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Prieto ‘Aguivo Geral da Cidade do Ro de Janeiro Dicetor: Antonio Cares Austregésilo fe Athayde Departament Geral de Patrimsnio Cultural Direor: Claudio Maio Leal Departament Geral de Documentagdoe Infrmagao Cultural Dicetor: Antoni Onto CooperaedoCienttca: Instituto de ArquecogiaBrasieira-IAB Presidente: Ondemar Feira Dias ‘eordenago Geral ‘Arquivo Geral da Cidade do Ro de Janeiro Divisio de Pesouisa Diretora: Sanda Horta Concepg eto / Pesquisa ieunogrfica Cals Vargas Pesquisador AGCR) —Diviséo de Pesquisa lana Tera de Carvalho Musedloga/arqubioga,DGPC- Divisio de Cadastoe Pesquisa Paticipagéo Claudia Vienna Lina Estegliia DGPC/UNIRIO-Museologia Texts espcialzados Dra. Lila Cheviche Machado Chefe do Setor de Antroplogia Fisica do Instituto de Arqueologia Brasieira- AB Doutora em Antopoogia Soi ArquedogiaBrasieira\SP Guadalupe Nascimento Campos Doutoranda do Depo de Metalrgla Ciencia dos Materia, PUCIRIO Fotografia Marcelo Mates / Marco Beta / Eliana Caran / Edvard Rochal AberaTaveira / Maria de Fatima Siva Lopes / Marca Berra / Alex Nicolatf/ Claudio Lima / Pedro Oswalt Cruz / Beto Felco ‘Arquivo Geral da Cidade do Ro de Janeia Divito de Pesquisa ‘Sana Horta tora ‘Netto Tavera Labia Maria Rachid Diva Maria Dias Graciosa Divisio de Apoio Técnico Rita de Cassia de Mattos - deta Marco Belang: reprodugao fotogréfica Divisdo de DocumentagoEserita © Especial Domicia Gomes - cretora Junia Guimardese Siva Milne Salem Miranda Servigo de Documentagdo Especial Mata Amaia Lemos -drtora Servig de Biblioteca Elza Elena Pinheiro dos Santos - dirtora Rosa Maria Dias da Siva Apoio Administrative Maia da Gloria Borsoi Vania Carmo do Nascimento Departament Geral de Patrimdnio Cultural Divisto de Cadastre ePescuisa Bana Monteiro Caetano - dieora Sonia Zjberterg Paulo Gent Estagiios Histria - DSPCAUER: Francisco Rogid Fns(1896/97); Flava Maria de Carvalol 97/981 Marcela Rodriguer de Olvera 98); Washington Alves da Siva {2000/0}: DgPCAISU Felipe Dourado Caur( 2000/01}; ‘Arquedogia CNPQ/AB: Ana Cristina Peter Santos (1996/37) Divi de Preservagdo € Restauracio Catla Cabral Dominguez Nonso - iretore Humberte da Cost Subchefia Especial de Assuntos Tecnions Assessovia de informatica ‘Martha da Mota ~assessora Witton Fernandes Paha Neto Instituto de Arqueologa Brasileira Departamento de Pesquisas Dr Paulo Roberta Seda —diretor ra. Rosdngele Menezes Glducia Malerba Sene Atradecimentos Alexander Niolaett Ana Maria dela Merced Gonzaler Gra dos Anjos Andréa Borda Betty Megeers Phd. Department of Anthropology, Smithsonian Institution, USA Cates Eugénio Marcondes de Moura Donald. Orne, Phd. Department of ‘Anthropology, Srithsonian Institut, USA Douglas. Ublaker Department of ‘Anthropology, Smithsonian Insitton, USA Guilerno Solano, Phd Departamento de Netalurgia © Céncias dos Materiis, PUC/RIO ation Petruccio Guimaraes dos Anos (Coleg: pariculaes Emo Brod / Arquivo Geral da Cidade ¢o Rio de Janeiro ‘Maria Cciae Paulo Fostainha (Geyer / Museu imptial ‘Sérgio Sahione Face, Insituigies ‘Arquivo Histo do Exécito-AKE, Ministéia do Exéct, Ria de Jani Centro de Aruiteturae Ubanisme- (CAL, Rede Janeiro Conselho Nacional de DesenvvimentaCientfico © Tenolio-CPa Fundagdo Biblioteca Nacional Institute de Arqueclgla Brasilera- cy Institute cde Patiimino Histico © AtisticoNacional/PHAN- 5 SR Instituto Moreira Sales, Rio de Janel Sio Paula Napotea do Ninstra das Rages terior, Rio de Janeiro Museu Fistrio Nacional —IPHAN / Min Museu imperial — PHAN / Mind Museus Castro Maya = PHAN / Mino PUCIRIO, Depo. ce Metalurgia © Ciencias do MateraVLaboratro de Netalogetia Smithsoian Insttution-Department of Antropology, Washington DC Sumario Palavras do Secretario das Culturas.. Palavras do Diretor do Arquivo Geral da Cidade... Sitio e Regiao (painéis 1,2,3)... Cemitérios (painéis 4,5,6). Pesquisa Arqueolégica (painéis 7,8,9, 10).... Cemitério em Nova York. (painéis 11,12).. Comércio Atlantico (painéis 13,14,15,15,16)... Valongo, Mercado de Escravos (painel 17)... Conclusées (paine! 18). © Rio de Janeiro, palco dos principais acontecimentos que fundaram nossa nacionalidade, tem 0 privilégio de guardar € preservar registros histricos ¢ arqueolégicos que testemunham nao s6 os grandes episédios aq também 0 cotidiano da_populagao, seus costumes, habitos € culturas. A Secretaria Municipal das Culturas, por intermédio do Arquivo da Cidade,e em parceria com © Instituto de Arqueologia Brasileira, traz a pablico os primeiros vestigios da existéncia de um Cemitério de Pretos Novos, ou seja, de recém-chegados da Africa, encontrdo no bairro da Gamboa, Lembranas de uma historia dramatica, de um comércio nefando, as pecas encontradas - tige- las, pratos, bacias, panclas, copos, cachimbos - sto também registros das culturas africanas, de téc- nicas artesanais trazidas para o pais pelos escravos. Portanto, nao s6 as mazelas da terrivel instituigio da escravatura estario expostas aos. vis- intes, estudantes € pesquisadores. A arte € a habilidade dos artesdos, os artificios de embeleza- mento utilizidos pelas mulheres © homens negros, variando as caracteristicas de acordo com a comunidade, constituem um panorama vivido da cultura brasileira de matriz africana. Assim, a exposicio Africanos Novos na Gamboa, um Portal Arqueol6gico é uma proposta de reabrir importante canal que possibilite discussio ampla, aberta, democritica ¢ plural sobre a Cidade, sua historia, scus problemas ¢ suas culturas. Riacrdo Macieira Secretario das Culturas Tendo sido atribuida ao Arquivo da Cidade a alta responsabilidade de instituicio gestora do Sistema de Meméria da Cidade, criado por Decreto do Prefeito Cesar Maia em junho do ano corrente, encaramos esta exposicio como cumprimento do compromisso estabelecido entre a administragao publica