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~_Os Ic : | | LG Od (Os tiposide texto « ‘Oqve, afinal, um texto? .. Texto Complementar Redacéo de Salo 2- Modalidades da redacdo Modolidades da redacéo «. ‘eto Complementor Redacéo de Sola 3- Definindo a narrative Nortativa Texto Complementar Redacéo de Sala a 4- Os componentes narratives .. Personagem Tempo. Espace ‘AcGo Terto Complementar Redacdo de Sola $- Foco narrativo.. Autore nerrador: diferencas Texto Complementor Redacéo de Sola 6- Os discursos. narratives Tipos de discursos Texto Complemenior Redecaode Sola Exercicios Propostos 7=Planejando © texto narrative... Lendo um exernplo Texto Complementar Redacéo de Solo : 8- A verossimilhanca narrative ... Inireducéo Texto Gomplemeniar : Redagéo de Sola es 9- A narracéo ¢ 0 uso dos clich8S Clich&s: um perigo para as narrativos Testo Complementor Redagéo de Sola 10 -A construcdo da personagem Texto Complementar Exercicios Propostos, 11 -A construgéo da espacialidade © cenério ¢ 0 resultado narrativo... Texto Complementar . Redagio de Sola i 12 -A construcdo da temporalidade ae ee pe ee SSUSREBSLSESESFESSSSSBSBSD 13 208 dex pecados mortais da narracao Dez pecadios moriais Texto Complementar Redacée de Sole 14 -A dissertacao Disseracdoi que, como é, pora 0 que serve? Teo Complementor Redagéo de Sola 15 =As coracteristices do lingvagem dissertativa ‘As diferencos entreflae escrito Texto Complementar Redagéo de Sala 16 -A diviséo estrutural da dissertacéo: a tese, @ arqumentocde © 0 fecho.... 71 Texto Complementar.. Redactoid@ SA6 sn 17 - Os'fipos de tese: como Iniciar uma dissertagio . ‘Como 6 quese comeca uma dissertac60? Texto Complemeriar 5 | Redacée de Salo nnn % 18 - Os fipos de argumentagéo: os parégratos me sia porigrafo orgumenitiv0 nnn B Tarts Complementar 8 Redagée de Sola 8 19 -Os tipos de fecho: como concluir uma dissertacéo # Ofecho no texio disserative Bs Texto Complementar 5 Redagéo de Sola % 20 - Dez pecodos mortais da redagdo dissertativa I. 7 Texto Gomplementar 8 Redacée de Sola : # a 98 % 9% % wy 8 SSIVERTABSBS 21 -A delimitacéo do tema: riqueza dissertative : Texto Complementar : Redagio de Sola 22 ~Coesto e coaréncia |: mecanismos de coesio Texto Complementor Redacto de Sola... 23 -Coeséo e coeréne Texto Complementor I: articulagéo RedacSords Salat. 101 24 - Coes60 @ coerdncia Ill: a macroestrutura do texto dissertativo wun. 102 Os defeitos de um texto pora vestibular ‘Texto Cortiplomentr «.. Redacéo de Sala 25 “Deducao e inducso.... Texio Complementar.. Redacto de Sala 26 - Dez pecados montais do redacoo Texio Complementar Redagae de Sola E 27 -& redacéo subjetiva ~ 08 temas subjetivos Teo Complementar . Redacao de Sala... a 28 -Redacao reflexiva — os temas filos6ficos ... Texto Complementar .. Redacao de Sala 29 -# carta Texto Complementar Redagéo de Sale 30 -Elaborando um projelo de carla posse & passo Texto Complemeniat Redacio de Sala Goberits CCerlos Drummond de Andrade. “0 lutador* em Nove Reunie. ‘Arosa de pove. Rio de Janeico: José Olympic, 1985. Ca) Falar & uma coisa... escrever € outra (e constante) pergunta que os alunos fazem aos professores de redagao é a seguinte: como é jque eu aprendo a eserever? ‘A resposta 6 a mesma, sempre: — Escrevendo; escrever se aprende escrevendo! Isto quer dizer, em breves palavras:treino, perseveranca e até uma boa dose de teimosial Ninguém nasce sabendo escrever bem. E vocé pode aprender a fazer isso invejavelmente, desde que se disponha a trabalhar ideias, ler muito (jornais, livros e revistas), ouvir os outros, falar e, sobretudo, redigir 0s temas propostos. E religiosamente. ‘Na redagio, Conio eit Outras reas do comhecimentohumano, noventa e nove por Cento da produgfo ¢ trabalho e transpiragao, ¢ 0 resto € inspiracao. Bom lembrar, ainda, que nenhum curso do mundo pretend transformar 0 aluno em um escritor dde renome, mas sim fazer com que escreva bem para o vestibular, com apreciveis qualidades do texto, capaz. de tomar confortével o seu desempenho diante de uma prova. Eescrever & sempre assim: s6 comegar. As vezes vagarosamente, porque ¢ mais que sabido 0 fato de que escrevemos apenas sobre o que sabemos. E vale lembrar mais uma vez: antes da eseritura propriamente dita, existe uma fase em que € preciso dispor-se a amealhar conhecimentos; ou seja, ‘voc’ vale aquilo que sabe, conhece ou domina como assunto. Escrever exige preciosos estigios anteriores: ver, sentir, ouvir, ler e, finalmente, colocar num papel, por escrito, aquilo que esta no mundo. Em outras palavras, 0 curso de redagio € coadjuvante ppara.a obtengo de um bom texto: parte do processo € seu (esforgo, abnegacdo, teimosia) outra parte 6 dedicagao do professor (técnica, acesso a0 processos realizadores da redacao, treinos). E um projeto conjunto, faga a sua parte. Saber organizar seu pensamento, questionar sobre os temas, ter (¢ dar) opinifio sobre 0s assuntos, isso é mdo o que vocé deve esperar de si mesmo(a) e do que aprenderd. E lembre-se de uma coisa: nos vestibulares da vida, 0 cartdo magnético para abrira porta das universidades € a sua redagHo. E fazer um bom texto depende de conhecer a sua lingua, reorganizar seu estilo, fazer-se compreender. Falar € uma coisa... escrever € outra. Falar € expressar-se por