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Waldirio Bulgarelli As Sociedades Cooperativas easua Disciplina Juridica II — Situacdo Atual das Cooperativas no Brasil " Conforme j4 foi visto, com a Constituicio Federal de 188, pode-se dizer que se iniciou um novo periodo no ciclo 0 do regime juridico das sociedades cooperativas até entdo presas e submetidas as imposigdes estatais decor rentes do regime autoritario. Varios artigos da Constituicao referem-se As cooperativas no sentido nao s6 de reconhecé- las, de livré-las das peias estatais como também para apoié- las.pDe todos esses dispositivos sem desmerecer os demais, destaca-se o art. 5°, XVIII que dispoe: “a criacao de associagdes ¢, na forma da lei, a de cooperativas, independem de autorizacao, sendo vedada a interferéncia estatal em seu funcionamento:” © qual resplandece como uma auréola de liberdade daquelas que viveram engessadas durante mais de vinte anos’. 2. A propésito colhem-se na Lei 5.764/71 toda essa subordinagio e a exis téncia do INGRA e do CNCOOP dotados de poderes tais que inclufam o de alterar a Lei cooperativista, 0s quais, hoje, jé mais nao existem nem suas resolugdes vigem. Outros dispositivos nao sio menos importantes valendo 1) 0 art. 146. 0) dispondo, que cabe a lei comple- nentar estabelecer normas para o adequado tratamento tribu- tario ao ATO COOPERATIVO; 2) o art. 174, § 2° que dispoe A lei apoiard ¢ estimulard 0 cooperativismo ¢ outras formas de associativismo; 3) 0 art. 174, § 3° — O Estado favorecerd a promocéo da atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a protecdo do meio ambiente e a promocdo econémico-social dos garimpeiros; e 4) o art. 192, VIII, dispondo que Lei com- plementar regulard “o funcionamento das cooperativas de crédito € 05 requisitos para que possam ter condigdes de operacionalidade ¢ estruturacdo proprias das instituicdes financeiras”. Claro esta que esta nova posicao do legislador levou a certas perplexidades nao s6 causadas por algumas medidas do Executive, como a extingao do Consetho Nacional do Cooperativismo, do Banco Nacional de Crédito Cooperative € outros, ¢ a limitacao da intervencao do Estado nas Coo- perativas, do que € exemplo norma do BC em relacao as cooperativas habitacionais’ mas também do que restaria em vigor da Lei 5.764/71, ou se esta estaria mesmo revogada, por inteiro. Ao fim, chegowse a solucao de que ela esté em vigor com a exclusao das normas intervencionistas. Isto foi feito, com base na teoria da recepgao de Kelsen que predica a mantenca do ordenamento juridico vigente, apés uma revolucao (e, no caso, a Const. Federal bem pode bem ser entendida assim pelas mudancas que acarretou no sistema juridico existente), As questdes surgidas decorrem, como é natural, das diividas sobre aquelas normas da Lei 5:764/71 € outras que permanecem vigentes € as que devem ser ex- luidas pelos mandamentos constitucionais. Nesse sentido, varios projetos de Lei foram apresentados 10 Congreso Nacional com a finalidade de nao s6 obter-se nova legislagao que substitua a Lei 5.764/71, como 1.895, de 26.6.1991, do B.C.B. consagrando a independéncia ‘cionamento das cooperativas habitaciomais. ‘para regulamentar outros aspectos, como, por exemplo, 0 do Ato Cooperativo e das Cooperativas de Crédito. Outros problemas so oriundos da situagio econémica, anceira € social do Pais, como as altas taxas de juros, 0 desemprego, a falta de moradias, ete. que infletem sobre a posigdo das cooperativas, de um lado, incrementando a cria- do de novas cooperativas, de outro, perturbando a sua atuagao, tudo envolto pela incompreensao geral das altas finalidades das cooperativas. Nesse sentido, observa-se uma campanha difamatoria contra as cooperativas de trabalho acusadas de se constituirem apenas para livrar as empresas de arear com as obrigacées trabalhistas ¢ previdenciarias, o que € uma total inverdade. O que também ocorre com as cooperativas habitacionais, tendo chegado ao cimulo, o Ministério Piblico paulista de editar uma espécie de cartilha alertando o puiblico contra elas e predispondo os Promotores a vé-las com desconfianga. Volta-se assim a se falar em “falsas cooperativas” , velho refrao que serviu a luva em varias €pocas aos concorrentes das cooperativas, como no caso das de consumo, de habitacdo, e de trabalhadores. Nessa onda de suspiccia em que se pretende envolver as cooperativas, parecem ter se salvado apenas as cooperativas de médicos as de crédito, as primeiras, por forca de imimeras decisées judiciais exaltando as suas virtualidades e as segundas pelo reconhecimento do Banco Central da atuacao importante desse segmento, tendo mesmo sido autorizada a constituicao de um Banco comercial constituido pelas cooperativas de crédito, antiga reivindicacdo do sistema cooperativo, agora concretizada com a cria¢io do Banco das Cooperativas. Deve-se ter presente também que embora tenhaa Aliana Cooperativa Internacional, entidade que retine as coopera- tivas do mundo inteiro, aprovado os novos principios da doutrina cooperativista, no Congreso de Manchester, em 1995, nao os alterou em profundidade, tendo apenas dado realce & integragdo, 0 que ja era uma reivindicacio minha de tantos anos. je mencionar ainda que o Estado brasileiro tem sid de uma falsidade inacreditavel em relagao ao sistema coope- rativo nacional, tanto que embora tenha apoiado todas resolugées internacionais, visando a protecdo do movimento cooperativo, como, por exemplo, (sem preocupagao de or- dem): a Resolugo n® 127, de 1966, da Organizacéo Inter- nacional do Trabalho, OIT; a Resolucao n® 2.359, de 1968, da ONU; A Carta de Buenos Aires, de 1969, da Organizacéo dos Estados Americanos que entrou em vigor em 27 de fevereiro de 1971, ¢ finalmente a Resolucao n° 1.413, de 1969, do Conselho Econémico ¢ Social da ONU, em que se formulava a atuacao das cooperativas as metas visadas na chamada Década do Desenvolvimento, Sem contar que em maio de 1970, o Brasil, juntainente com mais cinco paises: India, Bulgaria, Indoné- sia, Paquistéo ¢ Sudao, apresentou um projeto de resolucao perante o Conselho Econémico ¢ Social das Nacées Unidas, recomendando que a organizacao mundial “dé especial aten- 40 as solicitagGes de assisténcia que os paises em desenvol vimento formulem para desenvolver as cooperativas”, jamais as cumpriu, pelo contrario, ainda, hoje, as persegue, sobre- tudo pela imposicao de Sbices burocriticos e fiscais. Tudo somado, demonstra que as cooperativas dispdem de uma situacao normativa valida, vigente ¢ eficaz, com base na Lei maior, com uma organizacdo nacional representativa, € suas congenéres estaduais, dispondo ainda de uma estru- tura organica vertical, com cooperativas locais, centrais, re- gionais ¢ federagdes, conquanto ainda presas a heranca dos controles estatais a que estiveram sujeitas durante tantos nos. Da para observar que ainda as cooperativas, como que se auto-limitam temerosas dos “arranjos” normativos ¢ bu- tocraticos. Como exemplo, anota-se que o Projeto de Lei Jo Scnado n® B1, de 1995, chamado de “Projeto Suplicy", ispde (ou dispunha, pois se espera que tenha sido alterado) © seu art, 8° que: “A instituicdo de cooperativas serd objeto de apreciacao, em 60 dias, por parte de érgdo jriblico, definido por administration, com a atribuigdo. » © qual além le ser fagrantemente inconstitucional, conforme o art. 5°, to Nacional de Registro de Comér- 5 sociedades cooperativas retirem da sua ssio “LTDA.", com argumentos que fossem tristes, (0 qual publicamos em rango que sobrou de tantos anos de con- a observar os conflitos existentes nas relagdes ) que se entremostra claramente o choque entre »s de incompreensdes: em relacéo as cooperativas € a0 Cédigo, problema sério que poderia ser re- algumas ressalvas incluidas no texto do referido Por derradeiro, havemos de nao esquecer que 0 futuro prsximo aponta para as relagdes internacionais das socie- dades cooperativas, sobretudo, com referéncia ao MERCO- SUL, 0 que impée que se adaptem para tal mister. 4. CE. “La legilaci cooperativa en el Mercosur, Ed. Intercoop, B. Aires, 1994. Ill — O Sistema Cooperativo 1. Introdugdo Utilizamos aqui o termo sistema sem maior preocupacéo metodolégica’ para, a exemplo dos chamados sistemas ca- pitalistas socialistas, demonstrar as suas caracteristicas ¢ especificidades. A doutrina do cooperativismo como é co- nhecida, certamente, nao se afasta da doutrina juridica, pelo contrério, vem se esforcando, neste século, para consolidar 08 principios basicos de organizagéo e funcionamento das cooperativas e, por isso, tendo dado significativa contribui- cdo para que os ordenamentos juridicos recepcionassem esse novo tipo de associacao. Nesse sentido, é bastante evi- dente que a histéria da doutrina cooperativista © das legis: lacdes que regulam as cooperativas se relacionam estreita- mente, demonstrando a influéncia daquela nesta ¢ se nem sempre foi obtida uma hamonizagéo completa, nao se pode deixar de ver que houve um ajuste coerente. 5. Sobre o conceito de sistema no direito, cf. Tércio Sampaio Ferraz Jr, O Coneeito de Sistema no Direito, Ed, R., 1976. Pelo aspecto que enfocamos, também pode ser visto como sendo um seer, conforme a tese de George Fauquet, “Le Secteur Coopératif, Pars, 1942. nu No ordenamento juridico brasileiro®, apesar dos des eventuais ocorridos, nota-se bem o afirmado. Vejase a partir do Congresso de Paris, da AIC, em 1937, que apro pela primeira vez os chamados principios cooperativi que promulgow-se o Decreto-lei n. 581 de 1.8.1938, 0 qui alterou o Decreto 22.239, de 19.12.1932, instituindo, aind que toscamente, o principio do retorno. Com o Decreto-| n® 69, de 21.11.1996 e o seu regulamento o Decreto 60.597, de 19.4.1997, foram consagrados os principios aprovados pela AIC, no Congresso de Viena de 1966, robustecidos pela Lei §.764/71, e finalmente com 0 Congresso de Manchester, de 1995, varias decisdes intensificaram a recomendacao do principio da integragao. Nao sera por certo demasia realgar a busca de identidade das cooperativas nao sé empresarial como juridica, no de- correr da sua evolucao histérica. Razdo pela qual havemos de insistir na visio diacrénica, ressaltando as suas peculia- ridades a partir dos princfpios doutrinarios, da sua situacao, juridica e das caracteristicas mais salientes que ostentam, 0 que sera analisado a seguir nos varios segmentos deste tra- balho. Comecemos, pois, pelos prineipios ditados pela doutrina cooperativista. 2. Os Principios Cooperativistas Numa visio geral esses principios exprimem 0 alt sentido social do sistema cooperativo. As cooperativas desta forma, se apresentam como entidades de inspiracio democratica, em que © capital nao constitui o determinante da parti pacdo associativa, mas, mero instrumento para a realizagao dos seus objetivos; elas séo dirigidas democraticamente ¢ controladas por todos os associados; no perseguem lucros da nogio € das caracteristcas do ordenamento juridico Cf. Teoria do Ordenamento Juridico, Ed. Brasilia, 1989. (es sao distribuidos proporcionalmente as cada associado; nelas se observa a neutralidade jigiosa, o capital € remunerado por uma taxa mi 10s € 0s habitos de economia dos associados sto los pelas aquisicées a dinheiro, dando-se destaque Hfcigoamento do homem, pela educagao. Em rapida andlise esses principios assim se caracterizam: — A adesdo livre desdobra-se em dois aspectos; a volun- iedade, pelo qual nao se admite que ninguém seja coagido ngressar numa sociedade cooperativa, ¢ 0? da porta-aberta, través do qual ndo pode ser vedado o ingresso na sociedade aqueles que preencham as condicées estatutérias* — A cada associado um voto, ou gestio democratica, esta- belece a predominancia da pessoa sobre o capital. Assim, todo o associado tem dircito a um voto, seja qual for o valor de suas cotas de capital; todo 0 associado pode dessa forma votar ¢ ser votado, participando da gestao da sociedade. — Distribuigdo do excedente pro rata das transacées dos mem- bros, ou retorno exprime uma das idéias essenciais do coo- perativismo — a busca do justo preco®, afastando qualquer sentido lucrativo. E a refutagio manifesta ao espirito de lucro que caracteriza a sociedade capitalista. Ele se realiza através do mecanismo do retorno, atribuido a Charles ‘Owarth, um dos Pioneiros de Rochdale, cuja aplicagao per- 7. Por isso muitos no consideram auténticas as cooperativas existentes nos ppaises em que como a URS e Cuba, hd coacao direta ou indireta sobre os. associados. Nos paises subdesenvolvidos, isto costuma ocorrer nos projetos de ‘eforma agrdria, sendo nese caso essas cooperativas consideradas mais como pré-cooperativas 8. Modernamente, vem sendo criadas cooperativasfechadas,limitadasa certa, classe, corporacio ou profissio, No Brasil, existem em grande quantidade, principalmente entre empregados das empresas. No U.S.A. as chamadas “cre. dit unions", existem em grande niimero. 