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DO DIREITO PATRIMONIAL

DO REGIME DE BENS ENTRE OS CÔNJUGES

Introdução

O presente trabalho tem por objetivo estudar o regime matrimonial na


sua condição de conjunto de regras que regulamenta a sociedade conjugal em
relação ao direito patrimonial, que se encontra disciplinado na lei nº. 10.406/02,
Código Civil, parte do Título II do livro IV. Além disso, verificar o que o regime
matrimonial estabelece efeitos jurídicos dos seus atos em relação a terceiros
que lidam com os cônjuges.

No decorrer do trabalho estudar-se-á, de forma não exaustiva, já que se


está tratando de assunto complexo e que em alguns pontos apresentada
posicionamento doutrinário diverso, os princípios fundamentais que norteiam o
regime matrimonial, a questão da mutabilidade motivada, variedade de regimes
estabelecida em lei, livre estipulação, administração e disponibilidade dos bens,
atos dos cônjuge e suprimento da autorização conjugal.

1. Aspectos Gerais

Entende-se por regime de bens o regramento das relações patrimoniais


e econômicas entre os cônjuges, e entre estes e seus filhos. Orlando Gomes
diz que o regime matrimonial “é o conjunto de regas aplicáveis à sociedade
conjugal considerada sob o aspecto dos seus interesses patrimoniais; em
síntese, o estatuto patrimonial dos cônjuges”; o ordenamento institui formas
jurídicas que tratam do patrimônio existente antes do casamento ou na vigência
desse. Assim, torna-se necessário estabelecer as diretrizes que regerão a
relação patrimonial dos nubentes.

Com o Código Civil de 2002, passou a vigorar no ordenamento jurídico


brasileiro quatro regimes de bens: comunhão parcial (art. 1.658); comunhão

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universal (art. 1.667); participação final nos aquestos (art. 1.672); separação de
bens (art. 1.687). Sendo assim, os cônjuges têm a possibilidade de escolher
um desses regimes antes do casamento, tudo através do "pacto antenupcial".

2. Princípios norteadores do regime de bens

Verifica-se que os princípios além das características de abstração e


concretude entre os valores e as regras, são dotados de um pluralismo, já que
a ordem jurídica não pode ficar sujeita a um só princípio, pois necessita sempre
de complementação aos diversos enunciados genéricos carentes de
proclamação.
A aplicação e a ponderação dos princípios são imprescindíveis para
garantir o equilíbrio entre os valores da justiça e da segurança jurídica, no
sentido de garantir o constante aperfeiçoamento da ordem jurídica. A partir
disso, o regime de bens também é regido por princípios próprios, quais sejam:
principio da imutabilidade ou irrevogabilidade; principio de variedade de
regimes; principio da livre estipulação.

2.1. Princípio da Variedade de regimes

O princípio da variedade de regimes previsto no parágrafo único do


artigo 1.640, do CC/02, confere aos nubentes a possibilidade de escolher de
um dos vários tipos de regimes de bens.

A lei coloca á disposição dos nubentes quatro modelos de regime de


bens. São eles:

Comunhão Parcial – previsto no art. 1.658, do CC/02, também denominado


como legal ou supletivo, é o regime que prevalece no silêncio dos consortes
em relação ao pacto antenupcial, ou, se o fizerem, for nulo ou ineficaz,
conforme art. 1640, caput. Caracteriza-se, ainda, por estabelecer a separação
dos bens adquiridos antes e na constância do casamento.

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Comunhão Universal - previsto no art. 1.667 do CC/02, é um regime
convencional que deve ser estipulado em pacto antenupcial, estabelecendo a
comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges. São
excluídas as hipóteses elencadas nos incisos do art. 1.668 do diploma legal ora
citado.

Participação final nos Aquestos – estabelece o art. 1.672 do CC “no regime de


participação final nos aquestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio,
consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, á época da dissolução da
sociedade conjugal, direito a metade dos bens adquiridos pelo casal, a título
oneroso na constância do casamento". É o regime que deve ser estipulado em
pacto antenupcial, no qual, durante a constância do casamento, aplicam-se as
regras da separação total e na dissolução do matrimônio aplicam-se as regras
da comunhão parcial de bens. Por esta razão, é considerado um regime misto.

