You are on page 1of 22
PROVA 114/12 Pags. EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDARIO 12.° Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.° 286/89, de 29 de Agosto) Cursos Gerais — Agrupamentos 3 e 4 Duragdo da prova: 120 minutos 1? FASE, 2001 1? CHAMADA PROVA ESCRITA DE FILOSOFIA Leia atentamente as instrugSes: ‘* Esta prova é constituida por 2 (dois) grupos de questes: ~ GRUPO I ~ 3 (irés) questdes. ~ GRUPO II ~ 1 (uma) questao. + A indicagao do numero de linhas/palavras tem um caracter meramente orientador do grau de desenvolvimento da resposta, * A inadequagdo das suas respostas as questées formuladas implicara uma pontuagao de 0 (zero) pontos. V.S.F.F. 14/1 GRUPO I Seleccione apenas um dos textos transcritos e responda as trés questées que Ihe so colocadas acerca desse texto e da obra a que pertence. = Na resposta as questées 1 ¢ 2 devera utilizar, (cerca de 80 palavras). — Na resposta a questo 3 deverd utilizar, aproximadamente, 40 linhas (cerca de 320 patavras) ~ A mera transcrigdo de frases do texto implicard uma pontuagao de 0 (zero) pontos. sm cada uma, aproximadamente 10 linhas — Ando manifestagso do conhecimento da obra implicaré uma pontuagao de 0 (zero) pontos. 11412 O MESTRE, Santo Agostinho TEXTO AGOSTINHO — Por esta razdo, mesmo nas coisas que so intuidas pela mente, em vaio todo aqucle que as ndo pode intuit, ouve as palavras do que as intui, a parte set itil acrediti-las enquanto se ignoram, Todo aquele porém que as pode intuir, esse interiormente & discipulo da Verdade ¢ exteriormente & juiz daquele que fala, ou melhor, da mesma locugio, pois cle muitas vezes sabe as coisas que se quando as ignora aquele mesmo que as disse. Suponhamos por exemplo que alguém, acreditando nos epicuristas, ¢ julgando que a alma € mortal, expde os argumentos que sobre a sua imortalidade foram elaborados por homens mais sabios, ¢ que o esta a ouvir uma pessoa capaz de intuir coisas espirituais, Esta pessoa julga que o tal epicurista diz. coisas verdadeiras, mas 0 que as diz ignora se diz coisas verdadeiras, ou até as julga falsissimas. Dever-se~i enti pensar que ele ensina o que nao conhece? Entretanto, usa das mesmas palavras de que também poderia usar, se fosse conhecedor. Deste modo nem sequer isto se reserva as palavras — que ao menos por elas se revela o intimo de quem fala — visto ser incerto que este conhega aquilo que diz. Acrescenta a isto 0s mentirosos e os enganadores; por eles facilmente entenderds que pelas palavras, 0 intimo nao s6 ndo se abre, mas até se oculta, Entretanto, no duvido de mancira nenhuma de que as palavras dos homens veridicos pretendem, ¢ de algum modo o proclamam, que 9 intimo de quem fala se revele. Consegui-lo-iam, todos 0 concedem, se aos mentirosos nao fosse permitido falar. Todavia muitas vezes temos experimentado, tanto em nds como nos outros, que as palavras que se proferem nao so as das coisas que se pensam. Vejo que isto pode acontecer de dois modos: quando um trecho decorado, e muitas vezes repetido, sai da boca de quem esta a pensar noutra coisa, 0 que nos acontece frequentemente, a0 cantarmos um hino; ou entéo quando contra nossa vontade saem umas palavras por outras, por desvio da prépria lingua. Também neste caso nfo se ouvem os sinais das coisas que temos na alma, In Opdsculos Selectos da Filosofia Medieval Braga, Fac. de Flosofia, 1991, pp. 117-118 QUESTOES 1. Esclarega, com base no texto, os limites da linguagem referidos pelo autor. 2. Explique a distingao feita no texto entre aquele que pode intuir as coisas pela mente e aquele que as nao pode intur. 3. Relacione este extracto com a globalidade da obra V.S.F.F. 114/38 PROSLOGION, Santo Anselmo TEXTO Oh misericérdia, de que opulenta docura e doce opuléncia dimanas para nds! Oh imensidio da bondade de Deus, com quanto afecto devem amar-te os pecadores! Salvas 08 justos, estando com cles a justiga, € livras os injustos, condenando-os a jjustiga; aos primeiros, com a ajuda dos méritos; aos segundos, com o impedimento dos deméritos; aos primeiros, reconhecendo os bens que Ihes deste; aos segundos, fechando os olhos aos males que odeias. Oh bondade imensa, que assim excedes toda a intelecgio, venha sobre mim aquela misericérdia que procede de to grande opuléncia de ti, Ela que fhui de ti, diflua sobre mim. Perdoa-me por cleméncia, para nao me castigares por justiga. Embora seja dificil entender como a tua misericérdia nao esti separada da tua justiga, & todavia necessério crer que 0 que transvasa da bbondade, no podendo existir sem justiga, de modo nenhum se opde A justiga, mas pelo contrario se harmoniza verdadeiramente com a justiga. De facto, se és misericordioso porque és sumamente bom, e néo és sumamente bom sendo porque és sumamente justo, és na vetdade misericordioso por isso mesmo que és sumamente justo. Ajuda- -me, Deus justo € misericordioso, cuja luz busco; ajuda-me, para que eu inteleccione © que digo. s pois verdadeiramente misericordioso, por isso que és justo. E por conseguinte, nasce da tua justiga a tua misericérdia? E por conseguinte, & por justica que perdoas 03 maus? Se assim é, Senhor se assim ¢, ensina-me como isso é. Seré porventura porque é justo seres de tal modo bom, que nao podes ser