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    ENTREGANDO A ALMA AO CAPITAL: A PROPOSITO DA TEORIA Z DE WILLIAM OUCHI Fernando Coutinho Garcia* Essas notas, em tom de resenha, tém como objetivo, em primeiro lugar, desmascarar mais um “novo” modismo na administracio — a famosa Teoria Z «, em segundo lugar, denunciar 6 seu cariter ideol6gieo, autoritiio e, porque nio, acentuadamence facista, haja vista 0 seu carter de transfor ‘mar a familia, as atividades comunitéias até mesmo as de Jazer, em uma extensio das organizagdes, com um duplo alvo: ‘no plano psicaldgico, com a finalidade de despedacamento do go €, no plana sociolégico e politico (estrutural) descaracteri- zar a incongruéncia de objetivos no ambito das organizavdes, bem como vender a imagem de que a empresa € um sistema cooperativo, harménico e de que todos ganham ¢ ninguém perde. ‘A teoria de Ouchi é montada com muita sutileza,util- zando um jargio populare so mesmo tempo académico, uma vez que toda a sua sistematizacio esté apoiada no edifico te6 rico durkeimiano, a famosa solidaiedade orgdnica na socieda- de, desenvolvida no seu clissico “Divisio do Trabalho Social” «, conseqUentemente, inspirdora da abordagem funcionalista € da teoria dos sistemas como premissasexpliativas da dini- mica organizacional. O livro, muito bem estruturado e, até mesmo, de uma lgica cartesiana, compse-se de oito captulos ede dois apén- dices, sendo um contendo as filosofias de administracio de srandes empresas americanas que incorporaram a teoria Z € 0 ‘outro apresentando os fatnosos CCQs — Circulos de Controle dde Qualidade — como a altemativa a ser adotada no Ambito do processo de producio nas empresas do tipo Z. Logo no primeito capitulo — o que podemos apren- der (com 0s japoneses, claro!!) — o autor deixa claro a sua defesa drdua do Capital e seu desprezo pelo Trabalho, uma vez {que nas primeira lias ele descreve um exemplo de greve no Japio, dado por um seu colega americano, que era gerente, nesses termos: “Eles (0s Operirios) nos preveniram seis semanas antes. No dia da greve, um piquete com carazes nos forgoua fechar. Mas quando olhei pela minha jancla, as cinco horas no 56 os cartazes e panfletos tinham desaparecdo, ‘como 0 trabalhadores estavam catando todos os copinhos de ‘café e pontas de cigarros — deixando o patio imaculado! No dia seguinte, compensaram a produgio perdida do dia anterior sem horas extras! Ni compreendio significado de cud isso «, entio, pedi a um deles que me explicass: ‘vinhamos algu sas queinas concra a administracio’,respondeu o trabalhador. [A nica maneira de fazer com qe of senhores nos levassem sério era sair. Mas esta & nossa empreca também, e nio quere- smos dar-lhes a idéia de que somos desleais" (Ouch, 1982. p. 11 —0 gnfo € nosso)** ‘Traduzindo: a empresa nio tem dono, & de todos, os + rofenor do Dep de Cidnie Adminis da Faculade de Cidnie Econdmiar - UFMG. ‘+ Toda a aces spa de gorse referem OUCHI, Wilism. Teoria camo a emp podem een 9 deaf jis. SSp asl, eStore Fund Edvcavo Bree, 1982 ‘empregados sio leais e, nesses termos, 0 sindieato no tem nenhum significado. Segundo Quchi, todo o sucesso das grandes empresas no Japio, esté sedimentado em trés caracteristicas basica, a saber: emprego vitalici, avaliacio © promocio lentas e, por llkimo, eajetérias de careira nio-especalzadas. Quanto a0 primeiro,o préprio autor chama a atencio que essa caracteris- tica 6 ocorre nas grandes empresas e nos escritrios governa- rmentais, acambarcando apenas 35% da forca de trabalho, € que os 659% restantes estio em pequenas € médias empresas ‘ou sio pequcnos propritiros, tanto nas atividades comer- siais como na agricultura; ¢ importante salienta, no entanto, ue toda a base empirica desse trabalho constitu apenas a5 grandes empress ¢, 0 que é pior, 6 foram entrevistados Bgerentes,diretores e presidentes, ou seja, Ouchi trabalhou com Brandes empresas (multinacionais na maioria) e com as elites ‘onganizacionais dessas empresas Em linha gerais, emprego vitalicio significa que “uma vez contratado, 0 novo empregado é mantido até a aposenca-

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