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“Os blogues continuam a ser criados a uma velocidade de cruzeiro numa verdadeira
revolução mundial de novas formas de “fala” dos indivíduos e dos grupos, o que é um
dos reveladores da profunda interligação entre “estados” sociais preexistentes e
tecnologias que os exprimem e potenciam. O último balanço do “estado da blogosfera”
refere a existência de cerca de 35 milhões de blogues seguidos pela Technorati, uma
empresa de referência no estudo dos blogues, duplicando o seu número cada seis meses.
Nos últimos três anos, o tamanho da blogosfera cresceu 60 vezes, e o número de
blogues criados por dia aproxima-se de 75 mil, o que significa que desde que o leitor
começou a ler este artigo quase vinte novos blogues (um por segundo) foram criados em
todo o mundo.
Claro que sabemos que “criar” e “manter” não é a mesma coisa, e que muitos dos
blogues nascentes não passam do acto da criação, mas mesmo assim só um cego (e
ainda há muitos cegos que não querem ver) é que não percebe que se está perante um
fenómeno que marcará a nossa época, de um antes e de um depois. Não se trata aqui de
avaliar os efeitos da blogosfera nas áreas que lhe são adjacentes, que todas estão a
mudar por processos que tanto empurram os blogues, como as mudanças nos hábitos de
leitura, de procura, de saber, de “ver”, que estão associados à conjugação de novas
tecnologias com mutações sociais nas sociedades industriais e democráticas a que
chamamos “ocidentais”. O movimento que gera o surto de blogues é muito mais
profundo do que os próprios blogues, tornando-os ao mesmo tempo causa e efeito,
agente de mudanças e revelador de mudanças. Duas coisas não podem porém ser
esquecidas, e muitas vezes são-no, na análise da blogosfera: a primeira é que os blogues
suportam-se numa forma tecnológica que valoriza determinados aspectos da “fala” que
eles contêm e minimiza outros; a segunda é que a “fala” que se encontra nos blogues
não é nova, tem precedentes e história. São estes dois aspectos de que falarei,
valorizando o aspecto “literário” e criativo dos blogues, em detrimento de outras
funções que os blogues também têm em particular no sistema da comunicação social.
Esta relação pesada com o presente fez os blogues superar as páginas pessoais e, mesmo
instrumentos fáceis e grátis que surgiram no último ano para criação de páginas pessoais
(como o Google Page Creator), estão longe de competir com o interesse pelos blogues.
No entanto, a forma blogue é tão perecível como todas as outras e evoluirá com rapidez
para outras formas de comunicação, que por sua vez gerarão novos efeitos da “fala”.
A análise deste processo ganha em ser compreendida também pelo passado da “fala”
que perpassa nos blogues e dos seus precedentes. No próximo artigo analisarei os
diários como protoblogues, escolhendo exemplos em francês, os diários-cadernos de
Valery, Camus, Paul Morand e Cioran e as semelhanças e diferenças de uma escrita
presa à sua circunstância vivida no tempo.”
realidade………..virtualidade
biologização……..literacia
tecnologia………..blogue