meio de gestos, pausas, sons baixos, altos, graves, agudos, caras € bocas... Escrever pars que um corretor nos leia € nos avalie € colocar pensamentos concatenados — ¢ organizados! — num papel, registrar emogBes, posicionar-se sobre a vida. Est, portanto, na hora de comegar. Ee: uma pequena conversa antes de verificarmos cada modalidade de texto. A primeira bel vestibular: um outdoor, um quadro, uma fotografia, Palavea palavra Nos préximos capitulos falaremos disso, € 0 primero (igo exasperado), exercicio deste livro incide sobre a utilizagao de texto seme desafias, visual aceitoo combate La ‘As modalidades dos textos Neste capitulo, vamos nos dedicar a leituras de textos que exemplifiquem as modalidades da redaco: uma narrago, uma carta, uma dissertagiio escolar, um trecho de artigo de Jornal. Enquanto estiverem > © que 6, afinal, um texto? Podemos definir um texto para vestibular como wma producao linguistica escrita a partir de um contexto determinado e com intendo objetiva, ou seja, em palavras mais simples, um fexto escrito a partir de um determinado assunto (tema) e que possa ser entendido por um conjunto de corretores como manifestagao do vestibulando sobre os fatos, circunstancias, criaturas, acontecimentos, politica, economia, restritos ao Ambito do Brasil ou do mundo. E claro que existe no mundo uma gama enorme de textos nao necessariamente escritos ou destinados a0 sendo lidos, tente observar as caracterfsticas espectficas de cada um detes, 0 jogo das palavras, a maneira como (© autor as manipula para obter os resultados: fazer rir, contar um fato, negociar uma ideia, opinar sobre acontecimentos. ‘Texto 1 — Narragio Um apélogo Erauma vezuma agua, que disse a um novelo de lnhe — Por que est vor com esse ar, toda cheia desi, toda enrolad, para fingir que vale alguma cousa neste mundo? —Queadeixe? Que a deine, por qué? Porque be digo que ests ‘com um arinsuportivel? Repito que sim, falarei sempre que me der nacabeca ~ Que cabega, senhora? A senhora nfo é alfinete, € agulha, ‘Agulis nfo tem cabeca, Que The importa o meu ar? Cada qual tem 0 ‘arque Deus le deu, Importe-se com a sua vida e deine a dos outros, ~ Mas voce € orgulhosa. —Decerto que sou, — Mas por qué? — & boa! Porque coso. Eno 0s vestdos © enfeites de nossa ama, quer & que os case, sendo eu? Voc? Esta agora 6 melhor. Vacé & que 0s cose? Voed ignora ‘que quem os cose sou ete muito eu? = Voc8 fura © pano, nada mais; ew € que coso, prendo um ‘pedago aa outro, dou feigaa aos habados, — Sim, mas que vale iss0? Eu € que Fur © pano. vou adiante, ‘puxando por ved, que ver aris obedecendo so queeu Fagoe mand. —Tumbéo 0s atedones vio adiante do imperador, =Voct éimperador? — Nao digo isso. Mas a verdade ¢ que voce fax um papel subaltero, indo adiante; vai $6 mostrandoo caminho, vai fuzenda © trabalho obscuroe fafiso, Eu & que prendo, ligo junto, Estevan nist, quando acostureira chegou & casa da baronesa, [No se se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha 8 modista ao pé de si, para nao andar ats dela, Iegou.a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiow a finba na agulha, €entrou a coser. Uma e outa iam andando orguthosss, pelo pano adiante, que era a melhor das sed, centre os dedos da costureira,dgeis como os galgos de Diana pars dar ‘isto uma cor postica. E¢izia a agulh ~ Entio, senhora linha, ainda elma no que dizi hd powco? Nao ‘epara que esta distintacosturcirasse import comigor eu 6 que vou ‘aqui entre os dedos dea unidinha eles, furando abaixo eacima. A linha nao respondia; a andando, Buraco aberto pela agulna cera logo enchido porela, silenciosaeativa, como quem sabe o que faz, ‘enlioesté para ouvir palavras loucas. Aagulla, vendo que ela no lhe ava resposta, calo-se também, efi andando, Eeratudo sléncio na saletade costura; ni se euvia mais que o plic-plic-plicplie da agutha, ‘ao pano, Caindo-o sol, a castureira dohrou a costura, para 0 dia seguinte. Continuow ainda nessa eno onto, até que no quarto acabou ‘obra ficou esperando o baile ‘Veio a noite do bale, ea baronesa vestiuse. Acostureira, que a sjudou 2 vesti-se, levava a agulha espetada no corpinho, pura dar algum ponto necessario, E enquanto compunhs © vestido da bela ‘duma,e puxava de um lado ou out, arregagava dagui ou dal aisando, otpando, acolchetando, inka para mor da gut, perguno-be = Ora, agora, diga-me, quem & que vai ao baile, no corpo da ‘naromesa,fazendo parte do vestido e da elegdncin? Quem € que vai dangar com minstrs.diplomatas enquanto voce vola para acai da costureira, antes de ir para o bali das mucamas? Vamos, diga li Purece que a agulha nao disse nada; mas.um alfinete, de eabeca grande eno menoe experigncia, murmurou a pobre agua: ~ Anda, aprend,tola, Cansas-te em absircaminho pata elae la que val gozar da vida, enquanto a ficas na eaixinha de costura, Faze como eu, que nao ara caiinho para ningaém. Onde me espetam, fico. Conte esta histria a um professor de melancolia, que me disse, banando a cabeea: —Também eu tenho servide de agutha a muita linha ordindriat Machado de Assis. Contos: $ée Paulo: Aca, 1984, vol.9. Pere. Gostor de Ler, p59. CT a <&y ‘Texto 2 - Carta Carta para Maria da Graga Ago que voc chegon Made svangads de 15 anos, Maria da Grag, ‘The dou de resent est lv: Alice