Crescem os sinais de que uma grande crise financeira internacional está em andamento. Os impactos sobre os países emergentes pode ser devastador, gerando desemprego, pobreza e insegurança. O mundo está se tornando cada vez mais instável e é aconselhável aprender a esperar o inesperado.
Original Title
Crise internacional: dívida de empresas de emergentes quadruplicou
Crescem os sinais de que uma grande crise financeira internacional está em andamento. Os impactos sobre os países emergentes pode ser devastador, gerando desemprego, pobreza e insegurança. O mundo está se tornando cada vez mais instável e é aconselhável aprender a esperar o inesperado.
Crescem os sinais de que uma grande crise financeira internacional está em andamento. Os impactos sobre os países emergentes pode ser devastador, gerando desemprego, pobreza e insegurança. O mundo está se tornando cada vez mais instável e é aconselhável aprender a esperar o inesperado.
Crise internacional: dvida de empresas de emergentes quadruplicou
Jos Eustquio Diniz Alves
Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Populao, Territrio e Estatsticas Pblicas da Escola Nacional de Cincias Estatsticas - ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em carter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Crescem os sinais de que uma grande crise financeira internacional est em
andamento. Os impactos sobre os pases emergentes pode ser devastador, gerando desemprego, pobreza e insegurana. O mundo est se tornando cada vez mais instvel e aconselhvel aprender a esperar o inesperado. Em fevereiro de 2015, a consultoria Mackinsey publicou um relatrio (Debt and, not much, deleveraging) mostrando que as dvidas dos domiclios (famlias), governos, empresas e setor financeiro passou de US$ 87 trilhes no quarto trimestre de 2000 para US$ 142 trilhes no quarto trimestre de 2007 e para US$ 199 trilhes no segundo trimestre de 2014. Em proporo do PIB a divida total passou de 246% em 2000, para 269% em 2007 e atingiu 286% em 2014. Isto quer dizer que a economia internacional est sendo sustentada por uma bolha de crdito que vem crescendo de forma exponencial, chegando a praticamente a 200 trilhes de dlares em meados de 2014, ou cerca de 3 vezes o valor do PIB mundial. Evidentemente esta dvida ter que ser paga em algum momento pelas atuais ou posteriores geraes. Nos meses de agosto e setembro de 2015 houve uma queda geral do mercado de aes em todo o mundo. A bolsa de Nova Iorque caiu de 18.200 pontos para menos de 16.000 pontos. A bolsa de Xangai caiu de 5.000 pontos para cerca de 3.000 pontos. Todos os maiores mercados de aes do mundo cairam simultaneamente e a quantidade de riqueza que tem sido dizimada superior a 5 trilhes de dlares. E tudo isto no o fim, mas pode ser apenas o comeo.
A queda do preos das commodities est implodindo o equilibrio financeiro dos
pases emergentes. Um possvel colapso de qualquer grande exportador de commodities pode facilmente ser um evento ignitor do desastre, maior do que a imploso do Lehman Brothers em 2008. Os pases exportadores tem sido um dos mais afetados. A Rssia tem sido particularmente afetada. Outro pas que sofre tremendamente com a queda do preo do petrleo a Arbia Saudita, cujas reservas internacionais cairam de US$ 737 bilhes em agosto de 2014, para US$ 672 bilhes em maio de 2015, segundo a Bloomberg. Neste ritmo de queda de 12 bilhes de dlares por ms a Arbia Saudita pode ficar no vermelho antes do final da atual dcada, sendo que as exportaes lquidas de petrleo esto caindo em termos absolutos. A receita cai e os gastos internos sobem. O medo da entrada de terroristas acionou os alarmes na Arbia Saudita na dcada passada, levou suas autoridades a anunciarem, em 2006, a construo de uma cerca que impedisse o contgio das aes violentas em seu territrio. O avano do projeto, que inclui um muro de mais de 900 km ao longo da desrtica fronteira que separa sauditas de iraquianos, foi lento e andou pouco at junho do ano passado, mas se acelerou quando os jihadistas do Estado Islmico (EI) ocuparam o norte da Sria e do Iraque e a ideia voltou a ter fora. Uma crise econmica na Arbia Saudita provocar certamente uma crise poltica e social, podendo detonar uma bomba no s no Oriente Mdio, mas em todo o mundo. Outros pases dependentes da produo e exportao de petrleo esto em dificuldades devido a bolha de carbono. Segundo o instituto britnico Carbon Tracker, a bolha de carbono o resultado de um excesso de valorizao pelos mercados globais das reservas de carvo, gs e petrleo detidas por empresas de combustveis fsseis. Uma anlise do desempenho econmico da industria petrolfera mostra uma situao preocupante. A estudiosa Gail Tverberg, aturia e decrescentista, com base em uma apresentao de Steven Kopits, Diretor da Douglas-Westwood, mostra que as grandes empresas de petrleo, de capital aberto, esto em