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Cae OM et fost ConteCTOM UAT 1 ¢ ; ene eee aie Merce tne as | ene en rece Ue Yosculhando arquivos ouvindo vores pouca poe een oer | | ee oe at a te | ehh omen PO eee . BSI ADO) TOUTS Se) Lo ] | Pesquisondo os servos secretos bra sileios, analisa a insercio dos “servicos de ot | Deol Ru z= do govorno Wshington Luiz, na década de On cn do ecco ao A ligéncia (Abin), no gestéo do presidente Por center ] Neeey eres CeO Lact Poder Legislativo sio os principais pontos Cree Mot Se Te) NI@GVeINS UIUC ONTOS oss Beet en Stent Seats Brasileiros ao Longo do Século XX ite en 1 . ae até 05 dias de hoje, a esséncia de otividade i aa ace Com Ore ere eee RO ena Ly Pe a Ue ulhando arqives¢ owvindo vores pouco ees froversos componentes da aco do Es- Reem Dee aed a acco DS ce soverna Washington Luiz, na década de Dee ee cr « cracio du Agencia Brasileiro de Inte cia (Abin), no gestae do presidente Crd Alegistacéo, a atuocio dos services se OCS ee Td ace ea Cate See a ALENT cred ficuldade do Brasil pore compreender, Cd eee Cond or Priscila Carlos Branddo Antunes SNI se em relagio a0 fitzer a guerra, tornando-se uma instituigéo permanente; € cresceu, em meio ao surgimento da Guerra Fria, como aparato criminal de investigagdo, que passou a cecorser a0 uso das técnices cientificas para aa resolugio dos problemas de subversio ideolégica.* Os drgios de inteli- ‘Denys, 1998. As entrevisas uilizadas neste wabalho foratn quave coda coletadae pele Cpdoe, sndo uma parte sinda inédia e outa publicada. As inéitas sera indicadas pelo nome do entevixado e pelo no do gue exes publicadae teria indicadas plo nome de depoent, pela data de publicaio dos livrose pda pigins emt Ge so encontmdas. Tas entrevitas cannam de D’Arauj, Soars & Casto, 1994 ©1995, “4 Decroto-e st 4.783, de Se outubro de 1942. * Oliveira, 1999.23. 46 or grandes poléncias ocidentais entenda-se principalmente EUA, Inglaterra ¢ Franca, 6s poraubverso, o us ssternisic de voléaca para mudar um ondenamentoconstcacional 3 Rubens Bay 1 6 Priscila Carlos Brandéo Antunes qencia também s¢toxnatum responsivis pela detiso, aprecnso, igh Bipcia e armavenamento de informagées sobre populagbes que pederiars ger consideradas subversivas O comeco da Guerra Fria de certa forma obrigou a maioria dos paises ‘quma nova reflexao em relagfo & sua seguranga nacional, reformulando © efando suas agenicias de inteligincia de acordo come suns perspectivasideo- Togicas. Os dois grandes elxos — Estados Unidos e Unio Soviética — comeguram a exportar homens e técnica de treinerento na area de inte- [jgencia para os paises sobre os quais exerciam influéncia. No Brasil concluiu-se que a Secretaria Geral do Conselho de Segu- ranga Nacional no eta um érgio preparado pata essa nova dinsimica in- teracional, Fra necessétia a criagio de um érgao que tivesse a Funcio de recolher ¢ extudar as informagées sensiveis A defese do pais de forma siste- ities ¢ permanente, ¢ que tivesse stas atribuigses precisamente defini- das, Até entdo, as segoes de seguranga nacional heviam permanccido, se- gundo 0 coronel Ary Pites, ex-funcionirio da Secretaria Geral, absolucamente inativas (..) outras desvirenuavamse de sua finalidade ou por nto terem contade com o prestigio dos ttulares das pastas ox par se terem absorvidlo nas solugies de problemas administratives normais em maior importaucia.® Procurou-se teesteuturar @ organizagio do Consclho de Seguranga Nacional de forma a sanar suas deficiéneias. De acordo com 0 Decreto-lei 199.775, de 6 de outubro de 1946, o presidente da Repiiblica passou a ser 0 responsivel por estabelecer as bases de um plano de guerra. Como parte dessa ditettiz, o presidente Dutra, através do Decreto n* 9.775-A, dividiu a Secretaria Geral em us segies, Nessa divisio, coube particular- mente & segunda segio coordenar os servigos de informagio e contra- informagio que seriam de Fesponsabilidade do Sli, “organismo compo- nente da estrutura do Conselho de Seguranca Nacional que passaria a ter © cncargo de tratar das informagbes no Brasil”.“* Também eram fungoes da segunda seco: organizar a propaganda ¢ coatrapropaganda no que linteressasse a0 plano politico exterior e organizar a defesa do préprio sis- {Olbcina, 1950.27, Decreto-lei nt 9.775-A, do 6 de setembro de 1946. a SNI & Abin Priscila Carlos Brandao Antunes tema econémico, coordenando as medidas para a contra-espionagem. contrapropaganda no que interessasse zo plano econémico, Foi a primeira ver.que se estabeleceu no pais, oficialmente, a preoau: pagdo com a contra-espionagem ¢ contta-informacio: nao obstante, cfetivagao do Sfici, como drgio produtor de informacoes, somente viria a. ‘ocorter quase 12 anos depois, durante 0 governo Juscelino Kubitschek. Nesse intervalo, foi novamente regulamentada a salvaguarda de formagées que intetessassem 4 seguranga nacional. Na realidade, o Decree to n* 27.583, de 14 de dezembro de 1949, foi o primeiro instrumenta legal a cer como objetivo principal proteger e classificar as informacées julgadas pelo Estado brasileiro comio sensiveis para a sua segurana, A pattir de 1956, com o acirramento da Guerra Fria, a atividade de informagées passou a receber um novo tratamento por parte das autor dades governamentais. Foi quando o presidente Juscelino Kubistchek ia dicow o general Humberto Melo pata ativar o Sfici. De acordo com @ depoimento do general Rubens Denys, que juntamente com o general Humberto Melo foi um dos responsiveis pela ativagio desse brgio, have= ria um compromisso do governo brasileiro com © governo americano de se criar um servigo nos moldes da CIA (Central Intelligence Agency), A fio de uma agéncia de informagdes no Brasil favia parte de uma estrae tégia de forcalecimento das estruturas dos estados integrantes da OEA (Organizagéo dos Estados Americanos) que era de cxtremo interesse para © governo americano, Este, além de prestigiar sua criagao, teria dado todo © apoio e assisténcia necessirios 4 construcio da agéncia no Brasil. Ainda segundo o general Denys, quatro pessoas foram enviadas 208 Estados Unidos em 1956 com a intengao de compreender a estruturaeo funcionamento dos servigos de informagées norte-americanos: 0 coronel Humberto Souza Melo, 0 major Knack de Souza, 0 delegado de policia José Hentique Soares ¢ o entao capitio Rubens Bayma Denys. Participa ram de reunides no Departamento de Estado americano, na CIA € FBI, onde professores ¢ instrutores os orientaram sobre o modo de orga nizar e montar um servigo de inteligencia. A partir de entio, afirma o gencral, 0 Sfici comesou a ser organizado dentro da segunda segao da Secretaria Geral do Conselho de Seguran Nacional ¢tinha como sectetsie-geral o gencral Nelson de Melo, chefe Me Gabinete Militar do presidente Juscelino, Few localizado no 10* tar do edifcio Indbia na av Presidente Wilson, cujas instalagées foram ae as pola Comissio do Vale do Séo Francisco, econtava com quase 60 Fancionirios, entte civis e militares das zés forges.” © general Denys ficou tesponsivel pela oxganizagio dos arquivos da sectetatis, onde, de acordo com cle, os documentos eram organizades por Frese c pessoas. As fichas arquivadas diziam respeto a pessoas eminentes hhos incios politico e social. Segundo exemplas do general, co Lacerda, que era manito radical de direita, teve a sua fieba aberta li. O “Antonio (Francisco) Julizo € 0 Miguel Arrues, que erarn radicais de es- (quer, ason como todas as pessoas ilusves, conbecias,tinham gue ter tuna ficha para a gente ter ess dades, independentemente das ideolo- gias! As fichas seridm arquivadas por partidos, por agremiagées politicas, por sindicatos, por atividades de repercussio nacional e por érea geogedli- ca. Segundo Denys, a responsabilidade pela organizagio da parte politica do servigo ¢ pela parte estrarégic a de montager do servigo coube 20 coronel Humberto de Melo, 20 major Knack de Sour, ¢ posteriormente, a0 coronel Canepa Linhares, © depoimento do general leva a cret que, ducante wda 2 existéncia do Sfici, sua parte operacional permaneceu em estado embrionirio, O que havia, segundo cle, era uma perspectiva de se criar uma agéncia cen- tral nos moldes da CIA, para, posteriormente, criar uma agéncia opera- sional, Essa parte operscional atuaria dentro do pais, juntamente com lum Policia Federal, e fora do pats, com o apoio do servigo diplomatico.”” Qs dados de informagGes de Ambito governamental federal scriam obti- dos nos ministérios, através de ligagbes com a agincia central, ¢ no ambi 40 estadual, pelos servigos de informagdes que seriam criados pela Policia Federal, Segundo Denys: B Rakces Bayma Deny, 1998 yg” Bayes Deny, Ne Basil azo havi wna pola federal organtzada, 0 que hava era apenas um Depart feet Feerl de Segrange Pécs no Ditto Fedorl A rg de ue pola fede sob x reaponsbllidade do cone! Amino Raposo © Rubens Baya Denys, 1998 SNL & Abin qnanilo, na drea da informagio, se aprerasse algo gue constivudse crime contra 0 Estado por alguma razdo — corrupedo, segurence, seja 0 que for iss tra que ser investigado ¢ processado judicialmente. Enguanio isso, « informago sobre 0 fato seguiria pelos canais de informacdo até a Agencia Central de Informagées?® ‘| A proposta era de que, com o amadurecimento da agéncia, ela se desligaria da Secretaria Geral do Conselho de Segurangz Nacional ¢ um drgio auténomo, subordinedo diretamente & Presid Repubblica, Essa concepsio tinha como modelo a organizacio norte-ame ticana, em que a CLA c a secretaria do Conselho de Seguranca ficavam: subordinadas & Presidéncia e integravam a estrutura de planejamento ¢s tratégico do pais. Nessa perspectiva, foi claborado 0 Decreto n° 44.489/A, publicad am 15 de sctembro de 1958, que aprovava um novo regimento interno para a Secretaria Geral do Conselho de Seguranga Nacional. Coube secretaria “ditigit, coordenar ¢ orientar as atividades de informagdes Inieresses para a seguranga nacion: rios para que 0 governo pudesse es de seguranga”. Ela permaneceu Sfici. ém de realizar os estudes necessée Aestrutura do Sfici ficou formada por quatro subsecées: uma subsera tesponsivel por questées exteriores, a qual cabia proceder aos levant ments estrarégicos das éreas que Ihe cram deverminadas; uma dedica questics interiores, responsivel por pesquisar ¢ fazer 0 levantamento potericialidades nacionais; uma subsecio de operacdes, responsdvel pri cipalmente por colaborar com outros érgios governamentais no planeia mento de suas operagies, quando fosse solicitado ao Sfici, c uma subs voltada para a seguranca interna. Constata-se também que ja no. Juscelino Kubitschek havia uma grande preocupagio com os movin 108 considerados de esquerda. Cabia A Subsegao de Seguranga Inte (SSI) pesquisar e intormar sobre possibilidades de ocorréncias subversiva de qualquer natuteza; acompanhar a dinamica dos partidos politicos: ela borat estudos sobre as suas tendéncias influéncias cm relagao & peli nacional, além de realizar 0 levantamento ¢ manter om dia a situago fa Denys, 1998. Priscila Carlos Brandao Antunes jacipais organizagdes sociais de chasse. Ao setor de contra-informaséecs pyube a funcéo de manter em dia o levantamento das atividades de pes- soa fisicas ou juridicas que poderiam cer atividades contraias aos interes- Se nacionais; manter em dia 6 levantamento da sin 1o de agéncias que exploravam no pais as comunicagoes de qualquer naturczs; bern como participar do planejamento de contrapropagincla. Segundo o depoimen- to do ex-presidente Emesto Geisel, essas subsegoes de seguranga que fo- am criadas no Sfid funcionavam praticamente como segGes de informa- goes ¢ contra-informagées.* (© governo aprovou outro regimento intemo para a Secretaria Geral do CSN em devembro de 1956.” A partir desse decretoa Secretaria Geral ficou responsive! por elaborar um conccito estratégico nacional € por orientar a busca de informagoes quie interessassem A seguranga nacional, ¢ dessa forma criou uma Junta Coordenadora de Informagoes, & gual cabe- ria o delineamento das informagSes que devetiam ser consideradas rele vvantes & seguranga do pafs. Segundo 0 §1 do are. 4°, as infarmagies (de interesse para aseguranga nacional) serdo obtidas ‘través dos Srgtes de administrara federal, estadul municipal aucarquice ¢ paressasul, ds sociedacles de economia mista, mediante um plancjae rento realizado pela Junta Coordenadora de Informaye:, A Junta Coordenadora de Informagées sé foi regulamentada no ano seguinte, através do Decreto n* 46.508-A.™ Era presidida pelo secretitio- geral do CSN e formada por integrantes dos estadus-maiores dos ministé- ‘ios militares, do Emfa, dos ministérios civis, do Departamento Federal de Seguranga Publica pelo chefe de gabinete da Secretaria Geral do CSN A cla cabia definie a responsabilidade dos drgios federais, estaduais ¢ ‘municipais, entre outros, junto ao Servigo Federal de Informagées e Con- tta-Informagies, central autonoma, o Sfici foi egado da segunda segio ¢ vinculado diretamente ao secretisio geral. ue nio fosse 0 desejéva, ele jf adquiria uma maior auxonomia para a ‘conducaa © coordenagao das atividades relacionadas informagées. ———— ns DAtaujo 8 Castro, 1998187. 040, de 6 de dezemboro de 1958, “610 n# 46.50B/A , de 20 de setembro de 1959, cn ‘SNI& Abin, Priscila Carlos Brandso Antunes Dealguma forma, no comeco da década de 1960, 0 Sficijé se en: tava cstruturado. De acordo com uma declaragao feita pelo corondl Pices, enconttada no livio Histiria da atividade da inteligencia, o éng em 1960, jé se encontrava muito bem estruturado, Em seus registron coronel Dires afirma que o Sfici havia sido fici nae ic c u depoimen- 9 Sfici no foi um grande servigo. De acordo com seu dep Be orgs “Spelt ala Snide de entice fonhica ices usance iE o presidente precisava, pata tomar decisses’.