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Flora Sussekind Tal Brasil Qual Romance PDF
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terminadas circunstincas, “armam-se ow tornamae lexis, fit-
‘mam-se ou dsimulam, marcaram-te sob 0 véu de novas aparto-
Sint". (43, p. 134) Segundo Duby: “(...) a tendtocin a0 conser-
‘adorismo encontrase ainda acentuada pelo movimento, que, em to
das as sociedade, leva 0s modelos culturais a se deslocarem de grav
fem grau, desde o cume da hierarquia social, onde tomaram forma
308 gottos © aos iteresses das equpes dirigetes, até
fs meior progrestivamente mais extensos e mais modesios, que eet
fascinam ¢ que trabalham em seu proveto™. (43, p. 133-4) Em
ima, é na sua diseminacdo por todo o grupo socal que +e encontrs
tum dos sostenticlor da ideologia. Sua estabilzagSo se prende em
parte « cits maior circlapfo pelo meio socal, em parte A sua pre-
fervagho, mo. processo istérico, enquanto iradigfo. Disseninase
pelo expaco du sociedade em que se gerou, © por um tempo mais
Tengo, tendo como tustenticulos tradigde.
‘Marcadas por uma incinagio a estabildade, nem sempre as”
Feologias podem perisr nest inéreia. Sejam modificagbes demo-
ficas ou econdmicas,sejam tranaformagtes nas relagdes sciais,
jam contatos mais estreitor com culturas estrangeiras, frente 2s
imudanga, "at ideologas deve adapters, para melhor reir oo
para melhor veneer". Assim descreve Georges Duby essa sdapte-
‘lo: “Ot movimentor que ibertam as ideologias de tux inc
furl geraimente so bastante lentos © no. demonstram qualquer
abslo: € comumente através de inclinagSes suaves que elas se cur
‘vam para adolar at mudansas mais abruptas (...)" (43, p- 135)
Por naturera conservadoras, suas transformagSet slo necestaramenté
lentas sem grandes ruptures. No entanto, trnsformamae e nlo hé
‘como negar ta historiedade, Ou ainda nas palavras de Duby: “Ta-
contestavelment sio um objeto da histria” (43, p. 135).
1 com base na afirmagio de uma historiidade prépria bs ideo-
logins que Claude Lefort vai de enconro & hipbtese manzsta de que
1 "ideologia nfo tem histéria”. Lefort parte da “idecloia burgoe-
8° € procura demontrar of seus desdobramentos hiséricos, pri
meiro como “ideologia toaltria", depois como “ideologin invis-
wel” mas nostas tociedades dominadas pela comanicagfo social e sea
iscurso Impessoal. Em “Esbogo de uma Génese da idelogia mat
sociedades moderns” observa as estratégias do imagintrio soci €
‘concui: “(,.-) rompemos manifestamente com a concepeio de
Marr a parr do momento em que delxamos de tratar ideologia
como um reflero © procuramos desvendar sua manera de opersr,
ppensemos juntas formaglo ¢ tansformagto, isto 6, emprestamoethe
fim poder de se articular ¢ de se rearticular nfo somente como res
aposta x0 roporto real, mas mbém rob 2 prova dos efeiion de sua
Drépria dissimulagdo do rel". (36, p. 298) Rompe com Mars, mat
fpenas na medida em que a ele s8 era dado conhecer a “ideologa
brgves”. Sem asistir As suas transformagSes, fo. haveria jello
para Marx de conceber um principio de rearticulaglo para a Keo
login
Marx nto empresa a0 imaginério socal histriidade propia
© sim possbilidade de reacto frente» diferentes condigées emplt-
‘as. Da dizerem ele e Engels em 4 Ideologia Alemd sobre "a moral,
4 tligit, « metasica © qualquer outra ideotogl, tal como as for
mas de consitncia que thes correspondem”, que “no ti histéra,
‘fo tem desenvolvimento” (65, p. 26) E, tomando como objeto de
‘alse 0 Crstinismo tal como foh estudado por Max Stim, ne-
‘gum uma histria propria “ideologa exis, como a qualquer ov
len ideolgia. As tramsformasées por que passa o cristianismo fo
te deveriam, na opinito de Marx e Engels, « nenhuma eavsalidade
intema a0 pensamento cso, Para explicat as mudangas,apont
apenas para “causes empiric”. Vejate como rebetem Stimer em
1A Tdeologia Alema: “Se Stine tives examinado 1 hstrin real da
Tldade Média, por poco que fore, teria podido ver por que razSet
8 concepees que of crstos tnham na Idade Média tomaram fos
tamenteaqeels forma, que fot depois subsitulda por ume outra. Tex
fin podido descobrir que ndo existe uma histria do cristioniomo
fue ar diverem formas que s sua concepgfo tomou mus liferen-
tes. epoca, Tonge de conttirem outras tantas.eutodeterminagSes
desenvolvimenton do exprito eligiovo, tiveram por origem exusas
femplricas que exeapavam & qualquer infloéocia do espirto religion
$0". (65. p. 183-4) Existiam, portant, apenas uma “hstrin rea”
«da Tdade Média, alm de “causas emplricas” para os acontecimen-
tos « transformagtes que 4e processam no “imagindrio”. Quanto &
“histéris do crisianiamo” s¥o peremptérios: ndo existe. Para as ideo-
Jogias haveria unicamente uma transformasto refers, a reboque de
‘uma histria que se passa noutro plano.
