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PONTO 114/12 Pags. EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDARIO 12° Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.° 286/89, de 29 de Agosto) Cursos Gerais — Agrupamentos 3 @ 4 Duragéo da prova: 120 minutos .* FASE 1999 Lt CHAMADA PROVA ESCRITA DE FILOSOFIA ‘Antes deiniar 0 seu exame, lea ateiamente 2s intrugbes. Esta prova & constiuida por 2 (dois) grupos de quesides: Grupo I ~ 3 (vés) quesides. ‘Grupo I~ 4 (uma) questo, ‘A IndicagSo do nimero de linhasipalawras tem um carécter meremente orientador do grau de desenvohimento da resposla, GRUPO INSTRUGOES, CRITERIOS DE CLASSIFICAGAO E COTAGOES QUESTOES 1. € 2. ‘+ A sua resposta seré classificada atendendo aos seguintes aspectos: ~ rigor da analise do texto; = coeréncia légica do discurso; = uillzagéo precisa da terminologia filosdtica, = correcso da expresso escrita, © Armera transcrigao de frases do texto implicaré uma pontuago de 0 (zero) pontos. ‘+ Ainadequagao da sua resposta a questo formulada implicara uma pontuagao de 0 (zero) pontos. QUESTAO 3. + A sua resposta sera classificada atendendo aos seguintes aspectos: — mobilizagao adequada do conhecimento da obra; ~ cosréncia logica do discurso; — utlizagso precisa da terminologia filoséfica: — correcgéo da expresso escrta. ‘+ Ando manifestagao do conhecimento da obra implicaré uma pontuago de 0 (zero) pontos. + Ainadequagao da sua resposta a questio formulada implicaré uma pontuago de 0 (zero) pontos. COTAGAO 1e2.. v» (2 x 25 pontos) .-- 60 pontos a. w- (1 x 70 pontos) 70 pontos Total do Grupo | . . 120 pontos V.S.F.F. 14/1 GRUPO Cada um dos textos/extractos das obras estudadas que a seguir so apresentados é acompa- nhado de trés questdes. ~ Seleccione apenas um dos textos transcritos e responda as trés questées que he sii colocadas acerca desee texto e da obra a que ele pertence. — Na resposta as questées 1. e 2. deverd utilizar, em cada uma, aproximadamente 10 tinhas (cerca de 80 palavras). — Na resposta 4 questdo 3. deverd utilizar, aproximadamente, 40 linhas (cerca de 320 palavras). © MESTRE, S. Agostinho 14/2 TEXTO «AGOSTINHO - Nao hé divida que eu pronuncio palavras, e que estas slo constituidas por letras. ADEODATO - Assim é. AGOSTINHO - Portanto, ¢ para nos servirmos principalmente da autoridade que nos é mais querida, quando 0 apéstolo Paulo diz - “no estava em Cristo 0 [afirmativo] ¢ 0 ndo é, mas somente o é estava n'Ele» (2 Corintios 1,19) - nio creio dever-se julgar que fosse este monossilabo, pronunciado por nds ao dizer -é, que existia em Cristo, mas sim o que por este monossilabo é significado. ADEODATO ~ Dizes a verdade. AGOSTINHO ~ Por conseguinte, entendes que quem diz - “o é estava nEle” - no disse mais que isto: chama-se é aquilo que estava n'Ele. Semethantemente, se tivesse dito — “a virtude estava n'Ele”, no se conceber que tivesse dito sendo — “chama-se virtude aquilo que estava n'Ele”, no se fosse pensar que o que existia n'Ele eram as trés silabas que pronunciamos 20 dizer -virtude, © ndo aquilo que é significado por estas trés silabas. ADEODATO - Compreendo e vou acompanhando. AGOSTINHO - Além disso, compreendes certamente também nada importar que alguém diga: isto chama-se, ou, isto denomina-se virtude. ADEODATO = E evidente. AGOSTINHO - Entio ¢ igualmente evidente nada importar que alguém © que nEle estava chama-se é, ou denomina-se é. ADEODATO — Vejo que também aqui nio hé diferenca alguma, AGOSTINHO — Vés também o que quero mostrar? ADEODATO ~ Francamente, ainda nio. AGOSTINHO - Pois nao vés que -nome é aquilo por que se denomina uma coisa? ADEODATO - Nada vejo inteiramente mais certo do que isso. AGOSTINHO ~ Jé vés entio que é constitui um nome, pois aquilo que estava n'Ele denomina-se é. di ADEODATO — Nio 0 posso negar. AGOSTINHO ~ Mas se te perguntasse que parte de orago constitui o é, Julgo nio dirias que ele constitui um nome, mas um verbo, embora a razio nos tenha ensinado que € também um nome. ADEODATO - E exactamente como dizes. AGOSTINHO - Acaso duvidas ainda que também as outras partes da oragdo sio nomes, segundo o mesmo modo como demonstrimos? ADEODATO — Nao duvido, j4 que confesso que clas significam alguma coisa. Mas se me perguntas como se chama cada uma das mesmas coisas que significam, isto €, como se denomina, no poderei dar como resposta senio aquelas mesmas partes da oraco, a que no chamamos nomes, mas que, como bem compreendo, esta provado que se deve chamar» In Opdsculos Selecios de Flosofe Meciove, Braga, Fac. de Flocofia, 1981, pp. 76-77 QUESTOES 4. Esclarega a dupla fungSo desempenhada pelo «é» no exemplo apresentado no texto. 2. Explique em que consis segundo 0 texto, a fungao especifica dos nomes. 