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Faculdade de Direito.
Campus Macaé.
2010/01
Análise Jurisprudencial
Transfusão Sanguínea em praticantes da seita
“Testemunhos de Jeová”
Avaliação complementar para composição da nota da primeira prova referente á disciplina
de Teoria Geral do Direito Privado.
Macaé – Rj
Análise jurisprudencial
Poder Judiciário do Rio de Janeiro
Agravo de instrumento N* 2004.002.13229
Tribunal de Justiça
Décima Oitava Câmara Cível
Registrado em 23/02/2005
O referido acórdão foi anexado ao fim deste trabalho de análise para melhor facilitar a
compreensão do mesmo.
As partes destacadas em negrito constituem trechos do documento original, sendo o restante
comentário das autoras deste trabalho assim como informações consideradas relevantes para a
realização das mesmas.
As Testemunhas de Jeová acreditam que a alma é o sangue por isso não admitem a
transfusão de sangue, alegando que não se pode passar a alma para outra pessoa, pois a
pessoa estaria desobedecendo ao mandamento de amar a Deus com toda a alma.
Entendem que esta proibição foi dada à humanidade em geral visto que foi
transmitida por Deus por meio de versículos bíblicos dos quais podemos destacar:
Gênesis 9:3-5 : "Tudo o que se move e vive vos servirá de alimento; eu vos dou tudo
isto, como vos dei a erva verde. Somente não comereis carne com a sua alma, com seu
sangue. Eu pedirei conta de vosso sangue, por causa de vossas almas, a todo animal; e ao
homem que matar o seu irmão, pedirei conta da alma do homem."
Levítico 7:26, 27 : "E não deveis comer nenhum sangue em qualquer dos lugares em
que morardes, quer seja de ave quer de animal. Toda alma que comer qualquer sangue,
esta alma terá de ser decepada do seu povo."
Sendo assim, pela sua crença deve-se oebedecer a “lei sagrada” mesmo em casos em
que se corra risco de perder sua vida.
Os familiares recusavam o procedimento. Foi questionado se havia algum tratamento
alternativo á transfusão sanguínea ao qual a paciente pudesse ser submetida. Sendo
declarado que não havia tratamento alternativo COM MAIOR EFICÁCIA E COM
MENOS RISCO À PACIENTE que a hemotransfusão pelo qual a paciente
sobreviveria em boas condições quando em resposta ao tratamento.
Embora nao mais eficazess e com menores riscos, existem sim alternativas à
hemotransfusão como: a transfusão autóloga, a hemodiluição normovolêmica, a reposição
dos substratos necessários à hematopoiese ou o uso do chamado “sangue artificial”; Que, na
maioria dos casos, também podem substituir de maneira satisfatória o procedimento.
É norma que cada Testemunha de Jeová, desde que seja um membro batizado,
adulto ou menor maduro, traga sempre consigo um documento de identificação onde está
exposta a sua clara recusa em receber sangue total ou qualquer um dos seus quatro
componentes principais, bem como a sua recusa em usar procedimentos clínicos que
incluam o armazenamento de sangue para posterior infusão.
“Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito
de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável.
Parágrafo único: Não estando o idoso em condições de proceder à opção, esta será
feita: II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser
contactado em tempo hábil”.
As transfusões não são uma prática médica isenta de riscos, sendo que a decisão do
uso do sangue é tomada pelos médicos quando acreditam que os benefícios são maiores que
o riscos. Entre as complicações há : falha humana, falta de controle de qualidade, hemólise
e contaminação.
Entre as doenças e infecções passíveis de transmissão constam : hepatite, Aids,
citomegalovírus, hemocromatose secundária e sensibilização, entre outras.
(http://www.anvisa.gov.br/sangue/hemovigilancia/boletim_hemo_2009.pdf)
E, caso ainda existisse alguma dúvida quanto á este direito considerado evidente pelo
desembargador que seja visto o que determina o novo Códico Civil em seu artigo 15.
Este diz que: Ninguém pode ser constransgido a submeter-se com risco de vida a
tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Sendo isto nada menos que a expressão legal de um dos direitos da personalidade os
quais apenas cessam-se com a morte encefálica do indivíduo.
(Página 02)
"Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei".
Aquele que violar esse direito cairá nas sanções do Código Penal quando este trata
dos crimes contra a liberdade pessoal e em seu artigo 146 preconiza:
Contudo, o próprio Código Penal no parágrafo 3º desse mesmo artigo 146, declara:
A dupla, autora desta análise, concorda com a decisão á cima considerando o caso
de conflito entre direitos fundamentais, busca que se preserve a vida, direito fundamental,
garantida constitucionalmente como bem inviolável máxime do nosso ordenamento e
protegida pelo Estado com prioridade, uma vez que constitui suporte indispensável para o
exercício de todos os demais direitos fundamentais que, em conjunto, formam o substrato.
Porém não consideramos que este direito á recusa se torne mais importante ao
indivíduo que sua própria vida. Ressaltando ainda que neste acórdão analisado, esta decisão
de recusa não foi manifestada diretamente pelo indivíduo, mas sim por seus familiares.
Logo consideramos que a transfusão deve ser feita principalmente neste caso, pois
mesmo conhecendo as manifestações religiosas do indivíduo, trata-se de um caso de risco
de vida, assim consideramos que apenas este pode ser considerado “capaz” de tomar uma
decisão desta magnitude.
Análise jurisprudencial 2
Poder Judiciário do Rio de Janeiro
Agravo de instrumento N* 2007.002.09293
Tribunal de Justiça
Décima Oitava Câmara Cível
Registrado em 27/06/2007
O referido acórdão foi anexado ao fim deste trabalho de análise para melhor facilitar a compreensão
do mesmo.
Tendo em vista a menor complexidade deste acórdão estão não irá se ater á citar os trechos
presentes no documento original. Apenas focando-se nas considerações finais discutidas pelas
autoras e o parecer exposto pelas mesmas.
Faz-se saber, para melhor compreensão do caso, que a mulher em questão fazia
parte de uma seita religiosa denominada “Testemunhas de Jeová” a qual determina, em sua
doutrina, que seus adeptos não devem submeter-se a procedimentos da estirpe da transfusão
sanguínea visto que se fundamentam em passagens bíblicas conforme as mencionadas na
primeira análise que compõe este trabalho.
Tendo em vista o fato de a referida mulher não ter contraído nenhuma espécie de
doença em decorrência da transfusão, consideram os desembargadores a anexação dos
documentos em questão claramente indispensáveis para que se solucionasse a lide, em
concordância com o juiz que havia julgado o caso recursado.