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BX Maria Emilia Costa 12. Desenvolvimento da Identidade wo aero BL Qsrags Be ese Oi sh g €C&acenss So Nos bnew Wve: abil Boers, frre, = Sd — 76 292 1S SENT ASST 1TABUA DE MATERIAS 1232 a4 2s 251 12.5.2 1253 126 26t 1262 1263 onmmoa Desenvolvimento da identidade Apresentagio Objectivos de aprendizagem Desenvolvimento do Eu Desenvolvimento do conceito de si proprio Caracterizago do coneeito de si proprio O conceito de si préprio na infin As mudangas da puberdade Niveis de desenvolvimento do auto-conhecimento A identidade segundo Erikson 0 desenvolvimento da identidade no quadro do desenvolvimento psi- cossocial A crise de identidade na adolescéncia Os Estatutos de identidade do Eu Factores de desenvolvimento da identidade Individuals Interpessoais Sociais Algumas situagSes problematicas da adolescéncia ligadas & crise de identidade Negativismo Suicidio Anorexia nervosa ‘Sumario Conceitos-chave Questdes Actividades a realizar Bibliogralia i | i | eS ES STS A. Apresentagio A.mais importante consequéncia psicossocial da puberdade, no quadro d@ se aye teoria psicanalitica, é a desvinculag&o € a separacio das pessoas mais signifi- ee cativas, dos pais e da familia, Para Freud, o individuo recorda na puberdade 05 desejos sexuais relativos aos pais, latentes desde a infancia. Quando estes desejos reemergem na puberdade, o seu foco imediato sfo os pais Mas como isto ja no € permitido a si proprio, provoca ansiedade, culpa e uma reacgio defensiva contra esses desejos Esta reaccdo defensiva leva a uma diminuigao dos lagos emocionais em relasdo aos pais e consequentemente a uma maior _ SSB“. So separagdo e autonomia. Mesmo os autores que sublinam o processo de rede- fnigiio da relago com os pais, mais do que a separagdo acentuam a aquisi- gdo da autonomia como tarefa primordial do adolescente. a Paralelamente a estas mudangas, ocorrem outras a0, nivel do funcionamento cognitive, com emergéncia do raciocinio formal, 0 que inclui a capacidade de pensar hipoteticamente, de imaginar uma série de possibilidades em relacdo.2 ¢ yeu. si préprio € ao futuro, Estas competéncias permitem ao adolescente repensac.7 r criticamente os seus valores, crencas ¢ imagens do mundo anteriormente defiz. nidos pelas pessoas a quem estava afectivamente ligada. Estas mudangas encorajam o adolescente a procurar um sentido de autono- mia e preparam-no para uma melhor compreensio de si préprio e dos outros, ‘0 que constitui alicerces para a construgao da sua identidade Ha quem considere que o principal desafio com que se confrontam os adoles- centes reside na tarefa dejdesenvolvimiento da identidade do Euy Tem sido identificados dois aspectos do Eu intimamente ligados: 0 Eu como sujeito ¢ 0 Eu como objecto; o Eu como sujeito, autor e actor, timoneiro, 0 conhecedor € avaliador ¢ o Eu como objecto do set préprio conhecimento ¢ avaliagio; 0 sujeito que tem de se constituir como existente separado dos outros ¢ 0 odjecto constituido pelas categorias ou teorias pessoais a construir para se definir a si préprio {14 William James, em 1890, dstinguiu estes dois aspectos do Eu (*I"¢“ME", -0 fo. Meack respectivamente) que tém vindo a ser sucessivamente referidos por diversos autores. Usaremos a expresso “Eu” para referir 0 “sujeito” ¢ a de conceito de si proprio para referir 0 “objecto” ‘io ao desenvolvimento do conccito A investigagaio tem dedicado mais aten de si proprio do que do Eu.' A problemética da identidade na adolescéncia "tater 1983 tem sido tematizada de modo a podermos considerar que se refere, simulta- neamente, ao desenvolvimento do conceito de si préprio ¢ ao do Eu, neste periodo etério. Desde ja se assinale que uma ténica comum_a todas as perspectivas ¢ a da. importincia da interacyao social e do conhecimento dos dutros para @ cons: trugo do Eu, como sujeito e como objecto, e da identidade, portanto. 