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RECURSO ESPECIAL N° 1.117.563 - SP (2009/0009726-0) RELATORA MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE —: SANDRA APARECIDA PENARIOL DUARTE ADVOGADOS FRANCISCO CASSIANO TEIXEIRA E OUTRO(S) RENATO OLIVEIRA RAMOS RECORRIDO —_: ROSEMARI APARECIDA AFFONSO ADVOGADO _: LUIZ JOAQUIM BUENO TRINDADE E OUTRO(S) EMENTA Direito das sucessdes, Recurso especial. Inventérie, De cujus que, apos 0 falecimento de sua esposa, com quem tivera uma filha, vivia, em unio estivel, ha mais de trinta anos, com sua companheira, sem contrair matriménio. Incidéncia, quanto, d-voeagao hereditéria, darregra do art. 1.790 do CC/02. Alegagio, pela fillsa, de que aegra é mais favoravel para convivente que a norma do art. 1829, 1, do CC/02, que incidiria caso o falecido e Sua companheira tivessem se casado pelo regime da comunhaa parcial. Afirmagdo de que a Lei no pode privilegiar a uniao estavel,em detrimento do casamento. =0 art. 1.790 do CC02, que regula a sueesstio do ‘de cujus' que vivia em comunhdo parcial. com sua companheira, estabelece que esta concorre com os Jithos. daquele na heranca, calculada sobre todo 0 patriménio adquirido pelo ‘falecido, durante a convivéncia, - A regra do art. 1.82% I, do CC/02, que seria aplicével caso a companheira tivesse se easado com o ‘de cujus’ pelo regime da comunhio parcial de bens, tem interpretagdo muito controvertida na doutrina, identificando-se trés correntes de pensamento sobre_avmatéria: (i) primeira, baseada no Enunciado 270 das Jornadasede:Direito Civil, estabelece queasucesstio do cénjuge, pela comunhio parcial, somente se dé na hipdtese em que o falecido tenha deixado bens particulares, incidindo apenas sobre esses bens; (ii) a segunda, capitaneada por parte da doutrina, defende que a sucessdo na comunhdo parcial também ocorre apenas se o ‘de cujus' tiver deixado bens particulares, mas incide sobre todo 0 patriménio, sem distingdo; (iii) a terceira defende que a sucessdo do cénjuge, na comunhdo parcial, sé ocorre se 0 falecido néo tiver deixado bens particulares. - Nao é possivel dizer, aprioristicamente ¢ com as vistas voltadas apenas para as regras de sucessio, que a unido estével possa ser mais vantajosa em algumas hipéteses, porquanto 0 casamento comporta inimeros outros beneficios cuja mensuragao é dificil - E possivel encontrar, paralelamente as trés linhas de interpretagéo do art. 1.829, I, do CC/02 defendidas pela doutrina, um quarta linha de interpretagao, que toma em consideragiio a vontade manifestada no momento da celebragao do casamento, como norte para a interpretagdo das regras sucesséorias. ~ Impositiva a andlise do art. 1.829, I, do CC/02, dentro do contexto do sistema juridico, interpretando o dispositive em harmonia com os demais que enfeixam a tematica, em atenta observancia dos principios e diretrizes teéricas que the dio forma, marcadamente, a dignidade da pessoa humana, que se espraia, no plano da livre manifestagdo da vontade humana, por meio da autonomia privada e da consequente autorresponsabilidade, bem como da confianga legitima, da qual brota a boa fé: a eticidade, por fim, vem complementar 0 sustentéculo principiolégico que deve delinear os contornos da norma juridica ~ Até 0 advento da Lei n.° 6,515/77 (Lei do Divarcio), vigeu no Direito brasileiro, como regime legal de bens, 0 da comunhéo universal, no qual o cénjuge sobrevivente ndo concorre i heranca, por jé the ser conferida a meagiio sobre a totalidade do patriménio do casal; a partir da vigéncia da Lei do Divércio, contudo, 0 regime legal de bens no casamento passou a ser 0 da comunhdo parcial, 0 que foi referendado pelo art. 1.640 do CC/02 - Preserva-se o regime da comunhdo parcial de bens, de acordo com o postulado da autodeterminacdo, ao contemplar o cénjuge sobrevivente com o direito & meacdo, além da concorréncia hereditéria sobre os bens comuns, mesmo que haja bens particulares, os quais, em qualquer hipétese, so partilhados apenas entre os descendentes. Reourso especial:improvido, ACORDAO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiga, na conformidade dos votos e das notas taquigréficas\constantes dos autos, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos,do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Sidnei Beneti, Vasco Della Giustina e Paulo Furtado votaram com a Sra. Ministra Relatora. Brasilia(DPYP17 de dezembro’de 2009(data'd6 julgamento) MINISTRA NANCY ANDRIGHT Relatora RECURSO ESPECIAL N° 1.117.563 - SP (2009/0009726-0) RECORRENTE SANDRA APARECIDA PENARIOL DUARTE ADVOGADOS FRANCISCO CASSIANO TEIXEIRA E OUTRO(S) RENATO OLIVEIRA RAMOS RECORRIDO —_: ROSEMARI APARECIDA AFFONSO ADVOGADO __: LUIZ JOAQUIM BUENO TRINDADE E OUTRO(S) RELATORIO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator): Trata-se de recurso