municipal € a sociedade carioca, no sentido de atuar para que sejam preservados e divulgados os registros de nosso passado. © fulcro de todas as manifestagdes_ do Més da Consciéncia Negra - organizadas pel Municipal das Culturas ¢ pelo Arquivo da Cidade - sio os achados arqueolégicos verificados na Gamboa, que indicaram a existéncia de um Cemitério dos Pretos Novos, africanos recém-chegados a0 pais. A exposicio, que nasce sob a marca deste acontecimento, longe de celebrar os aspectos macabros € tristes de um periodo trigico de nossa historia, representa a recuperagao desta memoria, com 0 objetivo de provocar uma discussio ampla a respeito da presenca da matriz africana na formacao social brasileira, contribuindo para a desconstrucio dos mecanismos responsiveis pela exclusio ¢ para a integragio harménica de todos os brasileiros ¢ cariocas. retaria Antonio Carlos Austregésilo de Athayde Diretor do Arquivo Geral da Cidade do Rio de janeiro Sitio e Regido Era uma vez. Uma casa construida no inicio do século XX na rua Pedro Ermesto 36, na Gamboa. Seus donos, Mercedes e Petruccio, resolveram, em 1996, fazer algumas reformas, 0 que tornou necesséria um exame mais aprofundado das fundagdes e do terreno As escavagies mal tinham comegado quando, misturados ao entulho, depararam-se com fragmentos de crénios e uma grande quantidade de ossos humanos. Ao contrério do que cos- tuma ocorrer em casos semelhantes, eles suspeitaram tratar-se de um achado relevante, e comunicaram o fato ao Centro Cultural José Bonifacio, situado na vizinhanga, Este transmitiu a informagao pare o Departamento Geral de Patriménia Cultural, 6rgao da Secretaria das Culturas. Em seguida, uma equipe de protissionais da Prefeitura da Cidade e do Instituto de Arqueologia Brasileira foi ao local e confirmou o seu potencial arqueoldgico. Foi iniciado, entao, um trabalho emergencial de salvamento Durante cerca de dois meses, apesar das condigies precdrias, os especialistas examinaram cuidadosamente 0 entulho das obras, conseguindo resgatar miltares de fragmen- tos dsseos humanos, artefatos de cerdmica, vid, metal, e ou- tras evidéncias arqueoldgicas. Ao mesmo tempo, pesquisas historicas preliminares indicaram a possibilidade de se estar na presenga do antigo 1) na ets dota onde forum encontrades os estes anucoigcrs. Em fiero pho. cas 36 da rua Pedra Ernesto Faas A Taveina OOH) 2) 0 casa Mercedes e Petrucci, proprietnias da asa onde ccirvee a descrerta arquctigic Foto E, Carll (1996) 3) ‘Prec de conatrugan com aprovestamnennt das ekg lena CConsta de Planta batsa,fachada e vita ater. Construtor:Saleador da Stet Domingos Garcia Conde Data: 26/05/1913 Placa orsinal do ied n°95 da atual mu Petro Presto Acer Arquivo Geral da Cidade do Rio de ja uso. Proprio Cemitério dos Pretos Novos, lugar destinado aos enterramentos de escravos africanos recém-chegados que morriam logo apés o desembarque. Podia se tratar, portanto, de uma relevante descoberta, nao s6 para a histéria da cidade do Rio de Janeiro mas, tam- bém, para a do Brasil e da Africa. 0 que foi reconhecido, mais tarde, pelo Instituto de Patriménio Historico e Artistico Nacional (IPHAN), que identifi- cou 0 local como sitio arqueolégic e colocouo terreno onde fica a casa de Mercedes e Petruccio sob sua protecao. Antes os a terra e eles a Biblia: hoje. nds temos a Biblia e eles d terra Provérbio africano Mais de 10 milhoes de cativos foram retirados do con- tinente africano, de 1500 a 1850, quase metade deles desem- barcada apenas no Brasil A principio, o tréfico atlantico foi um negécio europeu ‘A descoberta do ouro e diamantes nas Minas Gerais provocou- uma demanda sem precedentes de escravos, transformando 0 porto do Rio de Janeiro em um entreposto estratégic. A maior parte do comércio negreiro, sobretudo de ‘Angola e Mogambique, passou a ser contralada por empresas estabelecidas na cidade - os negociantes de grosso trato. A posigao central do Ria se consolida quando se tornou capital (1763) ¢ com a chegada da corte portuguesa (1808) Até 1800, a cidade recebeu uma média de 10 a 12 mil escravos por ano. E entre 1800 e 1850 foram desembarcados, cerca de um milhao de africanos. 0 Ria de Janeiro concentrou, ro século XIX, a maior populagao urbana de escravos existente rno mundo desde o final do Império Romano. 0 principal local de desembarque € armazenamento foi, durante muita tempo, a atual Praca Quinze e arredores. Com © crescimento do tréfico, a presenga maciga de escravos tornou-se mais incémoda. Em seu relatério, 0 Marqués do Lavradio informava que "As pessoas honestas ndo se atreviam a chegar as Janelas; as que eram inocentes ali aprendiam 0 que ignoravam e nao deviam saber. Logo que desembarcavam, vinham para as ruas, cheios de infinitas moléstias... e ali mesmo faziam tudo que a natureza thes lembrava, nao sé causando o maior fétido, mas até sendo o espetaculo mais horroroso que se podia apre- sentar aos olhos” Por isso, por volta de 1770, ele resolveu transfert 0 mercado de escravos para a regido do Valongo, que, na época, era ocupada por chacaras e hortas. A mudanga vai estimular uma série de novas ativi- dades na rea. Armazéns, trapiches e manufaturas se insta lam. As chacaras so loteadas. Pantanas séo aterradas e ruas abertas, entre elas a do Cemitério - 0 antigo Caminho da Gamboa, Antes mesmo que 0 trfico de escravos fosse dectara- 1) Perf esirargrficolsqnematicol do local de procedincia principal dos achards arguasitcos 1-1 is WPalba (2001), ef urg. ECareaibo (1996) FRIEDRICH PUSTKOW Suid, de 1850 Leograjia, 45. 