You are on page 1of 10
R. Fac. Educ., Shc Paulo 10(1/2):188-178,Jan./dez.1 880. RESENHA: EDUCAGAO E PODER, be micHacr APPLE TRADUGAO DE MARIA CRISTINA MONTEIRO PORTO ALEGRE, ARTES MEDICAS, 1989. 201P. (TITULO ORIGINAL: EDUCATION AND POWER, BOSTON, 1985). Thimoteo CAMACHO* Em Educag&o e Poder. Apple visa & ampliagGo da compre- ensfo da socledade, enriquece a abordagem da perspectiva das classes sociais (teoria marxista) e incorpora as nogées de género e raga. O texto faz referénclas explicitas ao feminismo socialista. & cultura vivida dos estudantes. & experléncla de ser negro e mulato e pobre, aos trabalhadores e aos jovens progres- sistas. O livro & a continuagdo e atuatlzagéo de um outro trabalho de Michael Apple. muito citado, Ideologia e Curriculo {tdeology and Curriculum. Boston, Routledge and Kegan Paul. 1979), tendo sido escrito em 1984, no cilma de crise mundial do capitatismo e da retomada do avanco da direita nos Estados Unidos. com a eleig¢&o de Ronald Reagan. com folgada vantagem. para © segundo mandato. A crise do sistema penaliza sobretudo as camadas mais pobres da populagéo. como demonstram cifras nada animadoras do livro de Manuel Castells, The Economic Crisis and American Society. reproduzidas no texto: “Precisamos estar lembrados. por exemplo, de que um em cada sete americanos vive na pobreza, assim como uma em cada cinco criangas. Essas cifras nfo estéo diminuindo: elas aumentam xoravelmente devido & polftica econémica, soci tar, de saide e de educagdo da atual administragaéo. Estamos, na verda- de, movendo-nos em diregao ao que se chama econo- mia de pico duplo & medida que os ndmeros crescem nos extremos.”’ (p. 12) * Professor de Soctologia do Departamento de Teorla Geral do Oirelto de Faculdade de Diretto de Pontificia Universidade Cetélice (PUC) de Sto Paulo. 170 THIMOTEO CAMACHO Paralelamente ao ressurgimento de direita e & exacerbagaéo de tendéncias que acentuam a crise do sistema, Apple denuncia a acentuada mercantilizagéo da educagdo, bem como a crescen- te influéncia das grandes empresas e do complexo militar sobre as escolas, em todos os niveis, nfo s6 nos Estados Unidos, como na Europa e na América Latina Apesar de tudo isso, o texto 6. até certa ponto, otimista. pois © autor nfo cré em uma vitéria monolitica das ideologias dos poderosos. identificadas como Capital. Patriarcado e Racismo. E aponta solucées. Estas so encontréveis na RESISTENCIA dos trabaihadores das ffbricas. das minas. dos escritérios e das escolas. As novas formas de resisténcia podem ser localizadas néo apenas a nivel macro (economia. politica). mas também vivenciadas no cotidiano e na cultura e experienciadas no local de trabalho e nas reiagées de classe. raga e género. Algumas questées desenvolvidas no texto e que merecem destaque sdo as seguintes: sob que formas complexas e contraditérias as esco- las estéo relacionadas com outras instituigées? quais as respostas que as pessoas dentro @ fora da escola déo a essas contradigées e tensdes? as analises mais recentes das relagdes e respostas - inctuindo algumas das pesquisas marxistas mais inte- ressantes - revelam isso de forma adequada? - como os processos de produgao cultural e econémi- ca € 0 de contestagéo est&o relacionados na escola? + as reformas atualmente propostas sao adequadas para lidar com essas complexidades? - © que os educadores e outras pessoas progressistas podem fazer a respeito dessa situagdo? As respostas a essas questées. diz Apple, virdo através da descrigéo das pesquisas a respeito da escola e da reprodugao cultural e econémice bem como do confronto com suas préprias opinides. Apple afirma que a crise estrutural tem efeitos sobre o processo de trabalho e que as escolas como instituigdes cultu- rails ‘‘refletem’’ as mudangas no processo de trabalha, na cultu- ta, na legitimidade. As escolas néo tém sido Instrumento de igualdade e democracla. como seria desejdvel. As criticas tém mostrado que. ao contréric. as escolas. através do curriculo explicito e do currlculo oculto, tém contribuldo para reproduzir A. Fee. Educ., Sio Pauio, 18(1/2):188-178, Janfdez. 