especial interposto por SANDRA APARECIDA PENARIOL DUARTE €m face de ROSEMARLAPARECIDA AFFONSO, objetivando 4 reforma de agérdao exarado pelo TI/SP no julgamento de agravo de instrumento. Procedimento especial de jurisdi¢ao contenciosa: de inventario dos bens deixados por\GENESIO LUIZ PENARIOL, pai da ora recorrente e companheiro da recorrida, Atualmente, ¢ a filha, ora recorrente, quem exerce 0 cargo de inventariante no processo. A controvérsia se estabelece em toro da titularidade da heranga. O inventariado foi casado, inicialmente, com DIVA APARECIDA ROSALIS PENARIOL, de cuja unido resulfow'o"Hasciment6 da récorrenté,"Sua"ptimeira e tnica filha. Apés 0 tavel com a ora recorrida, falecimento de sua esposa, o inventariado constituin unido ROSEMARI APARECIDA AFFONSO, junto de quem viveu por mais de trinta anos, de 1973 até a data de sua morte, em 1°/3/2006, No periodo anterior & unido estavel, 0 falecido angariou alguns bens, mas a maior parte de seu patriménio foi constituida no curso de seu relacionamento com a recorrida, A principal parcela da controvérsia ora discutida se estabeleceu em torno da interpretago da regra do art. 1.730, do CC/02. © Juizo de 1° Grau determinou, por decisio, que o patriménio do falecido, adquirido na constancia de sua unio estavel, fosse dividido da seguinte forma: 50% dos bens se destinariam 4 companheira, por forga da meagio (art. 1.725 do CC/02); e o remanescente seria dividido entre ela e a filha do de cujus, na proporgao de dois tergos para a filha e um tergo para a companheira (art. 1.790 do CC/02). Com isso, do montante total do patriménio ndo-reservado do de cujus, sua companheira deteria 66,6% e sua filha, 33,3%. Agravo de instrumento: interposto pela filha. No recurso, ela argumenta que a divisdo determinada pelo Juizo de Primeiro Grau implicaria interpretagao absurda para a norma do art. 1.790 do CC/02, & medida que coneederia 4 mera companheira mais direitos suc sorios do que ela teria se tivesse contraido matrimonio, pelo regime da comunhao parcial, com o de cujus. O Tribunal negou provimento ao agravo, nos termos da seguinte ementa: "SUCESSA0 DA COMPANHEIRA. Heranga. Meagéo. Inconstitucionalidadewsdo artwl:790elledosGOW2, Farta discussto doutrindria, quedo justifica a ampliagao ou reducao do texto legal pelo intérprete e/aplicador do direito. Inconstitucionalidade nao ocorrente, na hipétese. Companheira sobrevivente que faz jus & meagdo e mais a metade do que couber & herdeira na partilha dos bens adquiridos onerosamente na vigéncia da unido estavel. Inteligéncia dos art. 1.725, 1.790 Il, 1.829, I do CC/02 e do art. 226 §3° da CF. Recurso improvido." Recursos especial, interposto com fundamento na alinea "a" do permissivo, constitueional. A recorrente.alega:violagdo aos arts. 1.790, II, 1.829, I e 1.725, todosido CC/02, bemomo a normado art. 984 doCPC. O recurso especial no foi admitido, na origem. Todavia, para melhor andlise da controvérsia determineia subida desse recurso por ocasiio do julgamento do Agravo de Instrumento n° 1.007.964/SP. Recurso extraordinario: interposto. Medida cautelar: proposta visando atribuir efeito suspensivo ao referido recurso especial (MC n° 14.509/SP), cuja liminar foi deferida, em julgamento colegiado, pela 3* Turma, nos termos de acérdio com a seguinte ementa: "Medida cautelar. Atribuigdo de efeito suspensivo a recurso especial. Inventario. De cujus que, apés o falecimento de sua esposa, com quem tivera uma filha, vivia, em unido estivel, hd mais de trinta anos com sua companheira, sem contrair matriménio. Incidéncia, quanto 4 vocagio hereditaria, da regra do art. 1.790 do CC/02. Alegasao, pela filha, de que a regra & mais favordvel para a convivente que a norma do art. 1829, 1, do CC/02, que incidiria caso 0 falecido e sua companheira tivessem se casado pelo regime da comunhio parcial. Afirmagdo de que a Lei néo pode privilegiar a unidio estavel, em detrimento do casamento. Medida liminar parcialente deferida, apenas para determinar a partilha, no inventério, da parcela incontroversa do patriménio, promovendo-se reserva de bens - O art. 1.790 do CC/2, que regula a sucessio do ‘de cujus que vivia em uniGo estével com sua companheira, estabelece que esta concorre com os filhos daquele na heranga, calculada sobre todo o patriménio adquirido pelo falecido durante a convivéncia, Trata-se de regra oposta a do art. 1.829 do CC/02, que, para a hipotese de ter havido casamento pela comunhdo parcial entre o ‘de cujus’ e a companheira, estabelece.quea eranca do~confugeWncida apenas sobre os bens particulares. - A diferenca nas regras ‘adotadas pela cédigo para um e outro regime gera profundas discrepdncias, chegando a criar situagées em que, do ponto de vista do direito das sucessoes, é mais vantajoso nao se casar. = Acdiscussdo quanto a legalidade