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© PENSAMENTO ANTROPOLOGICO DE LOUIS LAVELLE Lavelle, é, praticamente hoje, um desconhecido no mundo do pensamento. No dominio dos interesses filosdficos com temporaneos é incontestdvel 0 siléncio que se tem feito sobre a sua personalidade, se bem que, para certos autores, néo seja estranha ao surto da metafisica em Franca ou ao das modernas correntes axiolégicas a contribuigéo da temética Iaveliana, Estard por estudar ainda, em profundidade, o seu con- curso decisive no aparecimento da corrente personalista & o alcance siltimo das suas formulacées a luz de todo 0 qua- drante histérico-filosdfico dos anos 30, em Franca. No entanto, apesar de todo este ar omisso, sio irrecusdveis 0 interesse 24 pertinéncia da sua obra. Através de todos os seus temas (como também através das interrogagées criticas que nos possam merecer) deparamos com as perspectivas formula: doras duna antropologia Se, por um lado, a sua obra repde a temética duma antropologia mma linha ontolégica, por um outro, garante, a todo 0 momento, 0 estatuto pacifico do controverso pro- blema da metafisica do ser e da metafisica da pessoa. Nesta sintese muito répida das grandes linhas do que julgamos constituir 0 pensamento antropoldgico de Lavelle fe das reflexdes criticas que elas nos suscitam), mais ndo nos move que a intengdo de resituarmos hoje, dum modo critic, quem bert merece, em outros estudos, uma outra espécie de aposia contra 0 siléncio. 220 REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS —FILOSOFIA I 1—0 reduto minimo de toda a investigagio laveliana 6 a experiéncia primordial ou a descoberta da presenca do ser, Esta experiéncia redux-se, na sua forma mais primitiva, a uma experiéncia total, que se pode traduzir por uma pro- osigaio como esta: existe qualquer coisa» ou, por outras: formulas; +o ser revela-se-nos (...) pelo sentimento mais imediato que $0 de uma presenga» ou o do eobjecto duma imtuigao> » Esta experiéncia, anterior a toda a distineZo, precede, portanto, a experiéneia do sujeito e do objecto (que tantos autores consideram como a mais primitiva), como precede a distingo de concreto e do abstrato e a da esséncia e da existéncia, Sendo assim, a presenga do ser deve ser objecto duma intuigio, pois néo se poderia detectar qualquer outro prin- cipio mais clevado que constituisse sua origem. Todas as dedugdes nele se fundamentam, se realizam e nele encontram a devida verificagao? ‘Tudo se resume num contacto intuitive e vital no ¢ com © ser. Mas o «facto primitivos é uma experiéncia din mica e progressiva. A «presencas, objecto da intuicio, con- diciona o caminho da anilise que, por sua ver, nos revela 0s seus momentos fundamentais que, no podendo ser disso- ciados, possibilitam, no entanto, a respectiva distingdo* A experitncia inicial € © miicleo minimamente funda- mentador duma antropologia: +E da presenga do ser que partimos; mas ela no € sendo ainda uma experiéncia obscura que devemos analisar. Esta andlise comporta uma série de operagées ne decurso das quais a nossa pessoa se vai constituir ¢ quando ele (o ser) tiver revelado @ sua verda- + De Fninié Spiral, pigs. 10471; Le Présenee Totale pie. 31 La Prince Tora. pas 3132 240 ser vevsluse primeitamente ao en que, detcobindo-se a 3 prprio, deve necstramene inscreverse no sts, La Présnce Total. née 4 0 PENSAMENTO DE LOUIS LAVELLE 2 deiva esséncia, ela unit-se-a acto inteligivel, onde a exper explicagao e plenitudes ser, mas, desta vez, por um mncia inicial encontrara a sua —Com a experiéncia da plenitude ontologica surge a ogi do eu come pura possibilidade. Por isso diz Lavelle: «Nao hé experiéncia mais emocionante do que a que revela a presenga do eu no sera’ Sendo a filosofia +a ciéncia da constigncias, 0 seu método terdi de ser reflexivo (nesta perspectiva, a1 fase do mundo global da experiéncia pura—na sua posstvel dis- tingio—é formuleda como pré-metafisica ou pré-filoséfica) porque a consciéncia é a experigncia do eu e do ser. E, como © sujeito se nos revela complexo, a reflexdo resulta ou pro- vyoca sempre a intzrdependéncia, que se estabelece em cada tum de nés, entre 0 sujeito psicolégico, 0 sujeito transcen- dental e 0 sujeito absoluto (ou, por outras palavras, entre © individuo, 0 homem e © absoluto)‘. Da impessoalidade da intuiedo primeira 0 eu transita & consciéncia do seu ser, que the revela (eaguanto consciéncia de) a capacidade de injclativa e de inserigao pessoal no sujeito absoluto, através da. participasio. © sujeito &, neste seu inicio, «consciéncia de sin ou, por outras palavras, & a consciéncia do cireuito dialéctico entre 0 individuo ¢ 6 absoluto ou a consciéncia das condigbes gerais da subjectividade ou das possibilidades do sujeito transcendental © cu, de anénimo © impessoal (na fase intuitiva), descobrese sujeito, origem e ponto de partida dama antro pologia dinimica. 