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Como num apagão, uma empresa viu sua produção despencar de uma hora para outra. Uma invasão no
sistema fez o software de controle que interliga todas as áreas de produção da empresa, desde o chão
de fábrica até o financeiro, desligar-se. A empresa foi ao Judiciário para identificar os responsáveis e
receber indenização pelos prejuízos. O advogado Renato Opice Blum, do escritório Opice Blum
Advogados, conseguiu mandado de busca e apreensão e estão sendo realizadas as perícias para o
ajuizamento de ação cível e criminal. Já se sabe que o responsável pela invasão foi um ex-funcionário,
como acontece na maioria dos casos, segundo especialistas. Porém, como ainda não há lei contra crimes
cibernéticos, nem decisão judicial final sobre casos deste tipo no Brasil, o advogado usará decisões do
Judiciário de outros países para tentar conseguir responsabilizar o invasor, com direito ao ressarcimento
dos prejuízos que a empresa sofreu.
Segundo o advogado, as chances de identificação do invasor são grandes, mas ainda não há decisões no
país que imponham sua responsabilização. Uma das decisões que o advogado usará no processo é da
Justiça americana. Nela, o invasor foi condenado a oito anos de prisão e ao pagamento de US$ 12,3 mil.
Isso porque foi comprovada a invasão, mas não o uso de informações com o objetivo de fraude. Em
outra decisão, a Justiça dos Estados Unidos condenou o estagiário de um escritório de advocacia a dois
anos e seis meses de prisão por ter acessado o computador do chefe, sem autorização. A intenção era
enviar a estratégica jurídica da banca para o escritório que defendia a outra parte no processo.
Blum explica que não há como condenar alguém pela invasão em si porque não existe esse crime em lei
brasileira. Hoje, tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei, já aprovado no Senado, que
institui uma lei contra crimes cibernéticos. Enquanto a lei não é sancionada, são utilizados o Código
Penal e a Lei nº 9.279, de 1996, que regula a propriedade industrial, para condenar o invasor quando,
por exemplo, é divulgada informação confidencial da empresa. "Nesse caso, a pena é de até um ano de
prisão ou multa", afirma Opice Blum. Mas se é provado que a intenção do invasor seria destruir coisa
alheia, a pena seria de detenção de um a seis meses ou multa.
Em mais da metade dos casos, o responsável pela invasão é o ex-funcionário ou o empregado. Essa é a
constatação do perito em crimes cibernéticos, Wanderson Castilho, que atua desde 1999 na área e já
resolveu mais de 400 casos. "Muitas vezes, o funcionário é demitido e alega que foi injustiçado", diz. O
perito afirma que diretores de tecnologia da informação de grandes empresas, quando estão há muito
tempo na companhia e dominam o setor mais do que o presidente da empresa, não aceitam a demissão.
E por vingança, atacam o sistema da empresa. Segundo ele, outros responsáveis pelas invasões são os
hackers que atuam sozinhos ou em equipes de profissionais contratadas por empresas concorrentes,
totalizando 30% dos casos. As demais situações são geradas por vírus.