You are on page 1of 5

Plataforma de e-learning, o curso teológico do futuro:

uma perspectiva eclesiástica

[...] fazei discípulos de todas as nações... (Mateus 28:19)

[...] jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la


ensinar publicamente e também DE CASA EM CASA. (Atos 20:20)

“Não podemos levar o mundo todo a Cristo,


mas podemos levar Cristo a todo o mundo”.
J. Blanchard

Jogo aberto, cursos e-learning1 de qualidade teológica poderão fazer um


papel muito superior aos seminários e institutos teológicos existentes. Com
raras exceções, os seminários priorizam um alto nível de ensino teológico.
Muitos seminários estão encharcados de liberalismo teológico, arminianismo e
carismatismo, isto entre professores e alunos. Nem sempre um ensino
presencial é sinônimo de qualidade, com certeza já foi em alguns lugares.
Muitos seminários considerados tradicionais já cederam terreno ao
pragmatismo evangelical e liberalismo contemporâneo.

Antes de tudo, é bom que se diga que os seminários existem por


negligência da Igreja. É missão prioritária da Igreja preparar seus membros
segundo os dons ministeriais. Quando a Igreja falha em suprir seu ministério
de ensino surge então a necessidade de um seminário. E certamente, um
seminário com bons professores e bons livros é bastante proveitoso para a
Igreja. O ponto central a ser exigido em favor da sã doutrina é se de fato existe
um treinamento ministerial apropriado, seja presencial ou à distância. Sob um
olhar eclesiástico, uma comunidade de membros capacitados pode fazer
excelente uso do ensino teológico online com seus membros, como um
suplemento dos estudos presenciais do grupo eclesial ou na preparação de
candidatos distantes, substituindo ou complementando a função do seminário.

Como alertou Vincent Cheung2: [...] “o modelo de treinamento de


Cristo (e.g. Jesus e os Doze) e os apóstolos (e.g. Paulo e Timóteo)
deveria ser mais do que suficiente, e que ele é aparentemente
insuficiente somente porque as igrejas não o têm adotado realmente.

1
E-Learning nada mais é do que ensino à distância online.
2
Vincent Cheung é autor de mais de trinta livros e centenas de palestras na área
teológica, residente em Boston, EUA. A citação é do seu artigo: Igreja e Seminário,
extraído de Doutrine and Obedience, p. 05.
Os presbíteros da Igreja deveriam ser capazes de treinar seus
próprios parceiros e sucessores, ao invés de ter que enviar seu
próprio povo para seminários, onde serão ensinados por pessoas que
ninguém na igreja conhece ou jamais ouviu sobre”. Enquanto essa
realidade não acontecer o seminário continuará sendo uma opção.

Hoje, a formação de ensino técnico e superior online em várias áreas do


conhecimento já é uma realidade crescente em muitos países, e as
perspectivas são de mais crescimento. Com o aumento vertiginoso de usuários
da Internet, o baixo custo dos equipamentos eletrônicos e o aumento da
velocidade de conexão, o e-Learning certamente se tornará o ensino do futuro
e a Igreja poderá assumir seu antigo posto de formação ministerial de modo
pleno (local e global). Grandes universidades mundiais do Primeiro Mundo já
estão abrindo cursos e-Learning, e continuam com suas formações tradicionais
e presenciais. O ensino e-Learning é algo paralelo, hoje, para essas
universidades, porém um complemento que pode tomar um vulto incalculável
no futuro. O curso online pode acabar com a necessidade de seminário
presencial e fazer com que as igrejas locais retomem seu papel no ensino.

Não há como negar o cenário que se consolida a olho nu: a geração


presente e principalmente a geração próxima não tem muito tempo a perder,
tudo é rápido, digital e instantâneo. E a tendência é que isso aumente em
necessidade prática. Já se foi o tempo em que uma pessoa tinha que se
deslocar milhares de quilômetros para fazer um bom seminário e até estudar
fora do país para tal. Hoje, um adequado seminário teológico, reconhecido em
excelência de ensino pode facilmente abrir um núcleo de ensino a distância. E
se não fizer outro faz. Não é preciso acabar com o ensino presencial, mas
apenas abrir mais uma alternativa de ensino. Os antigos modelos de ensino
devem adaptar-se às necessidades de muitos estudantes, que buscam estudar
em qualquer hora e lugar, e ainda permanecer próximo de sua igreja. Isto não
significa que o ensino prático, a formação online, deva ser facilitado, que o
conteúdo deva ser diluído. Pelo contrário, deve ser mais aprofundado, levando-
se em conta a liberdade de estudo, a flexibilidade de horário e fácil acesso. As
exigências dos cursos não devem ser menores. As melhores metodologias
pedagógicas devem se adequar às novas mídias e plataformas digitais, e vai
depender muito da ética de quem faz o ensino.