19,3 em Acero Fundagao leliteca Nacional, Ro de facto OO itoral dar Sade w Gamba naa metade do siculo XIX 5) MARC FERREZ ‘a Saude, vd (Col Emilio Broma [19.2.2.115} convo Arguleo Geral da Cidade do Rio de Janeiro {ima eisdo do htoral da Satie logo depois da proclamagéo dda Repibiica, durante a neta da Armada contra 0 gover tno de loruano Pesoto, quando $4 era sate acenttad 0 adenscamento populactonal 4) Planta de Incalizagin da APAC-SAGAS. bars da Saside, Gamboa, Santo Grito parte do Contr do ilegal, quase toda regido do Valongo - que englobava a Gamboa, Saiide e Santo Cristo - ja estava integrada na malha urbana da cidade Ue ‘Dei uma caminhada grande; mas, sim, s senbor isto agi é bonito, é curioso: aquelas praias,, caquiel outros hairs. Gosto disso, Hei de vir mais vezes (Hala de Rubida, apos wn passeiv na Gamboa, in Quincas Borba, de Mavhado de Assis) 0 Projeto SAGAS — englobando os bairros da Saide, Gamboa e Santo Cristo e parte do centro —teve seu inicio em 1983, quan- do associagdes de moradores e representantes de entidades piblicas e privadas reuniram-se para discutir os principais problemas e caréncias entao exstentes na area Uma das questies consideradas mais graves foi a do uso do solo urbano. A legislagao existente, na época, permitia muitos abus0s, possibilitava alteragdes e atividades que, em grande medida, desrespeitavam ou contrariavam a histéria, tradi a cultura locais. Novas regras eram necessérias, no somente para evitar @ degradagao urbana naquela parte da zona portuaria, mas tam- bém para assegurar a manutencao de sua identidade cultural e permitir uma renovacéo mais equilibrada Como resultado, apés ampla discusséo com as comunidades, surgiu o decreto n° 5459 de 08/11/85, que estabeleceu parte dos bairros da Sade, Gamboa e Santo Cristo como area de interesse para preservagao, transformada, mais tarde, com 0 decreto n* 7351/88, em uma APAC - Area de Protepao do Ambiente Cultural Diversos bens histéricos e culturais — igrejas, fabricas, pinturas murais, vilas e cortigos — foram tombados e considerados Patriménio da Cidade. Cerca de 1.800 iméveis foram preserva- dos e os demais passaram a ser tutelados, como indicadores de um pasado rico em lembrangas e vivencias. Arquitetos do Departamento Geral de Patriménio Cultural comecaram a orientar, mediante implantagdo de um escritério técnica ( TEC - SAGAS ), moradores, usuarias e proprietarios nas reformas ou reconstrugdes de seus imoveis. Mudangas foram realizadas seguindo parémetros atualizados, procurando-se manter a originalidade, sem perder de vista o ritma e 2 vo- lumetria do conjunto edificado. Desde sua criagdo, o Projeto SAGAS ajudou a recuperar ou re- novar inimeros bens culturais nos trés bairros, contribuindo 10 € a renovagao criteriosa, evitando 0 estace 10 Vita da a Pad jonal Moinbo Rminens Foto Mtn it A Bela 5) Roe Santo Crise, antian Meadesto tet Foto MBean Scie. consid u port de 1 cononante prsenga Foto. Betands 5) xtalbe de arnane ‘eifcacao presen Foto St etandt ia da ra op Nis Sen 2. em tombe fd argues nee patna te lamento eo congelamento de um lugar fundamental na memoria da Cidade. ive da tern’, em idioma Quimbunde principio, os escravos eram enterrados em cemitérios ou em terrenos préximos das igrejas. Muitas vezes, porém, os corpos eram jagados nas praias ou abandonados pelas ruas Em 1655, 0s franciscanos destinaram um terreno junto ao morro de Santo Anténio, préximo ao atual Largo da Carioca para sepultamento de escravos indios e negros que, ja em 1709, estava repleto. Um dos mais antigos cemitérios foi 0 do Hospital da Misericérdia, Enquanto a populagao da cidade era pequena, assim como 0 trafico, o antigo e pequeno campo santo existente por trés do Hospital da Santa Casa, junto ao morro da Castelo {oi suficiente, $6 em 1798 ali foram enterrados 1.360 corpos O enterramento de pobres e escravos na Santa Casa “causa horror ao mais indiferente passante. Sem esquife, muitas vezes sem 4 menor peca de roupa sao atirados numa cova que nem tem dois pés de profundidade. Dois negros con- duzem 0 morto para a sepultura, em uma padiola ou rede presa @ & comprida vara, atiram-no no buraco, como a um céo mort, ‘péem um pouco de terra solta por cima e entdo, se por causa da pouca profundidade da cova, alguma parte do compo fica descoberta, socam-no com pesados taces de madeira, de forma que acaba ormando-se um harivel mingau de tera, sanguee @p| excrementos". C. Seiler (1834). "0 enterso é muito simples; faz-se uma cova profunda onde 0s corpos sé0 colocados. Antes de serem enterrados ai, so depositados sobre um estrado numa casinha que fica no ‘meio do cemitéro, até que haja um mimero suficiente de cor- pos. Entao é realizada a ceriménia finebre para todos eles, que séo colocados nas covas sem caitdes. Algumas vezes nus, mas rnormalmente envoltos em lona. Séo colocados de lado, geral- mente com a cabeca virada para os pés do outro. Nunca estive neste lugar sem que houvessem quatro ou cinco corpos esperando para serem enterrados e ao sair sempre me encon- trava com outros chegando". R. Walsh (1828) Sobre os funerais dos escravos neste antigo cemitério, Walsh relata que: "Diariamente pode-se ver seus corpos nus, jogados em velhas esteiras suspensas por uma vara levada por dois outros negros; seus bragas e pemnas geralmente pendem para fora atrastando-se no chao. Sao levados assim ao vasto cemitério ‘anexo 20 Hospital da Misericérdia. Ai séo jogados numa exten ssa vala, onde cheguei a ver de dec a doze corpos amontoados, ‘sem nem uma pé de terra sobre eles" Com 0 crescimento do trético, foi aberto um outro local para enterrar os escravos recém chegadas que morriam. Para 1) PIETER GODFRED BEKTICHEN lel. ¢ lab.) espa da Santa Casa da Misekcinta, €. 940-1860, Ligrafa, 4.0.8 43.5 cn, Col Maria Covi ¢ Pano Fontainba Goyer / Museu Inport ina iso da dv da Meri, destucandse 0 ange spade «teresa. © primeira cemitero de eseraves da dade fcava praxtmo ao moms do Castle 2) THUNT, seg. HENRY CHAMBERLAIN Funeral of negro Manares. 