inteleccionado como melhor, € € justo operares to poderosamente, que nao podes ser pensado como capaz de operar ‘com maior poténcia? Na verdade, que ha de mais justo que isto? Nao sucederia assim, certamente, se fosses bom apenas protribuindo [retribuindo] e no perdoando, ¢ se apenas fizesses bons de ndo-bons, ¢ ndo também de maus. Deste modo, ¢ pois justo que perdoes aos maus, e que de maus fagas bons. Enfim, o que ndo se faz justamente no se deve fazer, ¢ 0 que no se deve fazer, faz-se injustamente. Se pois ndo é justamente que te compadeces dos maus, nfo deves compadecer-te; e se no deves compadecer-te, compadeces-te injustamente, Uma vez que seria impiedade dizer isto, € segundo a piedade acreditar que justamente te compadeces dos maus. In Opdsculos Selectos da Filosofia Medieval ‘raga, Fae. de Flosofa, 199%, pp. 146-147 QUESTOES 1. Esclarega o problema intelectual expresso no texto, 2. Exponha de que modo, no texto, s40 conciliadas a misericérdia e a justiga divinas. 3. Relacione este extracto com a globalidade da obra. 11414 © SER E A ESSENCIA, Sao Tomas de Aquino TEXTO Feitas estas consideragdes, fica mostrado como a esséncia se encontra nos diferentes seres. Dé-se nas substincias triplice modalidade de possuir a existéncia, Ha com efeito uma realidade como a & Deus, cuja esséncia é a sua propria existénci: Fazio por que se encontram alguns fildsofos que afirmam nao ter Deus quididade ou esséncia, uma vez que a sua esséncia ndo é mais que a sua existéncia, Desta identidade da esséncia € da existéncia se segue que Ele nfo esté [compreendido] em nenhuma categoria, porque tudo o que faz parte de alguma categoria tem de ter quididade além da sua existéncia, uma vez que nos seres que 0 género ou a espécie compreende, @ quididade ou esséncia, [que € 0 objecto] do género ou da espécie, nao se distingue segundo 0 constitutive da esséncia, mas por ser diversa a existéncia nos diversos seres. Se porém dizemos que Deus é unicamente existéncia, nfo temos de cair no erro dos que afirmaram que Deus € essa existéncia universal, pela qual todas as coisas intrinsecamente existem. Com eftito, a existéncia que ¢ Deus, é de tal condigio que nenhuma adigao Ihe pode ser feita; consequentemente, pela sua mesma simplicidade, € uma existéncia distinta de toda a outra existéncia, Por este motivo, no comentario & nona proposigdo do Livro das Causas, diz-se que a individualizago da Causa Primeira, que € unicamente existéncia, se faz pela [sua] bondade pura, Quanto 4 existéncia como tal, assim como no seu conceito nao inclui qualquer adigo, também nao inclui no seu conceito qualquer exclusio de adigdo, pois se isto sucedesse, nfo se poderia conceber que existisse nenhuma realidade, em que a existéncia se juntasse qualquer outra coisa, De modo semethante, ainda que seja unicamente existéncia, ndo é necessério que a esse [Ser] faltem as outras perfeigdes e grandezas. Pelo contririo, tem todas as erfeigdes que se encontram em todas as categorias, pelo que se diz que € perfeito simplesmente”, como afirmam 0 Fildsofo € © Comentador no quinto livro da Metafisica, Tem-nas porém de maneira mais excelente que todos os outros seres, visto que n'Ele so uma s6 realidade, a0 passo que nos outros incluem diversidade. E isto é assim porque todas essas perfeigdes se Ihe coadunam, segundo a simplicidade da sua existéncia, De modo semethante, se alguém por uma s6 energia, pudesse realizar as operagdes de todas as outras energias, naquela unica energia possuiria todas as energias, E desta maneira que Deus, na sua mesma existéncia, possui todas as perfeigdes, In Opusculos Selectas da Filosofia Medieval Braga, Fac. de Flosofia, 1991, pp. 230-281, QUESTOES 1. Explicite as consequéncias da identidade entre a esséncia e a existéncia, presentes no texto, 2. Explique, com base no texto, por que @ Deus, que é sé existéncia, nao faltam perfeigées. 3. Relacione este extracto com a globalidade da obra V.S.F-F. 11415 REDUGAO DAS CIENCIAS A TEOLOGIA, Sao Boaventura TEXTO 15, Procedendo de igual modo é, bem assim, possivel chegar as mesmas conclusdes na iluminagio da filosofia racional, cujo objecto principal & o discurso. Neste devem distinguir-se trés aspectos comrespondentes & triplice consideragao do mesmo discurso, a saber: 0 que o profere, 0 que se profere e 0 termo do mesmo, que é 0 ouvinte 16. Se consideramos 0 discurso em relago a quem o profere verios que todo 0 discurso traduz um conceito mental, ¢ este conceito, porque interior, & palavra da mente € sua prole, que é conhecida primeiramente por aquele que a concebe. Mas, para ser conhecida também de quem a ouve, reveste a forma de voz e entdo a palavra inteligivel (0 “verbum mentis”), através dessa forma, toma-se sensivel, é percebida exteriormente ¢ € recebida no ouvido do coragdo de quem a ouve, sem que por isso se aparte da mente daquele que a profere. De modo semelhante vemos que 0 Verbo etemo, concebido em gerago etema pelo Pai, conforme o capitulo 8° dos Provérbios “ainda nio existiam os abismos, ¢ cu ja estava concebida”, para dar-se a conhecer ao homem sensual tomou a forma de came, “e o Verbo se fez came e habitou entre nds”, permanecendo, nao obstante, “no seio do Pai”, 17. Se considerarmos, porém, o discurso em si