no Pals das Maravihas, steivo¢ dodo, Maria. nist semdo del estem Becuta 5 no deseobrices ua sentido ox lovee seabarée loves, Aprende, pois, logo de sadn para 8 rade vide ler exo como un, Pavle Mendes Campos tiple mnantal do sera event asus clés, live us loses Aprende ino atu roto, pols te dou apenas unas poses carves etre millars que ben nx ora deli, Arai, Maia, é Joven, ‘Ne Pa, igi to nin oe por sr peter Apergunta que Alice faz gatinha"Falaa verde, Dinh, comes enone ‘io te epates usd o mado atanbotr Ineeoaectl Past mle pi, ino sconos mins ras por ano, Cem 0 eu no mundo?” Essa indagagoperplexa€ 0 gar comum decade isin de gene. Quanta ves mais dciares ese cara, Wo eran em ti mesma como os tus oxsos, nti fort fare, NGO inapersa qual ea reper; nnpon trio inten mt resp, Ata que ej mentia soci (eguece es pave inventi agra sem ques) ¢ioaitve Foioque Alice htou o fund do pogo: "Eiou aca de ex aqui sornha!” O important qu cla conseguir de i strindoaportsA pana do poso! Ss eubrs bamanas nem Tosa6 ‘snes eases 08 lesamesraos consogiem itu port tren fachicta a vice-yero, ft 6 fecha vn porta bo ober, Somos toe to boos, Maia. Palms uma apo ivi & vemos a presiogo petulant de esperar dela prandesconseqoenis. (uanco Alice comet oboloendoceseetdetentanhn coup aloe dos expeto: Apert l00 que cootece gerlments bs pesos gue comer ba Matin, hun asbedoria wach ti ole ne to sbadora tem de sex ei ou proud. {A gant vive erando em relago ao proxi 6 ojo 6 pedir desculgas sete ves por ds: “Oh, Ibe your pardon? Poin. viver€ thir de ondh om eas de enfocade. Por iso le digo par ata tiara cela ne gti de uc, expecinenin onsd ate do. Foo que o rao perguniou Alice: “Gostaras de gatos se fossa ‘Os homens vive apostando corrda, Maria Nos exritiion, nos sepcios, na plfia, nacional eintermacionl, nos ces 08 aes mas ats rata, ate amigos, a ros, mado © ruther, a6 namocedos, todos vivem apostando torida, Sto competgbes Zo confuse chcias de truqus. tho demneconsran, Ao fingndo que nfo 6 ho rifolas mas vezes, por amos th escondios, que. quando o coredorectngun erase du pot, costumam pergumtar: “A coda teminow! mas quem gahou?”. bbe, Mara Gaga dnp uma cord oa gente oo conemui ssber quem vente Par obols: tives dei aalgum ugar, tote peccape avid fatigue desc a pimeirca chogut Séchopares sempre sonde qusres, gana. Disse o ratio: "Minha istéria longa e triste!” Ouvins isso smithares de vezes, Convo oavis a tesfvel variate: “Minha vida dria ‘um romance”, Oa, como todas a vidas vivida até o fim sio longa € testes, ¢como todas as vidas dariam romances, pos um romance & 960 {eit de contaruma vid, foge, polida mas energicamente, dos homens© ‘das mulberes que suspiram e dizer: “Minha vida daria umn romance!” Sobretudo aos homens. Uns chats imemediveis, Mari ‘Os milagres sempre acontecem na vida de eada um e na vida de todos, Mas, ao contrro do que se pens os melhores e mais fundos. milagre no acontovem de repente, as devagar, muito devagar. Quero dizer 0 seguinte: palavra depress cairé de moda mais cedo ou mais, tarde, Como talyez seja mais tarde, prepara-te para a visita do tmonstro, ¢ nao te desesperes ao triste pensamento de Alie: "Devo cslardiminuindo de novo". Em algum lugar hé cogumelos que nos fazem crescer novammente escuta esta pardhola perfeita: Alice tinha diminuido tanto de tamanho que tomou lum camundongo por um hipopétamo, 1880, contece muito, Mariazinha. Mas nio sejamos ingémuos, pois © ‘contririo também acontece. Eé um outro escitor inglés que nos fala ‘mais ou menos assim: o camundongo que expulsamosontem passou set lioje um terrvelrinaceronte, £ isso mesmo, A alma da gente & uma méquins complicada que produz durante a vida toda uma ‘quantidade imensa de camundongos que parecem hipopstamos e de Finocerontes que parecem eamundonigos. O jeito & rir n0 caso da primeira confuse ficar hem disposto para enfrentaro rinoceronte ‘que entrou em nossos dominios disfargado de camundongo. Mas ‘como tomar o pequeno por grandee © grande por pequeno € sempre meio edmico, nunca devemos perder o bom humor. Tada pessoa deve ter tréscaixas para guardar humor: uma eaixa grande para © humor ris ow menos barato que a gente gasta na rua com 0s outros; uma cans média parac humor que a gente precisa ter quando est sozinha para pesdoares a ti mesma, para rites de ti mesma; por fim, uma, caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasives. Chamo, de grandes ocasibes os momentos perigosos em que estamos cheios de sofrimento ou de vaidade, em que sofremos a tentagto de achar {que fracassamos ou triunfamos,em que nos sentimos umas drogas ‘muito bacares, Cuidado, Maria, com as grandes oc ‘Por fim, mais uma palavra de bolso: as vezes uma pessoa Se abandona de tl forma ao sofrimento, com uma tal complaceacia, que tem medo de nd pader sar de I A dor também temo seu feitigo,eeste se ven conra 0 enfetigado, Por isso Alice, depois deter chorado um ago, pensava:“Agorasereicatigad,ufogando-me em rinhas préprias grins", ‘Conclusie a propria dor tema sua medida. FE feo, éimodesto, 6 vio, & perigoso uluapassar a froatcira de nossa dor, Maria da Graga, Paulo Mendes Campos. O colunista do marr. Edigao do autor, 1965. p. 23. ‘Texto 3 ~ Dissertacio A hora certa de decidir (© ser humano nem sempre sabe a hora de tomar