Separação obrigatória de bens – disposto no artigo 1.687, trata-se de regime


em que os bens permanecerão sob administração exclusiva de cada cônjuge
que, poderá alienar e gravar de ônus real.
Duas espécies são observadas: a) a convencional: aquela ajustadas pelas
partes; b) a legal ou obrigatória: aplicável às situações prevista no art. 1.641
do CC/02, não sendo necessário o pacto antenupcial, o qual tem por objetivo
regular as causas suspensivas da celebração do casamento e proteger os
menores de dezesseis anos, os maiores de sessenta anos e as pessoas que
necessitam de suprimento judicial.
Nesse sentido, afirma Maria Helena Diniz diz:

Parece-nos que a razão está com os que admitem a


comunicabilidade dos bens futuros, no regime de separação
obrigatória, desde que sejam produto do esforço comum do
trabalho e economia de ambos, até o princípio de que os
consortes se constitui uma sociedade de fato ou comunhão de
interesses. (DINIZ, pg. 170)

2.2. Princípio da Livre Estipulação (Autonomia Privada)

Basicamente, é o ato de livre escolha dos cônjuges em relação ao


regime de bens a ser adotado em um casamento. Pode-se dizer que esse

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elemento nuclear tem como objetivo proporcionar aos nubentes a liberdade de
estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver antes do matrimônio, ou
seja, regulamentar os interesses econômicos decorrentes do ato nupcial,
conforme bem determina o art. 1.639 do CC/02. No entanto, esse princípio não
é absoluto, pois como condição de prevalência desse, não pode haver
convenção ou cláusula contrária à lei, sob pena de nulidade do pacto nupcial e,
consequentemente, a aplicação do regime legal de separação de bens; os
princípios de ordem pública, os fins e a natureza do matrimônio devem ser
respeitados. Sobre tal idéia, estabelece o art. 1.655 do novo diploma legal que
é nula a convenção ou cláusula dela que contravenha disposição absoluta da
lei, o que, expressamente, acaba por relativizar a livre estipulação.
Vale dizer que, além desses quatro regimes legais, há a possibilidade de
os nubentes inovarem nesse sentido, melhor dizendo, podem preferir um
regime misto, o qual é oriundo da combinação desses, ou, até mesmo, eleger
um regime distinto exclusivo, não deixando de observar a lei. Em relação a
essa questão, diz João Andrades Carvalho:

Partindo da liberdade de escolha como caráter marcante do regime


matrimonial de bens, podem os nubentes optar por regras próprias na
organização desse regime. (...) E como todo o contrato que pretende
eficácia no mundo jurídico, essa convenção antenupcial há que se
amoldar a determinadas regras inscritas na lei. Quando a lei permite
aos nubentes a estipulação "do que lhes aprouver", ela se assegura a
reservatio mentalis de que essa liberdade tem uma dimensão jurídica,
situada dentro do ordenamento legal vigente. Não se trata de uma
liberdade sem limites, ou de um desmesurado direito de agir. Há um
espaço legal que não pode ser invadido nem desrespeitado pelos
nubentes. (Carvalho, 1996, p. 31) (livro: Regime de Bens. Editora
Aide.)

Assim, nota-se vigorar no CC/02 a flexibilização do regime de bens entre


os cônjuges ou, como prefere Venosa, a plena liberdade para os interessados
na elaboração da escritura antenupcial, apenas encontrando obstáculos nas
normas de ordem pública.

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2.3. Princípio da Indivisibilidade

Trata-se de postulado por meio do qual se prega a impossibilidade de


fracionamento de regime em relação aos cônjuges. Neste sentido, o regime de
bens é uno, diante da isonomia constitucional entre o homem e a mulher.
Entretanto, como toda a regra apresenta exceção, esta não se faz diferente,
pois figuram como exceções a esse princípio disposto no artigo 1.572 §3º, do
CC/02 (separação remédio), cujos bens reverterão ao cônjuge enfermo, que
não pediu a separação, o remanescente dos bens que levou para o casamento,
bem como os efeitos do casamento putativo, quando um só dos cônjuges
estiver de boa-fé disposto no artigo 1.561,§1º, do CC/02.