6.18 {qua tine clorida , 22.8 28,2 0m Acanvo Muss Castro Maya - IPHANAMING Ing MEA-33741 ‘Vina das formas mate comune dese condusir 9 cuelaver de tum exrave no Rio de lanetra 5) EDUARD MILDEBRANDT largo de Santa Rta, 18416 Quadro a dle sobre Aceme Sings Sabione Fadel A are om jrente a igre de Santa Rita fol, durante muito tempo, mda como cemitiro para os eseraves cen cba dos da Arica Acer Anguio Historic d Janewo ot POs Cruz (20000 Minsséro do Eien, Ri de 1) FRANCISCO JO40 ROSCIO. Phanta da Cidade do Ryo de faneyro Capital das Estados ‘do Brasil com Projo de Mia Trnsyra, 0 Fotifcaca Iigeyra Parte da Campanbea Panta Bem 1769, Mamscrtd, aguatrclada. 333 ¥ 482 Acero Mapoteci do Ministero cas RelagesExterores, Rio “de fanciro Foto B.Felico 12000) Fin desu no majue 0 tragado do antiga Camino a Gamboa, depers rc do Cemitrio deus rsa da Harn hoje, Pedro Ernesto. Ble ia a pra do Valogo a pra ita Gamboa 5) CAPITAO RAYMUNDO M. DES EVERARD lar da Marina lo Nore daa Cidade eS. Sebsti do ‘io de Janeiro com suas fortfcayoes. 1963. Cipaa man sera do orginal de 1794. Nanguim ¢ aquara sobre papel Hx 115 cm Acero Angie Hitrico do Minssero des Exit, Rio de janeiro Foto P. Oss Cz 12000) esta planta de 179, feta pete Capito Rayne Brerand, ees asia, no retin junto ay camino da Gamboa, um terres rele mii came send ‘Chicana do Iitendente isto, foi utilizado um amplo terreno defronte & lgreja de Santa Rita, construida no inicio do século XVIII 104 escravidao. GW. Freireyss, em visita ao Cemitério dos Pretox Novos (1814 escapam para sempre da emitério A transferéncia do mercado de escravos para o Valongo, no final do século XVII, implicou também na mudanga do cemitério dos pretos novos do Largo de Santa Rita para o Caminho da Gamboa. 0 local recebeu o nome de Cemitério dos Pretas Novos, assim como o antigo caminho passou a ser rua do Cemitério, depois da Harmonia e, hoje, rua Pedro Ernesto Em 1814, moradores do Valongo solicitaram a criagao, de uma nova pardquia, separada da de Santa Rita. A proposta incluia a transferéncia de terrenos, incluinda o Cemitério dos Pretos Novos, para a nova freguesia de Santana O vigatio de Santa Rita foi contra o desmembramento, sobretudo porque implicava “na perda dos rédites advindos dos trabalhos paroquiais exercidos no dito Cemitéro’. Aquestao somente foi resolvida em 1816, com o esta- belecimento dos limites entre as duas pardquias. Mas o vigério de Santa Rita manteve sob seu controle *o suspirado, e assaz interessante Cemitério", (Pizarro, 1822) Os escravos novos africanos em todos os aspects, inclusive na morte, recebiam um tratamento muito pior do que 45 escravos ladinos ¢ até mesmo os pobres em geral Sao raras as descrigdes sobre 0 Cemiterio dos Pretos Novos. Elas realgam a tristeza dos que o visitaram e o quanto este local era relegado ao abandono e descaso. Sabe-se que ja em 1770 encontrava-se funcionando Era um terreno muito baixo, a pouca altura do pantano, cerca- do por um muro precério. Possuia "50 bragas em quadra" (01 braga = 2,20 me- tros), sendo de pequeno tamanho relativamente ao nimero de ‘mortos que ali eram enterrados anualmente Dispunha apenas de um coveiro, oficio exercido por um negro que, as vezes, era ajudado por outros. Os corpos nus eram envoltos em esteiras, amarradas por cima da cabega e por baixo dos pés. 0 rito era sumario: de forma descuidada, sem abrir covas, jogavam um palmo de terra sobre cada um deles, langa- dos aos pares. Os sepultamentas eram feitos uma ver por semana, de modo que muitos cadéveres jaziam empilhados a espera de serem enterradas. 0 monte formado ficave exposto ao tempo e depois das chuvas, que carregavam a terra, muitas partes dos corpos se descobriam. De vez em quando, queimava-se um monte de cadaveres semidecompostas, Para completar este quadro, ¢ grande umidade do solo @ as casas ao redor impedindo a circulacao do ar acentuavam os desagradaveis odares emanadas do local. Pouco antes de sua extingdo, em 1831, 0 Senado da Camara denunciou & jurisdigao eclesidstica responsével, a maneira ‘indecente e inumana" como eram ali sepultados as cadaveres, solicitando providéncias junto aos vereadores para que tais estabelacimentos se formassem fora das pavaagées. Para os anos finais de existéncia do Cemitério dos Pretos Novos - 1824 a 1830, 0 Livro de Obitos da lgreja de Santa Rita registrou o sepultamenta no local de cerca de 4.000 esoravas recém chegadas - homens, mulheres e criangas, infor- mando também 0 nome e tipo dos navias que os trouxeram, a marca dos proprietarios e as *nacOes* ou portos de origem Pesquisa Arqueologica 0 estudo de ossos humanos encontrados em sitios arqueolégicos & uma importante fonte de conhecimento sobre as condigées de salide e aspectos socioculturais das antigas poptulagbes No sitio arqueoligica Cemitério das Pretos Novos a andlise biolégica dos ossos nao cremadas, apesar das condigdes precdrias nas quais foi realizado o salvamento, per- mitiu identificar cerca de 28 individuos, predominando jovens do sexo masculino, com idade estimada entre 18 e 25 anos Verificou-se também a presenca de adultos, de adolescentes entre 12.