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A sintese a partir do funcionalismo de Malinowski teria que iseada_num outro plano, Nao poderia mais realizar-se no plano da histéria determinada pelo progresso, mas com. a posi¢ho relativizada que permite cada vez mais estudar outras sociedades sem os pi dogmaticos de teorias que izagio. Realmente, a par- até o estruturalismo de Lévi-Strauss e Louis Dumont, tudo deverd estar submetido ica. Neste movimento, nunca o postulado classico das istéricas do conhecimento sociolégico foi ado tio a sério, Assim, € 0 proprio sintetizador do m ais for davel analise de sistemas simbélicos jamais realizada ciplina, exceto talvez pela monumental proeza evoluci de Sir James Frazer no Ramo Dourado (1890), <0 meu livro € um mito da mitologias, de Lévi-Strauss, observa, no se poupa como investigador, Bl colocando-se, corajosamente, nela (cf, Na historia da antropologi: que duas vertentes fveis, A pri esta representada pelo evolucionismo, onde existe uma pers- pectiva totalizadora, uma sociedade tomada sempre como ponto de referéneia indiscutfvel e uma teoria histériea que permite alinhavar todos os costumes em termos de valores muito importantes ao sistema ocidental. O segundo paradig- ma, representado pelo funcionalismo cristalizado com Mali- nowski, mostra uma tendén senvolver uma visio parcial, mas estremamente acurada da Operagéio das sociedades humanas. Se o evolucionismo tem Por um lado a vantagem de possuir uma posigao globali- zadora, néo perdendo de vista os costumes de toda a huma- nidade, por outro ele tem a desvantagem de no poder per- ceber as forcas concretas que movem os sistemas sociais nio- "es a0 observador o qual tende a interpreté-los pro- jetando neles os seus préprios valores, 3. Uma Antropologia da Histéria? Se deixarmos de integrar a diversidade humana por meio de um continuum postulado, como a dimensio histérica, como 106 entdo poderemos rounir novamente as diferencas sociais e culturais? A pergunta certamente pesa como chumbo na ca- bea de todos os antropélogos sociais a partir da demarche funcionalista que revelou claramente a diversidade humana, ser simultanea- que a pesquisa antropolégiea era um caminho que exigia um duplo movimento: uma viagem de ida, em direcio ao «sel- vagem> desconhecido e confundido em meio a costumes exé- ticos ¢ irracionais; e uma viagem de volta quando 0 etnélogo reexamina seus dados e os integra no plano mais profundo das escolhas humanas. Descobre-se entio que aquilo que se chamou de exético ou de irracional 6 apenas a forma expli- cita de um trago conhecido em sua prdpria sociedade, $6 due, entre nés, este traco esté implicito, 1, para usarmos uma expresso que entrou em moda depois de Lévi-Strauss, ‘inconsciente. Malinowski, que realmente descobriu essa. gem dupla, grande argonauta que foi da nossa disciplina, jento com clareza quando discutiu jeado social dos colares e braceletes trocados nos fan- cireuitos do kula melanésico que envolviam as popu- lagées tribais das Thas Trobriand is magicos e grandes expedigdes ri Como se sabe, os objetos trocados no cireuito do hula sio ou muito pequenos para serem usados por pessoas adultas, ow muito valiosos © grandes de modo quo seu uso é prati- camente banido, exceto — como indica Malinowski (1976: 79) — em dias de grande festividade. Mas entéo, pergunta conosco Malinowski, qual a finalidade deste enorme trabalho de trocé. sociais estabelecidas? Qual o seu valor? A resposta vem, camente, duma comparagio com algo conhecido do p: antropélogo, algo que faz parte do seu mundo social ‘oa britaniea, felas e pesadas e ouviu, tal como em d, as narrativas sagradas que associavam cada peca 107 dora, capaz de elucidar, na perspectiva antropolégica a mais auténtica, o significado social desses objetos numa e noutra cultura, Ou melhor, numa cultura pela outra, Assim, quando Malinowski ouviu tais histérias, péde compreender em que ponto do eixo que chamamos de «valor» poderia situar os objetos trocados no cireuito ula dos trobriandeses e — si- multaneamente, por meio da relativizagio antropolégica — entender a posigo das jéias da coroa no nosso sistema, Como ele mesmo diz, numa passagem de inexcedivel sensibilidade: ou (ef, Lévi-Strauss, 1970: 281). Claro esti que os dois diagramas correspondem, grosso modo, a essas duas modalidades de reflexiio sobre a reali- dade humana, E, mais, 0 primeiro esquema pretende ser a tradugdo grética’ do texto de Lévi-Strauss que se segue ¢ que, por si s6, suponho, exprime a razio de ser do grafico acima desenhado: «0 etnélogo respeite a histéria, mas nfo Ihe dé um valor privilegiado, Ele a concebe como uma pesquisa comple- ‘mentar 3 sua: uma abre o leque das sociedades humanas no tempo, a outra, no espaco, E a diferenga é ainda menor do que parece j4 que 0 historiador se esforga em restituir a imagem das sociedades desaparecidas (...); enquanto que o eingrafo faz o melhor que pode para reconstruir etapas histérieas que precederam, no tempo, as formas atuais> (os grifos sio meus). Devo observar que Lévi-Strauss ndo esta negando (como afirmam alguns criticos) o valor da histria. Apenas esté dizendo, e @ historia da antropologia © apéia de modo integral, que a abordagem antropolégica (diagramada em meu segundo esquema) 6 uma alternativa legitima para o estudo do homem. E continua Lévi-Strauss: de simetria entre histria e etnologia pa- contestam, impli- cita ou explicitamente, que o desem no espago e a sucessio no tempo oferecam perspectivas equivalentes. Dir-se-ia que, a seus olhos, a dimensio temporal goza de um prestigio especial, como se a diacronia criasse um tipo de inteligibilidade no apenas superior ao que traz a sineronia mas, sobretudo, de ordem mais espe- cificamente humana». Procurar saber o porqué deste privilégio da ronia é buscar entender por que a tre nés e isso, como veremos mais adiante, corres- ar uma relativizagio do que chamamos de his- jorém, uma outra passagem critica de Lévi- ut

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