3. Justifique importancla do extracto na globalidade da obra VS.FF. 14/3 PROSLOGIGN, S. Anselmo TEXTO «Como porém disse [0 insipiente] no seu coragio aquilo que no péde pensar, ou como € que néo péde pensar o que disse no coragao, j4 que pensar ¢ dizer-no-coragdo sio a mesma coisa? Mas se verdadeiramente, e ainda mais porque verdadeiramente nao s6 0 pensou, jé que o disse no coracdo, mas também ndo o disse no coragio porque no 0 péde pensar, — nao é de um sé modo que alguma coisa se diz no corago ou se pensa. De um modo diferente se pensa uma realidade, quando se pensa a palavra que a significa, e de outro modo diferente quando se intelecciona aquilo mesmo que essa realidade é. E assim, do primeiro modo pode-se pensar que Deus no existe; do segundo modo € absolutamente impossivel, Na verdade, ninguém que inteleccione aquilo que Deus 6 pode pensar que Deus nio existe, embora diga estas palavras no corago, ou sem nénhuma ou com algumia significagio inconexa. Deus, com efeito, é -aquilo, maior do que o qual nada se pode pensar-. Quem intelecciona isto devidamente, intelecciona sem diivida que isso mesmo existe de tal maneira, que nem em pensamento pode ndo existir. Quem por conseguinte intelecciona que Deus existe desse modo, nfo pode pensar qué Ele nao existe. Gragas te sejam dadas, bom Senhor, gragas te sejam dadas, pois o que antes acreditei por um dom teu, intelecciono-o agora por uma luz que vem de: ti, de modo que se no quisesse: acreditar que tu existes, néo poderia deixar de 0 inteleccionar.» In Opdiscuos Soloctos da Ftosofia Mecoval, Braga, Fac. da Filosofia, 1991, pp.140-141 QuEsTOES 4. Esclareca a diferenca entre os dois modos de pensar alguma coisa referidos no texto. 2. Explique por que motivo nfo pode pensar-se que Deus nd existe. 3. Justifique a importancia do extracto na globalidade da obra. 11414 © SER E A ESSENCIA, S. Tomas de Aquino TEXTO «Deve notar-se, como diz o Filésofo no quinto livro da Metafisica, que com propriedade o ser é afirmado de dois modos: do primeiro modo, [ser] é 0 que se divide pelas dez categorias [da Légica]; do segundo modo, é 0 que significa a verdade das proposigdes. A diferenca entre estes [modos] ¢ que pelo segundo, pode ser afirmado como ser tudo aquilo de que ¢ possivel formar uma proposigao assertiva, ainda que isso nao suponha nada de real. E por este modo que as privagdes e as negagBes so afirmadas como seres. Com efeito, dizemos que a afirmagdo se opde a negacio, ¢ que a cegucira esta na vista, Mas pelo primeiro modo, nao pode ser afirmado como ser sendo 0 que supdc uma coisa real, E assim, no primeiro modo, a cegueira e coisas semelhantes nio so seres. Por consequéncia, a designagdo de esséncia nfo é tirada do ser que se afirma pelo segundo modo, uma vez que neste sao afirmadas como seres certas coisas que nao tém esséncia, conforme se vé nas privagées. Pelo contrério, a esséncia € tirada do ser que se afirma pelo primeiro modo. E assim 0 Comentador [Averréis] declara nessa mesma passagem que “o ser que se afirma pelo primeiro modo é o que significa a realidade subsistente duma coisa”. Como ficou declarado, o ser afirmado por este modo divide-se pelas dez categorias. E pois necessario que a esséncia designe alguma coisa expressa em todas as nogdes reais, pelas quais os vérios seres so colocados nos varios géneros € espécies, como a [nogio] hominidade, que constitui a esséncia do homem; ¢ assim das outras.» In Opdsoutos Selectos de Fiosofe Modiovel, Braga, Fac. de Filosofia, 1991, pp. 202-203, QUESTOES 4. Esclarega, segundo 0 texto, a diferenga entre os dois modos de afirmar o ser. 2. Explique por que motivo no se pode falar da esséncia da cegueira. 3. Justifique a importincia do extracto na globalidade da obra. 11415 REDUGAO DAS CIENCIAS A TEOLOGIA, S. Boaventura TEXTO «8. Vejamos, pois, de que modo hao-de reduzir-se as demais iluminagdes cognitivas luz da Sagrada Escritura. E primeiramente vejamo-lo na iluminagéo do conhecimento sensitivo, o qual diz totalmente respeito a0 conhecimento das coisas sensiveis, devendo considerar-se nele trés elementos: o meio ¢ 0 exercicio de conhecer, ¢ 0 prazer concomitante a este exercicio. Se consideramos o meio de conhecer, intuiremos ai o Verbo gerado eternamente ¢ encarnado no tempo. Porquanto, nenhum objecto sensivel move a poténcia cognitiva senfo por meio duma semelhanga que procede do objecto, como a prole do pai; ¢ isto é geralmente necessério para todos os sentidos, podendo verificar-se dum modo real ou dum modo exemplar (simbélico). Contudo, aquela semelhanga nfo se determina num acto de sentir, a ndo ser que se una 20 Orgio ¢ a faculdade; e, quando se une, produz-se nova percepsao, por esta, mediante aquela semelhanga, a faculdade de sentir é dirigida para 0 objecto. E ainda que nem sempre o objecto seja sentido, contudo, gera sempre a sua semelhanga quanto de si depende, quando esta em sua plenitude. Por este modo . __hésede, bem assim, entender que da inteligéncia suprema, que € cognoscivel pelos sentidos interiores da nossa mente, emanou desde toda a etemidade a sua semelhanga, que ¢ a0 mesmo tempo imagem e prole; e esta, quando “chegou a plenitude dos tempos”, uniu-se a um espfrito e a uma came ¢ assumiu a forma de homem, que até entio nunca havia tido; ¢ por seu meio todas as nossas mentes so dirigidas para Deus, ao receberem pela fé no coragéo aquela semelhanga do Pai» Coimbra, Auanda, 1870, pp. 90-91 QUESTOES 1. Esclarega de que mocio, no texto, é explicado 0 processo do conhecimento sensivel. 