9. “Justo preco, segundo Gide, é o preco livre de toda vegetagio supérflua que com 0 nome de lucro, de dividendo de renda, de pluwalia o acresce indefinidamente as expensas do consumidor, e de que tantos exemplos temos tido que presenciar sobretudo apés a guerra de 1914/1918"— Charles Gide, La Coopération, Colégio de Franca, 1921. B © restituir aos associados aquilo que eles tenhan mais nas suas operagdes com a cooperativa. Dessa pode a sociedade vender ao “preco corrente” e se ac contra os riscos provenientes do prego de custo. Tec mente é este principio que realiza na ordem econo: idéia cooperativa. — Juros limitados sobre o capital — Este principio refere-s« nao a obrigatoriedade de as cooperativas pagarem juros pe! capital dos associados; permite-lhes que o fagam, por limitadamente. Ele decorre da separacao estabelecida entre os aportes de capital trazidos pelo associado, que se torna necessario remunerar, € as sobras liquidas que decorrem das operacées do associado com a sociedade. — Neutralidade politica e religiosa — Pelo qual se impede que as cooperativas estabelecam qualquer discriminacao de uma ou outra ordem, e veda-se-thes a participacdo nos mo- vimentos politicos!?. — Vendas é vista — Principio estabelecido mais no sen- tido das cooperativas de consumo, visando educar 0s asso- ciados na pratica da poupanga, e impedindo por outro lado, © fracasso desse tipo de cooperativa, dado 0 risco das vendas imoderadas a crédito. — Desenvolvimento da educagéo — ¥, uma decorréncia da preocupacao da doutrina com o aperfeicoamento do ho- mem, permitindo que ele adquira conhecimentos indispen- saveis e a formagao necessdria para a pratica do cooperati- vismo. A doutrina cooperativa, entretanto, nao permaneceu es- taciondria e perante as novas realidades, foram reformulados alguns conceitos basicos. Isto se deve a que, existindo as cooperativas sob os mais diversos sistemas sécio-econdmicos © sob regimes politicos diferentes, ¢ tendo em vista as trans- io € bastante discutido, hoje, quanto a participacio politica snde-se que nao deve haver politica dentro da coopera fs transcendentais, como a liberdade, a paz, et s estruturas econémicas ¢ sociais dos tiltimos se uma reviso critica nas suas formula: evolucao deve-se principalmente aos estudos de i Lavergne!!, Paul Lambert!?, Georges Lassere!? ¢ \quet!, a este sobretudo, quem, partindo de uma geral da economia, logrou fixar com exatidao a posi¢ao cooperativismo no mundo atual. Surpreendeu ele, no da economia dos vrios paises, 0 setor cooperativo Jo ao lado de outros trés setores, a saber: 0 piiblico spreendendo as empresas controladas pelo Estado di- ou indiretamente); 0 capitalista (compreendendo todas presas pertencentes ao capital privado, que suportam riscos e absorvem os lucros); 0 propriamente privado (com- preendendo as unidades e atividades nao capitalistas da economia doméstica ¢ da economia agricola e artesanal). Em seu desenvolvimento 0 cooperativismo poder absor- ver desde logo o setor propriamente privado, pela identifi- cacao de posicdes, porém, ser-Ihe-4 muito dificil absorver 0 setor capitalista e 0 setor piblico. Isto porque desapareceu © meio de liberdade que era vital ao desenvolvimento de cooperativismo, j4 que na economia moderna, o liberalismo foi substituido pela concentracdo de empresas capitalistas, co Estado de neutro passou a intervencionista. Desta forma, com relacio aos dois restaré para o cooperativismo lutar contra © capitalismo e aliar-se ao Estado, ao menos para que este oponha obstaculos a expansio daquele. 1, B, Lavergne “L'Ordre coopératif" — Paris, 1926 — “La Revolution coo- pérative" — Paris, 1949 — “Le socialisme coopératit” — Paris, 1958. 12, P. Lambert — "Le secteur” de Fauquet devant la conscience des coopé rateurs"— Annales d'Economie Collective" — Genebra 58.1959 —*La doc- trine cooperative” — Paris 1959, 18. G, Lasserre — "Le Secteur coopératif et la projéction du consommateur” = paris 1959 — “Signification économique et morale des régies de Rochda- le"—ob. cit 14. G. Fauquet — “Le secteur coopératif” — Bruxelas, 1985 — “Régards sur le mouvement coopérati”, 1943. 5 ora por muitos ainda nao ten idéia da realizacao da Republica que a experiéncia recolhida nos tltimo: as dificuldades quase insuperaveis para atingir es: ‘Tanto mais que com a implantacao do marxi na URSS e sua ulterior expansao a grande mimero de © cooperativismo que surgira no meio capi ele se voltava, viu-se perante novas realidades a que de adaptar, sobretudo, para corrigir as distorsdes dest regime. Que o cooperativismo nao conseguiu atingir de total seus objetivos quer no regime capi gime socialista a experiéncia vem demonstrando-o a sac dade"®. Isto se deve também a que a concentragio de empresas capitalistas ou estatais, em grande mtimero de ati econémicas, notadamente no campo industrial, ve dindo com rarissimas excecdes'’, que 0 cooperati 1s Atualmene, distinguese trés correntes doutrindrias no cooperativismo: a) —a corrente que segue as idéias de Gide, com Lavergne a frente e que cré tna possbilidade de se alcancar a Repiiblica Cooperativa; b) — a corrente liderada por Fauquet, que se opée & primeira achando-a irrealista eacreditan- do que 0 cooperativismo £6 podera atingir certos setores da economia c) a cheliada por Pasquier que, baseandose no fato de existir o cooperativismo ‘em Paises com regimes o& mais diversos ¢ contraditérios, nao consttuiria, propriamente um sistema, mas, apenas um programa posivel de ser posto em pritica por qualquer douirina, CE. Diva B. Pinho, ob. cit. pg. 85 ¢ segs. 6, No regime capitaista, s cooperativas nao conseguiram eliminar a concor- @ iar o salariado; eliminar o hucro; obter o justo prego; realizar a Repiibliea Cooperativa; no regime socialite embora eliminando a concorrén- ‘osalariado e o hicro, nlo obtém o justo prego nem realizou a Repiiblica perativa. — Cf. — Diva B. Pinho, ob. cit. pg. 87 e segs, — Lasserre " cles au développement du mouvement coopératif,” — Paris, 1927. ‘cia & um dos pouicos paises, em que o cooperativismo logrou penetrar rial, com sucesso, — Gf. Gage Lassere — *Goopératives contre ‘cooperativo como Estado s0 em alguns setores industrais, assim apenas setores stica, artesanal € agricola € onde se concentra 0 gr ctudo, nos paises subdesenvolvidos. Embora > restringidas as possibilidades de 0 cooperati- par todos os setores da economia, nem por isso, se deve subestimar o papel extraordindrio por tado na humanizacao da economia € no aper- les existéncia das as, nos mais diversos paises, tem demonstrado sua acao diuturna em prol de uma melhor distribuicao \queza, 0s erros € distorgdes desses sistemas, em que ‘am de um lado o capitalismo e de outro o socialismo, suas miltiplas e variadas formas. E mais: a contribuicio ue 0 cooperativismo vem emprestando aos paises subde- senvolvidos na sua luta contra o atraso ¢ a miséria, como vem ocorrendo na Asia, Africa ¢ América Latina, di nova dimenséo que compensando as suas limitagdes nos paises de economia desenvolvida, permite-Ihe aspirar a exer- cer um papel de excepcional relevancia na redengao sécio- econdmica desses paises! Apresenta-se, assim, 0 cooperativismo como um sistema reformista da sociedade que quer obter o justo prego, abo- do 0 intermediario ¢ o assalariado, através da solidarie- dade e da ajuda mitua. Filosoficamente, 0 principal objetivo que aspira é 0 aperfeigoamento moral do homem, pelo alto sentido ético da solidariedade, complementado na acao. pela melhoria econdmica’®. £, assim, um movimento pact 18 “Cependant si dans nos views pays et dans certain secteurs en particulier, Ia cooperation napparait plus comme la solution que simpose, & la fois sur Je plan économique et sur le plan social, dans les pays en voie de développe- ment au contraire 13. "Por sitema cooperativo devemos entender a estrutura ou a organizagio ‘econémicae social, que o cooperativismo pretende instaurar de maneira lenta € pacifiea, Com 0 objetivo de extabelecer: novas normas de condita humana; tuma organizago diferente em virtade da qual a riqueza seja dstribuida com ” fico; a sua doutrina nao se apresenta com os laivos que impregnam outras ideologias — respeitando basica em que se assenta a sociedade, sem querer a dl cdo, pela violéncia, de suas instituicdes. Finalmente ha que se transcrever aqui os principios perativos aprovados no Congresso de Manchester, em 1 pela Alianca Gooperativa Internacional que sao: 1* Principio — Adesdo livre e voluntaria — Cooperati so organizacées voluntérias abertas a todas as pessoas ap’ a usar seus servicos € dispostas a aceitar as responsabilidad de sécio, sem discriminagao social, racial, politica ou r giosa e de género. 28 Principio — Controle democrdtico pelos sécios — As coo- perativas sao organizagdes democraticas controladas por seus sdcios os quais participam ativamente no estabeleci- mento de suas politicas ¢ na tomada de decisdes. Homens ¢ mulheres, eleitos como representantes, sio responsaveis para com os sécios. Nas cooperativas singulares os s6cios tem igualdade na votagao (um s6cio, um voto); as coopera- tivas de outros graus sio também organizadas de maneira democratica. 3" Principio — Participacao econémica dos sécios— Os s6cios contribuem de forma eqiitativa e controlam democratica- mente 0 capital de suas cooperativas. Parte desse capital € propriedade comum das cooperativas. Usualmente os sécios recebem juros limitados (se houver algum) sobre o capital, como condigao de sociedade. Os sécios destinamjas sobras aos seguintes propésitos: desenvolvimento das cooperativas, possibilitando formacao de reservas, parte dessas podendo ser indivisfveis; retorno aos sécios na proporcio de suas de, ¢ um sistema no qual so conservados os principios democriticos, 3s acostumados a viver. Com efeito, o sistema cooperative € 0 josamente combinado de sociedades cooperativas de todos jos 0s graus que dard uma nova fisionomia e um novo € econdmica.” Rosendo Rojas Coria, “Introduc- uvismo” México, 1961, pgs. 62/63, cooperativas ¢ apoio a outras atividades provadas pelos sécios. 4" Principio — Autonomia e independéncia — As coopera- tivas silo organizac6es auténomas para ajuda miitua, contro- seus membros. Entretanto em acordo operacional as entidades, inclusive governamentais, ou rece- » capital de origem externa, elas devem fazé-lo em os que preservem o seu controle democratico pelos jos € mantenham sua autonomia. 5° Principio — Educacao, treinamento ¢ informacéo — As perativas proporcionam educacao € treinamento para os 10s, dirigentes eleitos, administradores e funciondrios, de odo a contribuir efetivamente para 0 seu desenvolvimento. Eles deverao informar o ptiblico em geral, particularmente 0 jovens 0s lideres formadores de opiniao, sobre a natu reza ¢ os beneficios da cooperacao. 6* Principio — Cooperacdo entre cooperativas — As coope- rativas atendem seus sécios mais efetivamente a fortalecem © movimento cooperativo, trabalhando juntas através de estruturas locais, nacionais, regionais e internacionais. 