2.4. Principio da Imutabilidade ou Irrevogabilidade

No Código Civil de 1916, estabelecia a irrevogabilidade ou


inalterabilidade do regime de bens, que devia perdurar enquanto subsistisse a
sociedade conjugal. Antes da celebração poderiam os nubentes alterar o pacto
antenupcial, para alterar o regime de bens, mas após o casamento, este
tornava-se imutável.
O regime de bens assentava, com efeito, em três razões principais: a) o
contrato de casamento, que era concebido com um pacto de família, inalterável
por vontade dos cônjuges; b) o propósito de evitar que a influência exercida por
um cônjuge sobre o outro pudesse provocar abuso dessa ascendência para
obtenção de alterações em seu benefício; c) a defesa de interesses de
terceiros.

Porém com o Código Civil de 2002, tal princípio que tem como primordial
função, evitar que um dos cônjuges abuse de sua ascendência para obter
alterações em seu beneficio, resguardando também os bens de terceiros
interessados que ficam protegidos contra mudanças nos regimes de bens,
deixou de ser absoluto, segundo o art. 1.639, § 2°, ou seja, que admite a
mutabilidade de regime de bens no curso do matrimônio, temática que será
abordada a seguir.

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2.4.1 A mutabilidade do Regime de Bens no Curso do Casamento

Antes do Código Civil de 2002, excepcionalmente, era autorizado a


mutabilidade do regime de bens, como sgue:

a) Art. 7º, §5º, da Lei de Introdução ao Código Civil, (Decreto-Lei 4.657/42),


contempla a situação do estrangeiro que venha a se naturalizar brasileiro, na
entrega do decreto de naturalização optar pelo regime da comunhão parcial de
bens com a anuência do outro cônjuge.

b) Súmula 377 do STF que declarou que se comunicam os bens adquiridos na


constância do casamento celebrado sob o regime da separação legal de bens.
Permitiu o reconhecimento quanto à colaboração e o esforço comum dos
cônjuges.

O Código Civil/02 permitiu a alteração do regime de bens no curso do


casamento, § 2º, art. 1.639 afirmando que "é admissível alteração do regime
de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os
cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados direitos
de terceiros". (grifo nosso)

Os requisitos necessários ao acolhimento do pedido de alteração de regime de


bens são:

a) autorização judicial;

b) pedido conjunto dos cônjuges;

c) exposição dos motivos;

d) comprovação, perante o juiz, da veracidade das razões;

e) ressalva dos direitos de terceiros.

Argumentos contrários aos requisitos exigidos para a alteração do regime de


bens:

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I. a escolha inicial pelos nubentes na ocasião da habilitação para o casamento
é extrajudicial (de lege ferenda) e não tem de ser motivada. O pedido de
alteração poderia ser procedido mediante procedimento extrajudicial, através
de escritura pública, ao modo do pacto antenupcial, no Juízo competente para
conhecer dos Registros Públicos, sendo homologado pelo Juiz, que
determinaria sua averbação no Livro competente, para garantir a eficácia de
todos os atos e obrigações assumidas anteriormente por um ou ambos os
cônjuges, observando a ressalva de direito de terceiros.

II. ao Estado não deve competir, também, a análise e o conhecimento dos fatos
que motivam o casal alterar o regime de bens que rege a comunhão de suas
vidas. Isso é assunto íntimo, privado e diz respeito apenas a vida daquela
família.

III. fere o princípio constitucional do não-intervencionismo (artigo 226,§7º da


CF/88), inserido na parte das disposições gerais do casamento, Título do
Direito Pessoal, norma de direito geral que deve ser observada, em prioridade,
pelos demais artigos que regulam tal matéria. Art. 1.513, CC/02, que determina
o seguinte: "é defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir
na comunhão de vida instituída pela família". Assim, podemos afirmar que a
exigência de expor os motivos e comprovar a veracidade das razões está em
desacordo com a lei, porque vai de encontro ao princípio do não-
intervencionismo.