3—A esta luz, a experiéncia do sujeito consiste essen: cialmente no desdobramento da actividade consciente. nos seus respectivos niveis; superacdo da dimensio psicolégica + ta Présense Tota > De Feve, née. 288 © Manuel de Mithodologe Disectiqu, 14ox. 35-64 Cte. Maurice Nédoneele, Toisapprocheretune pilosophic de Fest in sFilotofian, Tarim, 1965, m2 16, ps 724 pig 3. 222 REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS — FILOSOFIA € abertura a perspectiva do absohito', onde se radica a verdadeira dimensio ontol6gica. © eu, na dimensio da consciéncia, é acto e é esta Identificagio do seracto a chave de toda a ontologia lave liana. Mas no acto da consciéncia (que me revela o eu na constituigo ontol6gica) 0 eu assume um englobante jlimi- tado como uma existéncia recebida, (A limizagéo 6, pois, 0 cardcter virtmal do eu que, sendo acto, ficaria reduzide & condigio de pura possibili dade) *. Mas, pela mediacdo participante, descobrimos que a sctividade fundamentadora da existéncia é uma actividade pura, isto & uma Pessoa®. Na antropologia laveliana, a pessoa s6 aparece quando o «individuo ¢ ultrapassador pelo acto, isto é na medida em que cle se liga ao universal, toma vivo e consciente em si um prinefpio que o ultrapassa A raiz da sua unidade psiquica, das virtualidades e meca- nismos do en & um sujeito absoluto—unidade ontolégica fou «pessoa-sintese» de todas as condigdes da sua natureza — cujo actualismo se exaure nas limitagdes dum pensamento © duma liberdade. Da conscigncia transcendental chegamos & imanéncia ou & pessvalidade do Absoluto. 4—0 tema central da convergéncia dialéctica de Lavelle 6 0 da participacio. A presenca do todo, condigio da possi bilidade do eu, é uma presenga de que participo e de que des cubro a presenca totalmente pura (presenca do ser no eu), antes de descobrir a presenea subjectiva (presenga do ew no ser)" + Como 4 uma ‘eciprocidade enite a inimidads do ser ¢ do eu , como pela consitacls de ai se etabnece vinelagGo da eubjecivcade paicokigien a0 abiluto (operandose, assim, 0 1 momento de slnsericzo no ser) terse-p que desiacar, metodoloncamente, oF mbiliplos «romenior 4 ltinerdrio da ioterorizagto.ontlégia De Fate, pig: 308 3 Les Prisaces de Mois phe 165, Compasar 9 stntio do asta Javeiano, aa formagio de pessoa, com 0 petioniliine de Mounier (Mounier, 0 Personalismo, radugto de Toto Béranl ds Cost, Lisboa, 1960, pigs 100-102, 3" De Lf, pig. 12 © PENSAMENTO DE LOUIS LAVELLE 23 Na participagio assistimos a todo um processo de cons- tituigdo antropoldsica ® através do preenchimento do «inter valor, que se opera mediante um fluso ontoldgicamente personalista. Assim pode-se compreender que a interioridade que é em suma, a marca da pessoa (pois que o ser das coisas © sem dimensio interior), € recebida para ser assumida num acto auténono e livre, A descoberta das poténcias, do eu traduz.se, pois, na dialéctica da participagio (a par ticipacio significa que o homem deixa de ser objecto— processo que se snicion ao nivel da reflexto, quando ele ‘mesmo se questiora — procurando preencher o intervalo que © separa do Acto Puro) ‘A ccaracteristica da consciéncia ¢, de facto, oscilar entre os dois extremos da angistia © da participagio, como os dois pélos opostcs de uma via dindmica a que se pode ter acesso”. Por isso mesmo a subjectividade, a intersubjec tividade e a transubjectividade (nivel ou horizonte da parti cipacio) sio os marcos fundamentais da antropologia lave- liana. Mas em que medida a participagio poder ser inter pretada como uma via antropolégica (e de uma antropo Jogia personalista)? Que niveis ou perspectivas se nos oferecem? @) A participagio do eu no Acto (€ portanto a iden- tificagso com a pessoa) realiza-se gracas as mediagbes, que so as mesmas para todos, mas que se operam no dominio de cada eu, condigéo indispensével para que constituam a dhléctica pessoal de mediagio. © inlervalo 38 deixa de existir quando ¢ aceite por um dominio auténomo (e, nesse sentido, a participacio lum «consentimento no sere)". £0 que Lavelle chama, em linguagem axiolégica, a «vocacio», isto é, a passagem do Individwo ao Absoluio, jé que pela reflexio me constitu como econsciéncis actual» das possibitidades © das condi "5 idem, page 20. 