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CAPITULO I Os cristdos-novos e o agicar pernambucano uando em 1591 veio ao Brasil o primeiro Visitador do Santo Oficio encarregado de recolher evidéncias de préticas religiosas ndo-Catdlicas, ha cerca de cinqiienta anos cristdos-novos residiam no pais. Os depoimentos recolhidos entiio pelo Visitador, o Licenciado Heitor Furtado de Mendoga — Mendoga & espanhola, origem do apelido, e nao Mendonga — quer em forma de "dentincia quer em forma de "confissao", foram obtidos na Bahia e em Pernambuco e foram prestados por moradores das respectivas capitais e das vilas proximas a Salvador e a Olinda. A permanéncia dele abrangeu os anos de 1591-93 na entao sede do governo colonial e os de 1593-95 em Pernambuco, As denunciagdes e confissdes da Visitagao que chegaram até nés — faltam, infelizmente, o 2 livro das denunciagoes da Bahia € 0 2 das confissées relativo em parte a Bahia e em parte a Pernambuco — foram feitas por 625 pessoas de origem portuguesa ou nfo ~ exclufdas as de declarantes que retornaram a presenga do Visitador. Na Bahia foram 285, em Pernambuco 271, as demais nas Capitanias menores. Delas eram reindis 381; naturais do ultramar portugués 46; do Brasil 153 e de outras origens 45. A distribuieao por procedéncia nas duas Capitanias consideradas é a seguinte: Na Bahia - reinéis 170, ultramarinos 19, brasileiros 74, outros 22 Em Pernambuco, na mesma ordem, 174, 21, 59 ¢ 17 Desses mimeros podem ser distinguidos os cristaos-velhos, os cristiios-novos e aqueles que se dizem em parte eristios-novos, isto 6, que tinham um dos pais (1/2), um dos avés (1/4) ou mais de um_ 4, etc.), um dos bisavés (1/8, ete.) com "sangue" de cristao-novo. Na Bahia dos 285 computados 209 declararam-se cristaos-velhos (73,3 % ), 22 eristiios-novos (7,7% ) e 9 meio-cristaos-novos (3,2%). O total dos cristéos-novos por inteiro ou em parte é de 31 (10,99 Em Pernambuco dos 271 inelufdos 203 disseram-se cristéos-velhos (74,9%), 21 eristdos-novos (7,7%) e 17 em parte eristaos-novos (6,3%). ‘Somam os cristos-novos 38 (14%). Vé-se que o ntimero dos que tinham parte de crist’ios-novos era superior em Pernambuco, em relagao a Bahia, o que talve: explique nao s6 pela riqueza écondmica de Pernambuco, como pelo fato de ser a Bahia a sede do bispado e, portanto, mais sujeita a fisealizagao eclesidstica. Dos cristaios-novos inteiros eram naturais de Portugal 39, do ultramar 1e do Brasil 6; dos em parte cristaos-novos eram nascidos no Reino 12.e no Brasil 19, E digno de atengo 0 ntimero dos nascidos aqui, a sugerir que na América teria havido menos isolamento entre (08 dois grupos do que em Portugal e seria menor o numero de mulheres brancas. "Dos nove filhos do casal de cristiios-novos notérios Diogo Fernandes e Branea Dias, em Olinda, uma ndo casou, do marido de uma outra desconhecemos a qualidade e dos sete restantes cinco casaram com cristaos-velhos. ‘Se utilizarmos as percentagens acima sobre os totais da populagao branca de Pernambuco poder-se-4 ter uma conjetura do ntimero de cristaos-novos (inteiros ou em parte) que entao residiam nesta Capitania. Para o cdleulo da populagao recorreremos a cronistas do século XVI. Em 1583 o Padre Fernao Cardim redigiu a Informagio do Brasil para o nosso Padre, datada da Bahia 31 de dezembro daquele ano, subscrita pelo Padre Visitador da Companhia de Jesus, Cristévao de Gouveia e enderegada ao P: dre Geral da Companhia. Nela diz-se que em Olinda e sua Comarea havia 1.000 vizinhos portugueses, além de 110 em Igaragu. Engenhos havia 66, "e cada um deles é uma grande povoagao".? No Tratado da terra e gente do Brasil o mesmo autor refere que a Capitania "tem passante de dois mil vizinhos, entre vila e termo”. °) Gabriel Soares de Sousa, que escreveu a sua famosa Noticia do Brasil depois de 1584, menciona que a populagao de Pernambuco era de cerca de 700 vizinhos em Olinda eseu termo, de pouco mais de 25 a 30 pessoas (brancas, entenda-se)em cada 6 engenho, “fora os que vivem nas rogas afastados deles", digamos 1.000 vizinhos ao todo. " Contando cinco pessoas por vizinho ~ qu seria equivalente a "fogo" — pode admitir-se que a populagio branca de Pernambuco teria por volta de 1584, 7.000 pessoas de origem portuguesa. O Bardo do Rio Branco, utilizando as mesmas fontes, admite 8,000 almas." ‘Aceitando o mesmo total para 1593, quando se iniciou a Visitagao do Santo Oficio em Pernambuco, dos 7.000, moradores brancos 14% seriam cristdos-novos, isto 6, 910 pessoas. E impossivel averiguar, por meio de outras fontes, a validade ou néo desses nnimeros, mas na falta de outros dio-nos eles uma idéia do que poderia ser a populagdo de Pernambuco e nela a participagao numérica dos cristos-novos. ‘Tinham estes dois motives importantes para abandonar Por- tugal em busca do Brasil: primeiro, 0 de se fixarem numa terra eyja principal atividade econdmica, a fabricagio do agticar, estava em {grande desenvolvimento, como se comprova com o miimero erescente de engenhos; segundo, 0 de se afastarem das vistas da Inquisi¢ao para conservarem um pouco de liberdade religiosa Foi el-Rei D.Manuel quem, em 1497, depois de decretar a expulsao dos Judeus de crenca existentes em Portugal, os obrigou 2 forga a ingressar na religiéo Catdlica: decorreu desta medida a existéncia dos eristéios-novos e os problemas disso conseqientes. Em 1536 foi estabelecida a Inquisigao e logo em seguida comegou a dispersdo ou emigragao dos cristdos-novos: em 1537 Carlos V autorizou a instalagao deles em Antuérpia; em 1550 Henrique Il de Franca permite aos homens de negécio e outros portugueses chamados cristaos-novos (a expresso é do documento) estabelecerem-se ali, sem carta de naturalizagio, o que dé origem ‘a0s grupos de conversos de Bordéus, Baiona, Tolosa, Nantes, Rudo, ete. (os quais sé seriam aceitos como comunidades judaicas no século XVII}. A Franga serviu-lhes de escala na migragao para o Norte: na década de 1590 entram eles em Amsterdam e Hamburgo.® 'No Nordeste do Brasil a presenga de cristdos-novos pode ser documentada ainda na primeira metade do século XVI. Nao nos referimos & presenga acidental ou a atividades ocasionais de coméreio de cristaos-novos de Portugal com o Brasil, mas aos que aqui se estabeleceram com fnimo de permanéncia (nao obstante a desafeicao pela colénia notada pelo autor dos Didlogos das Grandezas do Brasil). Diogo Fernandes e Pedro Alvares Madeira parecem ter sido dos primeiros nesse ntimero, pois em 1542 Teceberam terras em Pernambuco, onde pretendiam levantar en. genho, que seria o Camarajibe, depois chamado Santiago. O fato de Pedro Alvares ser conhecido como Pedro Alvares Madeira pode indicar a sua procedéncia dessa ilha, entao 0 mais importante centro produtor de agticar no Ocidente, Diogo Fernandes aparentemente no tinha experiéncia na agricultura e induistria do produto, pois que era "mercador assim de panos como de todo género de margarias, vendendo sempre por junto", em Viana do Castelo, desde por volta de 1530, conforme informagao de sua mulher." Pode supor-se que aquele seria o técnico agucareiro ¢ este 0 homem de capitais, embora estes fossem insuficientes para 0 empreendimento. Como se sabe, os dois sesmeiros comegaram a plantar seus canaviais, mas um ataque de indfgenas destruiu tudo, Jerdnimo de Albuquerque ao comunicar 0 caso ao Rei de Portugal, em carta datada de 1555, diz que o engenho fora levantado por Diogo Fernandes "com outros companheiros de Viana... gente pobre”. E pedia: “folgue Vossa Alteza de favorecer a0 dito Diogo Fernandes, que est muito pobre, com seis ou sete filhas e dois filhos, sem ter com que os possa manter pela dita perda’, embora "para negociar os ditos engenhos outro mais suficiente que ele nao se achard e que com menos tempo e dinheiro isto acabe e ponha no estado que cumpre”."” O "negociar" deve ter aqui o sentido de administrar e juntamente o de comerciar. No estdgio atual dos conhecimentos histéricos Diogo Fernandes ¢ Pedro Alvares Madeira sao 05 dois.cristaos-novos (ambos acusados de judaizantes) que pioneiramente esto ligados & agroindistria agueareira em Pernambuco. Depois deles outros cristdos-novos na segunda metade do século XVI foram aqui senhores de engenho: Bento Dias Santiago, Ambrdsio Fernandes Brandao, Fernao Soares, Filipe Diniz do Porto, André Gomes Pina e Duarte Dias Henriques. No infcio