7 Principio — Preocupacéo com a comunidade — As coo- perativas trabalham pelo desenvolvimento sustentavel de suas comunidades, através de politicas aprovadas por seus membros, 3 — As Peculiaridades das Cooperativas: 0 ato cooperative » 1 — Por se apresentar como uma nova categoria de sociedade por ter criado novos tipos de relacées juridicas com seus associados € com terceiros € por operar de forma diferente das sociedades tanto civis como comerciais, com objetivos préprios e caracteristicos, passou-se a entender que as regras destinadas a reger as cooperativas nao cons- titufam mero apéndice ou prolongamento dos sistemas de Direito Civil, Comercial, Social ou Administrative, mas, sim continham os elementos caracterizadores de do Direito: 0 Direito Cooperativo. Esse Dircito s destinado a reger as sociedades cooperativas © as suits 60s juridicas, sem subordinacao a outros ramos Por incompativel a sistematica juridica das coopera @ orientacio € 0 contetido das normas desses 1 Direito. Em que pese as dificuldades existentes para a carac zacao de qualquer novo ramo do Direito, dificuldades ess.is que © Direito Comercial® ainda hoje arrosta, parece s: inequivoco que a sociedade cooperativa apresenta carac risticas que a tornam original perante as demais sociedades existentes, € que se estende e se prolonga até suas atividades norteando-lhes os atos que se distinguem por isso dos civis € dos comerciais. A sociedade cooperativa diferentemente. das sociedades comerciais, atua na ordem pratica regida por principios doutrinarios de profunda inspiracio ética, no que se contrapoe fundamentalmente as sociedades capitalistas, despidas de qualquer sentido moral, absortas no objetivo senao do lucro, a0 menos do rendimento do capital. Dai a clara originalidade da sua organizacao ¢ do seu funciona- mento, posto que se afirma como empresa econémica su- bordinada a regras doutrinarias, de contetido ético, F por isso também a necesséria referéncia aos altos objetivos de “bem-estar social” integrante do seu conceito, que na pratica de suas atividades refogem ao sentido puramente teérico que a eles sao em geral atribuidos, para se materializarem na acdo. Da sua estrutura associativa ressaltam intimeras caracteristicas ja no curso desta exposicao postas em relevo que Ihe conferem total originalidade, ao consagrar os prin- cipios doutrinarios; recorde-se a gestdo democratica, em que © associado vale por si mesmo, independentemente do ca- pital aportado; a adesdo livre, pela qual ninguém pode ser compelido a nela ingressar, mas, também que ela permanece le portay abertas para todos quantos queiram se associar; la Costa — ob. cit. Ed. 1956, Sao Paulo. Gains Aisne Ao ee 0 do relorno, pelo qual a cooperativ qualquer sobra apurada em suas + distingdo em razo do capital, mas, ¢ do montante operacional de cada ‘mente, a auséncia de fins lucrativos, 1 do justo preco, 0 que revoluciona os istas existentes, dando um sentido humano 10 © regime Capitalista como o socialista dar. Tanto ¢ isso verdade, que as legisla- 's paises onde o cooperativismo se implantou, le a dizer, hoje, do mundo inteiro, acabaram ‘er essas caracteristicas, conferindo-the um re- ico proprio. E nao € demais acentuar que as islagoes acabaram por consagrar textualmente essa au- 5 lucrativos, como a lei de 1947, da Franca, a 2, da Espanha, a de 1948 da Bolivia, a de Costa Rica, ec, do Equador, da Nicaragua, e o decreto-lei 59 de novembro de 1966, do Brasil. Trata-se, portanto, de empresa cuja conformacio € pro- cedimentos estéo influenciados pelos principios doutrina- tios do sistema de que é instrumento. Nao constitui a coo- perativa uma categoria econémica, em si, auténoma, desti- hada como as sociedades capitalistas apenas 4 obtengao de lucro; ao substituir a economia lucrativa pela economia de servico € portanto de custos, ela se subordina a ser o ins trumento de execugo desse novo objetivo?! 21. “A notre sens, la solution du probleme vient d'étre facilité par cette distinction. Nous avons caracterisé plus haut "entreprise coopérative para le fait qu’elle n’a pas une existence autonome, un but en soi méme, comme Ventreprise & caractére caitalista, dont Pobjet est Pobtention de benefice, qui forme le mobile meme de sa création. Le bénéfice d'entreprise revient dans le régime économique actual 4 entrepreneur capitalise. Dans um régime coopératif,I'entrepreneur consideré non comme ume fonction, mais comme tune categorie économique qui se réserve une part tellement important du 2 Dai que sua estrutura societaria estd constr a atender a esses objetivos. E 0 caso da indivisil fundo de reserva, entre os associados, mesmo dissolucao, que nao encontra paralelo nos tipos s capitalistas, pois € decorrente da idéia de socializacio p da riqueza. Também a limitacdo do pagamento de sobre o capital, nas cooperativas que o tenham, médicas; a criacdo dos fundos para educacao, € po do, o sistema do retorno 2— Ao lado do aspecto societario, hé a assinalar tar que essa originalidade se estende as atividades da coopes:1 iva, através da pratica de atos caracteristicos que por iss mesmo cooperativos devem denominar-se, inconfundiveis qué sio com os pertinentes aos outros ramos do Dire privado. Muito embora, tendo sido os atos das sociedades cooperativas examinados apenas 4 luz do Direito positive ou da doutrina juridica, ¢ que por esse aspecto possam te1 parecido comuns, a sua andlise perante a teoria do Dir Cooperativo os prineipios doutrinarios que os regem, d xam entrever sem rebucos, a sua peculiaridade. Em primeiro lugar, convém acentuar que 0 alto objetivo da sociedade cooperativa nao esté ausente do objetivo dos seus atos; ele nao permanece ao redor ¢ até fora da pratica do ato, mas se impregna em todas as suas facetas, incorporando-se a ele € dando-Ihe o seu cunho incomum. £ 0 que sucede com o mecanismo do retorno onde a partilha das sobras verificadas ha cooperativa é feita em proporcio as operacées praticadas pelos associados © nao em razio do capital de cada un Difere, assim, totalmente da norma usual no sistema capi- talista, ndo se podendo considerar a sobra da sociedade cooperativa, como o dividendo da sociedade anénima, por exemplo, ou dos lucros dos outros tipos societirios. Os atos praticados pela administracao da sociedade cooperativa di- ferem, no objetivo, dos praticados pela administracao das clevra disparaitre. Cette part revient aux consommateurs et aux ” —G. Mladenats, ob. ct o mercado, nas suas operag 4 cooperativa esta operacionalmente vinculada fornecerlhes bens_e-scrvicos sujeita. ‘esses deles como associados, do que a Presa; o que ndo ocorre, principalmen- sociedade anénima, a qual, como muito Ripert®, tornou-se uma maquina subordinada ‘engao de dividendos. que se distinguir na atividade operacional das s, dois tipos de relacdes gerais, basics para a sio da verdadeira natureza dessas relacdes. Assim decorrente da sua estrutura societiria, pode-se isolar S atos internos, praticados com seus associados, e ’ praticados com terceiros. Aos primeiros, configura- n circulo fechado, tem-se atribuido a denominacio dle atos cooperativas*. Se a originalidade dos atos praticados As cooperativas pode-se irradiar, como de fato se irradia- além dos limites do circulo interno, e impresso a ‘_marca, até mesmo aos praticados com terceiros, em io da forca irresistivel promanada dos principios doutri- arios informativos de suas atividades — onde, porém, essa ‘iginalidade mais se acentua € justamente nos atos com seus associados. Necessdrio destacar que as empresas capitalistas man- tem relacées com seus sécios ou acionistas, apenas de ordem “societiria”, vale dizer, imanente e proveniente do seu con- trato ou estatuto, relagdes essas em que nao entra necessa~ 208 atos cooperatives; também o decreto-ei 59 de 91 de novembro de 1966, ‘no seu artigo 23, faz referéncia aos atos das cooperativas com seus association, 2B riamente, a pratica de atividades “operacionais” nas as referentes as obrigagdes societirias. Por caracteristica das cooperativas, de empresas de servic das para atender as necessidades de seus associados, que estes sio ao mesmo tempo, como ja se ac correr deste trabalho, associados ¢ clientes. Destin: cooperativas, portanto, em funcao da sua natureza a operar com seus associados e os atos por elas prati dirigem-se nado ao mercado, mas, prevalecentemente sto seus associados. ‘Tem-se entao a primeira distingao: as cooperativas sin organizadas para atender aos associados, fornecendo- bens ¢ servicos; as empresas capitalistas para operarem mertado e distribuir entre os sécios a renda provenientc dessas atividades. Nessa pratica, a bem dizer, “fechada” pois a sua atividade volta-se sobre seu corpo associativo, a ele se limitando, ¢ assim configurando um verdadeiro circulo®, encontra-se 0 cerne da originalidade dos atos cooperativos. Facil é de compreender que com seus associados, a cooperativa deva praticar atos de natureza diferente daqueles que as empresas em geral, praticam com seus clientes ¢ fornecedores (que nao participam da sociedade). Assim, ocorre com 0 contrato de compra € venda, o principal das empresas capitalistas*® que na sistematica operacional cooperativista, na pratica com seus associados, deixa de ter aplicagao, para dar lugar a novos tipos de contratos que muito embora ainda nao bem compreendido pelos autores ¢ devidamente estudados pela doutrina, sao peculiares e especiais, j4 que tinicos ¢ exclusivos das sociedades cooperativas. Pois, diferentemente do que ocorre nas relagdes das demais empresas, nas telaces operacionais entre as cooperativas € seus associados, nao se verifica a compra ¢ venda, mas, a distribuigao, a entrega, denominagées essas que se bem nao configurem na doutrina ert — Kurt Nook, ob, cits neno J- Costa, ob. cit. seus prdprios contratos, que até didos, tendo como conse- io dessas operagdes, como »s civis, quando na verdade deles nao isso & 0 que sucede com a entrega da os cooperativa para que ela a arma- \dustrialize ¢ finalmente a venda, que é 4, ou entio de depésito ou mesmo de con- om 0 fornecimento de bens aos associados, iva — classificado também impropriamente travadas hd alguns anos, principalmente, sang, sobre a exata natureza dos atos praticados pelas perativas com seus associados so bastante esclarecedo- to embora tenham sido travadas mais no sentido da jcagao das cooperativas como civis ou comerciais, © velam a confusao reinante na época, a qual sobre muitos aspectos, permanece ainda hoje Para melhor compreensao desses tipos de contratos € das caracteristicas dos atos cooperativos, ha que se seguir a visio das cooperativas nos seus ramos principais. Nestes, pode-se distinguir, na mecanica operacional das cooperati- , ao menos trés grupos de atividades principais: 1) FORNECIMENTO — caracterizado pela entrega aos associados de determi- nados bens de que necessitam, a saber: 26, Cf, Lucien Coutant, ob. cit. — Waldirio Bulgarelli, Natureza Juridica da Sociedade Cooperativa, Ed, Clissico-Cientifica — 1961 e 1962 — Vavasseur- ‘Traité des Societés Civiles et Commerciales, — Cooper Royer Traité des socié- tés anonymes — Paris, 1988 — U. Navarrini — Tratato elementare di diritto commerciale, Turim, vol. 2. 25 géneros alimenticios e artigos do lar, préprio das COO. PERATIVAS DE CONSUMO; bens utilizados nas atividades profissionais de seus asso ciados, préprio das COOPERATIVAS DE COMPRAS I'M ‘cOMUM; incluindo-se, ainda, entre esses, outros como: habitaciv. energia elétrica, crédito, ete. 2) RECEBIMENTO — caracterizado pela entrega da producio, por seus associados para que a cooperativa a armazene, beneficic, industrialize e comercialize; proprio das COOPERATI- VAS DE VENDAS EM COMUM; 3) PRODUGAO, — caracterizado pelo trabalho em comum, nas instala- ces da cooperativa, para a producao de bens — prépria das COOPERATIVAS DE PRODUGAO. 4 — Na operacao de fornecimento aos associados, a cooperativa quando ela prépria nao produza®” os bens que sero distribuidos aos associados, adquire-se no mercado. Neste ato, como que sai do circulo interno ¢ se projeta no exterior, daf decorrendo a classificagéo desse ato de aquisi- do, como um contrato de compra € venda. Retornando ao circulo, entretanto, ¢ ao entregar aos associados esses bens € que se verifica claramente a originalidade do, ato. Essa entrega aos associados nao configura exatamente a compra € venda, mas, a distribuicdo, j4 que esse ato exprime a obri- gacdo contratual societéria da cooperativa para com seus associados; trata-se do cumprimento puro e simples do ob- jetivo da cooperativa, para o qual ela foi constituida, ¢ em fungao do qual os associados se congregaram. ses, como por exemplo, na Inglaterra, Israel, Su ravés de suas Unides ¢ Federagoes, ou diretamente, ios de que necessitam seus associados pra ¢ venda nao procede, pois ntratual anterior da sociedade, rato em cada entrega, Para explicar », os autores, franceses, sobretudo, ado- > mandato gratuito, atuando a cooperativa dos associados para execucio da aquisicio distribuigao entre eles dos bens de que ne- Fysa teoria parte do principio de que a coope- ‘0s consumidores no estagio final do pro- ivo, limitando-se assim a distribuir entre eles idos, ou como afirma Vavasseur: “Il y a sans de denrées et de marchandises; mais il n'y a ans les termes ordinaires avec un but de espe- Vacheteur. Les denrées achetées en commun en quelque sort distribuées entre les associés selon les as de chacum et la remise em faite plutot a titre d’a- ‘ou de partage que de vente"®*. Opée-se a essa oicepcio Cooper Royer, entendendo que a cooperativa simples mandatdria e que visa lucro nas suas operacdes: L'opération juridique qu’elle (la coopérative) accomplit avec ses associés acheterus constitue une vente. La Coopé- ve n'est pas le simple mandataire de ceux-ci; pourquoi des lors, dénier que le gain matériel, social, constitue un benétice?"