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uma desesperada tentativa de tornar o psictico algo que ele no , porque no quer, ou
porque no pode ser. Se h algo em comum entre as diversas formulaes teraputicas
ao longo da histria, talvez seja sua pretenso a univocidade. Os reducionismos
comportam arrogncia.
A viso de causalidade nica, de determinismo oculto, essencializa a ideia de
doena. Nesse paradigma, a cura corresponde a extirpao de algo, modificao de
alguma natureza secreta errnea (...) um jogo de foras onde parecem perfeitamente
justificveis a excluso, a sujeio, a imposio de solues institucionais rgidas, o
querer que o delrio se cale, a esterilizao, o extermnio eugnico de populaes, etc.
O que a natureza da psicose e qual a verdadeira maneira de cur-la so
perguntas irrelevantes. Porm, isso no quer dizer que as contribuies de cada uma
dessas possibilidades de entendimento da loucura no tenham utilidade. O problema
que isoladamente, nenhuma delas ir dar conta da totalidade de questes que envolvem
o exerccio teraputico e prtica assistencial com sujeitos psicticos. Nenhuma delas
implica em uma cura unidirecional. So teis, na medida que nos fornecem recursos que
podem, pontualmente, dar conta de uma certa ordem de problemas, aliviando o
sofrimento e dando melhores condies de existncia singular para algum.
Assim, usar medicamento, fazer terapia e frequentar espaos institucionais,
construindo laos de sociabilidade so instrumentos dos quais podemos dispor na
conduo da estratgia teraputica, desde que no se perca de vista o objetivo: que o
sujeito deve, interagindo com os recursos de assistncia, ganhar autonomia, respeitando
a si e ao outro, construindo o melhor percurso singular de existncia possvel. Escapa-se
do dilema hamletiano: no preciso reduzir o sujeito aos determinantes do bio-psicosocial. Trata-se de definir qual recurso pode ser mais salutar para um homem em sua
circunstncia.
O sentido mdico corriqueiro de cura implica na restituio a um estado
hipottico inicial de normalidade, e no deve ser aplicado a uma situao que envolve
sujeitos em sua existncia. Por outro lado, a cura pode ser pensada como um trajeto de
tratamento, onde existe maleabilidade em relao aos sujeitos envolvidos, onde cada
momento tem um valor, onde uma norma de recuperao final no se impe a todo
instante.