da referida diferenca é profindamente relevante, dé modo que se justifica o deferimento da medida liminary. pleiteada em agdo cautelar, para o fim de reservar os bens controvertidos no inventdrio ‘sub judice', admitindo-se a partitha apenas dos:incontroversos. Medida‘liminar parcialmente deferida,!” E o relatério. RECURSO ESPECIAL N° 1.117.563 - SP (2009/0009726-0) RELATORA MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE —: SANDRA APARECIDA PENARIOL DUARTE ADVOGADOS FRANCISCO CASSIANO TEIXEIRA E OUTRO(S) RENATO OLIVEIRA RAMOS, RECORRIDO —: ROSEMARI APARECIDA AFFONSO ADVOGADO LUIZ JOAQUIM BUENO TRINDADE E OUTRO(S) voTO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator): 1 -Delimitagao da controvérsia Cinge-se a ¢ontrovérsia a estabelecer como se divide a heranga na hipétese em que 0 de\cujus deixow companheira, com quem nfo contraiu casamento, ¢ um herdeiro, advindo, de matriménio anterior. O foco da questio esti na interpretagio conjunta das seguintes normas: (i),art, 226, §3°, da CR, que trata da protecao da Unio Estavel; (ii) art, 1.725 do CC/02, que equipara, quanto aos efeitos patrimoniais, o regime da unio estavel e 0 do casamento pelo regime da comunhao partial; (iii) art. 1.790 do CC/02, que contém TeEFA especifiea sobre a suctSs{O quando hé unio estével; c, finalmente, (iv) art. 1.829 do CC/02, que regula a sucesso quando ha casamento pela comunhio parcial, em vez de Unido Estavel. II - A garantia da meagao na Unido Estavel Para a solugdo da controvérsia, a primeira observagdo a ser feita é a de que © art. 1.725 do CC/02 estabelece, de maneira clara, a comunhao entre companheiro & companheira de todos os bens adquiridos na constincia da unido estavel. A unio estavel ora discutida ¢ anterior 4 promulgagao do CC/02, mas, ainda assim, tal previsio é mero corolario do que jé dispunha, timidamente, o art. 3° da Lei n° 8.971/94 e, de maneira mais ampla, o art. 5° da Lei n° 9.278/96, na esteira da interpretagao iniciada com a conhecida Siimula n° 380/STF. Ou seja, tanto na hipétese de casamento, como na de unido estével, deve ser, sempre, ressalvada a meagdo ao cOnjuge ou companheiro sobrevivente. Com isso afasta-se, de plano, a pretenso preliminarmente manifestada no recurso, de retirar da recorrida, companheira do de cujus por mais de trinta anos, o direito de receber metade do patriménio amealhado durante o longo periodo de convivéncia. III- A sucessiio (arts. 1.790 ¢ 1.829 do CC/02) Estabelecida essa premissa, observa-se que ha duas normas totalmente distintas para regular a sucesso: Uma, para a hipétese de unio estavel (art. 1.790, do CC/02). Outra, para a hip6tese dé casamento (art, 1.829, do mesmo diploma legal). FSpecificaménte no que interessa para a)hipétese sob julgamento, em que concorrem, na heranga,.o companheiro sobrevivente e a filha advinda do primeiro casamento do de cujus, o art, 1.790 do CC/02 dispde, quanto 4 companhcira, o seguinte: "Art. 1,790 A companheira ou 0 companheiro participaré da sucessdddo outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigéncia da.uniao estével, nas condigdes.seguintes: 1 ~ sé concorrer_comedescendentes*86 do autor da heranca, tocar-the-d @ metade do que couber a cada um daqueles”. 6) Ou seja, aplicando-se diretamente essa norma, tem-se que a companheira, aqui, receberia metade de todo o patriménio amealhado pelo casal durante a unitio (meagao - art. 1.725 do CC/02). A outra metade seria dividida entre ela e a tinica filha do de cujus. A filha receberia dois tercos do remanescente e a companheira receberia um tergo. A proporgao, portanto, seria de 66,6% para a companheira e 33,3% para a filha. Frise-se que essa divisio diz respeito apenas ao patriménio adquirido onerosamente depois da unido esti vel. O patriménio particular do falecido ndo se comunica com a companheira, nem a titulo de meago, nem a titulo de heranga. Tais bens serio integralmente transferidos 4 filha. A irresignago da recorrente esté em que tal regra sucesséria seria completamente diferente se 0 de cujus tivesse contraido matrim@nio com a recorrida. Para essa hipotese, o art, 1.829, ine. I do CC/02 determina: Art. 1.829. A sucesso legitima defere-se na ordem seguinte: I~ aos descendentes, em concorréncia com 0 cénjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhao universal, ou no da separacdo obrigatéria de bens (art. 1.640, pardgrafo tinico); ou se, no regime da comunhdo parcial, 0 autor da heranca ndo houver deixado bens particulares; O) A.gedacao ambigua dessa norma tem'suscitado muitas duvidas na doutrina, ¢ trés correnttes se estabeleceram, interpretando tal dispositivo de maneira completamente diferente. Sao elas: IIL1) Primeira corrente: Enunciado 270, da III Jornada de Dir Civil A‘primeira correnté deriva do Bnunciado 270,.da II] Jornada de Direito Civil, organizada