mesmo, veremos nele @ norma de viver. Porquanto, trés coisas concorem necessariamente para a perfeigio do discurso: a conveniéncia, a verdade € 0 omato. Conforme a estas trés propriedades, toda a nossa acco deve ter moderagio, beleza e ordem, de sorte que seja moderada pela modéstia na obra extema, bela pela pureza no afecto, ordenada e adomada pela rectiddo na intengio. Pois que s6 se vive recta e ordenadamente quando a intengdo é recta, puro o afecto € modesta a obra. 18, Considerando, agora, 0 discurso em razio do fim, sabemos que ele visa exprimir, instruir € mover; mas, nao é possivel exprimir © que quer que seja sendo por meio da ideia, nem ensinar sendo por meio da luz da argumentagio, nem mover senao por meio a forga ou virtude. Ora, estas condicdes s6 se verificam quando a ideia, a luz a forca sii intrinsccas, isto &, quando esto unidas intrinsecamente a alma; e daqui conclui St” Agostinho que s6 ¢ verdadeiro doutor aquele que & capaz. de imprimir a ideia, infundir a luz e insinuar a forga no coragdo do ouvinte. E por isso & que “tem a cétedra no céu aqucle {que ensina no intimo dos coragdes”. Assim, pois, como nada se apreende perfeitamente pelo discurso sendo por meio da forga, da luz ¢ da ideia unidas a alma, assim também, para que a alma seja instruida no conhecimento de Deus pela sua locugdo intema, & necessério que se una aquele “que & o esplendor da sua gloria e a imagem da sua substincia, e que tudo sustenta com o poder da sua palavra”™ Coimbra, Anta, 1970. pp. 97-40 QUESTOES 1. Explicite os diferentes aspectos do discurso apresentados no texto. 2. Exponha as condigdes, referidas no texto, para que o discurso cumpra a sua finalidade em relagao a0 ouvinte, 3. Relacione este extracto com a globalidade da obra, 114/68 PRINCIPIOS DA FILOSOFIA, R. Descartes TEXTO 32 ~ Que sd hd em nds duas espécies de pensamento, ou seja, a percepcio do entendimento e a acedo da vonade Todas as maneiras de pensar que experimentamos em nés podem reduzir-se a duas gerais. Consiste uma em aprender pelo entendimento ¢ a outra em determinar-se pela vontade. Assim, sentir, imaginar ¢ mesmo conceber coisas puramente inteligiveis, sio formas diferentes de apreender; mas desejar, ter aversio, confirmar, negar, duvidar, so formas diferentes de querer. 33 ~ Que 6 nos enganamos quando julgamos que qualquer coisa nao nos & suficientemente conhecida Quando apreendemos alguma coisa no estamos em perigo de nos enganar, se sobre tal coisa ndo formularmos juizo algum; e mesmo quando o fizéssemos, também no podiamos cair em erro desde que s6 déssemos © nosso consentimento aquilo que conhecéssemos clara ¢ distintamente como devendo ser compreendido naquilo sobre que ajuizamos. Contudo o que geralmente nos leva a enganarmo-nos é julgarmos ainda, com frequéncia, que nao possuimos conhecimento muito exacto daquilo sobre que julgamos, 34 ~ Que a vontade, tal como 0 entendimento, é requerida para julgar Concordo em que nada poderiamos julgar, se 0 nosso entendimento estivesse ausente, porquanto no ha sinal de a nossa vontade se determinar acerca daquilo de que 0 entendimento, de algum modo, se no apercebe. Porém, como a vontade & absolutamente necesstiria, para que concedamos o nosso consentimento aquilo que nio apreendemos de nenhuma maneira, e que nfo ¢ preciso, para fazer um juizo, que tenhamos um conhecimento completo e perfeito, dai advém que, damos, muitas vezes, © nosso consentimento a coisas de que nunca tivemos sendo um conhecimento muito confuso. Lsboa, Guimardes Editores, 1989, pp, 79-80 QUESTOES 1. Esclarega, com base no texto, como & possivel evitar 0 erro. 2. Explique, partindo do texto, 0 papel do entendimento e 0 da vontade na faculdade de julgar. 3. Relacione este extracto com a globalidade da obra. V.S.F.F. 4i7 CARTA SOBRE A TOLERANCIA, J. Locke. TEXTO Mas, vindo mais ao pormenor, digo: em primeito lugar, 0 magistrado ndo deve tolerar nenhum dogma oposto ¢ contrétio a sociedade humana ou aos bons costumes necessérios a conservagdo da sociedade civil. Mas tais exemplos so raros em qualquer igreja. Com efeito, os dogmas que claramente arruinam os fundamentos da sociedade so condenados pelo juizo do género humano; nenhuma seita levaria a loucura a0 ponto de julgar que se devem ensinar dogmas em virtude dos quais os proprios bens, 4 paz ea reputagdo no estariam em seguranga. Em segundo lugar, um mal certamente mais escondido ¢ mais perigoso para o Fstado é constituido por aqueles que se arrogam, para eles € para a sua seita, um privilégio particular e contrério ao direito civil, que cobrem e disfargam com discursos especiosos. Em lado algum, praticamente, encontrareis pessoas a ensinar crua ¢ abertamente que nio & necesséria a fidelidade a palavra dada; que o principe pode ser afastado do trono por qualquer seita e que 0 governo de todas as coisas s6 a eles pertence. Tais propésitos, claros e manifestos, logo chamariam a atengio do magistrado ¢ fixariam os olhares ¢ as preocupagdes do Estado para que um mal assim no continuasse a desenvolver-se ocultamente no seu seio, Encontram-se, todavia, pessoas que dizem a mesma coisa por outras palavras. Que mais pretendem os que ‘ensinam que nao € preciso cumprir a palavra com os heréticos? Querem que