Aula aberta de Ciência Política, decorrida no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, a 25 de Novembro de 2009, com o Professor Doutor António Pedro Mesquita
Original Title
«Monarquia constitucional, republicanismo e socialismo»
Aula aberta de Ciência Política, decorrida no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, a 25 de Novembro de 2009, com o Professor Doutor António Pedro Mesquita
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Aula aberta de Ciência Política, decorrida no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, a 25 de Novembro de 2009, com o Professor Doutor António Pedro Mesquita
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socialismo» 25 Novembro 2009, Salão Nobre da FDUP, com Prof. Dr. António Pedro Mesquita
➢ Pensamento português desde a 1.ª metade do
século XIX até à actualidade (apenas foi abordado o período 1820-1860) ○ 1820-1860 Pensamento liberal (século XIX) – período de riqueza política, marcado por mutações repentinas incomparáveis; Antigo Regime (absolutista, sociedade desigual) vs Monarquia Constitucional • 1.ª Restituição do Absolutismo – Vilafrancada – em 1823 (até 1826); • 2.ª Restituição do Absolutismo – com D. Miguel, auto-proclamado Rei que culmina com a Guerra Civil e a instauração definitiva do constitucionalismo liberal (1828-1834); • O indivíduo passa de súbdito a cidadão. Três Constituições (a existência de 3 constituições afecta a normal existência de instituições): • 1822-1823 – Constituição de 1822 (radical); • 1826 – Carta Constitucional, com maior vigência (conservadora); • 1838 – Constituição Setembrista. Factos relevantes: • Invasões Francesas (1807-1814); • Perda do Brasil, devido ao Congresso Constituinte. Este facto marca a viragem para o Império Africano.
Reflexões Políticas dos factos
relevantes: • Positiva: participação de toda a população na vida política com ou sem liberdade de expressão (como no período miguelista); • Negativa: impossibilidade de realização de um trabalho ideológico / filosófico de vulto por falta de distanciamento (ex: Reforma de Mouzinho da Silveira – cartas enviadas ao soberano para assinar diploma). Discursos parlamentares: • 1822 – Discursos filosóficos sobre a Constituição; • Encontram-se disponíveis, desde 1821, em fac-simile. Fragilidades do discurso político – não existem referências, mas podemos contudo destacar os nomes de: • Manuel Fernandes Tomás (1771- 1822) – figura primordial do liberalismo vintista (ala radical), marcou pela sua actividade política e pela defesa do constitucionalismo. Expôs o seu pensamento nas Cortes; • José Estêvão Coelho de Magalhães (1809-1862) – grande intelectual da ala mais à esquerda do constitucionalismo, a ele reconhece-se a riqueza da sua oratória parlamentar. Partilha do pensamento setembrista / progressista, pois “O Rei reina, mas não governa” como afirmou o estadista e historiador francês Louis Adolphe Thiers (1797-1877). Considera que os governos devem resultar do sufrágio universal directo, divergindo do pensamento monárquico. Defende um regime nem parlamentarista nem despótico e entende que o Rei não deve intervir na governação; • Silvestre Pinheiro Ferreira (1769- 1846) – importante filósofo e político português, que ocupou diversos postos governamentais nos primeiros anos da década de 1820, entre os quais os de ministro do Reino, ministro da Guerra e ministro dos Negócios Estrangeiros. Destaca-se a sua actividade em matéria de Direito Constitucional (Carta Constitucional de 1826 e Constituição Brasileira de 1824). Revela um pensamento autónomo sobre Teoria do Direito, atendendo às circunstâncias do seu tempo. Evolução deste período (5 Fases do Pensamento Monárquico-Liberal) • 1820-1823 – Época revolucionária ○ Revolução iniciada no Porto; ○ Convocação das Cortes; ○ Humilhação do Rei perante as Cortes; ○ Produção literária vastíssima na imprensa, no campo liberal; ○ 2 Correntes liberais – confronto nas Cortes Constituintes: Liberalismo Jacobino (também designado Revolucionário ou Democrático) – baseado na Revolução Francesa e sai vitorioso; Liberalismo Moderado – o Rei assume uma posição relevante nas Cortes. ○ Restauração do Absolutismo com a Vilafrancada (1823).
• 1823-1842 – Início da preparação da
Carta Constitucional (1823) e sua imposição definitiva; • 1834 – Extinção de mosteiros e conventos masculinos; • 1842-1851 – Ditadura sobre aparência constitucional (Cabralismo); • 1851-1865 – Regeneração ○ Morte de grandes personalidades, como Passos Manuel e Almeida Garrett; ○ Emergência de duas correntes: Radical (ala esquerda) – segue o modelo francês e revela proximidade ao vintismo e ao setembrismo (não é uma associação absoluta). Características: • Soberania reside exclusivamente à nação (soberania popular). A soberania não é partilhada, o Rei não é titular da soberania; • Soberania expressa-se pelo sufrágio popular; • Apego ao unicameralismo, não existem Câmaras tradicionais. Se existir uma segunda Câmara, ela deve ser alvo de sufrágio; • Vontade geral discriminatória, sem limites; • Reconhecimento da legitimidade das mudanças revolucionárias, em todo o caso. Disse Passos Manuel, “p povo quis e o povo pode”; • O Rei não pode recusar dar a sua sanção a uma lei e não tem poder legislativo; • Figuras desta corrente: ○ Manuel Borges Carneiro (1774- 1833) - foi um magistrado, jurisconsulto e político português, deputado às Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa e um dos heróis de 1820; ○ Manuel Fernandes Tomás (1771- 1822); ○ José Estêvão Coelho de Magalhães (1809-1862)
Moderada (ala direita) –
segue o modelo anglo- saxónico (EUA e Inglaterra). Características: • Primado dos direitos individuais sobre a organização do Estado. Alexandre Herculano revela-se um grande defensor da liberdade do indivíduo; • Valorização da tolerância; • Defesa do poder moderador (4.º poder) e do bicameralismo (Câmara dos Pares, geradora de instabilidades); • Defesa do poder de veto do Rei e do sufrágio restrito; • Figuras desta corrente: ○ Mouzinho da Silveira (1780- 1849) – estadista, jurisconsulto e político português e uma das personalidades maiores da revolução liberal, operando, com a sua obra de legislador, algumas das mais profundas modificações institucionais nas áreas da fiscalidade e da justiça. Preso durante a Abrilada, tornou-se intransigente defensor da Carta Constitucional pelo que teve de se exilar em 1828. Regressou ao Parlamento em 1834 para defender a sua obra legislativa, mas exilou-se de novo em 1836. Retirou-se da vida política durante os seus últimos dez anos de vida; ○ Alexandre Herculano (1810- 1877); ○ Almeida Garrett (1799-1854); ○ António Cândido Ribeiro da Costa (1852-1922), nos anos 80, do século XIX, filiado no Partido Progressista – Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra e lente catedrático da mesma faculdade, deputado, par do reino, conselheiro de Estado, ministro de Estado, procurador-geral da coroa, sócio efectivo da Academia Real das Ciências • O pensamento republicano é herdeiro do pensamento radical, porém adopta medidas da ala direita. • 1860 – Inicia-se o período de degeneração da Monarquia Constitucional.