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PROVA 114/12 Pags. EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDARIO 12.° Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.° 286/89, de 29 de Agosto) Cursos Gerais — Agrupamentos 3 e 4 Duragdo da prova: 120 minutos 1! FASE, 2002 22 CHAMADA PROVA ESCRITA DE FILOSOFIA Leia atentamente as instrugdes: Esta prova € constituida por 2 (dois) grupos de questdes: GRUPO I - 3 ({rés) questées. GRUPO Il - 1 (uma) questao. A indicagao do nimero de palavras tem um cardcter meramente orientador do grau de desenvolvimento da resposta. A inadequagdo das suas respostas as questées formuladas implicara uma pontuagao de 0 (zero) pontos. V.S.FF. sai RUPO I = Seleccione apenas um dos textos transcritos e responda as trés questdes que Ihe so colocadas acerca desse texto e da obra a que pertence. — Na resposta as questées 1 @ 2 devera utilizar, em cada uma, aproximadamente 10 linhas (cerca de 80 palavras). — Na resposta a questo 3 deverd ullizar, aproximadamente, 40 linhas (cerca de 320 palavras). — Amera transcrigdo de frases do texto implicaré uma pontuacao de 0 (zero) pontos. = Anno manifestagéo do conhecimento da obra implicara uma pontuagao de 0 (zero) pontos, s14/2 DA NATUREZA, Parménides TEXTO 6. Forga é que 0 que se pode dizer e pensar seja; pois Ihe ¢ dado ser, € nfo ao que nada €. Isto te ordeno que medites. Deste primeiro caminho de investigagao, eu te afasto, € logo daquele também, no qual vagueiam os mortais ‘que nada sabem, homens de duas faces. Pois a incapacidade Ihes dirige no peito a mente etrante. B eles sio levados, cegos € surdos a um tempo, estupefactos, multidao sem discernimento, que julgam que ser e no ser ora valem 0 mesmo, ora ndo valem, € que para tudo 0 caminho ¢ reversivel. 7. Jamais poder forgar-se a demonstragio de que existe o que ndo é. Mas nas tuas investigagdes afasta 0 espirito desta senda Nio va compelir-te a este caminho o costume mui experimentado, deixar dominar olhos que no véem, sons retumbantes © lingua, mas julga com a razao a prova muito contestada, aquela que eu referi. 8. (...) Sobre a humana opiniio aprende, a partir de agora, escutando a ordem ilus6ria das minhas palavras. Entenderam que haviam de dar nome a duas formas; a uma, nio deviam fazé-lo, ¢ nisso eles erraram. Distinguiram-nas como de forma contraria, € puseram-lhes marcas diferentes uma da outra: a uma o fogo etéreo da chama, brando, muito leve, em toda a direcgao igual a si mesmo, ‘mas no idéntico ao outro; esse é 0 contrério daquele, a noite sem luz, um corpo espesso e pesado, A ordenagio césmica cu ta anuncio toda ela, como ¢ propria; assim nenhum conhecimento dos mortais alguma vez te transviara. Frags. 67; 8, w. 6161, in M. Helena da Rocha Pereira, Hélade, Coimbra, FLUC, 1990, pp. 130-131, 132133 QUESTOES 1. Explique, recorendo ao texto, a ilegitimidade da via da opiniao, 2. Justifique, com base no texto, o imperativo ajulga com a razon. 3. Esclarega a relevancia do excerto no contexto global da obra, V.S.FF. 1143 GORGIAS, Platao TEXTO SOCRATES ~ (...) E da retérica que se destina ao povo de Atenas ¢ aos povos das outras cidades, todas consttuidas por homens livres, que devemas nés pensar? Achas que os oradores falam sempre com vista ao maior bem, na preocupagao constante de melhorar os cidadios com (05 seus discursos, ou que 0 seu empenho se cifra em agradar ao povo, pospondo o interesse comum ao seu interesse particular ¢ tratando os cidadiios como eriangas, a quem tentam agradar a todo 0 custo, sem curar de saber se o5 tornam melhores ou piores com estes processos? CALICLES —~ A tua pergunta exige que se faga uma distingao: hé oradores que falam tendo em vista o interesse pitblico © outros que so, na verdade, como tu dizes. SOCRATES ~ Admitamos que sim: se ha, de facto, dois aspectos a considerar nesta questio, teremos uma eloquéncia politica que nio é mais do que uma adulagao e uma vergonha, € outra que é bela e vive empenada em melhorar © mais possivel as almas dos cidadios, esforgando-se sempre por dizer o melhor, Seja ou ndo agradavel ao auditorio, Mas tu nunca viste uma ret6rica deste segundo tipo. Se, no entanto, me podes indicar um orador deste género, porque no me dizes ja quem 6? CALICLES ~ Nao, por Zeus, nos oradores actuais niio vejo nenhum assim. SOCRATES ~ Pois bem, e entre os antigos podes nomear-me algum, gragas a0 qual os atenienses se tenham modificado para melhor, desde que ele comegou a dirigir-Ihes a palavra? Eu, pela minha parte, nfo conhego nenhum. CALICLES ~ 0 qué?! Desconheces os méritos de Temistocles, Cimon, Mileiades ¢ deste Péricles que hi pouco morreu, ¢ que tu proprio escutaste? SOCRATES ~ Se 0 verdadeiro mérito consiste, como disseste, em satisfazer os desejos proprios € os alheios, nao tenho nada a opor. Mas se ndo é assim, se 0 mérito, como fomos levados a admitir na nossa discussio, reside em satisfazer apenas aqueles desejos que nos tornam melhores, em vez daqueles que nos tornam piores, e a isto chamdmos nos uma arte, podes dizer-me qual ¢ destes oradores aquele que apresenta tais caractcristicas? CALICLES — Nao sei o que te hei-de responder. SOCRATES ~ Procura bem que hés-de encontrar. Mas examinemos com calma se alguma das pessoas citadas obedece a estas condigdes. Vejamos: 0 homem virtuoso, que niio fala sendo com vista ao maior bem, procede nos seus discursos ao acaso ou com um fito determinado? Creio que sucede com eles 0 mesmo que com todos os artistas, que, de olhos fixos na sua taref, no empregam ao acaso os materiais que utilizam, mas os escolhem de molde a que o trabalho a realizar adquira a forma desejada. Vé, por exemplo, os pintores, os arquitectos, os construtores havais e todos os outros artistas: qualquer deles coloca por uma certa ordem as diversas partes do seu trabalho, obrigando cada uma delas a ajustar-se e a harmonizar-se com as outras, até compor um todo em que reine o sistema € a proporgao. Do mesmo modo, os outros artifices de que ha pouco falimos, ¢ que se ocupam do corpo, os mesires da gindstica e os médicos, procuram formar 0 corpo na ordem e no equilibrio. Podemos assentar nisto ou nao? CALICLES ~ Seja assim. 5026-504, Lisboa, Edigdes 70, 1992, pp. 169-171 QUESTOES 1. Explique, com base no texto, de que modo deve ser praticada a arte politica, 2. Explicite, recorrendo ao texto, a tese socratica sobre os politicos de Atenas. 3. Esclarega a relevancia do excerto no contexto global da obra, 11414 FEDON, Platao TEXTO [Socrates] ~ [...] Sempre que, a0 veres um dado objecto, a visio desse mesmo objecto te transporte a ideia de outro, seja ele igual ou diverso, & necessariamente um caso de [Simias] - Sem divida alguma. ~ Vejamos, ¢ 0 que nos diz a experiéncia relativamente & igualdade dos troncos ¢ de outros objectos iguais que mesmo ha pouco referiamos: parece-nos a nds que essa igualdade existe no mesmo plano que o eval em si? Ou que carece ou nao, em determinado grav, dese mesmo Igual para se identificar com ele? ~ Claro que carece — respondeu -, e bastante Ora bem, estamos de acordo: quando uma pessoa olha para um dado objecto e reflecte de si para si: «este objecto que tenho diante dos olhos aspira a identificar-se com determinada realidade, mas esta longe de poder identificar-se a ela ¢ é-Ihe, pelo contratio, bastante inferior» ~, a0 fazer tais reflexdes € porque, suponho, conhecia ja essa tal realidade, 4 qual, segundo cla, se assemelha o objecto em causa, embora bastante imperfeitamente? Por forga ~ Vejamos, se ¢ também isto ou no o que a experiéneia nos diz quanto as coisas iguais © a0 Igual em si? ~ Absolutamente. = O que implica, portanto, que tivéssemos ja tido um conhecimento do Igual anteriormente & altura em que, a0 vermos pela primeira vez coisas iguais, nos apercebemos de que igualdades deste tipo tendem, todas elas, a identificar-se com o Igual em si, embora Ihe fiquem bastante aquém? = Nem mais nem menos. E nisto ainda estamos também de acordo: a nogio que temos do Igual, de forma alguma poderia ter-se formado em nés a ndo ser por intermédio da vista, do tacto ou de qualquer um dos outros sentidos. E 0 