2, Explique de que modo, segundo o texto, o «meio de conhecers nos permite intuir o Verbo. 3. Juslifique a importancia do extracto na globalidade da obra. 114/68 PRINCIPIOS DA FILOSOFIA, R. Descartes TEXTO «7 ~ Que néo poderemos duvidar sem existi conhecimento certo que se pode adquirir Enquanto desta maneira rejeitamos tudo aquilo de que podemos duvidar, ¢ que simulamos mesmo ser falso, supomos, facilmente, que néo hé Deus, nem éu, nem terra, € que nao temos corpo. Mas nfo poderiamos igualmente supor que ndo existimos, enquanto duvidamos da verdade de todas estas coisas: porque, com efeito, temos tanta repugnancia em conceber que aquele que pensa no existe verdadeiramente ao mesmo tempo que pensa que, apesar das mais extravagantes suposigées, ndo poderiamos impedir-nos de acreditar que esta inferéncia EU PENSO, LOGO EXISTO, ndo seja verdadeira e, por conseguinte, a primeira e a mais certa que se apresenta Aquele que conduz os seus pensamentos por ordem, , € que isso é o primeiro 8 — Que se conhece também, em seguida, a distingdo que existe entre alma e corpo Também me parece que este ¢ 0 meio mais adequado para conhecer a natureza da alma, enquanto substincia inteiramente distinta do corpo. Porque, examinando 0 que somos, nés que pensamos agora que nada hé fora do pensamento que seja verdadeiramente ou que exista, concebemos, claramente, que, para ser, ndo temos necessidade de extensio, de figura, de estar em qualquer lugar, nem de nenhuma outra coisa que se possa atribuir a0 corpo, € que somos apenas porque pensamos. Por conseguinte, a nogdo que temos de alma ou de pensamento precede a que temos de corpo e é mais certa, visto que ainda duvidamos que haja no mundo algum corpo ¢ sabemos, seguramente, que pensarnos.» LUsbos, Guimardes Edlores, 1989, pp. 55 ¢ 57 QUESTOES 1. Explicile 0 raciocinio que, segundo o texto, levou a descoberta do primeiro «conhecimento certo». 2. Caracterize, com base no texto, a natureza da alma. 3. Justifique a importancia do extracto na globalidade da obra. V.S.F.F. 11417 CARTA SOBRE A TOLERANCIA, J. Locke ‘TEXTO «O fim da sociedade religiosa, como se disse, € 0 culto piiblico de Deus e, por meio dele, a obtengdo da vida eterna; cis a que deve tender toda a disciplina; cis os limites que circunscrevem todas as leis eclesidsticas. Nesta sociedade, no se trata, nem se pode tratar de bens civis ou de posses terrenas; no se pode, seja por que motivo for, empregar a forga, que é da competéncia exclusiva do magistrado civil; é do poder deste que dependem a propriedade e © uso dos bens exteriores. Direis: se nenhuma coacgdo deve haver, que sang terdo, pois, as leis eclesidsticas? Responderei: a sano que convém as coisas cuja profissio e observancia exteriores para nada servem, se no radicarem no mais profundo das almas e nao obtiverem o pleno consentimento da consciéncia. As exortagées, as admoestagoes, os conselhos sao as armas desta sociedade, gracas 4s quais os seus membros devem ser mantidos no dever. Se n&o sdo suficientes para corrigir os delinquentes e trazer ao bom caminho os extraviados, nada ais resta do que separar ¢ excluir da sociedade os hesitantes e obstinados, os que nao dio esperanga alguma de se salvarem. F a suprema ¢ a tiltima forga do poder eclesiéstico, que néo inflige nenhuma outra pena além desta: quebrada toda a relagdo entre 0 corpo da sociedade ¢ um dos seus membros, que foi condenado, este deixa de fazer parte da igreja. Estabelecido isto, examinemos a seguir quais slo os deveres que dizem respeito 4 tolerdncia. Primeiramente, digo que nenhuma igreja é obrigada, em nome da toleréncia, a conservar no seu seio quem, apesar dos avisos, se obstina a pecar contra as leis estabelecidas nesta sociedade; se Ihe € permitido violé-las impunemente, acabou tal socicdade, porque as leis constituem as condigdes da comunidade e 0 tinico lago da sociedade. Apesar de tudo, hé que acautelar-se em nfo acrescentar a0 decreto da excomunhdo nem palavras injuriosas, nem violéncias, quer contra o corpo quer contra os bens de quem é expulso.» Usboa, Edigbes 70, 1987, pp. 96-87 QUESTOES 1. Esclarega, com base no texto, a diferenca entre as leis civis @ as leis ecesidsticas. 2. Exponha, baseando-se no texto, os fundamentos da legitimidade para excomungar. 