pelo Conselho da Justiga Federal, que disp: “Enunciado 270 Art, 1.829: O art, 1.829, inc. I, sé assegura ao cénjuge sobrevivente o direito de concorréncia com os descendentes do autor da heranca quando casados no regime da separagao convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhdo parcial ou participagdo final nos agiiestos, 0 falecido possuisse bens particulares, hipsteses em que a concorréncia se restringe a tais bens, devendo os bens comuns (meagéo) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes."” De acordo com esse entendimento, a sucesso do cOnjuge obedeceria as seguintes regras: (i) se os cénjuges se casaram pelo regime da comunhio universal, 0 sobrevivente nao concorre com os filhos na sucesso, j4 que recebeu suficiente patriménio em decorréncia da meagdo (incidente, nesta hipétese, sobre todo o patriménio do casal, independentemente da data de aquisigao); (ii) se o casamento se deu pela separagio obrigatdria, entendida essa como a separagdo legal de bens, também nio concorrem c6njuge e filhos, porque isso burlaria o sistema legal; (ili) finalmente, se o casamento tiver sido realizado na comunho parcial (ou nos demais regimes de bens), hd duas possibilidades: ( ) se o falecido deixou bens particulares (a semelhanga do que ocorre nestes autos), 0 cénjuge sobrevivente participa da sucesso, porém s6 quanto a tais bens, excluindo-se os bens adquiridos na constdncia do matriménio, porque eles ja so objeto da meagio; (iii.2) se no houver bens particulares, 0 cénjuge sobrevivente nao participa da sucessio (porquanto sua meagio seria suficiente e se daria, aqui, hipétese semelhante 4 da comunhio universal de bens). Para maior ¢lareza, pode-se elaborar um/quadro, demonstrative das regras gerais de sucesso Iegitima, conforme a I* corrente estudada, nas hipdteses em que o falecido tenhadeixado descendentes e cinjuge/companheiro(a) : Regimes Meagao | Conjuge/companheiro herda] Conjuge/companheiro herda bens| ens particulares? comuns? [Unido estavel Sim ‘io ‘Sim, em concurso com os descendentes [(Comunhio universal [Sim Nao Nao |Comunhio parcial Sim™ | Sim, em concurso coms: Nio descendentes |Separagao obrigatoria | Nao Nio Nio definido ISeparagio No, em | Sim, em concurso com | Nao hd, em principio, bens comuns. lconvencional prineipio descendentes. Também corroboram esse entendimento ANA CRISTINA DE BARROS MONTEIRO FRANCA PINTO (atualizadora do Curso de Direito Civil de WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO, Vol. 6 - 37" Ed. - Sao Paulo: Saraiva, 2009, pag. 97), NEY DE MELLO ALMADA (Sucessdes , Sdo Paulo: Malheiros, 2006, pag. 175), entre outros. Frise-se que esse quadro tem, como objetivo, apenas pingar orientagdes gerais sobre a matéria, sem pretensio de debrugar-se sobre as peculiaridades de cada um dos regimes de bens, ou esgotar discussdes doutrinirias e jurisprudenciais que cada um deles pode suscitar. E de conhecimento geral que a interpretagdo das novas regras de sucesso, notadamente o art. 1.829, I, do CC/02, tem gerado intensa controvérsia que, por nao ser objeto especificamente deste processo, nao sera, aqui, esgotada, 111.2) Segunda corrente: Heranga sobre o patriménio total A segunda ¢ majoritéria corrente doutrinéria acerca da interpretagao do art. 1.829, I, do CC/02, defende uma ideia substancialmente diferente. Os seus partidarios, a exemplo dos defensores do Enunciado 270 das Jornadas, separam, no casamento pela comunhao parcial,-a*hipotese.em que o falecido.tenha deixado bens particulares , e a hipétese em/que ele mo tenha deixado bens partieulares (sempre considerando a existéncia de descendentes). Se 0 cénjuge pré-morto nao tiver deixado bens particulares, © supérstite mao recebe nada, a titulo de heranca. Contudo, se o autor da heranga tiver deixado bens patticulares, o cénjuge herda, nas proporgdes fixadas pela Lei (arts. 1830, 1832 ¢ 1837), nfo apenas os bens\particulares, mas todo o acervo hereditario. MARIA HELENA DINIZ defende essa tese com os seguintes fundamentos (Curso de Direito Civil Brasileira v. 6: direito das sucessGes ~20' ed, rev. e atual. de acordo com o Novo Cédig6 Civil Sao Pail: Saraiva;2006, pags. 124 c ss.): (i) a heranga é indivisivel, deferindo-se como um todo unitario (art. 1.791) ‘Assim, nfo ha sentido em dividi-la apenas nas hipéteses em que 0 cénjuge concorre, na (ii) se 0 cénjuge sobrevivente for ascendente dos demais herdeiros, terd a garantia de 1/4 da heranga. Essa garantia é incompativel com sua quase-exclusio, na hipétese em que o falecido tiver deixado poucos bens; Gii) 0 cénjuge supérstite é herdeiro necessério, e ndo ha sentido em Ihe garantir a legitima se ele ndo herdar, no futuro, esse patriménio: (iv) em um regime de separagdo convencional , as partes podem firmar pacto antenupcial disciplinando a comunicagdo dos aquestos, e