do século seguinte esse niimero aumentou, como se pode comprovar pelas relagdes dos engenhos existentes em Pernambuco e Itamaracé em 1609 1623." Dessas relagoes recolhemos (por ordem alfabética) 1609 1623 Ambrésio Fernandes Brandao Domingos da Costa Brandao André Gomes Pina Duarte Ximenes Anténio Dias do Porto Filipe Dias do Vale Anténio da Rosa Filipe Diniz da Paz Diogo Soares Francisco Rodrigues do Porto Duarte Dias Henriques Gabriel de Pina Duarte Ximenes Gaspar Fernandes Anjo Ferndo Soares, 2engenhos Gaspar de Mendonca Gaspar Fernandes Anjo, 2 engenhos Manuel Saraiva de Mendonca Joao Nunes de Matos Pedro Lopes de Vera, 2 engenhos 8 Infelizmente nao é abundante a documentagao histérica a permitir estabelecer com clareza a participagao de cristaos-novos no infcio do estabelecimento da industria agucareira em Pernambuco. Se Pedro Alvares Madeira, cristao-novo, teria vindo da Tlha desse nome com experiéncia da fabricagao do agticar, para se associar com Diogo Fernandes, nfo podemos fazer qualquer afirmativa nesse sentido; os "téenicos" na construgao da maquinaria dos engenhos (geralmente carpinteiros, mesmo quando se intitulavam "mestre de fazer engenho"), dos quais varios esto mencionados pelo nome nos papéis da Visitagao de 1593-9: cristdos-velhos."” A participagao dos cristaos-novos teria sido predominantemente a de detentores de capitais: mercadores que se fazem senhores de engenho, varios deles conservando-se simultaneamente nas duas atividades; uns poucos que se fazem rendeiros da cobranea de dizimos e fazem empréstimos as vezes onzeneiros a donos de engenhos, como € o caso de James Lopes da Costa, Joo Nunes Correia e Paulo de Pina (I). Parece certo que 0s cristos-noves senhores de engenho nao se deixam enraizar nas suas terras: as relagdes de 1609 e 1623 nao ‘mostram continuidade na posse dos engenhos na mesma pessoa, em parentes ou em descendentes seus. As excegées do primeiro caso S40 as de Duarte Ximenes e de Gaspar Fernandes Anjo; a do segundo a de Ambrésio Femandes Brando. Mais numerosos eram os lavradores de canaviais, constando referéncias nos papéis da Visitagao de 1593-95 a Manuel de Andrade, lavrador do engenho de Pero Cardigo; Gaspar Duarte, natural d Lisboa, lavrador na freguesia de Sio Lourengo; Simao Fernandes, do Porto, lavrador na Muribara; Gaspar Rodrigues, também portuense, lavrador no Engenho Velho de Fernao Soares; Francisco Mendes, ainda portuense, lavrador na freguesia de So Lourengo; Francisco Mendes da Costa, meio cristao-novo, nascido em Mesio Frio, lavrador na Muribara; Jeronimo Pardo Barres, lisboeta, lavrador engenho de Ambrésio Fernandes Brando em Sao Lourengo; Estévao Ribeiro e outros!"® Lavrador e mercador era Jorge ‘Tomas Pinto, "que até ora foi mercador e ora é também lavrador” ¢, ainda, Simao Henriques. Muito superior era o mimero dos que participavam de atividades comerciais ligadas quase que exclusivamente ao agticar. Anegociagao fazia-se As vezes nos préprios engenhos. Em uma das denunciagées da Bahia ha este flagrante curioso: denunciando disse que haveré um més, estando no engenho é Bastiao de Farias, termo desta cidade, e estando af presentes alguns cristaos-novos que iam mercar agticar’, fizeram todos refeigo em comum, numa mesa "em que estavam muitos homens honrad nuita cautela com tais mercado- cristdos-velhos”. Bra necesséria res, pois eram "habeis e agudos endo o agdcar um produto de exportagtio, era muito im. portante a participagio dos homens de coméreio, entre os Quis portaita a poreentagem dos cristaos-novos. Do Reino muitos qKaces eristaos-novos enviavam seus filhos ou parentes para desser fa area agucareira, para aqui nfo s6 representé-los como areas experiencia no trato com o produto. Nos anos finais do cane XVI 0 nos primeiros do século seguinte foi grande a Sxportagao do agicar, a que dava condigdes o niimero crescents Serorvak fabricas em Pernambuco e na Bahia. Em Pernambuco de vevaey de engenhos passou de 23 em 1570 (Gandavo) para 66 onirg83 (Cardim) para 77 em 1608 (Campos Moreno): em trinta om te anos 0 ndmero mais que triplicou. O prego da arroba de Scacar braneo em Lisboa passou de 18400 em 1570 para 25020 em 1610 (Simonsen). ‘Os livros da Visitagdo do Santo Oficio ao Brasil (1591-95) apontem como comerciantes de agicar em Pernambuco ioe apetaos novos, como Francisco Dias Soares, natural de Campe Staion que tinha sido sambenitado e penitenciado pela Inquisi¢# ae eat Jorge Dias;"* Henrique Mendes;"? Joao de Paz, dug se vast muito eedo sua vida de mereador, ao vir para o Brasi come anos de idade, responsdvel por mercadorias de seu pal {anrte Dias, o Belo, sendo sobrinho de Miguel Dias Santi¢g, Duarte eremes;'® Luis Dias” Manuel Rodrigues! Manuel de Some Mer natural do Porto, filho de outro mercador, Manu} ‘temas e’em Olinda "negociante da fazenda de seu pat Mendes ou Joao Mendes de Olivenga;®! Francisco Lopes Homem Mendes sbrinho Manuel Lopes Homem;® Afonso Serraoi"") Syeettiseo o Duarte Mendes, irmaos; ® Jeronimo Martins e ser Franc fonso Martins, o Aguas Mortas,%” Pero de Galegos; ° ‘ange Tomas Pinto, natural do Porto;"’Pedro de Morais Sampaio, JorEe Jo em Lisboa, filho do mercador Antonio Rodrigues de nascid® en Manuel Rodrigues Vila Real, que por volta de 1582 Mora cla viera para aqui com escravos", sondo que em Olinds vas Angelum irméo seu, Francisco Rodrigues Vila Real; Moray mou Rodrigues,” Duarte Dias Henriques, filho de par osomevos rieos da cidade do Porto, Henrique Gomes e Isabel Fhaee tog de Miguel Dias Santiago: os irmfos Simao e Miguel Henriques;® Jorge Manuel“ e outros, ‘G eanuserito intitulado "Livro de entrada e saida dos navios e ureas do porto de Pernambuco” relativo aos anos de 1596 avis confirma a importancia da participagao dos homens de sagocio eristaios-novos na exportagio do apicar. °° Pelos totais re- 10 colhidos dese manuscrito, 0 exportador de maior volume do agticar naquele perfodo foi Duarte Ximenes: 5.375 arrobas ou 80.625 quilos. Esse Duarte Ximenes nfo devera ser confundido com Duarte Ximenes de Aragao (1561-1630), irmao de Gongalo Ximenes de Aragdo (1575-1638) filhos de Rui Nunes Ximenes (1529-1581), que estabeleceu com o irmao Ferndo Ximenes de Aragiio(1525-1600) um império comercial em eseala mundial, com sede em Antuérpia; supomo-lo, entretanto, aparentado a esses homens da grande finanga.®" Em Olinda e em 1603 declarou-se cavaleiro fidalgo da casa real, de 33 anos de idade, pouco mais ou menos (0 que o faz nascido corea de 1570)!" Em 1609 era senhor de engenho em Goiana, Capitania de Itamaraca, continuando na posse do engenho em 1623. Ao tempo do governo de D. Luis de Sousa (1617-1621) foi rendeiro do contrato dos dizimos do agticar em Pernambuco."*'0 aguicar por ele exportado naqueles anos de 1596-1605 era consignade ua sua maior parte em Lisboa a Guilherme Duarte (ou Noarte ou Lloarte) provavelmente o mercador flamengo Guilherme Lenaerts; outra parte foi consignada a diversos Ximenes residentes em Lisboa: André, Gongalo, Fernao e Manuel. Também a servigo dos Ximenes - André e Fernio e ao associado destes Joo Moreno — estava em Olinda naqueles anos © mereador cristdo-novo Manuel Nunes de Matos, 0 segundo maior exportador averiguado segundo o "Livro dos navios e ureas”: 4.662 arrobas ou 69.930 quilos. Filho de Gongalo Nunes do Porto, era casado no Reino, com Ana de Miléo, filha de Henrique Dias Milao e Guiomar Gomes, cunhado de Manuel Cardoso Milo, Gomes Rodrigues Mildo, Paulo de Milaoe Anténio Dias de Miléo, que todos fizeram sua’ aprendizagem comercial em Olinda ~ e todos eles cristos-novos. Irmao de Manuel era Joo Nunes de Matos, que de Olinda também exportava agticar para os mesmos consignatérios do irmao, Joao Nunes de Matos era em 1609 senhor de engenho em Pernambuco, como ficou indicado, Manuel Nunes foi em 1601 arrendatério da cobranca dos dizimos do agticar da Parafba.