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Itinerdrio de Pasérgada particular com outra — a de naruteza artstica. Desde esse momien pposso dizer que havia descoberto 0 segredo da iuineriio em poesia. Verfique ainda que 0 cont as da primeira meninice era 0 mesmo de certos raros ‘momentos em minha vida de adulto: num € noutro caso algums coise ‘que Fesste& anise da intaligéncia e ca meméria conseiente, ¢ que me | cenche de sobressslto ou me forga a uma atitude de apaixonada escuta Q_meu primeiro contato com a poesia sob a forma de versos teri sido provavelmente em contos de fadas, em histirias da carochi- ‘aha: No Recife, depdie fe do sobrosso ‘conto “A made lo emocional dagque- Plo figo da figucira Que o passerinho bicou X6, passarinho! Era assim que me recitavam os versos. E esse “X6, passarinho!” ime cortava 0 coracio, me dava youtade de chorat, poemas, E também as trovas populates, c operetas francesas, enfim, yersos de pai, Lembro-me de uns cujo autor até Um papagsi, fg Doi totes tina de mex: “Tent o diab, joguei-os gue sem ter mals meioe De sstentar os mens brios “inha uns chinelos.. Vend-os. Tinka uns mores. Deinc-os beet ‘improvisador de nonsenne liicos, 0 seu jeito de dar expansio 20 {gosto verbal nos momentos de bom humor. Spender falou-nos cesta vex da stasio que sobre nbs exercem certs palavas ‘Brigade pot dels pude aproveitar num de meus poemas: “proton ‘esse alzum génio poétic, certo poder, parindo des «que meu pai chamava ter langado 0 sarratizo «seus companheizos, Procuro me lembrar de outras impressdes poéticas da. primeira infincia ¢ eis que me acodem os primeinos livros de imagens: Jado Few de, Sip oa roar, Viggo dra do maido numa casquina de no, Sobre- tudo este tiltimo teve influéneia muito forte em mim por ele adquiri a nnogio de haver uma realidade mais hela, diferente da reali Miners de Pasrgsde 297 soneto foi em poesia # minha primeira vitria conta a8 forcas do habito, ‘Nao posso deizar de evocar aqui as horas de intensa emogaio, as primeiras provocadas por usm livro ido com os meus olhos, foi esse livro 0 Cuore de De Amics na tradugio de Jodo Ribeiro, Era en semi- interno no colégio de Virginio Marques Carneiro Depois de certa hora os alunos extemnos voltrvan ficava sozinho na grande sala dos fundos do edfici de leitura adotado na minha ciasse. Para mim, porém, nfo era um liveo de estuda, Era ports de um mundo, nfo de evaslo, como o da Viagem @ ‘ea de mda mana carina drs ons de wm senimento misturado, com estes quatro anos de residéncia no Recife, arredores — Monteiro, Sertiozinho de Caxangi, Boa Viagem, Usina do Cabo —, construiu-se a minha mitolo- Costa Rbeito,tém para mim « gens dos poemas hom adjacentes limitados p cesa Isabel, foi a minh fabuloso. Quando comparo estes quatro anos de minha meninice a quai | quer outros quatro anos de minha vida de adulto, feo espantado do va- zio destes iikimos er cotejo com a densidad daqucla quada distant. | ria de linguagem eu me deixava ases- sonar por meu colega Sousa da Silveira, aaquele tempo todo voltado pata a lcio dos cl Desde o ps disse do melhor mod do Bras A Silva Ramos ¢ a Sousa de Silvera devo o gosto que tomei a Camdes, euios pricipais episddios de Or liada eu sabia de core declamaya em casa ata. mnim mesmo com grande énfase. O que ainda hoje lamento & ni textomado entio conhecimento da lirica do maior poeta de.nosso 2, Do Camées lirica apenas sabia 0 que vinha nas antologia escolares, especialmente na que era adotada no Gindsio, a de Fausto Barreto ¢ Carlos de Laet. His outro livro que fez as delicias de ininha meninice e de ‘certo modo me inicio na ‘emogio da forma pela forma, e era com verdadeizo repetia certos versos de beleza puramente verbal: “E nas douradas grim- pas / Das cipulas soberbas / Piam notarnas adiante: “De roxas espadanas rociadas / ‘Tee colunas.” Sousa da Silveira residia noma pequena casa trea da chicara de seu v6, 0 visconde de Thayde. Essa propriedade acabou sendo com- prada pelo marcchal Pires Ferreira, que nela abtiu a rua do seu nome. Creio que a case da familia de a Silvita fava exatamente onde hhoje passa a rua, e confinava com o quintal da casa de Machado de Assis, dla Silveira admirava grandemente a Machado de Assis, dizia de ria com vivo entusiasmo os “Versos a Carolina”. Nao tinha catiosidade pelos parnasianos e eu nio compreendia como se podia do bario de io de Puranapiacaba, e aio gostar de ‘me inspirava o meu eolega, trés anos mais velho do que'eu, nunca pude compartthar de todas as suas admiragdes,em assuntos de poesia. Mas luma coisa é certa — ele me fazia sentir nos prandes escritotes do passa. do esse clemento indefinivel que é 0 génip « ini de Pasirgala 208 Comegou essa experiéncia por volta dos de anos, ainda antes de ‘cu entrar para 0 Ginisio. Na realidade aio se tratava de poesia, mas simplesmente de versos. Quadrinhas humoristcas, gracejat sito dos namoros de meus tios maternos. Depois no cenveredei pela litica amorosa (estava, debaixo do