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ARQUITETURA INTEMPORANEA lem cLN mee ad INTRODUGAO DA MARGEM AO CENTRO 0 periodo posterior a 1968 abriu camino para uma abordagem 4a arquiterara que veio a see eonhecida com pés-modernismo, de inicio nos Estados Unidos e depois em todo o raundo industitiza- do, O pés-modeznismo é um conceito diversificado e istivel que tem denotado abordagens estéicas especificas na critica litera, rn arte, no cinema, no teatro ena arquitetura, sem falar na moda e ‘ins conflitas armados, Em 1995, 0 New York Times definiu a guer- ti da Bosnia como uma "guerra pés-moderna’” na qual civ © for- ‘28 armadas ja nfo se distinguem, o armamento sofisticado quase ‘no tem papel algum a desempenhar © pequenos grupamentos infor~ mais, como militias ou grupos tr E cil lidar com essas guerras © dar-th porque ja no existe a autoridade central No dominio da filosofia ¢ da ciéneia politica, o pés-moderis- mo também pode remeter & epistemolozia ou a modos determi dos de reflex e conhecimento, ou mesmo a caraete cificas da economia politica e das condigBes socinis do final do séeulo XX. O fato de ser uma categoria instivel € uma de suas ea ‘acteisticas inerentes em estéticae epistemologi, uma vez que os ‘eorieos do pis-madernismo Ihe atribuiram a rejeigao da possibili= dade de unidade do forma ou ideologia. A definigao do significado * x A SATA, BARS 3473672) ane | AS IntRODUCRO ‘missas sociais e politcas subjacentes, Ficariam isentos dest rites ‘dificios como o Instituto Salk, em La Jolla, Califérnia (1959-65), ‘de Louis Kahn, que a muitos parece transcendar 0s pioresfracassos ‘do modernismo da década de 60 nos Estados Unidos, sobretudo a fetichizagio da estrutura e da tecnologia, Majestosamente localiza- ddo defronte ao Oceano Pacifico, o Instituto Salk demonstrou toda a ‘gama de interesses formais de Kahn: sistemas mecinicos e de set~ ¥igo integracos ¢instalados em andares separados entre os labora- ‘6rios, a explorado de “vazios positivamente expressos”. Kahn res- jponden ao programa relativamente simples com a proposta de uma dlivisio espacial de fungdes, com eseritiios isolados dos laborati- ios para estudo e pesquisa Solitiria e salas de reunides separadas. eixou claros e visiveis os aspectos funcionais do programa a0 ‘mesmo tempo que celebrava o local seu tratamento virtuosistiea do conereto armado. ‘O movimento moderno teve Seu florescimento mais rico € ane su 0 maior prestigio historioo nas décadas entre as duas Guertay 2 ASQUTETIRA CONTEMPORANEA de pOs-modernisino varia entre os campos ¢ até entre os autores. Na arquitetura, suas conotaedes mudaram consideravelmente entre 1970 1995, E digno de nota que poucas idéias da economia politi- ‘ca ou da sociologia passaram para a arquitetura, especialmente as do ‘equivalente econdmieo e social do pés-modernismo, isto é 0 pés- fordismo (ver adiante,p. 37), Em ver disso, no tltimo quarto de sé- ‘culo teorias do conhecimento ¢ da eststica, vindas de outras disci- pilings, infiltraram-se na arquifetura praticamente sem relaeo com ‘outras forgastalvez mais importantes, ‘esses campos, o s-modemnismo apresenta caracteristicas co- ‘mun, tais como a rejeigo da visto de mundo unitiria incorporada a0 que chamamos de narrativas mestras, ou seja, os wrandes sist ‘mas de explieagdo, inclusive os da maioria das religides e grupos politicas ou os de Karl Marx ¢ Sigmund Freud. Enquanto as forgas ida modernizagio do inicio do século XX tendiam a obseurecer di- ferengas locais, regionals e étnicas, o pos-modernismo concentra se precisamente nessas diferengas traz para primeiro plano 0 que fora marginalizado pelas culturas dominantes. Talvez isto seja mais bem exemplificado pela énfase renovada nos estudos étnicos € feministas, com a finalidade de dar atenco a vozes que tradicional- ‘mente nio tém sido ouvidas, Em outras disciplinas, hé variantes do pés-modernismo que causaram impacto na arquitetura, como o pos- estruturalismo ¢ a desconstrugdo, que discutirei mais adiante nesta Infrodugao. [Na anguiterora, em geral, © pésmodemisme & comprecndide como fendmeno estilistico. Em primeiro lugar, porém, deveria ser eentendida no eontexto daquilo a que @ mavimienta se opés e, em segundo Tugar, daguilo que afirmou, O proprio termo pés-moder- nismo indicava a distingdo que os entusiastas da nova abordagem pretendiam fazer no inicio da década de 70; uma arquitetura diferen- te e sucessora do modernismo, que muitos ji comegavam a consi- dderar anacrénico. Os melhores registros avadémicos dessa transfor- ‘magi da arquitetura foram publicados por Kenneth Frampton, Mary MeLeod, Magali Sarfati Larson e Heinrich Klotz Em boa medida, como observam Frampton e McLeod, os pri- ‘meitos polemistas favoriveis ao pos-modemismo e contririos 30 ‘movimento moderno apresentaram uma caricatura daquilo a que se ‘opunham, ou seja, a elaborag2o formal do modernismo e suas pre- — Ee, ‘movimento moderno sobre a questo de como a forma arquitet6ni= ca € gerada, De um lado, alguns arquitetos enfatizavam o funciona lismo e a geragio da forma por um tipo de determinismo biotéeni- 0, De outro, 0s arquitelos enfatizayam a intuigo e o genio do ar- {quiteto enquanto eriadores da forma, Os primeiros modernistas mais itmportantes - Le Corbusier, Mies van der Rohe e Gropius = conse= zuiram combinar as duas concepedes aparentemente opostas, mas foram excegdes, A ruprura entre esses dois modes de entender 0 modernismo tomou-se bem visivel na arquitetura da década de 60 MeLeod argumentow que wiguiletus eons Fev Saarinen ¢ Jer Utzon consideravam o projeto como um meio de expresso altamen- te pessoal, embora sua arquitetura seja mais bem compreendida ‘como estudo das possibilidades expressivas da construgio, dos ma- teriais e do progtama, Outros comentaristas, como Cedric Prive © ‘Tomis Maldonado, enfatizaram