“®” Quando teve conhecimento da prisdo pela Inquisigao de Lisboa do sogro, da propria mulher e dos cunhados (fins de 1606) fugiu de Pernambuco e em 1608 estava em Amsterdam, onde permanecia em 1611" e onde se reuniu a mulher, que entretanto fora solta, depois de penitenciada, pela Inquisigao. Era ele pessoa de prol na comunidade dos Judeus portugueses daquela cidade. O terceiro maior exportador de agicar naqueles anos (averiguado na fonte citada) era um cristo - velho, André do Couto, Como se viu, os dois maiores exportadores de agiicar foram também senhores de engenho, pessoalmente no caso de Duarte u Ximenes ou por intermédio de um irméo, como acontecia com Manuel Nunes de Matos. ‘Além dos mercadores citados e dos exportadores de agdicar referidos, todos cristdos-novos, havia em Olinda alguns outros que detinham considerdveis capitais, como era 0 caso de Jodo Nunes, de quem trataremos em capitulo especial, de James Lopes da Costa € Belchior da Rosa. Este teria enriquecido em Pernambuco, easado com uma crista-velha, Andresa Soares, pais, entre outros, de Joao e de Antonio da Rosa. Ao prestar depoimento perante o Visitador do Santo Oficio em 30 de outubro Ge 1593, disse ter 50 anos de idade, "ha mais de trinta anos residente nesta Capitania” e "no ter oficio e viver nesta terra de sua fazenda limpamente, com quatro cavalos na estrebaria” “caso tinico nas denunciagdes de Pernambuco." “James Lopes da Costa aparece nos papéis da Visitagao do Santo Oficio como “onzeneiro, isto 6, agiota. Como tal o aponta Jorge de Almeida em 1591, lembrando que, por duas vezes, em dias diferentes, o viu na Igreja de Santo Anténio dos Carmelitas de Olinda, "celebrando-se o oficio divino da missa, erguendo-se 0 Senhor eo cdl, estar ele aseentado em um banco, coberto com o chapéu na cabera', o qual era "morador no cabo da Rua de Joao Eanes, homem velho, mereador cristao-novo, tico, onzeneiro public". De outras informagées da mesma Visitagio fica-se a Saber que ele fora senhor de engenho na Varzea do Capibaribe pelos anos de 1580 e no inicio da década seguinte era rendeiro Ga cobranga dos dizimos do agticar em Pernambuco." Quando dessas dentincias, porém, jé ele nao residia na Capitania fixando- se em Lisboa com a mulher Barbara Henriques, mas por pouco tempo pois em 1598 era morador em Amsterdam, tendo declarado em 1612 estar de partida dessa cidade para destino até agora desconhecido com seguranga, supondo-se que fosse para Jerusalém." Para a biografia de James Lopes da Costa (esse seu nome correto, que aparece estropiado em Jemes, Gemes, ete.) con tribuiram as pesquisas dos historiadores holandeses A. M. Vaz Dias e H, P. Salomon.” Era natural do Porto e filho de Pero Dias da Costa e Gracia Lopes.” Em 1604 ele se diz de cerca de 60 anos, o que o faz nascido por volta de 1544; sendo assim, compreende-se mal que em 1591 tendo 47 anos fosse considerado "yelho" na dentincia citada.“® Em Amsterdam, quando se declarou judeu, passou a usar o nome de Jacob Tirado (0 irmao, Diogo Fernandes da Costa, que adotou o judaismo antes dele, na judiaria de Veneza, havia adotado o nome de Moisés Tirado) ¢ af fundou a primeira sinagoga portuguesa daquela cidade, ‘chamada Bet Yahacob (Casa de Jacob, talvez em homenagem ao fun: 12 dador), depois de 1603, quando chega a Amsterdam o rabino alemao Uri Phoebus Halevi, pelo que o servigo religioso seguiu inicialmente o estilo askenazi.®” Na dedicatéria de certo livro publicado em Amsterdam em 1612 ele esté referido como “el muy ilustre senor Jacob Tirado, parnas de la nacién portuguesa que reside on esta muy noble y opulenta villa de Amstradama’, sendo parnas equivalente a presidente da sinagoga.*"” Naquela cidade sua atividade comercial ~ a julgar pelos registros notariais, voltou-se para a importagao de figos secos do Algarve; quanto ao agticar nada consta, a nao ser que uma vez opinou numa controvérsia sobre certa carga do produto procedente do Rio de Janeiro, comprovando-se assim sua competénciz na questao.® Em 1612 anunciou que estava deixando Amsterdam: teria entao cerca de 68 anos de idado. Prosumo-s0 quo toria feito onto uma peregrinagdo a Jerusalém, conforme referéncia de Meyer Kayserling. Este recorda a seu respeito um poema do famoso poeta Sefardi Daniel Levi de Barrios, que escreve do "singular Jacob Tirado Que funds de fervor y zelo armado La primer sinagoga Amstelodama Y fué a Jerusalem de la ley flama"® Ahistoriadora holandesa Wilhelmina C. Pieterse observa 0 quao pouco se sabe a respeito de Jacob Tirado. E acrescenta: "A misteriosa figura de Jacob Tirado intrigou a maitas pessoas e uma delas foi Ludwig Philippson que escreve. um romance histérico intitulado “Jacob Tirado”, publicado em Leipzig em 1867. A fase pernambucana dessa "misteriosa figura" é desconhecida dos historiadores europeus. Dela ceve proceder a riqueza que lhe permitiu estabelecer-se em Ams‘erdam e af ser o fundador da primeira sinagoga dos judeus portuzueses. Os seus anos finais nao sao conhecidos. Uma evidéncia do vulto da exportagao de acticar procedida por cristaos-novos de Pernambuco, consignado a correligionarios de Lisboa, é a que nos oferece o manifesto da carga de trés navios da cidade hansedtica de Liibeck em 1602, os quais partidos do Recife, em ver de irem ter a Lisboa, como eram obrigados, viajaram para o norte da Europa e aportaram 2m Hamburgo. Na relagao dos carregadores e consignatérios que oferecemos em seguida os nomes dos cristos-novos esto assinalados: 13 Carregadore Pernambuco Gaspar Fernay Miguel Dias Santiago Gaspar Fernandes Anjo Manuel Cardoso (Mildo) ow Gomes Rodrigues Milao Manuel Nunes de Matos e Duarte Ximenes Pero Guterres Ramires Duarte Ximenes Duarte Dias de Flandres Duarte Dias de Flandres Manuel Cardoso Mildo) ou Gomes Rodrigues Milao Duarte Dias de Flandres por Duarte Dias Henriques ‘Afonso Nunes e Manuel Lopes de Lisboa ‘do indicado} elchior Rodrigues Manuel Rodrigues do Portoe Domingos Dias Cardoso Bento Alvares Soares, Gaspar Gomes Filipe Diniz Torge de Matos Gaspar Vaz Dorta Gaspar de Mere Pero Lopes de Vera André do Couto Pero Lopes de Vera André do Couto 4 Consignatérios em Lisboa Joti Nunes Correia Paulo de Pina Manuel Fernandes Anjo Pero de Galegos Joao Moreno Joao Moreno Gaspar Ximenes Manuel Gomes da Costa Francisco Vaz da Costa Henrique Dias Milao Manuel Drago Bernardo Lopes Fernando Rodrigues Elvas Diogo Fernandes do Brasil Anténio Bento Diogo Soares Toméds Pinel Antonio Ximenes Jan de Mercier Manuel Rodrigues Duarte Diogo Lopes da Silveira ‘Afonso Vaz de Sousa Pero do Couto! Carga 2.100 quintais de brasil 36 caixas de agicar 28 idem 28 idem 51 idem 5 idem 58 idem 12 idem 12 idem 24 idem 16 idem 12 idem 16 idem 9 idem 16 idem 9 idem 36 idem 12 idem 23 idem 15 idem 15 idem 13 idem Didem 30 idem E posstvel que alguns dos exportadores nfo assinalados fossem também cristii nsignatarios, mas or ndo haver evidéncia documentaria ou pela possibilidz omonfmia deixamos de assinalé-los O "Livro de entrada e safda dos navios e ureas do porto de umbuco” ja citado, relativo aos anos de 1596 a 1605 mostra que varios navios partidos do Recife com carga de agicar e que deveriam demandar, por imposigao legal, o porto de Lisboa, que servia de emp6rio de comércio do mundo portugués, foram ter a tos do norte da Europa, af descarregando o produto. Fontes notariais holandesas, de iniciativa de judeus portugueses de Ams ferdam, confirmam o fato: Uma indicagao do vulto da participagéo dos sefardim de ades do Norte europeu no comereio do agicar fornece-nos o Prof. llenbenz, ao citar certo documento que refere que de 40 navios que regressavam em 1612 a Hamburgo procedentes de portos da insula Ibérica e do Mediterréneo, 23 procediam de Lisboa, 4 do Porto e 3 de Viana (portanto, 30 de Portugal), 6 de San Lucar, 3 de Marselha e 1 de Veneza. Dos 41 comerciantes daquela cidade seditica interessados na carga procedente de Portugal 18 eram portugueses'’, isto 6, judeus portugueses, 17 dos quais importavam sicar contra 10 neerlandeses que recebiam desse mesmo produ ste fato prova, de maneira impressionante, a importéncia da nia portuguesa (de Hamburgo] nas relagies existentes entre 0 rto alemao e os centros agucareiros do Brasil" 8 merecedor de atengao o estudo de familias cristis-novas cujos membros localizavam-se estrategicamente em pontos importantes do coméreio agueareiro. Essa rede comercial & base do parentesco nao era exclusiva dos cristos-novos, pois era comum no mundo ocidental durante os séculos XVI e XVI" Os interesses comerciais levavam ainda ao intereasamento de familias de comerciantes. Daf a importancia do estabelecimento de arvores genealégicas dessas famflias para melhor percep¢ao daquelas redes comerciais. Nesse sentido tém se empenhado notaveis historiadores das comunidades judaico-portuguesas como H. Kellenbenz, H. Pohl e HP. Salomon. Com relagio a