dificuldade, pois aumentaram as despesas de capital (Capex) - gastos como explorao, perfurao e implantao de novas plataformas de petrleo offshore - mas tiveram a produco de petrleo bruto reduzidas desde 2006. O mercado financeiro esperaria que a produo de petrleo bruto subisse quando o Capex aumentasse, mas Kopits mostra que, de fato, desde 2006, o Capex tem continuado a aumentar, mas a produo de petrleo caiu. As empresas que trabalham com combustveis fsseis possuem ativos em torno de US$ 6 trilhes. Ou seja, o dinheiro est indo para o fundo do poo, mas o petrleo no est saindo na proporo esperada. De fato, so as empresas de energia que esto liderando a queda do mercado acionrio. As aes da Petrobras (Petr3.SA) cairam de um pico de mais de R$ 60,00 em 26/05/2008, para R$ 44,3 em 29/11/2009, chegando a menos de R$ 8 em 29 de setembro de 2015. A Petrobras a empresa mais envididada do mundo e a crise da companhia j afeta toda a cadeia produtiva da industria brasileira. S com muitos reajustes da gasolina e do diesel (transferindo os custos para os consumidores) a Petrobras pode melhorar seus balanos. O Fundo Monetrio Internacional (FMI) no seu ultimo relatorio WEO, do inicio de outubro de 2015, reavaliou para baixo as projees econmicas e mostrou que o endividamento das empresas dos pases de mercados emergentes multiplicou por 4 na ltima dcada. Entre 2004 e 2014, o endividamento corporativo nas economias emergentes subiu de US$ 4 trilhes para US$ 18 trilhes, ou seja, de 47% para a 2
casa de 73% do PIB, ou 26 pontos percentuais. O cenrio piorou principalmente nas
industrias de combustvel fssil. O endividamento corporativo no Brasil cresceu cerca de 15 pontos percentuais do PIB apenas entre 2007 e 2014, a quarta maior expanso da amostra. A expanso da dvida empresarial em cuja composio a moeda estrangeira ganhou espao foi motivada pelos juros virtualmente zero nos EUA, na Europa e no Japo aps a ecloso da crise financeira de 2008. Mesmo com balanos mais fracos, as condies de financiamento ficaram mais vantajosas, pois havia dinheiro abundante para emprstimos, investidores buscando retornos mais elevados do que nas naes ricas, um dlar depreciado e o efeito-euforia com um mercado de commodities ainda robusto. As empresas no s pegaram muito emprestado como conseguiram diversificar o perfil do endividamento nos ltimos dez anos. O crdito tomado junto a bancos ainda dominante (83%), mas a participao das emisses de ttulos e bnus praticamente dobrou. Essas condies no mercado internacional, porm, esto cada vez mais no passado, o que antecipa elevao dos custos de rolagem de dvidas existentes e de tomada de novos emprstimos.
Todos esses acontecimentos tornam as economias dos mercados emergentes mais
vulnerveis a um aumento das taxas de juros, apreciao do dlar e a um incremento na averso global ao risco. medida que as economias avanadas normalizem a poltica monetria (voltem a subir juros), os mercados emergentes devero se preparar para a quebra de grande nmero de empresas, desencadeando 4
uma crise maior do que a de 2009. A crise das empresas endividadas e a
desacelerao das economias de pases em desenvolvimento (submergentes) vai fazer com que a economia global cresa em ritmo menor, podendo ser o incio de uma bola de neve de recesso generalizada. No caso brasileiro, os desequilbrios internos j fizeram o dlar disparar e ultrapassar a barreira histrica dos R$ 4, o maior valor nominal do cmbio desde o lanamento do Plano Real. Isto muito preocupante pois o passivo externo no pas muito grande. O governo brasileiro se gaba de ter reservas de cerca de US$ 350 bilhes, mas este dinheiro veio do endividamento das empresas. Alm do mais o governo aplica as reservas no exterior com juros prximos de zero e paga juros elevadssimos no mercado interno, com grande prejuizo para a nao. Po exemplo, o programa de swaps cambiais est custando caro. Em 12 meses at agosto de 2015, o BC perdeu R$ 111,6 bilhes com a operao. o equivalente a 21% do dficit nominal do perodo, algo em torno de 2% do PIB. Mas se o Banco Central Americano (FED) iniciar o processo de subida das taxas de juros ainda este ano, o impacto sobre a sada de dlares do Brasil pode ser arrasador, pois, alm de tudo, a situao poltica est agravando a instabilidade econmica. Se vier outro choque externo, ai sim o Brasil vai sentir o impacto da crise internacional. E, com certeza, no ser nada agradvel. Referncias: ALVES, JED. A dvida de 200 trilhes de dlares e a prxima crise financeira mundial, Ecodebate, RJ, 13/03/2015 http://www.ecodebate.com.br/2015/03/13/a-divida-de-200-trilhoes-de-dolares-e-aproxima-crise-financeira-mundial-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/ IMF. Rise in Emerging Market Corporate Debt Driven by Global Factors, IMF Survey, September 29, 2015 http://www.imf.org/external/pubs/ft/survey/so/2015/POL092915B.htm