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Atualidades

Fascículo 03
Cinília Tadeu Gisondi Omaki
Maria Odette Simão Brancatelli
Índice

Da imigração à emigração .............................................................................................................1


Exercícios............................................................................................................................................2
Gabarito.............................................................................................................................................3

Guerra multiplica tragédia na África.............................................................................................4


Exercícios............................................................................................................................................5
Gabarito.............................................................................................................................................6
Da imigração à emigração

Nos últimos anos, diante da instabilidade político-econômica, muitos brasileiros têm


deixado o país à procura de emprego. Para alguns a mudança é definitiva, mas a maioria pretende
melhorar de vida e retornar.
Se hoje o caso dos dekasseguis no Japão e de brasileiros – clandestinos ou não – nos EUA
e Europa ocupa espaço nos jornais, no século passado e no início deste foi diferente: o Brasil era
grande pólo de atração populacional.
Na Europa da segunda metade do século 19, o aumento demográfico, as mudanças
decorrentes da industrialização e os problemas causados pelas unificações italiana e alemã geraram
milhares de “deserdados”, que escolheram a América como destino.
Enquanto a miséria, o desemprego e o difícil acesso à propriedade fundiária provocavam
a saída da Europa, a América seduzia com a promessa de trabalho e de terras, além do sonho de
riqueza fácil.
No Brasil Império, era intensa a demanda por mão-de-obra para a cafeicultura em
expansão no Oeste paulista, numa época em que tráfico negreiro fora proibido. A vinda de europeus
atendia, portanto, a essa necessidade, também contribuindo para a ocupação territorial e o
“branqueamento da raça”.
No Sul, a imigração relacionou-se a planos de colonização baseados na pequena
propriedade. Italianos, alemães, poloneses e austríacos, por exemplo, dedicaram-se à criação e ao
cultivo e instalaram oficinas e indústrias.
Contudo, a Lei de Terras de 1850 dificultou o acesso de imigrantes à propriedade, pois a
terra só poderia ser obtida pela compra, e não mais pela doação. Por isso a imigração voltou-se,
principalmente, para a grande lavoura de exportação.
O senador Vergueiro iniciou o sistema de parceria, no qual as despesas de transporte e
instalação do imigrante eram financiadas pelo fazendeiro, que ainda cobrava juros. Cabia ao
estrangeiro cultivar pés de café e dividir os lucros da produção. Maus tratos e o crescente
endividamento causaram protestos e o fracasso do sistema.
Passou-se então à imigração subvencionada pelo Estado. O governo custeava as despesas
de transporte e o fazendeiro, a sobrevivência dos imigrantes por um ano. Estes recebiam um
pagamento fixo, acrescido de uma parte variável de acordo com a produtividade, podendo plantar
para sua subsistência.
Italianos, espanhóis e depois japoneses, dentre outros, percorreram quase o mesmo
caminho: deixaram suas pátrias, desembarcaram no porto de Santos, chegaram a São Paulo de trem,
passaram alguns dias na Hospedaria dos Imigrantes e seguiram para as grandes fazendas de café no
interior do Estado.
No século 20, os imigrantes transformaram a vida urbana, destacando-se no comércio e
na indústria. Portugueses foram mais numerosos no Rio de Janeiro; em São Paulo, italianos, judeus,
sírio-libaneses e, recentemente, chineses e coreanos.
A partir da década de 30, os efeitos da Grande Depressão e mudanças políticas fizeram
diminuir as ondas migratórias. Getúlio Vargas impôs limites à entrada de estrangeiros, coerente com
sua política nacionalista. Nos últimos tempos, novos fluxos dirigiram-se ao Brasil, que também passou
a “exportar” trabalhadores.
O Memorial do Imigrante, inaugurado em 98, vem resgatando parte da história de São
Paulo e dos imigrantes do passado, cujas bagagens trouxeram a esperança de um futuro melhor. Os
emigrantes do presente levam essa mesma esperança.

Maria Odette Simão Brancatelli e Cinília T. Gisondi Omaki são professoras de História do Colégio
Bandeirantes.
Texto publicado no Caderno Fovest, Folha de São Paulo, 10/12/1999.

1
Exercícios

01. (Fuvest-SP) No século 19, a imigração européia para o Brasil foi um processo ligado:
a. a uma política oficial e deliberada de povoamento, desejosa de fixar contingentes brancos em áreas
estratégicas e atender grupos de proprietários na obtenção de mão-de-obra;
b. a uma política organizada pelos abolicionistas para substituir paulatinamente a mão-de-obra
escrava das regiões cafeeiras e evitar a escravização em novas áreas de povoamento no sul do país;
c. às políticas militares, estabelecidas desde D. João VI, para a ocupação das fronteiras do sul e para a
constituição de propriedades de criação de gado destinadas à exportação de charque;
d. à política do partido liberal para atrair novos grupos europeus para as áreas agrícolas e implantar
um meio alternativo de produção, baseado em minifúndios;
e. à política oficial de povoamento baseada nos contratos de parceria como forma de estabelecer
mão-de-obra assalariada nas áreas de agricultura de subsistência e de exportação.