Pernambuco um dos exemplos dessas gages comerciais por intermédio de parentes entre Portugal e a Capitania brasileira (e, a partir de Portugal, com o Norte da Europa, onde se situavam os centros comereiais de distribuigao mais ricos de entéo) é 0 da familia Milao. Os interesses da familia exi giram prolongada permanéncia em Olinda, onde se fixaram Varios membros dela desde fins do século XVI até o ano de 1606, quando a Inquisigdo levou varios deles a prisio e a disperstio. A Sermanéncia no Nordeste agucareiro servia ao mesmo tempo de aprendizagem comercial aos membros mais jovens dos Miléo. ‘0 chefe da familia era Henrique Dias Milao (1528-1609), natural de Santa Comba Dao, rico homem de negécios em Lisboa, onde residia na Rua do Baro (que ainda existe), entao uma das mais prestigiosas da zona residencial da cidade, situada entre a Sé e 0 extremo da Alfama. Era casado com Guiomar Gomes (4549-1613). Dos nove filhos do casal, 5 homens e 4 mulheres, quatro daqueles viveram e comerciaram em Pernambuco, 0 que parece demonstrar que aqui estava o nucleo dos interesses Zomereiais da familia. O filho mais velho, Manuel Cardoso Miléo, daqui comandava a base pernambucana dos negécios, exportando ‘aguear. Um irmao seu, Paulo de Milao, declarou perante o Santo Oficio de Lisboa em 39 de dezembro de 1606, que Manuel era entao de 37 anos e "reside em Pernambuco, para onde foi havera 15 anos", o que faz remontar a sua presenga aqui a 1581. Entretanto o proprio Manuel declarou em depoimento perante 0 representante do Santo Oficio em Olinda, em 25 de fevereiro de 1598, ser de idade de 26 anos, pouco mais ou menos, o que o faz naseido por volta de 1571 e teria nesse caso 10 anos quando veio para Pernambuco, 0 que permite concluir que uma das Taformagoes esta incorreta.'" E certo, porém, que sua permanéncia aqui foi prolongada. ‘A casa de Manuel Cardoso Mil#o em Olinda, na rua da Serralheira (que é hoje chamada, nao se sabe bem porque, de Prudente de Morais), era, segundo declaragao de um seu irm&o, freqlentada diariamente por varios crist&os-novos, como eram ‘Tomas Fernandes, Manuel Carvalho, Duarte ¢ Antonio Saraiva Coronel, declaragao que estes confirmaram.® Essa declaragao e confirmagao 6 0 tnico documento que conhecemos a revelar que © mitico Duarte Saraiva Coronel (1570-1650), que no judaismo passou a usar o nome de David Senior Coronel, viveu nos fins do Beculo XVI em Pernambuco onde também viveu um parente seu (talver irmAo), ocitado Anténio Saraiva, cuja presenga aqui esta confirmada por outras fontes. Duarte Saraiva voltou a Pernambuco durante a dominagao holandesa e aqui acabou a sua longa vida ‘Acompanhava Manuel Cardoso Mildo em Olinda seu irmao mais mogo Gomes Rodrigues Milao, o qual, em depoimento na Visitagao de Pernambuco em 22 de novembro de 1593, disse 16 ter entio 20 anos de idade e residir em casa do irmao. ‘Gomes odrigues Milao foi preso pela Inquisi¢&o em Lisboa juntamente com o pai e varios irmaos em dezembro de 1606, e em depoimento de 18 de julho de 1608 disse que chegara a Lisboa, vindo de Pernambuco, em janeiro de 1606 e que residira aqui 14 anos. ** Em 12 de novembro de 1612 declarou ele perante os Burgomestres e outras autoridades judiciais de Amsterdam, onde entio passara a residir, que permanecera erm Pernambuco no periodo de 1592 a 1605 em casa de seu irmao Manuel Cardoso Milao, na qualidade de tesoureiro e feitor e que a ele incumbia atender ao despacho das mereadorias na alfandega." Outro irmao, Anténio Dias Miléo, viveu cerea de dez. anos em Pernambuco, segundo informagao de Paulo de Mildo na de- claragao de 1606 antes referida, ao dizer que Antonio era entao ie 25 anos de idade, "o qual € morador em Pernambuco para rnde se foi havera trés anos, tendo l4 estado antes sete anos’. préprio Paulo de Milao, segundo consta do seu proceso Santo Oficio, também esteve em Pernambuco, mas nfo faz nengao por quanto tempo, tendo regressado a Lisboa antes de 605." Depois da prisio pelo Santo Officio (1605) e su morte na fogueira do chefe da familia Henrique Dias Miléo (em 1609) a familia retirou-se como péde para o Norte da Europa (Amsterdam e Hamburgo), tendo os quatro filhos que viveram em Pernambuco adotado o judatsmo e nomes judaicos. Em Olinda viveu contemporaneamente com os quatro mos Milo um cunhado destes, Manuel Nunes de Matos, j4 antes referido, casado com Ana de Milo, embora néo estivesse ligado aos interesses da familia do sogro. Em Hamburgo residia wutro cunhado, Alvaro Diniz (alids Samuel Iachia), que casara no infcio do ano de 1606 com a filha mais velha do patriarca, Beatriz, Henriques de Milao.” ‘Outra famflia de cristaos-novos ligada a Pernambuco era mada por Gaspar Fernandes Anjo, mercador e contratador dos dizimos do agticar nos anos de 1600 e 1602, exportador de pau- brasil e agdicar para Lisboa, consignados a parentes seus (nfo conseguimos verificar em que grau), de nomes de Francisco e Ma- nuel Fernandes Anjo. Gaspar era ainda senhor de engenho em Pernambuco.” Ha mengéio em 1603 a um comerciante de Olinda chamado Valentim Fernandes Anjo.” Manuel, morador em Lisboa, no Pogo da Fotea, esta repetidamente cits correspondéncia do mercador portugués Manuel da Veiga com Cosme dente 7 Ruiz, de Medina del Campo, no perfodo 1602-04, na qual se men. cionam as relagées que ele mantinha com Lufs Mendes do Porto, cunhado de Joao Nunes, Mendes esteve em correspondéncia com 0 oélebre judeu portugués de Hamburgo Rui Fernandes Cardoso, que também comerciava com o proprio Gaspar Fernandes Anjo em 1603, segundo documento referido por H. Kellenbeni Mais uma famflia com representantes estabelecidos e negociando em Olinda com géneros diversos, com agticar e com escravos, era a dos Fidalgos. Em 1595 moravam aqui Afonso e Rodrigo Fidalgo, naturais do Funchal, os quais faziam viagens a ‘Angola de onde traziam escravos a vender em Pernambuco. Em Angola estava estabelecido outro irmao, Diogo Mendes Fidalgo."" Os capitais para essa negociagao procediam de um tio materno deles, o Licenciado Henrique Pereira Tenério (Funchal 1562-Amsterdam 1624), formado em leis pela Universidade de Coimbra, cristio-novo. Ten6rio enviava vinhos para Pernambuco, le venda era aplicado no tréfico de escravos.e, vendidos, estes, era o produto utilizado na compra de agticar, recomendand aquele ao sobrinho que "me mande bons agticares e que podendo ser todos brancos folgaria’. Tal recomendagao consta de uma carta datada de Lisboa, 8 de maio de 1595 do tio ao sobrinho Afonso Fidalgo er muito esclarecedora dos atério, dev cujo val Olin qual, na auséneia do desti Lopes Homem.Fica-se a saber deste modo que Manuel Lopes ser entregue a Manuel Homem, um dos primeiros portugueses a estabelecer-se em Amsterdam em 1597 estava hé dois anos fixado em Olinda Conclui-se, ainda, que néo era dificil o transito entre Pernambuco e os Paises Baixos, talvez por intermédio das ureas que dal vinham a carregar agticar no porto do Recife. Lopes Homem fo 0 segundo portugués a casar em Amsterdam, em 1598, sendo a noiva uma jovem que deixou fama internacional na época por sua beleza, Maria Nunes, a qual ainda vivia naquela cidade em 1616: 0 Licenciado Tendrio e 0 sobrinho Afonso, presos pelo Santo Oficio e penitenciados, fugiram para Amsterdam, onde esse Ultimo faleceu antes de 1614."” 