1990 EDUCACAO E PODER 174 @ ordem social e a estratificagao iniqua em termos de classe, raga 8 género. Pensadares como Baudelot. Althusser, Bourdieu e Establet (Franca. Bernstein. Young, Whitty (Inglaterra), Gramsci (Italia), Bowles & Gintis e o préprio Apple (EUA). tém demonstrado que o sistema educacional e cultural & elemento importante na manutengéo e repredugéo das relagdes de exploragdéo e dominagéo da sociedade capitalista. Apple marca a sua posi¢éo afastando-se tanto das anélises que tomam a escola como o problema (ao invés de tomé-la como parte de um quadro mais amplo na estrutura social), como daqueles que entendem que as escolas estéo téo Integradas no quadro mais amplo. que nada se pode ganhar atuando nelas. “A minha prépria andlise me jeva. portanto. a duas cautelas: dar-se conta de que entender as escolas e atuar nelas nfo é suficiente. mas também saber disso e ignoréd-las & simplesmente errado. Como tentarei demonstrar. na verdade. o sistema educaclonal exatamente por causa da sua localizacao no interior de uma trama mais ampla das relagées socials - pode constituir um importante terreno no qual as agoes mais significativas podem ser desenvolvidas.” (p.27) Pode-se esquematizar o texto nas seguintes (inhas mestras: a) descrigéo de um trabalho de orientagao marxista para perceber como enfrentar a questao central da reprodugaéo: b) descrigéo do desenvolvimento do pensamento do autor, partindo de seu trabalho Ideologia e Curriculo (1979); ©) propostas para a agio possivel. Ao analisar a relagdo entre curriculo e reprodugdéo, Apple critica a pretensa neutralidade da busca do método mais eficlen- te na elaboragéo dos curriculos. A suposta neutralidade das instituigdes de ensino. do conhecimento ensinado. dos seus métodos e agées. tém ajudado a legitimar as bases estruturals da desigualdade. Em oposig&o. o autor apresenta o concelto de legitimagéo. clitando Wittgenstein. para afirmar que o significa: do da IiInguagem est&é em seu uso, Mas 6 preciso também examinar a forma como o sistema de exploragéc e dominacao persiste e se reproduz, sem que isso A. Fac, €due., Sio Paulo, 18(1/2):189-178, jan.fdez. 1990 172 THIMOTEO CAMACHO seja percebido conscientemente pelas pessoas envolvidas, especialmente na educacéo. Rejeitar a neutralidade da instituigdéo educacional diante do sistema global nfo significa. para Apple. aceitar modelos tedricos da reprodugéo. como t&ém sido elaborados até agora. Ao contrério, o autor critica o que considera ser mecanicismo do modelo base-superestrutura. As escolas nao sao ‘‘meramente’’ instituig6es de reprodugéo que véem nos estudantes agentes passivos de mensagens pré-fabricadas. Se em certa medida 6 ineg4vel que ocorre a reprodugdo, deve-se considerar que isso se dé ndo sem atrito ¢ contradigées. O autor diz que algumas andlises, entre elas as da reprodugaéc ou correspondéncia, continuam a tratar a escola como uma caixa preta. e isto o deixa téo insatisfeito como as andlises tradicionais: a escola tratada dentro do modelo input-output. Para superar as andlises da educag&o @ do curriculo e suas ligagdes com o mundo mais Apple propée que se avance com o uso de técnicas vi histéricas, econémicas, culturais e etnograficas. O autor faz uma opgdéo pela esquerda, elaborando uma anélise neo-marxista da cultura, negando as teorias liberais e propondo avango e teformulagées as andlise reprodutivistas, permitindo que estas