decisoes, de cenfrentar eontrovérsias. Maitosjéreconheceram atransitoredade da Ce vida, mas. ainda assim, a divide quanto ao tempo certo de curago de cada momento continua. Anica certeza que o homem tem & que os segundos passam incansavelmente echegaré« hora distica na qual, ‘nfo se poder mais adiar as escolhas Por volta do século XVII, poctasarcadistastransformaram idea do “carpe diem barrocoe uilzaram constantemente em suas ‘obras para valorizar os momentos da vida. Ao reconhever que a vida passa, eles incentivaram o homem a sproveitar cada instante do dis pra cumprir com suas obrigagBes © deseo. ‘Contud, esta divida quanto a0 tempo certo de eda coisa. O ser humano tem eonsciéneia de que precisa tomar aitudes, s6 no determina com preciso quando, £.o que ocorre quanto i carrera Enquanto criangas, ss pessoas sonham com certas profissdes, mas, devide aosanos gue as separam do fluro eonereo, a insegutanea, da deciso no as consome. Porém, ao chegarnaadolescenci, quando <é preciso optar por uma determinada careira, os sonhos muitas vezes se desfuzem e a ralidede do futuro torn dificil um julgamento. iil dizer 0 que seguird enquanto pode: mudar de opiniao sem, rejulzns “Acontece que, ao prestar vestibular, possbilidade de mudanga estvita see 0 jovem entende que, aps aquela escolha, a burveracia, das matriculas © os pr6prios exames para aprovagio no curso cconstituirio-se em obsticulos para uma transiglo de eareira. ‘Desa forma, presto piri de cal individuo, somada quel {que diz espeito familia, aos professores eaos amigos, faz com que cle tente decir por algo definitive, que ¢ tormaré feliz para sempre, [Neste momento, o jover Jembra que no sabe se poderd ser feliz para sempre naquela rofissio, pois a vida é transitéria e cada momento de satisfgao dura por tempo indeterminado. Tentando fugit da angstia de ter que por em risco sua propria felicidad, ele dia a escola até quando a sociedade fara ‘Se esse momento cortespende ao dia do vestibular, ao dia de ‘matrcula em um curso especifica ou de preparagio, ou 8 qualquer ‘outro acontecimenta, lo importa, pois nessa hora haverd urn ser humane superando seus medose dec ‘Maria Cecilia da Sve Martins.” Gy, Texto 4 — Artigo de jornal Brasil tem divida com os jovens, diz governo indo sua vida, (© secretdrio nacional da Juventude, Beto Cury,admite que 0 pais tem uma divida a ser paga com os jovens, Ele afirma que © _zoverno tem se empenhado\em pagar essa divide, que, segundo ele, ¢ histrica “Quando dseutiamos a Politica Nacionllde Juventus, tharos claro que havi um problema grave a ser enfenta, As pesquisas j6 _mostravar nagpoca que haviaumadificuldade deavesso 0 mercado de trabalho por parte dos jovens © uma preocupante taxa de defasagem idadesére na escola. A pari leu dosco ede outros dads, fica claro ‘que precisemos pagar uma divida histGrica do Estado brasileiro com ess opulngao", diz: Segundo 0 seeretiio, a universalizaydo do-acesso escola fa eta de 14 anos foi um passo importante, mas agont 6 preciso também atacaro problema da evasio scolar "Lima grande (1) Aluna do curso Poliedro. ig Lingvogem caloquial: vocabuléo.e sintone bem préximos do ingvoem satan arvela dos jovens jd esti hi slgum tempo fora da escola, Estamos tentando trzé-os de voi, combinando essa educago formal com uma, Formagso que sj mais voltads parao mercado de tabslho, pois sabemos ‘que, partaescola tradicional, ee no volta." De acordo com cle, 0 governo tem enfrentado esse problema por ‘meio de 17 programas voltados para a populacaa jovem. Cury etou ‘como exemplo dessas ages 0 Pralovem (para jovens de 18 424 anos ‘que io conclufram oensino fundamental 0 ProUni (programa que ‘compra vagas em universidados privadas para estudentes de baixa rend) Problema estrutural Ele diz reconhecer, no entanto, que essas ages, ainda que ‘necessrias, no resol vem problema estrutual da baixaescolaridade eda insergo no mereado de trabalho. “Do ponto de vista estrutural, na educagso, uma das mais importantes agdes do governo 6 aprovagio do Fundeb {fundo ainda fem discuss na Camara que amplia 0 financiamento do ensino Fundamental via Fundet para. a edueago infantile o ensino médio} Atém disso, quando o governo faz dstribuicao de livros didaticos Pra o ensino médio e se compromete a criar um piso nacional dos professores, esti investindo na qualidade", diz. ‘Na outra ponta ~ a eriagio de postos de trabalho para Jovens -, Cury aponta como necessério um crescimento econdimico ‘mais consistent, da order de 5% ao ano, “Nossa economia, agora, ji tem as bases para realizar esse erescimento de forma sustentvel Folho de S.Poulo, 12/nov/2006, Comentérios gerais Cada um dos textos citados, como vocé pode observar, possuii uma peculiaridade, caracteristica propria, um jeito especial que o autor lhe imprime, um certo modo CL a) de escrever: © primeiro & uma narrativa que apresenta ‘objetos antromortizados como protagonistas. O texto € munido do dialogismo para expor uma visio relativista dos valores humanos, além do humor sutil tipicamente Machadiano. O segundo ¢ uma carta ¢ vocé percebeu que ela tem cunho Iirico’, dirige-se 4 adolescente Maria da Gragae chama a atencao para algo de que todos n6s jé provamos; apostar “corrida”, disputar lugares, estar no mundo correndo atras