0 outro irmao, Rodrigo Fidalgo, foi preso pelo Santo Oficio em Olinda e af penitenciado: ver capitulo VI desta primeira parte. Dois mereadores que residiram em Olinda no fim do século XVI - Duarte Saraiva e Manuel Lopes Homem — esto entre os pioneiros do estabelecimento dos judeus portugueses em Amster dam onde sao ainda os primeiros a casar com conterraneas suas, ambos no ano de 1598 (no caso de Duarte em segundas ntipcias), Pioneiros, pois no estabelecimento sefardita naquele centro, que, no século XVII, era considerado a Jerusalém do Ocidente. A ligagao de Pernambuco com 0 judafsmo portugués de 18 ‘erdam inclui ainda o nome de James Lopes da Costa, alias Tirado, o fundador da primeira sinagoga daquela cidade. ambuco sio dois dos fundadores em 1615 da celebrada, ia e benemérita Santa Companhia de Dotar Orftis e Don- 1¢0 tem pois o direito a ver registrado 0 seu nome a memoria hist6rica da comunidade sefardim de Amsterdam. n 12 de fevereiro de 1615 foi constituida entre os judeus portugueses residentes em Amsterdam ou em outras areas, uma casar 6rffis e donzelas pobres da mesma portuguesa e da castelhana, das habitantes desde Jam de Saint Jean de Luz} até Danzique, por uma e outra parte, de Franga como de Flandres, Inglaterra e Alemanha, na lero ser admitidos todos os que envoluntarem [sic] aju io pia, que sejam da nossa nagio hebréa, portugueses nanos e seus descendentes, por linha masculina ou femi ina, moradores em toda a parte do mundo, sendo 0 menos com tue Serio admitidos nesta Santa Companhia £ 20, digo vinte £ moeda desta vila de Astradam’ [sic]. A libra de grossos, n holandés) era também chamada libra flame1 ams) ¢ valia 6 florins. A admissao era, pois, de 120 rins, quantia nada pequena. As pessoas ("os companheiros") fe ingressavam na instituigao podiam, por falecimento, "deixar Fr que tem a um de seus filhos ou qualquer herdeiro que Poram quinze os judeus portugueses que fundaram mmpanhia que teve, e ainda tem, o nome de Santa Companhia Dotar Orfis e Donzelas, mais conhecida entre os sefardim, abreviadamente, por "Dotar", Além dos quinze fundadores pre sentes, associaram-se desde logo quatro "companheiros ausente que foram: Jacob Coronel, de Hamburgo Joao Lufs Henriques, de Pernambuco Francisco Gomes Pina, de Pernambue Joao Rodrigues Peres, de Veneza Por Joao Luis Henriques assinou seu filho José Cohen, ou, em nome de Cristo, Jerénimo Henriques; por Francisco Gomes Pina assinou Rohiel Jezurum, por outro nome Paulo de Pina." Ambos os subscritores, Henriques e Pina, haviam permanecido algum tempo em Pernambuco. De Joao Lufs Henriqui No "Livro de entrada e saida das ureas” (15% )ele aparece a exportar agticar do Recife para o Reino em 1600 e 1602. Em 1620 ainda 19 permanecia aqui, pois como residente em Pernambuco esta indi cado por Manuel Homem de Carvalho na Visitagdo da Bahia." Carvalho diz. que de passagem por Amsterdam, por volta de 1612, foi persuadido a se fazer judeu e entre os que o persuadiram incluiu Jerénimo Henriques, filho deste. Jerénimo Henriques na sua atividade comercial naquela cidade continuou a usar 0 nome de eristao e & como tal que aparece em 66 registros notariais de tabelides de Amsterdam, desde 1614 a 1647, recenseados pelo grupo de pesquisa dirigido pelas historiadoras E. M. Koen e W. Chr Piterse.*” Segundo esses registros Jerdnimo Henriques chegou a ‘Amsterdam vindo de Portugal em meados de 1609 e seu irmao Joao Luis (do nome paterno) em janeiro ou fevereiro de 1610. Em 26 de julho de 1609 Jeronimo declarou perante tabeliao que em Pornambuco entre 1606 e 1608 conheceu certo Simao Gomes Dias (a pedido de quem fazia essa declaragao), 0 qual regressou dali a Lisboa em 1609, em companhia de Paulo de Pina, no navio deste, do qual era mestre Tomé Nunes. Em 1638 Simao Correia depde em cartério que Jerdnimo Henriques era filho de Joao Luis Henriques, e que este morrera em Amsterdam; Correia, que viveu em Pernambuco durante 26 anos, declarou que Joao Lufs Henriques também ali viveu por muitos anos e era co-senhor de um engenho de agticar que vendeu a Joao Pais Barreto em 1606, O engenho estava situado a umas seis milhas de distancia de Olinda e era contiguo a um outro de Barreto. Jerénimo Henriques em Amster- dam participava ativamente das organizagdes da comunidade judaico-portuguesa. Em 1647 declarou-se financeiramente falido. Faleceu por volta de 1655, tendo nascido cerca de 1579, pois em 1609 declarou-se de 30 anos de idade."* Manuel Homem Carvalho descreveu-lhe a aparéncia fisica em 1620, mas referindo-se aos anos de 1610 ou 1611: dizia ser ele natural da vila de Alenquer, "mancebo solteiro, de 30 anos de idade, pouco mais ou menos, homem gross0 {de corpol, de med estatura, barba preta e trigueiro de rosto e olhos pretos e medos."*) (© nome de Francisco Gomes Pina, o segundo “companheiro ausente” de Pernambuco a ter subserito seu nome (por intermédio de Paulo de Pina) na ata de fundagao da "Dotar’, no aparece entre os exportadores de agticar no perfodo 1595-1605 mencionados no “Livro de entrada e safda das ureas do porto do Recife’. Nele esta citado um ‘André Gomes Pina como tendo carregado certa quantia de agticar para Lisboa no ano de 1598, constando que nesse ano era senhor do engenho Nossa Senhora das Flores ou Engenho Muribara, Em 1609 onome deste ainda aparece como dono desse engenho, mas em 1623 a relagao de ‘José Israel da Costa aponta Gabriel de Pina como proprietério. André Gomes Pina est4 denunciado na Visitago do Santo Officio a Pernambuco em 1593-95 e identifieado como eristao-novo, alto de 20 po, alvo, barbilouro, natural de Lamego e parente dos também existaos-novos Diogo e Fernao Soares. Francisco Gomes Pina aparece como residente em Per- nambuco desde antes de 1615 (ano da admissao na "Dotar”)e aqui rmaneceu até apés a invasdo holandesa (1630) como exportador agiicar. Era filho de um médico, o Licenciado Manvel Francisco e de Leonor de Pina, ele jfalecido em 1618, todos naturais do Porto, Dos processos de Leonor de Pina e de sua filha Branca de Pina, sas no Porto em 1618 pela Inquisigo de Lisboa, eonsta que 0 teve seis filhos, sendo o mais velho Francisco Gomes Pina ido cerca de 1589, casado com Beatriz da Fonseca, o segundo Branca de Pina nascida cerea de 1592 e casou com 0 Licenciado Lis da Costa jé falecido em 1618, o terceiro Diogo Henriques de de 1593, mereador no Porto entao solteiro, o quarto Manuel es de Pina, de 1595, o quinto Violante Gomes de 1596 e 0 sexto ar Gomes de 1598. Leonor diz que o filho Manuel Es morava, quando de sua prisdo, "em casa do dito Francisco Gomes Pernambuco, no Brasil’. Diz ela ainda que era aparentada com Duarte Dias, o Poeta, e Branca Nun mercador Miguel Dias Santiago (ver capitulo 2) De Pernambuco Francisco Gomes Pina despachi mao Diogo Henriques no Porto, sua mercadoria, a qual, de fato pertencia a mercadores judeus portugueses de Amsterdam. Em 1618 consta de um registro notarial que Paulo de Pina (alids Gomes Pinel, © qual também usava na sinagoga o nome de Rohiel Jezurun), comerciante portugués em Amsterdam, comunicou a Duarte Esteves de Pina, comerciante portugués em Hamburgo, a parte que este tinha em cinco carregamentos que havia remetido de Amsterdam para as IIhas Canérias consignadas a Juan Teixeira, sendo tré navios de Willem Broer, Willem Pietersen e Dirk Heertsen, e daf Teixeira os enviou nos navios de Joao Alvares, Leonardo Vaz e Luts Gongalves Brandao consignados a Francisco Gomes Pina em Pernambuco; os outros dois carregamentos, remetidos para o Porto nos navios de Dirk Gerbrantsen e Cornelis Claessen, consignados a Diogo Henriques Pina, foram por este embareados em duas avelas de que eram mestres Gongalo de Paiva e Manuel Rodrigues com destino a Pernambueo e também consignados a Fran- cisco Gomes Pina. Paulo de Pina comunicou ainda ao comerciante portugués de Hamburgo que em Ruao, em poder de Francisco Ramires Pina, comerciante ali, estavam nove caixas de agicar branco e quatro de mascavado que Ihe pertenciam." » portanto com 0 ava para Esse documento, com todas as suas especificagdes, 6 par- ticularmente importante, porque demonstra como se fazia 0 co- meércio Holanda-Brasil, no caso, Amsterdam-Recife entre judeus portugueses do norte da Europa e cristaos-novos do Brasi Incio de intermediarios e dissimuladamente com relag procedéncia das mereadorias. Estas eram levadas em navios Rolandeses até as Ilhas Canarias ou ao Porto, onde eram transferidas para bareos portugueses que as transportavam com destino ao Brasil Por outro lado tem-se um exemplo significative da impor tancia da rede comercial dos Pina em ago: Paulo em Amsterdam, Duarte Esteves em Hamburgo, Francisco Ramires em Rudo, Diogo Henriques no Porto e Francisco Gomes em Pernambuco Acao nos dois sentidos: Holanda-Brasil (via Canérias ou via Porto) e Brasil-Holanda (um easo via Rudo, geralmente via Porto ou Lisboa) Em 1619 alguns registros de tabeliaes da cidade de Ams- terdam dio conta de que: 1) Sebastiao Ribeiro, mereador daquela cidade, autorizou dois comerciantes de Viana (Portugal), a receber agticar e outros géneros que, por conta dele Ribeiro, foram remetidos a Francisco Dias, mereador de Viana, por Francisco Gomes Pina e Simao Correia de Pernamb: 2) Francisco da Costa, comerciante de Amsterdam, agiear que, por sua conta, foram remetidas de Pernambuco por Francisco Gomes Pina e consignadas a Jofo de Ledo no Porto; da driato de Leto, Francisco da Costa