® J se viu contudo, que 0 enfoque dado pelo grande iadista nao estd correto; as cooperativas de consumo ope- vam em seus inicios pelo preco de custo, transferindo pura e simplesmente aos seus associados, os bens adquiridos, sem outro acréscimo; essa forma de operar revelouse, con- tudo, impraticavel perante as variagdes do mercado. O fato de acrescerem porcentagens baseadas no preco do mercado ‘8, Vavasseur — Traité des Sociétés Civiles et Commerciales,T. 11, n* 901, pg. 267. 29 Cooper — Royer — "Traité des sociétes anonymes, Paris, 1938, py, 650 = também G. Ripert — Traité élementaire de droit commercial — Paris, 1948, pgs. 547 e segs. la a essas cooperativas qualquer sentido lucrativ © que por uma operacao complementar, apés a apu rigorosa dos custos, so devolvidas as sobras aos associa¢ em proporcao as operagies praticadas pelos associados, a sociedade. Ja para Ramadier, 0 que caracteriza a cooperativa é sua intengao nao lucrativa; conseqientemente a sua qual ficagao como nao comercial, nao se encontra na aplicaci da teoria do mandato, através do qual ocorreria a repre- sentacdo nas compras ¢ a distribuicdo entre os associados, mas na falta de “animus lucrandi” na venda feita a eles “Determinando assim a natureza juridica da operacao coo perativa, estabelecemos que ela constitui uma venda. Por isso rejeitamos a explicacao que faz derivar seu cardter ci de sua analogia com a distribuicio”*!, Falta como se vé a esta tese, uma andlise mais profunda em relacdo ao sistema operacional cooperativo; que por nao ter objetivo lucrativo a cooperativa nao seria sociedade comercial € correto; nao porém que apenas esse elemento pudesse caracterizar a operacdo em estudo, como venda. E preciso analisar-se 0 ato em relacdo com os liames societarios que determinam o objetivo da cooperativa; veri- fica-se assim uma estreita vinculacao entre a operacao da cooperativa € 0 seu destinatdrio; apresentando-se dessa for- ma, 0 ato como uma unidade decorrente do objetivo da sociedade, como uma projecdo da sua finalidade. Nao escapou ao legislador brasileiro de 1932 essa parti cularidade, tanto assim, que ele definiu corretamente, — tingue as que: vendem somente aos s6cios a) — pelo preco — pelo prego corrente — considerando que no primeiro caso sociedade civil e no segundo como sociedade comercial. Umberto ni — Tratado elementare di diritto commerciale, Turim, vol. 2, pg. spécifique de la coopération n'est done pas celui que analise ‘sole. Elle ne consiste pas dans labsence de mutation de la gramité de lentreprise”, — “Paul Ramadier" Le Franee, pg. 49. »perativa de consumo, — a natureza da pondo: “As cooperativas de consumo tém ajudar a economia doméstica — adquirindo sis tc possivel ao produtor ou a outras coope- sativa, 1s de alimentacio, de vestuario € outros sities ores, associados ou nao, no interesse dos quais prover a outros servigos afins convertendo em 1s, a favor dos mesmos consumidores, os eventuais Jos liquidos verificados em balanco"®. O fato de no go 38, alinea “f",% ter-se referido a venda por parte crativa, nao invalida essa interpretacao, jé que a ncia deste artigo, foi feita a propésito da classificacao ‘s sociedades cooperativas, portanto tendo em vista outros 1s que nao a exata natureza da operacdo praticada pela ‘ooperativa. Objetivou a lei, por esse dispositive — ja que permitia as operagdes com nao associados e até 1938, admitia a distribuigdo de dividendo sobre o capital — impedir que as, cooperativas que o fizessem, isto é, que operassem com terceiros c distribuissem dividendos sobre o capital, fossem consideradas sociedades civis € recebessem os beneficios fiscais a estas atribufdas. A distribuigao de dividendos sobre 0 capital veio a ser proibida em 1938 — decreto-Iei 581 de 1° de agosto de 1938 — ficando o dispositivo referente, sem efeito. No tocante as operacées com terceiros, a teoria da dis- tribuigdo poderia ser posta em diivida, a nao ser que se 82. Artigo 28 do Decreto 22.239 de 1932. . a 38. Art. 88 — *Sio sociedades civis e como tais nao sujeitas a faléncia nem & ineidéncia de impostos que recaiam sobre atividades mercantis, as cooperati= vey — de consumo, quando nao tenhiam estabelecimento aberto 20 piibico ‘evendam exclusivamente aos associados, nio distribuindo dividendo propor- cionalmente ao capital”. adiitissem a figura do aderente, definido por Thaller™ um “associado em expectativa”, cuja conseqiiéncia sc de se considerar os terceiros como participes tacitos contrato que une os associados, em torno da sociedade. N se entenda, contudo, que por poder operar com terc estaria nesse caso, se desviando dos principios doutrinar pois como ja se acentuou a questao se resolve através « nao participacao dos associados nos resultados obtidos operacdes com os terceiros'®. A conclusio em que pese autoridade dos autores em contrario ¢ seus argumentos, ¢ ainda em favor de Thaller, quando afirma: * Les sociétés di consommation sont d'une autre nature. Leur objet est civil, no parce que la spéculation leur fait défaut, mais parce qu’elles n'entremettent point dans la circulation des marchandises. Les coopérateurs achétent ensemble des produits qu’ils con- sommeront. Ils se répartissent, bien ces produits, mais en vertu d’une distribution intérieure, que ne les fera point passer a d'autres auprés eux"s®, Esses argumentos se aplicam também para as cooperati- vas de compras em comum, nas quais o principio € 0 mesmo, apenas distinguindo-se pelo tipo e destinagao dos bens ad- quiridos; nas de consumo, para consumo pessoal e domés- tico, e nas de compras em comum, tanto urbanas como rurais, para uso profissional dos associados"”, o que pode ser extendido a habitacao, a energia elétrica, ao crédito®, etc, M4. E, Thaller — *Traité Elémentaire de Droit Commercial — 7* Ed. revista atualizada por J. Percerou — Fd. Paris, 1925 — pg. 529, n® 797 — bs 3. CE G. Fouquet, ob. cit, pg. 83 e segs. E. Thaller, ob. cit, pg. 529. 37. “En effet, "opposition que l'on fait ressortir entre les unes et les autres, nt de ce fait que les coopératives agricales ont seules um caractére cl, n'a ici aucume portée, poisque dans les deux cas, Vassocié coo. revend pas le produit qu’ll se procure auprés de aa cooperative, © processus de circulation”. — Lucien eoutant, ob. cit, pg, it, pe 5 creto 22.939 de 1932, que vigorou tantos anos, crativas de compras em comum, em seu artigo, nas rurais, a auséncia do intuito de revenda; cle verificar do seu texto: “As cooperativas de m comum podem ser rurais ou urbanas, sendo tituidas entre agricultores ou criadores para nto dos sitios ou das fazendas, de animais, plantas judas, sementes, adubos, inseticidas, méquinas e ins- ‘0s agrarios e outras matérias-primas ou fabricadas, icilios, visando adquirir em comum, sem os recursos sociedade e, em certos casos, com intuito de revenda, ‘gos, matérias-primas € utensilios de trabalho, necessarios exercicio de sua profissio” Outro elemento que se pode distinguir nas operacées destas cooperativas, tanto de consumo, como de compras comum € a sua nao intengao de revenda. E se conside- amos como Rippert, que “ce que rend le contrat commer- cial ce n'est pas le fait de revendre aprés avoir acheté, c'est ientagen mureendc Poinactiaut conciiae as cooperativas nao comprando para revender nao buscam lucros nas suas atividades. E justamente por urazer a causa a andlise € que se deparam duas situagdes nas operacdes das cooperativas em tela; a primeira, a de que a cooperativa nio compra com intuito de revenda, mas, o de suprir as necessidades de seus associados; ¢ segunda, que mesmo quando fornece a terceiros, 0 faz sem intuito especulativo, cobrando apenas necessirio ao custeio de suas despesas, indo as sobras para fundos impartilhaveis entre os associa- dos, ou ficando creditada na cooperativa aos terceiros até que estes venham a nela ingressar. 5 —No recebimento da producio, a situacdo se inverte; a cooperativa recebe a produgao dos seus associados para 80. G. Ripert, ob. cit, pg. 114 e segs, armazenar, beneficiar, padronizar ¢ até mesmo zar, para afinal vender, ou simplesmente vendé toma o nome de vendas-em-comunt®. A operag pratica com terceiros é cristalina; ela vende a produ seus associados € que € caracteristica: € evidente cooperativa nao adquire essa producio, pois dec reuniao dos produtores para venderem em comum su: ducao. Daf também a aplicacao da figura do mandato explicé-la, pois a cooperativa age como mandatéria de s associadost!, Da mesma forma, como as cooperativas consumo so um prolongamento de seus associados, ass também as cooperativas deste tipo, representando nao consumidores, mas, os produtores. A luz do direito obriga cional vigente, procurou-se assimilar 0 ato da entrega, a contrato de depésito € 0 da comissio; agindo a cooperativ como comissaria, vendendo a producao de seus associados em seu proprio nome, para posterior acerto de contas com tentes. Contudo, esse enquadramento nao corres- ponde a verdadeira natureza da operacio, tanto assim, que cooperativistas conscientes, sentiram as dificuldades dessa assimilacio, e se limitaram a afirmar, como acertadamente 9 fez Valdiki Moura*, que as cooperativas atuam “como se fossem” comissarias, € que a entrega da producdo constitu uma espécie de consignagio”. Trata-se como se vé, de um contrato tipico oriundo da atividade cooperativa, em que a entrega decorre do contrato de sociedade, atribuindo a esta © objetivo de comercializar a producao do associado, que por isso mesmo se obriga a entregé-la. imbém conhecidas por cooperativas de escoamento, de comercializacio, ransformation et vente" cette considération aux actes similaires efferués par les ne sont que les mandataires de leurs ives n'ont done pas une position d'intermédiaire entre grossistes elles ne font que prolonger les premiers en. Coutant, ob. cit, pg. 131/32. \C DA COOPERAGAO, 2" Ed. Rio, 196. , que no raro as cooperativas tm pre- 1 essa obrigacdo estatutdria, com contratos entrega da producao, firmados com os as- n, a fim de se garantirem contra o inadim- obrigacdo, cuja maior sancao do estatuto, é a 1 sociedade. Verifica-se, assim, perfeitamente que pacdo decorre nao de um contrato de depésito, de ‘ou de consignacao, mas, do contrato social, cor- ndo a condicao de sdcio, a obrigacéo da entrega cao. ém este tipo de cooperativa foi definido pelo de- » 29,939 de 1932, em seu artigo 27, que dispunha: “As perativas de vendas em comum distinguem-se pelo fato organizarem coletivamente a defesa comercial dos pro- |utos particularmente colhidos ou elaborados por seus as- sociados, lavradores ou criadores, por eles trazidos a coope- iva, para esta com os recursos préprios promover, sem ulterior transformacao®, a venda nos mercados de consumo ou nos de exportacéo”, no qual nao foi caracterizada a entrega como depésito, comissao ou consignacéo, mas sim- plesmente como entrega para venda. Recentemente, 0 de- creto-lei 167 de 14 de fevereiro de 1967, dando nova estru- tura ao sistema de titulos de crédito rural e revogando a Lei 3.258 de 27 de agosto de 1957, que até agora disciplinava 05 titulos de crédito rural, veio reconhecer a exata natureza da operacio praticada pelas cooperativas* tanto com seus associados, como com terceiros, reconhecendo 0 contrato de entrega e o financiamento dele decorrente. Tanto assim, que ao receber a produgao do associado, pode ela emitir Nota Promiss6ria Rural, pelo adiantamento feito, € na venda dessa produgio a terceiros, pode emitir Duplicata Rural. 48, Posteriormente, pela Lei 4.504 de 30 de novembro de 1964, foi permitido as cooperativas deste tipo, industrializarem a producao, 44, O decreto 60.597 de 19 de abril de 1967, veio reconhecer que as operacoes ‘econdmicas entre as cooperativas e seus associados, nio constituem compra- ‘evenda, conforme dispée expressamente o seu artigo 105. 