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que afinal sustentava. A mente gil de sua mae via uma quantidade de belezas e verdades naqueles tempos intrépi- dos, essas coisas a distraiam e consumiam. Sua negligénciae falta de comunicagao nao eam intencionais. Mas existiram. (Os pais e as criangas da familia tinham certeza de que aquela formacio era étima. Identificar as realidades de sua infancia foi essencial para a recuperagio de Ann, como é para a sta. Sem essa identificagao nem Ann nem vocé poderao aprender aescolher 0 amor. ‘Como é que as adicgées da Ann (TV, dieta, escravido a0 bisturi) podem ter vindo do abuso passivo? E possivel quea sua desgraca presente tenha as raizes no passado? Nos ja -vimos a terceira camada do bolo, o abuso em suas diversas formas. Agora vamos ver como isso se traduz para os proble- mas do presente, 62 CAPITULO CINCO A Compulsdo de Repetir Como seré que John e Gladys conseguiram erradicar os fgntasmas destruidores da pazde espirito? Nao foi nada facil. ‘Aiigumas semanas mais tarde eles voltarama visitaronosso consultério. Estavam meio relutantes. Eles sentaram do mes- mo jeito que antes; John se mexendo muito na cadeira e Gladys com as maos no colo, entrelacando nervosamente 03 dedos. Seu rosto duro e encothico nao parecia nem um dia mais jovem. Nés comecamos. “Na sua dltima visita, Gladys, nés conversamos sobre 0 seu pai e sobre a influéncia que ele exerceu em vocé... 0 fato dele nunca ouvir e nunca estar disponivel para vocé. Ai eu sugeri que vocé transferiu a estupidez do seu pai para o John — era o papel que voce aprendeu a esperar de um pai — apesar do John nao ser estiipido. Vocé pensou a esse respeito?” "Bom, eu pensei.” Ela passou a lingua nos Itios. “Fran- camente, eu acho que uma coisa nfo tem nada a ver com a outra. O John nao bebe nem fuma, ele ¢ um bom cristéo — 0 papai nio era. A tinica coisa em comum é que nenhum dos dlois escuta, Bles realmente no ovvein. Doutor, voce ndo esta entendendo o que ev estou querendo the dizer.” Uma vez que os conselheiros sao treinados para ouvir e escutar com exatidao, aquela frase dizia algo a respeito do problema da Gladys. “John, voc@acha que o fato do seu paiter sido uma pessoa to critica e exigente pode ter feito de vocé uma pessoa super sensivel a criticas? Talvez até ouvindo eriticas onde nao ha essa intencao?” John bufou “Para voce é facil dizer isso. Voc no mora coma Gladys.” “Devo assumir ento que vocé discorda da minha and- lise.” “Adoraria poder concordar, mas as coisas ndo sao assim. Alias existe um monte de piadas sobre mulheres implicantes. Isso nao é engragado.” “Nisso nés concordamos.” Qualquer ratinho imparcial que estivesse num canto ob- servando o dia dos Jordan diria que a andlise estava correta. Era 6bvio. As duas tinicas pessoas no mundo que nao viam ‘a solugio eram os préprios Jordan. Por qué? OS FATORES POR TRAS DA COMPULSAO OINSTINTO CASEIRO Sheila Burnford nos ceu em 1960 uma clissica hist6ria de animais. A Incrivel Jornada. Apesar de ser uma hist6ria icticia, ela foi baseadia em fatos engracados de incidentes reais. Dois cachorrose um gato estavam sendo tratados fora de casa porque a familia deles tirou longas férias. Eles nto resistem & poderosa vontade de volar para casa. Este impla- cdvel instinto ‘enorme distineia pelos campos do Canada. Eles passam por perigos, desconfortoe desastre, mas nada consegue deté-los, Eles precisam conhecer um lar novamente. 64 eiro faz com que eles alravessassem uma Os filhotinhos de salmao descem os seus eérregos de origem para viver no oceano durante longos anos, até que um dia o lar volta a chamé-los, e eles sobem o mesmo rio, para a mesma nascente. Por cima do mesmo cardume onde suas vidas comegaram, os salm6es desovam e morrem. Os seres hutmanos acham incrivel essa capacidade que os passaros e animais possuem, de retornar ao lar. Ele ndo sabe que o Homem Andarilho também possui ‘um instinto caseiro, sé que este se manifesta de forma com- pletamente diferente. John balangou a cabeca ouvindo os exemplos. “Instinto caseiro? Nao sei nao. A Gladys pode se perder até o caminho do shopping center.” “Ese vocé nao me tivesse ao seu lado com um mapa para orientar, vocé nao ia nem achar a cidade de Dallas.” “Mas nés estamos ni Dallas.” “Bu sei.” O instinto caseiro dos seres humanos nao é geogriifico. Ele trabalha longe do nosso panorama racional. Ao inwés de buscar fisicamente o nosso lugar de nascenga ou de infancia, nds procuramos