thes sc} concedido o privilégio de faltar & palavra, ja que todos os que nao fazem parte da sua comunidade so declarados heréticos, ou podem ser declarados como tais na primeira ocasitio? Que finalidade ha em derrubar os reis excomungados senio arrogar-se 0 poder de destronar os reis, pois reivindicam unicamente para a sua hierarquia eclesidstica 0 direito de excomunhao? Fundar a autoridade na Graga atribuiria aos protagonistas desta opinido a posse de todas as coisas, ja que no sio suficientemente inimigos de si préprios para ndo querer acreditar ou declarar que so verdadeiramente piedosos e figis. Estas pessoas ¢ outras semelhantes, que atribuem aos fi¢is, aos religiosos, aos ortodoxos, isto é, a elas proprias, nas coisas civis, algum privilégio © algum poder de que o resto dos mortais ndo dispde; ou que reivindicam para si, sob pretexto de religido, certos poderes sobre os homens estranhos sua comunidade eclesidstica, ou que dela de qualquer maneira se separaram, estas pessoas no podem ter o direito de ser toleradas pelo magistrado; (..) Lisboa, Edigbes 70, 1996, pp. 116-117 QUESTOES 1. Esclarega, com base no texto, as razbes que podem justificar que uma religiao soja excluida da tolerancia, 2. Explique, partindo do texto, a exigéncia de nenhum dogma se opor «A sociedade humana e aos bons costumes». 3. Relacione este extracto com a globalidade da obra. 114/8 DISCURSO DE METAFISICA, G. W. Leibniz TEXTO 16 ~ O concurso extraordinirio de Deus esta compreendido no que a nossa esséncia exprime, pois esta expressio estende-se a tudo, mas ultrapassa as forgas da nossa natureza ou da nossa expresso distinta, que é finita e segue certas, maximas subalternas. Falta apenas explicar agora como é possivel que Deus tenha, as vezes, influéncia sobre os homens ou sobre as outras substincias mediante um concurso extraordinatio € miraculoso, ja que par que nada thes pode acontecer nem de extraordinario nem de sobrenatural, visto que todos os seus acontecimentos so apenas consequéncias da stia natureza, Mas & necessitio recordar 0 que acima dissemos a propésito dos milagres do universo: que sdo sempre conformes a lei universal da ordem geral, embora estejam por cima das maximas subalternas. E como toda a pessoa ou substincia como um pequeno mundo que exprime o grande, também pode dizer- que esta acgdo extraordinaria de Deus sobre tal substincia nfo deixa de ser rilagrosa, embora esteja compreendida na ordem geral do universo, na medida em que este se exprime pela esséncia ou no¢do individual dessa substincia. Por isso, se compreendemos na nossa natureza tudo 0 que ela exprime, nada hé nela de sobrenatural, porque se estende a tudo, uma vez que um efeito exprime sempre a sua causa ¢ Deus é a verdadeira causa das subs clas. Mas, porque o que a nossa natureza exprime mais perfeitamente the pertence de um modo particular, jé que & nisso que consiste a sua pot cia, ¢ € limitada, como acabo de explicar, hd muitas coisas que ultrapassam as forgas da nossa natureza, ¢ até as de todas as naturezas limitadas. Por consequéncia, a fim de falar mais claramente, digo que os milagres € 0s concursos extraordindrios de Deus tém a propriedade de no poderem ser previstos pelo raciocinio de nenhum espirito criado, por mais esclarecido que seja, porque a compreensio distinta da ordem geral os ultrapassa a todos; ao passo que tudo 0 que se chama natural depende das maximas menos gerais que as criaturas podem compreender, Portanto, para que as palavras sejam to irrepreensiveis como o sentido, conviria ligar certas maneiras de falar a certos pensamentos, ¢ poder-se-ia denominar nossa esséncia ou ideia 0 que compreende tudo o que exprimimos; e visto que cla exprime a nossa unio com o préprio Deus, nio tem limites e nada a excede, Mas 0 que € limitado em nés podera chamar-se a nossa natureza ou @ nossa potencia e, deste ponto de vista, © que excede as naturezas de todas as substancias criadas & sobrenatural Lsboa, Edigdes 70, 1995, pp. 42-44 QUESTOES 1. Justifique com raz6es do texto a impossibilidade de a razao humana prever o milagre. 2. Esclarega, com base no texto, 0 conceito de substancia. 3. Relacione este extracto com a globalidade da obra. V.S.FF. 4114/9 FUNDAMENTACAO DA METAFISICA DOS COSTUMES, |. Kant TEXTO Nio seria, portanto, mais aconsethavel, em matéria moral, ficarmo-nos pelo juizo da razio vulgar e s6 recorrer filosofia para, quando muito, tornar o sistema dos costumes mais completo e compreensivel, expor as regras de mancira mais cémoda com vista ao seu uso (e sobretudo a discusstio), mas no para desviar © humano senso comum, mesmo em matéria pritica, da sua feliz simplicidade e pd-lo por meio da filosofia num novo caminho da investigagio e do ensino? A inocéncia é uma coisa admiravel; mas € por outro lado muito triste que ela se possa preservar tio mal ¢ se deixe tdo facilmente seduzir. E é por isso que a propria sageza ~ que de resto consiste mais em fazer ou nfo fazer do que em saber — precisa também da cigncia, no para aprender dela, mas para assegurar as suas prescrigdes entrada nas almas e para Ihes dar estabilidade. O homem sente em si mesmo um forte contrapeso contra todos os mandamentos do dever que a razio the representa como tio dignos de