oferece como prova Uma 3) Jeronimo Henriques (j4 antes citado), mereador em Ams- terdam, autorizou certa pessoa em Viana a reivindicar 17 caixas de acicar que, por sua conta, foram remetidas de Pernambuco por Francisco Gomes Pina e consignadas a Diogo Henriques Pina, do Porto, que estava ausente dessa cidad 4) Angela da Fonseca, residente em Antuérpia, de passagem em Amsterdam, autorizou uma pessoa do Porto a reivindicar 8 caixas de agucar que de Pernambuco, por sua conta, foram remetidas por Franeiseo Gomes Pina e consignadas & Diogo Henriques Pina, do Porto, ausente. Como prova de propriedade apre- Pernambuco ao comerciante do Porto, acerca lo agdcar; a escrita di dria final incisco Lopes de Azevedo, comerciante de Amsterdam, torizou certa pessoa residente em Viana a reivindicar 4 caixas de conta, por Francisco Gomes Pi as quais foram confiscadas 0 da prisio deste, Apresentou como pro arta que Pina lhe escreveu; dec 6) Duarte Gomes de Pina (de Hambu mes Pinel (alis ie Pina, de Amsterdam) autorizam uma pessoa a reivindicar xxas de agiicar que Ihes foram remetidas de Pernambuco p rancisco Gomes Pina, consignadas a Diogo Henriques Pina no al estava ausente dessa cidade, cujas caixas foram pelo Santo Offeio, A enumeragdo acima dé idéia dos interesses das comunidades daico-portuguesas de Amsterdam, Hamburgo e Antuérpia na tacao do agicar pernambucano. Nao fosse o fato de ter i¢ao promovido em 1619 uma intensa cagada aos mereadon novos das cidades do Porto e de Viana, com a pristio de vé a fuga de outros e 0 seqiiestro dos bens dos presos ¢ nao disporfamos das fontes histéricas comprobativas la¢o a0 produto dos engenhosde peito: jueles interesses em re ernambueo Francisco Gomes exportador das caixas de agticar estabelecido no Porto e aparentemente fi quando da cagada do Santo Oficio, que prendera sua mée e a irmA, viveu em Pernambuco até apés a ocup: do se declarou publicamente judeu. Antes e depois da Visitagdo de Heitor Furtado de Mendoga a Pernambuco como representante do Santo Oficio, da qual se nservaram as ricas fontes de informagao histériea que s&o as denunciagdes e confissdes dessa Visitagao em 1593 a 1595, outras visitages houve, realizadas em Olinda e no Recife, por iniciativa dos ouvidores da Vara Eclesistica da Capitania. ‘Traslado de uma dessas visitagées, datada de abril de 1592, promovida na "vigairaria do Arrecife de Pernambuco” pelo Licenciado Padre Diogo do Couto, encontra-se entre os papéis de um dos processos relativos a Jodo Nunes (ver capitulo III desta parte 1). Em casos especiais o Ouvidor da Vara Eclesidstica ia averiguagées para esclarecer determinados fatos, como 23 se comprova de um documento que contém 0 “traslado de certos testemunhos de visitages do Ordindrio feitas em Pernambuco pelo Licenciado Diogo do Couto, Ouvidor da Vara Eclesidstica, pertencentes ao Santo Oficio’, neste em relagdo ao mesmo Joao Nunes, no ano de 1591. Tratou-se entdo da suspeita de que em uma mara da casa de Joao Nunes existiria um crucifixo colocado em lugar impréprio, que seria nas proximidades de um "servidor” onde cle fazia “suas necessidades corporais", Nessa averiguagio foi ouvido 6 pedreiro que teria visto a e&mara e divulgado a noticia, Pedro da Silva, o qual entretanto negou o fato. Esse Pedro da Silva, consta dos autos, estava entio “cheio de boubas", o qual veio a falecer no Hospital da Misericérdia de Olinda em 24 de julho de 1593, conforme atestou o cirurgiao da casa Gaspar Roiz. de Cuevas (assinou "De Quevas"), anarino da IIha da Palma, cristao-velho, de 40 anos pouco mais ou menos, 0 qual declarou que 0 pedreiro falecera de opilagio ¢ hidropisia."'O Ouvidor, o Padre Diogo do Couto, era apontado como cristo-novo, embora ele proprio tenha declarado nfo saber se o pai era ou n&o cristdo-novo.®” Por isso sua atuagdo neste caso de Jofio Nunes era motivo de suspeitas, dizendo-se, ainda, que recebia propinas dos cristéos-novos. O préprio tribunal do Santo Oficio de Olinda teve-o em julgamento em 1594, a propésito de certa pregagdo que ele fez sobre o tema “Beatus venter qui te portavit ‘veja-se capftulo VI desta parte D) ‘Alem dossas visitagées, outras, também de iniciativa local, foram realizadas, nas quais entretanto nada ha em relaglo com cristaos-novos, limitando-se a recolher informagtes de fatos e ditos em ofensa da ortodoxia crista. Fo caso, por exemplo, da que em carta datada de Olinda em 3 de julho de 1600 dew noticia o Ouvidor da Vara Eclesidstica das Capitanias de Pernambuco, Itamaracé ¢ Parafba e Vigario da Igreja de Sao Pedro Martir de Olinda Padre ‘Ambr6sio Guardés. Dirigindo-se ao Santo Oficio de Lisboa disse que, ‘20 assumir o cargo, “o principal em que entendi foi prover os livros das visitagoes passadas, para neles prover segundo a consciéncia direito me ditasse. E como nelas achei algumas coisas de que me pareceu tinha obrigagio de dar conta & mesa da Santa Inquisi¢a0, fiz trasladar bem e fielmente... 0 dito das testemunhas, que com esta vao para que Vossas Mereés provejam acerca dos denunciados, como Ihes parecer mais servigo de Deus e bem de suas almas’. E pedia instrugdes para os casos futuros: "E me fagam mereé advertir ‘como me devo haver quando em visitagées achar cousas desta e outra semelhante qualidade’. traslado das "visitagves pa: exemplo, apontamos aqui alguns d adas" conservou-se e, como ditos das testemunhas do 24 ano de 1599. Maria Soares, mulata criada de Lufs Antunes (pro vavelmente o boticério cristio-novo morador em Olinda defronte da Misericérdia) elogiou os cristdos-novos; certo soldado, Joao Rodrigues, disse que descria de Deus; um outro fuao Rodrigues, morador em Santo Amaro do Jaboatao disse, “o ano passado, pelo tempo das bexigas", que Deus nao era Deus; de Catarina Mendes constou que trazendo uns mulatos soldados uma negra sua, fugida, e pedindo-lhes eles pelo trabalho nove tostées, pediram também que a nao agoitasse, e ela respondeu-lhes com agastamento "que ainda que Deus viesse ao mundo nao deixaria de lhe dar’, isto 6, de castigé-la. Os demais textos trasladados sao de semelhante teor." Os Ouvidores da Vara Eclesidstica também serv Santo Oficio no atendimento de precatérias dele recebidas de Lisboa para audiéneia aqui de testemunhas apontadas pelos presos nos Estaus para defesa de suas causas. Exemplos deste: ‘casos podem ser encontrados no capitulo V desta parte I, relat a Diogo Fernandes, Branca Dias e seus descendentes. © Administrador da Prelazia de Pernambuco, criada em 1611, e primeiro ocupante dela, com poderes semelhantes aos que eram delegados ao Bispo do Brasil, promoveu a prisao de suspeitos na fé e, com os respectivos processos, foram eles encaminhados aos Estaus. Conhecemos dois casos promovidos ao tempo do Administrador Padre Anténio Teixeira Cabral, que se intitula também Comissério da Santa Inquisigao e aqui serviu nos anos de 1616 a 1620: 0 do ourives alemao Crist6vao Rausch © o de Francisco Ramires Rangel, ambos de 1617. Julgados em Lisboa, tomaram parte no auto-de-fé de 9 de dezembro de 1619. Gomissario do Santo Oficio, aps a extingaio da Prelazia de Pernambuco (1624), foi Frei Anténio Rosado, acerea de quem esereveu o autor de O Valeroso Lucideno. Frei Rosado foi aquele que, segundo o mesmo autor, procamou que "de Olinda a Olanda nao hé mais que a mudanga de um i em a, ¢ esta Vila de Olinda se hé-de mudar em Olanda e hé de ser abrasada por o: holandeses antes de muitos dias”. ! Acerea dele e contra ele ha dentincias graves (embora suspeitas, por questo que envolve divida de dinheiro) feitas pelo Cdnego da Sé da Bahia o Licenciado Manuel ‘Temudo. Este acusa-o de ter recebido propinas de cristdos-novos judaizantes em Pernambuco, a ponto de, segundo ele préprio teria contado ao Cénego, “quando os holandeses tomaram Pernambuco perdera mais de quatro mil cruzados que tinha em pegas e fazenda e que s6 de bofetes e contadores tinha mais de trezentos mil réis © mesmo Cénego Temudo é autor de um memorial dirigido ‘a0 Santo Oficio, sem data, mas provavelmente de 1631, porém 2 t veferéncia a fatos anteriores. Nesse memorial esereve que 0 Beaeil, por seu clima e por sua riqueza, atrai muita gente da Pagdo dos cristaos-novos. "E por ser assim, confessa a gente de ado que no descoberto do mundo nfo hé melhor terra para viver Uhura negociar, e eu o tenho ouvido dizer a muitos desta nagfo, ¢ por eonfessarem a qualidade