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que ri de si mesmo*
Larissa Pelcio**
No foi a minha maneira de pensar que me desgraou, foi
a dos outros, escreveu Sade a certa altura de sua vida polmica e
emblemtica. Corria o sculo XVIII, poca em que o poder
exercia-se explicitamente sobre a carne e os suplcios pblicos,
impostos s pessoas infratoras, era da ordem do espetacular. O
Marqus, com sua desgraada maneira de pensar, tecia crticas
a esse poder que se realizava pela submisso completa do outro
at seu esgotamento, e que assim podia ser, pois a nobreza tinha
tanta certeza de sua superioridade quanto de sua impunidade.
Apesar de sua verve crtica, o nobre e controverso autor de
A Filosofia da Alcova se popularizou no por seu requinte
filosfico, mas pela propalada crueldade em relao aos usos dos
prazeres do sexo. Foi mais fcil classific-lo como libertino do que
ver em sua prosa a relao intrnseca entre sexo, poder, submisso
e controle. Relao esta que Michel Foucault esmerou-se em
desnudar em Histria da Sexualidade A vontade de Saber. A
sexualidade, sendo ela mesma uma construo, tem uma histria
que no pode ser contatada sem que se fale das instituies de
poder e dos discursos de saber que formularam verdades sobre o
sexo.
Se a sexualidade tem sido sempre alvo de regramento e
esmiuamento por parte das instituies, o corpo feminino tem
*
Resenha de LEITE Jr., Jorge Das Maravilhas e Prodgios Sexuais A
Pornografia Bizarra como Entretenimento. So Paulo, Annablume/ Fapesp,
2006. Recebida para publicao em agosto de 2006, aceita em setembro de
2006.
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Doutora em Cincias Sociais pela Universidade Federal de So Carlos.
larissapelucio@yahoo.com.br
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