que digo & vilido para todos os casos do mesmo sgénero. = O processo é de facto © mesmo, Sécrates, pelo menos no sentido em que o argumento pretende demonstrar. ~ Tera, pois, de ser através dos dados dos sentidos que nos apercebemos de que as realidades sensoriais tendem sempre para essa realidade do Igual, embora Ihe fiquem bastante aquém. Ou nao € isso o que diremos? = Isso mesmo. — Donde se segue que, antes de comegarmos a ver, a ouvir, a gozar dos restantes sentidos, deveriamos jé ter um conhecimento do Igual em si, daquilo que de facto é; sem o que no seria possivel tomé-lo como ponto de referéncia das realidades sensoriais, ou seja, de todas essas que, aspirando por um lado a assimilar-se a ele, Ihe so, por outro, inferiores, 740-75, Comba, Livraria Minerva, 1988, pp. 69-70 QUESTOES 4. Caracterize, com base no texto, as «realidades» referidas pelos termos «coisas iguais» e «igual em si», 2. Explicte, recorrendo ao texto, o papel dos sentidos na reminiscéncia, 3. Esclarega a relevancia do excerto no contexto global da obra, V.S.FF. 11415 CATEGORIAS, Aristételes TEXTO por conseguinte com razio que, depois das substincias primeiras, entre todas as outras coisas, s6 a espécie ¢ 0 género so nomedveis substincias segundas, porque, entre todas as coisas que se predicam, s6 elas exibem a substancia primeira. O que é 0 homem determinado € dito de uma forma mais propria através da espécie, homem, do que através do género, animal. Em contrapartida, dizer do homem qualquer outra coisa seria tomar a explicagio imprépria, como, por exemplo, se dissermos que ele ¢ branco, ou que ele corre, ou predicados analogos. Assim, é evidente que 36 a espécie e 0 género se denominam substincias segundas, para além das substincias primeiras. Outro argumento: as substincias primeiras, porque so sujeitos de todas as outras coisas, so por isso nomeadas substincias na estrita acepeio da palavra. Assim como as substincias primeiras esto para todas as outras coisas, também as espécies e os géneros das substincias primeiras estio para todas as demais; daqueles, com efeito, tudo o resto € predicado. Pois se dizes que certo homem & gramitico, dizes que é gramatico o homem € 0 animal, E assim nos demais casos. Propriedade comum a toda a substincia € nio estar no sujeito, porque isso a que chamamos substincia primeira nfo pode estar num sujeito, nem é predicavel de qualquer sujeito. E quanto as substincias segundas também é claro, pelas razées a seguir, que no esto num sujeito, Em primeiro lugar, a espécie homem € predicada de um homem, mas hhomem nao esta num sujeto, porque homem nao é uma parte de algum homem. O género animal, com efeito, predica-se assertivamente deste ou daquele homem, mas nio esta nele. [Em segundo lugar, cumpre ter em conta que, quando uma coisa esti num sujeito, nada nos impede de predicar 0 seu nome do sujeito, mas nesse caso é impossivel predicar a sua definigao. Ora, nas substincias segundas, 0 nome ¢ a definigio so predicados do sujeito. A definigdo da espécie ~ homem — ¢ a do género ~ animal ~ so predicados de tum dado homem, de onde se segue que a substincia no se conta no nimero das coisas que esto num sujeito 2029-3421, in Organon, Lisboa, Guimaraes Edtores, 1986, pp. 51-53 (adaptado} QUESTOES 1. Explicite, recorrendo ao texto, a nogao de substancia primeira 2. Com base no texto, explique os argumentos que mostram que a substéncia segunda nao esta num sujeito. 3. Esclarega a relevancia do excerto no contexto global da obra, 11416 PRINCIPIOS DA FILOSOFIA, R. Descartes TEXTO 11 ~ Como podemos conhecer mais claramente a alma do que 0 corpo Ora, a fim de saber como 0 conhecimento que possuimos do nosso pensamento precede 0 do corpo, sendo incomparavelmente mais evidente, e de que maneira, ainda que 0 nfo fosse, teriamos razio para concluir que no deixaria por isso de existir tudo quanto existe, observaremos que é manifesto, por uma luz que se encontra natural- ‘mente nas nossas almas, que o nada ndo tem quatidades ou propriedades que o afectem € que, onde nés nos apercebemios de algumas, se deve encontrar necessariamente uma coisa ou substancia de que dependem. Esta mesma luz mostra-nos, também, que conhecemos tanto melhor uma coisa ou substincia quanto nela maior nimero de propriedades notamos. Ora é certo que as notamos muito mais no nosso pensamento do que em qualquer outra coisa, tanto mais que nada ha que nos incite a conhecer seja © que for e que ndo nos conduza, ainda com mais certeza, a conhecer 0 nosso Pensamento. Se, por exemplo, me persuado de que hé uma terra, por a tocar ou ver, Por razio ainda mais forte, devo estar persuadido de que o meu pensamento € ou existe, porque pode suceder que eu pense tocar a terra, embora no haja talvez nenhuma terra no mundo, mas no & possivel que cu, isto é a minha alma, nada seja enquanto cla tem este pensamento, Podemos concluir 0 mesmo de todas as outras coisas que nos vém a0 pensamento, isto é, que nds, que as pensamos, existimos, embora clas sejam talvez.falsas ou no tenham existéncia, 12 = Da razdo por que nem toda a gente conhece a alma desta maneira Agueles que nao filosofaram por ordem formularam outras opinides sobre este assunto, porque nunca distinguiram, com bastante cuidado, a sua alma, ou seja, aquilo que pensa, do corpo, ou seja, 0 que é extenso em comprimento, largura ¢ altura Porque, ainda que nao pusessem nenhuma dificuldade em crer que estavam no mundo, estando mais seguros disto do que de qualquer outra coisa, todavia como nao levaram em conta que, para eles, quando se tratava de uma certeza metafisica, deviam considerar somente o pensamento, e que, pelo contririo, preferiam crer que era o corpo que viam com os olhos, tocavam com as mas, e ao qual atribuiam, pouco a propésito, a faculdade de sentir, por isso nao conheceram distintamente a natureza da alma, Lisboa, Guimaraes Extores, 1989, pp. 59-61 QUESTOES 1. Explicite a argumentago do texto pela qual se mostra que a alma é conhecida com mais evidéncia do que o corpo. 2. Esclareca, com base no texto, a relagao entre sentir e pensar. 3. Esclarega a relevancia do excerto no contexto global da obra. VS.FF. 4114/7 CARTA SOBRE A TOLERANCIA, J. Locke TEXTO Aqueles cuja doutrina ¢ pacifica, cujos costumes sZo puros e sem falhas, que se mantenham no ‘mesmo lugar que © resto dos cidados, Se as reunides, as assembleias solenes, a celebracio dos dias festivos, 08 sermées ¢ os cultos pablicos so permitidos aos outros, entdo que o sejam também, por igualdade de dircitos, aos remonstrantes, aos anti-remonstrantes, aos luteranos, aos anabaptistas, 20s socinianos. E até, se & permitido dizer 0 que é verdadeiro e 0 que fica bem ao homem em relagio 08 outros homens, que 0 pagéo ou o maometano, ou o juudeu no sejam excluidos do Estado por causa da religio, © Evangelho nada de semelhante ordena. Nao o deseja a Igreja, que (I Cor. V, 12-13) no julga os estranhos; néo 0 exige 0 Estado, que recebe ¢ acolhe os cidadios se forem hhonestos, pacificos ¢ trabalhadores. Permitis a um pagio exercer, entre vés, 0 seu negocio ¢ proibis que ele reze ¢ venere a Deus? Dais aos judeus casas € moradias privadas ¢ recusais-lhes uma sinagoga? A sua doutrina é mais falsa, 0 seu culto mais vergonhoso, a sua solidariedade mais perigosa numa reunido piblica do que nas suas residéncias privadas? E se isto se deve conceder aos pagios ¢ aos judeus, a condigio dos eristdos ndo sera mais dura no Estado cristio? Direis: estes sio ‘mais inclinados as facgdes, aos tumultos ¢ & guerra civil. Responderei: mas a culpa é da religito crista? Se assim fosse, a religido cristi seria, evidentemente, a pior de todas e indigna de ser professada por v6s ¢ tolerada pelo Estado. Se, com efeito, o génio ¢ a natureza da religiao cristi fossem de tal ordem que originassem 0 tumulto ¢ a hostilidade & paz civil, a propria Igreja que 0 magistrado protege algum dia deixaria de ser inocente. Mas isto é muito dificil de dizer de uma religio inimiga da avareza, da ambicao, das discordias, das lutas ¢ dos desejos terrenos, ela que é 2 ‘mais modesta ¢ mais pacifica de todas as religides que existram. Ha