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SÁBADO
– Constância na luta. A fidelidade nos momentos difíceis forja-se todos os dias naquilo que
parece pequeno.
Nós, cristãos, vivemos numa época privilegiada para dar testemunho dessa
virtude tão pouco valorizada que é a fidelidade. Vemos com frequência como
se quebra a lealdade na vida conjugal, nos compromissos assumidos, como
se é infiel à doutrina e à pessoa de Cristo. Os Apóstolos mostram-nos que
esta virtude se baseia no amor; eles são fiéis porque amam a Cristo. É o amor
que os induz a permanecer ao lado do Senhor no meio das deserções. Só um
deles o trairá mais tarde, porque tinha deixado de amar. Por isso o Papa João
Paulo II nos aconselha: “Procurai Jesus, esforçando-vos por conseguir uma fé
pessoal profunda que informe e oriente toda a vossa vida; mas sobretudo que
o vosso compromisso e o vosso programa sejam amar a Jesus, com um amor
sincero, autêntico e pessoal. Ele deve ser o vosso amigo e o vosso apoio no
caminho da vida. Só Ele tem palavras de vida eterna” 3. Ninguém mais fora
d’Ele.
Enquanto estivermos neste mundo, a nossa vida será uma luta constante
entre amar a Cristo e deixar-nos levar pela tibieza, pelas paixões ou por um
aburguesamento que mata todo o amor. A fidelidade a Cristo forja-se na luta
contra tudo o que nos afasta d’Ele, no esforço por progredir nas virtudes.
Então seremos fiéis tanto nos momentos bons como nas épocas difíceis,
quando nos parecer que são poucos os que permanecem junto do Senhor.
Por vezes, o seu objecto será “derrubar o nosso Golias, isto é, a paixão
dominante”6, aquilo que mais sobressai como defeito no nosso
comportamento, aquilo que mais prejudica a nossa amizade com o Senhor ou
a caridade com o próximo. “Quando alguém se vê especialmente dominado
por um defeito, deve armar-se somente contra esse inimigo, e tratar de
combatê-lo antes de lutar com os demais [...], pois, enquanto não o tiver
vencido, deitará a perder os frutos da vitória conseguida sobre os demais”7. É
por isso que é tão importante conhecermo-nos bem e darmo-nos a conhecer
na direcção espiritual, que é o momento em que normalmente determinamos
a matéria desse exame.
Ainda que por vezes o objecto do nosso exame particular possa ser
formulado em termos negativos, como uma resistência ao mal, o melhor meio
de alcançá-lo será praticarmos a virtude contrária ao defeito que procuramos
desarreigar: cultivar a humildade para vencer a ânsia de ser o centro de tudo
ou de receber contínuos elogios e louvores; procurar viver habitualmente na
presença de Deus para evitar as palavras precipitadas, as faltas de caridade...
Deste modo a luta interior torna-se mais eficaz e atractiva. “O movimento da
alma para o bem é mais forte do que aquele que se propõe afastá-la do mal”9.
A luta num exame particular concreto, dia após dia, é o melhor remédio
contra a tibieza e o aburguesamento. Que grande coisa seria se o nosso Anjo
da Guarda pudesse testemunhar no fim da nossa vida que lutamos todos os
dias, ainda que nem tudo tenham sido vitórias!
Pedimos a Nossa Senhora, Virgo fidelis, que nos ajude a ser fiéis, a lutar
todos os dias por tirar os obstáculos, bem concretos, que nos separam do seu
Filho.
(1) Jo 6, 66; (2) Jo 6, 69; (3) João Paulo II, Discurso, 30-I-1979; (4) São Josemaría Escrivá,
Caminho, n. 238; (5) ib., n. 241; (6) J. Tissot, A vida interior; (7) São João Clímaco, Escada
do paraíso, 15; (8) Cassiano, Colações, 5, 27; (9) São Tomás, Suma Teológica, 1-2, q. 29, a.
3; (10) cfr. Mc 10, 48; (11) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 77.