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Resumo: Observar, perceber, analisar os conceitos e a síntese através das representações cartográficas,
dá a possibilidade de se pensar o conhecimento do espaço geográfico. Estudar desde os primeiros anos
de escolaridade a linguagem cartográfica através do conhecimento da realidade local é fundamental
para que os alunos compreendam os mapas e estabeleçam a capacidade de relacioná-los à
representação do espaço. Estabelecer relações entre sociedade e natureza é entender que a interação
entre estes se constrói o espaço em que vivemos. Por isso que neste trabalho procuraremos enfatizar o
estudo das bacias hidrográficas a partir da observação dos rios e afluentes, construir mapas, levando
em consideração aspectos físicos e humanos. Os alunos precisam estar em contato direto com a
linguagem cartográfica para que construam conhecimentos fundamentais sobre esta linguagem;
representando, codificando o espaço e sendo leitores das informações expressas. O objetivo deste
trabalho é divulgar a importância da familiarização dos alunos com a linguagem cartográfica; a
interação entre noção espacial e a forma de como o ser humano se relaciona com os recursos naturais.
Desde a Antiguidade a Cartografia esteve a serviço do homem no que diz respeito aos
conhecimentos geográficos. Através dos relatos de viagens e a necessidade da expansão do mundo
conhecido pelos interesses religiosos e capitalistas, a divulgação do uso de instrumentos como a
bússola, astrolábio e o uso de mapas foram expandidos. O mapa surgiu mesmo antes da invenção da
escrita, sendo feitos para mostrar áreas onde havia caça e pesca, como registros de deslocamentos por
meio de imagens desenhadas.
A descoberta de novos caminhos serviu de grande importância sendo do ponto de vista
religioso ou econômico, pois através deste, as paisagens eram descritas, mapas eram aprimorados e
estes estudos ligados a ciência geográfica eram elaborados.
Podemos admitir que os povos primitivos sem conhecimento da escrita, mas vivendo na
superfície terrestre já tinham idéias geográficas, pois da terra retiravam seu sustento. Através da
comunicação oral e dos desenhos escritos em rochas, transmitiam conhecimento de geração em
geração e, por isso tinham uma concepção de mundo enriquecida de idéias geográficas.
Ao chegar ao século de XVII, os conhecimentos geográficos disseminados e interligados às
ciências afins, como a Astronomia e Filosofia já eram bastante numerosas e haviam adquirido certa
profundidade. Porém, conforme Andrade (1987), a Geografia no século XVIII e XIX, em
conseqüência da expansão do capitalismo comercial se expande por causa das grandes navegações e
como conseqüência o descobrimento dos novos continentes e ilhas, intensificando o comércio e as
organizações sociais.
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Nesta década de 1980 foi defendida a perspectiva da pedagogia crítica, contribuindo para uma
visão mais ampla do professor com uma articulação maior entre teoria e prática. É relevante destacar
que, o desafio que se consolidou na contemporaneidade foi de mudar as diretrizes da didática
modernizadora ampliando os horizontes da didática crítica.
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A partir da década de 1990, após a promulgação das Leis de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB 9394/96), mais especificamente no ano de 1997, houve a publicação dos PCNs pelo MEC.
Neste documento há objetivos gerais para todas as disciplinas do Ensino Fundamental. Dentre eles,
destacamos as seguintes: a utilização das diferentes linguagens (verbal, gráfica, plástica); perceber-se
como integrante e agente transformação do ambiente em que vive, identificando e interagindo com
este ambiente contribuindo para a sua melhoria; e posicionando de forma crítica, fazendo do diálogo a
mediação de conflitos e decisões, sendo responsável e participante das decisões coletivas.
Pode-se perceber que os objetivos destacados acima estão relacionados à disciplina de
Geografia como em outras disciplinas também. Por isso, o documento PCN (1997) busca fazer uma
relação entre as diferentes disciplinas. No que se refere ao ensino de Geografia, como disciplina
escolar deve levar os alunos a compreenderem de forma mais ampla a realidade, possibilitando que
nela interfiram de maneira mais consciente e propositiva.
No PCN (1997) de Geografia o conhecimento geográfico tem por objetivo elucidar e envolver
as relações entre a sociedade e a natureza. Nesta relação,
a Geografia tem que trabalhar com diferentes noções espaciais e temporais, bem
como com os fenômenos sociais, culturais e naturais que são característicos de cada
paisagem, para permitir uma compreensão processual e dinâmica de sua
constituição. (PCN, 1997,v.5 p.40)
Nesse sentido, a Geografia contribui para a compreensão no que diz respeito às relações locais
com as globais. Sabe-se que tais elementos locais estão inseridos num contexto global e as
possibilidades e implicações que essas dimensões possuem e se inserem neste contexto.