Uma vantagem imediata do e-Learning é que é possível


selecionar bons mestres, que sigam uma linha básica teológica em
comum e que ofereçam conhecimento qualitativo. – Exemplo
alternativo: Igrejas locais que compartilhem da mesma fraternidade ou região.
-- Outra vantagem do e-Learning: custos reduzidos. Tempo e dinheiro
reduzidos, quem não deseja realizar um curso de interesse vocacional e
qualidade e ainda não ter que sair de casa nem se distanciar da comunidade
eclesiástica? As redes sociais da Internet, atualmente, demonstram um pouco
da força de que é possível alavancar a interação entre pessoas e compartilhar
conhecimentos. Creio que num futuro breve seja possível através de um
minicomputador móvel, tipo celular, ter uma biblioteca dos melhores livros
teológicos da história no bolso, isso em larga escala, acessível a todos, fora
outros recursos de comunicação oferecidos. Algo tão comum como ter um e-
mail hoje.

Poder escolher quais disciplinas ou eixo curricular pagar, estudar de


acordo com o tempo disponível é uma necessidade prática e real. A tecnologia
é um meio, e os professores são os facilitadores. Com a interação que as novas
tecnologias da informação desenvolvem não duvido que no futuro os
seminários presenciais estejam ameaçados à inexistência ou insignificância. A
orientação pedagógica sempre irá existir, porém fazendo uso de novos
recursos. O ensino à distância é uma realidade crescente e sempre necessita
ser aperfeiçoada. Há muitos problemas ainda por ser um recurso novo e em
adaptação. O preconceito com relação ao e-Learning se deve ao mau uso que
muitos fazem e por ser algo que transmite a ideia, hoje, que é fácil estudar
assim. Porém, do ponto de vista tecnológico só tende a melhorar a plataforma
e do ponto de vista pedagógico o que vale mesmo é a boa interação
docentes/alunos e bons conteúdos disciplinar, no mais não se pode fazer o
papel do Espírito Santo. O futuro é promissor, as perspectivas já estão abertas!
A missão é do SENHOR!

O MIT OpenCourseWare (OCW) já é uma realidade que serve


como uma “mensagem embrionária” para o futuro breve da Igreja. O
MIT é uma plataforma digital e online que disponibiliza, via Internet,
os materiais utilizados em quase todos os cursos de graduação e pós-
graduação do MIT para qualquer usuário em qualquer lugar do
mundo, sem nenhum encargo. O MIT OCW representa um avanço em
termos de educação e tecnologia e servirá como modelo para a
disseminação do conhecimento universitário na era da Internet. Hoje,
o modelo do MIT trabalha em paralelo com o ensino superior
americano, divulga seus materiais educacionais e mantém as aulas
presenciais. Mas isso é só o começo, a tendência é aperfeiçoar a
interação online e torná-la independente, mesmo que alguns venham
a negar isso. Em outras palavras, é possível reunir os melhores
professores de um país ou mesmo do mundo em um só time de docentes de
um curso. Obviamente a articulação não é fácil, mas é algo tecnicamente
viável. É igualmente possível cursar nos melhores seminários e universidades
existentes em qualquer lugar do mundo, através de um idioma comum, o
inglês, por exemplo. Na mesma velocidade é possível fazer mestrado e
doutorado, valendo-se da competência e credenciais de instituições sérias e
respeitadas. É só questão de tempo e adaptabilidade.
Uma igreja bem equipada teologicamente poderá tornar-se um centro
de estudo teológico e reconquistar seu posto missionário que o seminário
supriu e suprimiu. Uma denominação cristã capacitada teologicamente deve
oferecer treinamento apologético aos seus membros primariamente e a
cristãos distantes que desejam estudar de modo aprofundado. Não é
concebível reter conhecimento hoje como os antigos monastérios. Este papel
não é exclusivo dos seminários e nem pode continuar a ser por muito tempo. É
possível, não comum, encontrar membros de igrejas com um conhecimento
em grego e/ou hebraico muito maior que muitos professores de seminários e
institutos de modelos tradicionais. O mesmo vale para outras tantas áreas da
teologia. Deus concede dons quando faz o chamado e estes devem ser usados
em favor da Igreja. O talentos devem ser multiplicados e não enterrados.