a geragiio quase auténoma da for- rma, No entanto, 0 que unia ambas as posigdes era arelativa indife renga quanto & historia e tradigdo,e cada uma delas atraiu seu pro prio grupo de seguidores (© modernismo adquiriu vida nova depois da Segunda Guerra Mundial, prineipalmente nos Estados Unidos, onde a estética do ‘movimento modemo, polida, mecdnica ¢ sem omamentos, voltou~ se para tecnologias como as estruturas de ago ¢ as paredes de vidro para produzir arranha-céus, prédios de escritério © centtos comer- ciais a um custo viivel, Ao mesmo tempo, a nogio do arquiteto ‘como grandioso eriador de formas comecou 2 dominaras escolase, depois, a profissto, ‘Os custos teduzidos ea construgio mais ripida tonaram os pré= dios modernistas atraentes para incorporadores e administradores ‘urbanos, que aproveitaram a oportunidad para remodelar 0 centro das cidados nas décadas de 50 e 60, quando a classe média norte- americana fugiu para os subirbios. Como parte das grandes campa- has para “rexitaizat’” as reas urbanas que se tornavam despovoa~ as, a8 cidades realizaram amplos programas de renovagdo urbana, ‘com moradias de aluguel « pregos razoaveis e grupos de baixa ren= dla (principalmente minorias raciis ¢ étnicas) sendo expulsos em favor das brilhantes eaixas de vidro que Le Corbusier © Mies van dot Rohe haviam previsto mais de um quarto de século antes, Go= vyernos, bancos, grandes empresas e instituigSes eulturais como os 4 ARQUITETURA CONTEEPORANEA Mundiais, quando nascou com um espirito de rentincia ao vetho ‘mundo, um compromisso de se valtar para as necessidades habita- cionais das massas e um entusiasmo de explorar o potencial arqui- teténico de materiais ¢ teenologias muitas vezes desprezados pela ‘geragdo anterior, Exigiu a energia de arquitetos talentosos ¢ dedica- ddos em toda a Europa, embora representasse as idéias de um 2¢upo de arquitetos relativamente marginale socialmente homogéneo ¢ 86 resultasse em uma quantidade modesta de edificios. Embora marcadas por énfases diversas de um lado, determi- rnismo tcenolbgieo ©, de outra, a idéin de auto expressio estética — as idéias de muitos arquitetos modernistas mantiveram, como cons tante bésiea, a erenga no poder da forma para transformar o mundo, ainda que geralmence vineulada a alguns objetivos amplos e vagos de reforma social. Os arquitetos acreditavam de forma apaixonada que a falta de moradias ¢ outros problemas sociais poderiam ser resolvidos com 0 uso das superficieslisas, polidas a maquina, e do racionalismo estrutural da arquitetura moderna. Esses pressupostos Cconstituiam o embasamento ideol6gico dos projetos urbanos de Le Corbusier para Paris, Marsetha e norte da Africa, mas também de seus projetos menores de residéncias particulares, como a Villa Savoye, Em meados da década de 30, a doutrina do movimento modemo cera eclipsada, em varios locais, peli modernidade interpretada como ‘om elassinisio manimental, estinulada em parte pelo interesse & pelo patrocinio do governo da Russia sovietica, da Alemanha nazi ta, da Ita faseista e dos Estados Unidos. Incentivado por isso & pelo exilio de grandes expoentes alemaes do modernismo, como Ludwig Mies van der Rohe, Walter Gropius e Erich Mendelsohn, cencorajado pelo apoio entusiasmado de importantes historiadomes ‘como Sigttied Giedion, Nikolaus Pevsner e Henry-Russell Hitchcock, «2, Finalmente, pela explosio de construgdes do paxeguerta, 0 movi- mento moderno adquiriu um significado mitico muito maior que suas realizagses coneretas de antes da Segunda Guerra Mundial ‘O movimento moderno nfo foi alimentado apenas pela nova tec- nologia e pela rivalidude entre geragGes, mas também por coneep= {bes bastante especificas do papel da arquitetura e da fonte da for ‘ma arquitetonica. Mary McLeod ¢ Alan Colquhoun exploratam, de ‘modo frutifero, as varias correntes de pensamento caractersticas do ooucAa 7 mente branda que, nos Estados Unidos, veio a associar-se no 8 1e- beli2o, mas ao poder do capitalismo. As torres de Lake Shore Drive ‘360-880, em Chicago, de Mies van der Rohe (1948-51) e seu Faifi- cio Seagram, em Nova York (1958), armaram o paleo para o grande nlimero de arranha-céus esguios e quadriculados que foram cons- truidos nos quinze anos seguintes, com contribuigdes, nos Estados Unidos, de outras firmas como Skidmore, Owings & Merrill (SOM), Pereira and Associates, John C. Portman J, Johnson/Burgee, Al- bert C. Martin & Associates, Kohn Pederson Fox e Welton Becket Associates, O hotel Hyatt Regency Atlanta, de Portman (1967), em. Peachtree Center, Atlanta, Georgia, exemplifica as inovagdes apre~ sentadas por um arquiteto ambivioso que se tomnou incorporador. Promovido como miicleo da renovagao do centro da cidade, o Peach- tree Center abandonow a tipologia modernista de hotéis em bloco & criou um grande fitrio interno com a altura de vinte e dois andares. "Num projeto reproduzido em incontiveis hotéis posteriores de Port= man e de outros, todos os quarios dao para o ftrio central e para os clevadores envidragados que levam os visitantes a um restaurante _giratorio encimado por uma etipula de vidro azul Como os hotéis em arranha-céu de Portman demonstram com tanta elogiténcia, nas décadas de 50 e 60 o capital empresarial j4 forjara com a estética arquitetOnica moderna o mesmo tipo de alian- {ga mantido com a economia keynesiana, climinando por completo As eonotagies exquerdistas ¢ recsiperinda amhas com, objetivos diferentes, Durante a década de 30 @ comunidade empresarial ame- ricana se opusera ao projeto de John Maynard Keynes de gastos: macigos para recquilibrar a economia por consideri-lo financeira- mente frégil e potencialmente ameagador pata a ordem politica e social. No final da Segunda Guerra Mundial, porém, os empresi- ros haviam criado um novo consenso sobre despesas deficitirias 20 imaginarem um modelo de keynesianismo, conservador e voltado para os investimentos, que servisse a seus proprios objetivos. Com essa nova parceria, © capital dos Estados Unidos comegou a pene= trar em todos 03 cantos do globo; os emblemas arquitet6nicos da ‘modernidade acompanharam outros entulhos culturais americanos, como Levi's e Coca-Cola, para a Europa, a Asia, a Aftica e a Amé= rica Latina, onde substituiram tradigdes nativas locais e reafirmae rai a legeionia Uo capital © day intituigGes americana 1 ARQUTETURA CONTEFORANEA 2. Aber © ain Axis Aco Tomes, as ngs Cl, 1973. 