33 6 —Nas cooperativas de producao, industri © assim nas cooperativas de trabalho, a producao « em conjunto pelos associados, sob a égide da p perativa; é em ultima andlise a propria coope produz; ¢ ela vende essa producio no mercado, cujo apés a deducdo das despesas, € distribuido aos a em proporcao ao trabalho de cada um. 0 associado é a0 mesmo tempo associado e traball € por outro aspecto, acumula as funcées de empresario « 0 de trabalhador, ja que as suas relaces com a coope implicam na condicao de associado pela qual assume a q lidade de empresario como participe dela atua como balhador, produzindo para ela. Nesse sentido, veja-se bem a cooperativa nao utiliza mao-de-obra alheia, e portanto nao explora o trabalho alheio, requisito que se tem exigido para ‘a empresa comercial. Dispensam assim 0 patra, ou como diz Thaller: “Des ouvriers macons, charpentiers, lunetiers, tisserands, se pas- ssant d'un patron, Ils mettent en société leur exploitation, élisent un gérant responsable, se partagent les bénéfices”*. Também estas cooperativas nao tem qualquer finalidade lucrativa, eliminando simplesmente a intermediagio do empresirio, cuja fungao passam os préprios trabalhadores a exercer, melhorando assim suit remuneracio pelo traba- Estes tipos de cooperativas foram entre nés, conceituados também pelo decreto 22.239 de 1932, que em scu artigo 22, dispunha sobre as agricolas: “As cooperativas de producao agricola caracterizam-se pelo exercicio coletivo do trabalho agrario de culturas ou criagao, com os recursos monetirios dos préprios associados ou de crédito obtido pela prépria cooperativa, em terras que a sociedade possua em proprie- dade ou por arrendamento, concorrendo cada um, simul- trabalhos € recursos’*7; ¢ em seu artigo 22 as industriais — “As cooperativas de produgao indus- objetivo manipular produtos agricolas, extra- primas € outros artigos, transformando-os por jo em novos produtos”. Ja as cooperativas de trabalho cram definidas pelo artigo 24, como “aquelas que, idas entre operdrios de uma determinada profissio io, ou de oficios varios de uma mesma classe — tém do trabatho pessoal de seus associados €, dispensando a inter- uencdo de um patrio ou empresdrio, se propoem a contratar ., tarefas, trabalhos ou servicos, publicos ou particulares, oletivamente ou por todos ou por grupo de alguns”. As especificagdes minuciosas dos dispositivos citados, revelando embora 0 preciosismo da lei, contribuem para maior escla- recimento, demonstrando afinal que elas tém por escopo produzir, através do trabalho de scus associados assumindo clas proprias a condicdo de empresirio ¢ partilhando o resultado alcancado de acordo com o trabalho de cada um. ‘As demais cooperativas atuam, da mesma forma, com as modificacées decorrentes dos seus objetivos especificos, re- presentando os seus associados na pratica dos atos que eles Ihe transferem; elas os representam como se fossem cada um, porém, num todo institucionalizado, projetando-se na vida social ¢ econdmica, através da sociedade. 7 — Verifica-se, assim, que as cooperativas atuam com seus associados, dentro de um circulo, com atos caracteri- zados como internos, € praticados em razao do contrato societario. O contrato social € assim um instrumento para a realizacao dos objetivos dos associados ¢ da sociedade e dele decorrem nao s6 as obrigacdes de ordem associativa propriamente dita (como ocorre nas demais sociedades) mas também os de natureza operacional. 7, No tocante as cooperativas de colonizarto, © Decreto 59.420 de 27 de ‘outubro de 1966, dividiu-as em dois tipos — de tabalko coletivo de trabalho individual, no havendo divisio de parcelas no primeito tipo, trabalhando todos em eonjunto. 35 Nao ha portanto, propriamente mandato ou represen no sentido estrito, mas, aquilo que denominamos cooperativa que se caracteriza por uma represen cificamente operacional, tendo em vista os objetivos © 4 formulagées do contrato societario. Se se admite no 1) Comercial, o mandato sem representacao, tipico do co de comissdo*®, em que 0 comissario opera em seu pri nome, porém de acordo com as ordens e instrug comitente, nao passando afinal de um prestador de servigos, nada ha de estranhvel que no Direito Cooperativo, opere-s« a delegacao, pela qual a sociedade, recebendo pelo contr. social, um mandato especifico, opera em seu préprio non porém para 0 associado, prestando-Ihe servicos naquele per feitamente estabelecidos, que decorrem do objeto especitic da cooperativa. Vende assim a cooperativa a produgao do associado; compra assim, os bens de que os cooperados tanto precisam para sua profissio como para seu consumo — fazendo-o em seu préprio nome, porém, de acordo com as instrugdes destes, prestando-lhes um servico, sem finalidade lucrativa e pagando por ele os cooperados apenas 0 custo. Nao € portanto, mandato gratuito, exatamente, mas, ndo lucrativo, pois despesas hd que nao correspondem ao custo © que nao pertencem a operacao propriamente dita, tal como as porcentagens que so deduzidas para os fundos sociais, impartilhaveis entre os associados, mesmo em caso de dissolucao da sociedade. Nao lucrativo 0 é, pois, cobrando cooperativa uma taxa para 0 custeio do servico, em ha- vendo sobras, como € comum, estas, apés as deducdes para 0s fundos sociais, sio-The devolvidas em propor¢ao as ope- rages que praticou com a sociedade, portanto, apuradas concreta ¢ exatamente sobre os servicos prestados. A substituicao da expressio mandato pela de delegacdo, 08 parece apropriada, pois nao se trata de um mandato especifico, através de um contrato especialmente feito, mas, de um mandato permanente consubstanciado no contrato LW. igdes de Direito Comercial, vol. 8, pg. 393, ie adesao do associado ao ingressar na coo- ora a delegacao seja em ultima anilise a expressdo impde-se para distingui-la picos do Direito Comercial e do Direito ndo em vista sobretudo a forma € 0 contetido. Ve- wae, dessa forma, que a cooperativa: 1) ndo compra para teveniler, e sim para fornecer ao associado, ¢ quando recebe # producto do associado, nao esté comprando, e sim rece- bendo- para comercializé-la. Nao, hd, assim, intermediagao, ' operacdes internas, sem circwlacdo econémica dos pro- shutos (adquiridos ou recebidos para venda) — nao ha tam- hem * animus lucrandi",, pois o servico € prestado pelo preco * custo, acrescido apenas das deducoes para os fundos s, impartilhaveis entre os associados. S40 portanto, procedimentos especiais utilizados pelas cooperativas (como a entrega da producao dos cooperados, ¢ a distribuicao ou © fornecimento a eles, pela cooperativa) que nao se carac- terizando pela natureza da atividade, exigem normas técni- cas de outra natureza, de cunho especial, a que nao falta 0 varacteristico da novidade, entendida no sentido empregado por Ascarelli. Se nao h4, portanto, venda (que é sempre civil ou comercial) € se a prestagao de servico (entrega, fornecimento, producao) € onerosa e nao lucrativa, afastou- se a atividade operacional das cooperativas, tanto do Direito Givil como do Direito Comercial, tendo-se, forcosamente, de reconhecer a existéncia de atos tipicos de um Dircito Préprio, © Direito Cooperativo. 8 — Constatado ficou assim, que na verdade, num exame mais aprofundado, as cooperativas praticam certos atos do- tados de originalidade e que nao se confundem com os atos civis ¢ comerciais, os quais sao, porém, pela falta de dispo- sitivos legais especfficos, comparados, numa interpretagao forcada, aos contratos existentes no Direito Civil e Comer- cial. E essa qualificacao decorre nao s6 da andlise incompleta da operacdo efetuada, mas também, da necessidade de, na auséncia de uma conceituacao legal propria, efetuar-se 0 seu enquadramento no campo juridico, determinando-se as, 37 regras que hao de regé-la. E 0 caso da distribui¢ao « pelas cooperativas de consumo e as de compras emt considerada normalmente como venda, da entrega ducao pelo associado, qualificada como compra, de} consignagio — quando na realidade isso nao ocorre, « © intuito especulativo na opera¢ao cooperativa, ¢ ainda no resulte de um contrato expresso ou verbal, perfeitamen te configurado para cada operacao, mas, de um geral, « corrente pura e simplesmente do objetivo estatutirio «da cooperativa. Nao tem sido infelizmente reconhecido pe legislagdes as caracterfsticas destes atos cooperativos, quais, mais por forca da comodidade, tem sido enquadrad. erroneamente nas figuras dos contratos existentes no dire’ obrigacional — tanto civis como comerciais — sem que se livesse ido ao cerne da sua verdadeira natureza. Nem por isso, entretanto, doutrinariamente, deixam de ser originais esses atos, compardveis talvez, mas inconfundiveis com os atos civis € comerciais, Outro fator que tem contribuido para o nao reconheci- mento da teoria dos atos cooperativos, tem sido evidente- mente, a classificacao das sociedades cooperativas como civis, ou comerciais, ¢ a conseqiiente qualificacao de seus atos nessas duas categorias. Do ponto de vista pritico, essa clas sificacao imprépria tem trazido percalcos as cooperativas que nao tem encontrado no sistema legal positivo os instru- mentos juridicos aptos a fazerem-nas prosperar ¢ consoli- dar-se, arrostando por isso uma série de dificuldades que inclusive se tem transferido para a Grbita fiscal, onde tem sido objeto de tributacao, muitas de suas atividades que nela nao incidiriam, levadas em conta suas verdadeiras caracte- risticas. O sistema fiscal tem tido influéncia altamente ne- gativa na compreensao da exata natureza dos atos coopera- tivos, pois pretendendo manter incidéncia tributaria, nao especificou suas normas para abrangé-los nas suas verdadei- Fas caracteristicas, desconhecendo simplesmente suas pecu- liaridades para consideré-los contratos civis ou comerciais, muito embora, diga-se de passagem, constantemente acabas- a8 -los dos tributos correspondentes, cm razio dos vos do sistema cooperativo. Nao se negando 0 do de, nao tomando em consideragio as s finalidades sociais do cooperativismo ¢ a ausén- sito especulative das cooperativas — tributar as por elas praticadas com seus associados e mesmo ros — nao se pode, contudo, concordar com a eqquiparacao das operacées das cooperativas com as de outros tipos de sociedades, sem qualquer mencio as suas caracte- s. E 0 caso por exemplo, entre nés, do Imposto sobre Ja que incidia* sobre as sobras das cooperativas, muito a estivessem aquelas classificadas como civis, isentas forme & natureza das sobras, que jamais poderiam ser paradas aos dividendos das sociedades anénimas ou ao tucro em geral. Tanto isso € verdadeiro, que o decreto-lei n? 59 de 21 de novembro de 1966, acabou por reconhecer a verdadeira natureza das sobras nas sociedades cooperati- vas, dando pela nao incidéncia®. Também no tocante aos extintos impostos estaduais de Vendas e Consignacées (IVC) € o sobre Transagées, jamais se considerou com acerto as operagdes das cooperativas, qualificadas indevidamente como venda ou como consigna- 40, muito embora, fossem em muitos Estados beneficiadas com isencao*, 9 —A medida que as cooperativas vio se consolidando, vao também aperfeicoando os seus procedimentos operacio- nais, € em muitos campos, criado novas figuras contratuais, 48: Lei 4506 de 30.11.1964 (art. $1) — Regulamentada pelo decreto 55.866 de 25,8, 1965. 30, Artigo 18 — "Os resultados positivos obtidos nas operagdes sociais das ‘cooperativas nao poderao ser, em hipétese alguma, consideradios como renda ‘ributdvel, qualquer que seja a sua destinacio". 51, Coma mudanga da sistemética tributaria ea conversdo do IVGem Imposto sobre circulagéo da mercadoria (ICM) o fato gerador pasou a ser a saida do produto do estabelecimento, formula rnuito geral, e que alterou a questio em, alguns dos seus aspectos. 