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VARGAS, ARQUITETURA MODERNA E A ORIGEM DA HABITAGAO SOCIAL NO BRASIL ‘Nabil Bonduki* “As casas proletérias, construidas pelas Caixas e Institutos em varios Estados, ainda séo ‘em pequeno nimero e de prego elevado, em relapdo as posses dos empregados. Delinstugbes ‘20 Ministério do Trabalho para que, sem prejuizo das construpées isoladas onde se tomarem aconselhaveis, estude e projete grandes nicleos de habitagGes modestas e confortavels. Recomendei, para isso, que se adquiram grandes areas de terrenos e, se preciso, que se desapropriom as mais vantajosas; que se proceda @ avaliago das mesmas; que se lever ‘em considera¢ao os meios de transporte para esses nticieos; que se racionalizem os métodos. de construeao; que se adquiram os materiais, dretamente, do produtor; tudo, entim, de modo se obter, pelo menor prego, a melhor casa”. A afirmago, que mostra uma clara preocupacéo com a edificagao de grandes conjuntos habitacionais através da racionalizagao dos sistemas construtivos redugo dos custos, para possibiltar uma produgo massiva, poderia perfeitamente ser de autoria de algum arquitoto moderno, nos tempos pioneiros ‘da Ciam. Foi proferida, no entanto, pelo presidente da Republica, Gettlio Vargas, em discurso realizado em novembro de 1938, no aniversério da Constituigao do Estado Novo (Vargas 1942 VI:99/100). ‘O discurso antecede a elaboragao dos projetos e construgao dos grandes conjuntos habitacionais dos Institutos de Aposentadoria e Pensées, realizados sobretudo nos anos 40. Mostra que os partidos, ~arquitetdnicos e as preocupagées presentes na intervencao habitacional realizada pelos |APs, neste period, no foi apenas resultado de decisoes pessoais, tomadas por técnicos dos Institutos ou do Ministerio do ‘Trabalho, mas nasceram de uma reflexéo presente no proprio nucleo de poder do Estado Novo. A declaragao de Vargas pode ter sido formulada por assessores; no entanto, 0 simples fato do ditador ter inctuido, no seu ciscurso - que era uma das pecas mais importantes da relagao que estabeleceu ‘com os trabalhadores - 0 tema da habitagao, com preocupacao de ressaltar as vantagens desta ou daquela tipologia arquiteténica ou método construtivo, mostra que a questao habitacional nao sé se politizava, como era considerada pelo Estado Novo um elemento importante na “cesta” de servigos sociais que, de modo paternalista, pretendia oferecer aos trabaihadores. ditador, ao indicar solugdes baseadas em grandes nucleos habitacionais muttitamiliares em substituigdo &s unidades isoladas unitamiliares, que predominavam até entdo, esta movido pelos mesmos pressupostos dos pioneiros do movimento mademo, aqueles para quem “o mademo néo era um estilo mas uma causa" (Kopp 1991): a busca de uma produgao massiva de habitagao capaz de responder a imensa demanda social por moradias, resultado do processo de industralizacao ¢ urbanizagao. a0 discurso de Vargas no Dia do Trabalho de 1944 mostra, em outra conjuntura politica, sua disposigdo, retérica talvez, de priorizar com recursos a producao massiva de habitacao: “Terminada a fase de experiéncia e solidificagao dos Institutes @ Caixas, cujas reservas vinham sendo aplicadas sob o critério de imediata seguranga e rendimento certo, & tempo de iniciarmos uma politica de mais largo alcance relativamente ao emprego dos fundos acumulados. Emprestar os depésitos das organizacdes de seguro social para construgées ssuntudrias ou faz6-los circular a jures bancarios 6 afasté-los da finalidade superior que ditou a legislagao trabalhista (..). Quanto & aplicagées do capital também serdo adotados rumos diferentes... Com a colaboragao das administragdes municipais, que entrosaréo os respectivos projetos nos seus planos de urbanizagao, construiremos cidades-modelo nas proximidades dos grandes centros industriais, com instalagbes de tratamento de satide, de ‘educagao profissionais e fisicas(..). Océlculo da mobilzagao financeira das reservas atuais permite-nos anunciar 0 propésito de nelas inverter inicialmente quinhentos milhes de cruzeiros’. (Vargas 1945 X:268/9). Em tom populista, Vargas parece imbuido da disposigao de transformar o enfrentamento da ‘questo da habitagao em um novo elemento da sua afirmagao como “pai dos pobres”, de certa forma dando Ccontinuidade ao processe iniciado com a criagdo da legislagao trabalhista e com a incorporagao da questéo Social nas atribuigdes e responsabilidades do Estado. Qu seia, fazer do tema da habitagao social, de grande \isibilidade junto a classe trabalhadora, um simboto de uma nova fase de seu govero que, em 1944, ja sofria Departamento de Arete Urbanma Escola de Engennara de SS0 ares, riverine de S80 Paulo IW SEWINARIO DE HISTORA DA CIDADE E GO URBAWSNO 381 forte oposigdo, requerendo maior apoio popular. Neste contexto, ao final do Estado Novo, Vargas pretendia unificar todos os IAPs num tinico drgao e através da reuniéo dos fundos previdencidiios financiar uma massWva pprodugao habitacional a ser implementada por um érgao especifico a ser criado, a Fundagao da Casa Popular (Melo 1991). 0 projeto se frustou com a derrubada do ditador. ‘Oeenfrentamento do problema habitacional, portanto, no chegou a se destacar como uma ago social de peso como Vargas parecia pretender. Assim, nem de longe foi equivalente a interven¢ao realizada nos paises social-democratas europeus, sobretudo a produgao alema, ausiriaca e holandesa e, mesmo as realizagbes peronistas na Argentina. Apesar disto, as iniciativas “sociais” dos governos Vargas e Dutra ea cuitura arquitetonica, urbanistica e, por que nao dizer, habitacional, presentes e implementadas no pais estavam fortemente influenciadas pela produgao social-democrata, nao s6 nos seus objetivos como nas solugées técnicas e formais adotadas. E a producao habitacional aqui realizada esteve, neste sentido, longe de ser insignificant. Vargas e as origens da habitagao social no Brasil CO periodo de Vargas marca o surgimento da habitagao social no Brasil, Abandonando o liberalismo, © Estado brasileiro passa a interferir em todos os aspectos da vida econdmica do pals e a questéo da hhabitagdo nao foi deixada de fora. No mercado habitacional, o governo agiu regulamentando as relagdes entre locadores e inquilinos e produzindo ele préprio a moradia do trabalhador, através de autarquias estatais (Bonduki 1994). Marcos importantes desta intervengao foi o Decreto-Lei do Inquilinato de 1942, que ‘congeiou os alugutis, a criacdo das Carteiras Prediais dos Institutos de Aposentadorias e Pensdes (IAPS), 2 partir de 1937, que transtormando-os nas primeiras instituigbes publicas de carater nacional a produzirem, ‘em numero signiticativo, habitagao sociale, finalmente, a criagao da Fundagao da Casa Popular em 1946, ‘6rgao pioneiro, destinado exclusivamente a enfrentar 0 problema da moradia, mas que fol esvaziado de poder ‘recursos pelo governo Dutra ‘Com estas medidas, 0 govemo