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Daniel Aardo Rets Filho Jorge Ferreira Eel Celeste Zenha (oranzaoreg peo. batt pode a4 O século XX Volume II O tempo das crises Revolugoes, fascismos e guerras 2religio 0 stcuto xx ‘Netto, Jost Paulo, 1985. O gue é stalinismo, Sao Paulo, Basi Reis Filho, Daniel Aario. 1997. Uma revolugdo perdi tico. Sto Paulo, Editora da Fundagio Pertea Abr ‘Semprin, Jorge. 1979. Autobiografa de Federico Sénches. ede nc, Pee Ter, Vincent, Gérard. 1994. *Ser comonista? Uma manera de tbra da vida privada, Sto Paulo, Companhia 5. 1981. Etre communist en URSS sous Staline. Os fascismos Francisco Carlos Teixeira da Silva Professor titular de Histéra Moderna e Contempocinea ‘da Universidade Federal do Rio de Janciro Laboratério de Estudos do Tempo Present, FCSVUFR) 108 Para a educagdo, a exigancia que Auschwite no se repita & primordial. Mas {fato dea exigénciae 0s problemas decorrentes serem tao subecimados testers nba que os homens ndo se compenctraram da monsiruosidade cometida Sintoma esse de que subsist a possbilidade da reincidéncia, no que diz respeit a0 estado de consctncia e inconscéncia dos homens, THEODOR ADORNO, 1: Em vez de se ficarconsolado com aidéia de que eventos recordados pelo jul ‘mento de Eichmann foram excerbes & rogra, sora mais proveitoso investigar ¢ nas civiizagbes do séeulo XX, at condigbes socials, que propiciarar ‘barbarismos desse ginero e que poderiam favorecé-los de novo no futuro, NORBERT ELAS, 195 As dias adverténcias acima,feitas por pensadores de diferentes orientagée ilustram as dificuldades, de duas ordens diferentes, do historiadpr do temp presente a0 voltarse para um objeto de estudo como o fascismofDe um lade uma série quase que material de dficuldades: passados cinglienta anos d hhoczor da Segunda Guerra Mundial, reunificados ou dissolvidos paises oriur dos de seus tratados, 0s arquivos foram liberados, os testemuinhos publicado uma infinidade de materiais novos surgiu para a andlise; por outro | derfamos apontar uma série de dificuldades teéricas e, muitas vezes, fascismo converteu-se novamente em um movimento de massas; er. ‘idades de importantes paises, snagogas, cemitérios, bares gays, estrangeiro ‘lugares de meméria do Holocausto sio ultrajadosy A velhia ¢ conhecida di reita parlamentar se cinde, ora apoiando os grupos neofascistas, ora distan siando-se dos novos birbaros. Ao contrério do historiador contemporine: 40 fascism — como Franz Neumann, Theodor Adorao ou Angelo Tasca — ‘ngs sabemos, através de Auschwitz, 0 que é o fascismo ou, a0 mencs, sabe a © steuto xx unos qual é a sua prétiea; a0 contrério, ainda, dos historiadores que escreve- am no imediato pés-guetra, como Trevor Hoppes, G. Barraclough ou Erie Tobsbawm (até algum tempo), no podemos tratar o fascismo como tm mo- roraneo#Encontramo-nos, desta forma, numa situacdo ins wala pratica eas conseqiiéncias do fascismo e sabemos, ainda, que ndo é win ‘endmeno puramente histérico, aprisionado no passado/Assim, torna-se im- sossivel escrever sobre o fascismo histdrico — o que é apenas uma distingo — sem ter em mente 0 neofascismo e suas possbilidades. NTRODUGAO Denominamos de fascismo, algumas vezes corretamente no plural — aaram varios paises no periodo em questig/ A denominasio genésica fascis- vo decorce da primazia cronolégica do regim 9, estabelecido no poder em 1922, constituido em movimento po identidade propria pouco antes, edo fato deter servido de modelo, como veremos mais tarde, & mnaioria dos demais regimes. termo fascismo deriva de uma a sumin 0 cariter de simbolo de agao politica, va- Foi assim, por exemplo, com o seu uso pelo ianos, entre 189: cionistas de esquerda, interessados na entrada da Ital Mundial, apés 1914, [No seu sentido atual, como simbolo de um movimento de extrema di ta, o fascio foi assumido pelo poeta Filippo Marinetti, é em 1917, com nfti- do sentido nacionalista e autoritério, Consumava-se, entdo, uma ampla .Z 108a retomada de interesse, com novas abordagens e novas teorias exp! 7-9 vas. Tal fato se deve fundamentalmente a és ra2Ges: j ie qt mk de Berlim, em 1989, possi te eo e os Fascisuos grag de um simbolo a Thistas para o campo da direitaultranacionalista (Milea, Pe Berns 271; Bobbio, 198: ‘Embora constitua-se num tema cléssico da Hist6r ¢ talvez num