IV. fere o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana a exigência


de exposição dos motivos do pedido de alteração do casamento, pois fere os
direitos da personalidade ao não considerar os direitos e garantias
constitucionais da "intimidade" e "privacidade", art. 5º, inciso X, CF/88. A lei só
poderia exigir a declaração dos motivos numa relação personalíssima quando
imprescindível ao ato ou quando os motivos devam ou não influenciar ao
acolhimento do pedido.

2.4.2 A Mutabilidade do Regime de Bens na União Estável

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Por razões de ordem constitucional (Princípio da Isonomia), também deverá se
permitir alteração do regime de bens no curso da união estável, que deverá ser
procedido através de contrato escrito.

Relevante, nesse aspecto, é o fato de que, para alteração do regime de bens


na união estável, os companheiros não precisam cumprir todos aqueles
requisitos previstos no artigo 1.639, § 2º do CC/02.

Fazem a alteração, a qualquer tempo, e quantas vezes desejarem, mediante


contrato escrito. É assim que prevê o artigo 1.725, do CC/02.

Há doutrinadores que argumentam o seguinte: ou se impõe também para a


alteração do regime de bens na união estável o mesmo requisito exigido no
casamento (art. 1.639, § 2º do CC/02), ou não se aplique, ao casamento, a
exigência daqueles requisitos, permitindo-se, da mesma forma da união
estável, que a alteração de regime de bens seja feita através de contrato
escrito (no caso Escritura Pública registrada).

2.4.3 A Nova Regra da Mutabilidade do Código Civil de 2002 e o Regime


de Separação Obrigatória de Bens

Conforme estudado, verificam-se situações em que a lei determina de forma


compulsória, o regime de separação obrigatória de bens, previstas no artigo
1.641 do CC/02. No ponto de vista doutrinário, há quem entenda que, o pedido
de alteração de regime de bens não poderá contrariar a imposição do regime
previsto no artigo mencionado.

Por outro lado, acreditam a maioria dos juristas que satisfeita qualquer das
condições enumeradas nas causas suspensivas, não há como se obrigar,
legalmente, que os cônjuges permaneçam casados sob o regime de separação
legal de bens, se entenderem pela mudança.

Dessa forma seria licita a alteração de regime patrimonial de bens para aqueles
que se casaram com infração às causas suspensivas, desde que satisfeita,
posteriormente, a condição legalmente imposta.

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Portanto, as pessoas que se casaram por força de suprimento judicial (seja de
idade ou de consentimento), uma vez alcançada a idade núbil ou a maioridade
civil, entende-se que não há razão legal para impedir aos cônjuges a referida
alteração do regime de bens que fora imposto pela regra dos artigos 1.523 e
1.641 do CC/02.

A única situação onde a lei impõe o regime da separação obrigatória de bens


que não permite alteração, está disposta no artigo 1.641, II do CC/02 que trata
das pessoas maiores de 60 anos, que, com o passar do tempo, cada vez mais
se afasta do direito à liberdade de escolha.

O regime de separação de bens, por imposição legal, não mais se justifica no


direito brasileiro.

É importante ressaltar que, conforme entendimento sumulado (Súmula 377) do


Egrégio Supremo Tribunal Federal, comunicam-se todos os bens adquiridos na
constância do casamento celebrado sob o regime de separação obrigatória de
bens. Essa medida encontra respaldo, no principio geral de enriquecimento
sem causa de um cônjuge em detrimento do esforço laboral e patrimonial do
outro, após a separação.

A reflexão sobre o que ocorre com a Súmula 377 do STF é a seguinte: no


Brasil, não existe regime de separação obrigatória de bens, já que a declaração
de comunicabilidade dos bens na constância do casamento, através da Súmula
citada, transmuda o regime de separação para o regime de comunhão parcial
de bens.

O regime de separação "convencional" de bens – este sim escolhido


voluntariamente pelos nubentes - continua intocado, por refletir a vontade dos
interessados, e não do Estado.