Vargas seguiu uma tendéncia internacional no periodo, que recomendava controte do mercado de locagao e a produce ou financiamento de moradia pelo Estado @ acabou por transterir 0 énus do investimento necessério para produzir habitagao dos setores privados, desestimulados pelo congelameento, para o setor puiblico e para o proprio trabalhador. (0 Estado, ao produzir ele proprio a moradia, ao penalizer fortemente 0s “rentiers” urbanos e a0 estabelecer o cima do “lalsser fare” nas favelas e nas periferias das ckiades agiu, conscientemente ou nao, para reduzir 0 custo de reprodugao da forga de trabalho, aspecto fundamental que contribuiu para as altas taxas de acumulacéo de capital eno esforgo de industrializagao que marcaram este periodo no pais. Este talvez fosse 0 objetivo principal e orientador de todas as ages do governo no campo da habitagao, dando ceria coeréncia e racionalidade a suas iniciativas dispersas. Muitos tem argumentado que a produgao publica neste periodo (cerca de 143 mil unidades) & inviséria frente as necessidades de moradia. No entanto, a questdo tem que ser vista no apenas em termos absolutos mas relativos, comparativamente ao nada que se tazia antes. E, por outro lado, em alguns subperiodos: @ regides a produgo habitacional promovida pelo Estado foi significativa até do ponto de vista quantitativo, Tabela 1 Produgao habitacional publica IAPS E FCP (1937 / 1964) Financiamento a Conjunto Habitacion tie Insttutos Aposentarias © Paasea 47.789 76.236 124.025 Fundagdo da Casa Popular | 18.192 - 18.132 [Total (Governo Federal) 65.921 76.236 142157 Fontes: Farah (1983) o Melo (1987) 982 De qualquer forma, 6 do ponto de vista qualitative que os conjuntos habitacionais dos IAPS ‘merecem destaque pelo nivel dos projetos e pelo impacto que tiveram em varias cidades brasileiras, definindo novas tipologias de ocupagao do espago urbano e tendéncias urbanisticas inovadoras. ‘Oresuttado da produgao habitacional do periodo mostra que existiam plenias condigdes no Brasil dos anos 40 ¢ 50 para se implementar uma massiva produg4o de habitagao social, de excelente qualidade, se no capaz de atender as necessidades da populacao de baixa renda, ao menos para limitar e conferir um ‘outro padréo de qualidade ao incontroldve! processo de favelizacao e periterizagao que tomou conta das principais cidades brasileiras a partir de entao. Erros governamentais impediram este caminho, fazendo.com ue a disperse de recursos e a ineficdcia na sua utlizagao reduzissem drasticamente o impacto da produgao habitacional realizada no populismo. Mesmo assim nao foi pouco o que se fez © o que se inovou, inclusive em termos de propostas urbanistica s e arquitet6nicas, Neste quadro, a intluéncia exercida pelos pioneiros da arquitetura moderna foi significativa. A principal preocupagao destes no periodo do entre guerras se ditigia ao problema da produgao massiva de habitagao para os trabalhadores, numa conjuntura marcada pela devastacao da guerra e pela forte expectativa or um transformagao politica que levasse ao socialismo. “A quem pertence 0 mundo? Essa era uma das questdes centrais dos anos vinte; a quem pertence e a quem ird pertencer? Para muitos pioneiros da nova arquitetura, a resposta era clara: 20 povo, 4s massas, aos trabalhadores, ao maior mimero. Sob essas variagoes terminaldgicas se escondiam a idéia comum da transformagao social iminente ou em curso 8 a ascensao da arquitetura a fungoes novas e superiores, A exemplo de Marx, para quem a filosofla que se havia limitado a descrever 0 mundo irfa contribuir para transformé-l0, 0s criadores artisticos da vanguarda dos anos 20, entre eles 0s arquitetos, acreditavam que a arte, a arquitetura e a organizagao urbana delxariam de ser um retlexo da sociedade existente para se tornarem um dos instrumentos privilegiados de sua reconstruco" (Kopp 1990:22).. (© tema central do 2° CIAM, que se realizou em 1929, em Frankfurt am Main (Alemanha), foi a ‘questo da habitacao do minimo nivel de vida, girando a discussao e teses em tomo da necessidade de se Viabilizar uma produgéio massiva para satistazer a crescente caréncia de moradias para os operdrios: “necesitamos viviendas suficientes en numero y en calidad, que salisfasan las necessidades de las masas, de los que buscan viviendas con pocos medios. Necesitamos viviendas para el minimo nivel de vida.”(May 1929 in Aymonino 1978:108). ‘A busca @ a investigaglio de desenhos, projetos @ tecnologias capazes de garantir uma simplificagao dos processos construtivos, com a incorporagao de tecnologias inovadoras, eliminagao da ‘omamentagao, adogao de um tragado urbanistico racionalista e solugoes arquiteténicas baseadas na Lniformidade e repetividade das unidades e biocos visavam, mais do que um resultado formal, possibilitar uma produgo massiva de moradias para atender aimensa demanda por habitag&o existente nas cidades industrais; visava responder aos anseios dos trabalhadores organizados por melhores condigbes de vida, Visavam, enfim, uma arquitetura como arte social, ‘Os arquitetos brasileiros eo compromisso social Cabe, portanto, uma pergunta: até que ponto pode-se afirmar que os arquitetos, urbanistas ‘outros profissionais envolvidos na produgao habitacional brasileira dos anos 30 aos 50 consideravam, & semelhanga de seus companheiros europeus dos anos 20 e 30, que, “a arquitetura modema no era apenas formas depuradas e técnicas contempordneas, mas também e sobretudo a tentativa de participar, ao nivel da ‘construgdo do ambiente, na transformagao da sociedade?” (Kopp 1990:14) A andlise que seré realizada aqui nao iré responder definitivamente esta pergunta, visto que a pesquisa sobre a “Habitagdio Econémica e Arquitetura Moderna Brasi", esté ainda no inicio, sendo necessario. alargar os exemplos a serem estudados e recorrer a nova fontes que permitissem identificar 0 posicionamento ideol6gico dos protissionais envovidos. Entretanto, feta a advert8ncia, pode-se afirmar, & luz do conhecimento ‘que se tem hoje sobre o assunto, que a resposta 6 positiva. Considerando, como 6 consenso entre os historiadores, que a arquitetura moderna brasileira articulava-se com 0 modelo de desenvolvimento nacional em implantagdo nos anos 40 e 50, nada seria tao forte nesta interlacugdo que o projeto e construeao de grandes empreendimentos, como cidades-novas ou ‘conjuntos habitacionais e equipamentos sociais a eles vinculados, entendidos como as células basicas do ‘organismo urbano. Embora, grande exemplo da participagao da arquitetura no projeto nacional- IW SEVINARIO DE HISTORIA DA CIDADE E OO URDANIMO 983 desenvolvimentista tenha sido sempre Brasilia, ¢ possivel citar, na mesma perspectiva e guardadas as devidas proporgées, a construgao de grandes conjuntos ou mesmo de cidades-modeto destinadas ao operdrio industrial, como falava Vargas, como uma outra faceta da intervengdo fisica capaz de dar visiblidade e forma concreta a0 modelo de desenvolvimento