€ 18 anos e de criancas entre 03 e 10 anos. Um fato interessante a destacar é que mais da metade DiJ.A, DOS REIS ¢ PAULO DOS SANTOS FERREIRA SOLTO Planta da Cidade da Sa Sess ho Rio de faci, 1812. Gnecura sobre papel, 92% 125 cm scorn Mapeweca do Ministerio das Relayies Beteriones, Rio de janet Fin 2. Oneaido Cz (2000 Na planta da ciate encomendad ror juts, em 1812, 0 rnalado, mas sem gualguer identificagao, 2) EDUARDO CANABRAVA BARREIROS A cid ky Rao de faery nox princes a scl XIX. ase ms Panta Regia de 1SOSTS12, 1965 Foto M Blan [2001 (ate, ale ce ssn trees rtamgnitar fn 90, tam Toca do Comtério dos Pros bain o tdentitca com ‘Ouonts plantas posterioes da cidade continnam a indicar lado ipa dar, cde seria a Chiara de ited omg a tocalzaca do (s prinwirasestvias anueokiateos. assim vom as ores de dion recat doce, bier -anteiaiinsasb) Cemitirio dos Pretos Noes cava 10 lah ar da rua, 3) Fares cromandos de indiviluos adultos. No seguro exomplar it esquerda obsersam se marcas reverts canvas pt ato burma at. Foca MMatbvir: (2001) 2) Fragments de ss tnges eremades. As diforengas decor (de fractonamenta ndicam es tris gran de quia. Foto A Mabheirs (2001) S5)Mandibulas fragmented de adulko masculine lsu de ao jovem fominino fdietal. O exemplar menor ba (dena criana com lade stimaca entre 8-9 ans fom deta. a dentcao mista. Bio Mt Mates 2001) 6) Par de ental dents civ cemtrats superiors de Individuo adutta joe, Ox entates formam drguls mestiais nas cores. rss em tambo com consoyicnte rascal linge ‘ta dentine dda amostra estudada - que totalizou 5.563 fragmentos - trazia marcas de cremagéo, a maioria deles indicando que a queima ddos corpos foi efetuada apés o descamament. Atualmente esta sendo desenvolvido um estudo detal- hado sobre 0 processo de cremacao dos ossos encontrados no sitio arqueolégico. Um dos objetivos é o de conhecer as mudangas que ocorrem nos ossos e nos dentes sob aquecimento progressivo. A elevagdo da temperatura ocasiona alteragies na coloragao, na textura das superfcies e na morfolagia Sua identificagao possibilita reconhecer caracteristicas do processo crematorio; se efetuado antes ou apds a decom- pasigdo dos tecidos moles e a distancia da fonte de combustao. 0 exame dos ossos revelou outras importantes descobertas. £ 0 caso da presenga de entalhes nos dentes da arca- da superior (incisivos centrais e caninas). Isto significa que os individuos, ainda em vida, modificaram intencionalmente a forma de seus dentes. A pratica de entalhar e limar os dentes ¢ um costume bastante difundido na Africa. Efetuada sobretudo em jovens entre 14-e 20 anos, é usada para cumprir diferentes fungoes, entre as quais 0 embelezamento, a identidade tribal e os ritos cerimoniais e de iniciagao. Entalhes formando angulos mediais nas coroas ja foram descritos entre os Bantus da Africa do Sul , entre os Macuas de Mocambique e entre as tribos da for do rio Congo do baixo Zambese. Faram também observadas entalhes com um lado pontiagudo e outro arredondado, Os diversos entalhes identificados nas amostras do sitio arqueolégico do Cemitério dos Pretos Novos indicam a pro- cedéncia africana dos individuos ali sepultados. 17 Cntco case registra ce anemua ata por veusia ca i conn idee da erianga ston ene 6-5 aon Fae M Malin 2001) 21 Certimica Neo-brasiteira com deconaset do tipo es Trea Saar PATOLOGIA OSSEA - OSSOS NAO CREMADOS $1 Cenimice New baer, tra ponte la Fo i 12000 Muitas condigies patolégicas deitam marcas nos 4) cantnica Norbu de vs 108808 e, por isso, podem ser reconhecidas a partir do estudo de neta Remon amostras arqueolégicas. Fons Fiche 200K No sitio arqueoligico Cemitério dos Pretos Novos, as SFr aco lesées dsseas foram provocadas por fraturas, infecgdes, ane- Hist Maltree [2001 mmias e degeneracées. 651 os cect om edad se degen Um caso raro, em um individuo adulto, indicou que por Feowa M Mathes £200 longos periodos ele se manteve de joelhos. A alteragao dssea produzida nos dedos dos seus pés é um tipo incomum de degene- racdo, e foi descrita pela primeira vez por Ublaker, em 1979 (Sitio Ayalam, Equador, 700-1550 da era crista) Do ponto de vista dentério, a baixa ocoréncia de céries, associada a outras caracteristicas observadas, sugere que 2 populagao presente nesta amastragem do sitio arque- ol6gico possuia uma boa denticéo, Os africanos escravizados trouxeram para o Brasil muitas técnicas agricolas e artesanais essenciais para a vida cotidiana. Tal como os indias, produziram vasilhas de cerdmica de tipo e qualidade diferentes daquelas usadas pelo colo- nizador europeu. As pecas - tigelas, pratos, bacias, panelas, copos, tampas e talhas - eram utilitarias e confeccionadas a mao para consumo doméstico das unidades familiares, Também eram feitos de barra cachimbos, pesos de rede e rodelas de fuso Sao suas caracteristicas principais: * coloragao escura e grande resisténcia * decoragao por meio de incisbes de linhas simples ou parale- las, retas ou onduladas, associadas a desenhos formados por pontos. Combinam-se motivos de origem indigena; * presenga freqiiente de apliques (asas, algas e botdes) e , as vezes, de cabos, pedestais e fundos planos, elementos de pos- sivel inluéncia européia Estudos comparativos realizados na América do Norte constataram a semelhanga entre este tipo de cerdmica e aque- la que éfeita atualmente na Africa Ocidental Estes aspectos fazem da cerémica "Neo-Brasileira’, da qual foram encontrados indmeras tragmentos no sitio arque légico Cemitério dos Pretos Novos, uma das primeiras e impor- tantes tradigdes tecnoldgicas produzidas pela parcela domina- da da sociedade colonial e que até hoje sobrevive conhecida como cerémica regional” Outros itens de uso didrio, de produgdo local ou importados, foram também encontrados no sitio e refletem as tecnologias introduzidas pelo colonizador E nossa vontade que nestes reinos ndo deveré Stoneware fragmento de recipente unizado para guariia de beta, ‘ote. M Malbeis (2001) ocorrer nenbu ircto de escravos. Rei Alfonso do Congo, 1526 2c com deconacao ftomorfa em aio reer ‘at Seales 2001 No século XVI, a Africa foi alvo de intenso fluxo de mer- 5 € 4) StoneCbinat- lou fina inglesa, padradn em decatgue cadorias européias, apesar do esforco de alguns governantes Sn eee eee africanos em conseguir impedir 0 processo. ‘iB Yeronga Entre as principais, oferecidas em sinal de amizade ou na compra de escravos, ouro, marfim e especiarias, figuravam 05 ornamentos de metal e contas de vidro. As contas de vidro foram introduridas pelos portugue- es, por serem mais baratas. Mais tarde, foram também