Em face da súmula, em vigor, o STF resolveu não mais emprestar eficácia às


regras do regime de separação "legal" de bens. Pois, nas circunstâncias em
que a lei obriga o regime de separação de bens, a súmula 377 diz que o
patrimônio adquirido na constância da união se comunica.

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Portanto, em verdade, o regime patrimonial de bens que rege a vida daqueles
cônjuges é o de comunhão parcial de bens.

3. Administração e disponibilidade de bens

Entende-se por regime de bens o regramento das relações econômicas


entre os cônjuges. Silvio de Salvo Venosa diz que “regime de bens constitui a
modalidade de sistema jurídico que rege as relações patrimoniais derivadas no
casamento”. (VENOSA, Direito de Família. Pg.314). Assim, torna-se necessário
estabelecer as diretrizes que regerão a relação patrimonial dos nubentes.
Com o advento na nova Carta Magna do Estado, passou a vigorar um
ordenamento protecionista dos indivíduos e, assim, a igualdade entre esses
passou a ser um dos preceitos fundamentais da CF de 1988. Tal fato acabou
por abolir a idéia da sociedade paternalista que vigorava no seio da sociedade
brasileira antes do surgimento da nova Lei Maior, na qual os direitos e deveres
dos homens eram mais amplos que os das mulheres; aqui, o homem – marido
– tinha o dever de sustentar sua família. Dessa forma, consagrada a isonomia
entre os cônjuges no art. 226, §5º na atual Constituição, a família passou a ser
de responsabilidade da entidade conjugal, a qual, segundo Carlos Roberto
Gonçalves, é composta de uma comunidade de pessoas, incluindo os filhos,
que precisa atender à sua necessidade de subsistência com suas rendas e
com seus bens. (Carlos Roberto Gonçalves, pg. 140).
Na parte das disposições gerais, art. 1.642 a 1.652, percebe-se que o
CC/02 tratou, genericamente, da forma de administração dos bens, uma vez
cada regime possuir regras específicas de como os cônjuges devem lidar com
o patrimônio. Sendo assim, vale aqui comentar alguns dispositivos “genéricos”
em relação à disponibilidade e administração dos bens do casal. O art. 1.642 e
1.643 e incisos, expressamente, elencam os atos que podem ser praticados
por ambos os cônjuges independentemente da autorização de um desses ou
do regime nupcial estabelecido. Vale dizer que no caso de a dívida ser
contraída nas hipóteses do 1.643 e incisos obrigará solidariamente os
cônjuges, conforme determina o art. 1.644 do CC/02.

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No regime de comunhão parcial dos bens, o CC/02 é expresso em
relação aos quais bens participam no caso de dívidas; basicamente, pode-se
dizer que apenas o patrimônio comum é administrado por ambos os cônjuges e
o qual sempre responde pela divida contraída em beneficio da unidade familiar,
1.664 do CC. Ainda, nesse sentido, afirma Venosa que na comunhão parcial
existem três massas de bens: a do marido, a da mulher e a de ambos, sendo
que o ordenamento protege ao máximo o patrimônio de cada um. Diz o art.
1.658 do CC que nesse pacto comunicam-se os bens que sobrevierem ao
casal na constância do casamento, excluindo-se aqui o rol previsto no art.
1.659 do mesmo diploma legal ora citado. No que diz respeito à administração,
prevê o dispositivo 1.663 que compete a qualquer dos cônjuges a
administração dos bens comuns, sendo que esses juntamente com os bens
particulares do administrador responderão pelas dividas contraídas nessa
administração; porém se o outro cônjuge tiver obtido algum proveito nessa
dívida, os bens particulares desse responderão também, conforme
estabelecido no § 1° do último dispositivo citado. Já o § 2° do art. 1.663 veda a
omissão da outorga conjugal nos casos de cessão do uso ou gozo dos bens
comuns a título gratuito, sob pena de anulação do negócio. Além disso, como
forma de proteção patrimonial da sociedade conjugal, prevê o § 3° desse
mesmo artigo que o juiz poderá atribuir a administração apenas a um dos
cônjuges quando essa estiver sendo realizada de má forma pelo outro. Vale
ressaltar que os bens comuns não respondem no caso de divida ser contraída
no caso de administração dos bens particulares – 1.666 CC/02.