e de modemizagao brasileiro do periodo populista. estes espacas, exemplos concretos da preacupagao com a questéo social, entendida como a protegtio corporativa ao operario urbano, poder florescer 0 “novo homem” (Gomes 1982) que oregime buscava criar,reforgando valores como a modemidade, a racionalidade e a funcionalidade e possiitando a edificagao cde equipamentos sociais estatais - importantes insirumentos de controle e normatizagao dos comportamentos. Apesar da resisténcia de varios segmentos da sociedade brasileira terem inviabilizado a coneretizagao de uma politica de habitagao social consistente para o pais, tudo indica que, no marco de reformas estruturais que estava colocads para as forgas politicas progressistas o Brasil dos anos 40 e 50, 0 enfrentamento do problema habitacional ocupava lugar de destaque.E isto, malgrado o ceticismo de importantes. arquitetos como Niemeyer -’néo me atrala essa idéia de habitagao mais barata’{ Cavalcanti 1987) ¢ Artigas - “a habitagdo econémica era um indice do ata com que a burguesia langava na iuta suas titimas reservas a tim de sobreviver mais alguns anos” (Artigas 1952). Outros expoentes da arquitetura brasileira, entretanto, viram na habitagao social ocaminho através do qual poder-se-ia transformar as condigdes de vida da classe trabalhadora, introduzindo hébitos e um modo de vida "modemo” capazes de romper com o anacronismo presente no pais, expresso no subdesenvolvimento, ignorancia, injustica social e permanéncia no meio urbano de praticas de produgao atrasadas e de baixa produtividade, visdo comparthada por outros intelectuais do perfodo, a grande maioria envolvida no projeto de desenvotvimento nacional ‘Na profunda transformagao que ocorreu no Curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas ‘Artes do Rio de Janeiro, logo apés a revolugao de 30, com a indicagao de Lucio Costa pata a sua diregao, considerada um dos marcos importantes da implantagao do movimento moderno no pais, jé se faz notar a presenga da habitacao social como simbolo de mudanca, como relata o Arq. Ernami Vasconcellos: “Com a entrada de Lucio Costa para a direrao, o ensino muda completamente, a Torre de Pensamento as margens do Rio Sagrado’ cedeu lugar & habitagéo popular’(Cavalcanti 1987), Ja para o proprio Lucio Costa (Cavancant 1987), a modernizagao da habitacao teria forte influéncia na sociedade: “a casa moderma seria um instrumento de liberta¢do dos trabalhadores. A maquina de morar, 420 tempo de colénia dependia do escravo. ...O negro era esgoto: era agua corrente quente e tia; era interrupior de luz e botao de campainha.. As facilidades modemas diminuiriam a necessidade de empregados domésticos, que passariam a trabalhar nas industrias” Com Reidy e Carmen Portinho, que atuaram na construgéo de Pedreguino, aparece de uma forma mais acabada a relagao entre habitagao social, modemnizacao, educago popular e transformagao da sociedade. Para Reidy, Pedreguiho dispunha de servigos que Ihe permitia certa autonomia, como a escola, que seria 0 centro e simbolo de sua proposta de ago reeducadora no habitar (Cavancanti 1987). A reeducacéo das classes populares através da arquitetura da habitagdo aparece de modo insistente no discursos de técnicos encarregados da implementar conjuntos habitacionais, como deciara Carmen Portinho: “a mais importante tarefa (das assistentes sociais) era ensinar aos mais pobres novos hébitos de higiene, sadde e, principalmente, como ‘usar’ as construgdes modemas” (Cavalcanti 1987). Portinho justiicava a opgo dos arquitetos modemos brasileiros, defendida enfaticamente em varios Congressos do IAB, pela propriedade estatal da moradia a ser alugada para os trabalhadores, em oposigdo a difuséo da casa prépria, como uma forma de controlar o edificio e seus moradores contra o sou mau uso: “Fu acusada de comunista, apenas porque me opunha a venda dos apartamentos. Defendia, 4 titulo de aluguel, a dedugao de percentual do salério do funciondrio. Deste modo, @ prefeitura mantinha a propriedade, o controle das moradores @ a boa conservacao dos prédios. Isso lé é comunismo?” (Cavalcanti 1987). ‘Acconcep¢ao de habitagéo como um servigo piblico, que esta presente neste discurso de Portinho ede outros arquitetos atuantes no periodo, fol apresentada pelo arquiteto Henrique Midlin como uma tese 10 I Congresso Brasileiro de Arquitetos realizado em 1945, e ¢ forte indicador da relagao entre os projetos de habitagao social e a perspectiva de transformacao social, identificada na estatizagao dos meios de produgao ‘e dos equipamentos coletivos e na busca de garantir habitag&o digna para todos 0s trabalhadores. “outra conclusdo [do | Congreso Brasileiro de Arquitetos) é a que aconselha a construgao de habitagdes de aluguel e ndo para a venda pois a casa passou a ser considerada como um ‘Servico de Utlidade Publica’ (agua, esgotos, luz, transportes, etc). Ora 0 Estado, que nao iV SeMNARIO DE FISTORIA DA CIDADE E 00 URBANIOMO 984 pode faciliar a cada cidado os meios de aquisi¢ao de sua casa, poderd, contudo, assegurar ‘cada familia o dreito a0 uso de habitagao decente, mediante alugue! cdmodo e compativel ‘como padro comum da vida organizada.” (Engenharia, Novembro 1945). Portinho também acreditava ser a habitagao “um servigo social de utiidade publica, com a principal fungao de reeducagao completa do operdrio brasileiro, que (.) deveria estar incluida entre os servigos obrigatérios que o governo deve oferecer, como Agua, luz, g4s, esgoto etc” (Cavalcanti 1987:69). O que poderia ser uma “reeducago completa do operdrio brasileiro" sendo sua preparagao para viver em uma nova organizagéo social? Neste sentido, nota-se que uma parte signiticativa dos arquitetos, que podem ser identificados ‘como progressistas no campo politico, fortemente influenciados pelo PCB, remavam contra a corrente predominante, de tendéncia mais conservadora ¢ apoiada pela Igreja e pela ideologia dominante no Estado Novo, que era ardorosa defensora da casa prépria como um instrumento para tomar os trabalhadores defensores, da ordem constituida e supostos beneficidrios do progresso da naga: “Dando a esses humildes trabalhadores seu lar préprio, outorgava-Ihes o governo do Estado Novo a base fisica de sua liberdade econdmica, 0 recanto amorével de sua vida de familia e 0 simbolo de sua felicidade singela de trabalhadores e de chefes de cada uma daquelas ‘mansdes domésticas honradas de dignlicadas pelo trabalho honesto de todos os dias’. (Discurso do Sr. Waldemar Falco - Ministro do Trabalho na inauguracéo da Vila Operéria Waldemar Falcdo, BMTIC Nov. 1936). ‘A.adogao da locagao como a forma de acesso largamente predominante &s moradias produzidas ‘nos conjuntos habitacionals dos Institutes, embora resultasse também da perspectiva atuarial presentes nos IAPs (que continuarlam mantendo seu patriménio), representou uma vitéria dos que se opunham a casa propria e exerceu influéncia no partido