
de 02 (dois) ônibus, 02 (duas) kombis e 01 (uma) besta pertencentes à edilidade, sendo de relevo
apontar que os demais veículos contratados obedecem a rígidas regras de segurança e são dotados de
equipamento na forma preconizada pela legislação de trânsito.
A Auditoria extraiu informações de empenhos de 2006 e de 2008 de que os veículos Ford
F4000 placas MMP5570, MNI5332, MNH2845 e KIN9186 também transportaram estudantes. Além
disso, colheu in loco registros fotográficos de veículos Ford F4000 transportando estudantes sem os
requisitos de segurança necessários. Sugere que o gestor seja alertado para as providências necessárias
e urgentes.
A defesa argumenta que as reuniões ordinárias dos conselhos devem ser realizadas de acordo
com o previsto nos instrumentos que os criou e que não há necessidade de reuniões ininterruptas co
forma de demonstrar o correto funcionamento dos conselhos.
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Processo Te n° 02378/07
Não foi apresentada defesa para este item, mantendo a Auditoria o seu entendimento anterior.
A defesa confirma a inexistência do livro para cadastro da dívida ativa e informa que o
Município está regularizando a situação.
A Auditoria sugere que o gestor seja alertado para a materialização do alegado.
o interessado afirma que a concessão de diárias segue os ditames de Lei própria municipal,
onde são estabelecidos parâmetros, e que todas as concessões são precedidas de requerimento pelo
interessado com identificação da necessidade, justificando a concessão e legitimidade da despesa.
O Órgão de Instrução sustenta que na rotina de pagamento de diárias ocorreu descumprimento
à RN TC 09/2001, pela não formalização de processos, e que à Auditoria só foram apresentados
recibos e notas de empenho.
o) Pagamento de remuneração com valor mensal abaixo do mínimo definido no art. 7°,
inciso IV da Constituição Federal
A defesa afirma que o pagamento do mínimo vem sendo observado desde 2002, que inexiste no
seio da administração qualquer servidor auferindo salário inferior ao mínimo nacional.
A Auditoria diz que, apesar do alegado, foi detectado que pessoal ligado ao Programa de
Incentivo a Epidemiologia e Controle de Doenças, ao Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, e
auxiliares de serviços junto às escolas municipais foram remunerados com valor abaixo do mínimo.
p) Não pagamento das contas de energia elétrica da SAELP A em todo o exercício de 2006
Processo Te n° 02378/07
o interessado alega inicialmente que é difícil saber com segurança a origem do valor apontado,
pois toda a folha de servidor é informada pelo Município ao INSS a quem cabe proceder aos devidos
descontos na conta do FPM. Como a Auditoria não apontou os parâmetros utilizados, a defesa não tem
condições de transmitir as informações necessárias. Lembra que para cálculo do valor devido ao INSS
não se pode tomar como base valores lineares da folha de pagamento. Em seguida, elenca os diversos
procedimentos que devem então ser levados em conta, como: contribuição dos empregados de acordo
com faixa salarial, descontos dos encargos de salário família e salário maternidade, etc. Além disso,
informa que, após levantamentos feitos por auditores do INSS, foram devidamente parcelados os
débitos constados de recolhimento previdenciário a menor, referente a período de 2006.
A Auditoria afirma que: 1) a Demonstração da Dívida Fundada não revela a contabilização de
parcelamento durante o exercício de 2006; 2) ao processo não foram inseridos Termo de Confissão e
Contrato de Parcelamento junto ao órgão previdenciário credor; 3) o demonstrativo da origem e
aplicação de recursos não consignados no orçamento e o demonstrativo das despesas segundo as
categorias econômicas não exibem a existência de pagamentos de salário família nem salário
maternidade, seja como despesa extra-orçamentária, seja como despesa orçamentária.