que buscar, portanto, outra causa dos males que the sio imputados; se virmos bem as coisas, a causa encontra-se na questio que ‘ratamos. Nao foi a diversidade das opinides ~ que no se pode evitar — mas sim a recusa da tolerincia, que poderia ter sido concedida aos que defendem diversas opinides, que originou e produziu a maior parte das lutas e guerras de religio no mundo eristio: quando os chefes da Tereja, mpelidos pela avareza ¢ pelo desejo de mandar, excitavam ¢ estimulavam de todos os modos contra 05 heterodoxos os magistrados muitas vezes impotentes devido 4 ambigo e 0 povo sempre vao em virtude da superstigao; ¢ contra as leis do Evangelho, contra os conselhos da caridade, pregaram a espoliagio ¢ 0 exterminio dos cismaticos e heréticos; e misturaram duas coisas completamente diferentes: a Igreja ¢ 0 Estado. Se, como acontece, os homens suportam impacientemente @ sua privago dos frutos de um trabalho honesto € 0 torarem-se ~ contra todo o direito humano e divino =a presa da violéncia ¢ da rapina de outrem, sobretudo quando no cometeram erros e se trata de algo que nao se refere rigorosamente ao direito civil, mas & sua propria consciéncia e a salvagao da sua alma, de que s6 cada um daré contas a Deus; que outra coisa se pode esperar a no ser que os hhomens, descorogoados pelos males que os oprimem, se persuadam finalmente de que é permitido rejeitar a violéncia pela violéncia e defender, por todos os meios ao seu alcance, os direitos que lhes foram concedidos por Deus e pela natureza, e que ndo podem ser perdidos por causa da religio mas por causa do crime? Lisboa, Edigdes 70, 1996, pp. 121-122 QUESTOES 1. Explique, de acordo com 0 texto, a causa da maior parte das lutas no mundo cristao, 2. Enuncie os argumentos com que no texto ¢ defendida a tolerancia entre os cristéos, 3. Esclarega a relevancia do excerto no contexto global da obra 14/8 DISCURSO DE METAFISICA, G. W. Leibniz TEXTO 36 ~ Deus ¢ 0 monarca da mais perfeita republica, composta de todos os 1s, € a felicidade desta cidade de Deus é 0 seu principal designio. espi Com efeito, 0s espiritos sao as substancias mais perfeccionaveis, ¢ as suas perfeigdes tém a particularidade de se estorvarem o minimo entre si, ou antes, de se entreajudarem, pois s6 os mais virtuosos poderio ser os mais perfeitos amigos: donde se segue manifestamente que Deus, que procura sempre a maxima perfei¢do em geral, teré 0 maior cuidado dos espiritos e dar-thes-A ndo s em geral, mas até a cada um em particular, o maximo de perfeigo que a harmonia universal pode permitir. Pode até dizer-se que Deus, enquanto espirito, & a origem das existéncias; de outro modo, se tivesse vontade de escolher o melhor, no haveria razio para que um possivel cxistisse de preferéncia a outros. Assim, a qualidade que Deus tem de ele proprio ser espirito antecede as demais consideragdes que pode ter a respeito das criaturas; 86 os espiritos estio feitos a sua imagem, quase da sua raga ou como que filhos da casa, pois s6 cles © podem servir livremente ¢ agir com conhecimento por imitado da natureza divina: um 6 espirito vale por todo um mundo, porque no s6 0 exprime, mas também o conhece, enele se governa a maneira de Deus. De tal modo que parece, embora toda a substincia exprima todo 0 universo, que as outras substincias exprimem antes 0 mundo que Deus, 20 passo que os espiritos exprimem melhor Deus que o mundo. E esta natureza tio nobre dos espiritos, que os aproxima da divindade tanto quanto é possivel és simples criaturas, faz que Deus tire deles infinitamente mais gléria que do resto dos seres, ou antes, os outros seres fomecem apenas a matéria aos espiritos para o glorificar. E, por isso, esta qualidade moral de Deus, que o toma senhor ou monarca dos espiritos, diz-Ihe respeito, por assim dizer, pessoalmente de um modo muito singular. E nisto que ele se humaniza, que tolera antropologias ¢ entra em sociedade conosco, como um principe com os seus siibditos; ¢ esta consideragio é-Ihe tio cara que o estado feliz ¢ florescente do seu império, que consiste na maior felicidade possivel dos seus habitantes, se torna a sta suprema lei. Pois, a felicidade & para as pessoas 0 que a perfeigdo ¢ para outros seres. E se 0 primeiro principio da existéncia do mundo fisico & 0 decreto de the dar a maior perfeigo possivel, o primeiro designio do mundo moral ou da cidade de Deus, que é a parte mais nobre do universo, deve ser o de nele difundir o maximo de felicidade que soja possivel Lsboa, Esigdes 70, 1985, pp. 86-87 QUESTOES 1. Fundamente no texto a relagio do principio de razo suficiente com o principio do methor. 2. Justifique, com base no texto, a superioridade das substancias espirituais. 3. Esclarega a relevancia do excerto no contexto global da obra. V.S.FF. 11419 FUNDAMENTACAO DA METAFISICA DOS COSTUMES, I. Kant TEXTO Dever é a necessidade de uma acedo por respeito & lei, Pelo objecto, como efeito ego em vista, posso eu sentir, em verdade, inclinagdo, mas nunca respeito, exactamente porque € simplesmente um efeito e no a actividade de uma vontade. De igual modo, néo pposso ter respeito por qualquer inclinagZo em geral, seja ela minha ou de um outro; posso, {quando muito, no primeiro caso, aprovi-la, e, no segundo, por vezes amé-la mesmo, isto é consideré-la como favorivel ao meu proprio interesse. $6 pode ser objecto de respeito «. portanto, mandamento aquilo que esté ligado a minha vontade somente como principio © nunca como efeito, néo aquilo que serve & minha inclinagio, mas © que a domina ou que, pelo menos, a exclui do calculo na escolha, quer dizer, a simples lei por si mesma. Ora, se ‘uma acgGo realizada por dever deve climinar totalmente a influéneia da inclinago ¢ com cla todo o objecto da vontade, nada mais resta vontade que a possa determinar do que & lei objectivamente, e, subjectivamente 0 puro respeito por esta lei pritica, ¢, por conseguinte, a méxima que manda obedecer a essa lei mesmo com prejuizo de todas as minhas inclinagdes. valor moral da acgdo nio reside, portanto, no eftito que dela se espera; também nio reside em qualquer principio da acgdo que precise de pedir 0 seu mobil a este efeito esperado. Pois todos estes efeitos (a amenidade da nossa situagdo, ¢ mesmo o fomento da felicidade alheia) podiam também ser alcangados por oulras causas, € ndo se precisava, portanto, para tal da vontade de um ser racional, na qual vontade ~ ¢ s6 nela ~ se pode encontrar o bem supremo ¢ incondicionado. Por conseguinte, nada sendo a representagdo da lei em si mesma que, em verdade, s6 no ser racional se realiza, enquanto & ela, ¢ nao 0 esperado efeito, que determina a vontade, pode constituir o bem excelente que chamamos moral, o qual se encontra ja presente na propria pessoa que age segundo esta lei, mas no se deve esperar somente do efeito da acgio. Mas que lei pode ser entio essa, cuja representagdo, mesmo sem fomar em considerayo 0 efeito que dela se espera, tem de determinar a vontade para que esta se possa chamer absolutamente boa e sem restrigo? Uma vez que despojci a vontade de todos os estimulos que Ihe poderiam advir da obedincia a qualquer lei, nada mais resta do que a conformidade ‘4 uma lei universal das acgdes em geral que possa servir de Unico principio a vontade, isto & devo proceder sempre de maneira a que eu possa querer também que a minha maxima se torne uma lei universal. BA 14:17, Lisboa, Edigdes 70, 1992, pp. 91-99 QUESTOES 4. Distinga, com base no texto, «objecto de inclinagaion de «abjecto de respeito». 2. Relacione, a partir do texto, lei moral e racionalidade. 