arquiteténico dos projetos dos conjuntos, sobretudo na valorizagao do ‘espaco pubico ena qualidade dos materiais e da construgao. A op¢ao por blacos de edificios coletivos, com equipamentos sociais e comunitarios, é uma clara consequiéncia desta visSo, em oposigao a concepgao da casa préptia, isolada, com quintal, horta e criag&o, preferida pelos conservadores, ‘Neste aspecto, pode ser feita uma analogia com o que ocorre na Alemanha nos anos 20 €30. A ‘emergéncia do nazismo signficou o fim do desenvolvimento de projato de conjuntos habitacionais multfamiliares, exempiares da arquitetura moderna, que predominaram na social-democracia dos anos 20, ea opgao por programas habitacionais dfusores da casa prdpria unitamilar, que buscavam resgatar a tradigao conservadora rural alema, inclusive no estilo adotado. ‘No Brasil também a questo do “estilo” nao deixou de ser politizada. Os arquitetos modemos brasileiros procuram, aliés com algum sucesso, vender suas propostas como um aspecto importante do novo ‘momento de progreséo que o pais vivia, com a industrializagao e a urbanizagao. Assim, 6 relevante mostrar que 0s arquitetos e urbanistas modemos foram capazes de exercer influéncia nos centros de decisdo encarregados de implementa projetos estratégicos do desenvolvimentismo, arliculando a nogao do modemo na arquitetura da habitagao com a da modemizagao e industrializagao da sociedade, mesmo que esta visao estivesse presente numa perspectiva politica mente mais conservadora, com forte presenga dos militares. Exomplo 60 projeto de criagao da Cidade dos Motores, em Xerém, junto & Fabrica Nacional dos Motores, formulado na primeira metade dos anos 40. Pretendia ser uma autarquia com autosuficiéncia em termos de habitagao, educagao, lazer e alimentago, seguindo o modelo das cidades industrais americanas, com o objetivo de instaurar, como afirma seu idealizador, Brigadeiro Guedes Muniz, ‘a hierarquia social dependente do préprio valor individual, que é a ‘negagéo mais eficiente da promiscuidade comunista’ (Cavalcanti 1987). Muniz, em discurso na Fiesp, mostra como a arquitetura moderna influenciou a opcao de tipologia a ser adotada: “Habituados a ouvir por todo Brasil, louvores as habitagdes individuals, por indole e por descendéncia, nossa primeira inciinagao foi para essas habitagSes, onde 0 operdrio possuisse ‘sua casinha branca e seu quintalzinho pequenino, e se sentisse, assim, mais em casa, mais possuidor da habita¢ao em que morava. Consultamos, porém, Atfio Correia Lima, o brihante Correia Lima e 0 livro ‘La Ville Radieuse’ de Le Corbisier convenceram-me totalmente. Na mesma érea de terreno onde podiamos abrigar cinco mil possoas, em casas individuais, modestas, era possivel alojar vinte e cinco mil em apartamentos modernos & confortaveis. Em lugar do quintal sujo.e pequenino, os operdrios poderiam ter & sua dispasicao grandes parques com piscinas , jardins, campos de esportes e recreio” (Muniz 1945 apud Ramalho 1986). IW SEMINARID DE HISTORIA.DA CIDADE E 0 URBAMISNO 985 Lima, de fato, realizou verdadero proseltsmo junto ao Brigadeiro Muniz, como pode-se aprender pelo parecer que apresentou sobre o plano da Cidade Operdiria da F.N.M., realizado apenas trés dias antes de sua morte, em agosto de 1943 (Lima 1963). Este parecer é um manifesto em detesa do projeto modemo como elemento norteador da construgao de cidade-novas ou conjuntos habitacionais e foi capaz de convencer Muniz. Lima faz écida critica & casa isolada, que “recai no velho sistema de quintal, depésito de velharias, com aspecto érido e sérdido dos terreiros que (...)lembra o pljama e o chinelo dos domingos'” (imagens simbdlicas do velho, ‘de um mado de vida arcaico), enquanto que "as construgées feltas em sé, formando conjuntos densos apresentam as mesmas vantagens da produgdo industrial em massa, baixam o custo unitério permitindo elevar o padréo da unidade de habitagdo e criar o parque coletivo de grandes proporeées (...) com uma vida social diferente com campo de esporte junto a porta, ‘que traré o gosto pela camisa esporte" (Lima 1963:6/7). O arquiteto busca sensibilizar 0 brigadeiro identificando suas realizagées com a modemidade, que $6 estaria completa com a op¢ao pelo ambiente novo da arquitetura: “A era industrial que atualmente se inicia no Brasil, de que a FN.M. é uma das mais audazes pioneiras, ndo deve avangar e subir s alturas ,sem arrastar consigo tudo que ihe ¢ acesséro, Espirito Novo! criando indtistria nova! em ambiente novol este deve ser ocritéro, para que o ciclo formidével de realizagGes do Brigadeiro Anténio Guedes Munir seja completo” (Lima 1963.7), Attilio Correia Lima, apesar de sua morte precose, (que ocorreu numa de suas vindas & Sao Pai, para tratar de um projeto habitacional para o IAP! ), foi um dos arquitetos modemos que se destacou na incorporagao do idedrrio da arquitetura moderna em projetos de habitagao social, com a construgée do conjunto dda Baixada do Glicério, deixando ainda em elaboragao um projeto para a gleba do Helidpolis, destinada para 16 mil moradores. E obvio que a ago destes arquitetos modemos brasileiros estava fortemente marcada pelo etnocentrismo e por um desprezo pelo modo de vida do “povo", como Cavalcanti (1987) ressalta enfaticamente, em sua dissertagao “Casas para 0 Povo", com 0 objetivo de mostrar que os arquitetos modemos produziam uma habitagao totalmente desvinculada da cultura e das tradigées brasileiras: “8 minha hipotese estar a arquitetura moderna inserida em um movimento mais amplo dos intelectuais brasileiros que assumem postura intervencionista ou domasticadora em relagao 4s camadas populares (...) No campo da arquitetura prevalece, largamente, a ingeréncia em relacao as camadas populares. Os arquitetos tendem a pensar as formas existentes de ‘moradia como anacrénicas, almejando propor solugdes que interpretem ‘correta’ modemamente a questo" (Cavalcanti 1987:63). Nao resta divida de que isto ocorreu, Alias é um dos pressupostos da arquitetura moderna introduzir uma nova forma de tratar, do ponto de vista formal, produtivo, social e cultural a questao da habitagao. Se fosse para repetir 0 que 0 povo fazia nao precisaria de profissionais especializados, seria a resposta dos ‘modemnistas a esta critica, Mais do que isto, os arquitetos modemos, principalmente os vinculados & produgéo. habitacional patrocinada pela social-democracia nos anos vinte, defendiam que a produgao habitacional concebida em fungao das necessidades e aspiragées dos trabalhadores nao deveria sera “simples traducdo em espagos construidos das idéias que os futuros usudrios exprimam através de questiondrios @ pesquisas cientificamente concebidas por especialista em ciéncias humanas, doravante associados aos arquitetos. Nao é tanto o que os usudrios desejam, mas sim o que deveriam desejar que os arquitetos da nova arquitetura pretendem oferecer-ihes. A hhabitago minima deve ser 0 meio de passar de uma a outra maneira