You are on page 1of 2

República: Afonso Costa despertou católicos

D. Manuel Clemente indica que a Lei da Separação gerou reacções contrárias à


intenção do legislador
http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?tpl=&id=77390

Contrariando as previsões de Afonso Costa, a “Lei da Separação (1911) despertou


nos católicos uma vitalidade insuspeitável” – disse D. Manuel Clemente, bispo do
Porto, na primeira sessão de 2010 do Seminário «Religião, Cristianismo e
Republicanismo». Promovida pelo Centro de Estudos de História Religiosa da UCP,
esta iniciativa integra-se no Programa Oficial das Comemorações do Centenário da
República.

Aos participantes no seminário, o bispo do Porto falou sobre a «A vitalidade católica


no contexto da República». Nos anos seguintes à Implantação da República (5 de
Outubro de 1910), a resistência do clero foi apoiada pelos cristãos. Reunidos em
Santarém, a 10 de Julho de 1913, os bispos lançam um apelo aos católicos. O
chamado «apelo de Santarém» alterou o panorama sócio-religioso da sociedade
portuguesa.

“Defesa e afirmação da Igreja; catequização e restauração da sociedade portuguesa


com o contributo da Igreja” foram as linhas mestras que marcaram o catolicismo
português no primeira metade do século XX.

A “radicalização de Afonso Costa (pasta da Justiça e Cultos) não afastou os


católicos. Pelo contrário deu-lhes força” – realçou o historiador e bispo do Porto, na
sessão realizada, dia 21 de Janeiro, na Universidade Católica. A Igreja defendia a
separação do Estado, mas “não neste quadro”.

O «corpo católico» “não tinha saudades” da monarquia constitucional e “não


rejeitou o regime republicano”. Ainda estava bem presente o decreto de 2 de
Janeiro de 1862, em que o padre “se apresentava a concurso” para exercer o seu
múnus nas paróquias. “Nenhum bispo queria a legislação de 1862” – confidenciou
D. Manuel Clemente.

O problema é que Afonso Costa queria “somente uma República com republicanos”
e “considerava que a religião tinha um papel negativo” na sociedade portuguesa.
Neste contexto, os católicos portugueses levantaram a voz e contestaram “a facção
mais radical dos republicanos” – sublinhou D. Manuel Clemente.

Para a figura mais relevante da primeira república (Afonso Costa), o catolicismo era
visto como um “resquício dos tempos obscuros”. As obras de Herculano e Antero
são exemplo deste sentimento republicano.

Para o bispo do Porto, a ideia de que a decadência de Portugal se devia primeiro


aos jesuítas e depois a clero “era anterior ao republicanismo”. Quando Afonso Costa
afirma que acabaria com o catolicismo em duas gerações, “esta ideia tinha 150
anos” – refere. A primeira República é o culminar de uma caminho feito ao longo
dos anos.

Como o pensamento republicano não concordava com a proposta religiosa, através


de legislação (22 de Outubro de 1910) “é proibido o ensino da doutrina cristã nas
escolas primárias”. No ano seguinte (22 de Janeiro) é extinto o culto na
Universidade de Coimbra. Como afirmou D. Manuel Clemente, a primeira República
pretendia a emancipação das ciências a elementos estranhos à razão”. Citando
António Reis, o historiador afirma: “o laicismo dos republicanos sacrificou a
neutralidade do Estado”.

Os primeiros anos da República colocaram em sobressalto a hierarquia da Igreja.


Vários bispos foram destituídos das suas diocese. “D. António Barroso não cumpriu
as ordens de Afonso Costa e foi destituído da diocese do Porto” – frisou.

A ideia de uma República só para republicanos fez brotar nos católicos uma
“consciência mais definida da opção religiosa”, “uma resistência na defesa dos
valores” e “uma necessidade de formação dos crentes para a restauração do país”.

Nacional | Luís Filipe Santos | 2010-01-22 | 16:11:17 | 4579 Caracteres | Centenário da República

You might also like