maior segredo, apai- xonado por uma moga amiga de minha irma). ‘Antes de conhecer 0 manual de Castilho, eu embatucava diante de certos problemas. De uma feita fui, muito enealistrado, perguntar a coisa eu igaoraval Basta dizer que as rimas toa dois poemas de Carman, ps elas trara 0 franeés Chat poeta que andei lendo muito por | volta de 1910, Fra mais natural que as aprendesse na poesia medieval | portuguese. Mas eu nada sabia de trovadores, nada conhecia da poesia | nutto condisefpulo com quem muito converseé de poesia no Ginisio foi Lucilo Bueno. Era para mim fonte de outros conhecimen- tos, diferentes dos que me fornecia Sous da Silveira. Apteciava muito Luis Murat, que nunca me atraiu, mas gostava, como eo, dos franceses — Coppée, Leconte de Lisle, Baudelaire, Héréci «lamente misturados para mostrar que aio sabiamo: Baudelite de um Coppée), ji ouvira mesmo falar em Vetline ¢ Mallar. Estes, porém, nfo eram para 0 nosso bico. Quando estivamos no quin- to ano, apareceu, vindo do Internato para tetminar o curso de bacharel em letras do Externato, um rapaz que niio era como 0s outros: Castro Menczes.Jé havia publicado Myzhas, colaborava na Rove Creg, a revista dos discipulos de Cruz ¢ Sousa, tinha um ar orgulhoso, atrastava uma. petha, parecia mesmo um poeta ¢ um poite maudi. Nunca tive coragem de abondar aquele adolesrente tio admirado. Q meu acsnbamenta im- pediv-me, pois, de conhecer naquela idade os sit «jue lia deles nas revistas pertusbava por demais rodos os meus habitos, de possia. Se até me repugnavam certos slexandrinos dos psrnasianos em que a cesurs caia numa palavea érona! Em 1903, jé residindo em Sio stas franceses. Q ~ 300 sxniue WANDA: SBLETA DU RHO ‘nou para eserever um trabalho sobre Mme. de Sévigné e como prémio ime fez presente do listo de’ E 4 foi esse. Tudo 0 que ex sabia até passava de intuigs sma trangilamente: ‘Cz ni gi ke pls sritablemen io que Carlos Franga nada a ‘tou: aprendemos apenas o que estava no livrinho adotado em classe, 0 Pauthies. 0 Bsa, Explicav 40 nosso grupinho prodigiosamente: era tio engenhoso, tio diferente da vor geral. (© que devetia ser a base do estudo das © lati © 0 grego, ‘mas que nepacio completa part m: rar despertaro nosso gosto pela poesia de um Virgo (ou de um Luerécio, to em harmonia com o seu espetaculoso matetialsmo) e pela prosa de um Tito, obtigara-nos a quebcar a eabega,com as Formas araicas das dectinagées,fania muita questio era da prontiaciarestitula, de que foto introdutor no Brasil. Do professor de grego nem falemos I i | | ( Ueno de Pasérgda 304 baria os aleijées dos me com o mesmo espitito desportive com que me equilibtava sobre um las peenas, 0 que de modo nenhur me ir com vocago para attsta de circo. Em todo o tempo do Uniteral, Fondada por Medeieos e Albuquerque, tum soneto em louvor de Chateaubriand, onde me lembro que havia este verso, de um gongorismo do mediocre sia Elis engenho a altiva” © soneto nio foi publicado e pela caixa de respostas da revista 0 redator seatenciou: “O seu soneto nio esté mau, Tambémm no esti bom. Enfim, continue!” Da outea ves fai mais feliz, enviando a Ant6nio Sales, { redator influente do Corrie da Marbi, um soneto, como 0 outro em de um erotismo que bem traia as curiosidades sexuaiy da ‘A publicagio desses versos na primeira pagina do Corrio Confesso que jé me vou sentindo bastante arrependido de ter ccomegado estas memériss, Fi-o a instincias de Fernando Sabino e Pau- 0 que assumi com eles nada tinha de criaturas humanas, compreensivas. am gorou, ¢ quando eu dei por mim, , amigo sabidamente implacivel, que tando pata os seus Arquivos e pata 0 Jornal de Leas, ¥y2 tisfacio, ao passo que o que me sala especie de transe ow alumbra tina a0 menos a virtude ie ime deixar aliviado de minhas angtstias, Longe de sme sentir hu iubilava, como se de repente me tivessem posto Gamaval¢ mesmo O Rito fomel consciéncla de que era um pocta menos; que me estaria pare sempre fechado o mando das grandes ‘io havia em mim aquela espécie de cadinho ond Quantas vezes, querendo lembrar uma est popular, © nio conseguindo reeonstiutlafelment, fain da melhor Uinee te Pacirgata (03) ‘Teris absigo sob a foi mudado para uma voz responde-me sombsi: 0 com a introdugio de um timbre difereate de vogal) € substitu 0 sexto verso (‘Adornada com os prantos do artebol”) por “Que baniha- sam de pranto as alvoradas”, verso que forma com o anterior um distica \lornada com os prantos do arce sxpressa em “Que banharam de pi nga capital: no segundo verso hip at Bea basa paste fazer extend ‘Naina Anolie hpca ais deers pore pode let o sonsto“Banzo” de Raeundo Cora, como aparccen em A Semana = | a Winer de Pasérgda 305 fos amorosos. iferenca da versio definitival Transcre~ sombrias ‘agador de emerald) . ce gtaves da maioria dos poemas de cinga dar horas. Mais do que a obra em conjunto de um grande poeta, me impres ' “Dido”, de Gargio, Pois ha na obra com delicia smme um soneto, que ainda hoje sep sempre renovada, um