® Percebe-se que a diferenga € encontrada entre os depoimentos dos «que riveram uma participagio ativa junto ao Sficie entte as pessoas que riveram contato com sua estrutura apés a ctiagio do SNI, Os que stuae tam na agéncia afirmam gue cla funcionava muito bem, que cstava muite hem estrucurada e equipzda, € os que 0 ocuparam apés 0 golpe alegam ‘que 0 servigo nao fincionava de forma eficaz. Entre boa parte da oficiali- dade, inclusive, permanece a hipdtese de que « queda de Joao Goulart se deveu justamente ao red ngo haver uma agéncia ativa, responsével a coleta ¢ andlise de informagées. So cacy ser dificil estabelecer 0 grau de eficécia do Sfici. Entre- tanto, «principal questo a ser considerada em relagio 3 atuagio do servi {co n0 comego da década de 1960 é: a interesse de quem a agéncia funcio- haya? Néo se justifica 4 hipdtese da queda do govesno Goulart em funcio palmente sates, ainda que contasse com grande apoio da sociedade civil, ¢ ram militares os que praticamente monopolizavam a atividade de inteli- géncia do pats, Cabe refletir se 0 servigo eta realmente ineficiente ou se rnio seria de seu interesse manter o governo alhe‘o a uma parte de sua produgio de informagies. Em pronunciamento realizado em 18 de maio de 1994, durante © 1 Scminsrio de inteligéncia promovido pela Camara dos Deputados, 0 pro fessor Oliveiros Ferreira, que trabalhava como gencral Alberto Bittencourt em 1964, afirmou ter ouvido desse general que o Conselha de Segurangs Nacional sabia sobre a conspizagao; “eu me lembrodo general Bittencourt falando em marco de 1964 ‘eu néo entendo que no Conselho estavam fepiotrados todos os telefonemas trocados entre todos os conspiradores, Havia tudo sobre a conspiracio, o nome de todase ninguém fez nada”. Ure artigo publicado recenremente na imprensa brasileira procurou avolver o Sfici na derrubada do presidente Goulart. A matéria apresen- tada no jornal O Fsiado de S. Paulo em 28 dle maio de 2000 sugere 0 Savolvimento do Sfici na articulagio do golpe de 1964, tendo como fon- estraturade nos meldes dos congineres de pales mais experimentador elf Secacontrava] em condigses de atender aos mihplesevariado aspctog tte realidad brasileira, jd apresenta um acereo de rabales ds mais fix cuendos fiientes propiciande elementes eenciais ts decides do governg, atrauks dos Sreaor de alta admintsragza publica do pais? Outras informaées sobre o Sfici ainda podem ser encontradas no. livro, Segundo o depoimento do suboficial da Marinha de Guerra Raimundo de Souza Bastos, ali contido, as transmissdes feitas pela S naquele perfodo eram consideradas muito seguras, uma Vez que se util vam os “mais modernos equipamentos de comunicagio™.* Raimun ta especialista em comunicagées ¢ eletrSnica, ¢ trabalhava na Seco d Comunicagies do Sfici, que funcionava na rua México, na cidade do R de Janeiro, Naquela epoca, a entidade funcionava no antigo prédio d asa da Borracha, na av. Rio Branco com Uruguaiana, ¢ ainda cont com uma segao de operagbes na av. Presidente Wilsos E interessante destacar que essas duas perspectivas so totalmente cons trdrlas As outtas opinides dadas anteriormente sobre a competéncia do Sfici. A quase inoperancia desse scrvigo ¢ um ponto praticamente comum entteos oficiais que depuseram, Segundo o depoimento do gencral Carl ‘Tinoco, chefe do EME durante 0 governo José Sarney e que em mead de 1964 participou da operagio de ocupacao das dependéncias do Sfici.o setvigo nfo tinha praticamente nenhum peso. “As informagoes aque! €poca eram coletadas de forma muito primaria, funcionavam em de recortes de jornais.””” © general Tinoco nao acredita que os dossiés encontrades tivessem, realmente, alguma confiabilidade. O general Enio. Pinheiro, que anos mais tarde seria chefe da agéncia central do SNT CO. Tesponsivel pela criagao da Escola Nacional de Informacécs, também afi q * Olivers, 1999.36, Tid, p28, * Caulos Alberto Tinoco, 1998 ‘io dos Santos Pinheiro, 1994128 3 SNI& Abin te uma “Informacio Confidencial n® 2/63" com timbre da Presidéncia Repiiblica. Embora o citulo da matétia seja “Servico de informacdesa na derrubada de Joo Goulart” ¢, no decorrer do texto, seja afirmado 0 Sfici sabia da articulacao do golpe mas néo quis fazer nada, a documer, tagio nao comprova esse envelvimento. Apenas faz referéncias a cxftieay. por parte de membros do Sfici a0 governo Goulatt. Permanece assim. diivida acerca da ineficicia do Sfici ou do desinteresse de alguns de servidores em manter a Presidéncia da Repiblica a par da situacao pol ca do pais, Servico Nacional de Informagoes (SN1) Loge apés o golpe militar de 1964, o general Golbery do Couro e. ilva propds 20 presidente Humberto de Alencar Castello Branco que apresentasse ao Congress um projeto para a criagio de um novo se de informagoes. A perspectiva vigente cia de que se necessitava de sélida instituigio de informagées para permitir a consolidagso do regime, Em 11 de maio de 1964, 0 presidente Castelo Branco apresentou © projeto que criava o Servigo Nacional de Informagoes (SNI).! presidente destacou em sua exposigao de motivos a necessidade do Stgio; uma vez que a gestao dos negécios do Estado “requeria informa ses seguras’, Castelo aflrmou que o Sfici no se encontrava apto a de- sempenhar a8 fungdes que lhe cabiam, pois fulavam-lhe “as facitidades 4 autoridade indispensdvel para estabelecer as relagSes entre os diversos niveis da-administragio piiblica”. Destacou também a dificuldade ope tacional que 0 Sfici encontrava para coordenar 2 coleta ¢ 3 andlise de informagies, cnquanto éigio subordinado 20 Conselho de Seguranga Nacional Antes mesmo da aprovago da lei que criava o SNI, 0 general Goll do Couto ¢ Silva, que viria a ser 0 primeito ministro-chefe do. SNIL j4 ocupa 2 sila 17 do Paldcio do Planalto, Segundo o depcimento do general Rego, uma sala que ficaria muito couhecida na historia do SNL& © Projeto de Lei n# 1.968, de 11 de maio de 1964 © Oliveira, 1999-48, © Gustavo Morzes Rego, 1994:148. Priscila Carlos Brandio Antunes [Alli que ctiava 0 SNI foi aprovada em 13 de junho de 1964.4 O jco Nacional de Informagécs foi instituide como drgio diretamente abordinado 4 Presidéncia da Repiiblicae operaric em proveito do presi- ‘edo Conselho de Seguranga Nacional. Deacordo com essa leis 0 ae responsabilidade de superintender ¢ coordenar as atividades de informagao c coners-informagao no pats, em particular a que interes Sesem A seguranca nacional. Tinha como prioridades: nbsidiaro presidente da Repiblica na orientagao ecoordenagio das ativi- dades de informayoes e contra-infarmagies; estabelecer ¢assegurar 05 ne- ceesidrios ensenedimentose ligagdes cont os geverios de extaes, com enuida- des privadase quando fore caso com ar adminisnagiernrunicipaix proceder Deoleta, avaliagto, integracio das informagées em proveito da decivies do _presideme de Republica ¢ dos etudes do CSN: promaver a diftwao ade- Gqada das informagées, OSNI incorporou todo © acervo do Sfici, inclusive os funciondrios civis © militares que nele exerciam fungées, ¢ ficou isento de quaisquer prescrigdes que determinassem a publicagio ov divulgagao de sua organi- ‘zagio, funcionamento e efetivos, De acordo com a lei, o chefe do SNI teria sua nomeagio sujeita A aprovagio prévia do Senado Federal e teria pretragativas de ministro. © ministro-chefe do SNI nao tinha poder de yeto, considerado uma avibuigio exclusiva dos ministros, Caberia & Secretaria Geral do Conselho de Seguranga Nacional apoi ar financeita e materialmente 0 funcionamento das agéncias regionais durante aquele ano. Como naquela época o Rio de Janeiro era ainda con. siderado a capital politica do pats, a agéncia central do SNI permanecet nessa cidade, sob a chefia do coronel Jodo Baptista Figueiredo. Também integravam oy cenentes-coronéis Orivio Aguiar Medeiros ¢ José Luiz Coelho Netto. Segundo 0 depoimento do gencral Ocxdvio Casta, chefe da Assesso- ‘is Especial de Kelagdes Publicas (Aerp) durante o governo Médici, coube 4 coronel Figueiredo, naquele momento, ‘produzit informagies rele- Fontes A estabilidade do movimento revoluciondrio®. (ibs we 4341, de 13 de junho de 1964. Oreivio Costa, 1994260 SNI @ AbiN Apés uma telativa estabilizacao do regime foi aprovado o regula 16 do SNI, através do Decreto né 55.194, de 10 de decembro de 19 ‘Um novo ¢ importante item foi acrescentado neste regulamento, em gio ao seu decreto de criagio, que merece ser destacado. Segundo scan 58, o SNI seria compreendido por uma agéncia central com sede no Dig trito Federal e por “agéncias regionais, tantas quiantas necessérias, sede em capitais dos estados ou cidades importantes”. Ou soja, 0 SNE criado de forma flexivel, que o possibilitava adaprar-se As novas conjun tas que fossem sutgindo. Essa plasticidade de sua cstrutura permitiu servigo criar um verdadeiro complexo de informasées. A principio, ram erisdas as agéncias do Rio, depois Brasilia ¢ Sio Paulo, fi -sponsabilidade pela implantaco das duas thimas a cargo do general Enio Pinheiro, Ele havia servido na segunda subsecdo do Estado-) do Exército, érgio responsive! pela area de informagées dentro das gas Armadas. Posteriormente, foram criadas agéncias em varias capita do pais A Agencia Central era responsivel pelo processo de triagem da g massa de informagoes que cram recolhidas pelo SNI. De acordo co Decreto n? 55.194, compreendia uma chefia, uma segio de infor estrarégicas, uma serio de seguranga interna ¢ uma sogio de operagd especiais, A Segao de Informagbes Estratégicas cabia planejar a pesquii abusca de dados que Ihe fossem determinadas, bem como reunis, prt sare atualizar os dados colhidos ¢ os estudos realizados. A Segao de O rages Especiais cabia realizar a busca especializada de informcs ¢ pa par do planejamento de operagdes a screm realizados com outras agencias E, por fim, a Segio de Seguranga Interna cabia identificar ¢ avaliar antagonismos existentes ou em potencial, que pudessem aferar a segura ga nacional ¢ realizar 4 andlis realizados. Antes da criagao do SNI, as Divisdes de Ordem Politica € cial (Dops) da Policia Federal cram as agéncias opcracionais responsi por questécs rclativas & seguranga interna. Segundo o depoimento do €O= ronel Amerino Raposo, que trabalhava no SNI e foi alocado no Dep mento Federal de Seguranca Publica para reestrucurar a Policia Fed 0 diretores do Dops normalmente cram corondis que vinham das segt das segies das regides milicarcs, aquclas responsdveis pelo servigo d formacées ¢ contra-informagies dentro das Forgas Armadas, Priscila Carlos Brandao Antunes 0 nga de ter um niimero de cfetivos bem menor do que 2 ‘1 ea pial i agbnciasrepionais também cram divididas dessa mes- a eercnas Reus efetivos, de acordo com a grande parte dos depoentes, mma forms Tce inicialmente na érca mits, tanco da aiva quanto dx a ae) orga que tina maior preseaga era o Exército, Alguns civis te ram iniialmence conttatados, mas normalmente pars deser- sav idades expefics, como esctvaes ct. Deacorlo com o general ens Rego Reis, isso cra compreensivel una ver que © prazo de im- Foreao da servigo eta CuT0 € que 08 nites eram o& Snicos com Tra lls de 1967 foi aprovido um novo regulamento para 0 SNI, que teve sua ctracura ampliada.” O dereto tasformott antigns s Are desogurana nacional dos ministzos cvs — Sages complement: sae fo Conselhn de Segaranga Nacional — cm divisbes de seguranga ¢ tetormaches (LSI). As ASIs, aseavorias de seguranga einformagoes, ins tuladas em diversas instituigdes pablicas,e as DSIs, nos ministérios civis, ficaram corwo drgios complementares que compunham o Servigo Naci Informagées, - | Sen raece ano foi regulamentada a salvaguarda de assuncos sig losos. © Decteto nt 60.417, de 11 de marge de 1967, que apravatt o Regulamento para a Salyaguarda de Assuntos Sigloses (RSAS) buscou adlequar 4 politica de sigilo governamencal 3 nova conjuncurs politica nacional, substitaindo 0 antigo decteto publicado em 1949. ‘Até 1967 0 SNI tinha como objetivo principal coletar © produzir infocmaces, organizé-las na Agencia Central, para assim tornd-las dispo- niveis 2 Presidencia da Republica ¢ & Secretaria Geral de Conselho de Seguranga Nacional. Antes da insersao dos servigos de informagoes no combate & luta aemada, que passou a se desenvolver principalmente a pertir do final de 1968, a Secretaria Geral tinha um papel muito impor- tante no Sistema Nacional de Informagécs. Héaté mesmo quem digs que até cntio da poderia ser considerada a cabega de sistema. “Mas como comego da lura armada ¢ 0 endurecimento do regime no final de 1968 houve uma grande transformagio na area de informagGes. Gasavo Moraes Rego, 1994150. © Decreco n# 60.940, de § de julbo de 1967: “Come é0-caso do gonceal Rubens Bayena Denys, 37 SNI 8 Abin [Nas Forgas Armadas foram criados servigos de infomagées em fin desse combate, ¢o SNI, para atender a essas novas demandas criadas; oposigao, expandiu-se de forma vertiginosa, Passou a ser um 6rgio sup prestigiado, o cabeca da grande rede em que se transformaram os servi de informacoes no perfodo militar, quando passou a contar com r ainda maiores para o descmpenho de suas missdcs. ‘No comeso do govemno Médici o Poder Executive criow um nagao de informacoes, O plano foi uma iniciativa da Agéncia Central ¢ buscava coordenar e fixar as prioridades do Sistema Nacional de Inform oes, cstabclecendo os cansis de exploragio e regulando os fluxos de formagdes. Tinha como basc os objetivos nacionais permanentes, dos pelo presidente da Repiblica e pelo Conselho de Seguranga Nacio O primeito PII foi elaborado pelo general Carlos Alberto Fontoura, naquicle periedo cra 0 responsavel pelo SNI. Segundo seu depoimen muita gente colaborou na elaboragio do plano, que foi cumprido dentr das possibilidades, “As veres com falha, ’s vezes com etros, mas de dma maneira geral foi bem cumprido”.”” De acordo com o general Enio Pinheiro dos Santos, um dos pont ais importantes estabelecidos pelo Plano Nacional de Informagses era que attibuia a0 SNT a responsabilidade de elaborar uma dowtrina naciola de informagées.”' Esse item teria criado um novo problema, pois nig sabia a quem atribuir, dentro do SNI, a responsabilidade pela dlabo da doutrina, Segundo ele, a Agéncia Central no poderia ser responsab lizada, pois estava diretamente ligada & Presidéncia. O ideal seria doutrina ficasse sob a responsabilidade do Estado-Maior das For madas (Fmfa), “pois podia se ligar tanto 20 comando civil quanto a militar”, Mas, de acordo com o general, oalmirante responsével pelo Ex naquele momento achou que esta seria uma tarefa muito grande pa érgio. O almirance entéo propds a0 presidente que a responsabili pela doutrina nacional de informacées fosse atribuida & Escola Naci de Informagdes, a ser criada.” i Deceeto n# 66.732, de 16 de junho de 1970. q 7» Carlos Alberto Fontouta foi chefe do Estado Maior do Exército entre 1967 ¢ 1969668 do SNI entre 1969 ¢ 1974, Carlos Alberto Eomtours, 1994: {nie Pinheiro, 1994-132. Mem. Priscila Carlos Brandéo Antunes paralelamente 3 necessidade de uma agéncia responsivel pela elabo- go da doutrina nacional de informagdes, oficiaisresponséveis pela ati- Fade de informagbes se enconttavam extremamente preocupados com J qualificagdo de seus agentes, que aeé entio eta feita principalmente no a eriot, Havia poucas alternatives na drea de treinamento de informs foes no Brasil, Na Escola Superior de Guerra, ‘antes mesmo de 1964, facionava um curso de informagbes considerado de bom nivel, mas que faze abordava nccessarlamente a dtca de operagdes ¢ contra-informasies. Segundo 9 socilogo Joao Valle, a ESG contava apenas com colaborado- rer “que formulavam teorias ideoldgicas abstratas relativas ao papel das Forgas Armadas no contexto sociopalitico vigente".” ‘No Exércico havia o Centro de Estudos ¢ Pessoal (CEP) que funcio- ava no Forte Duguie de Caxias; no Leme. © CER segundo o general Ostivio Costa, é uma escola ¢ um centro de pesquisis inspitado na Esco- lade Comando ¢ Estado-Maior do Exército (Heeme), na