possam incorporar as contradig¢ées e as resisténcias. Q avango proposte deve examinar a contestagéo e a resisténcla no Interior das InstitulgSes, no préprio local de trabalho, quer seja a escola, o escritério, a mina ou a fabrica, “Os homens e as mulheres trabalhadores aparecem envolvidos em atividades pUblicas e informais que deixamos de perceber quando falamos apenas 6m termos reprodutivos.” (p.40) Para perceber o “outro lado do curriculo’’ séo necessérios estudos etnograficos que consideram o cotidiano e histérias de trabalhadores no local de trabalho, onde efetivamente se encon- tra a resisténcia e a contestagdo. Outro ponto tratado no texto refere-se & relag&o entre o conhecimento técnico @ o “ajustamento-desajustamento” dos estudantes onde a anadlise proposta 6 estrutural, isto 6, consi- dera tanto as condigées internas como externas de escola. A nogéo de desajustamento vé o sistema escolar como meritocra- tico, o que 6 criticado: R. Fac. Educ., Sfo Paulo, 18(1/2):189-178, Jen/dez. 1080 EDUCACAO E PODER 473, “Esperarlamos que a relag&o entre as notas nos tes- tes escolares e o éxito na vida adulta aumentasse com o tempo, e que a relagéo entre a origem familiar e o éxito adulto calsse. Nada disso esté ocorrendo.”” (p.68). O que ocorre, diz Apple, é uma ‘‘amplificagéo dos desajus- tamentos”’ realizada pela escola. Nesse ponto o autor concorda com Althusser, que define a escola como aparelho ideolégico do Estado, desde que sejam relacionados os niveis econémico @ cultural em termos de interagéo. As escolas séo agentes repro- dutivos, como dizem os teéricos da reprodugdéo. mas também ajudam a produzir, sfo érgéos e agentes do processo de produ- go, criagéo 6 recriagGo de cultura dominante. Para © autor, tanto os teéricos do capital humano (meritocrecia, “‘neutralidade’’), como os teéricos da alocagdo (as escolas distribuem os indivi- duos pelos seus lugeres apropriados, dentro da divisao hierér- quica do trabalho) entendem a escola como agente da distribui- G@o. Apple concorda e simpatiza com os teéricos da alocagao (economia politica da educag&o). “‘'Entretanto, ambas as posi- gdes, e de modo especial qualquer posi¢éo que queira compre- ender plenamente o lugar da escola na reprodugéo da desigual- dade, devem ser complementadas por um foco concol escola como uma instituigéo produtiva 6 nao somente reprodu- tiva.” (p.60-61) O texto discute também o crescente papel da intervencéo do Estado, tend8ncia que se acentua a partir da Ii Guerra Mun- dial nos paises desenvolvidos. Até 1930 o Estado reservava o seu pape! de atuagaéo a distribuigdéo e recrutamento, mas tem atuado cade vez mais na produgéo. O Estado regula. controla e subsi- dia interesses especiais, principalmente na inddstria armamen- tista, intervém também no sentido da expanséo do mercado, comercializagao dos produtos e aparelho militar na absorgao da mao-de-obra dos trabathadores ‘‘excedentes’, através do aumento do ndmero de funcionérios. A tend&ncia dessa interven- Gao nos vérios setores da sociedade € a socializagao das per- das e a privatizagéo dos jucros. Nesse aspecto, a escola fespon- de as necessidades de acumulacgéo do capital e da legitimagéo do Estado. O conhecimento 6 pensado como mercadoria, no sentido metafdrico. As suas andlises. diz Apple. néo devem conduzir ao pes- simismo. pols apontam para as contradigdes que podem e devem ses exploradas. O papel que o Estado exerce no processo de produgéo cultural e econémica situa-se na esfera politica. A. Fee. Edue., Sho Paulo, 16(1/2):169-178, janfdez. 