Mais cedo ou mais tarde as igrejas que amam e defendem a sã doutrina


têm de acordar para esse recurso tão acessível. Para isso basta um
computador conectado a Internet, um cronograma programático estratégico e
mãos à obra. Não é necessário alugar, comprar ou construir prédios, mas tão
somente criar um canal digital de comunicação. Se houver um monitoramento
sério, comprometido e ético por parte da Igreja difusora não tenho dúvida que
produzirá grandes frutos. Cristianismo é informação repassada e não gritaria de
praça em praça. Como está escrito:

E todos os dias, no templo e DE CASA EM CASA, não cessavam de


ensinar e de pregar Jesus, o Cristo. (Atos 5:42)

Certamente os cristãos podem entender melhor o corpo de doutrina e


aprender a defender e difundir através do e-Learning. Há pouco tempo, um
estudante que quisesse estudar a distância realizava cursos por
correspondência. Recebia em casa, pelos Correios, apostilas de papel, fitas K-7
e VHS, livros e orientações didáticas. Assim podia ouvir estudos, lições,
palestras e sermões. E esse meio “rudimentar” alcançava pessoas muito
distantes geograficamente. O que pode fazer a Internet? Igrejas sadias,
acordem! Acordem antes das igrejas doentes! Exponencialize o conhecimento
da Palavra! A igreja local pode se tornar global! “Glocalize”, como dizem os
japoneses sobre questões estratégicas! Pense macro sobre as questões da
Grande Comissão; sobre o Ide, e produza todo material através da Igreja local;
da unidade local.

Havendo um avivamento soberanamente produzido por Deus em


determinada região nos dias de hoje, com certeza as igrejas locais acordarão
para essa ferramenta poderosa de difusão. Se uma igreja é sã
doutrinariamente ela deve fazer de tudo para propagar seus ensinos, pois as
seitas são velozes e multiplicadoras como colônias de bactérias. Como
arrematou R.B.Kuiper: “A igreja atual... não tem dever mais solene do que
manter a pureza de doutrina”.

Imaginemos o que pode fazer um missionário treinado por uma igreja


local em missões indígenas, por exemplo. Com um computador portátil e uma
conexão sem fio, ele pode simplesmente acelerar o processo de tradução e
estudos linguísticos tendo a ajuda de uma plataforma de sua igreja adaptada
exclusivamente para a sua necessidade, – não uma ajuda genérica. O
missionário pode receber apoio na apologética, na hermenêutica, exegese,
antropologia, cultura, etc. Pode igualmente receber todo tipo de apoio e
potencializar a logística do seu campo missionário. Isso sem perder a
simplicidade de seu trabalho, ele não precisa andar em meio aos índios como
se fosse um astronauta explorando o solo da lua. Tudo que já foi feito com
êxito pela Igreja para difundir o Evangelho pode ser potencializado através de
novas tecnologias de propagação. O hiato que há entre igreja e seminário não
mais existirá a partir do momento em que cada igreja tomar para si a
responsabilidade de ser um seminário por excelência.

Uma igreja bem estruturada não precisa correr o risco de enviar seus
melhores membros para seminários distantes, onde muitas vezes, ali, serve
apenas para destruir as crenças da igreja local que ele carrega. Esse sistema
pode muitas vezes financiar um futuro inimigo para a igreja local e danificar a
unidade já sacrificada. Claro que nem todas as igrejas locais tem uma liderança
preparada para o ensino nem possui meios econômicos para iniciar qualquer
projeto difusor relevante. Pergunto: quais os recursos dos missionários do
século 18 e 19? O recurso número 1 é coragem. Um bom livro de teologia
podia demorar meses numa viagem de navio.

A falta de contribuição, generosidade e liberalidade da Igreja não são


desculpas para uma igreja pobre. O ensino bíblico não exige nada que esteja
além do nosso alcance:

Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar


socorro aos irmãos que moravam na Judéia. (Atos 11:29).

Uma igreja que investe em preparo doutrinário e difusão faz de cada


membro um missionário sem que jamais tenha que sair do seu país. O
Evangelho é uma proclamação, compreender isto é uma condição vital,
negligenciar essa verdade conduz à paralisia e estagnação. Será que o e-
Learning é só um nome irrelevante, esquisito e passageiro? O futuro é hoje!

Raniere Maciel Menezes

You might also like