Fundagio Getu- lio Vargas e cm alguns cursinhos que funcionavam isoladamente, Em seu quadto proprio, em ver de professores, havia coordenadores de ensinoy professotes vinham de outras instiuigbes. O CED criow cursos de infor magoes pata oficiais sargentos ¢ comegou i formar regularmente as es- pecialistas para equipar os érgios de informagies, 0 SNI ¢ o Centro de Inteligéneia do Exército. Tanto na FSG quanto no CEP as nogées de informagoes ainda eran muito primsrias e os militares tiveram @ percepgio de que ago davan conta das novas demandas eritdas pela oposicio ao regime. Q SNI en- contraya-se extremamente militarizado e jé tinham sido criados os servi- 995 de informagées nas Forgas Armadas para combater a contestagio ar- mada, Entretanto, 2 guerra de guertilhas era algo extremamente novo pata adres de informagées ¢ os militares viram que cra preciso recorrer ao Uso de novas técicas como forma de superar este combate. Portanto, na expectativa de solucionar o ptoblema da elaboragao da doueeina nacional de informagSes'¢ de capacitagio dos agentes da drea de informagées, foi dada autorizagio para que se claborasse a Escola Nacio- nal de Tnformagies. "Nall, 1998, Outvio Costa, 1994269, 8 Priscila Carlos Brandao Antunes: SAN Abin © general Alberto Fontoura reuniu uma série de oficiais, segu cle, recratada nos melhores quadros das Forcas Armadas’ e os ey pars 6 extetior, com o objetivo de estudarem tcoria sobre a drea de in mages.” Foram enviados & Alemanha, Franca e, sobretudo, aos El Inglaterra para estudarem técnicas de intcirogatdtio, Exes oficnic ae aria os faturos inscrutotes da escola, O general Enio Pinheizo fazia parte deste grupo enviado 2o exterior foi designado como o responsivel pela criagzo da Fen: egundo orien fagoes do general Fontoura, a escola deveria ser criada em Brasilia, que ser formada por civis militares ¢ © prazo para que fosse defini, mente instalada era de cinco anos. Dessa forma, através do Decreto n® 68.448, 31 de marco de 197) stiou-se a Esni, com sede em Brasilia e subordinada diretamente & dencia da Republica. A Esai absorveu todos os cursos estigios eclcio los & sea de informagées do CED ¢ da ESG. Fla tinha por finaidades ele era o mais sofisticado; o oes da ESG, que de ssrdo com de cine ma sind: 0 ee feria do CEP; ¢ 0 curso da prdpra For. Cada or wee um ano. Havia ainda um outro curso direcionado aos du oe ecretirion de Estado, que tinha uma éuracso de dois dias e tninisttos € 8 : Hpsinava essas pessoas a lidarem com as informagoes que lhes cram repas inava ess sais que dir rapeio & claboragio teéria e esrucual da escols, 0 Be io dos norte-americanos. Foilhe ofe- Eaio contou cam o amplo apoio dos no is - eae rio de cis etestio POL ena CA, do qual também Parc ae ‘ almirante Sérgio Doverty. Segundo: seu depoimente, oe secmentagao trazida desses cursos que se tirarara as espa acre : “pit ” nos documentos iddos Goda agencia. Foram dadas umas ‘pingadas” no re et documento brad ins Adenenos americas cele ede earn de sua criagio a Esni se empenhou ig cheats de uma doutrina para a étea de informagoes. O Gabi nerd Savio} . cignal de Informages (GABISNI) através da ioe pee a (de dcecmbro de 1976, publicou o primeiro Masa letersi’ 4 Esni, que, segundo o general Enio, regulamentava a doutrina que j sendo usada em earster experimental desde 1973. ey ‘© cursode informagées foi ministrade durante toda ad te 70 ¢ formava cerca de 120 pessoas por ano. De aconlo com 03 dep: ne aproximadamente 3/4 dos formandos monet ay pessoas roveitedas pelo SNI nos vérios niveis de sua estrutura ; i cana finde guerritha do Araguaia em (Sitenesrowse on perio do de enfrentamento armada que havia se desenvolvido desde © ld ano de 1968, obrigando o paisa rever alguns de seus pr aeons nados & seguranga nacional © A doutrina nacional de informagées. ia janciro de 1977 0 Decreto n? 79.099 novamente cegieainea sal guarda de assuntos sigilosos, adequando-a.4 nova conjuntura politica. Ds falta ee de Sl eayeiecte que ioarsie ince ‘em rclagio a estrutura do SNI, uma vez que 0 combate & luca armada jé ‘estava concluido. Masao contrdtio do que se esperava, durante 0 governo Jo&o Batista Figueiredo (que havia chefiado o drgio de 1974 2 1978) 0 rar civis ¢ militares, para © atendimento das necessidades de infor. mages ¢ contra-informagoes; * couperar no desenvolvimento da Doutrina Nacional de Informagbes * realizar peaquisas em proveito do melhor rendimento das atividades do isn De acordo com © depoimento de alguns militares, como é 0 caso da seneral lvan Mendes, por exemplo, a Esni foi uma escola superdimensio- nada, nio obstante fosse “uma escola excelente e de alta qualidade”.” Grind com recursos enonmis, foi construila no setor poicil de Bras © equipada com que havia de mais moderno em instrumencos eletrani- Gos. A escole possula até um stand de tito subterténco, Segundo 0 general Baio, ld funcionavam os cursos de Iinguas como inglés, francés, alemao, italiano, chinés € tusso, além de trés outros cursos: ¢ curso de analista de B Alberto Bontoura, 19909 * Durante 0 govemo Costa e Silvazo general Enio Piaheico organizou a Agéncia Central do Sevvgo Nacional de laformaybes AG/SNIem Brastia ecru 2 Eeala Nocona de lao, sagtes (Boni). ” Wan de Souas Mendes, 1995: 163. Pinheiro, 1994135 6 SN & Abin Priscila Carlos Brandéo Antunes SNI teve expansio substancial. Seu chefe durante o governo Fi cra o general Octdvio Medeiros, estando 2 Agencia Cential sob a ¢ do general Newton Cruz, Medeizos chefiou o SNI com amplo apoio presidente, recebendo todos 0s recursos humanos e financeitos queaé necessitio, Segundo o depoimento de general Octavio Costa. dep. to com_o qual boa parte dos oficiais concosda, o SNI de Medeiros um poder extraordingrio, sendo considerade algo como uma quarta fo armada”? O'SNI montou um servico médico proprio. que Ihe permiti indir do servigo médico das Forgas Armadas;a Agencia Central em Br criou uma wopa de operacbes especiais formada por pixa-quediscas, montada, dentro de setor policial em Brasilia, a Prélogo, indus segundo o gencral Carlos Tinoco, havia sido criada por influéncia cretaria de Informatica da Presidéncia da Repablica ainda no go fo obstante essas mudangas, o SNI no govero Figueiredo conse- vee expandir de Forma nunca vista ¢ obteve grandes vantagens pec. st Mesmo apés o fim do regime militar, continuow a contar com va grande parcela de recursos dh Unio e a teceher funds superiors “dos demais ministétios."? "No final do mandao do presidente Jodo Batista Figueiredo houve a go do primeizo presidente civil ao pals, apds 21 anos de regime mili- Tancredo Neves, candidato eleito do Partido do Movimento Demo- vtico Brasileiro (PMDB), impossibilitado de assemir 2 presidéncia da Republica devido a problemas de sitide, foi substitaldo por José Sarney, sntigo colaborador do regime militar, ‘Durante 0 governo Sarney, 0 chefe do SNI era'¢ genceal Ivan de Sou “Mendes. Naqucle momento o perige do inimige interno, a hata arma- dacaameaca do comunismo internacionsl eram questGes realmente su- nadas © 4 Guetta Fria mostrava seus sinais de decadéncia. De acordo ‘6 general van, 0 SNI, que tinha como um dos objetivos principais tiraseguranca do Estado, foi obrigado a rever suas posturas. Come- se com uma série de questoey relacionadas a problemas tedc codigos.” O SNI chegou até mesmo.a montar um estidiode t em Brasilia, no qual o presidente Figueiredo fazia seus pronunci : cee Come declarou o general Octavio Costa, o general Medeiros cons — a reunir no SNI a inteligéncia da engenharia militar, dando-the um cional poder tecnolégico.” 7 Una das poutcas mudancas ocorridas no SNI se dew em seu cstrutural, mas foi de grande importincia para a redugio da pre limitagie oder das Forgas Armadas dentro do SNL. Ei i levitate lender das Fessar lem dento’do SOT B esverns Fernanda allot. hinave “ue prpcesio de terete dp ugar, foi reduzido a dois anos o tempo de perenne om de infernagbet* © gence! Kan presuocs segundo sus pe xe da dc do SNI ¢, 7 i le + : = yy psi a FF cansrcLs anaes Ts cepa dos corde abel em » “dosar adequadamente 0 emprego des meios qc tinha para a Central e de chefe das delegacias do Rio e de Sio Paulo. tude dessa concepgaa, procurou-se, de certa forma, compati- a cstrutura do SNI& nova tealidade internacional, Nao se pode que houve um corte no que-vinha sendo feito, mas, come disse 0 deiro Sécrares da Costa Monteiro, ex-ministro da Acrondutica du- Ay opinioes de mileares relacionadas ao crescimento de SN1 io encontradas em DAL Fe hitiectimer a ao ees eat Soares ¢ Casin, 1995. . BStitiadé nag Binjas Atma seria aquelé que servis na SN ¢ sins atividades de A Prologo passou a desenvolver ao Braiil 3 trenologia dos cartes mign: e sheen Vormugics sobre 0 argamento do SNI, ver Bafta, 10 gencral Carlos Tinsen,chefe do Emnfa, em 1987 extingui a Prilogo, SEs ee MRR ESCO ct Hand forar repasados & Indistsia de Material Bélco do Brasil (Tm), eriada ém 1975 00 Bra. No co hound devido» prob mo Sosnames ede Fangs dda sus dividas-trabalhistas, O Cepese hoje se encontea alocado na Abin. Be Mlscionados com a Guiana ee ® Qexdvie Cons, 199521. *48Costa Monten, © Goes, 1988:236. Me », 1995. SMI & Abin Priscila Carlos Brando Antunes atividade de informagées ¢ dar maior importincia as informa trnas”.* aa Marinha io hd, por enquanto, como apurar com rigor 2s mudancas og das dentro do SNI nos primeires anos da Nova Repiblica. Segundk Funciondrios e alguns oficisis, o érgio passava por complexas mudah quando ocorreu sua extincio em 1990. Essas mudangas faziam chamado Projeto SNI." Como parte desse projeto, o presidente Sar transformou a Secretaria Geral do Consclho de Seguranca Nacional, Secretaria de Assessoramento de Defesa ional (Saden)” ea novo regulamento para o SNI, onde jé ¢ encontrada uma reference Prabeas data. De acordo com o parigrafo tiie do inciso XIll do Capital questoes relacionadas & forga. Compete privativamente ao ministro-chefe do SN autorizar o © Centto de Informagaes da Matinha (Cenimar), étgio que se tor- ‘mento de informasdes porventura exiitentes nos registros do SN, rela nou famoso durarite 0 regime miliear deste Asua opacidade e eficizncia, gueles que as solcitarem e decidir quanca aos pedidos de rtfca, foi criado em novembro de 1957 através do Decreco n® 42,687. Esse de ns pelos préprios interessados. 4 cereto alcerou a estrutura do Estado-Maior, separando 0 Servigo Secreto da “Marinha da estrurura orginica até entio vigente, constituindy © Cent __ O general fol 0 responsivel pela elaboragao de urn novo “Maat mar coti’'a inalidade'de obter infarmagGes de interesse da Marinha © informagoes" aprovado em marco de 1989, cujo texto concebe uma no} subordinado diretamente a0 Estado-Maior da Armada, definigio para.a conccito de informagoes. O decrero que seguia 3 sua criagio aprovava o regulamento do Ceni- A arividace de informagdes ¢ desenvolvida pelo organismo de info ee pecan om cles cantcte dicks < amen es me constitnindo o exercteia sstemitico deasies expecializadas oriensadasf ean Ge Tania, Saree He pit a Ie eae ee 4 produgto da saluaguarda de conhecimentos, tendo em vitea asses pe de Informagées ¢ Seo de Servigos Gerais. Seu quadio de pess sautoridades yovernamentats nos reipectivos nivels e reas de Binet pot wn diets a ess queer wi pltiede oar e-gus- pane plaricjamento, a exccugae € 0 acompanhamento de suas poli a Serpe densely ure vinsineots cree esr um copliio-de: ta, c tr8s encarregados de divistio, que deveriam ser capities-de-corveta do corpo da Armada, além dos oficiais ¢ pragas que se fizessem necessi- tio, ‘A Matinha foi a primeira das ts forcas a se preocupar com a arca de jnformagies. Ainda no inicio da Guerre Fria criau o Servigo Secreto da Marinha (SSM), que teve como primeiro dirctor o capitéo-tenente Humberwo Fitipaldi. Na realidade, esse servigo 56 foi regulamentado em 1955 com o nome de Servigo de Informagées da Marinha (SIM)?* O Ministério da Marinha, dessa forma, tomnou-se o primeiro a instituir seu gngo de informagdes singular, vokado especificamente para @ (rao das De acorde com Sérgio Porto, no final do mandato do preside Sarney, criou-se no SNI um grupo de trabalho, que tinha # fu estudar as novas necessidades da agéncia, organizacionais © este Antes do final dos anos 1970 ¢ do surgimento da uta armada o Ceni- com 0 objetivo de propor novas medidas que permitissem a adaprag ‘mar tinha seu funcionamento toualmente direcioncdo para questbes rela aagincia & nova realidade politica de pais. Mas 0 SNI foi extinto ‘clonadas & diplomacia ¢ aos problemas da Marinha, como controle de ‘588 projeto ser concluido, fronteicas maritimas € prevcupayav vom o pessoal da corporagao. A partir é 1968, com © endurecimento de regime € 9 aumento das agGes cadeadas pelos grupos de esquerda, 9 Cenirmar reve suas direcrizes Tran Mendes, 19955166, ° Para mais informagdes sobre estas mudangas, ver Oliveira, 1999: I _ m Decrta 96814, de 28 de Scemivo de 1988 St Miner ae 268, de de deinen de 1955. 