3, Esclarega a relevancia do excerto no contexto global da obra. 114/10 sess GRUPO IL — Seleccione apenas uma das obras que Ihe S40 propostas e desenvolva o tema anexo. ~ Apresente um plano organizador. ‘A nao identificagao do tema e da obra implicaré uma pontuagao de 0 (zero) pontos. = A opsao por um par obra-tema diferente dos que so apresentados na prova implicara uma pontuagao de 0 (zero) pontos. — Na sua resposta deverd utlizar aproximadamente 80 linhas (cerca de 640 palavras). opRas (© MESTRE, Santo Agostinho PROSLOGION, Santo Anselmo © SER E A ESSENCIA, Sao Tomas de Aquino REDUGAO DAS CIENCIAS A TEOLOGIA, Sao Boaventura INTRODUGAO A HISTORIA DA FILOSOFIA, G. W. F. Hegel TENDENGIAS GERAIS DA FILOSOFIA NA SEGUNDA. METADE DO SECULO XIX, Antero de Quental A ORIGEM DA TRAGEDIA, F. Nietzsche. DA CERTEZA, L. Wittgenstein ELOGIO DA FILOSOFIA, M. Merioau-Ponty (OS PROBLEMAS DA FILOSOFIA, B. Russell PROBLEMATICA DA SAUDADE & ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA CONSCIENCIA SAUDOSA Joaquim de Carvalho. SOBRE A ESSENCIA DA VERDADE, M. Heidegger TEORIA DA INTERPRETAGAO, P. Ricoeur FIM TEMAS A eficdcia do ensino Limites da inteleogao humana Esséncia e existéncia das substancias, Finalidade do conhecimento Liberdade do pensar e origem da filosofia Estatuto da filosofia cientifica da natureza Limites do «optimismo teérico» e renascimento do trégico Jogo de linguagem e significagao 0 filésofo © o Absoluto Natureza do conhecimento a priori Consciéncia teorética e consciéncia saudosa A verdade como correcgao Discurso e mundo V.S.FF. saint 1.02, 114/12 coTagoes GRUPO I (2 x 25 pontos). (1 x 70 pontos). GRUPO II (1 x 80 pontos). TOTAL 50 pontos 70 pontos 80 pontos 200 pontos PROVA 114/C/14 Pags. EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDARIO 12.° Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.° 286/89, de 29 de Agosto) Cursos Gerais — Agrupamentos 3 e 4 120 minutos 12 FASE 22 CHAMADA, PROVA ESCRITA DE FILOSOFIA COTAGOES E CRITERIOS DE CLASSIFICAGAO | AINDICAGAO DO NUMERO DE LINHASIPALAVRAS VISA APENAS ORIENTAR © ALUNO RELATIVAMENTE AO GRAU DE DESENVOLVIMENTO DA RESPOSTA, PELO QUE NAO SE PROPOE QUALQUER PENALIZAGAO PARA © NAO CUMPRIMENTO DESSA INDICAGAO. GRUPOL Questées 1. ¢ 2. criTéRIOs PONTUAGAO Rigor da andlise do excerto apresentado 10 pontos Coeréncia légica da resposta 7 pontos Usilizagao precisa da terminologia filosefica son 4 pontos Correcgdo da expressio escrita . 4 pontos TOTAL 25 pontos TOTAL das Questées 1. 2 (2 « 25) = 50 pontos ‘+ A inadequagao da resposta 8 questo formulada implica uma pontuagao de 0 (zero) pontos, ‘+ Amera transcrigdo de frases do texto implica uma pontuagao de 0 (zero) pontos. Questo 3. CRITERIOS PONTUAGAO. ‘Adequagao dos conhecimentos mobilizados. sun 38 pontos Coeréncia logica da resposta 15 pontos Utilizagao precisa da terminologia floséfica 10 pontos. Correccao da expressao escrita 10 pontos. TOTAL da Questo 3. (1 « 70) = 70 pontos TOTAL DO GRUPO I 120 pontos ‘+ A inadequagao da resposta 4 questo formulada implica uma pontuagao de 0 (zero) pontos, ‘+ Se a resposta no manifestar conhecimento da obra, a pontuago sera de 0 (zero) pontos, V.S.FF. 114/cr Tépicos de contetido: DA NATUREZA, Parmenides 41. llegitimidade do conhecimento sensivel na constituigao do saber verdadeiro (incapacidade dos sentidos), llegitimidade de atribuigao do mesmo valor ao ser e ao nao-ser (dupla face dos mortais, considerago do devir, reversibilidade) llegitimidade da linguagem que nomeia «duas formas» (referéncia 4 opinitio como uma «ordem iluséria» de palavras), 2. Importancia da razao na distingao entre o ser € 0 ndo-ser, bem como entre a verdade e a opiniao. Necessidade de compreensdo da refutagao do nao-ser e da refutagao da identidade do ser com © nao-ser (impossibilidade da sua demonstracao). A escolha racional como condigao da recusa da via da opiniéo e da opgéo pela via da verdade (afastamento do espirito da senda da opiniao), 3. A via da opinido como via do conhecimento sensivel, cujo afastamento € condigéo da opgao pela Via da verdade/realidade do ser. Oposigao do ser («o que se pode dizer e pensar») ao nao-ser («o que nada é»), correspondents 08 Unicos caminhos pensaveis. Negagao do caminho do ndo-ser. Afastamento de uma terceira via, a da opinido: por situar a «investigagao» no plano do sensivel, @ incapaz de conduzir a verdade ou realidade do ser. Refutagao da opiniéo, com base na demonstragao da ambiguidade do conhecimento sensivel (indistingéo entre ser e ndo-ser, confuséo do seu valor na obtencao do saber, reversibilidade: nomeagao de duas formas): referéncia avs objectos da opinizio como discurso ilusério. ‘As aduas faces» do humano: sensivel (incapacidade dos sentidos, «cegos e surdos») e racional {incapacidade de uma mente dependente do sensivel, «errante», «sem discernimento»), Possibilidade de recuperagao, num discurso plausivel, do conhecimento obtido por meio dos sentidos (a ordem cosmica), a luz da exigéncia da via da verdade, GORGIAS, Plato 4. A arte politica, como qualquer arte (dos arquitectos, dos construtores navais, dos médicos, etc.), exige que aquele que a pratica proceda sempre «com vista ao maior bem», procurando tornar melhores os cidadaos e procure dizer o melhor @ nao 0 agradavel. O verdadeito politico sabe qual a finalidade da sua acgao (como sabe 0 «homem virtuoso», o artista), procurando agir com uma certa ordem (racionalmente), a fim de que «as partes» (0s cidadgios) se harmonizem com o todo (isto @, que nas suas almas reine a harmonia, ¢ todos se empenhem no bem comum ou «interesse publico»). 2. Quanto aos politicos de Atenas, os actuais e os anteriores, Sécrates considera que no praticam 2 arte politica, mas apenas a adulagao (eloquéncia politica), visando com ela agradar 20 povo, satistazer os interesses proprios e os dos outros, e nao aqueles desejos que tomam melhores os cidadaos. 3. O excerto apresentado insere-se na parte final da obra, no didlogo com Calicles. Sécrates procura refutar a tese de Calicles que afirma que a vida politica 6 a mais digna de ser vivida. Com a anélise da situagao politica © dos politicos de Atenas, Sdcrates mostra ndo s6 que a verdadeira arte politica nunca foi praticada, como também mostra que 0 povo de Atenas no melhorou com a ret6rica, Esto criadas as condig6es para afirmar uma filosofia politica como uma ética, que tem 114/072 como pressuposto principal a ideia de que toda a aco deve ser praticada com vista ao bem, sendo 0 bem a finalidade ultima do agi. [As teses de Socrates impSem-se por via da refutagao sistematica do hedonismo de Calicles (0 das teses dos seus interiocutores): se o prazer nao pode ser 0 objectivo do agi, ¢ se a retérica é uma actividade empirica (uma adulagao e um simulacro de uma parte da verdadeira arte politica, a justia), destinada a produzir agrado e prazer, entao ela é indlil para promover o bem. Além disso, se a retdrica desconhece o seu objecto, a justia, e se s0 aquele que sabe o que é a justica pode ser justo, entao a pratica da retérica de nada serve para promover a justiga, tornar melhores (mais justos) 08 cidadaos. Por conseguinte, a retérica nao pode ser considerada uma arte, muito menos uma arte politica A verdadeira arte politica tem de ser baseada no saber da justiga e do bem. Quem a pratica deve saber, em primeiro lugar, govemar-se a si proprio, para depois governar os outros, tendo como finalidade 0 bem individual e 0 bem comum. S6 a filosofia, enquanto flosofia politica @ ética, reine as condigées de uma arte politica («Crelo ser dos poucos atenienses, para nao dizer 0 Unico, que cultivam a verdadeira arte politica», diz Sécrates). FEDON, Platao 1. As «coisas iguais» como «realidades sensoriais», captaveis através dos sentidos («troncos iguais», objectos iguais). Plano inferior de existancia. 0 «lgual em sin como realidade inteligivel do Igual (forma do Igual), «ponto de referéncia» que permite tomar por iguais as coisas sensiveis. Plano superior de existéncia. 2. Os sentidos possibilitam a percepcao das coisas iguais (sensiveis). Conduzem a recuperagao do Igual em si (forma), permitindo tomd-lo como «ponte de referéncian da igualdade das coisas iguais (sensiveis). Necessidade de supor a anterioridade do inteligivel (Igual em si) relativamente ao sensivel A reminiscéncia ocorre como referéncia do sensivel ao inteligivel: 0 inteligivel é recuperado Porque @ captagao sensivel de um objecto «transporta» & respectiva forma. 