293 2 Tbidem. pigs 249.250. De Lacie Hs, 35, 204 REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS — FILOSOFIA goes transcendentais (que ¢ como verificémos, © primeiro momento disléctico da descoberta do eu e das. perspectivas que se The cbrem). Por isso mesmo, a participacao funda menta a minha autonomia em ver de a destruir™, b) A participagdo, em ver de relacionar 9 eu com um principio abstracto ¢ universal, uneo ao Ser Concreto & Vivo™. A sua existéncia pertencethe como sua e 0 seu acto $6 € sua expressio, quando significa a sua obra e a sua aco Bio nos remete para o modelo platé- nico das ideas ou para uma realizacao de tipo conceptual Se € a rejeicio duma «filosofia anénima» ¢ duma divinizagio humanista, de tipo racional, ¢, sobretudo, a instauragao dum_ ser pessoal através duma consciéncia livre e valorizadora. ¢) A participagio é a acentuagao plena de que 0 homem € um ser aberto ao futuro e ao valor (que ele encontra na fronteira do préprio limite) e que se Ihe con- figura com as dimensdes do inatingivel Mas, perque a busca se fez até as fronteiras do tempo, © homem jamais sentir’ a decepeao do inidentificavel, d) Todos estes diversos niveis se realizam através das mediagées da liberdade e do tempo. 5A definigao da consciéncia faz apelo A liberdade ea sua relagio € 130 intima que a conscigncia exige a liberdade como a liberdade implica a consciéncia. ‘A. vocaedo da consciéncia & ser guia da liberdade na busca do ser, ainda que néo possa existir se a liberdade a ndo sustém e se Ihe no oferece os elementos da sua cria- tividade, Pela anilise criadora apreendemos as articulagées dia écticas no interior do sujelto, compreendendo melhor o sentido do ecto livre. 7 Ihidon, pgs 173185 4A patcpasso aio 6 » pertenga estiicn & um todo, de que s© faz pants, mss € a coopergio.dinimien com wn ideal que nfo cette de_pre movers, De Eder. poe. 17% 0 PENSAMENTO DE LOUIS LAVELLE 225 © possivel, que somos nés (condi¢io da liberdade), situase no sujeito transcendental, cuja funcio ¢ «olhar» quer Para sujeito psicologico quer para o sujeito absoluto”, © eolhare para o sujeito absoluto traduz 0 acto de parti- cipacéo, enquanto que, na perspectiva do sujeito psicols: ico, representa o apelo & auto-determinacio do ser parti cular. O sujeito transcendental é 0 centro da liberdade ¢ € sempre na relagio com 0 sujeito psicoldgico, que a liber dade participada se cria e aprofunda. A distincio inicial entre o eu e a natureza (a natureza € tudo aquilo que nos surge, sem pertencer & interioridade do acto ou sem ser gerado por ele) cria um plano de exte- rioridade que a participacéo deve eliminar pela conversio da natureza no ser do eu. A Iiberdade torna-se activa pela posse da natureza porque, se na participacio a natureza € 0 elemento recebido, no consentimento, converte-se em liberdade ‘A consciéncia é, propriamente, este acto livre que nio desconhece o pasado nem a recusa mas se esforca por transformélo num significado sempre novo. Numa pers pectiva antropoldgica, a liberdade ¢ a capacidade que salva © homem do objecto e do seu pasado, porque the permite dispor do tempo". A luz da antropologia laveliana, ser livre e dispor do tempo é uma e a mesma realidade. Em certo sentido © que verdadeiramente é recebido a(..) € a liberdede, isto & a dignidade de ser causa». © processo da liberdade, nesta constituic&o antropolé- gica, esquematizarse-é, na nossa interpretac30, do seguinte modo: verificamos que o «eu» (que € um poder de afir- magio, um projecto de possibilidade © uma capacidade de autoformacio) se radica no seracto. Mas, como pela reflexdo se experimenta separado do ser (descoberta simultanea da finitude ¢ da infinitude, mediante © horizonte transcen- dental do sujeite), procura constituir na érbita da sua 1 Manuel de Méthodolonle Diaectique pés. 70 Da Temps wf de LBterié, ple. © De LActe, nig 183, 226 REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS — FILOSOFIA ipsidade 0 que descobriu na impessoalidade: da_intuicio (visto que ai se descobriu na nebulosidade dum horizonte ontolégico). Poese o problema: como preencher o «inter- valo» desta possibilidade? Nesta linha, a liberdade 6, para Lavelle, um caminho de mediacio porque, se ¢ uma opeao, 6, fundamentalmente, um assentimento: se 0 «eu» dé um «sims que, no fundo, envole um risco, se cle experimenta a Imiciativa, determina-se, pois, em fungio da pessoa, por- que definir « liberdade como um poder de determinacao ¢, em Gltima endlise, defini-la como acto de_participacia™ Fazerse participante, pela opctio do consentimento, & puri= ficar a liberdade na actuagao pura © seu» solicitado a ultrapassar tudo o que é agui- sigio @ natureza e a optar livvemente pela liberdade que 16 © constitul, porque «descobrir em nés tal poder é ser libertado> *, Nesta aventura da liberdade, neste consentimento a0 Absoluto © neste itinerdrio que Ontologicamente me cons: titui, eu scu uma pessoa que se busca, de preferéncia 8 uma pessoa