9! Apud Oliveira, 1999-85. SNI & Abin Priscila Carlos Brandao Antunes redimensionadas. Assim como nas outras duas forcas, foi atribuida nieeste Mauro CéSat Rodtigues, ministry da Marinha durante o pri Marinha a tarefa de combater os grupos de esquerda ¢ de zelar pela s ; aio mandato do presidente Fernando Hensique Cardoso, “para que ranga nacional. Nesse sentido, foi aprovada uma nova cstrurura pa i ae etissem dons da dre’, Segundo o almirante Serpa, os ofcais Ministério da Marina, através do Decteto n¥ 62.860, que respon fue na Marina se especiaizavam em informagoeseram enviados para zava a Marinha de Guerra por “gatantir os poderes constituidos, a lei Tpalhar no SNI. ordem, através do emprego do poder maritime” Aré entio, o Cenim ‘No comeco do regime militar o Cenimar tinha como responsabilida- ainda fincionava subordinado ao Estado-Maior da Armada. Foi aper de centrilizat as informagics clas segundas segSes, que respondiam pelo em margo de 1971 que pascou a ser subordinado diretamenre 0 minis Secor de informages no Estado-Maior da Armads, Segundo Serpa, nao da Marinha, que ampliou sua atividade com a finalidade de intensifi havia no EMA uma jurisdicao espectfica para tratar da area de informa- combate & subversio.”” Uma nova alteragio em sua estrutura some gfes, Desde 0 momento de sua criagio, @ Cenimar estatia voltado para seria realizada no final de 1986, quando passou ase denominar Centra Gqucstes externas € problemas relacionados forgae seria parti do reg Informagécs da Marinha (CIM). amilitar que passout a acompanbar as associagbes de fuvileiros mavais € Informagses precisas sobre 0 Cenimar sio muito dificeis. O se marinheiros ¢ a se preocupar com as forgas de esquerda no Brasil” de informagiesda Marinha ¢ considerado o mais fechado, mesmo para © Cenimat, segundo as opinides da “comunidade de informacies". oficiais de outras forgas que também trabalhavam na drca de infon orginizou o maiar acervo de informagoes do pals sobre as forgas de es- durante a ditadura, O general Adir Fiza de Castto, um dos responsi querda. Dentro do centro eram designados oficiais para realizar escuclos pela ctiagio do Centro de Informagées do Hxército (CIE), por ex ‘sobre essis organizagies, ¢ cada qual especializava-sc env uma organizagio afirmia em seu depoimento nada conhecer sobre 0 funcionamento ¢ detcrminaca. Segundo grande parte dos depoimentos aqui mencionados, Cenimar, mesmo tendo boas relacies com o dirctor desse Grgio, o alm 0 Cenimar se rornou um dos mais profundos conhecedores da doutrina ¢ rante Teixeira de Freitas, 4 época em que servia no CIE.” do funcionamento do PCB, conhecendo inclusive seus membros ¢ stas Segundo o almirante Ivan da Silveira Serpa, ministro da Ma divergéncias teéricas.” durante 0 governo Tamar Franco, o Ceniimar era formado por uma mal Além de realizar estudas sobre a esquesda, © Cenimar também infil- tia de civis ¢ apenas seis oficiais e funcionava numa pequena sala det {tava pessoas nos nayios, Segundo o depoimento do almirante Henrique tg Ministérin da Marinha, no Rio de Janeiro, Fssa maior presenga Sabsia, ministeo da Marinha durante © governo Sumey, no se tratava de civis se justificaria pelo faro de que os oficiais precisavam seguir cartel -Agentes externos, mas normalmente de pessoas nomeadas pelo prdprio Nu Marinha, de acordo com os depoimencos, scrvir ao Cenimar nia ‘Comandante do naviv. O almirante até concorda que tenha havide um ou uma posiqan cobigida, pois obstaculizava a carcirs. Além do: mai fur caso de agentes dentzo de navies sem o eonhecimento des coman- oficitis nao podiam permanecer por muito tempo no centro, onde “antes, mas afirma que, em 95% dos casos, o mais provavel € que o co: uma certa roratividade entee os funcionérios, de forma a evitar qt _andante soubesse da infileragio do agente. A nio ser quando o prépri punots e2 spraprianci do sevico de forma privada, ou, come d Somandante merecia «lguma vigikincia especial per parte do Cenimar.' Putir da divulgacao das dirctrizes especiais no governo Medici ¢ “€om acnerada do Cenimar no combate 3 luta armada juntamente com os 5 Decteto a! 61.860, de 18 de junho de 1968. % Decroeo nt G8.447, de 30 de marge de 1971 4 Decteto n#93.188, de 29 de agosto de 1986. Z Scr 998. - 76 almicante"Teizim de Freitasfoichele do servico de informagaes da Matinhade » No PCH husia quaceooficias da Marinka infeadas, alsin de agentes “ bro de 1957 a navenmibro de 1961; de abril de 1968 a decembro de 1965 « de abil de 17 “#iniomnacacs adas,além de agentes dos outros servigus marge de 1968. Hervigus Sabsia, 1998, ar SNI & Abin Priscila Carlos Brandio Antunes varios érgios a clas subordinados, © Cenimar cresceu substancialmes tendo sua estrutura revista apenas no ano de 1986, no final do militar"! undo a perspectiva de varios oficias entrevistados,faltavam a esses ér- Se os mecanismos que Ihes possibilitassem agir de forma mais ripida & ‘ence. F decorria disso, portanto, 2 necessidade de criar um centro de semagoes dentro do Fxército, ; HNO general Adyr Fiza he Castto (oi ui dos primeiros oficizis a orga ‘pizar um curso de informagies dentro do Exército, o que ocorrea quando “gssumiu a chefia da segunda seco do EME, no final do governo Castelo Branco. De acordo como general, as segundas segées eram muito indcuas ‘no que dizia respeito as informagoes internas, fallava-lhes coordenacao. “Blas eram capazes de revolhé-Iis, processé-las ¢ ne entanto nao sabia 0 (EME). Mas, no governo Emilio Médici, o ministro do Exército, 0 _que fazer com o resultado desie trabalho, A eriagio do CIE teria sido uma ral Orlando Geisel, subordinou o CIE diretamenteao Ministériodo. sugestéo do general Fivia, como forma de solucionar o problema das ito," Novas altcragdes em sua estrutura ocorreram apenas em 19 segundas secdes. Para isso contou com 0 total apoio do general Sivio Fro- quando foi dada nova organizagio ao Ministério do Exétcito. ta, entao chefe do gabinete do ministro Lyra’ Tavares, O CIE era 0 servigo de informagses que contava com 0 maior quad ~ O general Fitiza tornowse @ primeiro chefe do CIE, De acordo com dde pessoal ¢ 0 que mais se empenhou no combate & luta armada. Cri seudepoimento, logo que o CI foi ativade passow a receber informagocs em fungio do combate a subversao, foi principalmente no governo Méd - de tedos os E2, do Cenimar, do Cis, do SNI edo Departamento de que o CIE eresceu, Naqucla ocasido, o ministro do Exército era’o Policia Federal e a cencralizé-las." © CIE comeyou a funcionar no 8 Orlando Geisel ¢'0 CIE funcionava sob a chefia do general Milton ‘Ta andar do Miniscério da Guerra, na av. Presidente Vargas, ¢ contava com que foi um dos grandes planejadores do combate a repressio naqucla épo aproximadamence 80 pessoas. Segundo o general Fitiza, o drgio era for caecontoy com amplo apoio da Presidéncia e do Ministério do Bs mado, sobrctuc, pelo pessoal antigo da segunda seqao do Estado-Maior: para exercer suas fungées. Sargentos, arquivistas, focdgrafos e especialistas em microfilmagens. Ha Antes da criagao do CIE 0 érgdo de informacées do Exército en ‘Yeria entre cles pessoas capacitidas para abrie fechaduras ¢ entrar em lo- segunda segio do Estado-Maior, formada pelas E2. Essa segio produ «suis privaclos, akém dle cerca de 50 pessoas que ficcvam responsiveis pela informagdes sobre os exércitos de outros paises, suas organizagoes, cuts, nos 50 canais eclefbnicos que CIE possuia." © CIE ainda dis- turas, material bélico ete, Ali ceneralizavam as informagoes que s¢ Panha de wna rubriea espectfien que era usad pare pagar agentes infor- para 0 chefe do Estado-Maior e do EME e para o ministro do Ex ‘als: os ‘olheiros do CIE" como reconheceria 6 peneral AntOnio Veneu.!” Segundo o depoimento do general Ivan Mendes, cla também era resp __ Asfungdes do CIF nada tinham a vercom os problemas relacionados sével pelas informagées sobre a situagio nacional. Recebia info 4 questBes externas, pois, a0 contritio do Servico Secreto da Marinha, @ de BME essa font cx repascave para 0 winiss do Ce {oi criado justamente com 0 objetivo de combater a subversio. Os roblemas relacionacon a quest@es externas continuaram sob a responsa- 9 Ae direries especisis Go encontradas no Decreta n= 66802. de § ds junho de H le das segundas sesdes do Estado-Maior. Na estrutura do CIE foi serio exploradas posceriormente. ——— " Essa informasao foi retirads do depoimento de general Antinio Luis "Ateacdo entre us vii (1997), pois nto foi locliaado o decree que deteminow ess a % Decieto n#93.188, de 29 de agosta de 1986, "4 Tyan Mendes, 1995:167, Exército O CIE foi criado durante 0 governo Costa e Silva através do Decre os ervigos de infonmugies durante oreginieaultarvinds Gum aseento 1 panuclese capitule, SNI & Abin: entre-a teoria © = prStice Priscila Carlos Brando Antunes formagio: O co sereiativas& repressio foram conchuridas pelos Codis « pelos DOIs. que eit m a operar em conjunto com as policias estaduais ¢ federais, sob Ho « coordenacio geral do ministro do Exército, A essa cstrutura ¢ criada também uma seo responsivel pela contra Cyro Guedes Etchegoyen foi um dos responsiveis pela montagem, seqio no CIE, que, inicialmente, ers formada por um oficial e dois. gentos, Fm termos conceituais. pelo que pode ser observado em seu: repiunto de operagbes deu-se 0 nome de Sistema Nacional de Segu- poimento, a concepgao de conira-informagses é um pouce dife aca Interna (Sissegint) ius somdamgs anitrionnce acordo com a concepsio aqui tab ‘De acordo com grande parte das depoimentos coletados, os Codis e a, «contrs-informagao diz respeito& protegio das inFormages ‘es DOI foram ctiados com a responsabilidade de coordenaras operagces CIE 0 cetor de contra-informasoes foi usado como protecio no essio 4 luta armada, cvitar o desperdicio de esforgos que vinha de sepurance pessoal, de escolta, Como se pode confirmar com 0 casod eortendo ¢ evitar que estes Srgéos "baressem a cabega entre si.” commana dv Saguicerent da Independéncs. Conbe (Ou Codis foram 28 unidsdles de‘consdnda sesponslveis pelas opera Je contra-informagées, segundo 0 depoimento do coronel Cyto, g6ecdlerepeessio& uta armad, Funcionavam dentro do Exército ¢ cada spurns do cei: “sn rane uo pad i ‘Mpandasecao nha o seu comando de operagbes cig pelo chefe do palmente para um tenente-coronel, As dificuldades eram muicas", Estado-Maior do cscalio considerado. Os Codis ficayam subordinados exemplo: 440 EME ¢ nfo ao CIE, ¢ tinham uma earacteristiea peculiae: funciona vam com membros das trés Forgas Armadas, cujos 6rgiios de informacées ee repassar as informagies do que estava acontecendo cm suas dircas “especificas. Ce ae oly sna Apesar de covsdenada pelo minis do Hxércivo, a ditettr io esta q belecia nenhurn sentido dle subordinacfo-das outmas duas forgas ou mes- Mas, dentia do Exércivo, 0s serores que diziam respeito esteitam mo do SNI em relagio a0 Exército, Segundo 0 general Moraes Rego. ser lo president Emesto Ges ese erat organiacional nose _desevovcu de forma harmon, polssapre depend de di fr do relcionameno ent os comandanes ds Forgas singular eda la 40 dos governadores estaduais com seus meios policiais espectficos.!!* Os DOI eram subordinados aos Codis ¢ funcionavarm como seus Ress oper ons, Deacordo com o general Moraes Rego surgiram em Si Paulo cerium sido inspiral mas operasdssDandeirantes(Oben) do ‘legado Sérgio Paranhos Fleury." Geralmente essas unidades etam comandacls por un tenente-coto- Uma das principais[dificuldades) dizia respeita ao efetiv neceséria atenter iy missées normais de segura do ministro ¢ dos generais ‘gabinete. Comecamas com um oficial ¢ dots sargentos, ¢ eemes que' 2 seguranga cram 08 Codis (centros de operagies ¢ defesa interna) DOs (destacamentos de operagies internas).! Os Codis ¢ os DO tam ctiados a partir da divulgacio das diretrizes especiais para a d interna, uma portaria na qual o presidente Médici atribuit ao Exé 20 comando da Amaz6nia a responsabilidade pela seguranca inten reas sob sua jurisdigao, Segundo © depaimento do general Rubens Bayma Denys, essa di triz teve suas origens na subchefia politica do gabinete da Secretaria Ge do Conselho de Segurancs Nacional e atribuiu 20 ministro do Fs naqucle momento o general Orlando Geisel, a responsabilidade pal ‘Rel quc nesta fungdo tinha as mesmas prozrogativas de um comandante. recao de todas as ages repressivas do Fstado. Com excegio das inform — oe , es do SNI, que eram cencralizadas na Agencia Central, todas as Ii ea hoentss gue concondam com com peuepsstiva, padem ser citsdos os generals sta, Adyr Padza de Casto ¢ Leonidas Cn Aye Fiza de Casuo © Lepnias Pires Gangsass em D Araujo, Stas & Moraes opm Bichegayen, HITS. ses tigen learar covhecides durante represdo, atta da sight DOL-Cost, Eat Is em Sao Paulo n Crane entasde apctabesespecaequc am aenrdnadas sos exeronde ee Sf nie pcan «= defisa aterm. do paulista, n SNL & AbiO Priscila Carlos Brando Antures omen calmo, fio, inteligense ¢ firme. (~.) Haria sempre wm supe er Termontzorcnde (.) Quer cia ia pars a planta. (~) ds pessoas oc far 30 dias rsa sendo 10 dis de incomunicabilidade"”* De acordo com 0 depoimento do general Fitiza de Castro, das de deseacamentos porque nao posstiam uma estrutura det uma organizacio fixa, sua estrurura variava de acordo com as neces des que surgissem. Os DO!s estavam voltados estritamente para a aga recebiam contribuigdes de virios setores: das policias militares, fe dos destacamentos de operagies do Exército, De acatdo com 0. Fidza, ainda que ndo contassem com uma colaboracao efetiva do Ce mar, os DOIs também recebiam apoio dos fuzilciros do Distrito Na Apesar de funcionarem em conjunto com os estados-maiores, 20 que rece, os centros de informagées das Forcas Armadas, em especifico, Cis Cenimar, no colaboravam muito com os DOIs. Formalmente acima deles, pois ficavam subordinados diretamence aos seus respecti Aatonsiities ministros ¢ estes etam apenas as agéneias locais.'"* Apesar de funcionarem subordinados ao Codi, os DOIs mantive um ako grau de autonomia. Segundo Moraes Rego, suas atividades eng reservadas, set pessoal nao andava fardado e usava viawuras disfarga Possulamn instalages préprias, para onde levavam as pessoas que p diam. Dentro do Sissegint eram os responsiveis pela realizagio das das em aparelhos, da prisdo de suspeitos e pela tealizagao de intertogat trios." Normalmente, os interrogadores exam membros do proprio D ‘re tipo de ago desenvolvida pelos Codise DOs, gins ue con- “im anplo apcio« participagio dos servgos de informs ar Forgas Armidas, © a atgin dss Servigos so os principe oa spats asecagHo que a sociedade broil fx entre atividade resp mnagees ee suranga e aividade de informagdes € eperagbes dlandestinas. 0 ministério da Acrondutiea foi 0 tlkimo ministéri das Forgas Ar- smuadas a ctiar um setvigo de informagdes proprio. Inicialmente foi criado fapems como um ntcleo, 0 Niiceo do Servigo de Informagoes de Seg tanga da Aerondutica (N-Sisa) em julio de 1968, no governo Costa « ‘Sila! ‘O brigadcito Joao Paulo Morcita Burner fo 9 responsivel dentro da ‘Aerondutica por sua claboragio, Em 1967 0 brigadeiro havia atuado como alguns deles até haviam feito cursos de interrogacdrio na Inglacer “Idido acrondurico no Panamé, onde fez wm curso de informagses. De Secret Intelligence Serviee.'7 corde com seu depoimento, Burnier ¢ mais wés oficiais passaram seis Deacordo com 0 general Fitia, 0 funcionamento do DOLse d ‘meses estudando inselligence wa Escola de Inceligéncia Militar em Fort seguinte form Gullick, na cidade de Balboa, no Panam, Fort Gullick recebia estudantes devirios paisesda América do Sul, como Argentina, Chile, Peru, Venezuela, assim como do Brasil, ¢ todos os oficiais que estudavam ld eram formados dentro de idéia de combate ao comunismo.!?* De acordo com Burnie, assim que foi designado para ir ao Panam, © ministro da Acrondutica firmou com ele um compromisso de que, na veasio propria, seria criado na corporagio um servigo de informages. Designariam para o precnchimento dos quadios o pessonl necessitio, que “Sefia recrutado ¢ treinado. I __ Desa forma, assim que voltou a0 Brasil em janciro de 1968, Burnier foi nomeado para chefiar a segunda segao do gabinete do ministro. Fo O DO! pega, guarda ¢ interroga. (..) Na caprena, em geral, os cbefes difirenies armas sio tenentes,capities, ea rurma b conctinuia de sargen (on) O pessoal da caprusa nao #0 mesmo do interrogarério.( gies evan repasiadas it segunda sao do EME, onde 10 0 15 of fstas rabalhum nisw.\...) No interragasiria, 0 interrogader tinha que 7 Fa de Cassio, 1994552 1M eligi entee tr ervigos de informagéesserédiscutida na tltima parte do capil © Moraes Rego, 19942155. 