respeito: sdo as suas necessidades e inclinagdes, cuja total satisfagdo ele resume sob 0 nome de felicidade, Ora a razdo impde as suas prescrigdes, sem nada alias prometer as inclinacdes, itremitentemente, ¢ também como que com desprezo ¢ menoscabo daquelas pretensdes to tumultuosas ¢ aparentemente to justificadas (€ que se nao querem deixar eliminar por qualquer ordem). Daqui nasce uma dialéctica natural, quer dizer uma tendéncia para opor arrazoados ¢ subtilezas as leis severas do dever, para por em diivida a sua validade ou pelo menos a sua pureza e 0 seu rigor ¢ para as fazer mais conformes, se possivel, aos nossos desejos e inclinagdes, isto é, no fundo, para corrompé-las e despojé-las de toda a sua dignidade, 0 que a propria razio pratica vulgar acabara por condenar. E assim, pois, que a razdo humana vulgar, impelida por motivos propriamente praticos e nao por qualquer necessidade de especulagao (que nunca a tenta, enquanto ela se satisfaz com ser simples si razio), se vé levada a sair do seu circulo ¢ a dar um passo para dentro do campo da filasofia pratica. Ai encontra ela informagdes ¢ instrugdes claras sobre a fonte do seu principio, sobre a sua verdadeira determinagao, em oposigio as maximas que se apoiam sobre a necessidade e a inclinagao. Assim espera cla sair das dificuldades que Ihe causam pretensdes opostas, e fugir a0 perigo de perder todos os puros principios morais em virtude dos equivocos em que facilmente cai [BA 22-26, Lisboa, Exigdes 70, 1995 pp. 26-38 QUESTOES 4. Explique a avaliagao feita no texto da razao pratica vulgar. 2. Esclarega de que modo é justificado no texto o interesse da filosoffa pratica para a razdo humana vulgar. 3. Relacione este extracio com a globalidade da obra, 114/10 GRUPO IL uma pontuagao de 0 (zero) pontos. opRas DA NATUREZA, Parménides GORGIAS, Piatao. FEDON, Platao CATEGORIAS, Aristételes. INTRODUGAO A HISTORIA DA FILOSOFIA, G. W. F. Hegel TENDENCIAS GERAIS DA FILOSOFIA NA SEGUNDA METADE DO SECULO XIX, Antero de Quental A ORIGEM DA TRAGEDIA, F. Nietzsche. DA CERTEZA, L. Witigenstein ELOGIO DA FILOSOFIA, M. Merleau-Ponty (OS PROBLEMAS DA FILOSOFIA, B, Russell ‘A PROBLEMATICA DA SAUDADE, Joaquim de Carvalho. DA ESSENCIA DA VERDADE, M. Heidegger. TEORIA DA INTERPRETAGAO, P. Ricoeur FIM ‘A op¢ao por um par obra-tema diferente dos que 40 apresentados na prova imy Seleccione apenas uma das obras que Ihe sdo propostas e desenvolva o tema anexo. ‘Ando identificagao do tema e da obra implicaré uma pontuagio de O (zero) pontos. licaré Na sua resposta devera utilizar aproximadamente 80 linhas (cerca de 640 palavras). TEMAS © uno € © miltiplo. Saber e virtude 0 filbsofo A primazia do individuo A filosofia e 0 saber Individuo e sistema Conhecimento e verdade Davida @ nao-divida Filosofia e expresso Os dados dos sentidos @ a existéncia do real ‘A vivencia do tempo na saudade Liberdade e esséncia da verdade Significagao e referéncia V.S.F.F. 414/11 alta COTAGOES GRUPO I (2 « 26 pontos). (1 x 70 pontos). GRUPO II .. (1x 80 pontos), TOTAL 50 pontos 70 pontos 80 pontos. 200 pontos PROVA 114/C/10 Pags. EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDARIO 12.° Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.° 286/89, de 29 de Agosto) Cursos Gerais — Agrupamentos 3 e 4 Duragio da prova: 120. mim 1? FASE 2001 18 CHAMADA PROVA ESCRITA DE FILOSOFIA COTAGOES E CRITERIOS DE CLASSIFICAGAO AINDICAGAO DO NUMERO DE LINHASIPALAVRAS VISA APENAS ORIENTAR O ALUNO RELATIVAMENTE AO GRAU DE DESENVOLVIMENTO DA RESPOSTA, PELO QUE NAO SE PROPOE QUALQUER PENALIZAGAO PARA 0 NAO CUMPRIMENTO DESSA INDICAGAO. l GRUPO! Questées 1. ¢ 2 cRITERIOS PONTUAGAO Rigor da analise do excerto apresentado . 10 pontos Coeréncia légica da resposta sonnei 7 pontos Uiiizago precisa da terminologiaflos6fica.....-1eoneson 4 pontos Correcgdo da expresso escrita vee seononenennenenn 4 pontos TOTAL 25 pontos TOTAL das Questées 1. ¢ 2 (2 25)= 50 pontos + A inadequagao da resposta & questo formulada implica uma pontuago de 0 (zero) pontos. + A mera transcrigao de frases do texto implica uma pontuagao de 0 (zero) pontos. Questao 3. CRITERIOS PONTUAGAO ‘Adequacao dos conhecimentos mobilizados, . 35 pontos Coeréncia légica da resposta 15 pontos Uiilizagao precisa da terminologia filos6fica 10 pontos Correcgao da expressao escrita 10 pontos TOTAL da Questo 3. (1x 70) = 70 pontos TOTAL DO GRUPO Too cnssnsnn so suns 420 pontos * A inadequagao da resposta & questao formulada implica uma pontuagao de 0 (zero) pontos. + Se a resposta no manifestar conhecimento da obra, a pontuagSo sera de 0 (zero) pontos. V.S.FF. saiest ‘Tépicos de contetdo: O MESTRE, Santo Agostinho 4. As palavras nao revelam o intimo de quem fala ~ conhecedor e ignorante usam as mesmas palavras a respeito de um certo tema, ‘As palavras podem encobrir o intimo de quem fala ~ mentirosos e enganadores. Existéncia de um desfasamento entre as palavras que se proferem e as coisas em que se pensa, ‘Ambiguidade das palavras. 2. Quem pode intuir as coisas pela mente é: = discipulo da verdade; = juiz de quem fala, juiz da locugao. ‘Quem nao pode intuir as coisas pela mente: ~ nada fica a saber @ partir das palavras; — acredita, por uma questéo de ulilidade. 