desta regiao a povoaram com tant uantidade que a maior parte dos que a habitam sfo judeus, cue deanié uso de mercancia e trato da compra e venda, assim para tat Reino como para Frandes e Franga, e muitos sao senhores Ge engenho e de muitas fazendas que possuem e assim, poderosos eSieos, ocupam o melhor de todo o Estado e, por assim serem, os governadores que_a ele vao 0s favorecem e, 0 que pior é, se governam por eles". © prelado da Bahia sentia a economia do Brasil dominada pelos eristdios-novos e temia esse dominio. Pareco certo que 0 BGgnego, embora exagerasse a preponderdncia econdmica dos cnetaeenovos, assinalava um fato verdadeiro. O comércio de Exportagao do agdear de Pernambuco estava majoritariamente ex once dos cristios-novos e estes em conexAo com as judiarias om Anasterdam e Hamburgo. Muitos eram, também, senhores de Gngenho, embora em minoria em relagao aos cristios.velhos. Erp $e09 num total de 61 engenhos de Pernambuco 10 eram de propriedade de cristaos-novosy o ntimero nao aumentou quatorze reas depois: em 1623 de um total de 111 engenhos 10 eram atupades por eles. Fica por esclarecer quantos deviam capitais * see pos- novos para o levantamento deles. O niicleo da atividade Shs enistaos-novos era formado pelo comércio de exportacao de agticar, Sobre esse produto hé, nas trés primeiras décadas do séeul: XVII, duas obras escritas por cristdos-novos. A primeira por set Sbjetive e abrangéncia, de longe muito superior & segunda, + (enbém uma das mais importantes fontes de informa {attorica sobre o Nordeste: referimo-nos aos Didlogos da Grandezas do Brasil, datavel de 1618. As varias hip6teses sobr CO MMitoria dos Didlogos, pois que o manuscrito mais antigo qu Gele se conserva nao tem nome de autor, foram afastadas par Grevaléneia da que foi apresentada por Joao Capistrano de Abret Brqecumentagao que desde entéo ver sendo reunida, 6 tem feit asnfirmar a proposigio de que Ambrosio Fernandes Brandao quem rene as maiores probabilidades de ser o autor da obra Naseido em Portugal por volta de 1555, Ambrésio Fernand Brandao aparece em 1583 em Pernambuco como auxiliar ¢ Pimorciante cristao-novo Bento Dias Santiago, a quemservia t 26 qualidade de cobrador dos dizimos do agticar de que aquele era 0 arrendatério; sua presenga em Pernambuco seria anterior a 1583, mas nao hé disso confirmagao de documento. E essa presungao procede do fato de que, dois anos depois, ele participa da expedi¢ao que se destinava a subjugar os indios da Parafba e seus aliados franceses e incorporar a terra & administragao portuguesa; e dela participa na qualidade de capitao dos mereadores que voluntariamente se incorporam ao objetivo, o que demonstra sua projegao na vida da Capitania, Antes de 1590 era senhor do engenho que tinha Sdo Bento como padroeiro, na Muribara, freguesia de Sao Lourengo da Mata em Pernambuco, engenho que veio a ser denominado Caiara. Em 1595 era capitao de uma companhia de infantaria, segundo consta de um depoimento seu no proceso de Bento Teixeira, preso pelo Santo Oficio, ocasiao em que diz ter entao 40 anos de idade. Ao mesmo tempo também comerciava, De 1597 a, pelo menos, 1607 a residir em Portugal e em 1604 era ali Tesoureiro-geral da Fazenda dos Defuntos e Ausentes, situagao que o punha em contato com as mais altas autoridades do Reino, entéo sob o dominio dos Filipes de Espanha. Outras fontes histéricas mostram-no como senhor de uma quinta na Calgada do Combro em Lisboa, onde se dedicava nao s6 a suas leituras, como a observagdes botdnicas e a questoes de agricultura, tendo um hortelao a seu servigo. Em 1608 esta de volta a Pernambuco e antes de 1613 estava estabelecido na Paratba, onde possufa dois engenhos. Afem 1618 esereveu os Didlogos. Em 1623 era senhor de mais um engenho. E a tltima mengao conhecida a seu respeito. No depoimento referido prestado no proceso de Bento ‘Teixeira em Olinda, em 20 de setembro de 1595, ele se declarou cristio-novo, ali morador. Do que se pode colher do texto dos Didlogos suas crengas cristis parecem superficiais ¢ 2 referéncias biblicas que neles faz sao sempre do Testamento, como observou Jaime Cortesao. Entretanto nao consta ter sido envolvido pelo Santo Oficio, ndo obstante a dentincia de guarda do sébado que contra ele fez 0 seu horteléo em 1606. segundo autor de texto relativo a indiistria agucareira 6 um judeu portugués da Holanda que viveu na Bahia e que nos deixou relagao dos engenhos de Pernambuco, Itamaraca e Paratba no ano de 1623. O documento ¢ dirigido aos Estados Gerais das Provincias Unidas dos Pafses Baixos, sem data, mas que pode ser atribuido ao ano de 1636. O autor refere-se, porém, ao perfodo anterior & conquista holandesa e menciona expressamente a Bahia, "aonde estive", o que attibuimas aas anos de 1622-23, pelas referéncias a Safra de fgfidamednguete amosiigricola das trés Capitanias referid: BIBLIOTECA Desse documento manuscrito conserva-se o préprio original, assinado por José Israel da Costa, no Arquivo Geral do Reino em Haia, Holanda. Nao conseguimos identificar 0 autor, nem averiguar 0 nome de cristdo que deve ter tido, embora o texto portugués revele que ele residia ha anos nos Pafses Baixos Permanece inédito (a relagdo dos engenhos jé a divulgamos). Eneontra-se nele uma descrigao do pais, da politica portuguesa para fomentar a economia, em especial a do agticar, uma exposigao Sobre os engenhos e do pessoal necessdrio ao seu funcionamen ete. Eis alguns trechos desse documento. "As justicas da terra eram e so recomendadas do Rei [de Portugal] que nao molestem aos moradores, nem os apertem pelos pagamentos, para com isso terem mais largueza para 0 muito Que se h4 mister para os que houverem de fazer engenho ou canaviais de agicar" "Os engenhos da Capitania de Pernambuco até 0 ano de 1623 so 137, como parece da meméria dos nomes deles e para a fébrica de cada um se ha mister muito dinheiro, assim para casas tanto de engenho como de purgar... como para cobres, madeiras, ferragens, carpinteiros, formas, carros, servidores brancos, a que se dao bons saldrios e de comer eada ano, quantidade de jenhas para arderem, caixdes, bois, bareas, mantimentos, além de custo Ge 70 escravos que deve ter cada engenho para 0 servigo do agicar e suas dependéncias’ Portugal fornecia as mereadorias consumidas no Brasil, "em especial mantimentos, vinhos, azeites, pescados, frutas, farinhas, pano de linho, ferragens, sedas e outras muitas, que mal se podem homear, pois dito Brasil carece de tudo... O costume do negécio dos homens do Brasil ¢ fiar aos moradores as fazendas, para as pagarem com o rendimento de seus renovos, cousa que a poucos acomoda e é um grande encargo, porque ha dilacao e dano nestes pagamentos; e quem queria fugir deles vendia a alguns mereadores da terra pelo que podia, com perda ou ganho, e este: depois as iam vendendo, que deste modo é 0 governo do mundo, © que para um nfo serve, ser eonveniente a outro por razbes particulares! Conelui o autor, como faziam os arbitristas do seu tempo, por sugerir providéncias ao governo holandés para maior proveito Ga area brasileira que entao detinha a Companhia das Indias Ocidentais NOTAS a0 Capitulo T 1) Taretzio do Rego Quirino, Os Habitantes do Brasil no fim do século XVI (Recife 1966) passim mionografia que amplia consideravelmente 0 estudo do Prof. Ro 28 uisitoriales del Brasil bert Ricard, “Algunas enseftanzas de los documentos in 591.957, Anudro de Estudios Americanos (Sevilha 1945) pp. 705-16, (2) Atribuida ao Padre José de Anchieta, ern cujas obras esta incluida com Gace de coren de 1685; Cartas, Fragmentos Histrtcos e Sermées (Rio, 1983) p $10. A verdadeira autoria foi estabelecida pelo historiador oficial da Gompankia de Jesus no Brasil Padre Serafim Leite, Historia da Companhia Je Jesus no Brasil 10 vis, (Lisbon, Rio 1988-1950) VIII pp. 135 e 280 , Tratados da Terra ¢ Gente do Brasil (Rio 1925) p. 898 4) Gabriel Soares de Sousa, Noticia do Brasil 2 vis. (Sio Paulo, sd.) I p. 110, 5) Obras do Bardo lo Rio Branco. VIII. Estudos Histéricos (Rio 1948) p. 37 6) Jofo Liicio de Azevedo, Histéria dos Cristaos-Novos Portugueses (Lisbon By Cecil Roth A History of the Marranos (Filaddifia, 1959), 18, Révah, ‘Les Marranes", Revue des Btudes Juives Sn. série, tomo i (CXVIID 1959-60. outros, de Fernao de Noronha, acerca de 1) Por isso no tratamos ngui, ent Guen ni bi glementos cabais para aponti-lo conto eristao-novo: ver verbete Lpectivo om Joel Serrao (ed. )Diciondria de Histéria de Portugal 4 vis. (Lisboa 963-71) TI pp. 164-165 8) Vejase 0 capitulo 5 da parte I deste Livro, 10 96 doc. 74 is: (Porto 1921 2) 0 original desta carta na TT, Corpo Cronolégico parte I publicado ne Historia da Colonizagdo Portuguesa do Brasil 3 36) II pp. 380-381. (10) RIAP 61 pp. 196 © 204-206 e J. A. Gonsalves de Mello, “Uma relagio do tengenhos de Pernambuco em 16 1968) pp. 32-95 3”, Revista do Museu do Agdcar vol. 1 (Recife nciagées de Pernambuco 81, 179, 180, 237, 244, 206, 394 71, 172, 216, 231 0 447 Idem, pp. 14 (13) Idem pp, 287-288 e 448 (1 Denunciagées da Bahia pp. 263 ¢ 289 (15) Denunciagbes dle Pernambuco p. 22 Idem, p. 54 17) Idem, p. 68 (18) Idem, pp. 78 0 121 (29) Idem, p. 88 20) Idem, p. BB (21) Idem, p. 92 29 (22) Idem, pp. 113 « 479. 