de viver, ser instrumentas de uma ‘Neue Wohnkultur, uma nova cultura da habitagao. Ora, a imensa maioria da populacao 1néio pode imaginar formas de habitacdo muito diferentes das que ela conhece. Trala-se entdo, ‘aps estudo cientifico das necessidades e aspirap6es, de responder, néoconstruindo a casa ‘ideal nascida da imaginacao popular e que, em geral, serd apenas uma md imitagao das residéncias dos ricos, mas de trazer uma solugao nova, original e suscetivel de originar novos hébitos um novo modo de vida conforme as idéias que tém do futuro os meios progressistas politicos e arquiteténicos” (Kopp 1991:53/54). Estes pressupostos estavam inteiramente presentes no ideario dos arquitetos brasileiras, que acreditavam estar participando da construgao de uma nova sociedade. que requereria urn novo modo de morar. Portanto, se a critica de Cavalcanti procede enquanto contraposi¢ao ao projeto modemnizador em que os W'SEMNARIO DE HISTORIA DA CIDADE E 00 URBANO a6 arquitetos brasileitos estavam metidos, posto que trataram da questo sem se preocupar em incorporar praticas populares de morar, como um dos elementos importantes a influir nos seus projetos e programas habitacionais, isto nao invalida a perspectiva e intengao modernizadora que os orientava. Nao se pode exigir dos que interviram na época, introduzindo importantes inovagdes que deram ‘uma dimensdio social a arquitetura modema no Bras, posturas que hoje padem ser consideradas indispenséveis mas que estavam totalmente distantes do idedrio da época, Trata-se de uma critica baseada numa viséo a posteriori ou seja realizada a partir de um ponto de vista desenvolvido no pais em anos recentes -depois que ‘Se procedau @ revisdo do modelo desenvolvimentista dos anos 50 e & avalia¢ao crtica dos conjuntos habitacionais edificados pelo BNH no regime militar - que, nos anos 40. estes profissionais nao poderiam ter feito. Naquele momento, predominava em praticamente toda a intelectualidade brasileira de orientagao progressista e no pensamento reformista, uma viséo dual entre o atrasado e o maderno, sendo considerado como a principal plataforma, naquele estagio da sociedade brasileira, as tarefas da modemizagao, que incluiam incutir nas classes trabalhadoras habitos diferentes dos que haviam trazido do meio rural ou que tivesse desenvolvido em meio a um espaco urbano surgido de forma espontnea, reproduzindo praticas “atrasadas’ ‘Neste contexto, 08 arquitetos e outros técnicos responsdveis pela questao habitacional estariam dando sua contribuig&o ao projeto de modemnizagao da sociedade brasileira através da construgao de um lespaco racionalizado e de um novo modo de morar, simbolos de umia nova época, onde a classe trabalhadora iria viver e pasar 0 chamado tempo livre, de forma cada vez mais socializada. Classe trabalhadora que. na ‘concepgao em voga no pensamento da esquerda do periodo, teria, num futuro préximo, a tarefa de diigir 0 pais! Que essas visbes, predominantes na esquerda brasileira e mundial, estavam equivocadas, no resta nenhuma divida. Isto nao significa, no entanto, que os ideais que moviam os profissionais atuantes no perfodo, de maior justica social, superacao do suddesenvolvimento do pals, desenvolvimento de novas formas de sociabilidade ¢ eliminaeo do alfabetismo e ignorancia, inclusive no modo de morar, fossem desimportantes e que merecessem desprezo. Nao se pode exigir dos arquitetos do passado mais do que as condigées histbricas @ as perspectiva pollticas presentes na sociedade de entéo permitiam visualizar. E, nas condigbes daquele momento, a tareta de moderizar a habitagdo - enquanto arquitetura, insereo urbana e produgao massiva - eo modo de morar dos trabalhadores aparecia como uma tarefa de grande importancia no projeto de transformagao social do pals. E estes objetivos, os mais representativos conjuntos habitacionais do periodo responderam razcavelmente, com as ébvias limitagdes que a inexisténcia de uma verdadeira politica habitacional permitia, Cavalcanti ainda afirma que a no realizacdo piena de projetos utépicos (como denomina as grandes intervengées na area da habita¢do), estancados por motivos de ordem polttica, econdmica ou de Personalismo das autoridades, permite que “o contetido utdpico seja sempre retomado, pelo menos enquanto ‘possibilidade, Permanecem irrealizados projetos e criticas. Uma vez que a experiéncia nunca é levada as Litimas consequéncias 6, iqualmente, impossivel constatar sua inexequibilidade” (Cavalcanti 1987:67). Visando reforgar suahipdtese de que “as projetos de habitacdo para as mais pobres foram apropriados como justificativas éticas nas idéias do movimento moderna", o autor demonstra certo desconhecimento do assunto ao afirmar que “a presenga da habitaeao popular é muito maior nos textos e discursos dos arquitetos modems do que ‘em suas obras odificadas' (Cavalcanti 1987.95). ‘A produgdo de habitacao social, a partir dos pressupostos da arquitetura modema, durante 0 periodo populista, desmente esta conclusao apressada: a presenca de obras edificadas, embora muito menor «do que poderia ter sido caso 0 governo tivesse implementado uma politica habitacional consistente em 1946, 6 expressiva, tanto do ponto de vista qualitative quanto quantitative. Talvez o que realmente falte s€0, a0 contrério do que diz 0 autor, textos e reflexes que as exponha e as analise aprofundamente, para além de Pedreguiho e Gavea. E isto, lamentalmente, Cavancanti nao soube fazer. Estes dois empreendimentos sao tidos quase sempre como os tinicos exemplares representativos de arquitetura moderna na habitagao social no periodo pré-64: Bruand (1981), 0 mais completo manual de arquitetura modema brasileira e que é a maior referéncia bibliogréfica sobre o tema, ndo cita, em quatrocentas paginas de texto, nenhum outro projeto de habitagao popular. Este autor, desconsiderando toda a produgao de habitagéo social que estamos estudando, a desclassitica como “invalida"afirmando: “(..) houve uma desproporcionalidade entre a habitagdo de cardter social, cujos canteiros ficaram muito secundéfrios e no deram origem sendo a algumas poucas tentativas validas (unidades habitacionals de Pedregulho e Gavea, de Reidy e projetos recentes de Artigas nos subtirbios de S40 Paulo [referéncia a0 Projeto Cumbica, da Cecap - N.A.), a classe IN SEMINARIO De HISTORIA DA CADE € 00 UROANISUO 987 Intermediéria mais abundante mas sem interesse profundo ® as casas ou apartamentos de luxo que dominam o mercado pelo numero e pela qualidade,” (Bruand 1981:375). Nao resta dvida que muito mais poderia ter sido feito na rea da habitagao social; no entanto, a recusa em pesquisar, analisar e incluir estas obras no repertorio da arquitetura modema brasileira que tem predominado na histéria oficial, retorgou com vigor o divércio entre arquitetura ¢ habitagao social que predominou a partir de 1964. ‘A contribuigao de Rubens Porto na aco habitacional dos IAPS Uma observagao