verdadeiras E sintomtica a convergéncia desta perspectiva com a de outras doutrinas antropolégicas. Se para Jean Lacroix #a pessoa & menos um dado que uma conquistas®, se para Mounier a pessoa sé uma actividade de auto-criagao, de comunicagio e de adesio, que em acto, como movimento de personalisagio (destacado no texto), alcangamos © conhe comos»*, para Kierkegaard «o eu (...) € uma mi para Berdiaeif, «a pessoa no existe senao pela sua activi vidade criadora do futuro», © De Eee, pig. 194 Les Pulsances dic Moh, pi. 158 De Lee, pie. 159 dean Lacrai, Le Personnatione, ia Tables temportines, Pati, 1957, pig. Mount, op cin pig. 17 % Giudas por Jese Male Orevios, Les Grads Courant de le pesée Contemporuine— Esistenislisme — Marsisme—Pertontalisme ‘Chostien, Pas 1950, ple. 2 I Philosophie Con 0 PENSAMENTO DE LOUIS LAVELLE 27 Em conclusio: se a «oncitneia de sis € um acio (ou se 0 acto & 2 esséncia da consciéncia), a liberdade é o.seu exercicio, jg que toda a consciéncia & livre e toda a liberdade & consciente A liberdade entende-se, pois, a um primeiro nivel, como opcio—o sujeito é um ser optativo: on se restringe a0 nivel fenoménico (o seu modo de ser identificase com 0 modo de ser das coisas ¢ entio 0 eu no opta pela pessoa tas pelo objecto) ou reassume a auténtica dimensio subjec- tiva (sujeito como pessoa) a0 aceitar e realizar como sua 2 fonte ontoldgica da existéncia; a um segundo nivel, como atitude ou consentmenio: pelas possibilidades do acto refle Xivo, 0 eu querse acto, na medida em que os actos mais livres so 0s que nio tém opeto; e a um terceiro nivel, como risco: ma medida em que se volwe de participado a parti cipante, © eu determina-se em funcio duma plenitude que quebra as fronteiras do seu ser € 0 problema do homem ¢, enlfo, manter-se numa busca constante do inacessivel e do mistério. Dai, ora a inseguranes, ora a apeténcia da tensio que 0 wltrapassa 6-—A perspectiva temporal é a relacio entre @ possi- bilidade a incarnagéo: € © meio que condiciona a actuali vagio da liberdads ¢ que mede o poder de iniciativa* A experiéncia do tempo permitenos sublinhar este facto importante: toda a consciéncia do tempo ¢ essencialmente a descoberta da sua irreversibilidade A isveversibilidade temporal é como que a contre-prova da irreversibilidade do acto livre, a condicio do seu valor e da sua inseredo na existéncia. O acto livre pode, a todo © momento, retowar o passado © darthe um sentido novo mas nio poderé jamais evitar ou impedir, pelo seu dina mismo de opelo, que ele tenha existido. No entanto, se no 0 podemos recuperar, neste sentido pleno, podemos repensilo © dominélo pelo espirito. La Conscisner de Soi. pi. 2 228 REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS — FILOSOFIA Assim o presente — dimensfo tnica do tempo—6, simul- téneamente, o lugar do acto e 0 lugar do tempo. ‘A cringao temporal realizase, portante, no momenta em aque a conseiencia desdobra o tempo num antes e num depois: ‘0 passado ¢ 0 dominio do conhecimento (j4 que o presente € 0 dominio da existéncia), pois que nada pade ser conhe- cido sendo quando esté realizado, a sua integraglo no presente representa um fendmeno de espiritualizagio; o Futuro €0 dominio da vontade e 0 lugar onde se exerce a liber dade. Se a inaginasio povon o futuro, a vontade forgo a aparecer: o ‘uturo desemboca, entio, no presente (este, em vex de constituir um avango pelo futuro dentro, é, de pre- Terencia, o dominio onde o Tuturo se situa a cada momento). Por isso, para Lavelle, © presente nfo € uma fase que opunhames 20 Futuro ou a0 pastado mas € como que 0 ponto de fungao de um e outro. O que varia 6 o modo de ser do tempo ¢ eis porque pode ser concebido, nio como luma relagio entre a presenca e a auséacia (porque se se fala de auséncia a propdsito do futuro ¢ do passado, nio se trata dumn auséncia material e relativa, o que 180 im pede, pois, a sua presenga espiritual), mas como a relagéo tntte os medos diferentes de presenca ou de existéncia, ou, por ouras palavras, como a passagem continua duma forma de existencia a outras" © presinte é este winstantes, de algum modo intem- poral, e que é a consciéncia da presenga que’ nos, damos, ‘experiencia temporal €, fundamentalmente, na. subti leza da Tingiagem laveliana, a experiéneia do instante» aque, como experiéncia toda’ intima, & a espressSo. partic pante. da eternidade ‘Sem © tempo, o eu nfo seria um ser particular mas identificar-seia com o Absoluto; sem a eternidade, deixando de participar do ser, o eu deixaria de existir. Embora Lavelle esquematize a configurag’o antropo- logica através de trés momentos: futuro, presente © passado * De LBwe, pigs 6162 2 Du Tempe ef de PEtemité, i. 418 © PENSAMENTO DE LOUIS LAVELLE 29 * Gisto & possivel, acto, actualizado), privilegiando o instante, como perspectiva transcendental, parece-nos que deveremos acentuar 0 seguince: Lavelle distingue duas formas ou dois modos de futuro: © que se impoe a nés, apesar de nés (€a lei inadiavel do tempo) e o que depende de nés (mediante © compromisso ds liberdade) ®. Ora esta segunda forma — possibilidade e abertura do eu—(e que € a que Lavelle sublinha dum medo especial, como ¢ ébvio), & realizada mum. presente. Para Lavelle 0 horizonte temporal duma antropologia € um tempo de in:imidade (co presente puro» onde se expe- rimenta participante do Acto sem tempo, isto é, eterno) A perspectiva desss intimidade surgedhe, num primeiro nivel, como algo que esté para além do presente: possibilidade que se distancia e dominio de configuracio ontol6gica ‘Ora como pessoa que se buscas® 0 homem descobre, a um segundo nivel, através dum poder que o ultrapassa, que o futuro dele dependente, éthe ja «presente». E através deste futuro, agora radicado no presente, que o eu assume © horizonte da pessoa no tempo. O presente é um momento privilegiado porque o futuro, que vem ao encontro do cu, jf € captado por ele no presente, A eternidade, portanto, (ou Acto Puro), & 0 estatuto temporal do homem que, como ser aberto ao futuro, descobre, pela sua opcdo, a eternidade (que para Lavelle é a Pessoa configuradora) como presenga, Por outras palavras: a perspectiva mais antropold- ica € a escatologia Por isso a questi mais decisiva duma antropologia metafisica consiste em saber se 0 futuro para que 0 homem tende serd apenas categorial, isto é, constitufdo pela corre- lagio de elementos particulares © variados, limitados no espaco ¢ no tempe, eventualmenie planedveis ¢ manipulaveis, © possivelmente sempre cada vex mais complexos, perma: necendo 0 futuro’ sempre como uma realidade, a0 mesmo tempo, finita e inetingivel ou se vem a0 encontro do homem 8 ba Consciene ale Soi pgs 238-240, "De Dace, rie 18) 230 REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS —FILOSOFIA uum futuro insuperivel, infinito, em que seria finalmente possivel a identficagio do futuro com a actualidade". Lavelle declarase pela segunda possibilidade: «0 futuro absolutor € 0 verdadeiro © genuino futuro do Homem; accitélo ¢ a tarefa mais importante da sua existéncia. Esse futuro absoluto é fundamentalmente, para Lavelle, a essen cia do bomem, isto é a sua pessoa Em conclusfo: © tempo é a conscitnela presente dum passado que, se no é salvo como duragio, é reassumido como projecio ¢ dum futuro, dominio da possibitidade, onde 6 captada a presenca subtil do. eterno. ‘Mas, 2 luz do instante, 0 futuro é a dimensio mais fecunda do homem como ser temporal: se, por um lado, © instante ¢ 0 lugar onde © eu se actualiza na intimidade com a sua esséncia (que € a Pesson) e onde supera as limi: tagées do tempo, por outro lado, & sempre a presenga do que se nos afigura como dimensio temporal e que, por isso, situamos sempre mum depois. Na auséncia do futuro, 0 homem coma ser de tempo, seria um absurdo. Ir 1 —Lavelle tem um cuidado especial em salvaguardar fa tonalidade ontolégica do seu pensamento ¢ filo, a cada momento, a luz do «facto primitives, A experiéneia funda- mental, que 6 a do seu» no ser e a do ser no «cu», & conforme elz aduz, o hotizonte que ultrapassa a simples dimensio grosiolégica, pois que © pensamento se descobre inserido no ser. Na refexio—nivel onde se instaura a subjectividade —Lavelle aventua a separagio do ser, condigao essencial da iniciativa do «eus, pela experitneia do acto. ot Karl Ratner, 0 Crisianiamo com retigizo do fate absolar, in Paulus Gesslschat, Criviontomo « Marsa xo mundo. de hoje Lisboa, 1950, pgs. 200201, 0 PENSAMENTO DE LOUIS LAVELLE a Mas este plano parece-nos perfeitamente ambiguo ou insuficientemente claro, por caréncia de aprofundamento: se, por um lado, se afirma a desvinculacéo do ser, por outro, traduzse continuamente a sua identidade com a totalidade ontolégica. Na nossa interpretagio, Lavelle como que faz uma sredugdo» da experiéncia primeira para, em perspectiva me- todologica, tentar éescobrir a intencionalidade do acto cons- ciente. E esta perspectiva metodolégica que gostarfamos de introduzir como cerrectivo da sua anélise reflexiva, Porque se a experiéncia primitiva é a do ser no seus € a do «cus no ser, como explicar que, independentemente duma con- jungo ontolégica, eu possa separarme (pela consciéncia {do acto) do participante (onde sou também acto)? ‘A desvinculagéo ontolégica jamais se poderd dar (o que Lavelle, como € étvio, no nega), ou, por outras palavras, © participado jamais se poder encontrar como tal (isto é, como independente e desvinculado), a nao ser numa pers: pectiva metodolégiza que, no caso da dialéctica laveliana, € insuficientemente comprovativa. 