A paisagem local, o espaço vivido pelos alunos deve ser o objeto de estudo ao
longo dos dois primeiros ciclos. Entretanto, não se deve trabalhar do nível local ao
mundial hierarquicamente: o espaço vivido pode não ser o real imediato, pois são
muitos e variados os lugares com os quais os alunos têm contato e, sobretudo, que
são capazes de pensar sobre. A compreensão de como a realidade local relaciona-se
com o contexto global é um trabalho que deve ser desenvolvido durante toda a
escolaridade, de modo cada vez mais abrangente, desde os ciclos iniciais. (PCN,
1997, v.5 p. 7)
pequena escala, determinação de latitude e longitude para localizar pontos aleatórios no planisfério, etc.).
Então, ao invés de “alfabetizar” o aluno com um código gráfico (ou cartográfico) com conteúdos sem
significados, a linguagem cartográfica cria possibilidades amplas de construção através dos desenhos com
o espaço, enfocando o sócio-espacial (a ocupação urbana: avenidas, ruas, comércio, indústrias, pontes,
favelas, etc.).
É necessário ensinar como os conteúdos espaciais são apresentados, no caso da linguagem
cartográfica, e seu significado. Em ocorrência das práticas escolares, fator importante no ensino de
Geografia surge então outro desdobramento bem interessante:
Por isso, a linguagem cartográfica no ensino deve ser estudada de forma constante não só em
um capítulo isolado, apenas dentro de um determinado tempo e depois esquecido e, nem ser ensinado de
uma só vez. Se for linguagem, deve servir para “ler” os mapas impressos, bem como para “escrever” a
respeito de algo observado, discutido ou obtido em diversas fontes como em livros, revistas, leitura de
imagens de forma empírica, fotos aéreas, filmes, gravuras e vídeos, por exemplo. Não só ligados ao
conteúdo de Geografia, mas em outras áreas do ensino, a linguagem cartográfica se faz necessária
atendendo necessidades geradas no estudo de um tema ou problema, diluindo-se em diferentes períodos ao
longo do Ensino Fundamental e Médio. É importante que o professor interprete as imagens na integra e
procure contextualizá-las em todo o seu processo: por quem foram feitas, quando, com que finalidade, etc.,
e tomar esses dados como referência na leitura de informações mais particularizadas, ensinando aos alunos
que as imagens são produtos do meio, construídas pelos seres humanos, marcada num tempo e espaço,
cuja intenção pode ser achada de forma explícita ou implícita.
É plausível perceber que o estudo da linguagem cartográfica é de suma importância ser
discutida e estudada desde o início da escolaridade. Serve de contribuição não somente para que os alunos
compreendam a utilização dos mapas, mas também para desenvolver capacidades referentes à
representação do espaço. Considerando os saberes escolares como construção social, os alunos precisam
ser preparados para que tenham capacidade de construir conhecimentos básicos sobre essa linguagem,
como indivíduos que representam e codificam o espaço e como leitores.
A escola deve criar formas para que os conhecimentos sejam construídos sobre uma
linguagem que ao fim se desdobrem em dois sentidos: como indivíduos que expressam e codificam o
espaço e como leitores das informações.
As formas mais comuns e presentes nas escolas é o trabalho com mapas de forma tradicional.
É comum uma linguagem cartográfica através de circunstâncias nas quais os alunos têm de copiar mapas,
enumerar nomes de rios ou cidades, memorizar as informações neles representadas e colorir esses mapas,
entre outros. Toda essa forma de trabalho é notório que não garante que se tenha uma construção dos
saberes e tais conhecimentos úteis, tanto para representação do espaço geográfico, assim como a leitura
desses mapas. Sendo um meio de atender a diversas necessidades das mais habituais como: chegar a um
lugar que não se conhece, compreender o trajeto dos rios e a formação de bacias hidrográficas e, às mais
específicas e locais como áreas de preservação ambiental, delimitação de bacias hidrográficas, etc.
Portanto, se faz necessário partir do princípio de que a linguagem cartográfica é um sistema de códigos e
símbolos que envolvem dimensões proporcionais, uso de signos ordenados e técnicas de projeção.
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Entender o espaço geográfico como elemento constitutivo das sociedades nos abre
uma via de compreensão da realidade que é extremamente rica, além de
indispensável. Estudar a realidade social contemporânea sem um ponto de vista
geográfico (o espaço) é tratar as sociedades como se elas fossem abstratas e
imaginárias, como um corpo invertebrado que não tem como se sustentar. É o uso
do espaço geográfico pelo homem que faz dele um componente da sociedade. Os
seres humanos organizados em sociedade organizam também o espaço geográfico,
que é um quadro de vida no qual se desenvolvem as relações sociais. As relações
sociais se dão no espaço geográfico e dependem dele em boa medida. (FONSECA
e OLIVA, 2007, p. 72-73)
A finalidade principal é levar os alunos a olhar a paisagem pela visão da Geografia, mostrando
a relação existente entre natureza e sociedade, visto que nessa relação, modificações são feitas neste
espaço. No 1º ciclo da escolaridade é mais importante relacionar tais fatos do que aprofundar em aspectos
como classificação de climas, vegetação ou/e caracterização dos rios, por exemplo.
