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Danilo Bilate
Doutorando do PPGF/UFRJ - Bolsista Capes
Que Nietzsche tenha realizado em toda a sua obra um esforo
continuado de confronto moral algo muito conhecido e inquestionvel.
Contudo, no to simples assim afirm-lo sem qualquer reflexo depurada
sobre o proposto. O que esse confronto? O que a moral, essa moral que
confrontada ali? se acaso ela O que significa dizer que Nietzsche
um superador da moral? Responder essas perguntas e seus pares
ocasionais o intuito desse pequeno ensaio.
Se, em diversos momentos, Nietzsche mesmo afirma realizar uma
auto-supresso da moral, em outros ele confessa uma sua imbricao moral.
A hiptese a ser levada em considerao neste trabalho a de que esse
aparente mas inexistente paradoxo se deve ao fato de que Nietzsche luta
contra um tipo especfico de moral, mas, por outro lado, de que essa luta
no negaria a possibilidade de existncia de outras novas e diferentes
morais. Assim, a luta nietzscheana seria contra qualquer tipo de moral que
deprecie a vida, isto , contra a decadncia e o niilismo. Contudo, seria
ainda possvel pensar em uma moral ascendente, afirmadora e
potencializadora da vida. nossa hiptese que o pensamento nietzscheano
existencial, quero dizer, diz respeito vida, colocando-se ao lado da
afirmao da vida e em oposio sua negao. Voltemos nossa ateno
para tal tema. Iniciemos nossa reflexo com o estudo do 4 do prlogo de
Aurora, onde h a confisso, por parte de Nietzsche, de estar imbricado,
imbudo na moral:
E se este livro pessimista at dentro da moral, at alm da
confiana na moral, no seria justamente por isso um livro
alemo? Pois representa, de fato, uma contradio, e no tem
receio dela: nele retirada a confiana na moral e por qu? Por
moralidade! Ou como deveramos chamar o que nele em ns
sucede? Pois, conforme nosso gosto, preferiramos palavras mais
modestas. Mas no h dvida, tambm a ns se dirige um tu
deves, tambm ns obedecemos ainda a uma severa lei acima de
ns e esta a ltima moral que ainda se nos faz ouvir, que
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Referncias bibliogrficas
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