3. soi Pome Ase et Regen lai, eae Cen, tans Geta, 1957 tos cna com atin, ‘museus adotaram a arquitetura moderna como sua marca, em pré= digs geralmente bem canstruidos. Mas os arquitetos ganharara cres- ceente prestiaio ao produzirem edificios para incorporadores mais preocupados com a rapide, o custo baixo e o eleito espetacular, ‘Quando a estética modernista passou de tendéncia marginal a corrente dominante e o mundo assimilou as atrocidades da Alema- nha nazista, as bombas A e He a possibilidade iminente de destrui~ ‘elo nuclear, as posigBes politcas opostasarticuladas por alguns dos principals expoentes do modernismo no periodo entre as urandes gucrras mundiais desaparoceram, prineipalmente nos Estados Uni= dos. Privados da fé na possibilidade de transformar 0 mundo, as es pperangas ¢ 0s sonhos dos primeiros utopisias, embora equivocados € parcis, foram suplantados por uma reafirmagao fundamental ruooucao 8 ‘Great American Cities*, de Jane Jacob (1961), Complexityand Con ‘vadiction in Architecture”, de Robert Venta (1960), The Architoc- ire of te Ciy***, de Aldo Rossi (1966), ¢ Architecture for the oor, de Hassan Fahy (nttlado, na primeira edigio de 1969, Gour- na: Tate of Tivo Vilage Embora seu efsitofosse sentido em épocas diversas em diferen- tes cultura, devido ds data detradugao epublieago, eemboratam- ‘bém teniam sursido outos livros bisicos, juntos esses quatro ind ‘ama dimensio das mudangas de atitude em relagio a arquitetura “acabs contest as iddias de planjamento de Le Corbusier ede ‘outros projetstas do movimento modem assim como o programa dda Cidade-lardim de Ebenezer Howard, populaizado nos Estados Unidos por Clarence Sten, ue consderou inadequado para as cida- des, Louvando a heterogencidade dos bairos urbanos e dos prédios ntgos, Jacobs uso seu proprio diststo em Nova York como forma de realgar a diversdade a vivacidade possiveis das ruas das cida- des, que contrastavam com a mortificante regularidad dos projtos hhbiticionais paca populagio de baixa renda que matavama rua. Ao conttitio de muitos ertcos de arquitewra da época, Jacebsrec0- nhecia a ligagdo entre o dinheiro das incorporayées ea mudanga urbana, ene as prétieas finaneeiras ea decadéncia das cidades. ‘Alguns de seus argumentos mais elogientes demonstram como 6s projetistas seauiram a ideologia de planejamento do movimento ‘modem em ver de seu pripro instinto no caso dos baits urbs- thas Tacos afiemaen quem adem acuta dae mo epeojetad S05 tentava uma vida urbana rca e varia, alm de aumenta & segi- ranga. Alguns dos pontos que enfatiza ~ 8 experiéneiavivida da ar- auittua, 0s rita e padibes da vida eotdiana, a rede de relagbes Fhumanas que forma nossa expericia de cidade e que a arquitetura © o planejamento modernos ignoraram — 6 aos poucos comegaram car frutos, Ela conctuia que as cidades contemporineas no deve- riam softer novas e devastadoras renowagies urbanas segundo os Drincipios equvocados do movimento modern e sim ser alimen- {adas como os espagos vias earacntes que realmente so Com a aeitag gradual das dias de Iaeobs veio uma aprecia- lo renovada da variedade visual da paisogem urbana, Os usbanis- * Tad bras More eid de oyances cides, So Pave, Martins Fontes, 200 ‘a ae: amples cana en pater Sho Pas, Mo Ft, 128, ‘Tah ne Aart ds cdc, a0 Pal, Marine Fenty, 995, 18 aaqureruna conreuroninen Da dévada de 50 em diante, a eontuéncia de interesses econdmi- ‘608 eestéticos disseminou-se rapidamente a partir dos Estados Uni- dos etornou-se a quintesséncia da expressio do capitalism empre- sari em regibes distances do globo. © sonho de padronizagao que snimaraalguns segmentos do movimento modern realizou-se bem ‘ais do que 0 esperado nas eonstrugdes comercials, e em meados da década de 60 comegou a formar-se uma reaglo. A tarefa de repe- tir estutaras de ago paredes de video mostrou-se pouquissimo exi- gente, sobretudo em termos de eriatividade, Enquanto grandes fir thas como Shidiore, Owings & Merrill eC. F. Murphy Associates seguiam a ditegao indicada por Mies van der Robe e produziam. présos de alta qualidade, apesar de sObriose imitativos, outros gnu pos buscavam variantes do movimento moderno de tio bem di rente, hipercelebrages das possibilidades supostamente lihertado- ras do infindavel desenvolvimento teenolégico, Buckminster Fuller nos Estados Unidos, o grupo Archigram na Inglaterra, o Supersti- dio na Lilia © 6s metabolistas japoneses foram os exemplos mais importantes, As pesquisas pessonis de Fuller com projtos ult rios de tecnologia sofisticada, de preferSncia para serem produzi- dos em massa, datavam do final da dcada de 20, Ele mantinha um senso de realidad em seus projetos e reconkecia a necessidade de propor solusdes vives para problemas socials reais, Mas Archi fram, Superstudio ¢, em menor gra, os metabolistas puseram fim 8 qualquer conexdotediosa com a realidade, Com uma série de pu- blicagdes visiosas e imagens de quadrinlhose Figo cientific, ‘xaram sua marea sem levar a sério questaes sobre como as coisas seriam construidas, como suporiariam a agao do tempo e quais e- riam as conseatiéneas socials para as pessoas destinadas a ocupar suas cidades fantistcas. Quase ninguém levou a sério Superstudio ¢ Archigram, menos ainda os incorporadores e