soneto em que aprendi muita coisa e me parece ito com_os maus poctas. Neles, mais pation tmemene , ‘Cétait un homme doux, de chétive santé, Qui, tout en polissant des verres de lunettes, ‘Mit essence divine en formules tris nettes, Si nettes, que le monde en fat épouvanté. Ge sage démontrat, avec simplicité, Que le bien ec le mal sont antiques someres, Ex les lees mortels dhumbles marionettes, » Dont le fil ese aux mains de la nécessité izivos, cols Pieux admirateur de la Sainte Hes ite-a austera¢ tigida assembléa, we I n’y voulait pas voir un Diew cor andsino, Em toda a obra de verre de lunctes, No indivisivel horror & wn noite vazia, compter les planéees CAmonte") (Céaait un homme dou Baruch de Spinora. scoles pour les jeunes gens”, de 103.. Sobre os sonetos de Camies eo poema de Cros espraiar-me um pouco, someto que comeca pelo verso “O céu, a terra, 0 vento sosse- ado” tom sido para mim, desde aqueles dias, fonte de inesgotiveis seflexdes. Tenho que transerevé mais que nomeado: tes que Amor me mate, 1 Moree brandamenteo arvoredor ‘Levthe o vento avo, gue a vento dit Q.sexto «0 décimo terccito versos deste soneto me fzers ver asia abso do sistema pa om qustetaporasnalefa obi ‘at6ri. Alberto de Oliveira, no seu exemplar de Os tires, ‘mente, “A toalha frissima do lago”, dlicgio, Muito inconseqiientemente, por € aceitavam que se contas- Utineivio de Pasérgade 307 com um poema que intitle “Hino” incu depois em Carnal Por causa de um hiato num verso do poeta Men- des Campos travei com 0 critico Machado Sobrinho derramada polé- mica, plas colunas do Carmo de Mina, de juz de Fora, o que fez minha iri dizer em casa que eu queria penetrar na (A cinga das bora), ¢ 0 poeta me aconsethara a c quarto verso desta quadea: ‘As cousas tém aspectos mansos Um apés out, a bamboleat, Passatn, eaminho agua, os gansos. ‘Vio atentos, como a cismat. Nio accitei a sugestio de ant I (Machado de Assi clogiando as rim: | O.pocaa *Paroles pour les jeu | Teo.no Menare de Fran, nimero de e« alabies de Mac-Fiona Leod, o meu priméiro contatn. com 0 xesso livre ‘Antes disso 0 que en tomava por verso lite eram os versos polimetticas de Verhaeren, A esse propésito vem a pelo contar a histéria de um concurso, promovido por Medeiros ¢ Albuquerque na Academia Brasileira de Letras. Na sessio de 4 de junho de 1910 declarou Medeiros oferecer um prémio de 500 mil-éis para a melhor poesia sobre assunto gers, social ou filosético, de acordo com as bases que apresentava por escrito, Nao ime Jembta mais que bases eram essas, mas me lembra ainda que a poe sin no devia ter mais de 200 versos nem menos de 100. Em 13 de mai. do ano sequinte a comissojulgadora, compos de Atberto de Olivet, “Almeida € Afonso Celso, apresentou 0 seu pasecer, segundo hua das poesias apresentadas preenchia as eondigdes exigdas, por vicios de forma ou defeitos de idea”. O parecer foi aprovedo, Bis que no dia 25 do mesmo més o Jornal do Coménia,edigio da tarde, rompe ‘em que os académicos eram chamados “os imortais da pesia da Lapa” (@ Academia fancionava no dizia o tedator: “Ninguém admite {que s6 0 maus poetas hajam concostido ao prémio, De alguns noticia que enviatsm trabalhos ¢ bons, que servitio pata con! severissimos julgadotes. O st. Alberto Ramos, por exemplo, envi mosa ¢ ousada compo AAs nossas colunas ficam 20 publicadas as pocsias que remeteram para o concurs Fentes mandaram os seus poemas: Alberto Burn Fontes, Eduardo Nazateno © um certo M. Bandeita Filho, que nao era outro senio © autor destas linhas, ainda hesitante cm como assinar as Uinotio de Paizgada 309 mas produgdes, Alberto Ramos concorrera com o “Canto de maio" Durante mais de um més se ia € 2 comissio julgadora do con- reveram cartas engracadissimas. O ‘A Academia deve-me uma satis ‘io. Ekrsio 0 Olimpo, Eu sou titi que nunca pediu favores afi E acaba arta com estas palavtas: “Se, pois, qualquer bestarel de ‘metro e plana me acoima de interessado na perlenga, e com partis, responderei que, com coneurso ou sem coneusio, na Academia ou fora ‘eu estava consciente de que os meus wersos ‘io passavam de um exercicio poético, sem sombra de poesia, e onde, inegavelmente, nada haviad ‘Nunca os exumei das paginas do Jorual do Comirco, onde espero que para sempre dusmam, 20 abrigo de lum possivel péstero violador de sepulturas (© que hurei nesse eoncurso foram umas linhas escritas em no sei «que jornal por Burycles de Mattos, que, comentando 0 caso, disse mais, ‘ou menos isto: “Tenham paciéncia os senhores concorrentes uj poe- sias foram publicadas pelo Jornal do Coméria: nada daguilo & verso livre” ‘Burycles tinha razdo. B vejam como eu andava atrasado: ‘fo tina idéia do que fosse o verso livre! De repente, 0 po - Charles Cros, 03 versos de Mac-Fiona Leod, as Serres Chaades de Mactertinek, Importa 20 meu itineritio transcrevero poema “Paroles aux jeunes silo; pouco tempo de, impuissants ont tort; les sages ont tort aussi, cat le corps de la femme est plus hem qu'va bel arbre et la pulpe des eves plus douce que le tzsin. 