‘A negasto de ume histria propria & ideologin no impede,
‘no entant, que Marx chame a atengfo por diversas vezes pare a5
tranaformagées por que passim necessriamente as “idéias” quan-
do transfridas Je wm contexto inelectual a outro. Iso € 0 que
explica, por exemplo, muma carta a Lastalle de 22 de julho de
1861
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Feius dutsanslogas (entre 0 testamento romano ¢ 0 moder
no, a tagéa grega eo tragéia, cision francesa) Marx. pro-
Intgrepto de uma “lia” de outro tempo ou outa
fsture 4 om nove coteco. Marx reel que se caracteze © tor
tamento modern como sendo 0 romano “mal comprendio". Do
contro, qualquer elemento aprovelado num novo comer seria
Sempre o “antigo mal compreendido™, Quando se reoma qualquer
tlemeno & porque, J gua forme, ele corresponde « needs
‘er da clare gue 0 acthe. O que fice demonseqdo com o exam
plo do clasicime francés. Mesmo lnepretagbes "mais exatas™
‘Ariel nfo modicarem sua wiilzasto peculiar da “regra das
fees unidaes” Flea da “iia importada” apenas o que se desea,
aslo que goa de um pag préprio no, novo context, Por io
to exstem propiamente“incompreensbes", mas comprenies ade:
‘qundes a necendadeshisricas irene.
e
A I* tronsformacao: “climatacdo” a0 BrasilFe Te
ideologia natraista ¢ de suns transformagses estétices no Brasil
‘observa como se dé sia entrada nom conteto cultural nove.
bem portivel que ji a primeira tansformaso por que passa
1 extética naturalista no sistema intelectual brasileiro extja. am
era como se is necestdades ieoligics do pals. A pase
fagem de “influxo exerno” « elemento caracerstico da cultura
braileira 4, tem dvds, sun primeira reariclapto, jf analisda, no
contexto do libealiemo’ por Roberto Schwarz. Newe sentido, & iar
terpretagio da ideologia empreendida por Claude Lafort com base
naz vas traneformagber bitices se poderia acrescentar um ele-
‘mento auseate de sua anlise, jstamente por estar concentrada nat
tociedades europti
‘Quando se pens, como no cito brasileiro, numa sociedade “e-
_pendente”, slém das tansformagées concomitant a modificagSes
histSricat determinadas, fo 4e pode deixar de perceber « transor-
‘aslo primeira que se opera na idelogia “importada” frente 8 cul-
tura que # adota Para compreender 0 principio das transformagbes
4 iStologn naturalists, 0 primeiro paso tlver eateja na antlise
das secunsttncas que the propiciram uma tho boa acolhida, © das
suas mudangas er solo broiler, Ej interessante verificar co-
imo, desde 2 adoro da vogs naturalist na virada do século, ela jé
servia de palco para discssdes que coatinuariam a se fazer oui
com algumas dilerengas, no decorrer do século seguinte. Observer
‘mos em primeiro lugar aquele que parece ter sido 0 ponto prvile-
ado nas discusben do final de século: 0 caster de “idéiaimpor-
fade" da nova moda literdia,
Ideolbgica™ talver jf se
inclusive, a propria entrada do Nav
turismo no. pals, caracterizada pela mesma “pravitagho” de que
fainva Roberto Schwarz. Moda entre outs,
Veriesimo na sun Hivtria da Literature Braileira:
tamente sinds que 0 nosso romantiemo sequire o francés, arreme-
dou 0 naturalism indigens © natualismo. da mesma procedéncia,
rmodelando-se quate exclurivamente por Emilio Zola e 0 seu disc
pulo portugués Ega de Queiroz. De novelas, conor, cures ¢ lige-
1s fcgdes © ainda romances, seundo a fSrmula pestoal deses doit
trertores, houve aqui fartura desde 1893 até 0 sfpido esgotamen-
to dessa fSrmula pelos anot de 90, quando ela senfo procrastinoy
fem exemplaresinferiores que importunamente ainda a empregavam.”