de algo de que precisamos, sonhamos, queiramos como prioridade, No vestibular, a carta pedida se dirige espe- cificamente a uma pessoa conhecida (um presidente, um jogador de futebol, um deputado, um ministro, um astro de tevé) e deve carregar as marcas da interlocugao, dirigindo-se aquela pessoa em particular, a fim de convencé-la sobre 0 ponto de vista do codificador (que & voce) Oterceiro texto poderia ser seu: foi escrito por uma ‘luna do Curso Potiedro, em atividade de classe, sobre 0 tema “Decisdes”. Trata-se de uma dissertagiio: enfoques eriticos, pontos de vista, exemplos, aproximagies. © quarto texto foi escrito para um jornal: 6 um artigo: como vocé pode observar, existem muitas formas de escrever, fazer manifestar (ou nlio) o$ nossos pontos de vista, opinides e argumentos. O vestibular néo pedira ‘que voc8 escreva um poema, uma epopeia, apenas testarii sua competéncia informativa quando pedir uma dissertagéo ou carta, ou capacidade de ficcionar quando solicitar uma narrativa. ‘Quem pode escrever usa pagina, pode escrever dez. E quem sabe fazer uma novela, deve saber fazer um livro, porque uma série de capitulos é uma série de novelas, Portanto, qualquer pessoa que tenha mediana aptidio ¢ leitura poderd escrever, se quiser, se souber aplicar-se; Se a arte a interessar, se tiver 0 desejo de emitir 0 que vé e de descrever 0 que sente, Céndido Figueiredo. A arte de sscrever ensinada em vinteligées. Lisboo: Lvoria Cléssica, 1958. p.9. Cotador de papel. Escolha uma das propostas de redagdo a seguir, para exercitar. Redagao 1 ‘Antes que 0 capitulo acabe, vamos ler mais um texto. “Ler” as figuras porque existem muitos tipos de textos e esse, em especial, é formado por imagens. Mas diz.coisas, muitas que voeé reconhecerd. “Leia-o” bem, veja os detalhes, tente imaginar 0 que esereveria a respeito do que vé, que tipo de existéncia hé do outro lado. ‘Othe bem, observe cuidadosamente: © que voce esta vendo ali? Que histéria est guardada por detris dessa pessoa? E € exatamente sobre isso que agora voce vai escrever. Use 35 linhas, no méximo, e, ao finalizar sua hist6ria, d¢-the um bom tuto. Redagio 2 Leia, com atengdo, o texto que segue. Nele, uma personagem se destaca. Quem €? Como 6? Faga-a personagem principal da narrativa que vocé criaré. CL Coloque-a em um determinado tempo e lugar (nao necessariamente os mesmos do texto apresentado), Faca-a agir, dentro de uma historia interessante, Escolha © foco narrativo (primeira ou terceira pessoa) € 0s tipos de discurso que desejar (direto, indireto ou indireto livre). Ll [Na noite de estreia do cireo vai completa toda a fai, Vai completa, esé quando volta se-vé que incompleta da filha, fal Jodo Cabral de Mello Neto. “O cireo", (Crime na Callie Relotor, 1987, OU s feito de imagens apenas. Neste capitulo, iniciaremos o estudo sobre as modalidades da N capftulo anterior, vocé pode ler varios textos e trabalhar, inclusive, com um texto visual, redagio (narragiio, dissertago e carta), mas ja comegamos a nos aprofundar em uma delas, ‘© que continuaremos estudando nos préximos capitulos, de maneira minuciosa: a narragio. Primeira manifestagio do homem no mundo, ela faz. parte do cotidiano da humanidade: desde quando o homem, na parede de uma caverna, ainda na pré-hist6ria, “escrevia” com imagens, até os dias atais, De simples fuxicos, noticias de jomal, epopeias, hist6rias em quadrinhos, ela ‘aparece para natrar todos 0s feitos dos seres humanos, exaltando, fazendo rir ou fazendo pensar. Nela, existem componentes fundamentais: personagem, tempo, espago ¢ aca, € muitas, intimeras sto as narrativas deste mundo: sob a forma de fabulas, de lendas que so passadas oralmente de pai para filho, tudo conta uma histéria especial de acontecimentos, de nossas vidas, & Simbolicas, como nos contos de fada ou nas histérias dos deuses ‘gregos, por exemplo, elas so o testemunho sempre presente, as guardiais para que niio se perca hnunea de vista que o homemt trafega por este planeta nfo como um intruso, mas antes como agente transformador de todas as coisas. Narrar é tembrar-se do que munca exist, Clarice Lispector > Modalidades da redagéo Em primeiro lugar, um esclarecimento: tudo 0 que se esereve pode ser chamado de... redacio. Desde bilhetes, cartas, letras de musica, circulares, offcios, ‘mensagens dos telegramas, artigos de jornais, boletins de ocorréncia, livros, hist6rias em quadrinhos. Mas hé, entre todos estes escritos, trés ‘modalidades redacionais. Apenas trés: nao ha nenhuma outra classificagtio para isso: narrar, descrever dissertar, E Id vem voce perguntando sobre cartas no vestibular... Um quarto e inesperado modal? Nao, ni. A carta, sossegue, eneaixa-se dentro do projeto dissertativo. A narragéo Inumeriveis sto as narraeses do mundo, Primeiramente, hi ‘una yariedade prodigiosa de géneros, eles proprios distribuidos entce substincias diferentes, como se toda amatéria fosse apropriada pars ue © homem the confiasse suas narragSes: a narragZo pode ser ‘uportaa pela lingua articulad, oral ou eserita, pla imagem, fixe om inGvel, pelo gest e pela mistura ordenadade todas essas substincias; claesté presente no mito, na lenda, na fabula, no conto, na novela, na ‘popeia, a historia, natragédia, no drama, na comedian