3. Justifique a importancia do extracto na globalidade da obra. 1144/8 DISCURSO DE METAFISICA, 6. F. Leibniz TEXTO «26 — Que temos em nés todas as ideias; e da reminiscéncia de Platio. Para compreender bem o que ¢ a ideia, é preciso prevenir um equivoco, porque muitos tomam a ideia pela forma ou diferenga dos nossos pensamentos, ¢ deste modo s6 temos a ideia no espirito enquanto nela pensamos; ¢ todas as vezes que nela de novo pensamos, temos outras ideias da mesma coisa, ainda que semethantes as precedentes. Mas, parece que outros tomam a ideia por um objecto mediato do pensamento ou por alguma forma permanente, que se mantém quando a ndo contemplamos. E, com efeito, a nossa alma tem sempre em sia qualidade de representar qualquer natureza ou forma que seja, quando se apresenta a ocasiio de nela pensar. E creio que esta qualidade da nossa alma, enquanto exprime alguma natureza, forma ou esséncia, é propriamente a ideia da coisa que esta em 1nés, € que esté sempre em nés, quer nela pensemos ou no. Pois a nossa alma ‘exprime Deus e 0 universo, e todas as esséncias bem. como todas as existéncias. Isto harmoniza-se com os meus prinepios porque, naturalmente, nada nos entra no espitito a partir de fora, ¢ € um mau habito pensar como se a nossa alma recebesse algumas espécies mensageiras ¢ como se tivesse portas e janelas. Temos no espirito todas essas formas, ¢ inclusive desde sempre, porque o espirito exprime sempre todos 0s seus pensamentos futuros, ¢ pensa j4 confusamente em tudo 0 que viré a pensar alguma vez distintamente. E nada nos poderia ser ensinado de que no tenhamos jé no espirito a ideia, que & como que a matéria de que se forma este pensamento, Foi 0 que Platio considerou excelentemente quando expés a sua reminiscéncia, que tem muita solidez, contanto que a compreendamos bem, a purguemos do erro da preexisténcia, e que ndo se imagine que a alma deve ja ter sabido € pensado distintamente noutro tempo, o que ela apreende € pensa agora. Também confirmou a sua opinido mediante uma bela experiéncia, apresentando uum joven a quem leva insensivelmente até verdades muito dificeis da geometria aceica dos incomensuréveis, sem the ensinar nada, apenas fazendo perguntas pot ordem € a propésito. O que prova que a nossa alma sabe tudo isso virtualmente ¢ apenas tem necessidade de animadversiéo para conhecer as verdades, e que; por conseguinte, tem ao menos as ideias de que dependem estas verdades. Pode até dizer-se que possui jé essas verdades, quando se tomam como relagdes das ideias.» LUsboa, Edigbes 70, 1995, pp. 63-85 QUESTOES 4, Esclarega os dois pontos de visla, presentes no texto, sobre as idetas. 2. Explique, baseando-se no texlo, 0 processo referido pelo termo «animadverséor. 3. Justifique a importancia do extracto na globslidade da obra. vs FF. 14/9 FUNDAMENTAGAO DA METAFISICA DOS COSTUMES, |. Kant TEXTO «Ora digo eu: - O homem, e, duma maneira geral, todo o ser racional, existe como fim em si mesmo, nao sé como meio para 0 uso arbitrério desta ou daquela vontade. Pelo contrério, em todas as suas acgdes, tanto nas que se dirigem a ele mesmo como nas que se dirigem // a outros seres racionais, ele tem sempre de ser considerado simultaneamente como fim. Todas os objects das inclinagées tém somente um valor condicional, pois, se ndo existissem as inclinagdes ¢ as necessidades que nelas se baseiam, o seu objecto seria sem valor. As proprias inclinagSes, porém, como fontes das necessidades, estio tio longe de ter um valor absoluto que as tome desejéveis em si mesmas, que, muito pelo contrério, 0 desejo universal de todos os seres racionais deve ser 0 de se libertar totalmente delas. Portanto 0 valor de todos os objectos que possamos adquirir pelas nossas acgdes & sempre condicional. Os seres cuja existéncia depende, néo em verdade da nossa vontade, mas da natureza, tém contudo, se so seres irracionais, apenas um valor relativo como meios ¢ por isso se chamam coisas, ao passo que os seres racionais se chamam pessoas, + Porque a sua natureza os distingue jé como fins emt si tiesmos, quer dizer como algo que nio pode ser empregado como simples meio e que, por conseguinte, limita nessa medida todo o arbitrio (¢ é um objecto do respeito), Estes nflo so portanto meros fins subjectivos cuja existéncia tenha para nds um valor como efeito da nossa acco, mas sim fins objectives, quer dizer coisas cuja existéncia em si mesma um fim, e um fim tal que se nfo pode pér nenhum outro no seu lugar em relagio ao qual essas coises servissem apenas como meios; porque de ‘outro modo nada em parte alguma se encontraria que tivesse valor absoluto; mas se todo // 0 valor fosse condicional, e por conseguinte contingente, em parte alguma se poderia encontrar um principio prético supremo para a razio.» BA! 64-88, Lisboa, Edlgses 70, 1995, pp. 68-69, QUESTOES 1. Esclarega. a distingdo feita no texto entre «coisas» e «pessoas». 2. Explique, com base no texto, por que motivo «os objectos das inclinagSes ttm somente um valor condicional». 