1 faut aimee au temps de Vamout Pourquoi chercher ailleurs des fins plus compliqués cee d'autres sisons de vivee? Il faut aimer au temps da désir ex savoir qu'on n'est pas tenu dé fdéle. lancs qui s'a pas de cervelle 1 faut aimer au temps et ne cherches Esses versos me impressionarem profondamente e duplamente: © doente imobilizado numa chaiselongue sentia-se de certo modo um pouco rexsacido de longas privagSes por aqulacinica aude do poets to do titmo meurificado, da.construgéo redonda tranhos dessensibilizantes: tradu- discvouis pelos seus preparados para pele, como esta: leo de sein leo de améndoas doeés Aleool de 90° aca de s0sas, inert de Pairpels (HR) da fala brasileira, que emendit, mas conservando a estat de gesso como eabega de cextrofe. 86 em 1940 (“Gesso" & anterior 1924, talver de 22 0% 23), 20 rever as provas da edigio de Pasar compltas, acertel com a solugio: Esta estatuzinba de gesso, quando nova 0 gesso muito branco, as linhas muito pares — Mal sugesia imagem de vi ‘Um miimero fixo de slabas com as suas pausas ctia um geste, wovinento dunico, mus. aio ornate 0 meme mete pay, Subiu 20 Atlas de um salto ‘Ao Bartval-Abiah de égua clara Baixou € 20 saibro de fogo a silaba “a0” € atraida pelo O esdrinilo “pilida”, duas vezps"émpregado, levou 0 poets no verso seguinte por vogul, © no segundo a tusar 0 verso monossilabico “Rosa”, sem o que se quebratia 0 ciumo, Viner de Pasirgada 312 8 entre os versos de um poema é gue eu dda no terceico verso ‘verso da estrofe, eserevendo, porém, quebrar 0 verso, amor de um ritmo um poueo mais sutil do {que o estrtamente estabelecido pelo niimero fixo de silabas. Jidisse que as influéncias lteritias que recebi for ‘mencionel apenas algumas, B. as extralitravias? As de misiea? Renasciment, especialmente de Leonaedo, E foi intitivo em mim bus- car no que escevia uma linha de fease que fosse como a boa linha do uma linha sem ponto morto, Cedo compreendi que 0 aquea é mor, Maio ands foi cm mim a infu mundo de que eu goste mais do que de ‘pouso. creio que ao pode bas ‘meso que & possvel realizar al palavra, Concordo, mas que dificuldade e s6 para obter um efeito que 34 ss anal nfo passa de arremedo, Por vola de 1912, tempo em que andei | havia um alegro, um adigio, um sclerg € 0 inal. Nao fo cio: era expressio de ume profunds ‘como corretive ao possivel sentin | yersos (era versos lives) segundo a severa arquiteturs musical Ganasal (“Valgieaga”, * “Conti seagio do Recife tém dois motivos. O pri sou comigo na classe de geografia do Ci fessor 0 proptio diretor do Colégio — J sor, dign-se de passagem, pois sempre nos Pernambuco?” Nio quis eu que ninguém se me grit imediatamstnte do fando da sala: “Capibarbel” Capibaribe com 4, como sempre tinha ouvido dizer no Recife. Figuei perplexo quando ‘Verissimo comentou, para grande divertimento da turma “Bem se ve pre desconhecida se eu no a revel ‘na tepetigio, Intencio musical: Cy fosse uma frase melédica dita da segunda vee com bemol aa terceita fnota, De igual modo, em “Neologisma” 0 verso “Teadoro, ‘Teodora” leva a mesma intengio, mais do que de jogo verbal. ‘Mesmo do ponto de vista do sentimento,estava eu naquela épo- do pensel em publicat depois resolv intitular -versos de Maetelinck, 123, alto, de olho: (Chamaya-se Paul vvocacio poética ¢ por isso pensava em fazer-se editor. Como que se preparando para a profissio, colecionava belas edigées. Mostrou-me algumas, entre cas uma de Sige, zeproduzindo © préprio manasctito do poets, outa de Femme, que entio se vendia souk mantean. Acorns ‘el com cutiosidade a evolugio, que foi vertiginoss, do meu ‘Meses depois me emprestava Vidrac, Fontainas, Cadel Bm 1914 edi- tou uma plaquetezinha de poemas ilustrada por uma tussa, Mlle. se um dos grandes pocus da Franga do mundo, mas.o rapaz de 5: Foi ao conta vivo © me escreveu uma carta tocante, remetendlo-me, a meu pedido, alguns poemas. No quero que esses versos se petcam € veito a oportunidade ‘estou certo que mais de um leitor, amigo da poesia, me ha de agradecer a lembrangs . ‘Und noch im Traume lachele es: gerug! Respira a hora livre de todo peso. pendem os feutos dla 56 havia flotes pilidas. Ardem como fachos 0s pinkeitos, Como se um aajo de huz houvesse passado. todo desejo dormita em beasitade E mesmo em sonho sosti como que murmurando: basta Hast du, Freund, heute Armer Verschwendet Aer grenzenos ist das Meer des grosten Erinness Siler ls Welle und Wind sink wahebbarer Schatz. Nada subst hoe amigo, og uss Pobre perdi! entio ov dds as infinite & 0 oceano da Grande Memés ier de Paségada 1 E ncle, mais docemente do que a vaga € 0 vento, afuadam [irrecuperiveis tsouros, Deer kitiker (0 orf) Tch beste die Regel, en knorsiges StOcklein! Nur selten Kommt cin wildes Genie und zerbriit es — an mit, Possuo a regra, porsete nodosol E € raro Que venha um génio e mo quebre nas costal Det kritiker und der lorbeet (0 rte eo gato de lure) Latschend stehe ich da mit