nao obstante o cénjuge sobrevivente os herdard. Nao hé sentido em restringir tal direito apenas na comunhio parcial; (v) meagio e heranga sao institutos diversos. No falecimento, a meago do falecido passa a integrar seu patriménio, ndo havendo razo para destacé-la para fins de heranga. Para os defensores dessa corrente, 0 quadro supra referido restaria da seguinte forma sempre na hipétese de o falecido ter deixado hens particulares e filhos) Regimes ‘Meacio | Cénjuge/companheiro herda] Conjuge/companheiro herda bens] bens particulares? comuns? [Unido estavel Sim Nao ‘Sim, em concurso com os descendentes [Comunhio universal [Sim Nio ‘Nio |Comunhio parci Sim ‘Sim, €m concurso com os Sim, em concurso com os descendents. descendentes obrigatria|m Nao ‘Nao Nao definido \Separagi Nio, em | Sim, emiconcurso com) | Sim, se os houver, em concurso com| lconvencional principio descendentes 5 descendentes IIL.) Terceira corrente: Interpretagio Invertida, A terceiracorrente que se formou para a interpretag3o do art. 1.829, I, do CC/02, inverte as ideias defendidas pélas anteriores. Encabegada por MARIA BERENICE DIAS, defende’ que d/stcessio\do cOnjtige'fica excluida na hipétese deo falecido ter deixado bens particulares. (“Ponto Final”, disponivel_ em: Acesso 23 Set. 2009), Enquanto os defensores da primeira e da segunda correntes apen: reconheciam, ao cénjuge casado pelo regime da comunhio parcial de bens, 0 direito & sucesso na hipétese de 0 falecido ter deixado bens particulares, esta terceira linha de pensamento defende que sé hd sucessdo na hipétese em que ele nao os deixou, concorrendo 0 cénjuge sobrevivente com os descendentes, na heranga dos bens comuns. Pelo sistema defendido por esta corrente, 0 quadro, para as hipéteses em que o falecido deixou bens particulares ¢ filhos, ficaria da seguinte forma: Regimes Meagio | Conjuge/companheiro herda] Conjuge/companheiro herda bens} bens particulares? comuns? Sejperior Talanalde Julie [Unio estavel Sim Nio Sim, em concurso com os descendentes [Comunhio universal_[ Sim Nio Nio [Comunhio parcial Sim) hi heranga do cOnjuge, se| Sim, em concurso com os houver bens particulares, descendentes, [Separagao legal io io ISeparagio ‘Nao, em | Sim, em concurso com os | Sim, se os houver, em concurso co lconvencional prinefpio descendentes 9s descendentes IV -- Solugio da controvérsia Na hipétese dos autos, © cere da controvérsia diz respeito a apurar se é admissivel, no panofaima constitu¢ional brasileiro, que a regra, quanto A sucesso, seja mais favoravel & companheira supérstite do que Seria caso ela tivesse contraido matriménio, dadas as diferengas entre o art, 1.790 ¢ 0 art, 1.829, I, do CC/02. ‘Nesse contexto, a exposicao das trés teorias existentes para a interpretagao do art. 1.829, I, do CC/02, assume importancia para se apurar se realmente a regra do art. 1.790 6, para a companheira, mais vantajosa que a disciplina de sucessao do cOnjuge. Em_primeiro lugar, é importante ressaltar que ndo se pode dizer que ha vantagem emum ou em outro regime familiar, tomando-se emv/consideragao somente para as regras de suct8s46 legitima,-Ainda que, cm dad6s Momentos, a regra de sucesstio os legitima seja mais vantajosa para o companheiro, isso ndo significa que o regime da Unido Estavel seja necessariamente mais vantajoso que o casamento, do ponto de vista global. Ha divers s beneficios conferidos pela lei ao casamento que nio se estendem a unio estavel. Basta pensar, por exemplo, que a prova do casamento é direta, decorrendo meramente do registro (art. 1.543 do CC/02), ao passo que a unio estavel deve ser demonstrada caso a caso; que o cOnjuge é herdeiro necessério, contando com a garantia da legitima que, em principio, nao assiste ao companheiro; que, protegendo o patriménio do casal, a Lei condiciona a autorizagio do cénjuge a pratica de determinados negécios juridicos; que a ordem de vocagdo hereditéria coloca o cénjuge antes dos colaterais na 10 exclusiva; e assim por diante Em segundo lugar, 6 muito dificil antecipar 0 quanto representariam essas vantagens, aferiveis, no no momento da sucesso, mas durante a relacdo mantida entre os cOnjuges, na decisdo de contrair ou nao casamento. E temerdrio afirmar, apressadamente ¢ com os olhos voltados apenas para uma situagdo pontual, que os arts. 1.790 € 1.829 podem tomar mais vantajoso viver sob o regime da unio estavel sob 0 regime do casamento. As varidveis sio muito numerosas. De todo modo, ¢ importante frisar que ndo ha, neste proces ntagem, para a companheira, para efeitos sucessérios, com relagio @ situagio hipotética da conjuge, Isso porque, a0 lado das) trés correntes supra mencionadas, todas clas insatisfatérias para solucionar a perplexidade que este processo suscita, é necessario se estabelecer ainda, uma quartaymais inovadora, baseada na