Esclarece o Órgão Técnico que, ao indicar a falta de contabilização de obrigações patronais e a
retenção a menor da contribuição dos empregados, não atrai para si a competência própria do órgão
previdenciário credor, mas tem o condão de chamar a atenção para os seguintes aspectos: 1) a falta de
contabilização na época própria representa uma desobediência ao que preceitua o regime de
competência, conforme exigência do art. 35 da Lei 4.320/64; 2) a falta de contabilização implica em
resultado orçamentário irreal; 3) o não pagamento no exercício correspondente faz com que, em futuro
próximo, o passivo financeiro, que já é de um valor considerável, aumente ainda mais, criando maiores
dificuldades para o município; e 4) que medidas precisam ser adotadas para reduzir despesas com
pessoal, em virtude do montante delas encontrar-se acima dos limites estipulados pela Lei de
Responsabilidade Fiscal. O parcelamento, ainda que tenha ocorrido em exercícios posteriores a 2006,
acarreta aumento no passivo financeiro.
r) Não retenção e conseqüente não recolhimento de INSS sobre serviços prestados por
pessoas físicas, no valor total de R$ 93.216,13
Não foi apresentada defesa para este item, razão pela qual a Auditoria mantém a irregularida
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
Processo Te n° 02378/07
o Processo seguiu ao Ministério Público cuja representante emitiu Parecer opinando pela
emissão de Parecer Contrário à aprovação das contas da prefeitura de Conceição, atendimento
integral às disposições da LRF; restituição à conta específica do FUNDEB da quantia de
R$ 82.450,00, com recursos próprios do Município; comunicação à Receita Federal a respeito das
irregularidades de natureza previdenciária; aplicação de multa ao gestor, em razão da irregularidade
relativa a não apresentação de documentação solicitada durante inspeção in loco; e recomendação à
Autoridade Competente no sentido de evitar toda e qualquer ação administrativa que venha macular as
contas da gestão.
É o relatório, informando que o interessado e seu representante legal foram notificados da
inclusão do processo na pauta desta sessão.
No que se refere aos gastos com pessoal, deve o gestor observar o disposto na Lei 4.320/64
quanto ao empenhamento destas despesas, obedecendo ao princípio da competência. Deve também
efetuar as adequações necessárias visando ao atendimento do percentual destes gastos de acordo com o
que preceitua a LRF. Além disso, priorizar a realização de concurso público para contratação de
pessoal efetivo, eliminando as irregularidades relativas aos contratos temporários.
Da mesma forma deve o gestor adequar a redução do montante da dívida consolidada,
objetivando o atendimento no disposto no inciso II do artigo 3° da Resolução do Senado Federal n"
40/2001.
Quanto às despesas do FUNDEB, concordo que a quantia de R$ 82.450,00 deva ser ressarcida
à conta específica do Fundo, com recursos próprios do município, porquanto a defesa não comprovou
que os débitos estão relacionados ao INSS.
No tocante à dívida com a SAELPA, objeto de denúncia junto a este Tribunal, entendo que
compete a esta Corte de Contas a verificação da regularidade da despesa após definição no âmbito
judicial.
Acompanho o posicionamento do Órgão Técnico, assim como do Ministério Público,
relativamente às irregularidades com pagamento de remuneração em valor mensal abaixo do mínimo,
não recolhimento de contribuição patronal e do servidor ao INSS e não retenção e conseqüente não
recolhimento de INSS sobre serviços prestados por pessoas físicas.
Quanto às demais irregularidades, entendo que ensejam recomendações ao gestor no sentido de
promover ações que evitem a repetição das falhas constatadas pelo Órgão de Instrução.
Processo Te nO 02378/07
b) aplique multa ao Sr. Alexandre Braga Pegado, no valor de R$ R$ 2.805,10 (dois mil, oitocentos e
cinco reais, dez centavos), com fundamento no artigo 56 da Lei Orgânica deste Tribunal, em razão
das irregularidades apontadas no relatório da Auditoria;
c) assine-lhe o prazo de 60 dias para recolhimento da multa aos cofres do Estado, sob pena de
cobrança executiva a cargo do Ministério Público Comum;
d) determine a restituição, no prazo de 60 dias, à conta do FUNDEB, com recursos próprios do
município, da quantia de R$ 82.450,00;
e) comunique à Receita Federal acerca das irregularidades relativas às contribuições previdenciárias;
t) recomende a adoção de providências no sentido de evitar a repetição, nos próximos exercícios,
das falhas constatadas.
A;
E SANTIAGO MELO
ATOR