39 decorrentes da conjugacao da sua especialidade co objetivos sécio-econédmicos visados pelo sistema coop Assim ocorreu com a chamada locacdo-cooperativa, ali qual, a cooperativa de habitagdo fornece habitacao ciado, nao porém, a titulo de propriedade, mas, em ca de locacéo permanente, com a possibilidade, inclusiv ser transmitida aos herdeiros; tratase de uma figura especi 86 possivel no sistema cooperativo; pois, decorreu justam te, do espirito de solidariedade e de comunhio social « sua doutrina. Esse Direito de locagao privilegiada, deriva dia condicao de associado, através da subscric¢io € realiza das cotas de capital, correspondentes ao valor do iméve entregue ao cooperado. Ou como bem explica Jean Le Port: “En vertu du contrat de location coopérative, la société reste proprietaire du logement qu’elle donne a bail au societaire pour toute la durée pendant laquelle celui-ci restara propriétaire des actions souscrites. Ce droit de loca- tion privilégiée est transmisible en cas de décés et cessible entre vifs, au méme titre que les actions. Le locataire coo- pérateur paie, méme aprés le remboursement complet de son emprunt, une redevance appelée “loyer d’équilibre” et destinée couvrir les frais de gestion, d’entretien, ete. Le loyer d’équilibre ne peut étre inférieur au minimum de loyer fixé par la réglementation; I’excédent du produit des redevances par rapport aux charges effectives étant ristourné aux locataires coopérateurs au prorata de leur apport ini- tial”. Esse sistema que vem sendo adotado na Franga, pelas cooperativas chamadas “HLM” e foi reconhecido através da “circulaire” do Ministério da Construcao de 25 de setembro 52. Jean Le Port — La Coopération d’habitation en France —“in" Révue des Bui 4 trim. 1965, n® 142, pg. 429 e segs. CE, também Jean Piequart — * Une solution coopérative au probiéme du logement, 1? location “in” Rev. Et. Coop. — 3° trim. 1963 — 183 pg. 268 e segs. — rez Garcia — “in” Estudios Cooperativos, 7, 1965 — abril, © segs. Waldirio Bulgarelli, As Cooperativas e © Plano Nacional de 1e10 — Sao Paulo, 1966. paises social nie, a cooperativas em nica, como na agricultura, a procedimentos, através da uniformiza- paises, como se pretende agora na Congreso da Confederacio Européia jizado em Cannes, em 1963, foi a cons- legislacdo cooperativista mundial. O Prof. a Faculdade de Direito ¢ de Ciencias Econd- estritamente juridico, € indispensavel, principal- lesenvolver as relagdes cooperativas internacio- is, aproximar, harmonizar € mesmo unificar os direitos perativos na grande Europa. E indica as vias que poderao las para isso; a mais simples, seria através de refor- a8 convergentes na legislacao dos diferentes paises-mem- través da Confederacao Européia de Agricultura; ou (0, a elaboracéo de uma legislacio uniforme que por micio de conven¢ao diplomatica, substituisse as diversas le- gislagdes cooperativas existentes, alias, como o BIT (Bureau International du Travail), vem procedendo no setor do Di- reito Social em grande mimero de paises. 11 — Outro tipo de contrato e bastante original, € 0 contrato coletivo agricola unindo produtores, transformadores e compradores de produtos agricolas, na Franga. Trata-se de um contrato regulado pela Lei 64.678 de 6 de julho de 1944, destinado a reger os acordos interprofissionais, tendo em vista: “orientar a producdo a fim de adapté-la qualitati- 58. *Moins onéreuse pour le coopérateur puisg‘elle n’éxige qu'un apport inital représentant six mois de salaire (au liew de trois ans dans le cas de accession @ la propriété) la location coopérative permet aussi de renforcer la solidarité entre les membres d'une méme coopérative en instituant une forme originale de propriété collective. — Jean Le Port. ob. cit, pg. 439 — C£. também "Les Cooperatives d'habitation, B. I. T. — Geneve, 1064 54. GE Rémue des Enides Coopéeratives * trim, 1964, pg. 91/92. vamente as necessidades do mercado; melhorar a € a sua qualidade; regularizar os precos e fixar as, gerais de equilibrio do mercado e desenvolvimento « sagées". Determina o artigo 2° da Lei referida, que ganizagdes representativas do cooperativismo agricola, do existam no setor da produgio em escala nacional. « em escala regional, no caso de acordos regionais — ciparao da discussao eventualmente da assinatura dos ac dos profissionais a longo prazo. Esses que poderao ser mologados pelo Ministro da Agricultura, apés ouvir 0 Mi nistro das Financas € Assuntos Econémicos, assemelham-s aos contratos coletivos de trabalho, j4 que uma deci governamental pode conferir a todas ou a parte das claus do acordo, um carater obrigatério para os produtores, con pradores ¢ transformadores, qualquer que seja 0 seu estatuto juridico®®. 12 — No setor dos titulos de crédito, ja se comeca a reconhecer as peculiaridades dos procedimentos cooperati- vos, tanto assim que se pretendia a criagao das Letras Coo- perativas®, que foram substituidas pelas Notas Promiss6rias Rurais e Nota de Crédito Rural, extensivel as atividades cooperativas, pelo decreto-lei 167 de 14 de fevereiro de 1947, que reestruturow o sistema de titulos de crédito rural, revogando a Lei 3.253 de 27 de agosto de 1957. Antes se encontravam as cooperativas agrérias impossibilitadas de, por ocasido do recebimento da producao dos associados, emitirem Nota Promiss6ria Rural, até entéo representativa de compra-e-venda. Como as cooperativas agrarias nao ad- quirem os produtos de seus associados ndo podiam dispor 55, "Esta decisio de extensio é comparivel a decisio de extensio do Minis- \étio do Trabalho em matéria de acordos coletivos, decisio que tem por efeito tornar obrigat6rio as disposicées do acordo a todas as pessoas dentro do seu ‘campo de apiicacao. Neste campo a vontade piiblica substitui a liberdade contratual do direito privado” — Révue des Et. Coop. 3° trim, 1964, n® 137, pg. 301/302 58, Na Argentina, jf existe a“ Ordem de Pago Cooperativa" chamada de "letra de cambio no a la orden" conforme o decretolei 5965/63. 2 aoe AE esi Donan ue ve 170 dos produtos agro-extrativ Fou foitns ores rurais ou suas cooperativas, como \s cooperativas de produtos da mesma es por seus cooperados, ou na entrega de 40 ou de consumo feitas pelas cooperativas Nota Promisséria Rural emitida pela coope- do cooperado, pelo recebimento do produto este, ela constitui promessa de pagamento va de adiantamento por conta do prego dos ecebidos para a venda ‘ode-se, portanto, ir assinalando um reconheci- saulatino por parte da legislagio dos varios paises, ocedimentos caracteristicos adotados pelas coopera- "sem suas operacées, sobretudo com seus associados, igurando assim, um regime juridico completo. Fo caso dos atos cooperativos, reconhecidos entre nés decretolei 59 de 21 de novembro de 1966, ¢ pela Instrugao n® 1 de novembro de 1964; da prépria existéncia dt doutrina cooperativa atuando como fonte da legistacio cooperativista, como ocorre na Venezuela®, e que também de certa forma se podia considerar no Decreto 22.239 de 1932, quando em seu artigo 6, § 9° fazia referéncia a0 espirito da sociedade cooperativa. Lastima que as Constituicées de 1946 ¢ de 1967 nao tenham reconhecido a existéncia da legislacao cooperativa, como independente, tal como 0 fazia a de 1° de novembro de 1987, que em seu artigo 16, inciso XIX, dava competéncia exclusiva 4 Unido para legislar sobre as cooperativas, 0 que se explica tendo em vista ainda a tendéncia errdnea de as considerar civis ou comerciais e portanto j4 compreendidas dentro do Direito Civil e do Direito Comercial. De qualquer forma, a existéncia de leis especificas para as cooperativas 57. Cf. artigo 9 da Lei de 18.8.1942. © a sua qualificacdo como sociedade de forma pr significa um reconhecimento da sua peculiaridade 14. Como jé foi visto, a Lei 5.764/71 conceitu cooperativo e a Constituicao Federal de 1988 deters Ihe fosse dado tratamento tributario adequado 15. A propésito do tema merece destaque a leg) argentina (Lei 20.337, de 15.5.1973, art. 4°) — dey guida pela Lei do Uruguai, de Honduras e da Colém| outras — que regulou expressamente 0 ato cooperativo rc tando expressivos € cultos trabalhos a respeito™. 16. No que tange as implicagdes tributarias sobre o cooperativo, os Autores que recentemente examinaram tema, no Brasil, 4 luz do Direito Tributério, sio concordes em discrepar da posicao fiscal vigente, (Cf. Wilson Alves Polonio, Ed. Atlas, S.P. 1998 ¢ Reginaldo Ferreira Lima, Direito Cooperativo Tributario, Ed. S.P. 1997). A propésito da recente Lei 9.532, de 10.12.1997 sobre as cooperativas de consumo, vale transcrever as acuradas observagies do Dr. Wilson A. Polonio, ja. cit., que assim se Pronuncia as fls. 55 € ss.: “3.2 EQUIPARAGAO DAS COOPERATIVAS DE CON- SUMO AS DEMAIS PESSOAS JURIDICAS, PARA FINS DE TRIBUTAGAO © art. 69, da Lei n® 9.532, de 10-12-1997, publicada no Didrio Oficial da Unido, de 11 do mesmo més, equipara as sociedades cooperativas de consumo a8 demais pessoas juri- 88, A teoria do ato cooperative que comecava a se esbocar no Ambito da Amnérica Latina foi por nés completada, inserida também por nés no bojo da Lei 5764/71, e defendida em tese de doutoramento na Faculdade de Direito dda USP (CE. Elaboragdo do Direito Cooperative ci.) e fez forusna em outros paises dda América, tendo a Argentina acolhido-a em sua lei cooperativista, e debatida tese universitania, Cf, Roberto Jorge Pastorino, Tworia Gmeral del Acto operative, Ed. B. Aires, 1998, tese ein que o Autor faz-me a honra de citar-me wemente, declarando que nio se poderia ir mais além do que jé ful mos aqui este fato ndo por imodéstia, mas porque € gratficante saberse € constragoes juriicas construidas n ser aceitas ¢ adotadas no mundo juridico. (0, quando aquelas tenham por ¢ fornecimento de bens aos consu- que os atos cooperativos dessas socieda- de janeiro de 1998, passam a ser tributados os ¢ contribuices de competéncia da Unido, » que dispée referido dispositivo legal, in Ant. 64. As sociedades cooperativas de consumo que tenham ‘objeto a compra e fornecimento de bens aos consumidores tam-se as mesmas normas de incidéncia dos impostos € ntribuicdes de competéncia da Unido, aplicéveis as demais Tendo em vista a natureza juridica € as caracteristicas das sociedades cooperativas, maxime a funcao social desses Lipos de sociedades, e das de consumo em particular, a nova determinacdo legal pode inviabilizar suas operacdes, con- wariando varios dispositivos constitucionais, notadamente o § 2%, do art. 174 (“A lei apoiard ¢ incentivara 0 cooperati- vismo € outras formas de associativismo” ). De fato, equiparar as sociedades cooperativas de consumo as demais sociedades comerciais, ainda que s6 para fins tributdrios, significa afas- tara aplicacdo dos conceitos de atos cooperativos € de sobras ou faltas, determinados pela Lei n® 5.764/71, para conside- rar todas as suas operacées, independente de terem sido realizadas com associados cooperados ou nao, como opera- c6es sujeitas A incidéncia tributdria. Além disso, a nova ordem legal extrapolou suas prerro- gativas, ao determinar a tributagio de atos cooperatives antes mesmo que a lei complementar viesse a estabelecer as normas gerais em matéria de legislacdo tributaria, especialmente sobre o adequado tratamento tributdrio ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas, nos termos do art. 146, inciso IU, alinea c, da Constituicao Federal. Vejamos como dispdc © referido dispositivo constitucional, in verbis: “Art. 146. Cabe a lei complementar: () HII — estabelecer normas gerais em matéria de legislacio 111 butdéria, especialmente sobre: () ©) adequado tratamento tributdrio ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas.” A exposi¢ao de motivos dé-nos conta de que 0 objetivo da norma, além de evitar a evasio fiscal, € corrigir a pratica de concorréncia desleal para com as demais empresas que nao gozam de qualquer isencio em suas operacées, Tal justificativa poe em evidéncia o desconhecimento que se tem em relacao 4 funcao social das cooperativas, bem como da influéncia dos tributos em suas operagdes, conforme veremos adiante. A par dos argumentos que se pode levantar em favor da argili¢ao de inconstitucionalidade do art. 69 da citada Lei, © fato € que esse normativo legal traz al tera¢ées significativas na vida das cooperativas de consumo, transformando-as em sociedades comerciais sujeitas as normas de apuracao e pa- gamento dos impostos ¢ contribuicées de competéncia da Unido, notadamente o imposto de renda da pessoa juridica — IRF], a contribui¢do social ‘sobre o lucro — CSL — e a contribuicdo ao programa de integracao social — PIS, As sociedades cooperativas, respeitadas as raras excecdes, nao so, € nunca foram, isentas dos tributos e contribuigses, guer da Unio, Estados ou Municipios, como pensarn alguns que, nao raro, propéem a constituicao dessas sociedades Para albergar determinadas atividades a guisa, tinica ¢ ex- clusivamente, de planejamento tributirio, Assim, basta que a cooperativa pratique operacio tipifi- ‘gislacdo como fato gerador de algum dos tributos lig6es citados, para que o crédito tributario se ‘a. O que a nova determinacao legal fez nao foi © que era isento, pois, como dito, nao havia isencio, 3s legais de atos as ou faltas, para trazer suas operacées para o incidéncia tributdria, principalmente do IRPJ e favor deste entendimento, passemos em breve 's pressupostos legais para a incidéncia dos principais de competéncia da Unido” A. As Classificagées das Cooperativas A classificacio mais geral e que tem sido aceita, tendo vista as dificuldades de congregar em qualquer classi- \s4o na dinamica das suas atividades todos os tipos de perativas, € a que assinala trés tipos principais — de onsumo, de producao ¢ de crédito, as quais vao se desdobrando imeras subdivisdes de acordo com os diferentes ramos la atividade cooperativa. Complementando essa divisio tri- partida e decompondo os diversos tipos sob varios angulos Diva B. Pinho elaborou classificacdo das mai: 1 — Quanto & forma de atividade Cooperativas de Producao