pantomim, ‘no quado, no viral, no cinema, nos espetéculos, nas manchetes Jos jomais, na conversa [Ademiss, sob essas formas infinitas, a naragio esté presente ‘em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades; & narrago comega mesmo com a histria da humanidade; no, jas howe povo algum sem narragio; todas as classes, todos os grupos. Jhumanos tiveram suas narragSes e, muito frequenter ‘narragBes so saboreadas em comum por homens de culturas diferentes, por yezes opostas: internacional, transist6rica transcultral, a narrago af esté como vida Roland Borihes. Andlise esrutural da narrativa, Petropolis Vozes, 1973, Se narrar € contar um fato e, levando em ‘consideragdio que, em principio, as narrativas eram feitas oralmente, a narracao € a forma mais antiga que os homens — e os fuxiqueiros em geral ~ usaram para se comunicar. Ela pode aparecer sob as formas mais inesperadas, inclusive em gestos, e, na escrita, aparece também em ‘yersos (pegue como primeiro exemplo as epopeias), na letra de uma misica, nos romances, novelas, contos & cerGnicas e até nas hist6rias em quadrinhos. ‘Ao desenhar uma cagada nas paredes de sua caverna, nosso ancestral deixou ali um registro, um depoimento para o futuro, Obviamente, nao sabia disso, ‘mas talvez pressentisse que o seu gesto funcionaria como uma espécie de depoimento para a posteridade. Como se pudesse nos dizer: “Estive aqui e © que voce vé é Parte das hist6rias que um dia viv Alm disso, € preciso que se diga que toda a narrativa 6 ficgio: ao retirar os fatos do cotidiano, ao passé-los para um papel ou computador, homem recria o mundo vivido, acrescenta, elimina cauteloso certos fatos,ilumina alguns mais escuros menores, sublima ou castiga algumas personagens. Toda narrativa € reinvencio da realidade, toda a narrativa ressalta particularidades que interessam ao narrador: umas brincalhonas, outras irdnicas, outras tio sérias ou metaféricas, Recordando Clarice Lispector, “narrar é lembrar-se do que nunca existiu”. Ou, pelo contrério, existiu demais dentro de 16s. Veja, nos textos a seguir, exemplos de variadas formas narrativas: <= ‘Texto 1 Eros e Psiqué Cena nde di cea iinaninatson ose idee orate oe va Desloeth tastes Ele tinha que, tentado, YVencero male obem, Antes que, jd liberado, einasse 0 caminho errado oro que d Princesa vem, ‘Arincesa Adormecida, Se espera, dormindo espera, ‘Soni emt morte a sua vida, Eoomalhe front esquecida, ‘Verde, uma grinalda dehera Longe o Infante esforgado, Sem saber que intuito tem, Rompe o camino fadado, le dela ignorado, Elapara cle ninguém. Mas cada ui cumpre o Destino Ba dormindo encantada, Ele buscando-a sem tno Plo process. (Que faz existir a estrada E, se bem que seja obscure ‘Tudo pela estrada fora, E falso.cle vem seguro, E vencendoestradae muro, (Chega onde em sono ela mora, nda tonto do que bowers, ‘Reabeya,emmaresia, Ergvedmdo,cencontrahera, Evé queclemesmoera APrincesa que drmia Fernando Pessoa, Prsenga,n41-42, Coimbro, moie de 1934. Publicado pala primeiro ver| ABP www? A outra noite ‘Nuiiea entendera bom por que Deus, em su infnita bondadew Gra, expulsou Adio e Eva do Paraiso depois que eles comeram da Arvore da Sabedoria, OULU eC) Também nunca entendera o que dissera aquele deus wo cexpulsé-los: Tu, Adio, ganhards a tua vida com 0 sor do seu rosto; ctu, Eva, pairs entre dors. Parecia esquisito para urn Dews tio amoroso, ‘Uma noite, no entanto, insurgirase a serpente entre os seus miolos e soprara-the que Deus io tinha gostado nada de saber que ‘Adio Eva se instrufram e que, logo, poderiam diseutir com ele sobre, sobre, sobe...uerras, pobresericos, oportunidades soci ‘Riu-se da ideia. E dormiu pensando que era feliz, que estava {ioe tinha cobers, roupas, comida e agasalho, familia e emprego. [Nilo entenden por que, na manha seguinte, por mais que se ao oficial de justiga que pagar os aluuéis— olha aqui os fol despejada esua mudanga colocada na calcada, debaxo ‘de uma brutachuva EE tampouco entendeu por que, ao chegar tarde ao trabalho, 0 ptro vociferoa, espumando de raivs, e mandoua solenemente pro lb da ra. Marie Estela de Morais & professora de Lingus e Literatura Portuguesa. recibos! Texto 3 Poesia Matematica As fohastantas {do livro materitico ‘um Quociente apaixonou-se uma ‘doidamente por uma Ineégnita, Othou-a com seu olharinurmerdvel ce viu-a do pice & hase ‘uma figura fmpar, ‘thos comboides, boca trapezoide, ‘corpo rtangular, seis esferoides. Fer. de sua uma vida paralelaa dela Mé que se encontraramn ne infin, “Quem é¢ 02, indagoucle em Snsia radical “Sou a soma do quadrado dos catctos Mas pode me chamar de Hipotenusa.” Ede falarem descobriram que eram {oque em aritmetica conesponde ‘2 abmas irmis) primos entre si assim seamaram a quadrado da velocidade da luz ‘aura sexta potencingao vwagando ao sabor do momento cedapaixto teas, curva, circus e Linas sinoidais ‘nos jardins da quanta dimensao. Escandalizaram os ortodoxos das formulas evelidiana (1) Infante: crianga, menino; ho dos reis de Portugal eu de Esponho, sem dlisito& sucessa0.90 foro, ‘Romperam convengies newtonianas epitagoricas enfimresolveram secasar constituir um lar, ‘mais que um ar, uum perpendicular. ‘Conyidaram para padrinhos 0 Poliedro ea Bisset, E fizeram planos, equapses e diagrams