3. Justifique a importéncia do extracto na globalidade da obra. 114/10 GRUPO IT INSTRUGOES, CRITERIOS DE CLASSIFICAGAO E COTAGOES * + A:sua resposta seré classificada atendendo sos seguintes aspectos: — apresentago do plano organizador, — adequago do desenvolvimento ao plano; — pertingncia da selecg&o de conhecimentos da obra para o tratamento do tera; — posicionamento criticofproblematizador, — coeréncia légica do discurso; ~ ulilizago precisa da terminologia filoséfica; — correogo da expressto escrita. «Ando identificago do tema e da obra implicaré uma pontuago de 0 (zero) pontos. «+ A opedo por um par obravtema diferente dos que sto apresentados na prova implicaré uma Pontuagao de 0 (zero) pontos. ‘+ Ainadequaggo da sua resposta & questo formulada implicara uma pontuaggo de 0 (zero) pontos. COTAGAO TOTAL DO GRUPO II: 80 PONTOS Na sua resposta devera: — indicar 0 par obra-tema que seleccionou; = apresentar um plano organizador; = expor 0 modo como o tema é tratado na obra; — posicionar-se de uma forma critica/problematizadora perante o tratamento que Ihe fol dado pelo autor na obra; — utilizar aproximadamente 80 linhas (cerca de 640 palavras). COTAGAO, . (1.x 80 pontos) Total do Grupo It . 44 GRUPO IT QuesTio das obras que lhe 6 proposta e desenvolva o tema anexo. OBRAS TEMAS DA NATUREZA, Pannénides GORGIAS, Platio. FEDON, Patio... CATEGORIAS, Aristeles. INTRODUGAO A HISTORIA DA FILOSOFIA, G. W. F. Hegel TENDENCIAS GERAIS DA FILOSOFIA NA SEGUNDA, METADE DO SECULO XIX, Antero de Quental.. “A ORIGEM DA TRAGEDIA, F. Nietzsche Aparéncia @ realidade Poder e saber Imortalidade @ ética Linguagem e realidade Filosofia @ histbria da fllosofia Liberdade e determinismo ‘A cultura modema ocidental como decadéncia Verdade e falsidade Filosofia e hist6ria DA CERTEZA, L. Wittgenstein. ELOGIO DA FILOSOFIA, M. Merteau-Ponty.. (OS PROBLEMAS DA FILOSOFIA, B. Russell ‘A PROBLEMATICA DA SAUDADE, Joaquim de Carvalho... © sentimento na filosofia Verdade e liberdade Natureza dos universais DA ESSENCIA DA VERDADE, M. Heidegger. TEORIA DA INTERPRETAGAO, P. RICO@UE oneness Discurso e referencia FIM COTAGOES ‘GRUPO I. i pacman wm 120 PONTOS GRUPO I 80 PONTOS TOTAL 200 PONTOS 1412 PONTO 114/C/9 Pags. EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDARIO 12.° Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.° 286/89, de 29 de Agosto) Cursos Gerais — Agrupamentas 3 e 4 Duragio da prova: 120 minutos 1 FASE 1999 1* CHAMADA PROVA ESCRITA DE FILOSOFIA COTAGOES, CRITERIOS E SUGESTOES DE CLASSIFICAGAO AINDICAGAO 00 NUMERO DE LINHAS/PALAVRAS VISA APENAS ORIENTAR O ALUNO RELATIVAMENTE AO GRAU DE DESENVOLVIMENTO DA RESPOSTA, PELO QUE NAO SE PROPOE QUALQUER PENALIZAGAO PARA O NAO CUMPRIMENTO DESSA INDICACAO: GRUPOT Questées 1. CRITERIOS PONTUAGAO 10 pontos = i 7 pontos Uslizagdo precisa da terminoiogia filos6fica. 4 pontos Corecgo da expresso escrita 4 pontos TOTAL... 25 pontos TOTAL das Questtes 1. 6 2. . (2x 25) ‘50 pontos ‘+ A inadequagdo da resposta a questo formulada implica uma pontuagéo de 0 (zero) pontos. + Amora transcri¢ao de frases do texto implica uma pontuago de 0 (zero) pontos. Questo 3. CRITERIOS. PONTUAGAO ‘Adequagao dos conhecimentos mobilizades... 36 pontos Coeréncia Iogica do disour 18 pontos Uiilizagao precisa da terminologia filoséfica.. 10 pontos Correcedo da expresso @SCFita nnn 10 pontos TOTAL da Questéo 3. te) eee Tc TOTAL DO GRUPO I 120 pontos ‘+ A inadequagdo da resposta & questo formulada implica uma pontuagSo de 0 (zero) pontos. ‘© Se a resposta no manifestar conhecimento da obra, a pontuagao sera de 0 (zero) pontos. V.S.F.F. 114/er GRUPO I Apenas como sugesties de correcco, apresentam-se os seguintes topicos: OMESTRE, S. Agostinho 4. Fungo sintdctica © semantica: ~ «é» 6 um verbo; — «é» significa aquilo que estava n’Ele; constitu um nome. 2. «Nome» tem por funggo denominar uma coisa. Os nomes significam alguma coisa. 3, Mesmo as palavras morfologicamente distintas dos nomes desempenham a fung&o de nomes nas frases. ‘A nominago consiste numa dupla fungao sintéctico-semantica. A regra da nominago descobre elementos de uma ordem racional da linguagem: a regra da nominagao @ a regra da comunicago so as duas regras que regem a fungao de significacdo das palavras. Qs sinais como origem do conhecimento s&o limitados ~ necessidade de conhecimento prévio. A investigagao sobre a funcSo significante das palavras 6 propedéutica & doutrina do Mestre interior. PROSLOGION, S. Anselmo 1. Dois modos distintos de pensar: pensar apenas uma palavra ou pensar a realidade significada pela palavra. 2. Quem intelecciona que Deus @ «aquilo maior do que o qual nada pode pensar-se» intelecciona que Deus ¢ uma realidade de tal ordem que nem em pensamento pode néo existir, no pode pensar que Ele ndo existe. 3. Argumento Unico que permite provar a existéncia de Deus: — 0 seu caracter de necessidade vence mesmo as dividas dos no crentes; 08 atibutos de Deus vao ser apresentados a partir da afirmacao da sua existéncia. O SER E AESSENCIA, S. Tomés de Aquino 1. O ser afirma-se como: — 0 que se divide pelas dez categarias logicas ~ 6 o que significa a realidade subsistente de uma — 0 que significa a verdade das proposigbes — pode ser afirmado como ser tudo aquilo de que 6 possivel formar uma proposic&o assertiva (ainda que isso no suponha nada real). 