detida da estrutura institucional e da concep¢do técnica presente nos drgios encarregados de formulae implementar a aco habitacional publica mostra que a qualidade dos conjuntos edificados polos IAPs ndo foram obra do acaso, de ado de um ou outro arquitsto. S40, a0 contrario, consequéncia da existéncia, no interior destes insttutos, de concepgbes e diretrizes formuladas por uma burocracia estatal fortemente influenciadas pelo debate intemacional sobre a questao da habitagao. Em 1998, o arquiteto Fubens Porto, assessor técnico do Conselho Nacional do Trabalho, érgao, do Ministério do Trabalho responsavel pela normatizacao,fiscalizagao e aprovagao de varios procedimentos dos IAPS, ligados & drea da engenharia, principalmente da suas Carteiras Prediais, escreveu um livro “O Problema das Casas Operdrias e os Institutos e Caixas de Pensdes”, onde alinhavava diretrizes para a ago dos Institutos na Area habitacional, © livro é importante fonte de conhecimento do estagio de retlexdo e proposicao presente no interior do aparetho estatal no momento de estruturacao das Cartelras Prediais, Ligado a lgreja Catdlica, Porto ndo deixava de entatizar, como era quase a regrano pensamento conservador, as intimas relagoes entre a casa e a familia. No entanto, jé se notava uma clara inclinagao pela ‘adogao de solugdes maderas na edificagtio de conjuntos habitacionais. Técnico encarregado pelo ministério de dar parecer sobre a normatizagao das regras de atuacao dos IAPs, Porto detendia: 1. Aconstrucao de conjuntos habitacionais segregados do tracado urbano existente: “bem pouco valent consinui habitapdes econémicas @ as didi em pequenos lotes, misturados ‘entre as construgées urbanas existentes, duma outra era, com toda a promiscuidade dos ccortigos vizinhos” (Porto 1938:57) 2. A opgao preterencial pela construgdo de blocos: "Atendendo @ preocupacéo de economia, a construgao de grandes bloces traz a vantagem de (..) Soram passiveis de ser previamente fabricados @ standartizados” (Porto 1998:43/44), 3, Limite para aitura dos blocos = “no caso da edificago de blocos de apartamentos, somos de parecer que 0s mesmos, ‘quando desprovides de elevador, nao deverdio utrapassar quatro pavimentos” (Porto 1938:43) 4. Autilizagao dos piltis: “Com relagio ao emprago dos pilots, tenho ainda a salientar que 0 mesmo recupera 95% da rea construida(..) Seu emprego assegura a todos os apartamentos vsibiidade para o horizonte contato com a natureza (uma das maiores conquistas da arquitetura contempordnea), evitando que os apartamentos, situados no térreo, sejam constantemente devassados e, portanto, desvalorizados(...) Usar o espaco ganho para ‘Recreio das Criancas’ é mutto importante” (Porto 1938:45) Em relagao.aeste aspecio, 6 interessante notar como, em Porto, discurso moralista-conservador corrente, de ertica a0 espago publico nao controlado (cujo melhor exemplo 6 0 bar @ as rodas de malandragem), se associa a uma proposta da arquitetura moderna (0 pilotis), que aparece como uma solugao de lazer € sociabilidade sadia, num ambiente controlado onde 6 0s “trabathadores” tém acesso: "Ora néo tendo em que se ocupar, na falta de melhor meio social, o operdrio 6 naturaimento alraido pelas 'rodas' nos botequins, onde imperam os vicios e os maus costumes. Os ‘piftis’ resolvem, portanto, mais este problema, allés de alta relevancia social, de vez que naquela rea agradavel e amena, em constante contato com a natureza, os homens podem se reunir 2 noite @ nas suas horas de lazer, organizando divers6es, jogos, palesiras, etc. Com um pouco de jeito e persisténcia, pdde-se forcaro operério a frequentar com assiduidade essas reuniées, bastando para tal, atrai-lo por meio de distragdes, como sejam: leitura de jornais (ratuitos), um bom récio, ping-pong, bilhar, xadréz, damas e mesmo cartas (baralho), que geralmente tanto aprecia.” (Porto 1936:46) iV SeMINARIO DE HISTORIA DA CIDADE © DO URBANISUO 388 5, Adogao do duplex: “Entre 0s tipos de apartamentos, adotamos 0 do sistema “Duplex” pelas reais vantagens que apresenta(..) Oferece uma economia de 15% de espago e de 20% nas despesas com corredores, méveis, luminagao etc. A grande vantagem, no entretanto, é a decorrente da instalagao em dois pisos, que traz a real separacdo da parte de uso didrio da outra, havendo assim mais tranquilidade @ intimidade” (Porto 1938:43) 6. Os processos de construgao racionalizados e a edificagao de conjuntos autérquicos: “O problema a resolver consiste no projeto de uma vila de 2.000 moradias econémicas a ‘serem construfdas em série por processos racionalizados. Parece-nos que a solueao que se impée no caso é a das ‘neighbour-hood unit cells, isto é, dos conjuntos urbanos que a si ‘mesmo se bastam (autérquicos ...). Em cada um deles os seus habitantes devem encontrar tudo 0 que precisam -exceto o trabalho - cada unidade celular possuird pois, sua escola, a sua igreja, 0s seus playgrounds, o seu comércio. Dentro de cada unidade no haveré em regra sendo o tréfego pedestre: as vias de comunicagao que pdem as unidades em ligacao como resto da cidade devem estar na periferia” (Porto 1938:51) 7. Aarticulagao da construgdo de conjuntos habitacionais com planos urbanisticos: “(Jo problema da habitag&o econémica é antes de mais nada um problema urbanisticot..) Deve-se concentrar os programas de habitaeao barata sobre grandes planos de organizacao regional, segundo eixos cuidadosamente estudados, auto-estradas em relacdo as riquezas naturais existentes, rios, forestas e vales.” (Porto 1938:59/61). 8, A entrega da casa mobiliada, de forma racional: "(..Jdever-se-ia prover @ casa dos mévels e utensils de que iriam forgosamente carecer os ‘seus moradores. (..) A entrega da casa, devidamente mobiliada, oferece, além da vantagem ‘de ordem econdmicat...) a de ordem higiénica(..). Nos quartos e salas das casas de muita gente a unica abertura de iluminagao e ventlagao se encontra, sendo totalmente, pelo menos ‘em parte, obstruida pela necessidade de instalar um grande armério, comprado ou ganho ‘sem atender ao local respectivo, dispensard, por certo, acitagdo das demais inconveniéncias esses méveis adquinides, a juros altos, aos judeus das vendas a prestagGesy..). O lado ‘econGmico estaria atendido com as compra feita em grosso(...)."