ideia de que a vontade do conjuge, manifestada no casamento, deve ser tomaia em consideracéo também no momento de interpretar as regras sucessbrias . Essa nova ideia, como se vera adiante, estende, quanto aos efeitos, priticos, a regra aplicdvel & Unido Estavel 4 do regra casamento, eliminando, nesse aspecto, a diferenga entre os regimes. Note-se que aqui se faz-se exatamente o)contrario do que pretende o recorrente: em vez de restringir a regra do art. 1.790_do CC/02, para adapté-la A regra do art. 1.829, inova-se na prépria interpretacao do art. 1.829, aproxitando-a do.art, 1.790, Explica‘se. IV.1) Quarta corrente interpretativa do art. 1829, I do CC/02: a consideracio da vontade manifestada no casamento, para a interpretagio das regras sucessérias. De inicio, torna-se impositiva a andlise do art. 1.829, I, do CC/02, dentro do contexto do sistema jurfdico, interpretando o dispositive em harmonia com os demais que enfeixam a tematica, em atenta observancia dos principios e diretrizes tedricas que lhe dao forma, marcadamente, a dignidade da pessoa humana, que se espraia, no plano da livre manifestagdo da vontade humana, por meio da autonomia da vontade, da autonomia privada e da consequente autorresponsabilidade, bem como da confianga legitima, da qual brota a boa fé. A eticidade, por fim, vem complementar 0 sustenticulo principiolégico que deve delinear os contornos da norma juridica, Até 0 advento da Lei n° 6.515/77 (Lei do Divércio), considerada a importéncia dos reflexos do elemento histérico na interpretagdo da lei, vigeu no Direito brasileiro, como regime legal de bens, 0 da comunhao universal, no qual o cénjuge sobrevivente nao concorre & heranga, por jé lhe ser conferida a meagao sobre a totalidade do patriménio do casal. A partir da vigéncia da Lei do Divércio, contudo, o regime legal de bens no casamento passou a ser o da comunhio parcial, o que foi referendado pelo art. 1.640 do CC/02. Assim, quando os nubentes silenciam a respeito de qual regime de bens irdo adotar, a lei presume que seré o da comunhio parcial, pelo qual se comunicam os bens que sobrevierem aoed8al, na constaricia do casamento, consideradas as excesdes legais previstas novart. 1.659/do CC/02. Se em vida os cénjuges assumiram, por vontade propria, o regime da comunhio parcial de bens, na morte de um deles, deve essa vontade permanecer respeitada, sob\pena de ocorter, por ocasidio do ébito, 0 retorno ao antigo regime legal: 0 da comunhio universal, em que todo acervo patrimonial, adquirido na constancia ou anteriormente ao casamento, é considerado para efeitos de meagao. A permanecer a interprétagdo conferida pela doutrina majoritéria de que o cénjuge casado_sob o regime da’ comunh’o parcial herda em/concorréncia com os descendentes, inclugVE"HO tocafif® aos “Bens partiGllates, teremos no Direito das Sucessdes, na verdade, a transmutagao do regime escolhido em vida ~comunhao parcial de bens — nos moldes do Direito Patrimonial de Familia, para o da comunhio universal, somente possfvel de ser celebrado por meio de pacto antenupcial por escritura piiblica. Nao se pode ter apds a morte o que nio se queria em vida. A adogdo do entendimento de que 0 cénjuge sobrevivente casado pelo regime da comunhdo parcial de bens concorre com os descendentes do falecido a todo 0 acervo hereditério, viola, além do mais, a esséncia do proprio regime estipulado. Por tudo isso, a melhor interpretagdo & aquela que prima pela valorizagao da vontade das partes na escolha do regime de bens, mantendo-a intacta, assim na vida como na morte dos cénjuges. Desse modo, preserva-se o regime da comunhio parcial de bens, de acordo com o postulado da autodeterminagdo, ao contemplar 0 cénjuge sobrevivente com o direito 4 meagao, além da concorréncia hereditaria sobre os bens. comuns, haja ou ndo bens particulares, partilhaveis, estes unicamente entre os descendentes. A separagio de bens, que pode ser convencional ou legal, em ambas as hipéteses 6 obrigatéria, porquanto na primeira, os nubentes se obrigam por meio de pacto antenupcial — contrato solene — lavrado por escritura piblica, enquanto na segunda, a obrigagao é imposta por meio de previsio legal. Sob essa perspectiva, o regime de separagio obrigatéria de bens, previsto no att. 1.829, inc. I, do CC/02, € génerojque congrega duas espécies: (i) separagao legal; (ii) separagao convencional. Uma decorre da lei ¢ a outra da vontade das partes, e ambas obrigam os cénjuges#"tima_yer"€stipulado “omregime de separagdo de bens, A sua observancia, Dessa forma, nao remanesce, para o cénjuge casado mediante separagao de bens, direito a meagdo, salvo previsio diversa no pacto antenupcial, tampouco 4 concorréncia sucesséria, respeitando-se o regime de bens estipulado, que obriga as partes na vida e na morte),Nos dois casos, portanto, o cénjuge sobrevivente nao & herdeiro necessério Entendimento em setitido divetso, suscitaria clara ahtinomia entre os arts. 1.829, ine. I, ¢ 1.687,'86°CC/02, 6 ie geratia uma qUebFA da unidade sistematica da lei codificada, e provocaria a morte do regime de separagao de bens. Por isso, entre uma interpretagdo que tora ausente de significado o art. 1.687 do CC/02, e outra que conjuga € toma complementares os citados dispositivos, nao é crivel que seja conferida preferéncia a primeira solugio. Importante mencionar, no tocante ao cardter balizador do regime matrimonial de bens no que conceme ao direito sucessério, julgado desta 3* Turma, do qual se extraem as seguintes ponderagdes: “(.) 