ado- tadas por comerciantes ingleses, franceses e holandeses como elementos de troca. Elas possuiam diferentes cores e tamanhos, eram fabricadas em varias regides da Europa. No inicio, as contas "exdticas" eram usadas de forma muito especial pelos membros de maior destaque na sociedade Foram encontradas contas fabricadas em Veneza, na Necrépole de Kapanda em Angola; um sitio arqueolégico do século XVII. No final do século XIX, as contas passaram a ser obti- das livremente, marcando definitivamente sua influéncia na @ ~ ‘moda e nos costumes de todo o continente africano. Um cemitério de escravos em Nova York a suciedade pode ser julgada pelo tratamento qu cudnerdveis Michael 1. Blakey ela dd aos seus membros mais Ele foi esquecido durante cerca de dois séculos, Sua meméria permaneceu soterrada, indicada apenas em velhos mapas @ por esqueletos que teimavam em aparecer naquela parte da cidade, entre as ruas Broadway, Duane, Elk e Reade, dois quilémetros ao narte de Wall Street Neste quarteirgo, na ilha de Manhattan, em Nova York, funcionou, de 1660 a 1796, um dos maiores e mais antigos cemitérios de escravos dos Estados Unidos, numa época em que cerca de 20% da populagao da cidade era de africans. Nele, foram enterradas de 10 a 20 mil pessoas, incluindo escravos, libertos,indigenas e brancos pobres. Em maio de 1991, durante a construgao de um prédio Piblico, as méquinas passaram a desenterrar caixdes esqueletos humans. Estudos comprovaram a existéncia do cemitério, mas, com a intensa urbanizagao ocorrida no século XIX, acreditava-se que seriam poucos os remanescentes, caso howvesse algum Mas 0s caixbes e esqueletos, juntamente com outros artefatos, continuaram a surgir em niimeros cada vez maiores A agéncia federal nao quis interromper as obras. Membros da comunidade afto-americana se mabilizaram, pedindo a sus- pensdo dos trabalhos @ a realizagao de pesquisas mais ade- quadas no local. Noticias sobre danos causados ao sitio provo- 13 Loge faa, puto Petrone caram indignagao, levando a atos de protesto, manifestacies ‘tM. Malis 2001 piiblicas e outras formas de agao. 2 fra pai Sl Bs Personalidades, artistas e politicos também vieram apoiar (© movimento, Em 1992, o primeiro prefeito afro-americano de Nove York conseguiu encaminhar a paralisagéo das esca- vagies, a formulagdo de um novo projeto de pesquisas ea idéia ato A, Malin 12000 Foto M Mates 3001 a construgdo de um memorial adequado, No ano seguinte, 0 5) Matera fore fore antigo cemitério de escravos de Manhattan passou a ser ofi- eer cialmente considerado um patriménio histérico nacional e municipal. Mais de 400 sepultamentos e 500 artefatos ja havi- am sido retirados do solo. Iniciou-se, entdo, um longo debate publica para resolver 0 que deveria ser feito em seguida: prosseguir com as Pesquisas ou promover os reenterramentos. 0 Laboratério de Antropologia da Universidade Howard, em Washington, apresentou um novo projeto, e foi decidide que ‘os remanescentes seriam submetidos a uma anélise criteriosa e cientifica. Os primeiros resultados evidenciaram: © a necessidade de se rever a histéria da escravidao no norte dos Estados Unidos. A presenca de africanos em cidades como @ Nova York seria muito mais significative do que se pensava: * a identidade étnica e cultural de muitos escravos, indicada pelos artefatos encontrados e pelos entalhamentos nos dentes; + as condigées de vida dos escravos, reveladas pelas lestes deformaries & doengas registradas nas estruturas dsseas Depois de terminados os estudos e analises, inclusive testes de DNA, 0 projeto prevé o reenterramento de todo o mate- rial em uma parte do sitio destinada para este proposito © préximo desafio sera a implementagao de um memori- al para homenagear aprimeira de forma visivel, geracao de africanos que contribuiu para a construgao histérica e cultural da identidade da sociedade americana Africa e 0 Comercio Atldantico 7 “Albulsu no rio /cal no corruplo Lfaz pusso macta d 1p Alter rt figmenle deeechee Zmus toma desvio / gue nunca sonbou, prey rareen anda, aonde estou? 1, 2) Pega Skea aft cia pingente com onde estou? erfuract contrat Intl = sce naturabmonte plidos Ascenso Ferreira, cantando o Maracatu foto Mt Matbetos 2010 2) cies de vit A principio, os portugueses tentaram capturar direta- Fes. sath 20041 mente as populagdes africanas para escravizé-las. Mas, com a resisténcia de varias tribos e a necessidade de maiores recur- 505, eles passaram a negociar os cativas com o apoio de gover- nantes locais - 0s sobas. Muitos reinos africanos - como os de Benin e Daomé cresceram organizando expedigées contra povos vizinhos. Os escravos passaram a vir de regides mais distantes do litoral Para facilitar o comércio e o armazenamento foram construidas feitorias e fortalezas préximas dos locais de embarque ou 20 longo dos sins Os escravizados eram trocados por armas, pélvora cachaga, fumo, tecidos, contas, ferramentas e barras de ferro. No Rio de Janeiro, cerca de 16 traficantes controlavam 4 maior parte do comércio de escravos entre o Brasil e Angola 0 lucro de uma Gnica viagem negreira era muito superior a receita anual de um grande engenho. Desde sua captura até o desembarque no Brasil, os escravos experimentavam, no minimo, cerca de um ano de cativeiro. Metade daqueles adquiridos no interior de Angola mor- riam antes de chegar ao litoral ou enquanto esperavam 0 embarque. Muitos africanos acreditavam, com terror, que eram escravizados porque: * sua carne seria devorada pelos brancos: * seus ossos serviriam para fazer pélvora * e seus miolos para fabricar azeite 0 pintor Rugendas deisou um relato da visdo dos pordes de um navio negreito: Esses infelizes so amontoados num compartimento cuja altura raramente ultrapassa um metro e meio. Esse carcere ocupa todo 0 comprimento e a largura do pordo