16 Apaeclho era term usido pelos grupos de csquerca para definir 0 lca} em quell vam, durante o tempo em que agiam slandeainamence. -_ cana Ii Be 20 normed service de inteligecia ingles desde sun crasio em 1921, apes Ti Rites de Casco, 1994:60- depoimentosdos generals Moars Rego Fiizade Castro sparecero rome Bish I Decreo nt 63.006, de 17 dejulho de 1968. Service. Jef Paulo Moreira Bucnier, 1994182. B ‘SWI & Abin Priscila Carlos Brandao Antunes quando comecou a elaborar as estr com ele, néo havia a minima condi pelo seror de informacées do Ministeti lnformagées, pois “contaya apenas com um auxiliar, que crs um telefi 4, uin tenente € 0 coronel Maciel, que era o antigo chele” =! ‘A estrutura do N-Sisa criada em julho de 1968 seguiu os mo CIE e do Cenimar. Conforme compromisso estahelecido com org da Aeronautica, Burnes, seu primeizo chefe, fez telagzo dee pes fariam parte do miicleo © mandou-as para o teinamento, Ese pe Debray:e Herbert Marcuse. so brinadeito Mircio de cspecializaybes no Panama, na Escola Superior de Guetia e ear Bes conivenca 7 sin ae epi a brig eM ne itsos ministrados tadicalismo:ds brigadeiro Burnier comecou, inealo. ™ : BG, incoredae a propria oficialidade da Aertatos, ° os Stgtsde Burnie frie ead 2 passido a extinpolar seus limites, iui poco tie Para sua implementaséo, o niicleo reccbeu verbas especiais e aurora Bt aucorizagio-v-conhecimeota-do-offd Se penne Bara comprar equipamentos no exterior através dos adidos aeromiutig mente, os oficias ce informiagdes cram propostos pelo coma ata de forma que o N-Siss foi montado com equipamentos de dltime es cram aptovaclos pelo Cisa, Nao bastasve es aprovaeioye Cita G20. Foram compradas miquinas fotogrficas, aparelhos de escuta, a a.nomear sectetamente pessoas para a funcio de in erm Ei thos de visto, gravadores ¢ até mesmo um mistutador de voves vended tes tepassavam ao Cisa relatérios exclusives, informaco acces Aleman Em 1969 0 nicleo i haveria se desenvlvide amplameni BE phecirmanic devo superior, Iso eva grave, pois, nas Fors oe se inscrido em toclas ay unidades da Forca Aérea Brasileira, madi, « indisciplina © a desobedigneia bierdequica cram (S40) spies Para se adaptar is novas Fungdes determinadss pelo Sissegint, falas cometidas. De acordo com o ex-ministro da Aeronsutica, sii clas dtetries especiais do governo Medici, em 1970, « Aerondutica ext Lima, chef de informagies pasion ater tana fre quanto um coman Bulu'o N-Sisa e criou o Centro de Informasses ¢ Seguranga da Acto dance, Os comandantes passatam a ser espionades pelo préprio a tica (Cisi), como cigio de assessoramento do Minieérig da Acronduti BEEPS outa lado dé scunteresnice depoimentos recolhidos pelo Cpe € a ele diteramente subordinado.”” De acordo com 0 decreto, 0 CH ‘ais de 90% da forgaestavarn alhcivs 2s atividades desempenbadas pelo incorporou todo o acervo da extinta segunda segio do gabinete do Biss; maioria que pasiou ae sentir incombdada com sua atuacéo, piinc- tério da Actondutica, do N-Sisae parte da segunida seg3o do Estado-t palmente no que dizia respeito ao seu desempenho dentro da Acrondutica. ds Acrondutica. Desa forma, passou a funcionar na gabinete do minis Um fato ocorrido ainda em 1970 foi a gora d’4gua para que este ‘Fo, para quem fornecia tesumos didrios, ¢ manteve as ligacdes com 0 ‘6rBi0 fosse reformulada. Foram enviados a serra do Cachimbo mais de as segundas seger do EMA estabclecidas pelo nicleo."* 30 oficiais intendentes que o Cisa yinha acusando de corrupgio. Esscs ficiais foram segregadas ¢ aibmetides'a um intense inquériro, O episé- "" Joio Paulo Moceirs Barmier 1984.18, Possibilitou aos demais oficiais da forga quesionar a postura que vi td. p. 189. 7 Mis sendo adotada até entio pelo gabinete do ministro Marcio de Sousa ‘© Deere n® 65.608, de 20 de maie de 1970 De acurdo com a depoimenta do brigadsiro, hava uma gre cooperss3o entre o Cla {0s viros eamandos da Aevonsutiey, endo como principals etmplos 2° Zona fesilsads no Rio, as buses do Galeso, das Afonsos, de Santa Crum, 9 DepSeiee Cental ‘nvendenca, 2 Dirtoria de Roray Aéres, slim da dreora de Acronduste Ch ruturas do fucuro N-Sisa. De io de a segunda sesio, respong fe smo acontecia no Cenimat, tambéim foram designs- is a companbat as forgas de oposicdo no pas. Foram criades para analisirastdticas que usavam ¢ elaborar coniratéticas a serem leque de estrunaras considers é urnien parece que o leq Ee pica aa api ay dene nga OF Be vam dente atuacdo da iprej progressista: passando pelo Ere Comunista, até 08 grandes teéricos do momento, como Regis do Comunista, Pelos oficiais que fizeram curso no Panamd enm las as seges de arquivo e de o| 6 ita randao Antunes SNL & Abin Priscila Carlos 8 formagées para a Aetondutica: os conflitos regions «pelo brigadeiro Burnie. Em resposta a esse episédio, © presidente do setot de ‘quais mantinha vigilia permanente, © 2 drsa de demitiu o ministro Marcio c afastou o brigad ado Sul, sob os Informagées. semmento armamentista. a Segundo o depoimento do brigadeiro Mauro Gandra, ex-ministrgs sss munis seneridas cm 19878 Linen Acrondutica do governo Fernando Henrique, com a saida do Burniere Morar om 13 deans de 1988. cotrada do brigadciro Araripe no ministério, 6 Cisa softeu profin 11 0 Cisa, através do Decrero n¥ 95.638. - 9 vigos das Forgas odificagdes. A maioria di al va no rgio foi man = le comego da déeada de 1990 codos esses servigos das] modificagSes. A in: lo pessoal que aruava no érgio foi ‘Apatid Sc reforniblaghes, sendo suns nomenclaicas ara a reserva e houve uma profunda diminuigio de sua parte opera vadas passaram por ¥. ‘icligaiels nal, O brigadeiro Araripe teria retirado 0 Cisa do proceso de comb it c a de servigos de informagGes para servigos de i“ es ne eccdo repressdo € 0 direcionado 2s questiesincrentes 3 Actondutica. BON sostager desasalstagGes set Feit no capitulo §. onds sete No ambito dessas mudangas, o ministro Delio Jardim de Mau nalisidos os sctvigas de inceligéncia no Brasil nos ikimy dancas signi no comego do processo de abertuta, propos uma reforma que pret “hordagem nos permitird observar se realmente houve wnudangas sign ‘esto com as informagoes ¢ com a atividade de ineeligencia em ‘ mudanga de nome, como estratégia para stigma que Thes foi atribuido dlesvincular o Cisa do Ministério da Aerondutica ¢ subordiné-lo ao i = : cativas Nao conseguiu que essa transferéncia fosse aprovada, Mas os reflexos “i, ou se ocorreu apenas uma ‘mudangas de concepgao ficaram explicitos na nova nomenclatura do Blascar ps atuais centros de informagées do gio, que, em 1987, passou a se chamar Centro de Inf regime miilitar ‘ Apesar das mudancas ocorridas, ainda permaneceram varios dos ‘tulo, Por enquanto, este capitulo nos possibilitou pereeber as ‘epee: es resquicios na estrutura do CLA, O ministro Moreira Lima, que dades da formnagao da comunidade de informagies brasileira, que fiver: miu 0 Ministério da Acronsutica em 1985, acreditava que ainda era pi iso fauer novas alteragbes nesse campo. “Nao havia necessidade de te lum servigo tio grande como tinhamos, com ramificagées ema virias do Brasil”. Dessa forma, segundo dir, encomendou a0 Estado- da Acrondutica que se fizesse um estudo sobre a situacao do CIA. Co tada a grande estrutura que ainda mantinha c a falta de necessidade de tam servigo de informagSes daquela envergadura, o ministro extingl CIA € criou em seu lugar a Secretaria de Inteligéncia da Aerondu (Secine), que incorporou algumas de suas secdes. A secreraria foi om qu a tives fom dina duels de Sempre quando questionados sobre a clibors serge PP rictes brasileitos, os militares se reportaram aos padres seid “como modelo para a consirugao da rede, No Brasil, entzetanto, a con dacomunidade de informagOes passou por procestoshis6ricos mui- ‘lo da comunidade de informagies passou por proce i “to distintos. Sua criagio nao fer parte da racionalizagio e complexificagao esta ocorrida nas form de governo durante oséulo XX e nao foi 0 “tuted co aperfeigeamemts co aparato de era, Assim come ein bes : : Pare dos Estados ltinoamericanos, 0 desenvolvimento da comunidade ee esi melons Hoque dante de informagées no Brasil obedeceu apenas uma das duas etapas histoti- Weed at eraceeertat etnies vei Stas ay fas enfrentadas pclos palscs ocidemtais, ainda que em dimensées ¢ cit- tério, A diferenca era que a partir de entio caberia acla assesvorar, “com cunstinciac diferentes: a especializagan da atividade como funcio policial conhecimentos necessitios« formulacao ¢ execusao da politica ier0eSp an _— ae A consrucio ca comunidad de informags brass no Ses i ‘ads tendo como base estes modelos ocidentais. A maioria destes paises Possui, abc a cespccializadas para cada tipo de atividade, = rem SRS dreas de aruaao claramente dematcadas. © modelo adotado no Bra- " Mauso Gandrs, 1998 Lagoa, 198335, © Moreira Lima, 1998, ' Decreto n° 95.637, de 13 de janeiro de 1988 SNI & Abia de inteligéncia russo, a KGB. Os oficiais brasileiros que foram 20 © estucdara estrutura desses servigos ¢ as doutrinas deinformagées pata: los no pals ao que parece nao se detiveram no estudo sobre a com o objetivo de combatcr ¢ erradicar a ameaca comunista ¢ a ox dg influéncia sovigtica. Foram douttinades para doutrinar, © préximo capitulo permitir’ clucidar ainda mais esses dif que ficam explicitas na definicio das responsabilidades dos se padrio ocidental elaborado para a atividade de intcligenci. CIA, FBI ow SIS. Dentro do contexto de Guerra Fria, valorizaramad trina elaborada por esses paises, e exportada para uma série de or informagdes brasileiros durante o regime militar. Veremos em que 2 pritica dos servicos de informagdes brasileitos se distinguiu do cot sil, como observamos no caso do SNI, £0 modelo centralizado do serv 3 Praticas da comunidade de informagées no Brasil E ficou ua sigla muito interessante, porque DOL. Fitiea de Castro LESTE CAPITULO ANALISA a Area operacional dos érgios de informagbes de duas formas, Num primeira momento, a aéo desses servigos de modo independence. Ou scjit, quais cram as praticas excreidas pelo SNL, pelo CIE, Cisa ¢ Cenimar, No segundo, algumas ages que esses centros de senvolveram de forma coordenada e como se efetuava a relagao de coope- ‘ago entre eles, A auumaciio desses drgios, seja de forma isolada ou conjun- {a, é ums questo essencial para que se compreenda a atual dificuldade do ‘pals cm abordar os assuntos relacionadas & circa de informagoes € inteli- ‘gencia, _ Aatividade de informag6es no Brasil j existe de forma oficial desde : Srgiios especializados eaisterm desde o final da década de 1940, _Impulsionados pelo surgimento da Guetra Fria (SIM, Sfici SNT). Mas 0 of fundamental na construgio do estigma da atividade foi a encrada les ccntros de informagies na represséo politica no final da década de - Este serio nosso eixo de andlise, pois foi a partir do momento em fe as Forcas Armadas chamaram para sia responsabilidade pela manu- So da lei c da ordem no pats que comecaram 2 ocorrer as varias “atro- cles do regime”, responsiveis pela ojeriva que grande parte da socieda- Passou a ter desse tipo de atividade. SAUR Abia Priscila Carlos Brandao Antunes E certo que uma série de violagdes 20s direitos civis c human sou a ocorrer imediatamente apds 0 golpe de 1964, como cassa s0es ¢ ecorréncias de torturas, principalmente na Nordeste do. Entretanto, a expansio do SNI, a ctiacdo das agéncias de informagée Forgas Armadas ¢ a reorientacao doutrinaria denuio do Cenimar p ram ase verificar a partir desse momento. sao, 3 politica, das priticas judicaise policais brasileires. Per- tort coast € @ inquisitoriedede, “ao contrétio de se Feaiieaes do nosso sistema investigacivo, sio apenas alguns de seus rene dos intertogat6rios Conduridos pelos servigos de informacoes fava um tipo de procedimento no qual quer detinba a iniciatva ap saado, cue patia de uina determinada "verdade”, de uma verdade nia’, que buseava “confirmar”. O Estado era representado pelo fenogador que, embora sendo apenas um funciondrio,agia em sew nome, sem, necessariamente, tet side delegado por ele para o desempe- Neste ponto cabem algumas observacies: as perseguigies politi pab ca pratica de tortura como validacio de verdades no foram povidade do regime militar. Na ditadura Vargas, por exemplo, aseu relacionados 4 oposisio politica cram atados como caso de pol perscguicao politica. Como lembra Roberto Kant Lima, a tortura f& aho de deccrminadas fungoes. . te de uma prétics juridico-policial do Brasil, que remonta a tem, ‘Aieulo de excinplo, poderfamoscitaro caso da Operasio Mesopoti- longinquos.'*' Desde 0 perfodo colonial sio vigentes os procedime tia, tealizada pelo CIE na regiao de Imperatriz, Maranhao, cujo relatério de descoberta ¢ validugao de informacocs, amparadas pelos proced ividade repressiva jf nomeava todas as pessoas que deveriam tos eclesidsticos de énfase inquisivorial. Esta pritica permaneceet im gee press, qual o rau de envolvimento de cada uma com as atividades Fenteaos novos ordenamentos juridico-politico-constivucionais queo idestinas e que tipo de contribuigito elas poderiam dar nos interroga- conheceu, i : ; : Aqui predominou a prética do inguest, um tipo de procedimento pk nies de nos envolvettos propriamente nas priticas exercidas liminar, ndo necessariamente judicial, que consiste em um: comunidade de informagies, analisaremos as justificativas que o Es- mada pelo Estado, Enquanco detentor de informacées sobre um detert 0 apresentou para o envolvimento das Forgas Armadas no combate & nado delito, © Estado coleta, sigilosamente, indicios que possib rerio. descobrir sua autoria, a fim de atribuir as devidas responsabilidad pritica judicial brasileira, apds serem conchiidas as investigagSes, peito ¢ interrogado ¢, caso haja indicios suficientes que possam Th buieaautoris, cle ¢indiciado, Dessa forma, quando uma pessoa éindig . comega © pracesso judicial oficial, no qual a culpa do suspeito j4 € p De acordo com os depoimentos consultados, a perspectiva predomi- ida e cabe a0 interrogador manipular a conduggo das pergun ‘era de que havia grande necessidade da entrada das Forgas Armadas forma. induzir o suspeito— culpado ou no —a cairem contradi combate & subversio, pois acreditava-se que as estruturas policiais n30 construir suz confissao. Uma ver arrancada a “confissio”, esta ji Zam preparo pata desempenhar tl tare. De acordo com os gencrais todo tipo de pritica imperrada pelo inquisidor.'