Na comunhão universal de bens a disponibilidade e a administração


ocorrem de maneira distinta em relação ao regime anterior aqui abordado.
Pode-se dizer que esse pacto traz uma idéia tradicional do casamento, idéia de
que ao se realizar o matrimônio, o patrimônio dos cônjuges passa a ser um só,
independentemente de quando foi adquirido. Tal pensamento, devido à
evolução da sociedade, não faz mais parte do contexto social atual.
Diz o art. 1.667 que o regime ora em questão importa a comunicação de
todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dividas passivas, com
exceção do art. 1668 do CC/02; a administração dos bens ocorre por ambos,
pois qualquer dos cônjuges tem a posse e a propriedade em comum, indivisa

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de todos os bens, móveis ou imóveis, cabendo a cada um deles a metade.
Percebe-se haver uma confusão entre os bens dos cônjuges, sendo que em
caso de dividas contraídas por qualquer um desses todo o patrimônio
responderá por essa, ressalvadas as exceções legais. Destaca-se, porém, o
art. 1671 que, expressamente, estabelece que, ao ser extinta a comunhão e
ser realizada a divisão de todo o patrimônio, cessa a responsabilidade de cada
um dos cônjuges em relação ao credor do outro, uma vez cada uma já estar
em posse da metade que era de direito.

O regime de participação final nos aquestos é um regime híbrido,


misto, no qual são aplicadas regras do regime de separação de bens
juntamente com a comunhão de aquestos, inovação trazida pelo CC/02.
Basicamente, a idéia que prevalece nesse pacto é que cada um dos cônjuges
possui patrimônio próprio, sendo que, no caso de dissolução, apenas a metade
dos bens adquiridos a titulo oneroso pelo casal na constância do casamento
será de direito do outro. Dessa forma, conforme bem estabelece o art. 1673, §
único do CC/02, ambos os cônjuges administram exclusivamente os bens que
lhes forem de direito, podendo, até mesmo, ocorrer a alienação desses se
forem móveis; devido ao fato de o patrimônio de uma das partes ser
independente em relação ao do outro, pode o casal administrar os bens
particulares de cada um da forma que julgar mais benéfica.

4. Atos que não podem ser praticados sem a anuência do outro cônjuge e
suprimento judicial

O Código Civil brasileiro elenca um conjunto de normas que versa sobre


o regime de bens dos cônjuges. Sendo especifico ao tratar dos atos os quais
nenhum dos consortes poderá praticar sem autorização do outro, salvo no
regime de separação absoluta de bens. Destaca-se o tratamento isonômico
ditado na Constituição Federal a respeito de tal tema.
Os cônjuges, como já mencionado, necessitam da anuência do outro
para praticar alguns atos, conforme previsão do art. 1.647 do CC ao tratar em
seus incisos de cinco situações diversas.

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O inciso I aduz que não pode um dos cônjuges sem estar devidamente
autorizado pelo outro, alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis. O
objetivo de tal exigência legal é assegurar os bens denominados de raiz, tendo
em vista serem estes a segurança da família e a garantia futura dos filhos.
Atenta-se que a expressão alienar compreende a venda, adoção, dação em
pagamento, doação e outras formas que possam ser inseridas neste contexto.
Observa-se que não há ausência de incapacidade, apenas de legitimidade,
pois estando esta suprida, os atos tornam-se legais e deste modo sofrem as
respectivas conseqüências.
Ademais, enquadra-se a mesma exigência à constituição de hipoteca e
ao pacto feito de forma irretratável e irrevogável da promessa de compra e
venda, tendo em vista que o promitente comprador, amparado pela legislação,
poderá requer judicialmente do promitente vendedor, no caso um dos cônjuges,
a adjudicação compulsória do bem, conforme elencado no art. 1.418 do Código
Civil de 2002.
Pleitear, como autor ou réu, acerca destes bens ou direitos também é
defeso ao consorte sem autorização, conforme art. 1.647, II do CC. Visto que,
caso seja prolatada sentença que o condene a perda do bem imóvel discutido
em juízo, o outro cônjuge tem o direito de manifestar-se durante a tramitação
deste litígio, com o objetivo de defender-se e reivindicar o que lhe parece justo.
Concepção ratificada pelo art. 10 do Código de Processo Civil ao mencionar
que: “o cônjuge somente necessitará do consentimento do outro para propor
ações que versem sobre direitos reais imobiliários”.
Outra situação inserida ao rol do art. 1.647, III do CC é a prestação de
fiança ou aval. A introdução desta segunda hipótese foi uma inovação do
Código Civil de 2002, a fiança como já sabido é um meio de obstaculizar o
envolvimento dos bens do casal em favor de negócios de terceiros, e caso seja
prestada sem outorga uxória implicará a ineficácia total da garantia de acordo
com a Súmula 332 STJ.