283 256 ee eee] Este ultimo capitulo serd dedicado a formagdo de identidade da adolescéncia que podera ser considerado 0 processo de sintese do desenvolvimento do Jovem. Depois de uma breve referéncia ao desenvolvimento do Eu e do con- ceito de si préprio, abordaremos a problematica da identidade na dupla ver tente referida. Terminaremos com uma referéncia a algumas dificuldades psicolégicas do adolescente ligadas a identidade B. Objectivos de aprendizagem No final do éapitulo deverd ser capaz de definir conceito de si préprio, auto-conhecimento e auto-estima, € explicar a sua fungio no desenvolvimento da identidade; descrever 03 estddios do desenvolvimento do Eu segundo Loevinger telacioné-los com a identidade; caracterizar a formagdo da identidade no quadro dos diferentes esté- dios do desenvolvimento psicossocial, segundo Erikson, ¢ clarificar a contribuigdo da crise e de moratéria para a mesma; identificar o sentido da estruturacdo do Fu na adolescéncia na pers- pectiva do modelo dos estatutos da identidade de Marcia; indicar algumas modalidades da escola contribuir para o desenvolvi- mento da identidade; explicar porque ¢ que a formagio da identidade ¢ 0 maior desafio com que se confronta 0 jovem € constitu o proceso de sintese de todo o seu desenvolvimento. 12.1 Desenvolvimento do Eu 4 © Eu seria 0 integrador das diferentes ideias © experitncias passer bem como das expectativas sociais ¢ © organizador da acsi0 humenaf Loevinger} i (1970, 1983) apresentou um modelo de desenvolvimento dat es targe do Fi i ticade 2 mais simples & mais complexa, Este modelo faz referencia a dex esti: { dios do desenvolvimento: ‘ Pré-social,|Caracteriza o individu numa fase autsts, cua primeisa sivefa é a gua diferenciagio dos outros ¢ do que o rodeia. ¢ tem 9 <6 vaigio com a construcio da realidade, permanéacia e conservagso dos odjectos: Siaibibtico:| Apesar da sua diferenciagdo, o individue permanct® nami felaGao simbiética com o meio A aprendizagem 4a linguaget carne mve capaz de se ver como tra pessoa separada. (Estes dois primeiros estadios ndlo se encontram na idade 24 lta); Impulsivod Os impulsos do individuo ajudam-no a afirmar-se como ‘uma entidade separada, embora a necessidade dos outros permaneca muito forte, o que se manifesta por comportamentos de dependéncia. Os outros so vistos como fonte de recompensa & punigao. A orienta- go € quase exclusivamente virada para 0 presente € no para 0 pas sado ¢ futuro; ‘Auto.protecsio,,Verificase 0 primeiro passo para 0 auto-controlo dos impillsos, o individuo € capaz de antecipar a5 punigdes © recom- pensas a curto prazo. Compreends que hé regras, contudo a reera. mais importante é “no te deixes apanbar” ¢ nao é capaz de ser res- ponsivel pelas suas acgies. Este estadio caracteriza-se, assim, por um hedonismo oportunistss [5. Conformismo. }0 individu identifica o seu bem estar com 0 do ‘grupo, mas para que isto aconteca & necessatio que tenha atingido um nivel de confianga basico: suficiente. Tem medo da desaprovagaio dos outros, percebe as normas, ¢ obedece-Ihes pordue so aceites pelo grupo. E capaz de observar diferengas de grupo, no entanto é insensi- vel As diferencas individuais. Os seus comportamentos & valores exis tem em fungio de jnfluéncias externas € portanto da aceitagdo social: 3 Auto consetbadia, Periodo de transiqio do conformisme & tomada de Caracteriza-se fundamentalmente por um aumento desta esi como pela capacidade em perceber miltiplas perspectivas chernativas, o que permite 20 individuo sair do controlo ¢xclusht- vente exierao, assim como reconinecer diferengas individuals ¢ mt plas formas de pensar, sentir € agi consciénei 7 Tomada de conseiénciag 0 individuo tem regras ¢ valores interioriza~ dos, é capaz de se ver como aquele que toma decisdes, qu age ¢ {° 233 256 Costa & Camper 1987 relagdes empiticas e de mutualidade, sendo capaz de apreciar nos outros diferentes emogées e perspectivas. Neste estidio os elementos basicos da consciencializagdo dos adultos esto presentes: auto-avalia~ so de objectivos ¢ ideais, auto-critica, sentido de responsabilidade: "BR. Andividuagdol Periodo de transigdo para o estédio da autonomia Caracteriza-se essencialmente por um aumento do sentido da indivi- dualidade, consciéneia de conflitos emocionais envolvidos nas rela- des dependéncia/independéncia. O individuo € mais tolerante, con- sigo ¢ com os outros, reconhecendo-os na sua complexidade, Esté consciente das diferencas entre processo ¢ resposta. das discrepancias entre a realidade interna © aparéncia