TRB poand ps SAS aetetay ce Beene Geen Parr peergrereiceerrgeeecee pertepian on on eeient Sepa ak ere amare a peta uesce eegeeae ee ee pr aeee iren opeagp ey Pee lierg cle gegen at pelt Seapertociea some vr Cus us ae’ cee Terai pouee pes aes ee Seeeceaieer hmenten ene aaa Soe Speee pe anes oersbc ase ee Y. ocieerte ns SDE n rea osigedloyeobperaimccosprabinne cnt, cm Cooperativas de Consumo Cooperativas de Crédito Cooperativas Mistas 2 — Quanto aos fins a) — Fim sécio-econdmico Cooperativas de producao, de consumo, de crédito, mi tas destinam-se a: — melhorar a economia artesanal, doméstica ¢ cai sina; — proporcionar aos pequenos empreendedores as van tagens da concentracao econémica, financeira e técnica b) — Fim politico Cooperativas de paises de economia descentralizada: 7 cujo fim é o reerguimento de individuos e de classes economicamente fracas; Cooperativas de paises de economia socialista centrali- zada: — cujo fim é preparar 0 advento do coletivismo criando nos associados mentalidade comunitiria (ex. kolkoses, za- drugas, TKZA, etc.) Apesar do grande ntimero de classificagdes'®, convém destacar a de Herbert-Kurt Nook’ que engloba numa visio geral, todos os tipos principais; divide-as em dois esquemas estruturais distintos: 0 tipo de prestacdo de servicos comuns € © tipo de exploracdo em comum: a) — as do primeiro tipo, que € © mais difundido, Praticam atividades destinadas a melhorar a renda do pe. queno proprietério ou do trabalhador independente. Os servigos que elas prestam, referem-se ao custo ¢ ao rendi- mento da atividade profissional dos associados (agricultura, artesanato, producao artesanal a domicilio, pequenas indus. tias € pequeno comércio). das cooperativas de produtores as cooperativas de iidores, como as de consumo e as de habitacao, tam- se enquadram nesta categoria, porque elas prestam servicos destinados a melhorar 0 nivel de vida dos consumi- dlores agrupados em torno dos cooperados. b) — as cooperativas de exploracdo em comum ou coo- perativas operdrias de produgao sio empresas coletivas nas os trabalhadores € empregados possuem a qualidade dle s6cios ¢ onde nio podem ser membros, senao 0s traba- jadores ou empregados de certa empresa. Entretanto, por woes praticas, esta dupla condicdo nao pode ser sempre estritamente observada. Por conseqiténcia os membros si0 » mesmo tempo, trabalhadores ou empregados ¢ patrdes, Os membros nao exercem outras atividades agricolas, arte. sanais ou industriais por sua propria conta, mas todas as operaces séo efetuadas sob uma direcéo ¢ um controle coletivo na sua unidade de exploracio. 7 — Isto levou alguns autores como Lavergne, principal representante da corrente exclusivista, a julgar impossivel uma definicio tnica, pois para ele se entrechocam trés tipos fundamentais de cooperativas: as distributivas, as ope- rarias € as profissionais, ¢ se as primeiras inegavelmente prestam servicos a coletividade, jé as duas wiltimas, apesar de também servir ao interesse geral, ndo deixam de servir A satisfacao de seus interesses privados®. Essa diversidade do seu conceito econémico, se dificulta a compreensio do cooperativismo, cria também obstaculos 4 sua conceituacio juridica®, 64. “A maior parte dos autores se esforgam em dar uma definicdo geral da sociedade cooperativa, mas, 6 fazem com férmulas vagas, sem qualquer valor instrutivo. Os autores que pretendem uma definicio geral da cooperativa, encontram-se perante 0 dilema: ou excluem certos tipos de cooperativas se adotam uma definigéo pouco precisa, ou pelo contririo, englobam sociedades capitalstas juntamente com as cooperalivas, sc optain por uma definiclo. cextensiva” —B. Lavergne — ob. cit, pg. 48. ‘8. B. Lavergne, La Révolution Goopérative — Paris, 1949, pg. 69 ¢ sgs. 66. Pronunciaramse sobre ela: Manara, Societé Commerciali, vol. I n® 274/275 — Vivante; Trattato di dirito commerciale, Milano, 1915, voll, pg. A tal respeito ainda, foi o Dr. Fauquet quem logrou por ordem nos conceitos, com sua teoria “da variedade de da unidade”. © cooperativismo para ele € uno e varidvel ao mesine tempo: varidvel a) — quanto as classes que recorrem a atividade econémica trabalhadores € cidadaos de poucos recursos, artesdes, pequenos comerciantes, agricultores, pescadores ete b) — Quanto as necessidades que satisfaz: consumo fa miliar ou pessoal, habitacio, necessidades profissionais (meios de produgio, de escoamento ¢ transformagao dos produtos), necessidades de servicos diversos (forca motriz irrigacao, contabilidade, crédito, seguros, etc.) “ ¢) — Quanto as suas relagdes com o Estado — os partidos politicos, os movimentos sociais, relacdes que variam con- forme a estrutura econémica e social e a prépria historia do pals; uno — pois, “malgrado sua diversidade o movimento cooperativo se apresenta como um conjunto nao somente do ponto de vista técnico formal, mas, na pritica, pelas tendéncias convergentes que se exercitam no interior do movimento e orientam a sua atividade”®?. Esta teoria constituiu contribuigao das mais valiosas para a unificacio do sistema, posto que teve o mérito de realcar, 469 — Vivante: della cooperazione, Foro Italiano, 940, 1890 — Panta- leoni, Esame critico del principi teorici della cooperazione Bari, 1925 — Woltemborg, La teorica della cooperarione la definizione delle soctetd ive; Torino, 1985 — Rodino, Ilcarattere giurfdico ed economico della ta cooperative, Foro It1, TH, 1896 Labadlessa, La defizione della coo. ione, in drito det lavoro, 1938, 329 Michels, La cooperazione nella storia ine del lavoro, Giacinto Maselli — Corso di legislazione Cooperative, 1955, IV, pg. 44 segs. U, Navarrini e G. Fagella — Das Sociedades iais 1950 —'R. de Janeiro, pg 151 ¢ sgs. — Gide, ob. cit. — Alfred cit. G. Fouquet, ob. cit. — Rosendo Rojas Coria, ob. cit. — Valdiki ABC da Cooperacao — Diva Benevides Pinho, ob. cit. Waldirio Bul- ~ Fabio Luz Filho — Teoria e Pritica das Sociedades Cope. iro, 1946, ipios informativos. Doutrinariamente, ficou assim a sociedade cooperativa feitamente conceituada ¢ estabelecidos os seus elementos ciais. Em conseqiténcia, acabou por defini-la a Alianga Coo- ‘a Internacional, adotando o seguinte conceito:® ‘er considerada como sociedade, cooperativa qualquer We seja a sua conceituacao legal, toda a associagio de ¥essoas que tenha por fim a melhoria econémica ¢ social de seus membros, através da exploracio de uma empresa sobre a base de ajuda mtitua e que observe os principios de Rochdale”. Como se verifica, seguiu a conceituagdo de Fauquet, que a define como sendo ao mesmo tempo uma associagao de pessoas e empresa econdmica®, sem fixar-se nas possiveis conceituagées legais das varias legislacdes. Empresa econd- mica, pois a cooperativa ndo é associago beneficente ou cultural, mas, busca através da exploracdo de um complexo organizacional a prestacao de servicos de natureza econd- mica; associacao de pessoas, porque congrega seus associa- dos pela ajuda mitua, objetivando alcancar 0 ideal do coo- perativismo, expresso nos princfpios rochdaleanos, que a informam na sua aco pratica. A referéncia aos principios doutrinarios é indispensavel para a sua caracterizacdo, pois sio eles, afinal, que Ihe conferem originalidade e a distin- guem das demais sociedades existentes”. 68, Artigo 18, Fstatutos modificados no Congresso de Praga, em 1948 68. “Les coopératives sont des associations de personnes dont les membres por- ‘suivent la satisfaction de leurs bésoins personnels, familiaux ou professionnels, ‘au moyen d'une entreprise commune gérée par eux-mémes, & leur avantage et 4 leur risque sur la base de I'égalité de leurs droits et obligations’ — cit. p. — Lucien Coutant, pg. 270. 70, "Ces régles derivent de la nature méme de l'entreprise coopérative et, Pour étre bien comprises, doivent étre rattachées d'une part, aux causes 51 8—A unidade conceitual ¢ programatica alcancada p. doutrina, serviu a solugio do problema na éri Ja que nesta nao se log nda um conc devido as correntes contradit6rias no campo econdm Tanto assim que se pode apontar diversas tendéncias no tocante a correspondéncia entre seu conceito econémico ¢ 9 juridico, Para Alfred Nast, por exemplo, a disparidade no plano econémico poderia corresponder uma unidade no campo juridico. Essa concep¢do considerada hibrida por Lucien Coutant foi seguida ei suas linhas gerais por Louis Salleron’! ¢ por Georges Lasserre”’. A tese defendida por estes autores exclusivista no sctor econémico unitaria no setor juridico, veio a ser superada pela tese exclusivista de Bernard Lavergne’s, ¢ posteriormente pela teoria unitdria de Fauquet”, que vem influenciando decisivamente a evo. lucio juridica do conceito da cooperativa e seu regime legal. que as legislagbes dos varios paises, que antes cram diversificadas passaram a contar com leis gerais sobre as cooperativas reconhecendose nelas 0 conceito unitirio, como ocorreu com a Lei geral de 1947, na Franca, na lei geral da Bolivia de 1958 © tantas otras’, ‘memes que ont donné naissance & l'action coopérative: des intéréts A promo- ‘ols une morale sociale & appliquer; d'autre part, aux exigences du moyen itreprise” G. Lasserre, ob. cit, pg. 400. 71. *Se € possivel coneeber uma dontrina juridica da cooperacio estendéen- dose a todas as formas de a ges Lasserre — “Des obstacles au développement du mouvement coopératif” — Paris, 1927. 7m Aderiram a esta corrente, Lasserre, Louis Baudin (Cours d'Economie 1946) e Maurice Bye (Cours d'Economie Politique, 1946/1947), drios da corrente unitéria de Fauquet, entre outros — Francois >nomie Politique, Paris, 1944) Emile James, (Les formes 1985) eJean Lhomme, (Cours d'Economie Politique, Paris, ‘ones ofrecen una definicion direta de todas las cope — Pode-se portanto, na anélise da conformago em- associativa da cooperativa, apontar-se suas prin- cleristicas, que assim podem ser resumidas: sociedade de pessoas limero varidvel de sdcios 3. auséncia de capital ou capital varidvel gestio democratica . auséncia de fins lucrativos 10. nao distribuicdo dos resultados liquidos ou sua dis- buicdo em proporgio as operacdes efetuadas pelos asso- iados com a cooperativa 11. mutualidade disciplinada 12. autonomia 18. dupla qualidade dos associados 14. organizagao federativa, Apenas um desses pontos caracteristicos € comum as sociedades capitalistas, porém, decorre da propria natureza societaria da cooperativa, que € o fato de ela ser sociedade de pessoas’, j& que ainda as ha no setor capitalista, embora em pequena escala, suplantadas que foram pelas sociedades de capitais. Os demais sio todos originais das cooperativas € as tornam totalmente distintas dos outros tipos de socie- dades existentes no direito dos varios povos. | Diferentemente das sociedades capitalistas onde o capital € requisito essencial, nas cooperativas ele ndo exerce qual- quer papel predominante, pois que se da énfase & pessoa rativas en general. Com ciertas variantes, se encuentram definiciones semo- Jantes em muchos otros pases, como Brasil, Costa Rica, Guatemala, Nicaragua, Paraguay, Republica Dominicana, Uniguay” etc. — O!T — Union Panamert cana — Estudio Comparativo de la legislacién cooperativa en America —— ‘Washington, 1957, 78. Convém assinalar que mesmo sendo de pessoas, as sociedades capitalistas se orientam pelo capital trazido pelos s6cios, 53 do associado. Independentemente do seu capital, ele poss direitos idénticos aos demais membros, podendo votar e sei votado € operar livremente com a cooperativa. E bem de ver, que nas cooperativas substituiuse de certa forma o conceito de capital, pelo de patriménio, tudo convergindo ha sua estruturacdo para 0 patriménio, sem necessdria re feréncia ao capital. Isto decorre da concepgio dos pioneiros de Rochdale de que 0s recursos aportados pelos associados a titulo de capital, serviam exclusivamente para doté-las das instalagdes e equipamentos necessérios a execugio dos ser- vicos que seriam prestados a eles, associados; portanto, ha- veria 0 trabalho operando com o capital ¢ nao o trabalho atuando para o capital ou 0 seu possuidor. Paralelamente J Raiffeisen concebera suas Caixas Rurais, sem capital, for- mando a cooperativa seu patriménio através das deducoes dos resultados anuais, e responsabilizando-se os associados ilimitadamente pelas obrigacdes da sociedade. Compreen- de-se melhor essa idéia quando se atenta para o fato de que © associado € ao mesmo tempo comprador, cliente ou for- necedor da cooperativa ¢ associado (principio da dupla qualidade), assim, a sociedade esti toda voltada para cle; nela, ele tem voto independentemente de seu