banquitostespo siveis pela encomenda e pelo financiamento de projets em estilo ‘modernist, Anda assim, em conju cles assinaaram o fim do en- canto do modernismo racionalista, a reagio a um estilo de const «io que passou a ser visto como tedioso indiferente is ereanias © tambem a prOpria tadigdo da diseiplina {Qs ataques mais séris ao Movimento Modemnista tiveram im- peeto duradouro, Quatro livros publicados em menos de uma dé ddaassinalaram a mudanca que estava por vir: The Death and Life of razBes nas virias tentativas de atender as necessidades do Egito rural ‘A parte da denineia do alto custo desses sistemas e do conhecimento| ‘técnica, que os puna fore do aleance do egipcio médio, quanto mais do pobre, Fathy também lamentava a perda dos métodos tradicionais de construgio e da competéncia cultural eausada por esta imensa ‘onda de tecnologia estrangeira. Além de resistir§ influéneia avassala- dra d estilos e métodas ocidentais de construcfo, Fathy questionow aida do arquiteto como principalmente um projetista, defendendo, emvez disso, que se visse esse profissional como detentore guardiio da tadicto, ea canstrugio mais como expresso de cultra do que da vontade on do ego de um individuo, uma triste ionique, apesar de insist com persisténcia na crenga em que seus métodos ¢ abordse gens da construgdo poderiam beneficiar sobretuco os camponeses, Fathy tenha terminado por dedicar-se, com poucas exceeds, & proj fos para os ros em estilostradicionais, em grande parte como ex= pressdes nacionalistas da resisténcia contra 0 poder ocidental. Apesar dde sua arquitetura engajada, Nova Gouna também ndo consezui evitar que seus residentes vivessem de roubartumbas 10 ARQUTETURA CONTEPORANEA 4 Frank Gehry Ecla de Ditto Loyd, Los Angles Califo, 1981.88 tas comegaram a justapor elementos diferentes, em vez. de buscar ‘uma tela eontinud © uniforme, e a aceitar 0 valor dos varindns ele ‘mentos existentes na cidade. A nova preferéncia estética chegou in- clusive & construgtio de complexos individuais de edificios, alean- ‘sando total fruigo muito tempo depois, em um projeto como a Es- ‘ola de Direito Loyola, de Frank Gehry (1981-84), em Los Angeles, onde a justaposigdo de volumes dessemelhantes e de cores vivas sugere tum teeido urbano diferente, Pura a Universidade de Castel- lanza (1990), Aldo Rossi nio inventou a heterogeneidade, mas des= cobriu-a ¢ aperfeigoou-a, Para o campus, ele simplesmente pegou tuma fibrica de tecidos abandonada e a transformou, aceitando como vilidas as diferentes estruturas. ( livro de Hassan Fathy, que detalha a construsio da cidade de Nova Gourna, n0 Egito, na década de 30, consttui ao mesmo tempo uma erénica de sua tenlativa de resistr t importacdo de tecnologias estrangeias de construglo, que, segundo ele, fracassaram por muitas ‘uma itha eereada de lagos, aude as tradigdes locais de templos in= sulares, mas também iis fortalczas das poténcias coloniais que su- cessivamente dominaram 0 pais. O projeto paisagisica ¢ especial- mente sensivel, embora em escala muito maior do que alguns pro- jetos extraondinérios de Bawa, como os Jardins de Lunaganga, em ‘Bentota, Sri Lanka (1950), Com o:uso de imagens polivalentes ede pelos diretos 8 tradigao no teto € na elaboragio das partes em ma- deira, Bawa buscou produzir um prédio piblico que englobasse as ttadigdes de todas as facgOes = aspirago mais ficil de realizar em construgbes do que na sociedad: 0 Projeto da Praga cde Habitaglo dle Ju'er Hutong, em Pequim, China, inciado em 1987 e ainda em andamento, incorpara idéias semelhantes és apresentadas por Fathy, mas introduz uma colar io entre arquitetos, moradores e governo, Plangjado e projetado no Instituto de Estudos Arquitetonigos ¢ Urbanisticos da Universidade de Tsinghua, com o professor Wu Liangyong como arquiteto prin cipal, o objetivo principal do projeto era reabiltar as residéncias de ‘um bairro antigo do centro da cidade para melhorar o ambiente fsi- coe, 20 mesmo tempo, integri-lo is exigénelas madennas de mora ia ¢ continuidade cultural. Também pretendia servir de modelo de reform habitaeional e de desenvolvimento de meios para incorpo- ra pesquisa universitiria a projetes locas. Os peojtisas tiveram 4e enfrentar problemas coma superponulagio, prédios dilapidados, hhabitagdes temporarias depois do terremoto de 1976 e ma ventila- ‘40, O batco reabilitado ineorpora confortos modernos a antiga ‘rutura através da adaptagao de tipologias tradicionais, mas também Por trabalhar em esteita eooperagio com os moradores, A abordagem de Robert Venturi diferencia-se da de Jacobs por voltar-se espeeificamente para o que ele via como construgies sem sentido projetadas pelos seuuidores do Movimento Modernista dependentemente de suas motivagdes sociais ou de seus imperat ‘vos econGmicos. Sua agenda envolvia diretamente estratégias para prédios individuaise para projetos de urbanismo, em especial aque- les preduzidos por uma pequena classe de arquitots de elite. Ao ps sar dois anos na Itiia admirando as maravilhas da Antiguidade da ‘Renascenga com a bolsa do Rome Prize", Venturi descobriu as ri * Ete nmi. conc anunmente pla Aman Aaya Rowe a jens at ase, tls, dese rasan exudates de ena harae net ae O livro de Fathy assinalou a resisténcia generalizada a0 moder- nismo ocidentale 0 eontronto muitas ve7es Titigioso com legados co- Toniais em muitos paises nfo ocidentais, Nova Goura também evi- o¥ conflitos prafundos de valor e uma mitfade de problemas sociais e politicos subjacentes apenas pareialmente abordados pelo arquiteto de uma forma que se possa considerar emblematica de mui ‘os projetos de prédios governamentais em fodo o mundo, © Com ;plexo do Parlamento de Geotfeey Bawa (1982), em Sri Jayawatdha- hapura, Kotte, Colombo, Sri Lanka, eonfrontou e transcendeu tanto ‘9 modernismo quanto a radigio em ui elieio