3. As palavras nao servem par ensinar ~ nao tém poder de ostensao, apenas advertem. Q conhecimento é prévio ao reconhecimento do sentido das palavras. ‘S60 mestre interior pode dar a conhecer a verdade. PROSLOGION, Santo Anselmo 1. Dificuldade em entender como @ misericérdia divina nao esta separada da sua justica, Necessidade de acreditar que aquilo que provém da bondade nao se opée a justiga, antes se harmoniza com ela. 2. Deus no seria justo se apenas retribuisse e no perdoasse ~ se apenas fizesse bons de na -bons e nao, também, de maus. E justo perdoar aos maus e fazé-los bons. 3. Dificuldade de intelecgo dos atributos de Deus. Finitude do intelecto humano. O SER E A ESSENCIA, Sao Tomas de Aquino 1. Consequéncias da identidade entre esséncia e existencia: = nao estar compreendida em nenhuma categoria; = nenhuma adigao poder ser feita a existéncia de Deus; = no incluir no seu conceito qualquer exclusdo de adigao; = constituir uma existéncia distinta de qualquer outra (pela sua simplicidade) 2. Deus possui todas as perfeigdes que se encontram em todas as calegorias, de maneira mais excelente do que qualquer outto ser. ‘As perfeig6es @ grandezas em Deus sao uma 86 realidade ¢ nao incluem diversidade ~ coadunam- -se-the, segundo a simplicidade da sua existéncia. Deus é perfeito «simplesmente». 114/012 3. Esclarecimento do modo como a esséncia esta nas substancias, nos acidentes e nos diferentes seres: corporais e espirituais. Superioridade de Deus ~ Principio Primeiro: = infinita simplicidade; = coincidéncia entre existéncia e esséncia REDUCAO DAS CIENCIAS A TEOLOGIA, Sao Boaventura 1. O discurso, em relag8o a quem o profere, é traducao de um conceito mental ~ palavra da mente = interior que reveste a forma de voz. © discurso, em relagao ao que se profere, € em si mesmo norma de viver; discurso perfeito implica conveniéncia, verdade, ornato. © discurso, em relagao ao seu termo, o ouvinte, visa exprimir, instruir @ mover. 2. Para que 0 discurso cumpra a sua finalidade & necessario que: ~ a idela, a luz da argumentago e a forca estejam intrinsecamente unidas & alma; = a alma se una ao proprio Deus ~ insirugao da alma no conhecimento de Deus. 3. O conhecimento racional como uma das divis6es da iluminagao do conhecimento filos6fico (interior) A sabedoria de Deus, transmitida pelas Sagradas Escrituras, esta oculta em todo o conhecimento (e em toda a natureza), As diferentes iluminagdes ~ conhecimento inferior, interior @ superior ~ reconduzem-se a luz da Sagrada Escritura ~ todos os conhecimentos servem a teologia. PRINCIPIOS DA FILOSOFIA, R. Descartes 1. Nao estamos condenados a errar: = se nao formularmos juizo algum; — se s6 dermos consentimento ao que conhecermos clara e distintamente 2. O entendimento concebe, imagina, sente; permite-nos aprender e aperceber as coisas. A vontade deseja, quer, aceita, nega, duvida; permite-nos dar assentimento ao que 0 entendimento apresenta 3. Entendimento e vontade. Limites do entendimento, Liberdade e erro. Causas do erro. CARTA SOBRE A TOLERANCIA, J. Locke 1. Justifica-se que uma religido seja excluida da tolerancia quando: = defende dogmas contrarios sociedade humana e & conservagao da sociedade civil = tem a pretensao de intervir nos assuntos civis do Estado. 2. A conservacao da sociedade civil depende: ~ do respeito pela propriedade dos bens materiais; ~ do respeito por outros bens civis: manutengao da paz e do bom nome. © juizo do género humano condena os dogmas perversos. V.S.FF. 114/0/3 3. Separagdo dos poderes da Igreja dos poderes do Estado, Funges da Igreja. Meios aceitaveis para difundir a verdade religiosa. Consequéncias da intransigéncia religiosa Tolerancia no interior das Igrejas. DISCURSO DE METAFISICA, G. W. Leibniz 4. Conformidade do milagre a lei universal da ordem geral do universo. Limitagao da razao humana a capacidade de compreender apenas a ordem particular da natureza, que 0 milagre ultrapassa 2. Cada substancia representa 0 mundo na sua totalidade e ¢ um ponto de vista unico sobre o universo. ‘As substancias modificam-se por si préprias (segundo o principio intemo das suas perfeigdes) sem intervengao exterior. Nas substancias nao ha lugar para uma acgao extraordinéria. 3. Saber e poder infinitos de Deus. (© mundo como o mais perfeito dos mundos possiveis: — constituido por substancias individuais cuja nogo contém todos os seus predicados, todos os acontecimentos futuros — totalidades monddicas. Relagao entre a ordem natural e o milagre, FUNDAMENTAGAO DA METAFISICA DOS COSTUMES, |. Kant 4. Na sua «feliz simplicidaden a razao vulgar detém a sageza, reconhece o dever. A inocéncia nao se sabe preservar e deixa-se seduzir. ‘Os mandamentos do dever e a felicidade opdem-se. A dialéctica natural ameaga as leis do dever. 2. O interesse justifica-se por motivos praticos e no por necessidade de especulagao. © conhecimento da fonte do principio da razo, da sua verdadeira determinagao em relagao as maximas que se baseiam na inclinagao e na necessidade & condi¢ao para’ — suprimir as dificuldades causadas pela oposigao das pretenstes; = no deixar fugir 0s «puros principios morais» 3. A importancia da filosofia para a razdo prética vulgar. Necessidade de uma critica completa da razdo. Necessidade de fundamentagao a priori da moralidade, 114/04 GRUPO IL CRITERIOS. PONTUAGAO Plano prévio ~ estrutura e adequagao 8 pontos ‘Selecgo correcta dos conhecimentos para desenvolver 0 tema escolhido . 