1980 174 THIMOTEQ CAMACHO podendo, portanto, apontar para os conflitos, o que o deixa sujsito a criticas. A esfera politica pode tornar-se um campo de luta que ponha em risco a esfera econémica. Alguns exemplos de atuagdo nessa linha: fazer presséo nas escolas de engenharia para alcancar uma “‘engenharia democrética’’; a nivel de adminis- tragéo pode-se desenvolver esforgos para uma distribuigéo igualitéria da administragéo 6 da geréncia, para uma ‘‘administra- go democratica’; reduzir o poder ideolégico do ‘expert’ competente; ‘‘democratizagaéo do conhecimento técnico-admi- nistrativo’’ Frente & constante degradacao do trabalho que atinge os trabathadores das escolas. minas. fabricas e escritérios (e que atinge principalmente as parcelas mais pobres dos assalariados e. alnda. mais acentuadamente. as mulheres). Apple contrapée como alternativa as FORMAS DE RESISTENCIA; luta pelo salario. controie da produ¢&o. greves de carfter néo apenas econdmi- co, busca da cogestdo. O texto cita pesquisas realizadas a nivet da cultura do trabalho, que exemplificam formas de resisténcia de trabalhadores negros nas minas ¢ de mulheres. cuja pratica cotidlana elabora anti-normas, como operacéo tartaruga, sabo- tagem etc.. que se contrapéem ao controle excessivo do capi- tal. Appie enfatiza que a resisténcla. tanto a nivel da agéo como do seu entendimento, extrapola a classe social. incluindo o género e a raga. pois & perceptivel a nivel polftico. econdmico. cultural e na vida cotidiana. Assim. a cultura da feminilidade 6 entendida a partir da relag&o entre o capitalismo e o patriarca- do. classe e género. Angela MacRobbie. citada no texto. reali- zou pesquisas envolvendo garotas da classe operéria e da classe média. mostrando como elas experienciam classe e género no cotidiano como forma distinta de vida. Essa autora mostra que as formas culturais das jovens so vistas como marginals. devido ao fato delas serem freqiientemente empurra- das para a periferia da sociedade peia dominagaéo masculina. “tima formagéo social precisa ser compreendida como sendo constituida como - isto &. como sendo ativamente reconstrulda - sob os fundamentos das relagdes tanto de género quanto de classe. Os dois. classe e€ género, nfo s&o separados, mas articula- dos.” (128). A. Fac. Edue., Sho Paulo, 16(1/2):180-178, jan/der. 1980 EDUCACAO E PODER 175, A partir das pesquisas de Willis e MecRobbie. Apple conclui que a diviso sexual do trabalho nao resulta de uma divisdéo a partir do capital, mas o capital @ que construiu as suas prdéprias isdes: a partir das divisées sexuais ja existentes. As relagéea patriarcais, de género e de classe, néo sao redutiveis uma a outra, mas dificilmente podem ser separadas. “A divisfo sexual do trabaitho estruturada com base na dominagéo masculina € “colonizada’, ‘arrebatada’ elas estruturas do capital’. (Citagéo de Lucy Blond et alli, Women ‘tnside’ and ‘Outside’ The Relations of Production). Citando Paul Willis (Learning to Labor & Profane Culture). jembra que os padrées culturais que dominam a classe trabalhadora entre os rapazes leva & afirmagéo da masculinidade, do ser “‘duréo’’. Para as gerotas emerge a recriagao da feminilidade, onde a abstrag¢ao da situagéo de classe se dé através do uso refinado de roupas, na postura 6 na linguagem. Apple introduz. a seguir, a varidvel raga na compreensdéo de varios segmentos da classe trabalhadora. discutinda a experiéncia de ser negro ou mulato @ pobre, Por exemplo, jovens negros da Inglaterra desenvolvem padrées de cultura afro- caribenha como forma de contestagéo que séo semelhantes aos encontrados nos guetos e nos centros “‘decadentes’’ das cidades norte-americanas. A cultura desses jovens é vivida em termos de uma sutil “conscléncia’’ de que a cultura da escola e curriculo desconhecem a experiéncia e @ cultura negra. A adogao do CREOLE como lingua e como mecanismo tanto de excluséo como de solidariedade mGtua manifesta-se a nivel de resisténcia lingiistica. Ocorre