dem biegsea blithen ds ‘Kiinsteen zam Keanze das Laub, Stimpern zur Stra [Aqui estou eu eseutando com 0 galho de Jouto aa slo: ‘A folhagem para corous 0 artista, a var par castgae fe calhorda Patece que ainda estou vendo os pequeninos ol doces ¢ maliciosos, dizendo esses versos. resistido 4 tuberculose, como en ¢ Eh tum dos grandes nomes da litera Foi em Chwvadel que pele p blicar tim lives de versos, As edig miuito bonitas, € 0 men sonho era ver alguns poemas meus sob a mesma forma em que eu costumava ler 08 veesos de ‘escrito na Suiga 0 soneto a CamBes, mandel-o ¢ Nio tive resposta. ‘© meu primero livzo vita a set impresso no Basil, nas oficinas do Jornal do Comérdo, disigidas ento pelo simpitico Rios, homem gordo, norma tradicionais da arte tipognifica. A tiem foi de apenas duzzen- tos exemplates e custou trezentos mil-stis... Bons tempos! que me pareciam ligad@s pela mesma tonal mesmas intengdes de fatura. O sentimento: pot assim dizer, nos verso transcender a minha exper yqueixumes de um doente desenginado, 10 plano humano, mas nfo no plano artistco, No entanto, pul intengao de comegar carter de nao viver interaraente oci A rodapé aa Not UD pina da Corte. Amico Facd essreven um post Jc veradeiro também uma questio de esposta dif” Mas adiante dizi: Fond, pequenino volume, é neste momento wm grande live De tal arte % 0s haviamos estragido 0 gos ses, dos drzulas, que esta vole simiplicida- a saudivel” Tanscreren- 4. 908 aos meus ouvidos como ibuia a todas as coisas do Sch ecicle Egiente coh | cig dees des ane ao. elton come ar acen erie | céu, Agua e uma vor etrante bastam a0s seus quadcos: : igo. Era como se 0 meste disses: “Neste poema de oito versos 0 | que importa como poesia si as palvas gu é enchi- 0 e até hoje $6 pronupciar 28 ‘Mas Castro Menezes nit sel sabendo-me invalidado pela doene pel para editar novo lvro: foi o que so “Opus 9” era uma das misicas de mins qualquer coisa do mesmo género em poesia. A “Debussy” no mesmo espirito em gue Schumann compu “Chopin”, Eserevi também um “Samuel Tris | wm dos peudnimos de Alar Morey, | conhecer pessalmente, tao que minha iemi me desaconselbou 0 | titulo de meu primiiro livre, porque cinga dar horas Ihe parecia muito “Alwato Moreyta”), um “Samuel Teistio”, que afinal no inclui no livro se imprime aqui pela primeira ver: ‘Arte: eco, vor erradia Desmaiando em ressondncis. ‘xtase... Melancolia Que ver do azul dis © men Commie! comejnra uidosamente, como o de Sehurnana, mas forme saindo to tstee mofina, que em vez de acabar com nia gplharda marcha ea th «beng but a whimper” das as fantasias se permitem, admit na coletinea uns fundos de gaveta, terminow chochamente “ {os ridiculos do pés-parmasiqnismmo. E verdade que nos versos ‘A grande arte ¢ como Lavor de joalheizo patodiel o Bile da “Profssdo de f2" "Imito 0 ourives quando escre em que adotara a rima francesa com consoante de api ‘mam os franceses a consoante que precede a vogal ‘nica da iquela inovago € pds sob o titulo dos ‘Obrigado 4 consoante de apoio”. sm a minha brincadeira ¢ sete anos depois foi sobre ele uma nota cuta, Bandits inicia 0 seu livro com 0 seguinte verso: ‘Quero bel snciras.’ Poi conseguiu plenamente o que desejav.” Na Renita d Bra sil, 20 tempo dirfgda por Monteiro Lobato, aparecen este comeatirio: “Carnena! — Manvel Bandeira — Rio, 1919, B este um folhetinho de 0: porque aio hi em die um subjetivismo compleado que, noutro ” Sequia-se a transcrigio de “Debussy” e de- pois: “Escola muito cone francés em Sto Prola.” Esse papa francés na iia do etc, parece que ema Freitas Valle o Jacques d’Avray de tantos belos poemas em francés ¢ ‘que nada tiaha com 0 peixe Hlouve, de fato, ‘mas por wezes sublimes lesenvoluutas de espirto «¢ angiistias de coragio que bem definem o temperamento Winarvio de Pavirgada 328 nalou o livro e o revelou aos companheisos, Natutal | Sapos” estava a ealhar como miimero de combate thaioria do piblico, adver Desa geracio pauls, uns dez era conhecidlo Ribsito Conto, que se mud: ‘minha casa por Afonso Lopes de Almeida. Couto, esse tornado em forma humana, escondeu o jogo na primeira ver em que aos vimos. Falava pouco € baixo, como se ji estivesse praticando os versos que escreveria mais tarde: ‘Minha poesia € toda mansa Nio gesticuo, que munca publicou, pelo menos em live, jonou muito o segundo he fade que dura até hoje € me tem sido fonte de grandes alegzas, _geandes ensinamentos. De algumas grandes saivas também. fal Couto, com graga e emogia, dessa casa ¢ da sua boa senhoria: “Bea uma dessas vivendas burguesas aque jf vio desapareeende, ¢ onde abo O gate einznte, a regalarne peixadas, iguelas glinhas de cabidela, guelas pa bifes de cebolada conf que a paciente senhora nos compen: sava da imensa pena de exstiz devido tempo, trouxewos aquilo que a Ietura dos grandes ems pet ds pom pteocupava, porque eu sabia que pondo a minha méo aa sua, nada hraveria que eu nio tivesse a coragem de enfrentar. Ser ele eu me sentia definitivamente $6. F.era s6 que teria de enfentar a pobreza ea morte. Quanto ao morso do Curvelo, 0 mew ap de-om velho easario quase em «que reaprendl os caminhos poesias — O ritmo dis ‘um de prosa — as Crimcar de posi do Bre ier de Pasérgade 129 i por intermédio dele que to- spondia-se com Alfonsina Storni e outros ivros € foi assim que conheci ¢ co- sabia de cor, de “Tutt li usei son chiusi como Papocalisse ‘Ogni camera ha un segeto idiota Dibidets di camicie mauve di ell saudate di gjusamenti e di {fotografie FFiotdil aon mu sciver pit che ta mi ami Tl cuote ha chiuso gli sportelli come le banche er una moratoria di wistezza E.era com passagens como esta de Soffici ou palavras do Cadi di Perl, - Palazreschi, ue nos desabafivamos entio do tédio do quotidian. gui corrigie de todo, Bef este sentimentalZo que se deliciava a0 repetic cconsigo (como se fossem coisas tradas do proprio peito) os lancinantes queixumes da “Desolazione del povero poeta sentimentale”, de Conszzini: dizer que a tubesculose (pelo mer ‘havia estreptomicina nem pneumot6rax nem toracopll dade pata a cuts, Doente metido a ter personalidade (° meu banho frio de chuveito todas as manhis, isso nfo! Ps “A Di Cavalcanti, 0 menesteel dos tons velados, of. Métio de Andrade.” Bra o Heé wma gota de sane en cade poema. Ache aquela poesia raim, mas, ‘como expliquei ao pedpprio Maio mais tarde, de um ruim esquisito. Em. eo Lisle db Pate (@S) pessoal como ime pareciam verdadeiros “@ le manibe de”. Se nio 0 fiz, ‘mesmo Mirio me convenceu de minha ilusio, provando-me, nenbum dos dois. no escrevia poema que outro, ¢ creio que essa dupla corrente de enviado a pedido de Matio. Nio me lembro mi { segiinte que estive em Sio Paulo ¢ travel coahe tos de Mario ¢ Oswald: Paulo Prado, Couto de Barros, Ticito de Almeida (Guilhezene eu jé conhecia do Rio), Menotti del Picchia, Lafs jam-se eles todas as tardes numa casa de chi da rua Bario de Itapetininga, onde estive um dia, encantado de ver a camatadagem, © { bom humor, o entusiasmo que reinava no grupo. oi assim que me snhuma quebea da admi-| tor de Ganaa, Paceceu-me, por | 12h stazende. Mas, como mmestres patnasianos e simbolistas, nunca repudiam uum modo get, os versos metuficados © timados. Po mulado pela aura de simpatia que me vinha do grupo pi ara completa (¢ de ecto modo coateabalaga) Iagos de afeto — cis o cla dentro do gual com A Provincia do Recite, na fase em que ela foi dirigida por Gilberto Preyre. Opto dissolute apareceu em 1924 conjuntamente com a segunda cedigdo de A cing das horas € 0 Carnara, num volume edlitado pela Reta sobre mim e com quem ficara acerado que o met pela Rete, Assim, a publ Preis dois homens a quem atacara: a0 pocta que et do um estudo (Manel Bandeia, Editorial Ingué 1944), 0 mais longo jé dedicado a minha obra .n0 quebrou defintivamente 0 seu instrumento de bronze; mas ‘0 que lhe ficou nas mos no é um instrumento: sio os pedagos com ‘que o hi de construit”, K mais adiante acrescenta: as poesias sem ritmo ce alguma; mais do que ritmo dissoluto py ‘maiota dlasoaclla entre s notagio suces desagregadas umas jf camcades, em que a nota da melancoia se ente em poder de conviego. Ha neste le mono, de abatido e indiferete: indie ressondncia vesia desceu renga a pobsia como 4 vida aguda ov profunda que sobre o poeta. catinho” (todas de Liter tenuidade, de diminigio feta do lugar © do momento em que 0 escrevi, ou se porque, embora de Almeida quando eu © disse bem), pouc proporeio que eu ia reci vivetio pare sempre) porque por um grande compositor. Creio que ninguém hoje se lembraria fora dla Alemanha (calvez mesnio dentro da Alemania) de Miller ¢ dos seus ciclos de poemas Die seine Millrin e Winterreise no fossem os admicives ik de Schubert a que eles serviram de letra. Igual imor- ‘nossos composivores me'tém distinguido co a proferéncia como fomecedor de texto poético para as suas cangdes, A que atzibuir tal preferéncia & ponto dificil de apucar. Segundo Muricy, os proprios com- ,. 220 sans Banos: ‘ow simplesmente indicada. Percebem que a tua colaboragio no ir constituir um superestrutute, mas que se fund com a obra poétics, intimamente, Por outro lacl “|eq, nas celagdes matuas, 0 posta nao exorbitar; que seri jum bom camarada: que nio tentari apossar-se da parte do fk que oferece maior plasticidade para a impregnacio musica Hi nessas palavtas do exitco uma nota preciosa: é quando ce fala na musicalidade — de misica prop a — inserida ne musicalidade subentendida, por iva, ou simplesmence indicada, da poesia. A isso eu jé havia chegado em minkas reflexdes, estudando a misica a que os meus versos serviram de texto, Foi vendo “a musicalidade subenten meus poemas desentranhada em cal como em Du bistdie Rub, dle Schubert, ou em Ich debe deb sowie du mich, do fide Beethoven no se pode dizer que necessaament peexisise 1 melodia tal como a esceever i tendida” poderia set definida O texto seré um como que baixo num snumerosas melodias. Assim explico que musica as palaveas