0 regime matrimonial de bens atua como elemento direcionador do direito de heranga concorrente do conjuge. ( O regramento sucessério é de suma importéncia enquanto complexo de ordem piblica, em virtude de seus reflexos no organismo familiar e no émbito social, que vao além do simples direito individual & pertenga de bens.” (RMS 22.684/RJ, de minha relatoria, DJ de 28/5/2007. Com as consideragdes acima, 0 quadro, para as hipéteses em que o falecido deixou bens particulares e filhos, ficaria da seguinte forma: Regimes Meagao | Cénjuge/companheiro_| Cénjugelcompanheiro herda herda bens particulares? bens comuns? Unido estaver Sim Nao Sim, em concurso com os descendentes [Comunhao ‘Sim Nao Nao luniversal |Comunhdo parcial | Sim Nao Simaem concurso com os descendentes. [Separacao de bens, | Nao Nao Nao lque pode ser legal lou convencional. Egsa ¢ a formapela qual deve ser interpretado o art. 1.829, I, do CC/02. Preserva-se, com isso, a vontade das partes, manifestada no momento da celebragfio do casamento, também para fins de interpretagdo das regras de sucesso. E elimina-se, para fins de calculo"do™montante partilhayel, as diferengas'entre Unido Estével e Casamento. ESpecificamente pata os fins do'processo sob julgamento, a adogdo dessa quarta linha de pensamento retira, de maneira integral, os fundamentos da irresignagdo da recorrente, Se a recortida tivesse contraido matriménio com o de cujus, as regras quanto ao cdlculo do montante sobre o qual se calcularia sua suces mesmas. Forte em tais razdes, conhego do recurso especial e nego-lhe provimento. CERTIDAO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA Numero Registro: 2009/0009726-0 REsp 1117563 / SP Niimeros Origem: 2742006 4980304 49803040 PAUTA: 06/10/2009 JULGADO: 06/10/2009 Relatora Exma, Sra, Ministra NANCY ANDRIGHT Presidente da Sessdo Exmo, Sr. MinistrosSIDNEI BENET? Subprocurad6r-Geral da Répiiblica Exmo. St, Dr. JUAREZ ESTEVAM XAVIER TAVARES, Secretaria Bela, MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA, AUTUACAO. RECORRENTE SANDRA APARECIDA PENARIOL DUARTE ADVOGADOS FRANCISCO CASSIANO TEIXEIRA E QUTRO(S) RENATO OLIVEIRA RAMOS RECORRIDO. ROSEMARI APARECIDA AFFONSO, ADVOGADO LUIZ JOAQUIM BUENO TRINDADE E OUTRO(S) ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Sucestdes - Inventirio e Pattlha SUSTENTACAO ORAL. Dr(a). RENATO OLIVEIRA RAMOS, pela parte RECORRENTE: SANDRA APARECIDA PENARIOL DUARTE CERTIDAO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apteciar 0 processo em epigrafe na sesso, realizada nesta data, proferiu a seguinte decisio: Apés 0 voto da Sra. Ministra Relatora, negando provimento a0 recurso, no que foi acompanhada pelos Srs. Ministros Massami Uyeda e Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TI/RS), pediu vista o St. Ministro Sidnei Beneti. Aguarda o Sr. Ministro Paulo Furtado (Desembargador convocado do TJ/BA), Brasilia, 06 de outubro de 2009 MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA Secretaria CERTIDAO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA Numero Registro: 2009/0009726-0 REsp 1117563 / SP Niimeros Origem: 2742006 4980304 49803040 PAUTA: 17/12/2009 JULGADO: 17/12/2009 Relatora Exma, Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sessio Exmo. Sr. MinistrosSIDNEI BENETT Subprocurador-Geral da Republica Exmo. Sr, Dr. MAURICIO DE PAULA CARDOSO. Secretéria Bela, MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA AUTUAGAO, RECORRENTE SANDRA APARECIDA PENARIOL DUARTE ADVOGADOS FRANCISCO CASSIANO TEIXEIRA E OUTRO(S) RENATO OLIVEIRA RAMOS RECORRIDO, ROSEMARI APARECIDA AFFONSO, ADVOGADO LUIZ JOAQUIM BUENO TRINDADE E OUTROS) ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Sucest@es - Inventério ¢ Pattlha CERTIDAO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar 0 processo em epigrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte de Prosseguindo no julgamento, apés 0 voto-vista do Sr. Ministro Sidnei Beneti, a Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Sts. Ministros Massami Uyeda, Sidnei Beneti, Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS) e Paulo Furtado (Desembargador