do navio; af eles sao reunidos em numero de 300 2 500, de modo @ que para cada homem adulto se reserva apenas um espaco de cinco pés cubicos. Muitas vezes as paredes comportam, a meia altura, uma espécie de prateleira de madeira sobre qual jaz uma segunda camada de corpos humanos. Tados tém algemas nos pés e nas maos e séo presos uns aos outros por uma comprida corrente'. Time 4_marca é um obstdculo_ao_esquecimento: o proprio compo traz lembranga: 0 corpo é uma_meméria mpresso em si icos da Pierre Clastres No inicio do século XIX, mais de 70% dos escravas na cidade do Rio de Janeiro eram africanos. Havia uma extra- ordinéria diversidade étnica entre eles. A maioria era proveniente de vastas regides da Africa Ocidental, Central e Oriental. Predominavam os de origem Bantu, que falavam diferentes idiomas, como o umbundo, 0 quimbundo, o kicongo, 0 nagd eo macua Eram geralmente identificados com os portos de expor tagao ou a possivel area de procedéncia Havia, no Rio, pelo menos, sete "nagées" principais: Mina, Cabinda, Congo, Angola ( ou Luanda), Kassange, Benguela *% 16.2) Afican Burial Ground. Fina te Ele com Duane ‘Smet. no baixo Manbattan, Nova York. Neste lcal fos descobreae escavada parte do cemiteso colonial de escrav. Absao foto 2). 0 pid federal cu construg a reelont os promearas enteramentos Foto A. Ncolat! 11999) LRP “The prospect ofthe town and Castle del tina boing at XNE abt 2 mikes, 1732 Gravunn, 11x 35 0m. 4 Mapes exquemdtic das precip rtasterestres de eseraios na rgido da Affica Cental atiénnca, ¢.1750 1930 5). prieipass rots porto allsncos do comércio inagrtro entre o Brasil ea Afi ISKABL PEDROSA les (6) PIERRE ROCH VIGNERON see. RUGENDAS “Cabin” Quilon Rebel ina [Pars © 1827-1835 Acero Muss Castro Maye-IPHANIMinC [reg. MEA 35491 Mogambique, e outras, menos numerasas: Gabéo, Anjico, Moange, Rebola, Kajenge, Cabund4, Quilimane, Inhambane, Mucene, Mombaga Os escravos que os portugueses conseguiram na Africa Ocidental foram, de inicio, obtidos na costa da Guiné e quase todos pertenciam aos grupos sudaneses. 0 centro do comércio deslocou-se, depois, em diregdo sul, para 0 reina Bantu do Congo e, apés a fundagéo de Sao Paulo de Luanda, em 1575, para 0 reino de Angola, que mais tarde se estendeu para incluir Benguela. Muitos grupos africanos possuiam formas de identifi cago étnica. Os Angicos e Monjolos do norte do rio Zaire eram conhecidos pelas escarificagdes faciais - marcas cicatrizadas na pele do rosto, assim como os de Mogambique - Macuas e la6s, que também costumavam limar ou entalhar os dentes. “Muitos séo tratados ou marcados no rosto com Ivas, estrelas e mais sinais caracteristicos. A outros faltam-Ihes os dentes incisivos de cima ou limam-nos em ponta, processos esses de embelezamento africano que os tornam francamente +horrendos aos olhos de um europeu" ( E. Ebel, 1824). "Os de Mocambique tém os dentes incisivos limados e terminados em ponta e os de Madagascar so tatuados e tém por quase todo 0 dorso desenhos regulares @ muito bem feitos*(. Arago, 1817). ed {A escravidao levou consigo oficios ¢ aparethos, ‘umo terd sucedido a outras instituicdes sociais’ Machado de Assis Os governantes portugueses, desde 1519, tentaram estabelecer regras para o tratamento dos escravos africanos, incluindo a sua identificagao. Muitos, antes de serem embarcados, eram marcados com um ferro em brasa para indicar o seu proprietario, Geralmente, pertenciam ao pequeno grupo de negociantes que controlava 0 trafico negreiro, Eles possuiam representantes nos principais portos exportadores, onde adquiriam a carga sob encomenda Esta foi, possivelmente, a regra mais cumprida de todas. Dado o elevado indice de mortalidade durante as via- gens, era importante saber de quem seriam os sobreviventes. Recebiam na pele também o sinal da cruz, prova de que haviam sido batizados no ritual catélico Muitos recebiam a marca depois de desembarcados nos portos de destino ou entao eram remarcados. Outras regras, como 0 numero de escravos ou a quan- tidade de comida e bebida a bordo, raramente eram seguidas. As taxas de mortalidade durante a travessia do Atlantico variavam entre dez a vinte por cento, dependendo da época RE. 1) NICOLAS ELSTACHE MAURIN sep .M. RUGENDAS “Mozambique” (Negros Mogambigues) Pari, ¢. 1827-1835 Intografia, 35,4 x 35.8.m Acero) Muses Castro Marya HANAN (re. MEA 3852) Ontom a ~ Serra Ledo, / a guerra, a caga ao ldo, 2) Fors para a marcacdo de escravs ‘0 sono dormindo a toa / sob_as tendas 2 Eeresparax marca de mplidao! . 4) Difernts marcas de denficac dasecrave, com © poriio negro fundo, / infect, apertado, —indiagto da parted cots onde oes en fas ; : ood Onda Freud Sat a 1824 1830 imundo, / Tendo a peste por jaguar. Aer nq da Cire trpolana do Rode jeri 44 marca Indicaoa excravn de propriedade de Jodo Ales da Siew Porto, tacido de Cabsnda no bergantim Galan PB, finudo, / fo baque de um corpo ae mar: ‘gnc petto etrace. 41). marca dennis escravo penencente a Jes Lopes dar Costa Moreira jor, eindo de Mogambique no bergantin, Seis ce Fevereiro, PE: significa poo esqerdo E_o sono sempre corlado / Pelo arranco de_um Castro Alves . 