02. (Mackenzie-SP) “Aqueles que estão bem na Itália, como vocês meus filhos, não devem deixá-la,
digo-lhes isto como pai (...) não acreditem naqueles que falam bem da América (...) é preferível estar
numa prisão na Itália do que numa fazenda aqui.”
Zuleika Alvim, Brava Gente
O trecho da carta de um imigrante revela como era difícil “fazer a América” no Brasil, porque:
a. com o declínio da produção cafeeira, o imigrante desempregado vivia em péssima situação social;
b. dívidas, maus-tratos, isolamento e a Lei de terras tornaram quase impossível o acesso à terra e
prosperidade;
c. o choque cultural e dificuldades climáticas inviabilizaram a imigração;
d. a falta de uma experiência capitalista anterior pelos imigrantes impedia a formação de uma
poupança;
e. a propaganda feita pelo governo e agenciadores era correta e cumpria as promessas feitas, mas a
qualidade da mão-de-obra era precária.

03. (Cesgranrio-RJ) A imigração estrangeira teve um papel importante na formação da estrutura


populacional do Brasil. Sobre esse fluxo migratório, pode-se afirmar que os:
I. eslavos, os italianos, os alemães e os poloneses concentram-se na região sul do país, onde se
instalaram no final do século XIX, o que explica em boa parte, a predominância de brancos entre a
população sulista;
II. japoneses, chegando, em grande parte, a partir de 1908, concentram-se em São Paulo e no Pará,
dedicando-se, nesse último estado à agricultura da pimenta-do-reino;
III. negros, oriundos da África são mais numerosos no nordeste, primeira grande área de atração
populacional do Brasil.
Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s):
a. I, II e III.
b. I e II apenas.
c. II e III apenas.
d. I e III apenas.
e. I apenas.

2
Gabarito

01. a
02. b
03. a

3
Guerra multiplica tragédia na África

O pan-africanismo (veja glossário), proposto após a Segunda Guerra, esbarrou na


existência de várias “Áfricas”, resultantes de sua própria história e de séculos de dominação.
As guerras em Moçambique, Angola e na África Central confirmam essa afirmação.
A partir da expansão marítima européia, interesses econômicos nortearam a exploração
do continente: metais preciosos, matérias-primas e escravos, tendo o tráfico negreiro estimulado
disputas intertribais preexistentes.
Com a Segunda Revolução Industrial, desenvolveu-se um novo colonialismo, legitimado
pela “missão civilizadora ” do homem branco. Na Conferência de Berlim (1884-85), as potências
imperialistas fragmentaram a África, ignorando a diversidade étnico-cultural do continente. Fronteiras
retilíneas separaram grupos e aglutinaram rivais, acentuando os problemas.
Apesar da diversidade, forjou-se uma certa unidade desses povos, que organizaram
movimentos culturais, partidos políticos e ações armadas para alcançar a independência, em plena
Guerra Fria.
Os EUA apoiaram a descolonização, temendo que o radicalismo das lutas favorecesse a
ampliação do bloco socialista. As elites coloniais comandaram o processo, formando dezenas de
países após 1950, nos quais as rivalidades persistiram.
Portugal foi a última resistência à dissolução do colonialismo formal. Nos anos 60, em
Guiné Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola começavam as lutas de
libertação, influenciadas pelo modelo soviético.
A queda do salazarismo e a redemocratização levaram ao reconhecimento da
independência das colônias africanas em 75, onde se desencadearam guerras civis. O fracasso de
sucessivos acordos de paz só fez aumentar o atraso e a desorganização.
Em Moçambique, a socialista Frelimo assumiu o poder, enfrentando a oposição da
anticomunista Renamo. Nos anos 90, os conflitos continuaram, embora a Frelimo tivesse abandonado
o marxismo.
Em Angola, confrontaram-se três grupos guerrilheiros de ideologias e etnias diferentes:
MPLA, socialista, apoiado por Cuba e URSS; FNLA (dissolvida no fim dos anos 70) e Unita, de
alinhamento pró-ocidental, auxiliadas pelos EUA e África do Sul.
A vitória do MPLA nas eleições de 92 não foi aceita pela Unita, apesar de reconhecida por
vários países. Forças do governo e rebeldes ainda combatem pelo controle de áreas do território, rico
em petróleo, diamantes, minérios e produtos agrícolas.
Com o fim da Guerra Fria, outras tensões étnico-tribais explodiram, reforçadas pela
marginalização social e estagnação econômica.
Os embates entre hutus e tutsis, na África Central, criaram um quadro de massacres e
instabilidade política em Ruanda, Burundi e República Democrática do Congo (ex-Zaire, antigo Congo
Belga).
Não despertando os mesmos interesses do passado, a África é cenário de violações dos
direitos humanos, denunciadas pela Anistia Internacional, mas pouco ouvidas.
No passado, milhões foram arrancados de suas terras e trazidos para a América como
escravos; atualmente, milhões de refugiados e vítimas das minas terrestres e das guerras civis anseiam
por uma paz permanente.