Supondo que ocorra uma destas situações expostas e não haja a


anulação destes atos, é permitido ao cônjuge lesado, opor embargos de
terceiro buscando não a discussão do débito em questão, mas sim a exclusão
de sua meação em caso de penhora, com base no art. 1.046 § 3º do CPC,

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atendendo ao prazo do art. 1.048 CPC. Concepção afirmada pela Súmula 134
STJ a qual dispõem: “embora intimada da penhora em imóvel do casal, o
cônjuge do executado pode opor embargos de terceiro para defesa de sua
meação”. Além disso, deve-se atentar àquela máxima de que solidariedade não
se presume, para isso estão codificadas no Código Civil as hipóteses em que
não se faz necessária à apresentação de autorização (art. 1.643, I, II e art.
1.644 CC).

Por fim, dita o inciso IV que não é possível fazer doação quando esta
não for remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura
meação. Independente da quantia desta doação, deve-se aceitar um valor
pelos bens móveis, sendo dever apenas moral, podendo ocorrer sem anuência
do outro cônjuge. O propósito do parágrafo único é fazer perdurar aos filhos,
mesmo que estes constituam família ou que se estabeleçam por conta própria.
Se descumprido tal conteúdo do artigo em questão, é garantido pelo art. 1.642,
IV CC àquele consorte prejudicado demandar em juízo a rescisão do contrato
de doação.

A autorização conjugal (autorização marital ou outorga uxória) se dá por


meio de instrumento público, quando exigido, ou através de instrumento
particular conforme disposição do art. 220 CC/02. Cabendo ao juiz suprir tal
autorização quando há recusa por parte de um dos consortes sem motivo justo
ou lhe seja impossível a concessão – art. 1.648 CC.
Segundo a jurisprudência a recusa é justa nas seguintes situações:
quando o marido pretende alienar o único bem do casal, sem necessidade de
venda quando se trata da residência familiar; quando o marido deseja vender
imóvel por um preço muito baixo; em caso de separação de fato e a mulher não
conta com garantias do recebimento de sua meação; quando não há provas da
necessidade de alienação; e por fim quando o marido aliena o bem com intuito
de prover seu sustento e de sua concubina.

É legitimo ao consorte prejudicado intentar ação anulatória, passando o


direito aos seus herdeiros em caso de morte se exercido no prazo de dois anos
após este fato. Se anulado o negócio jurídico, é assegurado ao terceiro

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demandar em desfavor do cônjuge, ou herdeiro se for o caso. Importante
salientar que ação de regresso alcançará os bens particulares do cônjuge
culpado ou de sua meação, caso ultrapasse o limite desta e seja provado pelo
mesmo que o ato beneficiou o casal abarcará também a parte do outro
consorte.

Evidente a intenção do legislador em proteger os bens do casal tanto em


prol destes como em favor de seus filhos, prevendo entraves para dificultar a
ocorrência de casos em que seja preciso a intervenção do Estado para
solucionar estas espécies de demandas. Ademais, com essa proteção sequer
atender aos princípios constitucionais assegurados em nossa Carta Magna.

Esta posto!

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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Paulo: Editora Aide, 1996.

COUTO, Lindajara Ostjen. Regime patrimonial de bens entre cônjuges e


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VENOSA, Silvio de Salvo. Direito de Família. Editora Atlas. 8. ed. – São


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