entéo. como entre os rapazes e as mogas discutidos anteriormente. a contestagéo e a resisténcia. “QO creole atua como ‘Indice vive’ da amplitude da alienagdo negra em relagdo as formas, aos valores € aos objetivos daquetes grupos que ocupam as posi- goes mais elevadas da sociedade”. (p.129). Do lado dos estudantes 6 preciso pensar no que 6 ensina- do. 0 contetido do que ensinado. Por exemplo. deve ser pen- sada a introdugdo da histéria das lutas dos trabalhadores. dos programas socialistas feministas e das lutas dos negros. como espago coletivo de engajamanto @ mudangas curriculares. Mas & preciso ser realista. diz Apple. pois sé introduzir novos conhe- cimentos pode nao ser suficiente. E precise pensar conjunta- mente numa estratégia socialista de agéo. Sempre haveré espa- A. Fac. Educ. Séo Paulo. 16(1/2):189-178 jan/dez. 1990 176 THIMOTEO CAMACHO gos de atuagao: cultura vivida dos estudantes; experiéncia de ser negro ou mulato @ pobre; trabalhadores e jovens progressis- tas; consciéncia feminista socialista. Através do curriculo se d& o controle do capital e do Esta- do sobre a educagaéo. Apple cita trés tipos de controle de traba- Iho. a fim de tornaé-lo mais produtivo para o capital: a) controle simples ou expifcito: b) controle técnico (menos ébvio. opera- clonalizado a partir da tecnologia numérica da inddstria, onde o trabathador age sob o ritmo da maquina): c) controle burocrati- co (significa uma estrutura social em que o controle & ainda menos visivel), Os principios desse controle séo definidos pela relagao hierarquica no local de trabalho. onde devem imperar regres impessoais de diregaéo e procedimento pare avaliagdéo do desem- penho tomadas como medidas oficiatmente aprovadas. A tentativa de controle na escola. por sua prépria nature- za retativamente aut6noma, @ dificil, a nivel simples ou burocré- tico. Néo obstante, a escola tem sido imune ao controle técnico onde, pelas formas do curriculo, entram os “‘pacotes pré-fabri- cados” @ caixas de material de ciancia. matematica. leitura. Sao os ‘‘sistemas’ ou ‘‘médutos’. A conseqiéncia para os profes- sores na escola. como para os operarios na fabrica. 6 a desqua- lificacgdo,. Esses materiais pré-fabricados sao formas de controle do trabalho dos professores. Mas o curriculo embutido pode pre- ver a resisténcia dos professores em aceité-lo, procurando “fazer cera’ ou alterné-lo com outros métodos e materiais. Apple diz que forma e conteido devem ser pensados conjuntamente “Devemos admitir que podem haver elementos pro- gressistas dentro do conteido do curriculo que contradigam as mensagens da forma... E 6 na interagéo entre forma e conteddo e a cultura vivida dos estu- dantes que as subjetividades sao formadas’’. (p. 170) Concluindo, canvém que se destaque os principais aspec- tos discutidos em Educagaéo e Poder, de Michael Apple. © autor desenvolve uma critica conceitual e empirica do que chama teorlas mecanicistas da reprodug&o. ou melhor. aos aspectos mecanicistas das teorias reprodutivistas ou da corres- pondéncia. sem negar as ‘‘determinagées’ que existem. Na verdade. o que faz 6 relativizar e chamar a atencgéo para os aspectos contraditérios da reproducéo. Afirma que néo se pode reduzir todos os aspectos da forma e do contetdo do curriculo A. Fac. Edus., Séo Paulo, 18(1/2):189-178, Jandez. 