para o futuro sonhando com uma felicidade integral diferencia Ese casaram ¢tiveram uma secantee és cones ito engragadintos. E foram felizes atéaquele dia fem que tudo viraafinal Foi entdo que surgi ‘O Maximo Divisor Comuma frequentador de cireulos concéntrcos, Ofereceu-the,aela, uma grandeza absoluta «ereduziu-a aum denominador comum, le, Quociente,percebet «que com ela no formava mais um todo, ‘uma unidade, Eraotriingulo, tanto chamado amoroso, Desse problema ela era uma agi, mais orinéri, ‘Mas foi entdo que Einstein descobriu a Reltividade fe tudo que era espirio passou a ser moralidade como alidsem qualquer sociedad, Mills Fernondes. Tempo @ contraterpo. Rio de Jeneito: Edicées ‘O.Cruzsire, 1954, pég. sem némero; publicado como pseudBnime de Vso Gogo, a Texto 4 Cartoon narrative Cartoon narrative. Um pouco de descrigéo Nao existe um texto de modalidade tinica; mas, icamente, a descricio deve ser vista como modal anniliar nas narrativas e dissertagdes. E muito comum, nas redagdes narrativas, a descrigao obter destaque fundamental na caracterizagao de personagens, seres, ages, paisagens, estados de alma. eC) Para qualquer tipo de descrig%o, precisamos de alguns pressupostos e observar o mundo é um deles. Ap6s isso, entram em nosso socorro os Srgios dos sentidos, sobretudo a visto, por meio da qual apreendemos © mundo com velocidade vertiginosa Auxiliam-na o tato, o paladar, a audig&o e 0 olfato. Observe agora as trés criangas a seguir: Fosse vocé genericamente dizer de que seres se tratam, certamente usaria para designé-los um substan- tivo: eriangas. No entanto, observando minuciosamente cada uma delas, encontraré particularidades espectficas: esta € loura, aquela € morena e a outra € negra. Os olhos, bocas e narizes, bem como os cabelos ou postura sao diferentes, dio a cada uma delas uma identidade precisa © particular, por meio da qual elas poderio ser reconhecidas. B isso que a descricaio pode fazer pelo seu texto: indicar minuciosamente os seres; mas também identifica cheiros e gostos, altura ¢ largura, peso. Um grito, um tom de voz, a cor de olhos, a suavidade das mios, um jeito de andar, tudo poder ser indicado pela descrigéo. E algo ainda nao foi dito: descrevem-se também, numa narragio, os estados ditos psicoldgicos. Dizer que uma personagem € inguieta, triste, alegre, ansiosa, tudo isso € questo de observar o mundo ao redor. Portanto, descrevemos “por dentro” dos seres e por fora deles, inclusive a paisagem que nos cerca. A descriga0, como poderemos observar nos textos a seguir, exige um certo detalhamento, o que torna muito mais interessante o texto: <=) Texto 5 Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu tracema, Iracema, a virgem dos labios de mel, que tinha os cabelos ‘mais negros que a asa da grating” e mais longos que seu tathe de palmeira (© favo da jati? nao era doce como seu sorriso; nem a baunitha recendia no bosque como seu hilito perfumado, ‘Mais ripida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertdo e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreiratribo da grande nagio tabajara, o pé grécile nu, mal rogando alisava apenas a verde pelicia que vestia a terra com as primeiras, Gguas, Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta, Banhava-the 0 corpo sombra da oiticica’, mais fresea, do que 0 orvalho da noite. Os ramos da acdcia esparziam flores sobre os timidos cabelos. Escondidos na, folhagem os pissaros ameigavam o canto Tracema saiu do banho; o aljéfar-d’égua ainds a roreja, como & doce mangaba que corou em manba de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gard as flechas de seu arco, ¢ concerta com o sabié da mata, pousado no galho, préxime, o canto agreste A graciosa ari, sua companheira e amiga, brinea junto dela. As vezes sobe aos ramos da drvore e de Ié chama a virgem pelo nome; outras remexe o urn de palha matizada, ‘onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do erauts, 8 agulhas da jugara com que tece a renda, ¢ as tintas de que smatiza o algodao.” José de Alencar. roceme, In . < Texto 6 Quis insistir que nada, mas nfo achei Iingua. Todo eu era ‘olhos e coragio, um coragio que desta yer ia sai, com certeza, pela hoca fora. Nao podia tirar os olhos daquela eriatura de quatorze anos, alta, forte ¢ cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas ‘rangas, com as pontas atadas uma 2 outra, 2 moda do tempo, desciam-the pelas costas. Morena, olhos claros e grandes, nariz,reto e comprido, tinha a boca fina e 0 queixo largo, AS ‘maos, a despeito de alguns offcios rudes, eram curadas com ‘amor, nfo cheiravam a sab6es finos nem figuas de toucador, mas com ‘gua do pogo e sabdo comum trazia-as sem mécula, Calgava sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma, dera alguns pontos. ‘Machado de Assis. “Capitu’. . Cosmurro, cap. Xl ‘Trés meses e trés dias depois do seu enterro omeu Jacinto Desde 0 bergo, onde a avé espalhava funcho ¢ ambar para afugentar a Sorte-Ruim, Jacinto medrou com a seguran- ca, arijeza,a seiva rica dum pinheiro das dunas. Nao teve sarampo ¢ no teve lombrigas. As letras, a ‘Tabuada, o Latim entraram por ele to facilimente como o sol por uma vidraga. Entre 0s camaradas, nos patios dos colégios, ferguendo a sua espada de lata e