Maria Odette Simão Brancatelli e Cinília T. Gisondi Omaki são professoras de história do Colégio
Bandeirantes.
Texto publicado no Caderno Fovest, Folha de São Paulo, 08/10/1999.

4
Glossário
Pan-africanismo - projeto de união de todas as nações africanas, defendido pelo nacionalista
queniano Jomo Queniata e por Kwame Nhkrumah, dirigente de Gana.
Frelimo - Frente de Libertação de Moçambique, fundada em 1962 por Eduardo Mondlane.
Renamo - Resistência Nacional Moçambicana.
MPLA - Movimento Popular pela Libertação de Angola, fundado em 1956 por Agostinho Neto.
FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola, liderada por Holden Roberto.
Unita - União Nacional pela Independência Total de Angola, comandada por Jonas Savimbi.

Exercícios

01. (PUC-Campinas) “... a ‘missão civilizadora’ dos povos brancos utilizou-se das ciências da época para
provar sua superioridade. (...) teorias proclamavam a desigualdade dos homens e das raças como lei
irrevogável, destacando-se a biologia e a etnografia...”
O texto contém elementos que, servindo de respaldo ideológico, foram utilizados pelos europeus, no
século 19, para justificar a:
a. reação dos americanos à política colonialista da Inglaterra;
b. ação colonizadora das missões jesuíticas nas colônias;
c. dominação e a aniquilação dos povos pré-colombianos;
d. exploração e a subjugação de africanos e asiáticos;
e. expulsão dos povos árabes do mar Mediterrâneo.

02. (FGV-SP) Sobre os processos de descolonização da África e da Ásia após a Segunda Guerra, não se
pode afirmar que:
a. o nacionalismo dos anos 50 e 60, juntamente com o declínio da hegemonia européia, levou
dezenas de nações à independência política;
b. os países do Terceiro Mundo passaram a se organizar como “não-alinhados” na Conferência de
Bandung na Indonésia, reforçando a luta anticolonialista;
c. a independência política dos países afro-asiáticos levou à integração das minorias étnicas e
religiosas;
d. os norte-americanos passaram a participar desses processos de descolonização, lutando em alguns
casos por formas políticas de dominação neocolonial;
e. as colônias portuguesas foram algumas das últimas a conseguirem a independência.

5
03. (Mackenzie-SP) “Milicianos hutus e tutsis massacrando-se aos milhares em Ruanda, Burundi ou Zaire?
Um novo vírus devastador, que arranca centenas de vidas a cada dia, como fez o Ebola no Zaire, há
dois anos ? Qual será a próxima mazela no cardápio da África subsaariana ? (...) O Zaire é cada vez
menos um Estado e cada vez mais uma expressão geográfica herdada do colonialismo...”
Jayme Brener
A situação de instabilidade política no continente africano é o resultado de diversos fatores históricos,
exceto:
a. os inúmeros conflitos que aconteceram na África nos últimos 30 anos, com a participação de forças
externas ao continente;
b. o processo de descolonização, que não respeitou as características culturais do continente;
c. o abandono dos sentimentos nacionalistas e das lutas entre tribos rivais;
d. a falência dos Estados africanos e o fim da Guerra Fria, que acabou com o interesse das potências
em auxiliá-los;
e. a multiplicação de conflitos intertribais, enquanto elites multinacionais exploram suas riquezas.

04. (FGV-SP) Antes de Mandela, certamente foi Lumumba, a liderança política africana mais conhecida no
mundo. Seqüestrado e assassinado em 1961, seus pronunciamentos e versos, de profundo caráter
anticolonialista, são documentos importantes também para a compreensão da situação do negro na
África neste século. Sua vida e luta estão diretamente vinculadas à independência:
a. de Angola;
b. do Zaire, ex-Congo Belga;
c. da Tanzânia, ex-Tanganica;
d. da Nigéria;
e. do Sudão.

Gabarito

01. d
02. c
03. c
04. b

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