2. Se afimarmos 0 ser pelo primeiro modo, a ceguelra no & um ser, € uma privagao; s6 pelo ‘segundo modo @ cegueira poderia ser afirmada como ser. A esséncia é lirada do ser que se afirma do primeiro modo. Valorizagao das coisas concretas existentes. Atribuiggo da esséncia apenas aos existentes. Valorizagao do ser sobre o pensar. s14icr2, REDUGAO DAS CIENCIAS A TEOLOGIA, S. Boaventura 1. Para haver conhecimento sensivel tom de haver uma semelhanga que provém do objecto, mas. ‘no acaba no acto de sentir. 0 otjecto sensivel move a nossa faculdade de conhecer, por meio de uma semelhanga que provede do seu objecto. 2. Paralelo entre a semethanga que permite o conhecimento © a semelhanga que liga Deus Pai a0 seu Filho encarnado, Por meio da encamago divina as nossas mentes so dirigidas para Deus, ao receberem pela (6 a semelhanga com 0 Pai 3. Aluz divina reflecte-se nos diversos niveis de conhecimento. Na ordenagao dos varios lumes, 0 conhecimento sensitive situa-se em segundo lugar: conhecimento exterior (mecanica), inferior (conhecimento sensitivo), interior (conhecimento filos6fico) e superior (graca ou Sagrada Escritura). Ao nivel do conhecimento sensitivo o homem @ um ser sensitivo, mas & também um ser que no se esgota na sensibilidade (necessidade de passagem para os niveis de conhecimento superiores a0 sensivel). PRINCIPIOS DA FILOSOFIA, R. Descartes 1. Eu duvido (e penso que duvido). ‘Quem duvida (e pensa que duvida) existe. Eu existo. 2. A alma esgota-se no pensar — 6 uma colsa que pensa: no tem extenséo, figura, nem ocupa espago; ~6 simples; ~ 6 distinta do corpo (se ele existe). 3. O primeiro: principio da filosofia - a posigSo idealista. Pensar: faculdades cognoscitivas, querer e sentir. As ideias — a ideia de Deus - a sua existéncia. Tudo aquilo de que nos apercebemos com evidéncia & verdadeiro. CARTA SOBRE A TOLERANCIA, J. Locke 41. As leis civis circunscrevemn-se aos bens civis, &s posses terrenas. (© magistrado civil pode e deve recorrer a forga para impor o cumprimento das leis. As leis eclesidsticas circunscrevem-se ao culto publico de Deus, & salvagao da alma. © recurso & coacgdo & incompativel com a natureza e o objectivo das leis eclesidsticas. ‘As sangSes compativels com 0 poder eclesiastico so as que visam a adesio da consciéncia, 2. As leis s80 condigées necessarias para a vida comunitéria. Legitimidade para punir quem se obstina em pecar (violar as leis) mesmo apés admoestagses = direito a excomungar, sem privar os fidis dos seus bens. 3. O que a Igreja e quais os seus poderes. A toleréncia no interior das Igrejas: ~ direito a excomungar, sem privar os fiéis dos seus bens; ~ interdigao de persegui ou punit membros de outras confissbes religiosas; — ilegitimidade do poder civil para conferir alguma autoridade eclesidstica; = auséncia de jurisdigaio duma Igreja sobre os que Ihe so estranhos; = dever de benevolancia e de caridade. V.S.FF. 114/613 DISCURSO DE METAFISICA, G. F. Leibniz 4. Ideia entendida como forma ou mera representago do pensamento, enquento nela pensamos. Idela entendida como realidade permanente em nés, desde sempre. 2. A aplicago cuidadosa do espirito, «fazendo perguntas por ordem @ a propésito», permite a partir dessas perguntas conhecer todas as verdades: a alma possui virtualmente todas as Idetas 3. Defesa do inatismo virtual das ideias. (© conhecimento como proceso inteiramente a priori — aplicag&o de procedimentos aprioristicos @ dedutivos: —na demonstrag8o da existéncia de Deus; ~na adopgao da ideia de mundo mais perfeito possivel. A alma como expresséo do universo contém todes as ideias. A alma como ménada dominant. Predominancia do metafisico sobre o fisico. FUNDAMENTAGAO DA METAFISICA DOS COSTUMES, |. Kant 1. «Coisas» — seres irracionais cuja existéncia depande da natureza; tam um valor relativo, apenas ‘come meio, * aPessoas» - seres racionais que so por natureza fins em si mesmos, nunca podendo ser uilizados como meros meios; constituem objectos do respeito. 2. Os objectos das inclinagSes dependem das prdprias inclinagbes e das necessidades que nelas se baseiam; néo sao desejaveis por si mesmos, mas 6 enquanto possam satisfazer a necessidade que @ inclinaggo produziu. 3. Possibilidade de se encontrar um principio prético supremo. Formulagaio do imperativo categérico. A élica kantiana como doutrina do cardcter absoluto ou incondicional da pessoa. ‘Supremacia do dominio prético sobre o tedrico. aicr4, GRUPO CRITERIOS PONTUAGAO Plano prévio - estrutura e adequacso 8 pontos Mobilizaggo de conhecimentos*. 20 pontos Posicionamento critico/problematizador*.. 20 pontos Coeréncia Iégica do discurso. 20 pontos Correcgtio da expresso escrita 12 pontos TOTAL .. . 