28) Idem, pp. 113 e 116. 24) Tdem, p. 11. (25) Idem, p. 177 26) Idem, p. 218. (27) Tdem, p. 268. (28) Idem, pp. 187-288, (29) Idem, p. 844. (0) Idem, pp. 883 © 470. (81) Idem, p. 381 @ Idem, p. 405 (68) Idem, p. 448. (34) Idem, p. 448, 35) Bib. Nacional de Lisboa, Reservados, Colegio Pombalina, cédice G42 fo. 204-288 e c6pia na Bib, Nacional do Rio de Janeiro, Manuserito eédice II ~ 88, 6,30. (26) Hans Pohl, Die Portugiesen in Antwerpen 16 passin e drvore geneal6gica n° I. 68) (Wiesbaden, 19% (87 “Correspondéncia de Diogo Botelho (1602-1608)", RIHB vol. 78, a. parte (Bio 1910) P. 156. '38) Livro 1* do Governo do Brasil (Rio 1958) pp. 409 ¢ 416. 39) H. P, Salomon, Portn genealogien n° VI Yew Christian (Paris 1982) p. 5% 40) “Relagio de Ambrésio de Siqueira (1605) da Receita e Despesa do Estado fo Brasil” RIAP vol. 49 (Recife 197) n°. 155, (41) SR IV (2) p, 244 e V1) p. 106 6 (2) pp. 2 proc, 10,600 (42) SRV (2) p. 222. (49) Denunciagées de Pernambuco pp. 28 € 90, Esti citado varias vezes em A. J. V. Borges da Fonteca, Nobiliargula Pemambucana, 2 vis. (Rio 1985). (44) Denunciagdes da Bahia p. 532 (45) Denunciagdes de Pernambuco pp. 317 e 473. 30 46) 8 Vid p. 112, (47) A. M. Vaz Dias, "Een verzoek om de Joden in Amsterdam”, Jaarboek Amsielodamum vol. 88 (Amsterdam 1938) pp . 187-188 eH. P | Salomon, ‘Os primeiros portugueses de Amesterdio, 1595-1606", Caminiana ano Vn 8 (Caminka 1988) pp. 38-99 (48) HL. P. Salomon, “Os primeiros portugueses de Amesterdio” cit, p. 39. (49) SR III @) p, 297 Entretanto em 1610 continua a dizer-se de 60 anos de idadel: SR V (1) p. 118, (60) H. P, Salomon, Portrait of New Christian, p. 147 (51) Josepho (alids Francisco) de Céceres, Los Siete Dias de la Semana (Amsterdam 1613?) na dedieatdria, (52) SR vérios nsimeroe (58) Meyer Kayserling, “Une Histoire de la littérature juive de Daniel Levi de Barrios" em Biblioteca Esparola-Portuguesa Judaica (New York 1971) p. 175. ) Wilhelmina C. Pieterse, Daniel Levi de Barrios als Geschiedschrijver (Amsterdam 1968) pp. 51-52 (55) H. Kellenbenz, “Sephardim an der unteren Elbe", Vierteliahrachrift fuer Sozial und Wirtschaftsgeschichte vol. anexo 40 (Wiesbaden 1988) p. 477, Esses trés navios terdo sido parte da grande frota que partia do Recife om 1602, da qual dé noticia Anthony Knivet, Varia Fortuna e Estranhos Fados (8. Paulo 1947) p. 119 Mais informagoes sobre eeses trés navios, inclusive seus nomes, ‘em SR It (2) p. 268, (66) E. M. Koen, "Duarte Fernandes Koopman van de Portugese Natie te Amsterdam’, SR iI (2) p. 190-191, 257-258; SR TIT (1) p. 114 n. @: SR V ©) p. 240. (57) H. Kellenben2, "Der Brasilienhandel der Hamburger Portugiesen", Actas do II Cotéquio Luso-Brasileiro 2 vis, (Lisboa 1960) Il pp. 282-289, 8) Daniel M. Swotchinski, "Kinship and Commerce: the foundations of Por tnguese Jewish life in the 17th century", SR'XV (1) pp. 62-74 (59) TT, 1. Lishon processos 6.677 « 6.671, respectivam Mildo ede Guiomar Gomes 0 de Henrique Dias (60) TT, I, Lisboa proc. 8.838 de Paulo de Milao, (GL) TT, Lisboa proc. 6.206 de Bento Teixeira, Manuel Cardoso Miléo, 20 ter noticia da prisio pelo Santo Ofice do pai e de outros membros da familia, fagiu (como 0 fez também seu cunhado Manuel Nunes de Matos) e recolheu se a Venezu onde vivia pelos anos de 1607-08, passando-se depois, em 1611, para Amsterdam: TT, L-de Lishoa, proc. 12.498 \de Heiter Mendes Bravo, (62) SR VI (1) pp, 120-121 ¢ 125. O irmao era Gomes Rodrigues Miléo, no Judaismo chantado Daniel Abensur, usando ainds @ nome de Daniel de Holanda: SR eit. p. 121 2, 31 buco p, 116 e TT, J, Lisboa proc 2,499. Em (63) Denunciagdes de Pernan see ter 33 anos: ef nascido, Pr depoimento de‘29 da setembro de 1607 en 1874: processo eitade, (64) Processo citado, {ividades em Amsterdam entre hé resumo de (65) SR VLG) p. 12 12 1818. irmao Fernio Lopes Milio diase em 27 (G6) TT, L Lisboa processo 3.838. Se {de novembro de 1606 que Anténio est Lisboa, processo 2.523 (61) TT, I. Lisboa proce > do. 3.983 e H. P. Salomon, Portrait of @ New Christian (68) H. P. Salomon, livro ct, pp. 60-52 (69) H. P, Salomon, livro © pp. ‘Livro de entrada @ saida dos navios e urcas do porto de Pernambuco MS da Biblioteca Nacional de Lisboa (ver nota 36) aponta-o como eontratador dn cobranga dos dirimos do agdcar em 1600. Em 1601 arrematou 9 mesmo fontrato, mas mo Reino foi preterido por Gaspar Ribeiro da Costa: “Relagio Ge Ambrosio de Siqueira’ cit, RIAP vol. 49 p. 125, Desse mesmo documento onsta que em 1603 voltou a arremntar « eobrangn dos dfzimos de Pernambuco por 26.8008: p. 125, Relagio de Ambrésio de Siqueira’ cit, p. 204 gie des Affaires & Lisbonne entre 1595 et 1607 72) J. Gentil da Silva, St er Paris 1986) pp. 241, 281, 252, 260 ¢ 365. H. Kellenbenz, "Sephardim a anteren Elbe" it. p11 (73) Exemplo conereto dessa negocingio SR XIII (1) p. 124 n° 168, 11.748 de Afonso Fidalgo e 12.228 de Rodrigo ) TT, I. Lisboa proce Fidalgo. (75) A carta citada esta apenta ao proceso cima citado de Afonso Fidalgo, SGore‘e Lisenciado, sue familia e sobre Manuel Lopes Homem e sua malhe ce de TL P, Salomon "O., primeiros portugueses de Amesterdio” cit, pp 78.78; SR il (1) p-124 sobre negocios de Afonso Fidalgo © Manuel Lopes Homem (1604) (16) SR X (2) p. 218; H. P, Salomon, artigo antes citado, pp. 35-38 H. P, Salomon, artigo it. p. 76. de 1a Santa Companhia de dotar fis e donzela 78) LS, Révah, "Les, deb ional de Bibliografia Luso-Brasilera, pobres dAmsterdam", Boletim Inde FoL'IV (Lisboa 1963) pp. 658-659 e‘Tustragio em face da folha 656, (79) Ver nota (22) deste capitulo. (80) Eduardo Oliveira Franga © Sénin A, Siqueira, "Segunda Visitagio do Santo Oficio a partes do Brasil” (1618-1620), Anais'do Museu Paulista vo XVII (S Paulo 1963) p. 509. (81) Os registros notarisis de Amsterdam relativos aog judeus portugueses ‘no periodo 1596-1659 vim senco publieados na revista Sdudia Résenthaliana 2 University Library of Amsterdam e Bibliothees Rosentheliana desde 1967 (62) SR XIII (2) p. 294; XIV (1) p. 100 e XV (1) p.160, 83) TT, I. Lisboa proce $237 ae janho de L620 3.157 de Manuel Homem de Carvalho, depoimento (84) Denunciacdes de Pernambuco pp. 188 « 258, Duarte de Albuquerque Coelho fat Memdrias Didrias da Guerra lo Bras! (Recife 1981) p. 303 meneona que tim André Gomes Pina fora ferido com uma flechada na Garriga em novembro ide 1636 nam encontzp entre indios e holandeses na Paraiba, Nao seria 0 hhoménimo que ets senhor de engenlno emt 1998, (85) TT, I. de Lisboa processos de Leonor de Pina e de Branca de Pina (86) SR XII (1 ¢ 2). Sobre Duarte Es wes de Pina ver SRV (2) p. 244v (87) SR XIV (1) pp. 99-1 XV (1) p. 153, 88) TT, I. de Lisbon, processo 87 de Joio Nunes. Em certo exso ocarrido em Iparagu’ entio pequenn vile ao norte de Olinds, ha difeuldade de convocar 0 Gavidot du Vata Ecesidetiea, aa procosso de blusfemin conten um crstio. hove fol promovid pelo Juiz da Chmara, n partir de ceria densnein, endo depois o proceeso extcaminhado aguela autoridade. 0 denuncindo era Bento Telxeira €'0s autos do processo ednstam em traslade do procesea contra movido pela Inguisigno Ge Lisbon, na TT, J, de Lisbon processo 6. (89) TT, I. de Lisboa, processo B85 de Joo Nunes (90) Denunciagdes de Pernambuco pp. 800 e $06. 18 fs, 116 (91) TT, Caderno do Prom (92) TT, idem, idem, fs 7 92).1 A, Gonsalves de Mell, "Cristivio Rausch, um o (e17-1619" Borules Universttarios (Revisit da Pernambuco) vol. 18 n° 4 outubro

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