em como & 0 caso de Jaime Ovalle, is por Camargo Guarnieri, e depois ainda por Radamés Gnattals como € 0 caso de “Cantiga”, musicado primeizo pot Guarnieri e depois por Lorenzo Fernandez. A verdade & que, como disse Mitio de Andkade em sua Poguona bisa da masca, a misiea, em bbora afirmem todos que ela & escrava da palavra, se tomou wma esctava despética. “Nao deixa mais a palavra falar por si, Quer sublinhar 0 ‘ou trés realizaces musieais de um s6 texto, ed ainerdio de Pacngady 388 os rkmos, harmonias tena deixado a pala 190 do eantochio. E que por maiores Mallarmé, respondendo a Debussy csito misica para “L’Apés midi dan fun’ ‘ass Tinha posto mbita, com efeito, mas s6 ¢a bas pode pér nos seus poemas: ritmo, literalmente, ¢ iguradamente aqueles| efeitos que coztespondem de certo modo & orquestracio a misica — 0s timbres, por exemplo, ¢ outros expedientes que 0 prbprio Mallamé Gefiniu na prosa das Divagtions ‘As palavras ihuminam-se de relexos reiprocos como um vir- ‘ual rstiho de luzes sobre pedrasas., Esse carter aproxima se da espontaneidade da orquestra: buscar diante de uma ruptura dos grandes ritmos literitios e sua dispersio em frémitosartcalados, proximos da instrumentagio, uma arte de rematar a tansposigio para o liveo da sinfonia, Sim, mas a auténtica melodia estar sempre ausente [Nem sempre a melodia despertada nos misicos pelos meus ver- sos me pareciaimplicita no texto. O que no entanto sempre me deixou perplexo é que em certas melodia que, pelo walos melédicos, pareciam distanciar-se tanto do movimento € das inflexdes ons, eu me sentsse tio fielmente interpretado no sentimento geral do poema. Assim em “Berimbau” de Jaime Oval sentido e pensado em andamento quase pro ¢ Ovalle dessa mancita, O andamento da risica € precisamente 0 contrrio dis- so, ¢ todavia a adequagio da misica as palavras me parece perfita, ‘Assim como certos poemas admitem pluralidade de sentido ou de in- terpretagies, como que em qualquer texto liteicio hi infnito mimero de melodias implicitas ‘Mas vejo que fui sendo arastado para problemas que nfo que jaa eu pode sexolve Aires de Andrade i Mesmo fos momentos em que Manuel Bandeira se manifest expeimindo anseios de universallzigio, nlo conse- se 0 seu pensamento se emanciparinteiamente do jugo qu fem suas fae céncias acumufadas preferéncias dos nossos como Nao tenho neste instante elementos pata fazer uma lista completa de todos os meus poemas que foram musicados. Mas talvez tena havi “Modinha” de Ovalle, 0 da “Modinha” de Villa-Lobos (sob o pseudé- ‘imo Manduca Pia) e muitas outras coisas de Villa-Lobos, entre as quais 18 Gangs de cadiadade. Una destas cangies, a de “Boas-vindas", foi cantada em praga piblica no dia 7 de setembro de 1951, sob a regéncia do préptio Villa-Lobos. Os comunistas aproveitaram ocasiio para praticar mais uma daquelas sordicies em que sio mesttes: assoalharam ‘no seu pasquim que a canes mim pelo ministro da para bajular uma missio norte-ameri- ‘cana que compareceria& ceriménia. Palavra de comunista nio merece f€ znem resposta? Era 0 que eu pensava, Vi porém, neste caso que todo cuidado com eles € pouco. Pois um vereador comunista afirmou a men- tia em plens sesso da Camara Municipal e dois outros vereadores nio- comunistas, Magalhies Jnior ¢ Gladstone Chaves de Melo, foram ino- centemente na onda e fizeram coro com o eormuns, seeundando que de fato a coisa era de costa acima... Nao estavam a par da verade, que ¢ esta Em 1945 Ville-Lobos, tomado de nojo pela mania em que anda- ‘vam (¢ ainda andam) os brasileiros de cantar nas estas de aniversitio a a ineivo de Pssegads 338 ‘ocasides uma série de cangées de sabo Cap decried. edi a mia [io faga ceriménia. Vi ‘idede foram editadas em 1946 e nele fea ‘em homenagem a visitantesilustres,Jé a ouvi também regida pelo pro prio compositor na inauguragio de um Salio de Belas-Artes, & chegada do presidente da Repiblica ow do ministo da Educacio. Essa tarefa de escrever texto para melodia jé compost, coisa que fiz duas vezes para Ovalle ¢ muitas vezes para Vila-Lobos, é de amar ‘gir Pode suceder que depois de pronto o trabalho 0 compositor ensala “Ah, voc€ tem que mudar esta rima em i, 0 dificil emiti-la nessa vogal.” Do poeta propriamente, no: nesse oficio costume ‘por a poesia de lado © a tinica coisa que procuto é achar as palavras que caiun bem no compasso no sentimento da melodia Palavras que, de certo modo, fagam corpo com a melodia. [ iésica, nfo valem nada, tanto que nunea pude aproveitar nenturna delas. De trés géneros foi a minha colsboragie com os miisicos: ou cates escolheram livremente na minha obra os poeaas que des imusicar; ou me forneceram melodias para que eu excrevesse 0 te sme pedir lets especial para misica que dessiavam comp. podesia extrairo texto fim verifiquei que o poen seniio mais dela do que trav nm santa modes no quis que o seu nome aparece. A solugio fi dizer “testo extaido por carmela”. smisien para icos do modernismo ¢ do préprio Pos isso