(Porto 1998:35/6). Porto fazia parte do grupo de reformadores sociais cat6licos do Ministério do Trabalho, defensores. de uma maior intervengéio do Estado na questéo da habitagao, Apesar desta oriantapdo, romipe com o modelo tradicional da moradia unitamilar eisolaca,tipica do que era chamada de “vita operaria”e adere aos pressupostos ‘do moderno, Seu livro talvez seja 0 primeiro trabalho sistematico a estabelecer diretrizes e normas de projet para os conjuntos habitacionais a serem implementados pelo poder publico. Dada a propria posicao de Porto, exerceu influéncia sobre a agdo dos Institutos. Varia das propostas defendidas por Porto, como a utlizagao de pilotis, a implantagao urbanistica moderna, a adogdo das unidades de vizinhanga, a op¢ao por biocos ‘mutttamniliares etc estiveram presentes pioneiramente nos conjuntos habitacionais dos IAPs, rompendo com ‘o modelo tradicional de moradia operdria herdado ainda da 1* Republica. ‘A Concepgao técnica do IAPI e a contribuigéo de Carlos Frederico Ferreira Os institutos, no entanto, estavam longe de realizar uma intervenc&o improvisada no campo da habitago social. Embora nao fossem, como foi ressaltado, érgaos de politica habitacional, sua prépria erspectiva de considerar a construgdo de conjuntos uma inverséo financeira os levava elaborar com muito ‘cuidado seus projetos e obras. Para isto, como ressalta Farah (1984:72), os institutos criaram, na sua estrutura administrativa, se¢6es especializadas em projeto e engenharia, que se consolidaram sobretudo no periodo ‘das grandes realizagdes, entre 1946 e 1950. Estas segdes tiveram importante papel no desenvolvimento de propostas adequadas para viabilizar uma produgao massiva de moradias e foram, certamente, os primeiros departamentos técnicos piblicos a se preocupar especificamente com a questéo da habitagao social no Brasil Dentre 0s arquitetos que participaram deste processo, Carlos Frederico Ferreira 6 um dos mais importantes. Chefe do setor de arquitetura e desenho do IAPI desde a criagao das Carteiras Prediais até sua ‘extingaio em 1964, Ferreira foi autor, ainda na década de 1930, do projeto do primeiro grande conjunto habitacional fortemente influenciado pela arquitetura moderna realizado pelo 6rgao, Realengo. no Rio de Janeiro. Desenvolveu também projeto do conjunto de Santo Andrée de diversos outros edifcios do Instituto. W/Senininio OF HISTORIA DA CIUADE © 00 URBANISMO 989 ‘Segundo o arquiteto, em depoimento prestado ao autor, 05 presidentes do IAPI durante o Estado Novo e governo Dutra, engenheiros Plinio Castanhede @ Pedro Alim, tiveram um papel decisive nos rumos tomados pelo érgio em relagao aos projetos dos conjuntos habitacionais desenvolvidos pelo drgao. Foram eles que, pessoalmente, escolheram os arquitetos que foram contratados para realizar os projetos e deram- thes total autonomia. Ferreira ressaltou o papel de Castanhede no desenvolvimento de projetos de grande dimensao, iniciado pelo empreendimento do conjunto do Realengo, que fol inécito no Brasil, numa época em que “ninguém pensava em empreendimentos com mais de 200 casas”: (presidente me chamou e eu fuilé para ver um projeto, que tinha que fazer, de simplesmente 2 mil habitagdes. Isto era um negécio muito chocante, porque na época em que nés viviamos, ‘a intenedo de financlar habitagao muito precério, os governos eram timidos, o maximo que ‘© governo construia era 200 casas. ‘Mas, de repente, veio 0 IAPI e disse que ia fazer 2.000 habitagdes. Poxa 0 negécio era chocante, abriu uma excepao fabulosa . O presidente do Instituto, Plinio Castanhede me ‘chamou e perguntou se isto era vidvel, se era possivel fazer 2.000 habitagées? Eu cisse mas é claro que é possivel, precisa saber onde é que vaifazer duas mil habitagbes” (Ferreira, depoimento ao autor). De fato, a grandiosidade parece tr sido uma das marcas da ago dos Institutos. A magnitude da produgo habitacional e de espaco edificado em geral por eles realizada, principalmente entre 1946 ¢ 1950, para as dimensdes do que se realizava no pais em termos de construgao no pais até entao, mostrava que sua ‘ago foi realmente extraordinéria @ inédita, merecendo uma atengao mais detida, ‘Apenas 0 IAPI, Instituto que mais se estruturou neste campo, tinha até 1950, elaborado projetos para 36 conjuntos habitacionais, alguns de enorme dimensdes para a época (mais de 5 mil unidades), totalizando 31.587 unidades, em 13 Estados brasileiros, varios dos quais nunca chegaram a ser inteiramente concluidos. A dimensao do que este Instituto produziu revela-se pelo quantidade de cimento que importou apenas para os conjuntos habitacionais de interesse social: entre 1948 e 1950 foram 1,33 milhées de sacas (\AP! 1950:300) ‘A aquisic¢ao (ou obtengao através do recebimento de dividas) de um verdadeiro banco de terras {oi outra ago importante do Instituto, combinando uma preocupagao de formacao de um patriménio como reserva de valor para preservar os fundos prevedencidrios com a necessidade de implementar projetos habitacionais. De acordo com Farah (1983:64) ‘os IAPs adquiriram grande quantidade de terrenas urbanos em diversos pontos do pals” “Enléo o Instituto comprou uma drea enorme em Realengo, no Rio de Janeiro. Eu fuild vera rea, erauma érea enorme e permitia fazer duas mil habitagdes @ muito mais coisas” (Ferreira, depoimento ao autor)” Muito provavelmente, 0 que 0 1API construiu ou financiou na década de 1940 fol o maior volume de obras de construgao civil que um Unico érgao ou empresa tinha edificado, até ento, em todo o pais. Suas realizagées, até 1950, somavam 17.725 unidades habitacionais de interesse social em conjuntos de propriedade do Instituto, que inclufam ainda escolas e varios outros equipamentos comunitatios, 7.940 iméveis financiados para moradia de assoclados, 4.942 unidades habitacionais de classe média financiadas pelo Plano C, localizados em 663 edificios de apartamentos (incorporagées), além do financiamento para a construgao de 1.161 unidades habitacionais em conjuntosresidenciais de empregadores, vinte instituigdes hospitalares, quinze sedes de sindicatos, 26 edificios de lojas e escritérios @ 10 instituigdes educativas. Frente a esta magnitude de intervencaio, a qual ainda deveria se somar a agao dos demais IAPS, no é de se estranhar que no interior destes Institutos tenha se desenvolvido uma investigagao @ reflexdo sobre uma gama variada de aspectos ligadas & construpdo, envolvendo projetos arquiteténicos e urbanisticos, processos consiutivos - sempre fortemente marcados pela preocupagao com a economia e racionalidade-, busca de materiais altemativos e aspectos sociais e administrativas, “Duas mil habitagdes vocé néo faz em um dia. Nés tivemos um periodo de adaptacao e de ‘estudo para organizar o projeto e a obra. Neste perfodo, o presidente do Instituto fez um viagem aos EUA e I ele descobriu uma ‘maquina que eles tinham Id inventado de fazer blocos de concreto grandes, bem maiores do que destes de 30x20 , destes que se faz hoje a trés por dois. Estava fazendo sucesso @ entéo ele queria que fizesse também neste esquema as casas do Realengo e entio eu sai ‘para outros esquema de casa, que fazia e nao precisava revestirnem nada. Nés fizemos os WW 'SEIONARIO DE HISTORIA OA CORDE & 00 URBANISHO, 990 blocos, esta maquina fez um maior sucesso em Reealengo: tinha um engenheiro lé que ficou ‘muito interessado na maquina ¢ queria fazer blocos menores ¢ realmente fez e produziu um ‘maquina para fazer bloco de cimento menores e fez direitinho. ‘A maquina fez um sucesso relativo, porque na hora de vocé confeccionar, verificava que tinha