lancando um brado de co- ‘mando, foi logo o vencedor, 0 Rei que se adiila, € quem se. ‘code a fruta das merendas. Na idade em que se 1€ Balzac © Musset nunca atravessou os tormentos da sensibilidade; — nem crepdsculos quentes o etiveram na solido duma janela, padecendo dum desejo sem forma e sem nome. Todos os seus, amigos (éramos is, contando o seu velho escudeiro preto, 0 Grilo) the conservaram sempre amizades puras ¢ certas — sem que jamais a participagiio do seu luxo as avivasse ou fossem, ddesanimadas pelas evidéncias do seu egotsmo. Sem corag3o, bastante forte para conceber tum amor forte, ¢ contente com, esta incapacidade que o libertava, do amor 86 experimentou 0 ‘mel — esse mel que 0 amor reserva aos que 0 recolhem, & ‘maneira das abethas, com ligeireza, mobilidade e cantando, Rijo, rico, indiferente 20 Estado ¢ ao Governo do Homens, ‘nunca Ihe conhecemos outra ambigdo além de compreender ‘bem as Ideias Gerais: ¢a sua inteligéncia, nos anos alegres de cescolas ¢ controvérsias, circulava dentro das Filosofias mais, densas como enguia lustrosa na 4gua limpa dum tanque. 0 seu valor, genuino, de fino quilate, nunca foi desconhecido, rem desaparecido; e toda a opinio, ou mera facécia que lan- ‘gasse, logo encontrava uma aragem de simpatia e concordain- ‘cia que a erguia, 1 mantinha embalada e rebrillando nas altu- ras, Era servido pelas coisas com docilidade e carinho; ~e nao recordo que jamais Ihe estalasse um botao da camisa, ou que ‘um papel maliciosamente se escondesse dos seus olhos, ot, que ante a sua vivacidade e pressa uma gaveta pérfida emperrasse. Ea de Quelrés.A cidade @ os serras, capitulo | Por fim, Ieia atentamente o texto a seguir e observe como o tato é ponto fundamental para compreender € descrever © mundo dos sentimentos humanos: (2) Gradina: ave posserforme, iteridea (Paomacolax oryvorus), de coloragio geval ‘cteridea (Gnorimonsor chop sulerona), de coloragde geval preio com bilo azulado tdsinbuides no Bresi e patseslimfirofes 380 graniveras, ¢ causem grandes esiragos nos orozois, (9) Jaf insete himensptere, melipanideo (Pebleia (Plabsia) mosquito), eecure com desenhos amr Aamsodiste ey Poe ee oa (4) Oticica: rvore da familia das rosacees (ican rigid, que hobitao Nordeste, 2. Arvate do familia dos moréceas (Clarita rac bg ere ina ‘avalide, sobretudo pore forercances. ° * Texto 8 Uma Jaca no Escuro Fomos a Sao Paulo num fim de semana desses: calor ‘enorme, paramos jé na volta, para comprar cocos, mas eu—ah meninice tao distante! ~ pus os olhos sobre uma jaca! Eo dono do caminhio me convenceu em dois tempos, rara delicadeza de pessoa: —Minha amiga, qual é mesmo a sua graga’? H§ quanto eu nao ouvia isso, dito assim, de mancira tio pata? Quando eu disse © meu nome, ele me olhou, olhou € cconcluiu: -E biblico... leve a jaca, sdo 3 reais, leve minha amiga... Tive vontade de dizer que no, que em casa ninguém gosta, $6 eu, que 0 cheiro invade tudo, que as pessoas Narrativa Se narrar € contar algo, é preciso levar em cconsideragZio que o homem sempre quis contar historias. ‘Tanto nas novelas televisivas quanto numa parede de pedra em Altamira existem fatos que o narrador quis legar para a futuridade. Num quadro, nas histérias em quadrinhos, muma fotografia familiar antiga, na letra de ‘uma miisica, em uma simples piada, nas paginas policiais, Id esté 0 legado humano: a histéria, uma hist6ria, a rectiago de toda a realidade. ensaista inglés Edmund Forster, te6rico da literatura, em seu Aspectos do Romance, garante que narrar € uma atividade atévica, que todo homem é um guardador de hist6rias, um criador de narrativas. (Quem nunca ouviu falar em Sherazade que, em mil ‘euma noites, conseguiu safar-se da morte por degolamento ‘Porque sabia contar lindas hist6rias e, assim, fez.com que © sultio a livrasse da sentenga que aplicava As outras ‘mulheres do harém e, admirando-a, fez. dela sua esposat? Quem nunca ouviu falar do Decameron, de Bocaccio, hist6rias contadas entre si por um grupo de jovens que se protegiam da peste, isolados num castelo, esperando que ‘a praga passasse e pudessem voltar para seus pais? Narrar € reinventar 0 mundo, é recriar a vida, € tentar ser uma espécie de Deus criador de destinos. ‘Toda narrativa pressupde quatro elementos bisicos: personagem, tempo, acdo e espaco. Nao existe narrativa sem esses quatro componentes. No préximo capitulo, ‘vamos estudé-los um a um. Observe agora de que se compe a estrutura narrativa, A estrutura narrativa Se tomarmos em consideragio 0 romance, a novela ‘ou 0 conto, o enredo terd de desenvolver-se da seguinte forma: Sequéncia inicial (ou Exposicao) Di-se quando sto apresentados a0 leitor personagens, censrios, tempo. quando hé uma multiplicidade de situagdes ainda no delineadas, criaturas que so vistas individualmente, ambientes que formam apenas um pano de fundo. ; adoptade, (© dia dia das sociedades girn em toro dos objetos fixos, ‘naturais ou eriados, aos quis se apicao trabalho. Fixos.e fuxos ‘combines caracterizam 0 mead de vida de cada formas saci Fixose fluxes influem se mutuamente. grande cidade é um fixo enorme, cruzado por fluxos enormes (homens, produtos, smercadorias, ordens, ila), diversos em volume, imensidade, uv

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