Quando abordamos a interação dos aspectos físicos e humanos, não podemos deixar de citar
fatores relacionados a áreas urbanas, onde mudanças ocorridas nesse espaço como até menores
interferências em um dos componentes do ciclo hidrológico pode resultar em modificações em todo o
processo, trazendo conseqüências ao regime fluvial o que pode gerar uma grande diminuição da
quantidade e volume de água do curso d’água principal. Quando tratamos a respeito dos períodos de
estiagem, ou também do transbordamento no período de chuvas, grandes problemas à população que vive
próximo as margens dos rios podem vir a ocorrer, um exemplo disso é a impermeabilização do solo por
não comportar a quantidade de água escoada nos períodos de maior intensidade de chuvas, provocando
inundações. Nesses espaços a população que o habita é a que mais sofre com a modificação das condições
do mau uso do solo.
Modificações na paisagem natural por ocupações irregulares, por exemplo, pode vir a
interferir na qualidade das águas devido aos dejetos depositados nos mananciais e, consequentemente
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estão sendo inseridas, porém de forma diferenciada. Conhecer o espaço através do olhar geográfico é
tarefa fundamental nas séries iniciais.
Por tudo que já foi discutido nesse trabalho, escrevemos uma sequência didática de meios e
formas de se trabalhar o conteúdo de bacias hidrográficas, através da observação da paisagem e de sua
relação sócio-espacial.
Plano de Aula:
Conteúdo:
Objetivos:
Ciclo:
Tempo estimado:
● 5 semanas
Material necessário:
● Fotografias, mapas, imagens, papel A4, prancheta; lápis; lápis colorido; borracha;
régua.
Desenvolvimento:
1ª etapa: Começar o estudo a partir de indagações e diálogos entre professor e alunos com as
seguintes questões: Perto de sua comunidade há recursos hídricos (córrego, rio, represa, lago)? Qual a
sua função no espaço geográfico? Aonde vão desaguar as águas deste lugar observado?Apresentar aos
alunos diferentes imagens contendo aspectos que serão trabalhados como as características naturais e
humanas como a chuva, rios, mata ciliar, desmatamento, erosão, assoreamento, depósito de esgoto,
dejetos industriais e outros tipos de poluição que podem trazer problemas para a bacia hidrográfica.
3ª etapa: Discutir com os alunos o que foi visto a partir das seguintes perguntas:
● Quais são os elementos que possibilitaram a degradação (destruição e poluição) da paisagem
observada?
● É uma paisagem que está muito ou pouca degradada?
● Quais são as ações humanas que degradam a paisagem observada?
A partir das perguntas, solicitar que os alunos escrevam um texto relatando o que viram no
trabalho de campo.
4ª etapa: Dividir a turma em grupos e distribuir o mapa da bacia hidrográfica local, para que o
aluno marque o rio principal, seus afluentes e subafluentes. Neste momento, o professor irá explicar
que os afluentes, subafluentes e o rio principal formam a bacia hidrográfica.
Nesta etapa, seria importante estabelecer uma relação entre o mapa construído pelos alunos e o
mapa distribuído pelo professor, afim de que o mapa construído pelas crianças apresente a leitura do
real, visando um contexto sócio-espacial.
Avaliação:
Considerações finais:
Referência Bibliográfica:
FONSECA, Fernanda Padovesi e OLIVA, Jaime Tadeu. A Geografia e suas Linguagens: o Caso da
Cartografia. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (Org.). A Geografia na Sala de Aula. São Paulo:
Contexto, 2007, p. 62 – 78.
MOÇO, Anderson. O mundo dentro e fora da escola. Nova Escola, out. 2008. Disponível em:
<http://antigo.revistaescola.abril.com.br/edicoes/0217/aberto/mundo-dentro-fora-escola-
395087.shtml>. Acesso em: 05 jan. 2009.
SANTOS, Catarina Maria dos. A Cartografia no Ensino Fundamental: a partir do espaço social do
aluno. Disponível em: < http://www.ufpi.br/mesteduc/eventos/iiencontro/GT-9/GT-9-10.htm> Acesso
em: 15 fev. 2009.
SIMIELLI, Maria Elena Ramos. Cartografia no Ensino Fundamental e Médio. In: CARLOS, Ana Fani
Alessandri (Org.). A Geografia na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 2007, p.92 – 108.