80 pontos: TOTAL DO GRUPO II 80 pontos ‘+ Desdobravel em: = selecgo correcta dos conhecimentos para desenvolver o tema escolhido; = uliizagao precisa da terminologia filoséfica. +* A resposta deve reflectir uma apropriag&o pessoal dos conhecimentos, apresentando uma apreciagao do modo camo o tema foi tratado pelo autor na obra. ‘Se 0 aluno nao identificar a obra e nao resultar Sbvio do seu texto a que obra se esté a referir, ‘ou se escolher um par obra-tema diferente dos indicados, a pontuagSo seré de 0 (zero) pontos. A inadequagéo da resposta a questo implica uma pontuaggo de 0 (zero) pontos. Dado 0 objectivo deste grupo, os topicos a seguir apresentados so meras sugestdes. Seréo de aceitar respostas diversificadas, desde que se reportem a um dos pares obra-tema Indicados na prova e revelem uma selecco adequada dos conhecimentos da obra e um posicionamento critica. V.S.F.F. 114/016 ‘Apenas como sugestées de correcgdo, apresentam-se os seguintes tépicos: DA NATUREZA, Parménides ‘TEMA: Aparéncia e realidade ‘Aparéncia (\lus8o) comesponde ao dominio das crengas, opinides, dados dos sentidos, costumes: — 0 ndo ser existe (admite-se a passagem do ser ao no ser); = existem movimento, devir, multiplicidade, opostes. Realidade (Verdade} corresponde ao dominio do ser: - 0 ser & @ 6 impossivel que nao seja; = existe 0 uno; — nBo existem movimento, devir, multiplcidade. GORGIAS, Piatto ‘TEMA: Poder e saber Distingéo entre saber e crenca e entre ensino e persuasao. A retérica nao passa de adulaggo; gera a crenga sem o saber. © retérico no possui o saber, no instrui, apenas infunde a crenca. “O retérico, por incapacidade de ensinar o que so os valores, preocupa-se apenas com 0 sucesso & com 0 poder que ele confere. © filésofo também no possui 0 saber, apenas o ama, mas procura incessantemente a sabedoria. Apesar de no possuir 0 saber, 0 retérico instrumentaliza a maioria dos cidados ndo os ensinando, ‘mas persuadindo-os. FEDON, Platéo ‘TEMA: Imortalidade e ética A imortalidade (além de esséncia da alma) € 0 destino da alma apés a morte do corp. ‘Se a alma se desprende do corpo em estado de pureza, vai reunir-se ao divino - a esperanga de ‘Socrates, manifestada logo desde 0 inicio do didlogo. Se a alma se desprende em estado de impureza, vai para o Hades @ volla a encamar. AA persisténcia da alma com as caractaristicas que teve em vida implica por consequéncia destinos diferentes para os diferentes tipos de vida: digresso sobre o destino das almas (no fim do segundo e do quarto argumentos). Necessidade de cuidar da almalpraticar a tude, durante a vida, CATEGORIAS, Aristételes, TEMA: Linguagem ¢ realidade As substncias so seres individuais e auto-subsistentes. Possuem primazia ontolégica, pelo facto de nem serem ditas de um sujelto (ndo so universais), nem existirem em um sujeilo (ndo s80 acidentes). «Ser dito de» e «existir em» s8o duas relagdes ontologicas. AA linguagem serve como base a partir da qual se podem concluit propriedades da propria realidade. A obra trata das coisas que existem, sendo 0 recurso as consideragées linguisticas uma consequéncia do método adoptado, e parte de seres individuais © concretos que so exemplos do uso linguistico. A linguagem expressa aquilo que as coisas efectivamente so: linguagem veiculo do ser. 1140/6 INTRODUGAO A HISTORIA DA FILOSOFIA, G. W. F. Hegel ‘TEMA: Filosofia e historia da flosofia A filosofia esta implicada em cada momento histérico — as filosofias so momentos do desenvolvimento do espirito, da Ideia - depende de um conjunto de condicionalismos que a propiciam (todas as flosofias s8o necessérias). A filosafia faz-se na e resulta do desenvolvimento da historia. A hist6ria da filosofia tem de ser vista a partir da filosofia, A historia da filosofia nao 6 um depésito de pensamentos passados ~ os seus conleiidos sac contetidos cientificos da racionalidade — implica filosofer. A historia da filosofia dé conta dos momentos particulares do todo. A filosofa, tal como a hist6ria da filosofia, é um sistema em desenvolvimento. TENDENCIAS GERAIS DA FILOSOFIA NA SEGUNDA METADE DO SECULO XIX, Antero de Quental TEMA: Liberdade e determinismo. © espirito caracteriza-se pela sua espontaneidade @ consciéncia; nunca & passive. A liberdade @ espontaneidade plenamente realizada e consciente. ‘© delerminismo situa-se no dominio da necessidade, onde no hé lugar nem para 0 acaso nem para ‘8 Providéncia, ignora a actividade intema de todos os seres. Distingdo entre a «determinagto» da Vontade e a determinacao mecanicista: a vontade tem um fim, © esse fim 6 ela mesm: Mesmo os fenémenos mais rudimentares apresentam algo de espontaneo, é o proprio ser que se determina a si mesmo. © determinismo, que pode ter um papel positive no dominio do conhecimento cientifica modemo, & uma visdo limitada: faltamrihe as ideias superiores que expliquem 23 inferiores, e desconhece as causas profundas. A liberdade esta presente em todos os seres, em graus diferentes: & 0 fim imanente a que todos os seres aspiram. determinismo, fatal e cego, 4 origem a uma lei racional que regula o mundo, A evolugdo é um caminhar em direceéo a liberdade. ‘A ORIGEM DA TRAGEDIA, F. Nietzsche ‘TEMA: A cultura modema ocidental