figuel me escreveu do ha divida, Mas a fatara pouco me interessa, Entendo Debussy duma outra miancira. Nao tenho a nasagle Debussy do Chiléren earner Sabes que mais? Lendo on evocando o teu pequeno poema, lembro-me imediatamente, imagina de quem... de Erik Satie. © Satie do Memet, da Aubads, dos Morcsanoe frm de pore sitor francés, initulando-a “O no "ela foi cantada, ‘io sei se vaiada, num dos concertos da Semana de Arte Moderna, Assim como gosto de ser musicado, gosto de ser traduzido (ao fondo € quase a mesma coisa, pois nio 6). Sentirme bem traduzido para outa lingua, que delicil C © norte: americano céu"! Ficou melhor do que 0 origina, © “fazendo pimetas extmondindsas sobse um milabolaate cavalo branco” fol transformado em “turning mart pirates na desing ite brs”. Que forsa de expresso nesse “dagen”. De resto, sempre achei que dos idiomas que conhego o inglés € por exeeléncia a lingua da ea ternura mais desmanchada poesia: tudo se pode dizer em ‘nunca mela, Em matéria de tadugio o maios peazer que ja tive foi a0 let 1 tradugdo de "Boda espiritual” feita pelo grande Ungareti: fiquei feliz durante algumas semanas, Si de ser musicado, de ser traduzido e.. de ser forograla- do, Criancice? Deus me conserve as minhas criancices! Talvez neste gos- {0, como nos outros dois, o que hi seja © desejo de me conhecer me- thor, sair fora de mim para me olbar como puro objeto, Gosto menos de “Debussy”. Espléndido como faturs, wibio de Parrgude 585 Em 1930 publiquei a minha quacta colecio de poemas: [lertina gun, Edigio de 500 exemplaces, impressa em Paulo, Pongetti & Cia., mas ccusteada por mim. Para de certo modo disfargar 0 que pudesse cinieo no ttlo, compos a capa seccionando a palava om tr « jamais fiz qualquer coisa Accapa de Libasingem foi dei dle Cg dar lorase Carnaval. vinheta do primeito lio — uma asesfinge desenhada por Alberto Childe — 6 a do meu ef di expliquei nestas palavras: Aresphinx A forga da docura A fora da poesia A fosga da misica A forca das mulheres e das csiangas A forca de Jesus — 0 eordeiro de Deus A vinheta de Carnal, uma eabega de fauno, &a redugio, dese- hada também por Childe, ce uma aquarela qu Aces € Offcos de So Paulo, onde, em 1903 ¢ 1904, fui aluno da classe de desenho ¢ pintura do arquteto Domenico Rossi “Alberto Childe, sbio e artista de nacionalidade russa (seu verda dcito nome era Vatonin, fama nobre}, foi um dos homens m. mais Bios e mais cults que tive a ventura de conhecer. Deve ter ata 0 Brasil por volta de 1900, Lembro:me dele Freqjientando a nossa casa de Laranjeicas ¢ dando was lgdes de aquarela a meu pa. ra dorado de talento para tudo — literamra, pintura, céncias. Jamais se fixou em qualquer cosa senio na egiptologia ¢ mais para ter um ganha- plo (conseguita ser nomeado egiptslogo do Museu Nacional, cujas ‘miimias restaurou € enjo catilogo referente A sua especialidade esere vee), Possuo no meu arquivo algumas de suas eartas com ama meia mejor or roma” — 08 versos socials, de bum, de cortesia.E acrescenta estas pala- ‘ras que en gostara de ter tomado por epi do meu Mafia sino que las leva pos Parecen a mais de um exitco, Sérgio Millet, por exemplo, que alguns poemas do livzo mereceriam passar para 0 volume das Postar completa. Antes de escrevet estas linhas dei-me ao trabalho de verificat 2 sgestio, Da leitura sai com a certeza de 4 circunstincia e por conseguinte tém todos do Mei [Na minha vida de poeta os meus contatos tém sido sempre com gente nova, o que talvez explique que en veriha envelhecendo devagat. -m tempo algum, procurado os novos: jamais ‘ninguém, o que de minha parte eta timidez, no orgulho. Mas sempre, desde Afonso Lopes de Almeida e Ribeiro Couto, fat procurs do por gente mais moga do que eu Esteci com uma ge cera 8 minha, encontrando grandes roneando bravura a chamada Wier de Pasirgade 359 Bgeragio de 45: hi ncla uma meia dizia de taleatos que nio me toleram do meu confiade Austregés cles acabatio gostendo: “positivamente:nlo gosto por experiéncia, que no Bra- que este ano aparece, mageinho, o meu Opus 4 fatura edigio das Completa, Cassiano Ricardo (0 Poems mardi), ©95 te Milano e Joaquim Cardozo vieram tornat « minha Apraentae da poesia brasikns, escrita antes de 45, um livzo truncado. Deus me dé tempo para amualizar aquel ‘Olhemos agora para tris. Quando caf doente em 1904, fiquei de pouco tempo: a tubereulose ere ainda a cia @ literatura, que prineipiei a acetar 12 verdkade me sinto em paz com ele revendo uma vez a men respeito, disse, ideal em que ele estruturasia a ordem tia “cla vida inteira que poderia ter sido e que sao silo foi" pace outa vida que viers tudo”, De fato esse € o sentido profando da “Cangio do vento ¢ da tninha vida”. De-fato cheguel 20-apariguamento das-minhas bes e das minhas 12 do & angistia d ‘muitos uma palawra fra aa morte pode vir —essa morte que espero desde 0s jenho a impressio que ela encontrar, casa limpa, 2 mesa posta, com cada

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