3. O texto integra-se no argumento da reminiscéncia, apresentando a relagao entre os planos do sensivel e do inteligivel quanto ao problema do conhecimento: a reminiscéncia como recuperaga0 do conhecimento das formas por intermédio dos sentidos. ‘Ao supor a anterioridade do contacto da alma com as formas relativamente a percepcao sensivel das instancias, a reminiscéncia 6 apresentada como um dos argumentos da existéncia da alma anterior ao nascimento. A descrigao da intervengao dos sentidos na reminiscéncia permite, porém, estabelecer a superioridade do inteligivel, necessaria @ compreensao de alguns problemas da obra, situados nos planos ontolégico (as formas como causas das instancias sensiveis, a participagao), gnosiolégico (as formas como objectos do conhecimento) e ético (0 conhecimento das formas como finalidade da vida, a importancia da forma do Bem). CATEGORIAS, Aristételes 41. A substancia primeira no esté em nenhum sujeito nem é dita de nenhum sujeito, pois € ela propria 0 sujeito de toda a predicagéo. a substancia propriamente dita, o ente concreto e individual: este homem, um certo homem, por exemplo, Sédcrates V.S.FF. 114/0/3, 2. 1.9) A subsidincia segunda nao é parte do sujeito (de que pode ser predicada); logo, nao esta num sujeito. 2.) As coisas que esto num sujeito no admitern que o nome e a sua definigso sejam predicados dese sujeito. A substancia segunda admite que tanto o nome como a definigao sejam predicados de um sujeito. Logo, a substéncia segunda nao esta num sujeito, 3. Importancia do extracto na compreensao (1) do primado da substancia em sentido primeiro (pr6prio) sobre a substancia em sentido segundo (derivado), ¢ (2) do primado da categoria da substancia sobre as restantes categorias. (1) As substancias primeiras como entes individuais que suportam toda a predicagao, sendo substralo real de predicados e ocorrendo nas proposigées como sujelios de predicagdo. AS ‘Substancias segundas como concsitos (género © espécie) predicados das substancias primeiras segundo a categoria da substancia, (2) A substéncia como a mais importante das categorias: os conceitos dados pelo género e pela espécie correspondem ao que pode ser dito dos individuos para determinar 0 que eles séo, compreendendo os predicados essenciais. Deste modo, possibilitam 0 conhecimento universal. Todas as restantes categorias (qualidade, quantidade, relagao, lugar, tempo, posigdo, posse, acgao ou actividade, paixao ou passividade) sao modos de predicagao de qualidades acidentais, PRINCIPIOS DA FILOSOFIA, R. Descartes 1. Apercebemo-nos das qualidades do nosso pensamento; 0 nada nao tem qualidades ou afecgbes; 8 qualidades que percebemos (conhecemos) tem de corresponder uma substancia; por conseguinte, tem de existir uma substancia pensante que corresponda ao pensamento. Conhecemos tanto melhor uma coisa quanto mais qualidades nela notamos; conhecemos melhor as qualidades do pensamento que as do corpo; logo, o pensamento é conhecido com mais clareza do que 0 corpo, ‘Tudo aquilo que percepciono (conhego) conduz, antes de mais, & certeza do meu pensamento (da minha existéncia enquanto pensamento). 2. Posso pensar que sinto, podendo 0 objecto da percepgao nao existir; mas existe sempre o pensamento. A certeza da existéncia é também a certeza da existéncia da faculdade de sentir, que é indevidamente atribuida ao corpo, sendo uma faculdade do pensamento. 3. Necessidade de «filosofar com ordem» como método para atingir a certeza: deve duvidar-se daquilo que nao se apresenta clara e distintamente ao pensamento (regra da evidéncia) A primeira verdade: penso, logo existo; a certeza da minha existéncia enquanto pensamento (substancia pensante). As qualidades atribuidas ao corpo (extensao, movimento, etc.) nao pertencem a natureza da substancia pensante Definigao de pensamento: «todas aquelas coisas que ocorrem em nés quando estamos conscientes, na medida em que ha em nés consciéncia delas» ~ entender, Imaginar, querer & sentir. corpo @ © mundo como coisas sobre cuja existéncia nao se pode ter a certeza, como & comprovado pelo exercicio da duvida metédica Distingao entre substancia pensante e substancia extensa: desta distingdo evidente resulta a possibilidade do conhecimento verdadeiro e do juizo correcto. Da sua nao distingao resulta 0 erro, que, em ultima analise, consiste no assentimento da vontade a conhecimentos que no foram percebidos clara e distintamente pelo entendimento. Deus como garante da verdade das ideias claras e distintas (que incluem as ideias sobre o corpo 0 mundo: extensao e movimento), 114/014 CARTA SOBRE A TOLERANCIA, J. Locke 1. A existéncia de diversas opinides em matéria de religido, diversidade que nao pode ser evitada, nao é causa das guerras. A sua origem reside na recusa da tolerancia, a qual deriva, em ultima analise, da subordinagao da religido aos interesses particulares dos magistrados e dos chefes religiosos. 2. O Evangelho no ordena que os nao cristdos sejam excluidos do Estado cristo; aos nao cristéos 6 permitida uma vida civil e, por isso, exige-se também a tolerdncia pelas suas praticas religiosas; por conseguinte, deve ser dado aos cristéos de facgées diferentes 0 mesmo direito de culto, A religio crista € «a mais poderosa e mais pacifica de todas as religides que existiramy; logo, a violéncia nao tem origem nas diversas facgoes da religido crista 3. Refutagao sistematica dos argumentos possiveis contra a tolerdncia religiosa, nomeadamente daquele que, como se mostra no texto, airibui a violéncia (guerras religiosas) a existéncia de diversas facgoes religiosas, Necessidade de uma lei da tolerdncia, para que no se favorega uma unica religido (a do magistrado), para que seja possivel acabar com a violéncia, e para que, ao mesmo tempo, pelas excepgtes a essa lei, exista um limite a préticas imorais (como 0 ateismo, por exempio). A tolerdncia pelas e entre as varias igrejas como condigao de live escolha do melhor caminho para a salvago da alma, a qual, em primeiro lugar, depende da sinceridade da fé e da convicgao individual. ‘A separagao entre Estado e Igreja como condigo fundamental da tolerancia: — por sera tinica maneira de evitar a imoralidade, isto , a sobreposigo da ambigSo pelo poder 8 vida espintual; ~ como limitagao do poder do Estado ao plano civil e da lgreja a0 plano espiritual; = como garantia da liberdade individual, fundamento quer da sociedade civil, quer da sociedade religiosa. DISCURSO DE METAFISICA, G. W. Leibniz 1. Ha uma causa (razdo suficiente) para a existéncia deste mundo e nao de outro possivel A razao suficiente desta existéncia, entre outros mundos possiveis, ¢ a vontade de Deus, que escolhe o melhor, porque procura a maxima perfeicdo possivel. Nesta medida, 0 mundo existente é o melhor dos possiveis. 2. Cada substancia singular exprime todo o universo (constituido por todas as outras substancias, incluindo Deus). AAs substancias fisicas exprimem melhor 0 mundo (as outras substancias fisicas) do que exprimem a substancia de Deus. AAs substancias espirituais exprimem melhor Deus do que o mundo, porque 2 sua capacidade de conhecer imita a natureza divina, Para além de exprimirem 0 mundo, conhecem e agem com conhecimento. Sao as mais perfeitas das substancias criadas, as mais proximas de Deus. A sua perfeigao 6 atingida no mundo moral, enquanto felicidade. 3. Importancia dos principios de raz8o suficiente e do melhor na compreensdo da harmonia da criago e da relagao de Deus com as substéncias criadas. A relagao entre Deus e as substancias criadas determina a capacidade de acesso do homem a0 mundo moral (cidade de Deus, repiblica dos espiritos). A proximidade de Deus determina o grau de perfeigao das substancias criadas. ‘Compreensao finalsta da harmonia universal: a aogéo humana como finaidade do conhecimento; a felcidade como finalidade da acgdo moral; o «mundo moral» como finalidade da existéncia criada ‘e mantida por Deus; a existéncia humana como mediagao entre o mundo fisico e o mundo moral V.S.FF. 114/015 FUNDAMENTACAO DA METAFISICA DOS COSTUMES, |. Kant 1. «Objecto de inclinagao» como objecto da vontade enquanto efeito esperado da acgdo; mébil da acgao, «Objecto de respeito» como o principio que determina a vontade, aquilo que se liga & sua actividade propria (racional), ou seja, a representagao da lei em si mesma 2. Uma ac¢ao tem valor moral quando 0 querer ou a vontade que a determina se funda na representagao da lei em si mesma. Se os efeitos de uma acgdo podem ser obtidos por uma vontade nao racional, somente uma vontade racional pode realizar acgdes em conformidade com a lei moral («lei universal das acgdes em geral»), tendo como seu principio a «representagao da lei em si mesma», e que se traduz no imperative formulado no texto. 