pivjetado para abri- ‘gar parlamento de um pais profundamente dividido por diferengas ‘tnieas ¢ rligiosas, O préprio projeto envolvia a transferéncia do arlamento para um lugar distante ¢ relativamente inacessivel, a fim de limitar os confrontos entre facgBes rivals. Construido como iwmaDUcAo 15 7,8 Yentei and short Aiciarts Rabat Sent e anion Jere) Css Varn ‘Yenc Fethad planta A arquitetura da cidade do arquiteto ¢teorico italiano Aldo Rossi rio combateu as eidades americanas devastadas pela renovacao ‘urbana, mas sim as cidades européias que softiam os efeitos da des- ‘ruigdo da guerra e da reurbanizagdo do pés-guerra, Assim como Ja- cobs e Venturi, Rossi rejeitava o que chamava de funcionalismo in- _Bénuo, ou seja, a idéia do alguns arquitetos modernistas de que “a forma segue a fungio". Seus alvos especificos eram os arquitetos ‘que lowvavam 0 determinismo tecnologico © desdenhavam a rica complexidade das cidades, nfo s6 de seus prédios como de sua his- ‘ria, formas urbanas, redes de ruas e hist6rias pessoais. Rossi tam bbém voltou-se pars o passado, para a cidade curopéia, com 0 obje= tivo de identificar primeiro como as cidades erescetam © se trans= formaram com o tempo e, depois. como os tipos de construc pat= 14 aRQUITETRA coNTeMFORANES cas possibilidades da historia arquitetonica, Seguindo 0 caminho indieado por Gropius na Bauhaus, 0s estudos historicos haviam sido ‘exeluidos do curricula da maioria das escolas de arquitetura nos Es tados Unidos (embora no em Princeton, onde Venturi se formara) Venturi via nisso uma enorme perda para 0s arquitetos, pois sb essa auséncia poderiaexplicar seu persistentefascinio por eaixas de vi cdto sem graga e pelas magantes construgdes do modernismo, Opon= ddo-se i “arguitetura moderna ortodoxa', Venturi louvava o predo- minio da *vitalidade congusa sobre a unidade Obvia” ds tiqueza so- bre a clareza de significado ¢, em um trecho muito ciao, do “a0 6, mas também” sobre 0 “ou isto ou aquilo”. Ele também insistia fem que a complexidade da vida contemporinea nio permitia pro- _gramas arquitetonicos simplificados, razao pela qual, a no set n0 feaso de construgdes com um tinico objetivo, os arquitetos precisa. ‘vam voltar-se para programas multifuncionais, Nesse lito e em ou- ‘ro posterior, eseita com Denise Scott Brown e Steven Izenour, Learning from Las Vegas (1972), Venturi adotou posigo no muito diferente da de Jacobs ao insist para que os arquitetos levassem fem consideragao e inclusive homenageassem 0 que jé exist, em ‘vez de tentarem impor uma utopia visioniria naseida de sua prépria Fantasia Embora.a maforia de seus exemplos de uma erquiteturacapaz de cexprimir as idéias que prezava fossem tirados da Ilia entre 1400 ¢ 1750, ele também incluiu prédios de Le Corbusier, Alvar Aalto e ‘Louis Kahn, 0 que micava que nao era ao moderismo propriamen- te dito que se opunha, e sim fis suas versbes poueo imaginativas. A primeira tentativa de Venturi de enfrentar estes problemas foi o pro- jeto da casa de sua me, « Casa Vanna Venturi, em Chestnut Hill, Pensilvinin (1964), onde fez experiéncias com alusdes historicas na fichada ao mesmo tempo que desenvolvia um interior complexo © curioso, em seguids & Guild House (1960), prédio de apartamentos para idosos em Filadéifia, Em eada eas0, 0 projeto incorporava prin- cipios delineados em Complexidadle e contradicao: énfase na facha- a, em elementos histbricos, no jogo complexo de materiais © alu- s6es historias, © em fragmentos e variagbes. anos cost rm rb ce mses a ds nos pra eos weeds ftps tec oni toxiauaaetros nono aa bos, o desafio da arquiteturatranscende e, ao mesmo tempo, englo~ ba as idiossincrasias das arquitetos enquanto individuos, ¢ foi com hase nessa missio historia que os dois escritores criticaram a arquic tetura e o urbanismo do periodo posterior & Segunda Guerra Mun- tial. Ambos também se voltaram para o passado arquitetOnico como ferramenta para devolver & arquitetura sua responsabilidade piblica historica, A diferenga entre suas posigdes pode seratnibuida em boa parte a seus respectivos contextos. A tradigdo milenar de continua de cultural urbana na Europa permit que Rossi ignorasse a énfase dd séeulo XIX na historia da arquitetura como uma sucessao de esti fos, Esta continuidade urbana incorporava concomitantemente uma sdimensio socal significativa novos prédios confirmavam e amplia- ‘vam tradigdes duradouras, que também incluiam a nogao de que os ‘governos eram obrigados « fornecer moradia e outros servigos aos cidadios, A ampla estrutura dessas tradigBes cultura podia aeomo- dar uma considerivel invengio, além de interpretagBes pessoas, ao ‘mesmo terapo em que mantinha o significado cultural geral Venturi adotou 0 ecletismo como ferramenta para fazer aeritiea do modernisto americano, numa sociedace em que a experiéneia cultural mais ampla & determinacla pela sensiblidade individual, © ‘no pela tradigfo urhana milenar. Nos Estados Uinidos, a cultura por lisica que domina a Europa é substituida pela cultura do comércio © dda publicidade, Em contrast, a deserigdo feita por Rossi da cidade como exneriéneia que define a socializag20 na Europa 6, nos Esta- ‘dos Unidos de Venturi, a cultura da cormunicagao, Em vez de unifi- car socialmente, refletir a identidade politica ou reforgar identida- des individuais, cultara nos Estados Unidos consists em simbolos alternatives por meio dos quais os individuos sio convidados a de- fimir-se. A inclinagio de Venturi para a publicidade comercial como estrutura sobre a qual erigit @ arquitetura pés-moderna encoraja assim, kma arquitetura pessimista que transforma referéncias histO- ricas em imagens esvaziadas e espacialidade ambigua. Portanto, 0 pos-modernismo americano tem estado fortemente associado a c6- digos visuais ea uma visio do piibico como consumidores que, sob ‘ulros