2—Na reflexto do sujeito surge-nos um impasse quase éntico: se 0 sujeito € triplice (embora no complexo onto- logicamente), a intuigao di-nos uma verdade impessoal, isto & uma participagao nao personalizada, Lavelle, quando se refere & nebulosidade do facto pri meiro, quer, pois, sigerir que © que é impossivel nur ponto de partida, terse de captar pela posigao reflexiva do «cus, que assim se torm centro de referéncia, No entanto, o repensamento do plano da subjectividade, em Lavelle, é sintomaticamente tardio (surgenos no «Manuel dle Méthodologie Dialeetiques) ® Seo seus, pela redugio do acto puro (se assim licito expressarmonos), se experimenta como consciéncia Monet de Méthadolosie Diseetiqu, Pars, 1962 282 REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS — FILOSOFTA sintencional» do ser absolute, parecenos demasiado fragil © omissa a explicaco feita das fungSes da. dimensio trans cendental. No fundo 0 sujeito ¢ a descoberta, pela cons cigneia des. das possibilidades racionais e, nese aspecto, ultrapassa o dominio do fenoménico ou do puramente psico: logico. Mas como se faz a articulagio do sujeito psicolégico com 0 absoluto? Com certeza pelas mediagdes dialécticas. Mas, se ontologicamente 0 «eu» foi referenciado a0 absoluto, como explicer 2 funedo dum plano gnosiolégico que, em si integrado e reabsorvido por um dominio, de que’ se nao explica a extroversio? Por oulro lado, e em contraste com as possibilidades franscendeniais, parece-nos aver uma desvalorizacio da razio, quando se afirma que a inteligéncia nfo capta os objectos como eles sio, motive porque se privilegiam outras formas de abordagem, como por exemplo, as de tipo afectivo ™ Se Lavelle afirma que as ideias nfo precedem directa ¢ imediatamente 0 objecto (captado eminentemente pelo acto cocriador), podese concluir que tudo se resume a conhe cermo-nos tnicamente a nés e que, mio tendo contacto com 6 ser senio em nds, tudo se reduz & consciéneia do «eu. Supervalorizando a experiéncia primitiva (donde se parte pela intuicio e onde se chega pela constituicéo da pessoa), a auja luz os objectos se reduzem dimenséo do sespectéculos ou da pura aparéneia, Lavelle minimiza a andlise dos préprios fendmenos (o que nos levaria ainda a levantar © problema do absoluio poder assumir a confi- guracio dum objecto relativamente ao weu» que se descobre sujeito), para se restringir a0 ser do eeu» e do absolato de tal modo que, na ordem finita, 96 existe © ser do «eu E certo que Lavelle sublinha que 0 modo de ser do «eur é, ontoldgicamente, diferenciado do modo de ser do objecto. B pelo seu modo de ser que ele se consticui em Les Fuisanees de Moi pigs 83, 128 e 129; De L’dime Humaine pigs. 129, 408: Le Ato! et te Southamce, pi, 157 0 PENSAMENTO DE LOUIS LAVELLE 23 ser pessoal. Embora Lavelle tena cuidade em mostrar os diferentes graus de participagao, revelando, por isso, a par- ticipacdo da natureza ou do objecto, preocupase, no entanto, no decorrer da sta obra, em demonstrar, quase exclusiva. mente, que ndo ha participagdo seniio do «eu» no ser abso- Into (0 que se, por um lado, privilegia a dimensio antro- polégica, por outro, levanta interrogagées pertinentes quanto aos petigos dum idealismo). Como os objectos se reduzem a simples meios da participagio, dai resulta que todos os problemas sio resolvides em fungo do «eu» A relagdo sujeito — objecto, na ontologia laveliana, parecenos parcelar e incompleta. Embora defenda ¢ accite © estatuto objectivo das coisas, independentes e diferenciadas do plano do sujeito, a relacionagio sujeito-objecto, pela defi- cigncia apontada, cria o perigo da dissolugio do ser do objecto, quando o que Lavelle pretende & evidenciar a supereminéncia ontolégico-axiolégica duma antropologia. Por outro lado, © problema essencial do conhecimento pode correr © risto de ficar comprometido, pela interpre tagio da imanéncia do objecto, jd que, na teoria laveliana, © homem, como Deus, é criador do sew objecto. A hetero- nomia do sujcito-bjecto, se apreciada, preferentemente, a luz da consciéncia do acto, possibilita a interpretacio, pelo modo como é feita, dum objecto mais imanente que trans- cendente, ainda que Lavelle tente sempre salvar o dominio da experigneia externa, Na reflexio, 0 homem apreende e experimenta essa dualidade. Verifieémos que 0 sujeito & cognosefvel enquanto sujeito de conhecimento (no como objectivado, mas enquanto possibilidade transcendental ou possibilidade geral do conhe- cimento) No entanlo, isto sugere-nos a seguinte reflexio: se 0 homem se sente