3. Procura-se, por meio da filosofia, 0 principio supremo da moralidade, que é, em ultima analise, a autonomia da vontade («aquela propriedade da vontade gracas @ qual ela é para si mesma a sua lein). No entanto, antes de se passar a fundamentacao racional da autonomia na liberdade da vontade, mostra-Se que as principais nogSes morais pertencem, como se diz no texto, « comum razdo humana nos seus juizos préticos». 0 texto trata da consciéncia do dever, enquanto «necessidade de uma acg4o por respeito a lei, como aquilo que todo o ser racional (enquanto ser iguaimente sensivel) tem «diante dos olhos» nas suas acces. O dever apresenta-se como determinante da vontade boa (mas no da vontade santa ou da vontade pura), como condigao de ultrapassar as inclinagdes sensiveis @ os motivos, empiticos do agir; traduz-se num imperativo, isto &, na formula de um mandamento ou repre- sentacao de um principio objectivo para uma vontade, a qual, enquanto se sabe pertencente a0 mundo sensivel, no pode deixar de entender esse principio como uma obrigagéo para o seu querer subjective. No entanto, 0 dever no se impée do exterior ao ser humano. A consciéncia do dever (enquanto consideragao da necessidade de uma acco por respeito & lel) € a consciéncia da submissao da vontade a uma lei de que ela propria se considera, ao mesmo tempo, criadora (devemos agir sempre segundo uma maxima tal que possamos querer que se tome lei universal): nisso reside a autonomia da vontade, principio supremo da moralidade. 114/016 GRUPO IL CRITERIOS Plano prévio ~ estrutura e adequagao Selecgo correcta dos conhecimentos para desenvolver © tema escolhido Apropriagao pessoal dos conhecimentos e apreciagao do modo como 0 tema foi tratado pelo autor, na obra Coeréncia légica da resposta Utlizagao precisa da terminologia filoséfica Correcgao da expressao escrita TOTAL (1 80) = TOTAL DO GRUPO II PONTUAGAO 8 pontos 20 pontos 10 pontos 20 pontos 10 pontos 12 pontos ‘80 pontos. 80 pontos + Se 0 aluno nao identificar a obra e ndo resultar ébvio do seu texto a que obra se est a referit, ou se escolher um par obra-tema diferente dos indicados, a pontuagao sera de 0 (zero) pontos. + A inadequagao da resposta a quesiao implica uma pontuagao de 0 (zero) pontos. Dado 0 objectivo deste grupo, serao de aceitar respostas diversificadas, desde que se reportem a um dos pares obra-tema indicados na prova e revelem uma seleccdo adequada dos conhecimentos da obra e um posicionamento critic. VS.FF. 114/017 Tépicos de conteudo: O MESTRE, Santo Agostinho TEMA; A eficacia do ensino Ensinar é o objectivo proprio da fala («é evidente que quando falamos queremos ensinar»). As palavras so sinais de coisas e nao mostram as proprias coisas (a palavra nao ¢ ostensiva); para se conhecerem as palavras como sinais € necessario 0 conhecimento prévio das realidades («Conhecidas as coisas, alcanga-se também o conhecimento das palavras, mas ouvidas as palavras nem as palavras se aprendem»). Por conseguinte, a palavra — ou 0 discurso ~ no ensina, isto é, no mostra nem apresenta @ realidade. ‘A fungo do ensino por palavras consiste em incitar a aprender, a buscar as coisas a procurar a verdade daquilo que é dito (eaprendi que o homem, incitado pelas palavras, ndo mais que incitado a aprender»); neste sentido, mesmo aquele que ndo sabe pode ensinar com verdade, desde que ‘ouvinte (discipulo) saiba encontrar a verdade do seu discurso («aqueles que sao chamados discipulos consideram consigo mesmos se disseram coisas verdadeiras...»). A condigao de se aceder a verdade reside na consulta ao Mestre interior («...e fazem-no contemplando, na medida das proprias forgas, aquela Verdade interior). (© Mestre interior, & semelhanga do Criador, ensina por ostensao: Deus a Natureza «expoem e mostram» todas as coisas visiveis a quem as contempla; o Mestre interior (Cristo) mostra a verdade na interioridade. ‘A eficdcia do ensino depende da capacidade de a vontade receber a verdade que «preside interiormente 4 nossa mente»: 0 erro deriva de uma vontade ma, nao sendo um defeito da Verdade consultada, «do mesmo modo que ndo é por defeito desta luz exterior que os olhos corporais por vezes se enganam». PROSLOGION, Santo Anselmo TEMA: Limites da intelecgdo humana Reconhecimento da incapacidade humana de uma inteleccao completa da esséncia de Deus. Causas da limitagao da intelecgao humana de Deus: condi¢ao de criatura, menor do que a do Criador; relatividade do conhecimento humano (0 homem «vé» apenas de algum modo); perda humana do conhecimento de Deus, decorrente do pecado original. Necessidade de aceitaczio da nogao de Deus ~ alguma coisa maior do que a qual nada se pode pensar ~ como ponto de partida para a compreensao da existéncia e da esséncia de Deus, dentro dos limites da intelecgao humana. A condi¢ao do «insipiente» como o homem que, ndo podendo inteleccionar Deus, nega a sua existéncia. A limitagdo da intelecgo esta subjacente a propria nogao de Deus como alguma coisa maior do que a qual nada se pode pensar: 0 homem nao pode pensar nada maior mas Deus, na realidade da sua existéncia e da sua esséncia, @ necessariamente maior do que se pode pensar (¢ sempre mais fe maior do que 0 que pode ser inteleccionado por uma criatura ~ a existéncia na realidade ¢ maior do que a existéncia no pensamento humano), ‘A intelecgdo humana atinge apenas modos de ser relativos e parciais; Deus é absoluto e perfeito. Distingdo entre @ compreensao «para nos» @ a compreensao «para Deus» (0 homem intelecciona Deus como, por exemplo, misericordioso — ponto de vista humano - mas Deus nao é, em si mesmo, misericordioso, porque é Impassivel, ndo sofrendo quaisquer afecgdes ~ & apenas justo de acordo consigo mesmo, segundo a sua vontade superior de punir e recompensar). Recurso a teologia negativa: 0 homem pode compreender o que Deus nao é (nao pode ser menor do que € pensado, nao pode nao existir); 0 que Deus 6 em si mesmo esta sempre além das 114/C18 capacidades humanas de intelecgao. Deus € tudo o que & melhor ser (na realidade) do que néio ser (segundo as determinagdes negativas compreendidas pelo homem). A intelecgao da esséncia de Deus na sua perfeigdo absoluta seria uma contemplago inacessive! ‘ao homem na sua existéncia temporal. © homem possui o desejo de inteleccionar Deus, guiado pela fé («creio para inteleccionar») e pela esperanga. A plenitude da intelecgdo de Deus pode ser aproximada na vida temporal, guiada pela esperanca da sua realidade na vida eterna. © SER E A ESSENCIA, S. Tomas de Aquino TEMA: Esséncia e existéncia das substancias Hierarquizagao da existéncia segundo graus de perfeicao: a esséncia encontra-se de modo proprio nas substancias e de modo relativo nos acidentes; as substancias podem ser corporais ou espirituais; a esséncia enconira-se nas substancias espirituais com maior actualidade e menor (ou nenhuma) Potencialidade do que nas corporais, donde decorre a sua maior perfé O grau de perfeigao depende do modo como a esséncia se encontra na existéncia das substancias, a que correspondem graus de maior ou menor actualidade (existéncia em acto, completa e perfeita), inversamente proporcionais a graus de potencialidade (existéncia em poténcia, incompleta e imperteita) Distingdo de trés modalidades de existéncia das substancias, segundo a relago entre esséncia e existéncia, e ordenadas segundo o seu grau de perfeicao. Primeira modalidade: Deus, ser cuja esséncia (ou quididade) 6 a propria existéncia, A sua existéncia é subsistente e infinita, pelo que nao é potencial relativamente a outro ser de que pudesse ter recebido a existéncia. E acto puro e, como tal, perfeito. ‘Segunda modalidade: seres