5) Marca em exenavo trazido de Bengucl, em 182%, 0 Diversas embarcagoes foram utilizadas no trafico de ‘ergantin Dezengano ¢ enterado a mando de joaquin escravos africanos. Ansinio Perera, PE significa peo esquerdo, 4 6) Pagina do registro de scrve encom no patch Na comego, eles eram trazides na caberta ou no convés, yest precedente de Srvgnel. a coli de xg, © das caravelas ou das naus. snnve de baton creda na da dirt, a indica das ; Iara parte do corpo nde fora fas Depois, com o crescimento do negécia, foram empre- gadas embarcagées mais rdpidas e com maior capacidade: os 7,44 70K DIscowincapo Plan and section of slave ship esta to gi the spect bergantins, 0s patachos, as sumacas e as charruas. Elas per- fr de ofthe sens ofthe rans ae ae mitiam o transporte de 400 a 600 escravos. Dimensdo do nario neyretro “Brcokes", na escala de cen E, mais tare, foram construdos navi cm diversas “nna "2 nm Pr tae cobertas, projetados especialmente para o tratico, Abie fale bya aem wiki eco cage Nos navios de trés cobertas, os homens viajavam no 14 divsito dos escravns ensre bomen, mulheres e criangas pordo inferior, as mulheres no intermediario e as criangas e gestantes no superior Nos navios menores, os homens iam no pordo, com as mercadorias, as mulheres nas cabines e os jovens no convés. Com a especializagao, os armadores forneciam plantas que ensinavam a ‘arrumar* a maior quantidade de cativos. No final, navios a vapor chegaram a transportar até mil escravos, @ por viagem. Entre 1799 e 1816, apenas no Rio de Janeiro, foram negociadas 390 embarcacdes para o tréfico negrero, sendo 172, bergantins e 37 galeras, além de sumacas e corvetas, todas nus de longo curso Mé 1700, @ maioria dos africanos trazidos para o Brasil eram embarcados em portos na Guiné & no Congo Durante 0 século XVIII predominou a regiéo do Congo e da Angola. A cidade de Luanda foi 0 maior porto exportador de escravos, Outros portos importantes foram o de Benguela, Ambriz e Cabinda. Entre 1750 e 1800, 599 navios transportaram 205.253 escravos do porto de Benguela para o Brasil Foi somente depois da chegada da Corte portuguesa no Rio de Janeiro que a regido de Mocambique foi incorporada ao trafico atlantico de escravos, como resultado dos esforgos de traficantes cariocas. Os principais portos de embarque eram Mombaga, Quelimane ¢ Inhambane. Valongo, o Mercado de Escravos “Depois de desembarcados eles sao levados para os depésitos, e expostos. £ um espetaculo triste e revoltante ver aquela ‘massa negra de corpos, onde se distingue apenas o branco dos @ alhos e dos dentes. A maioria é de verdadeiros esqueletos'. (launay e Denis - 1824) "Os negros recém-chegados causam uma impressao horrivel. E um espetaculo que deixa dividas sobre sua humanidade: 2 boca aberta, um olhar parado, inexpressivo ¢ assustado, Os movimentos sao desengoncados e canhestros Vendo um macaco sem seus pélos tem-se a tentagao de considerd-lo homem, antes que a0 negra que acaba de ser arrastado de sua longinqua patria’. (C. Seidler - 1824) “A lojatinha cerca de 300 criancas, machos e fémeas. 0s mais velhos teriam entre 12 ou 13 anas e os mais novos nao mais que 6 ou 7 anos. AAs pobres coisinhas estavam agachadas em um imen- 0 depésito, meninas de um lado, meninas de outro. Tudo 0 que vestiam era um pedago de pano azul e branco amarrado na cin- tura, Se nao estivessem separados, seria impossivel distinguir as garotos das garotas. Ocheiro eo calor do aposento eram opressivos e repug- nantes. Meu termémetro de bolso marcava cerca de 35 graus". (C. Brand - 1827) “assim que o comprador entra o vendedor faz um sinal todo o harém se agita, e comeca a gritar e a dancar, como se para provar que tém pulmdes e que compreendem a maravilha a servidéo, Infelizé aguele que nao imita seus companheiros. 0 chicote bate no seu flanco e pedagas de came negra voam pelo ar’. (), Arago - 1817) 1) ISIDORE LAURENT DEROY, se, RUGENDAS *Negres «0 Fond de Calle” (Negros no por de un nario) [Pars 127-1835 Inografa, 35.8 55,4 om Acero Muses Cath Maye IPLAN MinC Ig. MEA 3559) 2) ISIDORE LAURE DEROY & LEON JEAN BAPTISTE SULATIER, sey JM, RUGENDAS ‘Deburauement”(Desembarqiae de escrives), (Par rusrajia colorida 39.7.8 55,5 0m ‘Acero Musius Castro Maya IPHANAMNC reg MEA 3515) 1H, AIKEN E HENRY CHAMBERLAIN “Toe Slave Marker (Mercado de Esraves) [Pars 1822 Agua tnta colori sobre papel, 196 $ 28.260 Acero Museus Castro Mutya IPHAN/MinC frog, MEA 3376) 4 JEAN BAPTISTE DEBRET (el) € THIERRY PRERES (th) Lge (sc) a Ru ho Valo’. 1820-1830 Aquareta 17, 5 26,2 ‘Acero Muses Castro Maya IPHANMINC (reg MEA 2511 5) AUGUSTUS EARLE (del) € EDWARD FINDEN tsps) ‘lane Marke a Ro de Janeiro (Mencia de escrave no io de Janesro), 1824, Graeura 18.5 24,50 Gerca de 40% dos escraves desembarcados no Rio de @ Janeiro morriam antes de se passarem quatro anos. Conclusées Painel 18 A _verdade con esque ste wn dever de membria, principalmente em relacdo ao que doi e incomoda.” Jacques Le Goff Os resultados da andlise feita pela antropologia biolégica, embora preliminares, apontam para uma possivel confirmagao de aspectos da escravidéo no Brasil jé indicada pelos historiadores: © a maior parte dos atricanos trazidos pelo tréfio tinha entre 10 e 25 anos de idade; * eles pertenciam a diferentes grupos étnicos; * havia grande predominancia do sexo masculino; * ocorroria cremagao dos corpos como meio de agilzar os enterramentos. {D IIDORE LAURENT DEROY, seg. JM. RUGENDAS Marcsé cues igre (Merc ce neg) (Parc. 1827 fer Muses Casi» Maye tPHAN MING reg. MEA 3355 2) Pan HarvotHarring (ie. “Inspection de négresex nowlloment débarguses de Laprigue® Cpoca de negra rei chads da Africa) SD, pial 20,7 320 tuto Morcia Sales, Rio cde JantraSio Paulo ad Manuscrtas ‘Arquivo da Curia Metropolitana do Fi de Janeiro wo de Obitos-Freguesia de Santa Rita (1824-1830) ‘Arquivo eral da Cidade do Ro de Janeiro Cemitrio dos “negros novos" = ‘moro da Sate, Valongo.Ccice 58- 2 wos de Lancamento de Imposto Preial Urbano Santa Rita / \Candetra / Santana, 1810/1830 “Project de Construegao com aproveitamento das meiagtes lates’, constando de planta bai, fachadae vista lateral Rua da Harmonia 36 2508/1913 {oe 2219) equi Nacional Fundo: Col. Série Sauda - Ministero o Reino e do Impéio *Provedoria da Saite-Oteins © Documents Diverscs'-| $42 1818/1828 -SDE Impressas ‘ARACO, Jacques Etienne Vielor- Souvenirs d'un aveuge. Voyage autour du monde pat Jacques Arago. Tome Premier. Paris, H. 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