capital, e pela impartilhabilidade do Fundo de Reserva, nao teré qualquer vantagem de ordem pessoal, no crescimento do patriménio da cooperativa, nao podendo também obter uma valorizacdo nas suas cotas de capital, pelo aumento das reservas, j4 que as cotas sao intransferiveis a tercciros. Ha que se acentuar que o capital nas cooptrativas de- corre do miimero de associados, € portanto a sua variabili- dade nio ocorre exatamente como nas sociedades capitalis- tas, por valorizagao de ativos ou incorporacéo de reservas a0 capital, mas, tio-somente pelo ingresso de novos associa- dos, no caso de aumento, ou pela saida deles, em caso de diminuicdo] A intocabilidade das reservas dé 2 cooperativa um patriménio estavel que assim permanece inde- pendentemente das variagdes que ocorram em sett capital, pelo ingresso ou saida de associados. Como conseqiiencia 54 adesio livre”, 0 miimero de associados é «endo ingressar e sair livremente. Diferentemente ocorre com outros tipos de sociedades, nas coope- as 0 ingresso € a saida de associados nao acarreta a ficagdo do ato constitutivo. Implica esse principio tam- 1m na observancia de outro muito importante qual seja 0 1a neutralidade politico-religiosa-racial, ja que elas nao po- detio se opor ao ingresso de associados por motivos dessa em, Compreende-se que nas sociedades cooperativas as cotas scjam intransferiveis a terceiros, pois que diferentemente sociedades capitalistas, as sociedades cooperativas sao sociedades de pessoas, ¢ suas aces ndo podem se tansferir implesmente pela tradicio. O sistema cooperative nesse ponto é totalmente diverso; nao ha emissio de acdes e seu eventual resgate. Simplesmente, 0 capital € alterado com a entrada e safda dos associados; quando de seu ingresso ele subscreve ¢ integraliza sua cota ou cotas; quando sai recebe o valor correspondente, indo sempre essa variacdo repercutir diretamente no capital da sociedade. Tem-se permitido, ape- nas, nesse sentido, a transferéncia de associado para asso- ciado, com a autorizacao da Assembléia Geral. Pela indivisibilidade do Fundo de Reserva Legal entre 0s associados, mesmo em caso de dissolucdo da sociedade, procurou-se uma formula de reforcar 0 patriménio associa- tivo, ¢ socializar um minimo de riqueza. De trés ordens portanto, os motivos que determinaram a criacao dessa im- partilhabilidade — pratica, para efeito de assegurar em pro- veito dos credores a conservacao do patriménio social; dou- trindria, obtendo uma pequena socializacio da riqueza, atra- vés da deducio de uma porcentagem do retorno ¢ econémica, 7. Ce principe une porte sarge puitque parses deux aspects esentes = ert dadherer et liber de ne pas adherent diferencie la Societe Goopératve a for de dela Socte de doit commun bate sur le profi et de entreprise eaique Gun regime e'économiecolecuve™— Lucien Cow tant ob Gey pa 188 55 visando a fortificar 0 patriménio quase sempre débil das sociedades cooperativas, em seus inicios. A auséncia de fins lucrativos da cooperativa tem sido alvo de discusses, entendendo muitos que as cooperativas nao eliminam 0 lucro, a nado ser nas cooperativas distribu- tivas, pois nas de carater profissional limitam-se a obter a sua distribuicéo entre maior mimero de individuos’’. Para Gide, a esséncia do cooperativismo est justamente na abo- ligéo do lucro, 0 que ele correlaciona com a obtengio do justo preco. Este seria preco despido de todos os elementos artificiais que encarecem os bens € servicos; e as cooperativas por representarem os consumidores de um lado ¢ os pro- dutores de outro, obtém-no, pois que eliminam o interme- diario que acrescia 0 preco com o lucro — substituindo-o nessa atividade sem a intencao do ganho. E o problema se complicou, injustificavelmente, porque trabalhando as coo- perativas pelo preco do mercado, entenderam muitos que ela continua a cobrar aquela diferenga injusta que o inter medidrio cobra € que a distribuicio em proporcao as ope- rages feitas pelos associados com a cooperativa (retorno) nao era senao a distribuicao dos lucros que o intermediario absorvia sozinho. A questo, entretanto, deve ser encarada sobre outro aspecto: inicialmente, as cooperativas operavam pelo prego de custo, porém, tal sistema era insustentivel dada as oscilacdes constantes do mercado ¢ A concorréncia capitalist, tanto assim que as cooperativas do Dr. King, que assim trabalhavam nao tiveram sucesso. plupart des formes de cooperatives, cette élimination de explo résulte d'un transfert de profit, qui passe d’entrepreneursintermédiai- u d'entrepreneurscapitalistes a’ des entrepreneurstravailleurs, simples mgemente de répartition. Au contraire, dans les coopératives groupant les inaux, le profit cesse d'étre um reventy il est transformé en “rente du consommateur’. C’estdire que le consom- ppayé finalement moins cher qu’il n‘aurait aceepté de le faire s'il G. Lasserre, ob. cit, pg. 414. — GE. também B. Lavergne, ob, Hava furtarse a essas dificuldades passaram as coopera- trabalhar pelo prego do mercado (em verdade sempre 4 pregos ligeiramente inferiores), corrigindo pelo do retorno, 0 excesso de receita obtido ao fim jo. Esse excesso que no sistema cooperative é «lo como sobras, permite & sociedade que dele dlecluzs uma parte para seus fundos de reserva, de assisténcia social, de educacao, etc., consolidando e fazendo crescer a entidade e aparelhando-a assim para melhor prestar servigos sociados. O saldo € entao distribuido entre os associa- dos de uma forma altamente justa € engenhosa; nas coope- rativas de consumo, devolve-se 0 que a cooperativa teria sbrado a mais no preco, portanto resultando numa baixa de preco “a posteriori”, ¢ tornando ao cooperado aquilo que cle dispendeu a mais, na aquisicéo do produto fornecido pela cooperativa; nas cooperativas de produtores, com a devolugao integra-se 0 preco justo pelo qual deveria ter sido vendido a producao entregue pelo cooperado; decorrendo assim uma alta de preco “a posteriori”, ¢ completando 0 cooperado aquilo que ele deveria ter recebido pela sua producao; nas cooperativas de producao e de trabalho, da mesma forma, pelo retorno complementa-se 0 preco do seu trabalho, revertendo a ele 0 que sem a cooperativa, ficaria nas maos do empresirio. Vé-se, assim, que realmente ha extingdo do lucro, como tal; isto é, como receita proveniente da intermediacao; do ganho decorrente do jogo da oferta e da procura. A cooperativa quando acresce uma taxa ao prego de custo nao © faz com o intuito de lucrar, mas, tdo-somente de se prevenir quanto as oscilagdes do mercado, © ao final do exercicio, faz retornar essa taxa ao cooperado; as cooperativas de produtores quando cobram uma taxa para a comercializacao da producao, nao intentam lucrar com isso, no sentido capitalista, mas, dispor de recursos para atender aos seus servicos; se ela foi excessiva o excedente é devolvido ao associado. Nao teria sentido o lucro ainda no sistema cooperativo, por uma razio que nos parece inata- vel; € que as cooperativas representam os seus cooperados; 7 operam para eles ¢ com eles”, diferentemente das entidades capitalistas que sio constituidas por um ou alguns para operarem com 08 nao sécios. Dessa forma, ndo hd como as cooperativas que sao constitu(das pelos associados, objetiva- rem obter lucro de seus préprios membros; ¢ depois de obterem devolverem-no simplesmente. As restrigdes que se poderiam fazer seria quanto sis cooperativas chamadas pro- fissionais® que na concepcao de Lavergne, por exemplo, atendem também aos interesses privados de seus sdcios; € © caso das cooperativas de produtores e as de producao-tra- balho, em que elas, representantes de seus associados, pro- curariam obter no mercado os melhores precos, inde- pendentemente de outras consideracées, e fazendo reverter essa melhoria de precos aos seus associados. Também aqui a rigor ndo procede o argumento; as cooperativas de pro- dutores ou de producdo-trabalho, exercem também um pa- pel relevante, pois, substituem o intermedidrio, fazendo re- verter aos associados a taxa que aquele recebia, na maior Parte das vezes, injustamente. Que dessa divisio entre coo- Perativas distributivas de um lado e das profissionais de outro, possa resultar, em certo estégio do cooperativismo, uma posicao contrad reclamando as de consumo pre- 08 baixos ¢ as de produtores precos altos, é problema que se destaca do especifico do justo preco, e pelo seu cardter contingente, encontra solucao na integragéo cooperativa, 78. *L'impresa cooperativa produce le prestazioni economiche dh servizi, di cui soci hanno bisogno; differenciandosi cosi delle societd eaptalistiche 1s di roduzione merce o servizio non interessa personalmente gli azionisti ma — Rosirio Labadessa — Regime Giuridico della Ww, “Cette réserve trouve son fondement dans ce fait que la Coopération de Consommation est, ayec ses derivés (construction habitation) la seule forme r€t particulier” — Lucien Coutant, ob. cit, pg. 199. 1a Unido entre esses tipos de cooperativas para de “retorno”* pée por terra diividas que poderiam ser suscitadas, pois ele ¢ © que na pritica permite a obtengao do justo ‘operacées com terceiros é que poderia incidir a jf que os resultados obtidos com essas operacdes ser considerados como hucros, se fossem distribui- os associados, Na verdade nunca foi consagrado pelas agdes* o principio da mutualidade pura, permitindo-se ‘aro que 8 cooperativas operem com terceiros; porém, to critico da questdo nao est em operar com terceiros, o fim a que é destinado o resultado obtido; se esse ado é levado a0 fundo de reserva legal, ou entdo é itado aos terceiros até que ingressem na cooperativa, ¢ no associados possam levantélos, néo ha qualquer pro- veito para a sociedade e para 0s cooperados, nao se podendo falar em lucros. | Por outro lado, a existéncia de cooperativas de segundo grau, como as Federacées, Unides e Centrais, tem ampliado © campo de operacdes das cooperativas, dando-The um sen- tido de integracao indispensavel a sua consolidagao. Outro beneficio que esse principio oferece, ¢ o de possibilitar através de convénios e acordos, a integragao dos diversos tipos de cooperativas, sobretudo entre as cooperativas de consumo ¢ as de produtores ou de produgio. E finalmente, as cooperativas na sua unido com 0 Estado \dquiriram conformagao especial, através do tipo chamado régie” cooperativa®’. Nele, mantidos os caracteristicos da ate reece Core oe fem; com eft, tmben gos terion wliade da ainsi, conside eee eee cotene ts 59 edade cooperativa admitese a participacio estatal ¢ a * funciondrios da empresa, num sistema muito mais ju ¢ humano da que simples distribuicao de dividendos, com, € norma, “A “régie” cooperativa é criada por lei, tem duracao ilimitada, s6 podendo ser dissolvide Por outra lei, apds discusses em sessdes piiblicas, Seus associados so de duas espécies: ordindrios que compreendem 2s Pessoas de direito piiblico, coletividades ptiblicas ou so. ciedades de usuarios de seus préprios servigos, ¢ brivilegiados quc retinem 08 organismos representativos de scus ustérios « (it seus empregados. E administrada por um Conselhe Administrative composto de membros que representam em niimero igual as pessoas de direito piiblico, os usudtios en pessoal que trabalha na “régie” (assim, por exemplo, se Houver nove membros, trés sao representantes das pescoes de direito puiblico, trés dos usuarios ¢ trés dos que trabalhons na “régie”). Esses membros escolhem livremente seu Pres Gente. A Comissao Fiscal também € composta de um tereo de representantes das pessoas de direito publico, um terco Ge Fepresentantes dos usuarios e um terco de representantes dos trabalhadores da “régie”. A Assembléia Geral retine todas Os associados dividindo-os em seccdes segundo as mesmas Tegras observadas na nomeacao do Conselho de Adminis. Lrasd0; a votagiio € feita “pro rata” das cotas-partes, no caso das pessoas de direito ptiblico, coletividadee pliblicas ou sociedades de usudrios de seus préprios servicos ou de mode “cooperativas publicas” (Ant nalizaciones — Ed. FACK Pinho — Papel das Gooperati mento Agricola do fia Ciéncias e ketal, segundo o principio rochdaleano: “um homem, uma vor" desde que assim disponhiam os estatutos. As sobras 98 trabalhadores da “régie”, na proporgao de seus " s vencimentos; 30% sao destinados, a critério da Assembléia Geral, ao fundo de reserva ou a obras sociais ra 0 pessoal da “régie”. Se os beneficios ultrapassarem 5% 0 total das receitas, a “régie” podera diminuir de- terminadas tarifas, a fim de beneficiar os usuarios.

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