limitado, © conhecimento de si nao se realiza neste dominio (Isto é, como coautor do objecto), 8 que o conhecimento se realiza ¢ manifesta numa linba de actividade, mas a extroversio do «cogito» pela liberdade nao anula as retiéncias e as interrogagdes que levantamos. a propésito da perspectiva do objecto (ja que a fundamental 234 REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS —FILOSOFIA heteronomia do sujelto-objecto ¢ a heteronomia do sujeito transcendental (objecto) e do absoluto (sujeito). Todos estes impasses s6 vém provar que o projecto antropolégico de Lavelle se the apresentou de molde 130 fundamental, que ele relegou, para um segundo plano (que pretende neger), 0 dominio das coisas ou dos edados» 3A existéncia coincide com o acto da liberdade que, por seu lado, emerge da tomada de conscigncia da part cipagiio. A subjectividade, como vimos, tem um relevo invut gar no seu pensamento Mas se, a essa luz, Lavelle sublinha a suljectividade do eu, afirme também que a objectividade depende da rea lizagio dos possiveis mediante a escolha livre, o que é confirmado ela solidariedade das outras Hiberdades parti cipadas. Ora parecenos haver um hiato entre a experiencia subjectiva © a realidade objectiva. A universalidade do ser € a razio da interdependéncia da consciéncia do cu © da realidade do dado ontoldgico. Mas se hi identidade entre © Ser-Acto Puro eo SerActo Participado, como é que a liberdade pariicipada se distingue da liberdade pura? Lavelle diz que & pelo consentimento livre. Mas, se a liberdade auténtica & a que se ultima no proprio fluxo da participacio {isto ¢, no seu consentimento), como & que se pode alirmar que ela seja uma capacidade ou de escolha ott de atitude, se em n6s nio reside inicialmente uma liberdade verdadeira? Por outras palavras: s6 somos livres auténticamente nna participagio; entio como se explica a adesio optativa ‘ou consentida, se nao somos verdadeiramente livres? 4—A sun ambiguidade fundamental reside simples: mente nisto: ndo haveré 0 perigo de se interpretar © acto participante como aniquilacgo pura e simples do individuo, fem proveito, pois, duma forma mais geral? Nao poderemos concluir por um universo panteista, Impessoal, andnimo ¢ vago, ou, se quisermos acentuar certa © PENSAMENTO DE LOUIS LAVELLE 235 tonalidade da unizovidade, pela ilusio da autonomia da cons- cigncia da si? © Acto Puro é uma Pessoa, respeitadora da liberdade; suscila pessoas que se criam mas, ao mesmo tempo, «cxige que nada haja fora dele (...)»% A patticipagio fundamenta a autonomia do «cu» em vez de a abolir, rorque & sempre uma participagio de autor nomia perieita’e © todo nio é seno liberdade, £ certo que diz a Sciacca: «Agradevovos os receios que vos sugeriu a selagio que estabeleti entre Deus ¢ a liberdade e o temor de pantefsmo ou de spinozismo que ela pode fazer nascer no espirito de alguns leitores. Gu.) Mas e1 creio que € precisamente nela, que se encontra 0 remédo contra todo o panteismo possivel, Porque se Deus & um ser que se basta ou que di 0 ser a si mesmo, a erlagéo, para cle, consiste sempre na comunicagio que faz do seu ser (..), mas este dom (...) seria ilusério, se nndo fosse a possbilidade, para cada ser criado, de se dar © ser a sii mesmo, por um acto que © torna causa de si, isto é por um acto livres Dois anos antes da sua morte, escrevia também: «Onde hha uma Iiberdade de que fazemos uso, ¢ um uso ontold- gico, como & possivel o pantelsmos?% O perigo da participagio € o de formular muitas vezes © Acto (que ¢ Deus) como um Absoluto que viria, no fundo, negar 0. homem. Todo 0 esforgo antropoldgico de Lavelle desembocaria, entio, num monismo degradante. Pela sua dimensio tem. poral, 0 homem cria, imagina e reinventa a historia, fazse e realizase, ¢ 08 critérios do Absoluto ndo o fecham num angelismo intemporal nem num materialismo corrupto. Prtsnce Tole, pe. 2. % Giornale di Metafisica, n° 4, 1952, piv 499 (earta de 1946, bide, pgs 498-496 (ears de 198), 236 REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS —FILOSOFIA Para além da propria liberdade do acto—e ¢ este corrective que introduzimos na éptica laveliana—o homem, que faz a historia, na fidelidade @ «consciencia de si» ¢ 08 critérios da liberdade, constréi a dignidade da pessoa, ainda que se situe exterior aos critérios do absoluto lave: iano. A histéria é assim, a «implicitagao» do Absoluto da pessoa. E muito nesta encruzilhada que os prineipios de Mounier iluminam os de Lavelle, Nesse aspecto, a vocagio dum humanismo aberto © valorizador, sobretudo como ¢ equacionado nos dias de hoje, fica comprometida com um tipo de ssectarismo», que se confina & posiglo exclusivista da fidelidade ao Mistétio, arvisca-se a regar a recta liberdade ¢ autonomia do homem. 