externa © entre respostas de ordem psicoldgica ¢ fisiolgica [[9. Autonomia.70 que distingue este estadio é capacidade de conhecer € lidar com conflitos internos. A complexidade conceptual € a caracte- ristica mais saliente: 0 individuo vé a realidade como complexa e mul- tifacetada e & capaz de integrar ideias aparentemente contraditérias € ambiguas. Tem consciéncia clara dos seus papéis e estéinteressado no seu desenvolvimento ¢ progresso. Reconhece a autonomia aos outros a sua interdependéncia, Integridade,} Neste estddio 0 individuo transcende os conflitos do ‘autnomo, adquirindo um sentido integrado da sua identidade. E de salientar que é pouco frequente encontrarmos individuos neste estadio. Num estudo realizado junto de 250 estudantes de cinco cursos univer- sitarios do Porto, a frequentar o segundo ano verificou-se que trinta por cento se encontravam no estadio de conformismo ou préximo ¢, cerca de sessenta por cento, estavam a transitar para o de tomada de consciéncia ou jé ai se encontravam.' Resultados idénticos tém sido encontrados em estudos realizados nouttos paises 12.2 Desenvolvimento do conceito de si préprio 12.2.1, Caracterizagdo do conceito dejsi proprio 7 © conceito de si proprio representa uma forma de organizagio das experitn- cias pessoais e da-thes um significado. Diferencia-se ¢ estrutura-se progressi- vamente com desenvolvimento do individuo Evidenciam-se dois grandes dominios de diferenciagio, 0 escolar ¢ © ndo-escolar, que, por vez, se subdivi- dem em miiliplas facetas. No escolar, distinguem-se as facetas relativas. as diferentes dreas escolares; no nfio-escolar, as relativas & area fisica (aparéncia © competéncia fisica), social (relacionamento com os pares ¢ com as pessoas significativas) ¢ emocional. Estruturando 0 conceito de si préprio numa hie- rarquia, podemos dizer que 0 relative a dominios ¢ facetas mais especificas estaria na base, enquanto um conceito de si proprio mais geral estaria no cume A estabilidade do auto-conceito depende de situagdes especificas. sendo no entanto mais instavel na base da hierarquia do que em niveis mais elevados Para mudar 0 auto-conceito mais geral sio necessérias muitas experiéncias especificas inconsistentes com 0 actual: por exemplo, 0 fiacasso ou sucesso numa tarefa escolar pode mudar 0 conceito de si proprio em relagdo a essa comperéncia mas néio o mais geral; no entanto. se essas experiéneias se multipli- carem, poderdo provocar mudancas 20 nivel geral do conceito de si préprio ! “shneton caf 197% prdprio tem também uma cardcter avaliative de onde emer estima de si préprio, isto é, o individuo no se descreve apenas em diferentes situagdes, mas avalia-se Esta avaliago pode ser feita em fungdo de critérios .) absolutos (eu ideal) ou relativos (comparagdo com os pares) bem como da per- ibe, AS cepgdo de pessoas significativas para o individuo. Baseia-se, portanto, na com- se paracao entre a realizado ¢ as expectativas, assim como na aprovacdo, apoio ¢ admiragdo dos outros ‘Um problema importante do adolescente situa-se na diserepancia entre 0 eu-teal € 0 etr-ideal. ou seja, entre aquilo que o adolescente € realmente e aquilo que Ie mae gostaria de set, O adolescente vive também preocupado com aquilo que 03, outros pensam a seu respeito: esta “audiéneia imagindria", como refere Elkind. (1976), leva o adolescente a rever e a avaliar os seus comportamentos. A medida, que aumenta a capacidade de ter em conta 0 ponto de vista do outro, a cons- citueia de si prdprio também aumenta, Contudo, um adolescente com uma baixa auto-estima tende a tomnar-se apreensivo relativamente as avaliagSes dos outros Consoante a sua vulnerabilidade & apresiagio e avaliagéo dos outros, mais a consciéncia desi proprio sera critica A avaliagdo de si proprio suscita reaegdes afectivas diversas, De facto, a auto- -estima ndo é apenas um juizo de valor, mas também um sentimento acerca de si préprio que da ao individuo uma base psicolégica coerente para lidar com os pedidos da realidade social E o nivel de auto-estima que contribui para a capacidade do adolescente reali- zar, corter riscos e fazer investimentos,’ Quanto mais positive for o auto-

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