reconstrui-lo em nossas vidas atuais. Tho- mas Wolfe disse, "Voce nao pode ir para casa de novo.” Nao precisa. A casa vem até a gente. Todos nés possui- mos uma necessidade priméria de recriar a nossa nogio de familia, a situacdo familiar de origem, mesmo que essa nosao ou situagao seja destrutiva e dolorosa. Este é um fato super desconcertante com 0 qual o codependente vai ter que se entender. Cargas excessivas de culpa e pensamento magico séo dluas caracteristicas do codepentiente. Estes dois fatores (en- tre outros) desempenham um papel importante na eterniza- Gao da familia primeira uma vez que os codependentes tm uma necessiclacle muilo mais intensa de reviver o passado. Costuma-se dizerque vinte porcento das nossas decisées vém da razio ou consciente. O resto vem li do fundo. E as profundezas do codependente foram deformadias, como a Srvore golpeada pelo Faio. PENSAMENTO MAGICO © pensamento magico também podesia se chamar Penst- mento Desejosoe talvez seja melhor ilustraremvez de explicar ‘Vamos consideraro caso da Luiza, cujos paiseramambos alcedlicos. Seu irmAo, dois anos mais velho, mantinha a familia junta. Luiza s6 queria ir embora. Se deu bem nos catudos, se formou um ano antes e logo se candidatou a um Guigo de enfermagem onde se tornou a melhor aluna. la entrou para um programa de quatro anos no St Joseph’s Hospital e apés dois anos ela era uma paciente, Ea ‘eeava indiferente, sentada numa cadeira a0 lado da cama. Cansada, Sobretudo muito cansada. Seu farto cabelo casta- ‘nhoeatava bem puxado para tris num rabo-de-cavalo, fazen- doo eeu rosto parecer ainda mais magro do que jé era. Ela tra alta, com maos delicadas e olhos muito penetrantes Estava pesando quarenta e quatro quilos. w De, Ministh”, comecou ela “E melhor ir logo sabenclo que esse aqui ndo éo meu lugar.” “"Eu gosto da sua franqueza. A sinceridade vai nos dar ‘umrilmo mais acelerado.” Frank tomou umassento no canto para se manter a uma distancia confortével. “Como est se sentindo?” Sous olhos espertos pousaram nele um instante e depois -voltaram a vagar. “Vocé quer mesmo saber?” "Por favor.” ‘nim quatro dias aqui eu ja engorlel quase dois quilos, Se ‘aminha enfermeira chefé vio tivesse insistido eu jé teria ido embora.” Voc’ pesava quarenta e quatro quando chegou, Qual 0 seu peso ideal?” Maisou menos este. Por mim ew ficava mais magra, mas dizem que os tiltimos cinco quilos so 08 piores.” Ela enum sorriso triste. Como estudante de enfermagem voce certamente ja ouviu falarem anorexia.” 66 brilho em seus olhos voltou. “E claro que eu sei o que é anorexia. Minha supervisora esté errada, esse nfio é 0 mett ‘caso, Eu vigio o meu peso, gosto de ficar em forma. isso nto € duenya, ¢ bom sei esti enganada “ Tan(za encolhew ‘os ombros. “Mas enquanto voc8 nao me fizer todos os testes fe disser a ela que esta erzada, tenho que ficar por aqui.” "Bla me telefonou hoje. Admira muito o seu trabalho ea sua dedicagéo — diz que vor? esta sempre a fim de ajudar os outros.” "6, acho que sim.” Frank a observou em siléneio por um minuto, “Luiza? Qual foi o real motivo de vocé escolher enfermagem?” ‘Seus olhos perceram o brilho eo encararam, para depois se abaixarem. "Para sair de casa. Voce deve saber sobre 03 ‘meus pais. Bles bebem muito. Meu pai perdeu oempregoseis, meses ante de eu me formar no colegial ea minha mae nunca trabalhou. Ninguém tinha dinheiro. E dificil entrar no pro- grama de enfermagem do St, Joseph mas depois que vors entra, tem casa, comida e algum dinheiro, Era o tinico jeito de ew pagara minha educagdo, a nao ser que ew entrasse para o exército. Eu achei que aqui eu teria mais futuro. Seus pais devem ter orgulho de voce.” “Meu pai sim. Minha mae esta contrariada. Ela acha que eu tinha que ficar em casa e ir para a wniversidade munici: pal.” "0 fato dela estar chateada a incomoda?” “Minha mae se incomoda com qualquer coisa que eu faga. Ela quer que eu fique para cuidar os lnzeres domésti 03, Acho que quando eu for enfermeira vou ter dinheiro bastante para contratar uma diarista. Ajo trabalho vai ficar hem feito, Quando eu estava no colegial, nao conseguia dar conta de tudo e além disso estudar.” as alividladies eatracurriculares?” “Papai costumava dizer para en jogar basquete mas ter um metro e selenta v dois ji ndo é grande coisa attialmente.” Ela se curvou para frente e apertou os Libios prilidos. Respi- abe... foia minha mae que fez.0 meu pai beber 7

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