(103, p. 294)
50
Quando lembramos artigo de Verisimo publicado meio no ce
lor da hore, "O Naturalismo na Literatura Brasileira”, « dfinicho
0 torn sinda mais negative. Al
lista com bate no seu cardter de “i
de pobre de escritores © de obras, exe naturainmo € menos na-
clonal das noseas escolasliterfras, ¢ nenhum dot secs lvron 6
nos a sensagto da nossa sociedede ¢ de nous civilizacio". (104,
. 72) E, como golpe fina, acrescenta: “Qualquer que sje, por
tanto, 0 valor intfaseco das prodoytes do naturalismo bras,
que no discuimot agora, podemos asveverar que de neshum modo
concorreu ele para o desenvolvimento das nowt letras ov da now
su are". (104, p. 73)
‘Algum tempo depot, ene radialamo & stenuado pelo proprio
pelo menos tum ponto positive ma vor
"No seria, porém, jato contesar-ihe o
prestdo, tanto aqul como I, is letras Ele troue 4 now
justo sentimento. de realidad, arte mais perteita da sun figu-
raglo, maior interesse humano, ntligtocia mais clara dos fenéme-
os vocins e da alma individual, expresto mals apurads, em so-
ma ume representaglo menos defitosa da nossa vida, que preten-
ia definic", (103, p. 295-6)
‘Com base apenas nos julzos de Verssimo, saltam aon olhos
slgumas das observagSes mals recorrentes a respeito do Naturale
smo, Antes de qoalquer cosa, para perceber que quando fala de
“"Naturalisma”,"Joxe.Verftimo se relere nidamente, 2 escola Ute-
rMria em moda not fins do século pasado. E ¢ « obeditncia estita
tor moldes dessa escola o que erica n0 panorama intelectual do
fim de século, Enquanto escola, o erica como mais uma importa
te 1 stengl, contado, para alguns don sus “bons scrvigos pret
{dow”. Dentre els, revelia fundamentlmente seu “justo sentimen-
to de realidede”, sua “represenuagfo menos defeitun da nossa vi-
caraceriza 0 naturalimo como uma extéica da repre
igtnca de uma esética natwalsa, como coloca para 1 exole te
teria, na sun opinito esgotada “pelos anos de 90". Diz apenas que
a‘wrowxe™ uma estética dn representagho, nfo acrecenta a elt ne-
hum ponto final
‘Se essa continuidade normalmente serve ‘de argumento para se
cencarat 0 Naturalism de forma mais postive, o fato de ele ter sido
Iracido de fora funciona na dresio oponta. E nfo € x6 Vertsimo
‘que 0 caracteriza como “moda”
tos, Crltica semethante foi
sila, Silvio Romero ertcava também o *arremedo” da doutina
Cstrangeira: “O naturalism, especialmente na ramificagto empl
fx, 96 tem contado até aqui, na potsia, no romance ¢ no drama,
08 de fazer d6. A glia da invengio da dow
thes apenas 2 glo-
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‘ou menor. assimilaglio ou recuse #0 modelo estrangeiro 08 eritérios
Sfettoncon twdte do Nutwalumo pln que si Sotengot
SiaT'e cored no pus Eno tens forse, Bana gob
2
fem De Anchcta« Euctder, poblicado em 1978. -
Merqui alo 8 afata muito da opinito geal dos crc coo
temporineos 4 mda nateralista como Verisimo ou SAvio Romero.