intelectivos criados (anjos ou superespiritos e almas humanas). A sua existéncia, independente da matéria, é diversa da sua esséncia. Por ser recebida (existéncia recebida de Deus), contém potencialidade e alguma limitagdo. No ambito desta modalidade existe ordem e gradagao, cabendo o grau inferior 4 alma humana, mais proxima da matéria Terceira modalidade: seres compostos de matéria e dinase ou forma (substancias fisicas). A sua existéncia ¢ diversa da sua esséncia, a qual é recebida na matéria concretizada (designada), Corresponde ao grau de menor perfeigao. No ambito desta modalidade, existe igualmente ordem e gradagao, cabendo 0 grau superior ao homem composto de matéria e dinase (susceptivel de existéncia separada), e grau inferior aos elementos, REDUGAO DAS CIENCIAS A TEOLOGIA, S, Boaventura TEMA: Finalidade do conhecimento As ciéncias (luzes ou iluminagées) como reflexos (manifestagées) da luz superior (luz da graga & da Sagrada Escritura), emanada de Deus e interiormente descoberta pelo homem. As verdades visadas por cada saber como manifestacdes da verdade do Verbo divino, A teologia como ciéncia que ilumina em vista da verdade do Verbo divino. Os conhecimentos sensitivo (luz inferior), floséfico (luz interior) e da arte mecanica (luz exterior), nao obstante visarem verdades especificas, devem todos, do mesmo modo, visar conhecimento da verdade expressa na Sagrada Escritura (luz superior, Deus como principio e finalidade da existéncia. A contemplago de Deus como finalidade de toda a actividade intelectiva do homem: 0 conhecimento dos entes criados deve visar 0 Criador, cujas ideias so causas exemplares e originais de toda a existéncia. © conhecimento humano como forma de recondugao de toda a existéncia ao seu principio. ‘A teologia como unificagao superior e finalidade dos saberes: se as diferentes iluminagdes podem ser reconduzidas a teologia, a finalidade dos diversos saberes deve ser a recondugao do conhecimento a iluminagao superior de que emanaram (anagogia), como forma de recondugéo do V.S.EF. 114/0/9 homem a Deus. Ao servirem a teologia, as diversas ciéncias servem nao apenas a finalidade do conhecimento, mas a propria finalidade da existéncia humana (retorno @ Deus), Vanidade do conhecimento insusceptivel de implementar esta finalidade Necessidade de mediagao entre o conhecimento a sua finalidade. O conhecimento humano como mediagao entre os objectos do conhecimento e Deus. Cristo como mediador entre o homem e Deus, condigao de possibilidade da correspondéncia da inteligéncia humana @ inteligéncia de Deus, ou da Fecondugao do conhecimento humano ao seu principio e a sua finalidade. INTRODUGAO A HISTORIA DA FILOSOFIA, G. W. F. Hegel TEMA: Liberdade do pensar e origem da filosofia A liberdade como natureza humana: 0 homem & homem ao pensar; a sua natureza ¢ ser livre; 0 seu em-si efectiva-se como consciéncia da liberdade, torna-se para-si real e concreto. Todos os homens sao racionais e livres, mas, para existirem como livres, tém de saber que séo livres. A consciéncia actualiza e realiza a liberdade que, de outro modo, é meramente formal e abstracta. O homem 6 livre pela consciéncia; a liberdade supera a alienagaio na autonomia do vir-a-si da consciéncia A liberdade do pensar como condigo do comego histérico da filosofia. A filosofia tem na sua base a liberdade efectiva do sujeito ~ liberdade politica e liberdade individual. Comeca quando 0 espirito do povo se desembaraga da necessidade exterior (natural) e se volta para si como autoconsciéncia, ‘como consciéncia da necessidade do espirito enquanto autodeterminagao e liberdade. O ser do povo tem de se saber como livre, A consciéncia da liberdade surge pela primeira vez na filosofia grega (greco-tomana). Os cidadaos sabem-se politicamente livres, mas a liberdade nao 6 ainda pensada como independente do nascimento (da situacao politica, do direito e do Estado). Na origem da liberdade politica esta necessariamente a consciéncia que o individu tem de si (a sua esséncia abstracta), mas esta consciéncia tem de tornar-se liberdade para-si, real e universal. Como a liberdade grega 6 ainda determinada, a filosofia tem inicio na Grécia antiga, mas a flosofia grega nao permite ainda conhecer a liberdade como natureza humana (como autoconsciéncia do espirito) © conhecimento de que o homem é por natureza livre @ proprio do espirito modero, designada- mente do espirito germanico, TENDENCIAS GERAIS DA FILOSOFIA NA SEGUNDA METADE DO SECULO XIX, Antero de Quental TEMA: Estatuto da filosofia cientifica da natureza ‘A filosofia cientifica da natureza como sintoma da crise do pensamento contemporaneo: desvio das relagdes desejaveis entre a filosofia (especulativa) e a cléncia (positiva). Estas relages sao idealmente de interseccao € complementaridade. A filosofia pode influenciar a ciéncia no ambito da formulagao de hipéteses, tal como pode interpretar superiormente a significacao do quadro cientifico do universo; mas s6 a ciéncia pode determinar as suas préprias ideias no mundo dos fendmenos. A ideia «filos6fico-cientifica» de evolugao como exemplo da intersecgao entre a filosofia e a ciéncia Nao obstante 0 descrédito do apriorismo na segunda metade do século XIX, as tentativas de construir uma metafisica exclusivamente a partir da experiéncia e dos factos, ou de imprimir a especulagao um cardcter positivo, originam 0 nascimento de uma filosofia da natureza diversa da dos etafisicos. A filosofia passa de metafisica a cientifica, de transcendental a realista Realismo da filosofia cientifica da natureza. A filosofia cientifica da natureza atende as qualidades primeiras (quantificdveis @ redutiveis ao rigor matemaitico) em prejuizo das segundas (subjectivas), Herangas da ciéncia a partir da qual nasce a filosofia cientifica da natureza: 0 mecanicismo {redugao dos factos a0 movimento), o determinismo (causalidade mecanica dos movimentos, segundo 14/0/10 leis que prescindem da providéncia e da espontaneidade) e 0 evolucionismo (0 desenvolvimento do ‘complexo como mera acumulagao do simples). ‘Sensualismo desta perspectiva: a sensibilidade como «regio obscura» onde assentam todas as cexplicagdes da natureza AA filosofia cientifica da natureza como perspectiva fatalista do universo, alimento do pessimism do século XIX Necessidade de recurso ao novo espiritualismo e s respectivas explicagdes a luz da consciéncia. ‘A ORIGEM DA TRAGEDIA, F. Nietzsche TEMA: Limites do woptimismo teérico» e renascimento do tragico (© optimismo teérico como resultado de um dos niveis de ilusdo criados pela vontade de viver. Contrapoe-se ao «pessimismo tragicon, 0 qual supera, pela arte, 0 sofrimento e atinge a genuina «serenidade» A tragédia como uniéo de dois impulsos contrérios, apolineo e dionisiaco, e indissociavelmente ligada 20 mito ¢ misica. O optimismo te6rico recusa 0 mito e afasta a musica, no que ela tem de essencial, dando origem ao desenraizamento e & decadéncia da cultura Origem do optimismo tedrico no periodo da morte (decadéncia) da tragédia grega, com Sécrates, na filosofia, e Euripides, na tragédia. € caracteristico da cultura moderna, que tem como ideal 0 chomem teérico», cujo valor supremo é 0 conhecimento. A forma de iluso criada pelo optimismo leérico consiste na crenca na possibilidade de penetrar nos mistérios do ser pelo pensamento & respectivos principios, e, além disso, na possibilidade de «corrigit» 0 mundo. Justificagso da existéncia pela sua inteligilidade. A vida como digna de ser conhet Vit6ria sobre 0 optimismo teérico na cultura alema (Kant e Schopenhauer) pela constatacao dos limites do conhecimento. Conhecemos apenas os fenémenos, ¢ 0 mundo é representagao. A constatagaio dos limites da razdo, ou do conhecimento, como condigao de possibilidade do renascimento do trégico na arte DA CERTEZA, L. Wittgenstein TEMA: Jogo de linguagem e significagao Os jogos de linguagem correspondem a estruturas reguladoras dos usos intencionais da linguagem. Possuem regras no explicitas, adquiridas na pratica, decorrentes da imagem do mundo formada no processo de socializagao. Sao determinados por sistemas