1090 EDUCACAO E PODER v7 explicito e do curriculo oculto das escolas ao nivel econémico. Mesmo quando a educagéo ‘‘funciona’’ néo 6 possivel entends- laa partir dos seus aspectos de funcionalidade. Seria anti- dialético, diz Apple. tratar a cultura e a politica como meras imagens reflexas da classe dominante. Reconhece que relacées importantes entre as esferas polftica, cultural e econdmica, sendo a Ultima bastante poderosa. Reconhece ainda a existéncia de condigées materiais e ideoidgicas que fundamentam a permanéncia de boa parte de nossa formagaéo social. mas cheame @ atencaéo para a autonomia relativa das varias inst@ncias 6 das contradigées que entre elas existem. Ver a cultura e @ politica como locais de luta significa tomar a escoia como esfera do trabalho contra-hegeménico importante: “Se as formas e o conteddo do Estado (assim como a economia) sao inerentemente contraditérios. se essas contradig¢ées sao experienciadas na prdpria escola, por protessores e alunos. entéo a gama de agdes possiveis amplia-se consideravelmente’. (p 182) Apple procura construir uma disciplina que seja critica das categorias claramente economicistas e reducionistas e que. no seu entender. tém sido danosas & teoria e & tradig&o marxista. Uma disciplina que. ao mesmo tempo. questione a escola. pondo as claras a dominac&o e as ralzes da exploragdo existentes. Isso néo & tarefa facil. como reconhece o préprio autor, mas & possivel hoje. quando se vive um perfodo de intensos debates critlcos no interlor da esquerda. Como estratégia de agdo. pois. a critica e a denincia sao insuficientes, Apple propée a agao politica ¢ cultural no cotidiano, no local de trabalho. onde melhor se pode desenvolver a resisténcia. A taética aqui seria tomar da direita a bandeira da democracia, Defender a democracia para a construgéo da sociedade socialista. Isso 6 fundamental. especialmente em um ambiente de ressurgimento da direita “A democracia torna-se palavra de ordem ndéo apenas para unir as vérias fragées da classe trabalhadora mas também para unificar as reals lutas politicas ¢ econd- micas daquela classe.” (p. 187) A. Fac, Edue., Séo Peulo, 18(1/2):189-178, jan/dez. 1900 178 THIMOTEO CAMACHO Apesar das condigées adversas, Apple 6 otimista em rela- ¢éo so futuro. Cita alguns exemplos de grupos de resisténcia figados a educagéo e@ que sdo atuantes, como o Rank and Fill, na Inglaterra, © Women’s Education Press, no Canada, o Boston Women’s Teachers Group, nos Estados Unidos. Esses grupos buscam combinar agdes contra ag relagées patriercais, contra o racismo e contra a@ introdugéo de técnicas e interesses da direita. A agdo politica e educacional deve ser seguida de um trabalho teérico e de pesquisa que lute pela introdugdo da histéria dos modelos socialistas no curriculo. Deve-se buscar ainda canais de comunicagdéo que incluam n@o apenas os profes- sores, mas também os alunos, pais e jovens da classe trabaiha- dora, Concluinds, Apple reproduz o programa de transigéo pro- posto por Carney e Shearer. @ que possa construir um movimen- to de longo prazo, estruturalmente orientado, e que contenha o que chama de reformas nao reformistas. Esse programa de transigéo deveria conter as seguintes caracteristicas: “deverla aumentar o poder das pessoas em relagéo as suas vidas e reduzl o poder das empresas e dos ricos; deveria ser facilmente explicdvel &s pessoas @ traduzido em medidas claras como leis, referendos populares e reivindica- gées organizadas: deveria ter uma forma simptes de identifica: Gao (tal como EPIC - End Power In California nos anos 30); seus elementos deveriam, em teoria. ser realizéveis ao nivel da luta polltica na quai as pessoas sfo envolvidas- governo do estado e das cidades: tanto quanto possivel, deve estar relacionado as necessidades das pessoas em suas vidas cotidianas; e. final- mente, o programa deveria refletir aquela parte da populagéo que poderia compor um movimento da maioria em favor da mudanca.” (CARNOY. Martin and SHEARER. Derek. Economic Democracy. N- Y.. White Plains, 1980. p. 191). (Recebido para public: ¢ Wiberado em 18.04.99) fo em 27.03.90 R, Fac, Edus., Sto Paulo, #6(1/2):180-178, jan/dez. 1900

You might also like