* de Castto ¢ Rubens Bayma Denys, a questio era que a guerritha Essa tradigao inquisitorial ndo fica restrita apenas as praticas judi via todo 0 territério nacional ¢ nao respeitava as jurisdiges e as € policiais, como veremos no caso da atuagio dos nossos scrvigos de i infciras cstaduais, As policias estaduais nio tinham condicdes de agir magoes A época do regime militar. A pritica imposta nese pro Ammbito nacional c ainda nao havia uma policia federal estruturada. As Forcas Armadas no combate a subversao © Tima, 1993-62. °* Pata maiores informagoes sobre o proceso de produsdo de verdades no Bras, ve] 199362, a1 SMI & Abin Priscila Carlos Brandao Antunes Segundo o general Carlos Tinoco, as Forgas Atmadas seriam orgas Armadas, € resultaram na execucio de grande parte dis que teriam “condigdes de centralizar o combate & subversio” ‘cometidas no regime mil Embora alguns dos depoentes acreditassem que “a intelig militares estava acima da capacidade de repressio dos érgies p como é 0 caso do general Qctévio Costa, nem todos acredita Forcas Armadas jd estivessem preparadas para o combate 3 sub Na opinigo do general Fontoura, “as Forgas Armadas, tanto policia, ndo tinham qualquer preparo para combater a guerra d Ihas (..) tanto que levou muito tempo para acabar com a gut Arelacao entre os servicos de informacoes no Brasil e os comandos paralelos “Agalocar 2 responsabilidade de coorlenagio do combate & subversion : fnistério do Exército, 0 seu funcionamento passou a depender do Desse tipo de pressuposto partem as justificativas para criagaod jm ou mau felacionamento dos respectivos comandantes militares das edo Cisa, uma ver que jd existiam 0 SNIe os E2. Deacordo com el Ris. preciso criar mecanismos préptios para possibilitar 4s Forcas Arma “A coordenagiio do ministro do Exército sobre a diregao das agoes sc combate'a subversto. ‘em nivel dos estados-maiores, Isso quer dizer que tanto 0 Cisa quan- 0 Cenimar, oficialmente, nao tinham obtigagao nenhuma perante © pe. ainda em 1964, as policias ectaduais — civis ¢ militares = Sissegint, pois na medida em que se subordinavarn diretarente sos mi nham quaisquer condigdes de controlar “a penetragio marxisea ficavam acima desse sistema. Na prética, o sistema criado para iaar as ages apenas consepuia fazé-lo quando havia colaboragao mo as Forgas Armadas tinham esse prepato, mas por motive ‘devidos comandantes, e forma paralela & cadeia de comando, os maior tetiam sido obrigadas a entrar nesse combate, Segundo gos de informagoes da Acromiutica ¢ da Marinha mantinham, aos mento, foi em 1968 que Negro de Lima, entio governador da ' mpl mange de agfo, agiam normalmente com o conheci diante da ineapacidade de sta policia em combater 0 movimento: de seus devidos comandos, colaborando com o sistema de acordo siglo, solicitou o apoio das Forcas Armadas.!* m ds interesses de cada pasta ou do proprio drgio, Apenas o CIE, devi- Aoficializagio da participacao das Forgas Armadas no commba a0 ministro do Exército, tinha obrigagocs voisio se deu com a edi¢io do Al-5 em 13 de dezembro de 1968, com 0 Sisseyint. inicio dos seqiiestros, que alguns scrores de esquerda re De todo esse esquema, percebe-se que v funcioasmento do sistema, at os militares a liberarem companheiros presos, ¢ dos assalco@all Hum nivel geral, estava baseado nas eglagbes pessoais entre 08 ministros realizados com 0 objetivo de arrecadar fundos para a luta contraad entre os comandantes de sreas ¢ entre seus respectivos servigos 1a, Esse combate foi regulamentado pelo presidente Médici em formacoes, No nivel interno a cada forca ele ainda dependia das com a edicio das diretrizes especiais ¢ a criagao do Sistema Ni «8 entie os comandantes, os chefes dos servigos de informagoes Seguranga Interna (Sissegint). fespectivos ministros. ‘Asdincises cxpeciais da alagae dae CodisedaeDOlad “Como vetemns em seguida, tais relagdes ado se davam de forma ra juridico a uma série de ages que jé vinham sendo desenvol sual em nenhum desses nfveis, nem na colaboragio entre os servi- <* informacoes, nem no que diz respeito ans comandas internas das " Fitza de Casto, 199441; Rubens Baymna Denys, 1998, ¢ Calon Tivoe onde foram criadas vitias cadeias de comandos paralelos, '% Octivin Costa, 1996:277 1 Alberce-F {SER 5p tmFo teal relacionamento entre os varios servigos de informagées tuo: Foniours, “ae amen Eons foriioes + Joga Paulo Morera Bumier, 1994191 lusive o SNI, no € uma tarefa facil, pois asf SHI & Abin peito sdo extremamente dispares. Fé quiem diga que esses érgaos tinham uum relacionamento tao proficue “que se compleravam’. Na opiniio do brigadeiro Burnicr, nfo havia segredos entre os virios servicos de infor magées, eles eram muito bem relacionados, “os contatos cram muito di- retos ¢ havia confianga cntte nés, (...) havia honestidade de propésicos, entdo nao etistia competi¢io”.” Para o general Coclho Neto também “nunca houve choque entre cles"! ¢ para o general Carlos Tinoce, como © SNIT atuava como 0 érgio central do sistema nacional de informagocs, todos os outros érgios the repassavam as informacoes para que cle as cen- tralizasse, de modo que havia uma cooperacio." De certo modo, essa também cra a percepgio do general Denys. Se- gundo sua desctigio, cada servigo de informagoes ficava subordinado 20 sett reapectivo ministro e agia com total independéncia. Mas, no ambito do Sisni, “coda qual se articulava em nivel federal com a Agencia Central do SNI, com os centros de informagoes das forgas co-irmis ¢ com a divie sao de informagoes da policia federal”.' Esces si0 apenas alguns exem- plos de oficiais que tiveram grande insergao na comunidade de informa- {es e que concordam com a prevaléncia da colaborasio entre eles Entretanto, temos, por outro lado, depoimentos de varios partici- pantes da regime militar, também ocupantes de cargos imporcantes na comunidade ¢ que discordam dessa perspectiva, como € 0 caso do general Ivan Mendes, que foi ministro-chefe do SNL. De acordo com cle, “sem- pre hi competicéo entre os digios de informagies", o que, na sua concep a0, chega até mesmo a ser posttivo, uma vez que esta competigo funcio- tna como um estimulo a busca répida ¢ eficiente de informagoes."\* Para 0 general Octavio Costa, que, apesar de no cer atuado em neahum serviga de informasGes, teve um papel importante no governo Medici, era muito pitido que os érgios de informages “batiam cabega", conforme o termo, usedo por eles. Segundo seu depoimento, cles viviam disputando a pri mazia das agdes ¢ isso ocortia principalmente entre o CIE co Cenimar."# PY Amuriaa Raposo, 1998 © Jodo Paulo Moreira Burnier, 1994:199 #1 Coelho Neto, 1994-234 °° Carlos Tinoco, 1998. © Rubene Bayma Denys, 1998, 4 Fwan Mendes, 1995-170, § Oativio Costa, 1995.26. Priscila Carlos Brandie Antunes Na Acrondutica, pelo que indicam os depoimentos, 0 Cisa chegou a set uma presenga invasive, que extrapolava e interferia nos comandos de ‘ea. Segundo o depoimento do brigadeiro Sdcrates Monteiro, houve ama busca obsessiva pelo inimigo dentro do Cisa, chefiada pelo brigadeiro Burnier — “um oficial mais radical do que a média’."** Em todo lugar hhavia inimigos, bastava uma certa desconfianga “cos agentes de inforn 58¢s ligavam-se diretamente 4s centrais de informaggcs scm dar conheci- mento a0 comandante do que estayam informando”.!"” Um dos exem: pplos mais citados na Aerondutica foi o caso Para-Sar Em abril de 1968, com o aumento do nimero de passeatas estudantis nna cidade do Rio de Janciro, fo} designada a 1* Esquadrilha de Busca ¢ Salvamento, Para-Sar, para “scompanhas” as movimentagies estudan- tis. Segundo a versio do capitio Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, 0 *Sérgio Macaco”, intendente ¢ oficial responsivel pela esquadtilha, que estava de férias no momento da operagii, os oficiais do Para-Sar foram acompanhar a passeata estudancil & paisana ¢ haviam recebido ordens para matar estudances © oposicores do regime, Essa demincia criow um grande conflico em tomo das questées de “autoridade” dentro da Actondutica, consubstanciada na disputa entre o brigadeiro Burnier e 0 capitio Sérgio. Este iltimo, de menor patente, acabou sendo reformado e reve seus direi- (0s politicos cassados por 10 anos."* Mas, de acordo com a concepgao do proprio Burnier, responsivel pelt operagto do Cisa, ni existia na atividade de informagées uma preo- cupagio em seguir uma linha direta de comando, “porque o drgio de informagdes nao comands nada, apenas ck informagées a sets comandan te", que & quem determina as agdes."®” Estivesse sila concepeio certa ou crrada, © que ficou claro é que seu comportamento causou revolta em parte dos comandanres da Acrondutica nos anos de 1969 ¢ 1970, ‘Mas o que aconteceu na Aerondutica parece nio ter sido muito dife- renté do que ocorreu com 0 CIE dentro do Exérdito, Segundo 0 depoi- Seni do general Zenildo Lucena ao Cpdoc, havia no Exétcito escrits- “Sera Monteiro, 1995, * Idem, ~ Ocapitzo Sérgio foi promovidoa um carg caperiar ao seu, cv 1990, apes algun vempo 4 baathas judi, “ews "Jado Paulo Moreira Buries, em D'Arajo, Soares &¢ Carte, 19952195, SNI& Abin figs do CIF etiados pelo general Coelho Neto, que funcionavam de for- ma independente dos comandos, ainda que com o conhecimento dos mesmos, Esses escrit6rios eram operados por poucas pessoas, mas, deacor- do com cle, sempre por pessoas com muite prestigio dentro da forga. No Exéccito, a maioria dos depoimentos recolhides também alirma que varios comandantes foram ultrapassados pelos E2 « pelos Codis. Po- demos citar, como exemplo, os gencrais Moraes Rego, Octavio Costa, Carlos Tinoco, Ivan Mendes, entre outros que partilham dessa concep- a0. Apenas na Marinha essa situagio parece menos evidente. Os almi- fantes Mauro César Rodrigues ¢ Henrique Sabdia admitem que ne mo: mento mais eritico do combate & subversio chegaram 4 ocorrer algumas “distorgées” dentro da forga, mas nada compatado & atuagio do CIE e do Cisa.Osalmirantes nao negam possiveis “excessos’ cometidos pelo Ceni- mat ¢ afirmam que crn um ou outro caso eram infiltrados agentes dentro dos navios som 0 conhecimento do comandante, Mas, segundo os depo: entcs, isvo apenas ocorria quando o comandante do navio cra 0 préprio suspeito de estar envolvide no movimento de subversao. O mais interessante nos relatos relacionados Marinha é que eles no. se contradizem em momento algum, Os depoentes procuraram o tempo todo cnfatizar a organizagao ¢ o profundo conhecimento que 0 C tinha sobre as organizages de exquerda, sua eficiéncia, mas nio se rel a importéncia de uma cadeia paralela, Nas palavras do almirante Mauro ‘César, "a Marinha segurou a mio do Cenimar” F possivel ¢ provivel que tenha havido mais do que “um ou outro ‘caso de agentes infiltrados sem © conhecimento do comandante". ‘Talvez nao se tenha ainda conseguido obter tais informacGes. Em primeiro lu- gab porque o nitincro de depoimentos recolhides no pessoal da Marinha E muito menor se comparado aos do Exército:' em segundo, ainda pre- valece @ mita de que o Cenimar era o mais seguro € 0 mais eficiente setviga de informagies das Forcas Armadas. E preciso ainda lainbrar que quando foi criado o Cenimar — ancige STM —acle havia sido atribuids s responsabilidade de subsidiar o minis- nar 55 Mauro Car Rodrigues, 1999. °S! Em relag0& Acrondutica, os nimeres nde sia lo diferentes; So quatto depoimenos da Marinha para cinco da Acrondutica, mas epmo 2 atividade do Cisa foi to intensa em unt période to curta de remo, nfo havis come nde obter informacao alguma 6 Priscila Carlos Brandao Antunes tério com informagbes referentes & prépria Maritha, Fle nio foi eriado como o Cisa ¢ o CIE pars combater a luta armada, Jé havia uma cultura anterior de informagGes ¢, mesmo que tenha sofiido mudangas no final da década de 1960, € possivel acteditar que ela renha petmanecido em parte A atuacao da comunidade de informacées A partir do final da década de 1960 a comunidad de informagies se tornou uma compleva rede, que tinha como principal fungso acompa nhar os varios campos da acio governamental. Na realidade, esta “rece” acabou por se insctir de forma institucionalizada nos vitios niveis da nos- sa organizagio social. Atrds da justificativa de quea conjuntura social do pals exigia uma entidade capay. de manter « orem na sociedade, as Forgas Armadas se inseriram no combate & subversio ¢ na "preservacio da lei ¢ da ordem”. Passaram no s6"a controlar a oposi «controlar a propria sociedade’”!** Analisaremos como essa imensa rede estava articulada, como funcio- nava'c a forma como se inseriu na vida cotidiana brasileira, Para o acom- panhamento desse proceso recorreremos a algumas agbes de responsabi- lidade dos servigos de informagSes que jd so do conhecimento puiblico, Apesar de criados como érgios de informagies, os servigos de infor magoes, principalmente o Cisa e o CIE, foram estabelecidos como drgiios responsiiveis pela seguranga do pais ¢ pela preservagio «la ordem, A co- munidade de informagées atuou de forma bastante independente no pe- viedo de maior fechamento do regime militar, extrapolando as fungoes de um intelligence service e desenvolvendo um grande setor policiallopera- cional, Como reconhecem alguns militares “um setor que cresceu muito mais do que 0 necessitio”. Quando nos referimos a servigos de informagées no Brasil, o senso comum tende sempre a lembrar do SNI como o grande érgio de repres- sdo do regime militar, principal responsavel pelas prises ¢ torturas, nos @ armada, mas também 7 DiAraujo, Soares & Caen, TOE TE, * A viulo de exemplo temos 0 depoimento de general Carlos Tinoeo, 1998. SKI & Abin “porties da ditadura’. Embora no fosce o “lugar por cexccléncia” das pri- occ e torturas, os agenres do SNI tiveram participagio ativa messes pro- verses de busca e muito provavelmenite colaboraram nos cases de tortura {© que se percebe de interessante nos depoimentos consultios é uma tendéneia a “liar” 0 SNI desse tipo de responsabilidade, atribuindo os vcpeesoe”principalmente aos "comandos paralelos” das Forgas Armada, ova tendéncia estd explicita principalmente no depoimento do gene- ral Fees de Castro, um general reconhecide como um dos mais radicals ido perfado, que afirma que 0 SNI ago tinha um seror de operacnes, "he nats operou & jamais efetuou qualquer pristo(..) jamals prendeu ¢ inser rogou alguém’. 4 Ele nfo nega, entretanto, a pratica corsiqueira do S i ha violagio de virios direitos civis do cidadao. © SNI interceptava correspondéncias, roubava documentos, fazia excuta telefonica eacompanhiava a vida das pessoas, tanto dos alversitios politicos e suspeitos de subversio, como de integrantes da equips B>ye™ mental, Infilteava pessoas tanco nas organizagies clandestinas quanto nos organismos legalizados de oposigfo ao regime. © SNI insrin agentes nos setores politicos de oposigao, como era o caso do MDB. ¢ nos mov rcntos sindicais ¢ estudantis. Como reconhece 0 brigadeiro Socrates Moniciro: ‘houve toda aquele distorio conbecida de penceraio do sistema |.