detalnes que criava problemas malucos, principalmente nos encontros de parede. Era problema mas eu resolvi todos os problemas e esta maquina ficou falada; fez maior sucesso. Hoje tem essa méquina em todo canto, mas naquela época ninguém conhecia” (Ferreira em depoimento ao autor) . No IAPI, sobretudo no perlodo em que Plinio Castanhede e Alim Pedro foram presidentes, estruturou-se uma concepedo consisiente sobre a habitagao social, que orientou a significativa produgae do Insttuto. A andlise das diretrizes e pressupostos adotados pelo API, cuja elaboragdo surpreende, mostra que, em 1950, este 61980 A tinha atingido uma maturidade institucional na intervencéo habitacional, baseada ‘em conhecimento teérico e experiéncia concreta (IAP! 1850:291/378). Sem duvida o papel dos presidentes do Instituto foi decisivo para a polltica habitacional, urbanistica e arquitetbnica que ele assumiu: “0 Getto criava a organizagao (Instituto) e depois dependia do presidente. Nés tivemos sorte, 0 JAPI era um dos melhor organizados. Os nossos presidentes, 0 Plinio e o Pedro Alim eram esclarecides. Contrataram dtimos arquitetos. Eles que escolhiam." (Ferreira em depoimento ao autor) ‘As ditetrizes habitacionais do 1API foram fortemente influenciadas pela arquitetura moderna. Defendia-se a criagao, junto a moradia, de escolas, servigos de assisténcia médica, centros comerciais, estagbes de tratamento de esgoto etc, além do reforgo das redes de abastecimento de agua. “Sim, porque eu nao queria fazer sé habitagdes. Habitagao, na epoca, para eles, era fazer uma casa, aquela casa dois quartos e sala e esté acabado. Pronto, o resto vem depois! Mas eu ndo, queria fazer habitacdo mesmo, habitacdo como eu achava, com escola, edificio de apartamento com comércio, equipamentos. Eu previ até um circo" (Ferreira, depoimento ao autor) Buscando o melhor aproveitamento dos recursos @ a economia para “obtengao de residéncia a baixo custo, acessivel a grandes massas de associados", optava-se explicitamente por "moradia em edificios coletivos”. Para oIAPI (1950:291), “A consirug&o em série, apresentando caracteristicas de produgao industrial, possibilita a cobtengao de custos baixos, sem projulzo de um padréo construtivo satisfat6rio. (..) a concentragdo em altura permite a diminuigao do valor da quota-parte do terreno e da urbanizagao” Criticava-se a “solugdo baseada pela moradia individual, construida no centro do terreno", que "Os gigantescos niicleos, consiituldos por las intermindveis de casas, obrigam a criagao de ‘oneroso e complexo sistema de transporte e comunicagées, exigindo encargos vultosos no estabelecimento e manutengdo dos servigos de utiidade puiblica em geral (dgua, luz, calgamento, esgotos)” VAP! 1950:291). Apro{undando esta perspectiva, detende-se claramente a socializagao da terra, que nao deveria, ‘ser apropriada individuatmente: "A substituigao dos quintais, nem sempre convenientemente tratados, por dreas coletivas destinadas a recreio e edificac&o das moradores, toma-se de maneira geral, medida de grande alcance(...)Os conjuntos residenciais, constituidos de editicios coletivos elevados, Cconvenientemente dispostos no interior de amplas dreas de utiizagdo comum, representam, pois, a melhor solugo do problema” (IAP! 1950:292) s objetivos que os Institutos tinham, para além da fungao social, na construgao de conjuntos habitacionais foram relevantes no processo de produgao dos empreendimentos, incluindo projeto @ obra. Destaca-se, neste sentido, o fato da burocracia dos |APs conceber a edificagao habitacional sobretudo como uma inversao dos fundos previdencidrios com vistas a formiaco de um patriménio, dandoimporancia a qualidade © durabilidade do produto nao simplesmente com 0 objetivo de satisfazer os futuros moradores mas como uma forma de dar garantias reais ao investimento. Por exemplo, a preocupacdo com a imobilizagao do capital durante a obra gerou iniciativas tendentes a elevar a produtwvidade, implicando uma busca pela padronizagao e pela redugao do tempo de obra. Nao é portanto por mera op¢40 estética ou formal, que os Institutos foram buscar o idedrio da arquitetura WTSEMINARIO DE HISTORIA DA CIDADE © DO URSANTSHO 991 modema, impregnado que este estava, como vimos, das preocupagdes com a racionalidade, produtividade, produgao em massa, standartizagao etc. ‘A preocupagao com preservagao do investimento realizado, entendido como um patriménio dos Institutos, levou-os a buscar, também, a durabilidade e qualidade dos materiais ao lado da padronizacao vista ‘como um modo a possibiltar 0 barateamento da construgao e, assim, propiciar uma compatibilzagao entre ‘ovalor da construgao e 0s salérios dos moradores: “Os projetos devem ser padronizados, tanto quanto o permitirem as condigBes do meio, objetivando sempre economia em todos os pontos nao essenciais ao dimensionamento da ‘habitagao, de modo a tomar o valor construtivo compativel com as salérios médios locais, AS instalagdes devem ser simples, padronizadas e durdveis e as esiruturas permanentes, evitando- ‘se solupdes provisérias que possam comprometer a preservagéo da garantia durante o period ‘de recuperagao do capital empregado” (IAP! 1950:292). Como seria de se esperar frente ao conjunto inovador de procedimentos projetuais, os Insttutos 's0 defrontaram com grandes problemas de ordem legal para aprovar estes projetos junto aos drgaos piblicos competentes, em face das restri¢Ses impostas pelos cédigos e posturas municipais: “Os pontos principais de colisdo dizem respeito ao loteamento, a concentragdo em altura (gabarito), a0 pé direito minimo e a dispasigao das vias de circulagao” (IAP 1950:293). Assim, no surgimento da habitagdo social no Brasil j4 aparecia a necessidade de “atuallzagao dos codigos de posturas, de modo a comportar a consideragao dos nucleo de residéncia de tipo popular, construidos sem propdsito de lucro”, questo que até hoje ndo foi devidamente ‘equacionada. Em alguns casos, como no canjunto da Varzea do Carmo, 0 projeto foi aprovado, em cardter especial, a margem das exigéncias legais aplicdveis, expediente precursor das atuais leis ou decretos de habitagao de interesse social. ( inédito porte das obras realizadas pelo !API no periodo do pés-guerra exigiu de sua Diviséo de Engenharia 0 enfrentamento de inimeros problemas. A aquisigdo de materiais de mercado submetidos & ‘escassez, foi um dos mais complicados. Revelou-se, também, com extrema gravidade, a questo da falta de Padronizacao dos materiais, elemento indispensdvel numa produgao em série de moradias. Apesar destes problemas e do inédito da produgao, ¢ surpreendente a rapidez com que se edificou os conjuntos do IAPI no periodo do pés-querra: no Distrito Federal, o nlicleo do Areal, constituido de 600 unidades foi construido em 5 meses, 0 conjunto do Bangu, com 1504 unidades em um ano e o da Penha, inciuindo urbanizacéo, escola,

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