como decadéncia Socrates ~ modelo do homem «ledrico» que elimina © homem atrégicor — como o primeiro génio da decadéncia: 0 socratismo estético rouba & misica, a tragédia a sua forga dionisiaca. Tragos dessa decadéncia — 0 oplimismo socrético que deu forma a cultura alexandrina: ~ crenga na universalidade das categorias da razBo (ideia de Bem, Verdade); = reforgo introduzido por Hegel com o Sistema do Saber Absoluto; = desvalorizagso da vida; = naufrégic do mito no mundo modemo. V.S.FF. 114/017 DA CERTEZA, L. Wittgenstein TEMA: Verdade e falsidade ‘A mudanga, nos Jogos de linguagem, implica uma madificagao nos conceilos ¢, consequentemente, 1nos significados das palavras. No existéncia de um mundo nico e real, anterior @ independente do uso da linguagem: s6 & possivel cconsiderar falsa uma proposi¢go previamente reconhecida como valida se ela entrar em contradigao com outras proposigoes também recanhecidas como validas. Uma frase & verdadeira apenas se corresponder a um facto que possui uma significagso ja estabelecida, «A verdade de certas proposigSes pertence ao nosso quadro de referéncias»: & sempre possivel imaginar outras verdades. A verdade como coeréncia (entre proposigies, entre orengas). ELOGIO DA FILOSOFIA, M. Merleau-Ponty TEMA: Filosefia ¢ historia Filosofia ¢ histéria no so dois absolutos rivais. A filosofia: = procura uma relagao com 0 absoluto, mas nao & 0 estabelecimento dono absoluto; = 6 sempre filosofia de hoje, no se esgota «na constatacSo intemporal de uma interioridade intemporal»; = no pode ser um dilogo do fissofo com a verdade, um julzo superior sobre @ vida, o mundo © a histéria, como se estivesse fora deles — a nossa construgdo da verdade implica os outros; no se: subordina a circunsténcia, mas procura-lhe o sentido ~ compreensao da «unio da contingéncia e do sentido na historia»: substitui¢ao do «simbolismo técito da vida» por um «simbolismo conscientex, de um «sentido latente» por um «sentido patente». OS PROBLEMAS DA FILOSOFIA, B. Russell TEMA: Natureza dos universais Realidades que tém um ser diferente do dos objectos fisicos — qualidades ¢ relagbes. A-esséncia do «universal» — Ideia platénica - é opor-se as coisas particulares que nos. sAo dadas na percepeéo parficulsr. O ser dos universais néo é de natureza meramente mental: os universais existem, mesmo quando ‘no so pensados, independentemente de um espirito que os apreend: Os universais tém uma existéncia distinta da dos objectos fisicos: nado existem no tempo nem no 28pago, ndo $80 maleriais nem mentais. Os universais n&o existem no sentido em que existem os objectos fisicos, os pensamentos, os senlimentos; subsistem, isto 6, t6m ser, mas no existéncia (08 universais pertencem ao mundo do ser, fora do tempo e do espago). 114/018 ‘A PROBLEMATIC DA SAUDADE, Joaquim de Carvalho ‘TEMA: O sentimento na filosofia — como interpretago qualitatva. A saudade 6 parte da vida emocional, & uma das maneiras de a ipseidade de cada um responder ao que 0 rodeia; a interpretagao saudosista da existéncia apresenta caracteristicas especiificas que a ‘opdem & consciéncia teorética, & impessoalidade do racionalismo. A saudade implica uma atitude valorativa (valotizago do passado em detrimento do presente) e afectiva. Numa filosofia entendida no segundo sentido, a saudade pode ser um dado fundamental para uma interpretag8o metafisica da existéncia. DA ESSENCIA DA VERDADE, M. Heidegger TEMA: Verdade e liberdade A verdade no reside originariamente na proposiga0, néo caracteriza a proposigae correcta. A liberdade 6 exigancia da realizagto de qualquer acco, como concordar ou nde com uma verdade. ‘Aeesséncia da verdade como correcgéo do enunciads ¢ liberdade, Problema da néo-verdade: a esséncia da verdade posta na liberdade pode sign verdade ao nivel da subjectividade humana. Uttrapassagem dos preconceitos que se opdem @ posigo da esséncia da verdade como liberdade: indicagSo da conexdo essencial entre verdade como correccéo e liberdade. Liberdade como deixar-ser — entrega & desocultago do enle enquanto tal Esséncia da verdade: desocultagso do ente. Realzagao da esséncia da verdade: liberdade. TEORIA DA INTERPRETACAO, P. Ricoeur ‘TEMA: Discurso e referéncia ‘A fungo referencial da linguagem sé se actualiza no uso — discurso como dialéctica evento- -significagao. © discurso nao pode deixar de ser acerca de alguma coisa (dialéctica sentide-referéncia). No discurso é a nossa experiéncia que vem & linguagem. Discurso oral: 0 crtério do alcance referencial do que dizemos reside na possibilidade de mostrar a ‘no didlogo todas as referénoias sao situacionais. Discurso escrito: ha um hiato entre a identificagao € @ mostragao; o texto liberta a raferéncia dos limites da referéncia situacional. Fungo referencial do discurso como possibilidade de ligar a linguagem @ verdade @ ao mund referéncia exprime a transcendéncia da linguagem em relaggo a si mesma. 114/0/9

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