-) @ queens inicialmenie programado para fazer wma coleta de injormavtrs alse de infarmagdes «produto de wa informaci lginmada final se von inensaacvidade operecional na busca 0x participa des ceca. [Aug mesmo a Igeeja Cacélica, uma das grandes colaboradoras do gol- pe militar realizado em 1968, pasou a se fuco de atensso por parte do EN Lem meados dos anos 1970, Os alvos principais eram o arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Cimara, eo bispo de So Félix do Aragusia, dom Pedro Maria Casaldaliga. Como os movimentos guettlheitos de cs querda jd haviam sido aniquilades pelos militares, uma das grandes preo- Cupacées dos servigosestavatclacionada as discusses da Igri sobre re forma aprdsiac direitos humanos, Temiam o avango da chamada exquerila slosical dentro da Conferéncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBE). Te raza de Casto, 199 158 Sécrates Monteiro, 1995. : Priscila Carlos Brandao Antunes Mas, antes de prosseguir com os comentrios @ respeito da aruaczo do SNT ¢ dos servicos de informagées, é necessério abrir paréntescs para situar 0 contexto politico do pats naquele pecfodo. Em meados da década de 1970 0 presidente Geisel ja havia iniciado 0 processo de distensio “lenta, segura ¢ gradual”. Os custos da permanén- cia do poder pelos militares estavam muito altos, 20 mesmo tempo em que declinavam os custos da demacratizagao, De acordo com Donald Share e Scott Mainwaring, os principais desafios a alterar os custos da permanéncia no poder pelos militares etam “a sucesso de lideranga, & crosao na coeso das cites e 0 declinio da legitimicade",!"6 Essa incapaci- dade de sustemtagao do regime ja era sentida no meio militar, como reco- ttheceu o almirante Mauro César Rodrigues.” Mas, ao anunciar 0 pro. cesso de istensio, o presidente Geisel trouxe & tora um conflito que sempre existiu dentro do regime, entre os oficiais que pretendiam perma necer no poder e aqucles que apenas desejavam restaurar a order civil ¢ rerornar aos quartéis, ‘A comunidade de informagées, que nessa época contava com um alto yrau de autonomia, passou a se sentir ameagada, A abercura reduzitia 0 poder dos dryaios de informagSes ¢ “sua liberdade para atuar impunemen- cc", como afirmou o general Moraes Rego. Esses radicais, insetidos prineipalmente nos drgies de informagies, foram contra a abertura ¢ passaram a criar resistencias aos propésites de distensto do governo. Resisténcias que, segundo o genetal Moraes Rego, fam oferecidas contra a abertura “nao por prinefpio, mas por interesses © vantagens’.'** Como forma de se manter no poder, a comunidade de informagées ppssou a crit inimigos imagindrios, usando, pars tanto, pessoas ¢ insti culgées reais. Segundo Alfred Seepan, “estes serviges cram alguns dos mais ferrenhos partiddrios do argumento de que as conflitos sociais colocavam. ameagas para a seguranca interna e para o desenvolvimento nacional €, portanto, precisavam ser reprimidos’."”” 1 Share & Mainwaring, 198639. Maura César Rodrigues, 1999, 1 Moraes Rego, 1995:60. ' Stepan, 198639. SNL Abin {f essa resiceéncia & safda do poder que explica uma séric de atrocida- des comeridas pelos servigos de informagGes, como foi o caso das mortes do jorhalista Wladimir Herzog ¢ do operdrio Fiel Filho (1975 ¢ 1976 respectivamente) mesmo depois de estara lura armada completamente aniquilada® Com a saida do presidente Ernesto Geisel, o sucessor Jodo Batista de Figuciredo tinha como uma de suas tarcfas dar prosseguimento 20 pro- cesso de-distensio, Sancionow 0 projeto de anistia ainda em 1979 € con- vidou pessoas que ‘participaram da oposiszo ao regime militar” para ta- balhar no seu governo, como declarou & imprensa recentemente. ‘Sem divida, a administragio do general Figuciredo foi mareada por conttadicdes, AO mesmo tempo em que propunha a abertura politica, posstbilicou tum crescimento nanca visto em um dos alicerees principals do regime militar, o SNL Uma justificativa enconerada Gao ealver seja a relagdo pessoal que o presidente Figueiredo tink com 0 chefe do SNI, 0 gencral Oxdvio Medeiros. Nessa época, a oposigio & abertura vinha tomando proporgocs dist cas: De acordo com os depoimentos coletades pelo Cpxloc, o general Ouivio Medeitos ¢ © minisiro do Exércita, Lednidas Pires Gongalves, apoiavam a politica do presidente Figueiredo, No encanto, havia dentro dos setvigos de informagoes "bos (0 accitavam 0 pro- eso de sbertura politica e tramavam a sucessio presidencial. A perspec tiva desses radicais, de acordo com o almirante Mauro Césat, era a de faver da general Medciros 0 sucessor do presidente Figueiredo. ‘Mas se 0s servigos de informagdes nessa época possuiam wm poder substancial, ndo tinham nenhuma represencatividade instivucional. Ape- sar de crescerem consideravelmente, na pritica nao tinham condiges de mudar a ordem dos acontecimentos, que por sus ver caminhavar em diregdo contriria a seus interesscs. Eram necessirios eérios motivos que para tal contradi es radi que justficassem a permangncia dos militares no poder, uma vex que @ Pro- ccesso de abertura jd durava mais de cinco anos ¢ 10 havia mais formas de ze dar algum tipo de legirimidade zo regime. Foi quando esses radicsis (© Uline few de enfrentamento armado a0 regime foi 2 guersilha do Aragunis, wis confronto que durou inais de dois anos entree govero 0 PCdoB, ¢ que havis terminado ent 1974 ' Renaiw, 1996. ® Mauro César Rodrigues, 1999. Priscila Carlos Brandgo Antunes voltaram a planejar atenrads, dessa ver com o fim de incriminar = es- quetda por atos subversivos ¢ deter o processo de abertura.' Passarain a explodit bombas em Sio Paulo, atribuidas ao general Mil- ton Tavares. No Rio de Janeiro, explodiram bomibas em bancas de jor- pais, na Associagio Brasileira de [mprensa (ABI), na Ondem dos Advoga- dosdo Brasil (QAB) e no Riocentro."™ Segundo gencral Zenildo Lucena, cesses atentados eram de responsabilidlade do general Newton Cruz, chefe da Agencia Central do SNI. A opinifio do general é a de que Newton Cruze desejava criar uma forga policial e moral, “espelhada nos moldes da Gestapo [...] que seria uma forma de contiole e chantagem’.' Mas 0 caso Riocentro, apesar de nao ter sido rigorosamence investigado, pos fim 4 quaisquct esperangas dos radicais de assegurarem uma possivel candida cura do general Medeiros & Presidéncia da Repdblica.\ O Riecentro eas bombas na ABI ¢ na OAB sio algumas das referén- clas em que encontramos o envolvimento do SNI em operagGes que re- suiltaram em morte, Uni outro caso que envolve diretamente 0 drgio é 0 assassinato do jornalista Alexandre von Baumgarten em 22 de outubro de 1982, o famoso “caso Baumgarten” Baumgarten foi um jornatista que manteve estreitas relagdes com 0 SNI durante o governo Figueitedo havia sido urx dos tesponsiveis pela angariagio de fundos para o relangamento da revista O Cruzeiro, que vei- culatia propagandas a favor do governo, O jomalisa denunciou algumas invegularidades praticadas pelo SNI-e pouco tempo depois foi encontrado morto, Baumgartem havia escrito um dossi, no qual declarava que sua morte havia sido decidida em uma reunido da Agéncia Central, Na época da apuragio dos fatos, o-dossié sumiu ¢ 0 caso Loi arquivado por falta de provas.” Enereranto, nio restam muitas diividas de que seu assassinaro tena sido uma queima de arquivo, ‘na exposigin da aewagio anterior desws radicals de dita pods ser encontrada emt Argolo, Ribelzo te Porasnato, 1996. + Oso Riocentocambém seri sbordada quando tmtarmos dasatiidades dosenvolvdas pelo CLE. " Zenildo Lucena, 1998, Data informs deta hadassubre a articalucdo de extiemea dteita em telago 3 abertuta politica, ver Argolo, Ribcio 6 Fortunate, 1996. © Algum tempo depois inquérive foi reilerto, pelo faro deter surpido uma testemunha que afismavs ter visto o general Newron Crue com @ joralita, poucos dias ances d= cua morte, bem prékime ao lugar onde 0 compe foi eacantiado, Q general Newton Cry fot prosuiuds ¢ declasado inocears por unaniniidads on SHI & Abin Como pode ser observado, a partcipacio do SNI em 2o%es que im- plicaram mortes, prises fraudes e violasao de dirctos humanos ¢civis ‘ expansio desse servico durante o governo Figueiredo nao corsoboram 2 perspectiva dos depoimentos aqui analisados, que buscavam minimizar sua atuagio durante o regime militar. ‘Osdepoimentes indicam, contudo, que houve um redirecionamento ec rnia tedugio do poder e das aividades do SNI durante o governo Sarney, como confirmam e general Femando Cardoso, que foi chefe do CIE. co proprio general Ivan de Souza Mendes, responsivel pelo SNI durante aquele governo. Deacordo com 0 general Ivan, cm sua edministragio ele teria dispen- saclo pessoas que nito achava confidveis, chamado novos quadros para @ scrvigo, ¢ reduzido 0 quadro de pessoal do SNI que em sua época giraria em torno de 2.500 pessoas. Teria feito também uma reformulagao dourri- ‘iti, procurando formar mais civis dentro da Esni, Chegou até mesmo 2 convidar 4 imprensa para conhecer as dependéncias do SNI. Nio obstante tivesse consciéncia de que @ principal inimigo do ps fosse o externo, a0 qual um servigo de informagdes deveria estar atento, dlutante 0 governo Sarney © general Ivan continuou acompanhando os movimentos grevistas, que, de acordo com seus cilculos, ultrapassaram casa dos 5 mil naquele periodo. Segundo ainda seu depoimento, nesta época 0 S sintonia com 6 Ministério do ‘Trabalho. Fazia cclatérios mensais enviados ‘0 ministro Pazzianoto sobre a sicuagio da seguranga interna, para que fossem tomadas as devidas providéncias." Contrariamente a0 que foi dito, as rcivindicagées trabalhistas ainda eram vistas como fator que afeta- T agin em perfciea yaa seguranga interna do pats Outro “erro” cometido pelo SNI nesse perfodo, como o proprio ge- neral Ivan reconheccu, diz respeito a0 Plano Crurado, quando 0 drgio s¢ engajou “na busca dos alimentos perdides’. De acorde com ele, “havia gence do SNI para cagar boi no pesto, porque ers considerado interesse do Estado".!7" IG fan Mendes, 1995-162 1d.,p.157. dp 168. Priscila Carlos Brando Antunes E as ages nfo pararam porat. im 1987, come informa o depoimen- to do general Carlos Tinoco, o SNI ainda preparsva telatérios contendo “a sintese da subversio no Brasil”! Durante as eleigbes presidenciais de 1989 acompanhou 0 movimento dos candidatos de esquerda do pafs ¢ infilurou agentes no VI Encontro Nacional do Partido dos Trabalhado- renl® Nesse periodo em particular, as principais violagies cometidas pelo SNI estavam relacionadas a0 direito civil, & invasio de privacidade, de correspondéncias e a0 grampeamento de telefones. Entretanto, no que diz respeito as violagoes dos direitos humanos ocorridas durante 0 perfo~ do militar, deve-se sempre levar em conta que © SNI foi o cabega do sistema técnico, ¢ que atuou de forma isolada efou conjunta com os ér- isios de informagdes das Forgas Armadas que tivezam sua atuagio extre- mamente ligada & repressio. O CIE foi um dos setvigos mais envolvidos cem a repressio politica, © que se justifica, talver, pelo fato de que coube ao Exército coordenar toda a atividade de repressio e a ele foram suberdinados os DOIs. prGprio CIE ja foi criado como um drgio de informagbes € operasies, rnwuito diferente da atividade das segundas segdes, que atuavam como ér- os de preparo ¢ de de De acordo com os depoimentos, 4 parcela dentro do Exército que participava da atividade de informages e que tinha poder de comando ‘operacional efa muito pequena, como afirmam os generais Carlos Tinoco, Ocuivio Costa ¢ Zenildo Lucena,!”A maior parte da insticuigao se et contraria alheia 8 atuagio dos destacamentos, 3s operagoes empreendidas € 2 pessoas que eles prendiam, embora soubessem o que acontecia li denero, Essa pequena parcela seria formada, em seu nivel mais elevado, por um grupo de madicais, justamente aquete que foi contra o projeto de abertura do governo Geisel, De acordo com o depoimento do general Adyr Fitiza de Castro, 0 CTE cratava apenas de questies relativas & seguranga interna do pais. As questes relativas a0 exterior ainda cram de responsabilidade das E2 do © Cader Tinoco, 1598. Saukis & Novais, 1994:20-3. Ocesvio Costa, 1995:1 16: Zenilda Lucena, 1999; ¢ CarlosTinaco, 1998. 3 ‘SNL & Abin Estado-Maior, assim come cabia a0 SNI 2 preocupacio com ativida dé contta-informacbes."”* Para atender a responsabilidade de manter a seguranca interna d pals, o CIE tinha pessoal especializado para catrar cm varios lugares fazer interrogatérios, Interceptava cartas ¢ investigava a vida de p ligadas aos movimentos de esquerda, principalmente o PCdoB, e pren pessoas sem mandatos judiciais. Isso tudo just excepcionalidade em que o pafs se encontrava, Sepundo o general Fitiza, no CIE apenas nao havia, inicialmente gente trcinada especificamente para combatera pritica de seqiiestro, may em compensagao, “contavt com oficiais extremamente habilidosos em combate de rua, em combate corpo 2 corpo, uma no local ¢ liquidar com todos os seqitestradores”." © CIE também tinha capacidade de grampear telefones, atividade gue cabis apenas a0 CIE, pois ado era atividade do Exército © nem da Codis e dos DOIs, Como 0 CIE tinha autonomia pata operar em todo 8 Brasil, recebia informagées obtidas através de grampos telefbnicos de to das as partes do pais. Pelo depoimento do gencral Fitiza no livro Auas de chumbo, podemos: perceber que a tortura cra uma pritica comum, que ocorria, principal= mente, dentro dos DOIs, F um dos poucos depoentes que admite a pri= tica de tortura como algo cortiqueiro dentro do regime militar, A maioria dog militares que assume a existencia de tortura coments apenas que teak ido pela situagio wipe capar de en mente houve “alguns excessos” € que sempre foram cometidos por co- mandos parilelos, A pratica de tortura nunca teria se dado em cumpri~ mento de ordens superiores, como afirmou 0 ex-piesidence Figueliedo, em depoimento & imprensa.!™ Existem também aqueles que aio admitem a pritica de rortura em hipstese alguma, como é o casa do general Coelho Neto, Coincidente- mente ele também foi um dos eficiais conhecidos como um dos mais radivais do wegimic, De acordo com 0 general, nfo houve tortura ¢ sim uma politica das pessoas de esquerda de denunciar a prética de roreura, Fia, segundo cle, uma forma que encontraram para justificar as delagbes idan de Casro, 1994260. 5 dem, 1 Renato, 1996. Priscila Carlos Brandao Aatunes que cometiam. Nos dizeres do general, “levavam apenas uns tapinhas” ¢ Jiziam que haviam sido torturades. Na sua perspestiva, dava-se apenas ‘uns cascudos ou encontrbes |e] isto no ¢ tortura, tortura € outta coi- sa" O general Leénidas Pires, outro radical que comandou o Codi (res- ponsivel pelo DOD por mais de dois anos, também ndo aumice ter havi- ho tortura em sua area durante 0 tempo cm que esteve no comando.!”