aspectos, sao indistntos. Da mesma maneia, as preferéneias estéticas do pei ‘mo nos Estados Unidos inclinaramn-se, muito mais do que as do mo- dderismo, para a trivialidade dos quadrinhos ¢ das embalagens. De modernis= 16 AAQUTETURA CONTEMFORENEA ticiparam da evolucdo morfolégica da cidade. Depois de estudar os: elementos estrauris da cidade, Rossi propos nao um estilo, mas uum mod de anise uma abordagem da habitaso uthana, de pro- {tos e mudangas que levassem em conta histries,padees de mu- danga ede tratigdesespoctiens. Os tpos de const Formavam uma das bases siidas de sua abordagem do desenho urbano, mas para Ross os tipos de constrcio eram vistos como clmentos en= Trizados nos costumes e hibtos de cidade especificas, ou de par- tes de cdades, endo como construtosabstatos independentes das congo hitrian, Ele oo peda teptigder, mas adapted sivas baseades em andlises cuidadosas de exdadesexpeciicas. Em seuida Rossi desenvolveu suas iias no Cemitério de San Catal do, em Méena (niiado em 1980), e na Prefitura de Borgorisco (1982), baseanda-se em tadigdes rari, wrbanase arguitetbnicas para seus proto. A Profits, por exerplo, localiza num cam- po com casts espalhaas pelas Fazendascircundantes,lembra una villa veneziana mas consist as formas compactase muito dieten- ciadas de um preio pablico urban. E iil comparar mais de pert as posgdes de Venturi e Ross, porgue suas diferengas de opnido sto reproguzides na arquiteara posteriormente praticada na Europa enos Estados Unidos. Para am- Adopt pra Pfr, Baraca il, 1882 pespecta sita osi INFRODUGAD 19 do 0 povo assumiu a forma de comissdes de aprovagao de projetos, {oj descartado como um bando de idiotas e bufbes. ‘Michael Graves e Robert A. M. Stern também tentaram abordar © gosto popular em projetos com espantosas cores pastel ¢ inspira~ fo historica ousada. Na verdade seu trabalho, como 0 do escrt6rio ‘de Venturi, apelava a sensibilidade do pablico bem informado sobre arquiterura e no a massa do piblico, Apesar de suas afirmagGes po~ lémicas e populistas, os arroubos ecléticos em nome do populismo perecem, em vez disso, pouco mais que o triunfo do gosto pessoal do arquiteto e sua capseidadte de eomvencer uma classe de clientes ricos a aceité-lo, sobrotudo porque as abscuras alusdes histérieas $6 podiam ser deciffadas por uma pequena elite de clientes e outros amantes da arquitetura. 'No inicio da déeuda de 70 as estratégias de projeto defendidas por Venturi jé tinham nome — pos-modernismo —e uma lista de se- ‘guidores importantes, que incluia tanto Charles Moore quanto Ro- bert Stem, Na Casa Burns em Santa Ménica, Califrnia (1974), de Burns, ena contemporinea Residéneia Lang, em Washington, Con- necticut, 0S arquitetos apresentaram afirmagbes igualmente popi- listas em projetos que, em essGneia, propunham um programa es- treitamente estetizante ¢ historicista. Dominadas por tons pastel © ‘colagens irreverentes de revestimentos aplicados com delicadeza e ‘adornados com elementos historicos, essas misturas aparatosas acen= ‘deram o entusiasmo de jovens profissionais em ascensio por proje- ‘os para suas prdprias residéncias e também, em especial, de incor poradares de mini-malls (pequenos centros comerciais) ¢ shopping centers de beita de estrada nos Estados Unidos. No sul da Cslifor- nia, bairros inteitos de easas exuberantes com referéncias histori- cistas, eonsteuidas por especuladores e inspiradas naqueles projet tas, pareceram brotar da noite para o dia. A Bienal de Veneza de 1980, organizada por Paolo Portoghesi, mosttou que 0 movimento se espalliara para fora dos Estados Unidos, no so para a Europa, ‘com projetos de Portoghesi na Itilia, de Christian de Portzampare nna Franca e de Ricardo Bofill na Espanha, mas também para 0 Ex- ‘remo Oriente, com obras de Takefumi Aida e Arata Isozaki no Ja- ‘lo, principalmente o Museu de Artes Grificas de Okanoyama, em Nishiwaki, Hyogo (1982-84), com seus pilares macigos de conere- tona fachada que lembra um templo, galerias que se estendem como u 1 ARQUITETURA CONTEUIPORANER ‘modo mais expressivo talvez, essa versio do ps-modernismo no pide desenvolver possibilidades altemativas para que 0s arquitetos participassem profissionalmente do mundo da construglo, Os criti eos das condigdes contempordneas em termos exclusivamente at- quiteténicos também fracassaram na tentativa de desafiar aidéia de que a arquitetura & a eulpada pelas limitagSes e pelos problemas do lespago construido, Embora Jacobs criticasse decisdes arquitet6ni- cas e urbanisticas e propusesse alternativas arquitetOnicas e urba- nistieas, sua critica era multo mais abrangente e inclufa uma com ppreenso muito mais matizidy das causa da Ueyradayo urban, Embora o estudo de Jacobs s6 tenha exercido uma influéncia gradual sobre urbanistas e arquitetos e, da mesma forma, s6 muito Jentamente Fathy’ tenha conquistado seguidores para sua abordagem ‘no mundo islamico, Venturi e Rossi Togo atrairam um grupo de ar- uitetos com pensamento semelhante ao seu. Apesar das diferen- G8, Vitoria Gregoti, Giorgio Grassi e os arquitetos Mario Botta, Bruno Reichlin e Fabio Reinhardt, da escola de Ticino, de um gru- 1o informal conhecidlo como Tendenza, seguiram Rossi na rejeiglo 0 impulso universalizador do racionalismo modemnista ena valori- zago das fontes histricas, Com graus variiveis de eredibilidade, pretendiam recuperat e enfatizar tradigdes e materiais de constru- {0 locas e respeitar 0 tecido urbano historico. A arquitetura seca e fense ce Rossi, baseada em volumes geométticos tradigdes arqui- {etonicas populares absiratas, tornou-se a proposta dos outros ar- uitetos do norte da Itiliae de Ticino, Talvez porque os prédios co- ‘muns italianos sejam muito pouco ornamentados, seus préprios projetos, pelo menos até o inicio da década de 80, dependiam me- nos da evocagio de