convocado do THBA) votaram com a Sra. Ministra Relator Brasilia, 17 de dezembro de 2009 MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA Secretaria RECURSO ESPECIAL N° 1.117.563 - SP (2009/0009726-0) RELATORA MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : SANDRA APARECIDA PENARIOL DUARTE, ADVOGADOS _: FRANCISCO CASSIANO TEIXEIRA E OUTRO(S) RENATO OLIVEIRA RAMOS, RECORRIDO ROSEMARI APARECIDA AFFONSO. ADVOGADO __: LUIZ JOAQUIM BUENO TRINDADE E OUTRO(S) VOTO-VISTA O EXMO. SR. MINISTRO SIDNEI BENETI: 1, AcReeorrente filha 6 “de Cujus", que, VIEVO) conviveu, em unido estavel, por'mais de trinfa anos, com a Recorrida. © Aeérdao recortido, aplicando o disposto no art. 1790, II, do Céd Civil/2002)negou provimento a apelacdo, assim julgando, no fulcro central (ls. 211): "Companheira sobrevivente que faz jus 4 meagho e mais a metade do que couber a herdeira na partitha dos bens adquiridos onerosamente...na vigéncia da unido estavel. Inteligéncia’ dos art..1725, 1790 Il, 1829/1 do CC/02 e do art. 226 §3%da CF” (fis, 21). 2» O voto da Exma. Ministra NANCY ANDRIGHI, Relatora, mantém esse julgado, negando provimento ao Recurso Especial, tendo sido o Voto de S. Exa. acompanhado pelos votos dos E. Ministros MASSAMI UYEDA e VASCO. DELLA GIUSTINA. A interpretagdo dada pela sentenga, Acérdio, voto da E. Relatora e votos dos E. Ministros que me antecederam a votar é, realmente, 0 que consta do disposto no art. 1790, II, do Céd, Civil/2002. Dispde, com efeito, 0 Céd. Civil/2002, no art. 1790, II: "A companheira ou 0 companheiro participard da sucessdo do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigéncia da unidio estavel, nas condigaes seguintes: 6) "Se concorrer com descendentes sé do autor da heranca, tocar-the-4 a metade do que couber a cada um daqueles”. A clareza do dispositivo legal, projetado por Comissio de Juristas presidida pelo E. Prof. MIGUEL REALE, aprovado pelo Legislativo brasileiro e promulgada pelo Presidente da Republica toma inacolhivel a sustentagdo em sentido contrario, de modo que deve prevalecer o voto da E. Relatora, que mantém o julgado de origem. 3.- No,cabe-ao'Tribunaly:na'interpretagao"e"aplicago da Lei federal, retroceder no’tempo pard analisar os fundament6s\pelos quais a sociedade brasileira, por intermédio dos érgaos legiferantes, legislou a respeito da matéria. Nao hd que comparar os vinculos, reconhecidos, ambos, pela Lei, do casamento noyregime da separagio ¢ de bens ¢ da unido vel entre companheiros, equiparada, para fins do regime de bens, salvo disposigao especial entre os companheiros, a0 easamento com a separagdo parcial de bens (Céd. Civil/2002, art. 1725). 42"ObServa-sé,contudo, a fink de" evitar possivel interpretagdo alargada deste voto-vista para além do que esta posto nos autos em que proferido, que ndo se esta julgando sucesso que envolva quem tenha se casado com pessoa vitiva com filho do primeiro casamento, matéria diversa, trazida varias vezes & comparagio. A Gnica questo que se julga agora é a que envolve as partes destes autos. Nao hé como deixar definida agora a complexa situagdo hereditaria com que o novo Cédigo Civil brindou a sociedade nacional. Outras situagdes, que nao sejam exatamente idénticas A destes autos, a envolver casos diversos, sé poderdo ser dirimidas se surgirem em outros processos, em que se preserve o essencial contraditério entre os litigantes (CF, art. 5°, LV). Ressalva-se, portanto, neste Voto-Vista, o exame, em qualquer sentido, de outras situagdes, independentemente dos argumentos "a latere" deduzidos nestes autos. 5.- Pelo exposto, frisando a ressalva do item anterior, meu voto acompanha os votos da E. Relatora ¢ dos E. Ministros que me antecederam, negando provimento ao Recurso Especial Ministro SIDNEI BENETI RECURSO ESPECIAL N° 1.117.563 - SP (2009/0009726-0) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : SANDRA APARECIDA PENARIOL DUARTE ADVOGADOS FRANCISCO CASSIANO TEIXEIRA E OUTROS) RENATO OLIVEIRA RAMOS RECORRIDO —: ROSEMARI APARECIDA AFFONSO ADVOGADO LUIZ J OAQUIM BUENO TRINDADE E OUTRO(S) VOTO-VOGAL EXMO, SR. MINISTRO MASSAMIUYEDA: Sr. Presidente, mais uma vez quero cumprimentar a eminente Ministra Nancy Andrighi pelo bem elaborado voto, que dé uma contribuigéo inestimavel para a interpretagao das regras de sucesso, em termos de casamento © unido estavel Na verdade, essa forma, se a companheira, vivendo em unido estavel, ha mais de trinta anos, amealhou um patriménio consideravel, pela regra a participagao dela é.de 50% e, pela morte de seu.companneiro, também concorre em condigées coma filha do primeirolleito. Estouinteiramente’de acordo com"o"voto da Sra. Ministra Nancy Andrighi, conhecendo do recurso especial, mas negando-Ihe provimento. Ministro MASSAMI UYEDA

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