dos fendmenos histéricos com a mais ampla e contraditoria bi- bliografia,o fascismo conheceu, apés o final da década de 1980, uma vigo- apés 08 $0 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, vérios pafses, como os Estados Unidos, a + Inglaterra ea Federacio Russa, comegaram a publicar seus arquivos, grande parte referente ao fescismo; i. a reunificagao alema, a partir do fim do Muro tou a devolugao e abertura de arquivos especi- ficamente dedicados ao fascismo, como 0 Centro de Documentacio de Ber- Jim (antes, de posse dos Estados Unidos), no qual esto inclutdos os arquivos ut da Gestapo; iti, e, por fim, mas talvez de suma importancia, 0 ressurgimento ae fascismo como movimento de massas em paises como a Franca, ia, Fee } | , } | 05 FAscismos 5 além de condenar 3,3 millSes de prisioneiros cusso: mozte através da fome, fio e maus-tratos (Der Spiegel, n, 11, 10/03/1997, p. 92 ¢ seguine A¥oi dessa forma grafia sobre 0 fascismo entrou na Guerra © confronto baseava-se na equacio: de crescents em estabelecer o mais ripido sobre a extensio do fenémeno fa unsctito ao aazismo (a variant alema) e associado (0 que & correto) ex: clusivamente (o que n30 € correo) &histéria da Alemanhg- _ No contexto do debate af constiuldo, grandes nomes da his las e antigas que explodem 19425 Taylor, 1945} embora ndo aparece como um fendmeno alemao ¢ 0 préprio fascismo conf ‘uma tara histérice da Alem: posta pela ocupacdo ocidental (Goldhagen, 1998) Embora confortadora, tanto para vitimas como para tal versdo surge como uma exp! do fendmeno, além de reduzir Holoca i lade histrica e, portanto, ‘que denominamos de demontiza¢ condena a Alemanha (e ndo 36 0 nazis absolvigdo das demais experiéncias fasci de considerar as demais vitimas sob a asséptica rubrica de estudos cognatos, como bem critica (Fisk, 02/04/1998, pp. 6-7) iografia ea cincia politica anglo-saxi ignoram larga- ‘mente a contribuigdo dos primeiros analistas do fascismo, inchisive daqueles ‘que escreveram quando o fenémeno s6 era regime na Iti. Assim, ja ‘meados dos anos 20, autores como T. Turati e Carlo Treves, lade do fascismo estar presente, com possibilidade ou nao de em todos os paises capitalistaggTreves chega a definir um fascismo de ‘caracteristicas nitidamente antiproletirias, no caso da Ida (e demas pafses i, dado o furor com que sente-se adequadamente livre na 0 SecULo xx a. ¢ um outro, de cardter preventivo, contra a hegemonia jogos parlamentares de tipo presentativo, no ‘a Europa (Schieder, 1972), onde a ordem liberal e a economia inda ndo estavam in M iniciava-se, assim, um debate tedrico- historiogrético, que marcard per- manentemente a histéria do fascismo. Nesse sentido, a hist6ria do fascismo foi longamente (e de forma equivocada} a historia do debate tedrico sobre a natureza do fascismo. Hoje, por exemplo, na Alemanha e na Itélia, onde por razbes 4 estudos sobre fascismo mais avancaram, poderiamos dizer que @ maiotia. estudiosos concorda sobre dois pontos: i. a garantia da unversalidade po vel do fascismo como fenémeno histérico, com seu apice no entreguerra; ‘a necessidade teérica de garantir a autonomia de uma teoria do fascismo em face dos fendmenos histéricos que o envolvem, 7 Atese da universlidade possivel do fascist implica a rejcigho da exclu- 4 sividade alem’ do fendmeno, o que nos obriga a aclarar previamente 0 que se considera, nese caso, como fascismg, Com um dos melhores expoentes da historiografia contemporinea, Wolfgang Schiedes, poderiamos, de said, aficmar "que se reconhece como fascistas movimentos nacionalstas extre- tmistas de estrutura hierérquica e autortiriae de ideologia antliberal, anti- ‘entreguerra” 7 dssia, desde logo, devemos nos afsstar das posigdes que s6 reconhecem nna Alemanha do II Reich a existencia de um verdadeir fascismo ou, pelo ‘contrério, negam 20 narismo qualquer relagio histSrica ou politica com os demais regimes autor desenho acima, qu ram ou Ihe foram: e087 Alirmariamos, desta forma, que as espe- cificidades do nazismo sto hist6ricas, de cardter nacional ‘4 considerados apenas autortécios, variantes da forma politica das ditaduras; os fascismos, enquanto regimes autoritarios ritlibe- ais, antidemocrdticos¢ ant-socialstas possuitiam suas proprias especifici-

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