estiloshistéricos aristocriticos, através da omna~ ‘mentagdo, do que os projetos dos pés-modemistas americanos. A modesta casinha de Vanna Venturi anunciou uma tendéncia. aque logo encontraria seguidores nos projetos habitacionais dos Es- fados Unidos. Venturi e sua parecira Denise Seatt Brown defende- ram, nas décadas de 70/¢ 80, que a tarefa do arquiteto era transmitir significado ao pablico em geral, quer no projeto de uma casa, quer 19 de um edificio publico. Para Venturi e Seott Brown, “0 povo” transformou-se no detentor mével do significado, passando a ser visto como autoridade em Learning from Las Vegas (1972) ou nas discussdes em defesa de seus projetos devorativos. No entanto, qu suReDugto 21 12am ore Me dt Mera dus de Gun, Teas apo, 1978 ‘os vagbes de um trem, pédios com aspecto ristico e tons pastel. For ‘um contraste mareante com Museu de Arte Moderna da Prete a de Gunma, modemista e de acabamento polido, em Takasaki (4974), obra anterior de Isozaki, um ensaio em painéis de aluminio ‘de variagdes sobre o cub. ‘Como revelam os projetos de Isozaki, abertura& tradigio nio Jevou invariavelmente a versbes grandilogtientes do classicism. ‘Nos Estados Unidos, a Residéncia Spear em Miami, Florida (1976- 78), da firma Arquitectonica, com seu ousado esquema eromiético a ‘enfatizar os volumes éramiticos do interior, marcou 0 esfiorgo de ‘easar as cores vivas do Caribe com a fiieza do modernismo, Hollein, na Austea, adotou uma abordagem diferente que enfstiza ‘a prajetos muito elaborados, quase dia, que se propunam a pro- blematizar o proprio objeto de sua arquitetura, como na Agencia ‘Ausiriaca de Viagens em Viena (1978) 14,15 Artec, Seine Spa War, Rds, 157678 22. ARCATETURA CONTEMPORANEA 13 Hansen anes uric evans, oprnaht Vena Asti 198, ‘A chamada “volta & Historia atau defensores ainda mais arden- tes do que o pés-modernismo durante as d8eadas de 70 ¢ 80, Quin- Jan Terry, Alan Greenberg e Leon Krier pregaram a volta a0 classi- cismo académico. Em diferentes contextos, Krier defendeu o retor- no nfo s6 4 arquitetura clissica, como também aos principios de planejamento urbano anteriores ao séeulo XX. Parte do apelo de sua proposta de uma nova arquitetura @ um novo urbanismo devia-se a sua negaeto total de tudo o que acontecera ts cidades,& arquitetura, 4 acumulagdo de capital ows finangas desde a Revolugdo Indus” ‘rial A bibil climinagdo da discérdia por Krier tornou sous ogres esbogos de um mundo orginico tio atraentes quanto os quadrinhos de Disney, ¢niio- menos indiferentes As complexidades do mundo moderno. Os prinefpios urbanos que Krier aticulou tiveram uma evolugio mais substancial nas mios de arquitetos como Elizabetta Plavor-Zyberk, Andes Duany e Stephanos Polyzoides. Com 0 sur- timento de seguidores, fandaram em 1993 uma organizacZo, Con- zress-on New Urbanism (Congresso sobre 0 Novo Urbanismo), para defender projetos urbanos ¢ subuebanos em escala muito mais ‘modesta, com mais variedade visual e maior tolerincia a estilos di- ferentes do que no planejamento modemnista, No entanto,associado ramopugho 25 gag espacial de class erenda to caracterstica das comunidades residenciisplanejaas dos Estados Unidos, 'Na década de 70, os projetistas pés-modemnos produziram cada ‘vez mas panfletos(@ alguns edificios) contra 0 que veio a tornar-se uma verso carcatural do modernism. Jgnoraram os expoentes do modernismo das décadas de 20 e 30, que tinham atacado s institui- Giies aruitetdnicas burguesase elitists, eridicularizaram a espe- Fanga moderista de que uma esttica inovadora pudesse ser acom- pranhada por transformagies sociais. Na Verdade, a erenga de gue owas formas arquiteténieas seriam suficientes para melhorar 0 mundo parece hoje no minimo ingénus. No enfant, os pos-moder- nistas que desdenharam os objetivos utdpicos que os modernistas queriam alcangar por meio da forma incorreram em pelo menos dois grandes eros. Em primeito lugar, com o passat do tempo, no final da dada de 70 cao longo da década de 80 eles abandonaram toda aspiragio de mudanga social, no s6 por meio da forma, mas em todos os sentidos. Embora em alguns casos os pés-moderistas tenham feito aliangas com preservcionistas para conservarprédios antigo, isso foi reltivamente raro; durante a explosdo imobiliia dos impetuosos anos 80, as aliangas com outrasforgas para melho- rar ahabitago foram a excesto, no a rege. A precupasio coma 17a Koha: nau dma em 1970, 24 ARQUTETURA CONTEMFORANEA 16 Cosa, Patera, Kner Honda, 1986 ‘esses projetos urbanos havia um conjunto de imagens sociais nos- ‘gins e separatists que eram vistas com desprezo por muitos cri- ticos e arquitetos ~ e com entusiasmo por clientes de classe média, TTalvez o esforco mais bem sucedido na criaglo de uma nova cidade, apesar de fora dos principios do Novo Urbanismo, seja Almere, na Holanda, perto de Amsterdam, i margem do Zuider Zee. A cidade foi plancjada por Teun Koolhaas, teve sua Prefeitura projetada por ‘Coes Dam ¢ os prédios de apartamentos por Herman Hertzberger © ‘outros arquitetos importantes. Em escala proporcional aos pedes- ‘res, mas atenta a outras formas de transporte, de bicicletas a auto- moveis, Almere aspira a ser uma cidade onde se possa viver e que respeite os padeSes holandeses tradicionais de vida e trabalho e as tradigdes arquitetOnicas, mas também as transformagGes modlernas, ‘Com certoza, uma importante diferenga encontra-se nfo na arquite- ‘ura, mas no eompromisso da Holanda com a habitagao decente de bbaixo custo para todos os seus cidadios: nfo hi em Almere a segre- IntRODUGAO 27 uma vertente desse grupo, conhecida como os “Brancos”, inelufa Peter Eisenman, Richard Meier, Michael Graves ¢ Charles Gwath- ‘mey, que seguiam estritamente a estética arquitetOnica pura e poli- dado modernismo, Por outro lado, os “Cinzentos”, Venturi, Moore ¢ Stern, rejeitavam