Seale vejumos: "(...) 0 nturaisme, enbora beaeiiiio do eae
{ici cabocl, no fl um seu simples dead como 0 propio
Gientcismo, ele fi, antes de todo, um pli tanoceaica” (63,
P. 14). Chamar de "pigio transocenico™ ou de imitapio “dee
tou", “ini” © "mexqunba”, como far Svio Romero, nfo i>
pla pernpectva e andse malo diferent. No texto de 1979, come
no de 1882, 0 rejeigho da eitica sutra josicase aa medida
fm que fo € ein apenas 0 que se recast, mas todo carter de-
pendente de nore cltura. £ um “pligio™, uma “imiaplo", © que
Se rej, nfo uma esta determinada
Entre Flaubert ¢ Zola, preferiu-se 0 ditimo
No se procura observar por quejutaments 0 naturalizmo en
trou em mode que viaculot orpaicos mantaha com 0 sittena
Intelcua! brasileiro para que edge to grande repercusto. Nio
qualquer “iin eangin” que recbe scotide Wo box. Em
ineo As diversas sementes intelectasIangades A tera nem sempre
{odo “dé”, Em meio a Flaubert ¢ Zola, ectbevse 0 Gime. Cot
3 de que 0 proprio Merguor se conta a sun Breve Hinéia da
Lertra Bratre: “Pol o romance materia 4 Zole, que
vidade enteticsta de Flaubert pele ankle de pretenabes
Sieticas, que consti, entre én, © primera manifragio do
eo de um exlo péeromintico” (6, p. 1089), Preferese Zola
{ Fasbert como enre Mars, Comte e Spacer, ecolhenvse os dis
fiumon NBo € muito dict perceber 0 qu se rpete nun xotas.
io 10 tata de “pligio™ ou “imiasto™ indsriminadon, A_prefe-
sac eo pr gues pean Si
in conjunto de ideas, Ie €
‘No entant, geraimente wr nde ato levem em tanta conte ©
aque se pasts em solo bral, quano 0 fato de a erica nate
falta ser “transocetnica". Ou se aplande a recusa do que vem de
fora, ou se compar e logis um texo asamente por sun pore
‘Geniagio a algum “original” estangeo que the sve de made
ssJo. Ou o que est em pate & x cutenticidede da Ieratura braile-
1 ou a atsinllacdo por ela das Hovidadestransocetnics. Seja para
ondenklo ou lo, 0 relerente extrangeiro percore quate todas as
‘incatades em torno do_naturalisme, sm tut.
2 regra gral oe bistoriografie literia. rasa busear
tentcdades, Em te tabendo ter 0 Naluralitmo origem not
Nie Togas, is comom do qos svt on testes mr
brace tendo em vsn se conelton poregne fence.
[Tomaso ent Wersro bral camo trtregus es
{ois ponibiidnes de valrzglo parece ver ou ma etna
hotel do moo tegen, ov sn repel prope
ide nacional [Be um Tet oa de ut, 4 lotsa Bea
-stomes comput, 1 snlogn, Se 0 to epndo com 2
{eros wh do txt com'e maconaiee gue procarre
{ ta Eaope Bes ov
A dependéncia de 2° grau
Quanto A obtessio em rejetar o Naturalismo por se tratar de
‘colt Imporiada e no em funglo de algumas de suas carscere-
tieas esttcas © ieoldyics, e A insisttncia em nfo se perceber a
4} organicidade de que se revete o “novo estilo” em noua cultura,
se poderia dae, como 0 faz Flévio Kothe sobre algumas de nor
| sas histrias literfras, que se acaba assim recaindo, “a despeito de
Seu elf patente por independénca, uma dependénca de sequn-
do grau, mais intents do. que # depeincia declarada porque pro-
‘cura miscarar_ieologicamente 0 seu_cardter dependent
p36). Isso quando a repetigho que se exige ¢ de uma pomtvel
tos erftcos respeito do Naturalsmo. Para condento chamase
tengo para o seu carter “imporisdo” ou pars sua pooce inven
tividado frente 40 “modelo europea”. Por outro lado, 9 © deseo
46. um elogio pemam-se a enfaizar ab semelhangas com Zola ou Eee
de Queer,
BE aif que na andlse de alguma obra aaturtta brasileira
‘lo sure, em algum momento, uma comparaglo com outro texto
‘atrangeito. Veja-se, por exemplo, » observagio de Araripe Jr. &
‘espeito de O Mirtiondrio de Inglts de Souza: “O sistema de nar-/
‘ar por ele adotado resulta de uma feliz combinagfo da “manera”
de E. Zola com a de P. Bourget” (8, p. 381). Or recunos narra
livor de Inglés de Souza so passives de elogio speoss porque
compartveis 2 “manera” de Zola e de Bourget. Procedimento se
mathante 6 0 de Adetbal de Carvalho no seu “O Naturalamo 20
Brasil” de 1902, quando valoriza Horfnala de Marques de Cerve-
Tho, tomando como partmetro ot “mestres do retiamo francis”
Diz cle: “Hf nela (se. Horténsia) eatudon dignos de wna Zola ©
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