5—Se » homem é um ser histérico e uma perspectiva de futuro, a sua tnica dimensio é a do cinstanter do presente, como captacio subtil de algo que ¢ intemporal, 6 que, se liberta 0 homem da limitacao do tempo ¢ the dé j& a perspectiva do absolute, o instaura também numa dimensao escatologica. Esta formulacao laveliana ¢ a ex: pressio do homem como ser aberto a valores, perspecti- vados pela imaginagio ou pela escolha livre dos possiveis, ea sua projeccio na actualidade € a sua inseredo num pre~ sente, onde se inicia como futuro absoluto. Relativamente ao passado, afirma Lavelle que ele nao pode ser vivide de novo (como tempo) mas sé conhecido, para dizer, em seguida, que pode ser reintegrado por um acto de «espiritualizagios. Ora esta eespiritualizacao» nao se explica apenas num plano gnosiolégico, ja que a remo- dolagio do passado, se implica um reconhecimento, faz apelo ‘a um presente, onde, na érbita do instante», a eternidade captada, se nos configura como um valor supremo. Logo a ultrapassagem do passado (no do passado como tempo), mas do pasado como fisionomia do Eu (sobretudo fisio- nomia axiolégica, até porque Lavelle toma, como ponto de despertar, as consequéncias do acto, que no presente repudia- 0 PENSAMENTO DE LOUIS LAVELLE aT mos), se implica © plano gnosiolégico, exige também um concurso volitivo que, na sua dplica, é uma capacidade de futuro (que vem sté nés como valor), 6—Finalmente, a nocio da existéncia laveliana (exis. téncia em sentido de realidade dada ao ser espixitual e livre) implica que a sua nio plenitude se ligue a uma plenitude que a possibilite ‘Somos em acto em cada momento, somos responsiveis, por aquilo que somos, pelo nosso ser, e, simulténeamente, somos uma actividade gratuita, Verificamoncs livres enquanto responsiveis pela fet tura da nossa existéncia actual e isto € uma dadiva. Cada um se sente responsivel pela exisléncia, mas esse poder vemmlhe ada noites (como diria Jaspers) Portanto a cxisiéncia, se 6 6 que est fora do sujeito (para certas concepedes), & em Lavelle, a realidade que se volta para a interioridade, para o sujcito. Daqui surgem dois problemas: 4) Na dimensio transcendental Inveliana (diferente, como & ébvio, da sua homénima husserliana), a «conseiéncia de sis, que € a «conscigncia actuals, isto é, consciéncia de um acto que a ultrapassa ou perspectiva da sua realizacao, soluciona problema da existéncia do mundo, enquanto gue é a revelacdo, na totalidade do ser, dum acto que suscita diversos modos dz ser (embora sublinhemos, de novo, tratamento filosdficamente minimo dado ao objecto © a0 mundo). Mas nes'a perspectiva nfo ha o perigo de inter pretarmos a existéncia como um exagero dum racionalismo iranscendental, isio 6, a nogio da existéncia prévia que possibilita a consciéncia e a intencionalidade? 5b) Noutro sentido, a insereao da consciéncia no mundo como que reincaria na historia, donde (do acto consciente) resulta a realidade. Esta realidade € limitada, pois sé existe © «eux, tudo aquilo que ¢ interior & minha possibilidade de existir em acte Sd ¢ real aquilo gue cu puder percorrer como exis. tente. Ha, assim, 0 perigo da naturalizagéio da consciéncia. 238 REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS —FILOSOFIA B certo que nos construimos a nés proprios enquanto partimos duma espontaneidade dinamica, que nos surge como dado. O acto exige, pois, uma base de accio espon- tanea que mos € concedida 20 encontrarmonos a existir No entanto, a menor clarificagio de certos aspectos do sistema laveliano condiciona interrogagées ou pode evar-nos a conclusdes interpretativas menos cerias*, Januario Torgal Ferreica % Dos studos publicados sobre Lavelle desaeamos os. spuins: 0. M. Nobile, Lr flsofin ai Lou Lavette, Pblicazione della sola i lo- rofia delle R- wriversith ei Roma, Saneonk Etore, 1943, 185 pdges Chane Ainval, Une Doctrine de la Présence Spirivele, La’ philsophie de Louis Lavelle, Pars, Heatrice Nauwelaers, 1967, 266 pigs; Gilbert G. Haeuy, Lar vocalon de la Hbeté chee Lous Lavelle, Pati, Béatrice Nauwelaerst, 1965, 128. pgs: Boch Sarg, La purlipaion 3 Terre dans lo philosophic de Louis Lavelle, Pais, Beauchesne et set Fis, 1957, 167 pigs; Gonzague ‘Truc, De Seeman Serre & Lonis Level. Paris, Rdiiont Tisot, 1946 Gobre Louis Lavelle, pigs. 133-203 © 211220) Paste Lever, L’Bre et le Réel selon Lows Lavelle, Paris, Aubier, 1960, 252 péges Piet Giovannt Grasso, Lavelle, Brsca, La seuola edirice, 1946, 212 pasts Jean Ecole, Lu imitophysique de Fire dans la plifosophie de Louls Lavelle, Pais, Beatrice sNauwelaeest, 1957, 312 phe

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