de crengas, assentando em cerlezas que nao carecem de fundamentacao ou justificagao. Sdo como formas de vida, sujeitos a mudangas. ‘Ordenar, obedecer, duvidar e verificar so exemplos de jogos de linguagem. Os modos de uso dos signos nos diferentes jogos determinam cada linguagem particular: 0 conteido seméntico varia em fungao do uso intencional da linguagem (dimenséo pragmatica). O significado de um signo fungo do seu uso num jogo de linguagem. Aprender o significado de uma palavra é aprender a usé-la. Usar uma palavra @ aprender um jogo de linguagem que supe um fundo de certeza proprio da nossa imagem do mundo, © proprio valor de verdade de uma proposigao empirica ndo é necessariamente determinado pela sua concordancia com os factos empiricamente dados, dependendo antes de uma significagao decortente dos jogos de linguagem em que a sua formulagao ocorre, V.S.FF. 14/0/11 ELOGIO DA FILOSOFIA, M. Merleau-Ponty TEMA: 0 filésofo e 0 Absolute Absoluto como sinénimo de Verdade. Recusa da existéncia de um «lugar» de verdade independente do acontecer historico, quer na religido, quer na politica, quer numa certa concepao de historia. Também o sujeito (filbsofo) que pensa nao € «lugar» de verdade («o filésofo encontra nao © abismo do eu ou do saber absoluto, mas a imagem renovada do mundo»). 0 fildsofo pretende descobrir a verdade no mundo da existéncia hist6rica e social (coexisténcia), «com 0s outros» € no «acima» e para além do mundo. Recusa, tal como Sécrates, a «imagem imobilizada» do Absoluto, isto &, recusa as alternativas dogmaticas que se Ihe apresentam («A filosofia esta no seio da histéria: nao € nunca independente do transcurso histérico»). Critica @ filosofia «académican, de «escola», enquanto defesa de uma determinada corrente de pensamento desligada da vida efectiva dos homens. Compete ao filosofo tomar visiveis os paradoxos da existéncia, bem como os lagos que nos ligam ‘20 mundo («O fildsofo & o homem que desperta e fala, e o homem contém em siléncio os paradoxos da filosofiay), OS PROBLEMAS DA FILOSOFIA, 8. Russell TEMA: Natureza do conhecimento a priori ‘Todo 0 conhecimento tem na sua base um conhecimento de intimidade. © conhecimento de intimidade ou de trato nao se limita aos dados sensiveis; temos conhecimento de intimidade também das ideias gerais (universais ou conceltos) Para se inferir a partir do conhecimento de trato é necessario ter conhecimento dos universal. ‘Temos dos universais um conhecimento de intimidade e um conhecimento por descrigo (0 qual se reduz, em ultima instancia, ao primeiro). © conhecimento a priori é um tipo de conhecimento insusceptivel de ser provado ou refutado na experiéncia, mas que se aplica aos casos particulares da experiéncia, Este tipo de conhecimento ndo nos dé a existéncia das coisas (todo © conhecimento de que algo existe & dado unicamente pela experiéncia) ‘Também nao é relativo a coisas mentais ou nao mentais, mas a relagdes entre coisas que podem existir, ou nao. ( verdadeiro conhecimento a priori diz respeito a relagbes entre universais, PROBLEMATICA DA SAUDADE & ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA CONSCIENCIA SAUDOSA, Joaquim de Carvalho TEMA: Consciéncia teorética @ consciéncia saudosa Oposigo da consciéncia saudosa a consciéncia teorética. Possuem correlatos intencionais diferentes, constituindo diversamente os respectivos contetidos significativos. A consciéncia teorética é impessoal e universal («de todos @ para todos»), subordinando a racionalidade ldgica as condigées objectivas ou de razéo suficiente que Ihe so presentes, Assume uma dimensao dubitativa e exprime-se por juizos existenciais, Visa o saber (a partir da captagao sensivel da realidade extramental ou da emanagdo de existéncias ideais), tendo a verdade por Preocupagao fundamental, de tal modo que 0 conhecimento que constréi pode constituir-se como Cientifico. Duvidar, assentir e demonstrar so exemplos de actos da consciéncia teorética ‘A consciéncia saudosa, ao assumir uma posigdo intimista, «ensimesmada» e contemplativa, néo Possui objectivos cientificos @ exclui o problema da verdade do seu Ambito. Constitui-se em actos de vida emocional, é subjectiva e polarizada em torno do «eu» pessoal (como manifestacao vivencial de uma existéncia concreta). © seu correlato intencional no é o actualmente vivido, @ sempre uma aioe existéncia anteriormente vivida e ausente, valorativamente representada e desejada (temporalidade fetrotensa). Rentincia e desvalorizagao do presente, desejo do vivido e tristeza sao exemplos de actos da consciéncia saudosa SOBRE A ESSENCIA DA VERDADE, M. Heidegger TEMA: A verdade como correcgio ‘A pergunta pela esséncia da verdade olha para aquilo que caracteriza a verdade como tal. Mesmo 0 senso comum (bom senso humano), ao querer @ verdade efectiva, pressupde o saber sobre a esséncia da verdade. Analise do conceito vulgar de verdade: tanto nas coisas, como nos enunciados, a verdade é entendida como adequagao (da coisa com 0 conhecimento, do conhecimento com a coisa) ou como correcgao. ‘A analise da concordancia do enunciado com a coisa conduz & analise da referéncia: 0 enunciado refere-se coisa na medida em que a representa; representar ¢ deixar que a coisa se oponha (como objecto), isto & deixar que ela surja perante nés numa relagdo que é abertura: a referéncia ¢ a presenga do ente a abertura do comportamento, de onde o enunciado retira a sua correctdo. O fundamento da «possibilizagaon da correcgao é a liberdade: «a esséncia da verdade, entendida como correcgao, é liberdaden. No entanto, em titima andlise, a considerarao da esséncia da liberdade, como «deixar-ser 0 ente», conduz & nogao grega de alétheia (néo-velamento), que permite pensar 0 conceit habitual de verdade como correcgao no sentido de um desocultamento (desvelamento) TEORIA DA INTERPRETAGAO, P. Ricoeur TEMA: Discurso e mundo © discurso como obra da linguagem, pela qual o homem da sentido sua existéncia no mundo. Condigoes de possibilidade de uma teoria do discurso: ultrapassar as abordagens que consideram a linguagem como um mundo proprio, a fala como acontecimento evanescente e 0 texto como entidade absoluta, Pela analise da dialéctica de evento e significagao, mostra-se que a lingua, enquanto sistema, se actualiza na fala, como acontecimento, e que a significagao constitui o elemento que se pode identiicar e reconhecer como o mesmo. A significagao é tambem dialéctica: sentido e teferéncia, O que se diz, 0 sentido do que se diz, é sempre sobre alguma coisa, O discurso é sempre de alguém, para alguém, sobre alguma coisa As dialécticas enunciadas ndo desaparecem com 0 texto escrito. Mas, ao fixar-se o sentido, pela inscrigao, perde-se a situagao original do locutor, agora tornado autor. O texto ganha autonomia semantica € © ouvinte, agora tornado leitor, pode ser qualquer pessoa em qualquer tempo (universalizagao do audit6rio). Critica & tentativa da hermenéutica romantica de recuperar a intengaio do autor € a situagao originaria do leitor (as condigSes historicas). © discurso escrito abre um mundo, © mundo do texto, que 6 © conjunto de referencias abertas pelos textos. Falar de mundo equivale a dizer que se ultrapassa a situagao concreta de cada um («A carreira do texto subtrai-se ao horizonte finito vivido pelo seu autor»), possibilitando uma nova compreensao de si mesmo e de um mundo que ndo se limita 20 «aqui» € «agora», 14/0/13, Exames Nacionais do Ensino Secundario — 2002, 1." Fase, 2" Chamada GRELHA DE CLASSIFICAGAO ~ FILOSOFIA (Cad. 114) GRUPO ‘GRUPO Coo | Nimero TOTAL central | Comenconal] _Questio 1 ‘Questia Guostio 3 uestio de PROVA Gntsccn | “nF a 2 a, | “ozo apex [tr | cee | an [Ra cu | te [cee |an|me lex | tr [eee separ [cx | tr [eee] ao | 2 to | or | | Ser fro 135) | 055 | | Sto te | 005 | tao | to | “oa GEE.— Conecgdo da expesséo esrta PP. Prana prio '3.C.~ Selooao coneca dos confacmentos AP. Aoroprarae pessoal dos conhecinetas@apreciato so M.C.— Adequagao des comecimentos mobizatos ‘ose com oem fl atad pelo autor Sa 0 Professor Classificador,

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