* Mas, pelo que foi visto, esses organismos cram os lugares por excelén- civ da prética de tortura no pais, principalmente os DOIs, As atividades desenvolvidas dentro deles eran’ super-reservadas, seu pessoal nao andava fardado e utilizava viatueas “frias”, De acordo com varios depoimentos, cssas viaturas eram nommalmente cartes apreendidos em batidas ¢ que nnvo. eram devolvidos, apenas trocavam-se suas places. Era 0 pessoal do DOT o responsivel pela captura, encarceragem e interrogatérios de presos considerados “subversivos” O general Fitiza disse que uma parte do pessoal responsivel pelos intcrrogatétios nos DOIs fez tceinamento no British Intelligence Service (ie). Buseavam conhecimentos sobre a doutcina de contra-insurgéncia, desenvoivida pelos ingleses no combate ao comunismo durance a guetra com a Makisia em 1954-57, O general até relatou exemplo de uma técni- ca aprendida com o pessoal do servigo de inteligéncia ingles: Inrerrogase 0 prisioneiva de gueres logo gute cle « aprisionaio, porque esse momento ele diz muita coisa, Depois que se vecompic, ja nite fala santo, Longue o redo ¢ wm grande avesiliar no interrogardrie, Os ingleses: vecamendam que sb se intervogue o prisioneiva despido porque, segundo cles, uma das deevas da homem e dla mulher, evidentemente, € a roupa Tivanco a sua roupa, fica muito agoniado, num estado de depresszo muito grande. E ese o1ade de desespero ¢ favordvel ao interrogedor, || E wna eéenica praticamente genenalizada.”” Ele cambém descreve como se davam os interogatérios nos DOI. Declarou que o pessoal que participava do interrogst6rio nao cra o mes- ‘mo pessoal da captura, “porque as atividades deservolvidas pelo interro- ‘Gadho Neto, 1994238, © general Pees esteve & frente do 1 Exércio entee 1974 ¢ 1976, Ver Leonidas Fires, 1994242, ” Fiza de Casteo, 1984.62, SMI & ADIN gador ¢ pelo captor s40 completamente diferentes’. Os interrogadores cram oficiais, em sua maioria majores, pois-a prdtica de interrogardri exigia um grande nivel de preparagio, Os intcrrogatérios cram tod monitorados através do uso de espelhos falsos e através de aparelhos d escuta colocados dentro das salas. Seu andamento dependia sempre do tempo disponivel para a obtengdo das informagées. Se havia tempo d ponivel, ram utilizados varios mécodos psicoldgicos, come manter 9 preso em uma sal escura, manté-lo incomunicével durante 48 horas, entee ous: tros. Quando nao existia tempo, “ou desistia do interrogatérin” — o q € pouco provaivel — “ou se aplicayam metodos violentos”. Ainda segund © proptio Fitiza, 0 pessoal no CIE nao tinka escripulos, e vale lermbi que os DOls eram constituldos principalmente de agentes desse érgio.!8 esar de afirmar que as técnicas de intertogatério desenvolvidas era inspiradas no modelo inglés. o general Fiuza procurou humanizar ele amenizar a forma com que elas foram conduzidas. Segundo ele: Nos DOs (..) quavida 0 prose entrava, a primeira coiva gue facia € idemtficd-to. Ele ora fotografudo, tiravamase as impresibes digitais, ewe ndo podiar ficar com a roupa que estavam, porque podia exconder quale quer coisa. Endo, eram mandados se despir, ¢ era fornecida uma ro especial, uma espécie de macaquinho. Para as mogas (...) também ena dada imediaiamente um “modess’ porque a printeira coisa que acontece com. mulher quanda ésubmetida a esa angistia da priste¢ficar menstruadas E fica escorrenda singue pela perna abaico, uma coisa desagradduel. Eig seguida, tomavam wm banha, recavam a roupa. O Prova fazia questa de que cada cela tivesse raupas de cama limpas.** Para perceber que a realidade foi diferente do que supse 0 depoime todo general, basta lembrar que oficiais brasileiros fizeram cursos na. manha, Estados Unidos Inglaterra, ¢ que tiveram aulas de tortura nistradas por estrangciros no Brasil com 0 uso de prisionciros politis cama cobsins. 5 © CIE possuia lugares préprios para esse tipo de “interrogatério” ficaram conhecidos durante o regime militar pelo pessoal das orga W Figaa de Castro, 1994360, (7-8. Td, p60, « depoimentos sore os cursos sio encantradosem Ams. 1985. % Priscila Carlos Branda Antunes Ses de esquerda ¢ pela imprensa. Alguns dos ecemplos mais flagrantes Go 0 caso da Bardo de Mesquita no Rio e a “casa de Pettépolis”, situada na rua Archur Barbosa, Esta tltima foi designada pela imprensa como “A Casa da Motte”, De acordo com 0 jornalista Elio Gaspari, ela era assim denominada, porque “poucos foram os que safram dela cora vida”, Mon- rada em 1971, essa casa estava apensa 4 polftica de extermninio dos lideres do terrorismo da esquerda, Era uma das centrais de “desaparecimento de pessoas”."*3 Em depoimento a Fithade S. Paulo, 0 tenente Amitlcar Lobo, discor= endo sobre politica da casa de Petrépolis, disse que haveria wma orem do proprio ministre do Fxército, 0 general Orlando Geisel pune que todas ak pessoas (que tetiam sido resis) gue abandonaram 0 ‘pats principalmente a: que escalltrant 0 Chile como reftgo, fosiens mor- ‘as apis eclarccerem deviddamente as atividades terrristas do grupo a que pertenciamr |.) Os presos ram interrogados, ¢ posteriormente mortos'™* Mas as prticas ilictas cometidas pelo CIE. nfo ocorriam apenas den- tro desses “pordes". O drgio também explodia bancas de jornais, seqies- ‘raya pessoas, espancava, Foi um dos principais responsiveis pela morte dc varios militantes do PCdoB dununte a guerrilha do Araguaia, Inclusive, a guertilha do Araguaia continua como uma das grandes inciignitas do regime militar. Ainda no se sahe ao certo quuantos militan fs foram mortos em combate ¢ nem mesmo onde se encontram seus cocpos. A guerrilla terminow em 1974 e até hoje existem buscas por cor- pos naquela regido, Ay poucas teferéncies sobre o alimero de militantes ue se encontrayam naquela regizo vém dos oficisis daquela época. Se- gundo 0 depoimento do general Coelho Neto, subcomandante do CIE € responsivel pela “Seco de Comunisma Internacional”, e que inv. fodos os contaros do PCdoB, havia pelo menos umas 60 pessoas 9 repiin, além de outros adeptos da cidade ¢ cos milizantes que feavam. circulando entre © Araguaia ¢ 08 grandes centres," ‘sa guerrilha foi trarada durante muito tempo como segredo de Es- ‘ado; nem mesmo algumas pessoas do. préprio Exército sabiam de seu Cpa, 1959, - A hora do lobo,ahnra do carci. Folie de; Hav; 12 Coalto Neto, 19942233 2000. (wor folhe.com. bt) 7 SUI Abin desenvolvimento. Foi a tiltima operagdo ¢laborada pela esquerda, mais recisamente pelos inilitantes do PCdoB, como forma de enfrentamento Pmado 2 dicadura militar, Depois de 1974, pode-se diver que 2 oposicio armada ao regime havia sido aniquilada pelos miliarcs. “Apa o fim da guerrilha ¢ 0 comeco do processo de Abertura, o CIE, assim como 0 SNI, passaram a deseavolver ages que visavam prejudicar 0 processo de distensio. Documentos recentemente divulgados pelo general Antonio Bandci- ta, ex comandante do Ill Exército, demonstram que os setvigos de infor- mages do Exército ¢ da Aerondutica acusavam o presidente Geisel de permitir, em 1975, a reaticulagio dos movimentos de esquerda ¢alarma- Yam os ministros militares para o perigo da retomada comunista. Neste mesmo ano, em 25 de outubro, ocorreu 0 assassinaro do jorna- lista Wladimir Herzog, nas dependéncias do DOT do IT Exército, ¢ logo depois a morte de Manoel Fie Filho. © presidente Geisel, com o objetivo de desestimular a onda do “terrorismo de dircita’, responsabiliza 0 co- mandante Ednardo D'Avila, do Il Exército, a quem, em ultima inse. fieava subordinado aquele destacamento, ¢ 0 exonetou de comande do Exército, ‘Mas os radicais continuaram sua politica de dificultar a abertura mes- imo apés essa punigéo. No governo Figueiredo ainda ocorreram witias ages do CLE em conjunto com 0s outros drgios de informagies¢ com os sugios policais, Um dos exeraplos mais conhecidos foi @ easo Riocentro, Eebora nao tenha sido a tilrima rentativa de abortar 0 procesio de aber- tuta, fol um dos mais conhecidos casos de terrorismo de direita no Brasil umn des grandes responsiveis pelo ctescimento da desmoralizagio do governo militar junto a sociedade civil. ‘Na noite de 30 de abril de 1981, num shore musical em cor Gio 20 Dia do Tiabalho, durante 9 governo do general Joio Baptista guelredo, duas bomnbss explodiram no Centro de Convenges do Rio de Janeiro, 0 Riocentro. Uma delas explediu: em um Puma, no estaciona: mento, ea outta, na casa de forga. Na explosio que ocorreu dentro do tutto, morte o sargento do DOI-Codi do I Exército, Guilherme do Rosévio, que estava com a bamba no colo, «foi ferido o capitio Wilson Machado, que estava no volante do carro. emo! arcca militar “WS Apel caw acidente, 0 capitan prussegult normalmente om oo Priscila Carlos Brando Antunes Napoca (oi aberto um inguétito millicar s 5 O1PM foi conduzido pelo enefe coronel Jollcoreceserthcee fa coneluiu que as bombas eram obras dos grupos de exquerda. © IPM ie tava os grupos Vanguarda Popular Revolucionéna (VPR), Movimento Revolucionétio 8 de Outubro (MR-8) ¢ Comando Delta como es re ponsdveis pelo azentado. Nao ha ciividas de que esse inguétito foi falacioso « de que nio heuve interesse real do presidente Pigucitedo em apurar as responsabilidades pelos arentados. Ao que tudo indica, 0 siseilorso Riocentro foi obra dos.agentes do DOI-Codi, do CIE edo SNI. ainda na tentativa de deter 0 processo de abertura, Aconstatagio de que o Riecentto nao foi, em hipécese alguma, obra dos grupos de exqueida ¢ umn dos pouicos exemplos de consenso entre os dlcpocntes. Para esses oficias, a atitude partiu de agentes da tea de infor- mages, provavelmente do CIE e do SI. No entanto, quase nenhum cles acredita gu tenha sido um ato institucional. Apenas concordam que se tratou de mais um ato isolado, desenca s comandos pa- ug ean dena wi ido, dlesencadeado pelos comandos pa sa, 0 general Golbery do Couto ¢ Silva, que era chefe da Casa Civil Dresidéncia da Repiliea, acusouo genes 1 GedlkeNsta bora undoes da explosto, mas nada foi apurado nesse sentido. "** Mas mesmo que nio (enha sido um aco institucional, pessoas relacio- nadas a0 alto comando do SNI, como o gencral Newton Cruz, ¢ a0 alto cscaliio do Exército tinham conhecimento desses planos ¢ com eles foram coniventes, Caso 6 inquétito fosse conduride de forma rigorosa, acabaria por atingir pessoas do alto escalto do governo edeestrema intimidade do presidente Figueiredo, como era 0 caso do general Ocivio Medeiros, che- io dada & impren- Eun un nnagin gu pars coltborr para Fo de depocnac concorde ses ae Rien cena so “sade mando prs’ pncpmene do Exo Ee amen ice Mami nf edna Wain ng «pris Manoa Fel Fi, que sem dat, parce edo am enero dos tala ope dra Drei sot generis Mis Rg os (0754 1976 quonls norma dunemorere conederrene eo che incidenremente, 30 chef da segunda segao do Rio na epoca de Riocentru, Outras tonces de informagies que : ne sam a atuagao desses grmpnede extrema diteita pode . slo, Ribera lama aac doses gaps diacta pador scr enconeradacom Argo, Ribera Gasper 1989) SMI & Abin fe do SNI, edo general Newton Cruz, chefe da Agéncia Central. Houve um movimento corporativista, no sentido de impedir que as informagies pudessem ser realmente averiguadas, com o qual o presidente Figueiredo concordou.!? Depois do caso Riocentio, agentes do CIE ainda fizeram panfletagens nos quartéise picharam muros, associandoa figura do candidato Tancredo Neves ao comunismo internacional, como tentativa desesperada de amea- gar 0 processo de abertura, que, naquela ocasifo, jd estava praticamence concluido. O CIE € 0 SNI foram dois dos principais responsiveis pelo terroris- mo de dircita ocortido no pais a partir do projeto de distensao. A partici pacio dos outros secvigos de informagées das Forgas Armadas em relago A abertura, ao que-tudo indica, foi bem mais ponderada. Asinformagies sobre a participagio do Cenimar, alm de serem pou- cas, sio sempre vagas. O general Octivio Costa, ao abordar 6 assunto da tepressio, disse que 0 CIE ¢ 0 Genimar foram os érgios mais atuantes naquele momento, mas no deu referencias a que tipo de atuacao.” O almirante Sabdia assume que, no momento em que tiveram que aiuar no combate a subversao, “houve muitas distorges”, mas também nao as qualificou.!! J4 0 almirante Mirio César Flores afirmou que a participa- 2 do Cenimar nas operagdes de repressio junto ao CIE e &s policias, dentro dos DOs cra diminuta, como ja nos havia narrado o gencral Fitiza de Castro, O que se sabe de mais concreto em relago a atuagao do Ceni- informagoes repassadas pelo almirante Serpa, é que o Srgio partici- pou das buscas do embaixador americano, auxiliou o CIE ante na ¢ da 20 capitao Lamarca, quanto na guerrilha do Araguaia, ¢ vasculhava a vida de seu proprio pessoal com o auxilio da area policial." Informagoes sobre a atuagdo do servico de informagbes da Aerondu- tica $90 um pouco mais precisas do que ax do Cenimar, talvec mesmo, pelo fato de o Cisa ter tido uma intensa participagio no perfodo de re- ressio em um espaco de tempo muito curte. O Cisa teve como auge de "© caso Riocentro fol raberto em 1999 « em maio de 2000 o Superior Tibural Milita » arquivou pela segunds ver, cabendo ainda recursos 20 <3. °Qeutvio Coma, 1995-106. '* Henrique Sabsia, 1998. 2 Ivan Serpe, 1998, 100 Priscila Cartes Grande Antunes seu movimento operacional os anos de 1969 ¢ 1979, quando foi coman- dado pelo brigadeiro Burnicr. Assim come © CIE, © Cisa também realizava grampos telefnicos, instalava aparelhos de escuta, além de seu pessoal seapropriarilegalmente ce carros apreendidos nas operagacs. O Cisa também participou da caga- ao capitio Lamarea e colaborou com 0 CIE no combate 3 guertilha do Araguaia. Embora 9 brigadeiro Burnier, um dos oficiais mais readies da Aero- ndutica, seja o nico a negar a existéncia da atividade de tortura dentro dessa forca, 0 Cisa teve sua atuagio no combate & repressao também inti- mamence ligada a essa pritica."* Possufa um presidio na base aérea do Galedo, resttito ao pessoal da tea de informagdcs. De acordo com os dcpoimentos, as deniineias de tortura dentro do presidio incomodavam até mesmo a oficialidade da Acronsutiea. Foi bi que ocorreu o caso de Stuart Angel, lilho da estilista Zuau Angel, obrigado a aspirar 0 escapa- mento de um jipe ¢ arrastaclo amarrado a0 carro naquele patio até a morte Apesir de no mergulharmos minticiosamente nessa dea ainda ne- bulosa da recente histéria polfcica brasileira (nao era essa nossa proposta), podemos perceber que foram essas priticas exercidas pelos servigos de informag&es — mortes, torturas ¢ perseguigdes — as principais responsé- ‘cis pela tesisténcia criada pela sociedade em relagao aos servigos de infor magoes mesmo no perfodo democritico, ‘Mas, uma vex conscientes da necessidade desi atividade para a defe sa nacional ¢ para a condugio politica do pals, o Poder Exeeutivo, tanto militar quanto civil, ¢ o Poder Legislative vim, atualmente, buscando formas de readaprar seus drgiios de informacbes aos seus legitimos inte- resses ¢ de afasté-los da relagao existente entre atividade de informagoes ¢ violagies aos direitos civis ¢ humanes. Perceber quais mecanismos foram ¢ esto sendo adotadlos por esses poderes para superar o carder deteriora- do conseruido ao longo dos 20 anos de regime milicar ser 0 abjetive do prdximo eapftulo. Jon Paola Morcira Burner, 1994203, 101

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