20 pontos Apropriagdo pessoal dos conhecimentos e apreciagao do modo come 0 tema foi tratado pelo autor, na obra 10 pontos Coeréncia légica da resposta : . 20 pontos Uilizagao precisa da terminologia filosotica 7 40 pontos Correcedo da expresso escrita 12 pontos TOTAL (1x 80) = 80 pontos TOTAL DO GRUPO II 80 pontos * Se o aluno ndo identificar a obra e ndo resultar Sbvio do seu texto a que obra se esta a referir, ou se escolher um par obra-tema diferente dos indicados, a pontuagao sera de 0 (zero) pontos. * A inadequacao da resposta a questao implica uma pontuagao de 0 (zero) pontos. Dado 0 objectivo deste grupo serao de aceitar respostas diversificadas, desde que se reportem a um dos pares obra-tema indicados na prova e revelem uma selecgaio adequada dos conhecimentos da obra e um posicionamento critico. V.S.FF. 114/075 Tépicos de contetdo: DA NATUREZA, Parménides TEMA: O uno e 0 miltiplo A auténtica realidade ~ o ser &. O ser ¢ ingénito e indestrutivel, uno, imével, imutavel e completo. O nao ser nao existe Nada existe fora da esfera do ser. AA divisibilidade ¢ iracional. A multiplicidade, pura aparéncia, ilusdo, resulta da acgdo dos sentidos. GORGIAS, Plato ‘TEMA: Saber e virtude © saber 6 sempre verdadeito, 6 infalivel (a0 contrario da retérica). 0 filésofo ama o saber (mesmo sem o possuit). A filosofia procura a sabedoria, o bem e a justica, 6 auténtica ‘A virtude — justiga e temperanga ~ so fonte da verdadeira felicidade. Indissociabilidade entre o saber ¢ a virude. FEDON, Platao. TEMA: O fildsofo Atarefa do filésofo como treino de «morrer e estar morto»: desprezo pelo sensivel e por tudo aquilo ‘a que o senso comum chama «vivers; cuidado da alma, busca do conhecimento e da virtude. (© conhecimento filoséfico como libertagao e purificagao, © filésofo como 0 Unico homem verdadeiramente virtuoso (a verdadeira virtude exige reflexéo). ‘Superioridade do destino da alma do filésofo. CATEGORIAS, Aristételes TEMA: A primazia do individuo ‘A ilusdo da autonomia dos universais criada pela linguagem, ao nomed-los substantivamente. Os universais no constituem realidades autnomas: so algo comum a muitas coisas (de que so, predicados); precisam de uma coisa particular, de um individuo (substancia primeira) para existirem Os individuos (substancias primeiras) sao: = auto-subsistentes; nao sao ditos de algum sujeito; — so mais substancia do que a espécie. INTRODUGAO A HISTORIA DA FILOSOFIA, G. W. F. Hegel TEMA: A filosofia e o saber © objecto da filosofia é 0 infinito, a razdo universal em si e para si; € desenvolvimento pensante a Ideia: a Ideia universal, anteriormente mais indeterminada, torna-se mais determinada 114/016 A filosofia como tentativa de mostrar que 0 verdadeiro, a Ideia, no é uma universalidade vazia, mas um universal que &, em si proprio, o particular, o determinado Na filosofia est 0 pensamento universal, como 0 contetido do que é 0 ser todo. A filosofia comega «onde 0 universal é apreendido como aquilo que é»; 0 pensar tem de ser para si, vir & existéncia na sua liberdade, arrancar-se da sujeigtio do natural e entrar em si, como livre. A filosofia, como pensar, é resultado — Saber Absoluto. ‘A filosofia nega o seu ponto de partida ~ 0 natural ~ ao produzir-se; 0 seu dominio & o do conceito. TENDENCIAS GERAIS DA FILOSOFIA NA SEGUNDA METADE DO SECULO XIX, Antero de Quental TEMA: Individuo e sistema Constatagéio de que qualquer sistema metafisico: — esmaga os seres individuals na sua engrenagem poderosa, funde-os na absoluta unidade do serideia; — suprime a liberdade ~ incompativel com a necessidade légica do desenvolvimento do ser-ideia. Critica a0 hegelianismo: liberdade da consciéncia humana, ndo necessidade da sucesso das, iviizagdes nem do nascimento dos grandes homens, «agentes livres do drama da histérian. Incapacidade de explicar, através da necessidade superior dos desenvolvimentos do ser-ideia, 0 esforgo, 0 sacrificio, a renincia, os triunfos dos herbis, dos martires, dos justos e dos bons, assim como 0 dever e a liberdade. Critica as tendéncias mecanicistas e deterministas das ciéncias: a determinacao da vontade nunca 6 assimilével 4 determinagao mecanica; tem um fim que esta nela mesma, Os individuos so movidos pelo seu principio pessoal de acco, energia simples, auténoma e espontanea, ‘A ORIGEM DA TRAGEDIA, F. Nietzsche TEMA: Conhecimento e verdade Distingao entre conhecimento e verdade. A verdade dé-se numa experiéncia estética — 0 éxtase dionisiaco (como fusdo de cada individuo com 0 todo da vontade universal). AA insuportabilidade dessa verdade legitima 0 direito aparéncia. Apolo confere a esfera da representagio ~ espago, tempo, causalidade ~ a condigéo de uma ilustio que permite viver. Ossocratismo corresponde @ converséo da esfera apolinea em objecto de conhecimento impereito: ‘Socrates faz da aparéncia objecto de conhecimento. DA CERTEZA, L. Wittgenstein TEMA: Duvida e ndo-divida A ndo-duvida é algo que esta para além de qualquer justificagao ~ tem a ver com a forma biolégica da espécie e com a experiéncia em sociedade. E «uma forma de viver», «uma coisa animal». ‘A duvida implica a sua referéncia a algo de que nfo se duvida ~ a divida posterior a crenga. ‘A duvida surge no contexto de um jogo de linguagem ~ s6 possivel se confiarmos em alguma coisa; aquilo de que nao se duvida pode ser alterado pelas circunstancias. V.S.FF. 114/017 ELOGIO DA FILOSOFIA, M. Merleau-Ponty TEMA: Filosofia e expresso Recurso a filosofia de Bergson: = 0 movimento interna do bergsonismo como passagem de uma flosofia da impress4o para uma filosofia da expressao: Bergson reconhece uma linguagem coagulada, mas também uma palavra viva, igual ao pensamento e sua rival. ‘A alinguagem forece a consciéncia um corpo imaterial onde encarnar» ‘A filosofia nao consiste em opor liberdade e matéria, espirito e corpo: liberdade e espirito, para serem eles mesmos, t8m de se exprimir. A expresso como «efeito retroactivo do verdadelro»: a expresso postula o ser que ela diz; o que diz do mundo sensivel nao existe no mundo sensivel ‘A ilosofia nunca esta inteiramente no mundo nem fora dele. A expressao pressupée alguém que se exprime, uma verdade que se exprime, os outros perante ‘quem é expressa; a possibilidade simultane destas trés condigées o postulado da expressao e da filosofia. OS PROBLEMAS DA FILOSOFIA, B. Russell ‘TEMA: Os dados dos sentidos e a existéncia do real Os dados dos sentidos sao algo de que nao se pode duvidar - quer nos fomecam a realidade das coisas ou apenas a sua aparéncia, ¢ inegavel que nos forecem dados, qualquer que seja o estatuto ontolégico desses dados. ‘A nao admissdo de algo para além dos dados dos sentidos implica a afirmagao do sujeito cognoscente como a unica realidade existente. AA insuficiéncia das tentativas de justificacdo parece levar a considerar-se que apenas temos a garantia da existéncia dos nossos dados dos sentidos, $6 temos conhecimento dos objectos fisicos da nossa experiéncia através dos dados dos sentidos © das sensagoes, ‘Os sentidos proporcionam diferentes perspectivas do mesmo objecto: ndo podem permitir uma apreensao imediata da coisa em si, nao podem responder 4 questéo de saber qual das perspectivas corresponde ao objecto real Conhecemos 0 objecto através dos dados dos sentidos, mas no o podemos identificar com esses dados que os sentidos nos fornecem Nao € possivel o conhecimento da verdade da coisa: 0 conhecimento da verdade da coisa que esta presente nos dados dos sentidos nao é directo nem imediato. ‘A PROBLEMATICA DA SAUDADE, Joaquim de Carvalho TEMA: A vivéncia do tempo na saudade © tempo cria a saudade. presente, emotivamente mais pobre do que 0 passado, é desvalorizado. Arelacao entre a consciéncia e o mundo, no presente, desaparece: a saudade obriga a consciéncia a fixar-se no passado. Dos trés momentos do tempo, & 0 passado que tem um papel determinante na saudade. A forte carga afectiva do passado desperta a sua evocagao na consciéncia e remete-a para essa situagdo emotiva passada: a consciéncia torna-se saudosa. Referéncia a usaudade do futuro». 114/0/8 DA ESSENCIA DA VERDADE, M. Heidegger TEMA: Liberdade e esséncia da verdade A-esséncia da verdade corresponde @ desocultacao do ente; a verdade n&o reside originariamente na proposigo, ndo caracteriza a proposigéo correcta, A liberdade é um pressuposto exigivel para admitir uma verdade (ou no). Existéncia de uma conexdo essencial entre verdade, como correcgo, e liberdade, A liberdade € deixar-ser, é entrega a desocultago do ente enquanto tal A esséncia da verdade, no sentido de correcgao do enunciado, é liberdade. A liberdade, como esséncia da verdade, ndo & uma propriedade do homem (a nao-esséncia da verdade no pode resultar apenas da mera impoténcia do homem). Averdade, na sua esséncia, ¢ liberdade, mas 0 homem histérico, ao deixar-ser o ente, pode oculta lo ~ aparéncia. TEORIA DA INTERPRETACAQ, P. Ricoeur TEMA: Significago e referencia Distingao entre significado do locutor (intengao do falante) e significado da enunciagao (0 que a frase denota). Procedimentos gramaticais, ao servigo da auto-referéncia do discurso ao seu falante, como acesso 2 intengo do autor (que s6 pode ser procurada no préprio discurso) Dialéctica evento-signiicagao. Possiblidade de transmit o significado no evento do didlogo. Dialéctica sentido-referéncia - a radicago ontolégica da linguagem © didlogo como situacao que reduz a diversidade das interpretagées, apesar da polissemia e da ambiguidade dos discursos. Dupla dimenstio da significagéo: do locutor (a subjectividade) e do enunciado (a objectividade). V.S.FF. 114/C/9 Exames Nacionais do Ensino Secundario— 2001, 1." FASE, 1° CHAMADA GRELHA DE CLASSIFICAGAO - FILOSOFIA (Céd. 114) GRUPO GRUPO II - —- = TOTAL Questio t 1 ‘uestio? @ Questéo 3. b Questéo 1 v1 | PROV ex] tr] cee | a5 [Ra ex [tr cee | as) [mc fou | re (0) se [ar] cu 20 0 | Gy | | Seo | | os | a 135) | 08) | (0) § feo) | 0) | eo) eo) P.P.— Piano prévio | AP. — Apropriagdo pessoal dos conhecimentos e apreciagso do ‘mode como tema fo tralado pelo autor, na obra C.E.. - Corrcgio da expresso ese ‘S.C. ~ Seieerao conecla dos conhecimentos RA. Rigor de andlse CL. — Covréneia agiea do dscurso TF, — Utizagdo precisa da terminaogla Nhoseica Data__/__ (© Professor Corrector. —

You might also like