cada vez mais, como vimos, a aparéneia branca ‘em favor de estilos histricas elementos arquiteténicos. Outras posigdes historicistas foram defendidas na Europa por Paalo Por- ‘oghesi, Quinlan Terry e Leon Krier. Apesar de suas disputas ocupa- em multas paginas de revistas de arquitetura na década de 70, seus debates, com os dos modernistas da década de 30, ficavam & mar- ‘gem dos processos reais de encomenda, financiamento e constr ‘0 de prédios, Edificio Portland, em Portland, Oregon (1980), de Michael Graves — que, durante década do 70, sbandonou gradualmente os ‘Brancos em favor da vertente Cinzenta, cada vez mais em tons pas- tel ~ serve de protétipo da assimilagio do pos-modemismo pela corrente dominante na arquitetura americana. Graves ganhou o con- ‘eurso para a execugio de um novo prédio administrativo da cidade devido, em parte & presenga de um partidario, Philip Johnson, no {tir que avaliou os projetos. A.um simples bloca cibico que se ele- ‘va sobre um pédlio, pontihado de pequenas janelas quadradas, Gra- ves adicionou festdes, um padrio em pirimide invertida delineado no revestimento, elementos arquitetOnicos ampliados, tis como aduelas, ea figura de Portindia moldada em massa elevando-se s0- bre a entrada. Como Robert Venturi, Graves também eonquistara um Rome Prize que Ihe permiti estudar em primeira mio a arqui- ‘etura italiana. Quando abandonou os Brancos, fot para incorporar uma interpretagio muito maneitisa, para no dizer preciosista, de elementos decorativos elassicos ¢ italianados em projetos de conti- ‘guragio simétrica, como o Edificio de Esert6rios Portland. O es- quem decorativo, de ousadia ineomume intenso eromatismo, fa- ia referéncia explicita & historia arquitetOnica italiana e provocou «iseussbes polémicas e apaixonadas sobre a auequaca0 do estilo e das cores no contexto de um atraente centro urbano. ‘Acasa de Frank Gehry em Santa M@nica (1978). apesar de mais provocante no uso pouco ortodoxo de materiais e de imagens tos- ‘as, despertou muito menos controvérsia. Na verdade, alguns crit- «605 descartaram como mé arquitetura, Talver 0 tamanho modesto 0 2 anqumETuna CONTEMPORANEA ceologia ou com a conveniéncia de se construir em teas geologica- ‘mente inadequadas sofreu uma marginalizagio ainda maior. Em toda a Europa e nos Estados Unidos, muitos dos ousados projetos ppos-modernistas da década de 80 no pareciam incorporar sonho algum além de riqueza e poder. ( segundo erro foi que os adversirios do modernismo ut6pico ainda acreditavam no poder da arquitetura de transmitir significa- do, como nas obras dos pés-modernistas de orientagio populista, ‘ou de crticar a sociedade contemporinea por meio da forma, como ro caso de wiquiletus vouuy Petes Eisenman, com sua série de ensas ‘numeradas. Assim, paradoxalmente, reafirmavam o poder da forma, junto com seu proprio poder enquanto arquitetos, ao mesmo tempo ‘em que ridicularizavam as aspiragdes utdpicas dos primeiros mo- ‘decnists, Talvez a continuidade fundamental entre arquitetos moder- niistas e p6s-modernistas provenha da reafirmagao do poder da for- ‘mae, da, da primazia do projeto, até a exclusio de outa estratéyias para a melhoria das cidades e das condigdes de vida, f evidente que 0 projeto deve ser um componente de qualquer programa urbanisti= co, mas niio pode ser isolado de forma firutifera. EM BUSCA DA TEORIA Apesar dos violentos ataques aos antecessores e de sua propria ‘elebrago dos estilos hist6rieos, 0s projetistas responsiveis pela ‘nova onda de edificios pareciam ineapazes de criar uma teoria mais rica - ou seja, algo diferente do antimodernismo ~ para embasar suas proprias priticas. Nos Estados Unidos e na Europa, os debates sobre o pés-modernismo na década de 70 mantiveram-se exclusivas ‘mente no nivel do estilo , em alguns casos, da rejeigdo explicita de toda preocupagdo social. Os que defendiam o compromisso com 0 ‘modernismo fiziam-no muitas vezes alegando clevadas razes mo- rais, em geral vineulando sua posigfio aos relatos apenas parcial= mente verdadeiros da supressi0 do modernismo por regimes totai- trios durante a década de 30, Também faziam afirmagies sobre a lgica tecténica superior de seus projetos, a maior honestidade na cexpressdo da estrutura e a elevada fidelidade aos imperativos dos ‘materiais e da tecnologia eontemporaneos. Nos Estados Unidos, TRODUGAC 29 1, Aron aber Waxyan Hust, ee do Barco NV je NG Aste, Hoa, 1984 da casi teulta conteibuido para sua aceitagyo, mas Gehry nfo pro- pds uma teoria da arquitetura nem assomin uma posigéo polemica Pomo a de Graves. Embora ambas as construgées ficassem na costa, este dos Estados Unidos, Graves, como professor de Princeton, ‘Sxmembro dos New York Five e figurinha facil nas publicagdes de arquitetura da costa leste, gerou, dentro da profisséo, muito mais ccontrovérsia do que Gehry. ‘Do ponto de vista da década de 90, &espantosa a indiferenga de- monstrada nesses debates a tudo que extrapole as questdes estéti- tas. Com algumas notiveis excesdes, 0s arquitetos e a maioria de suas publicagdes ignoraram as conseqiéncias da construgio de ar- anha-céus no centro das cidades, 0 crescimento dos subirbios, 05 cconstrugaes precdtias na periferia das grandes cidades internacio- mais, a construgdo de-parques de escrit6rios e questdes como ecol0= 2 ARQUITETURA CONTEMPORANE 9. Mis! Graves, Efe Prtnd, Porn, Ores, 196 InaRODuGAO 31 ‘gem & tradigio holandesa de construgio, © um sistema solar passivo responde a preocupagies ecolégicas, Uma das melhores qualidade ddo prédio é que apresenta uma variedade de fachadas que dio para ‘a nia e abre uma agradavel praca no focal. Com muita freqiéneia, (0s prineipais protagonists das debates arquitetOnicos fizeram pou- ‘co dos que levantayam quests sobre tas assuntos. Seduzidos pelo

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