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Emile Durkheim As Regras do Método Sociolégico Martins Fontes Seo Paulo 2007 US Rtotrs Oe METHODE SOCOLISO Toma nape tine "ie -Mega T.e eter? nent ate Nota sobre esta edi, vu. Prficio da primeira etic xl Proficio dat segunda ediedo, xv Iroc XXXII 1. © que é um fato social. 1 1, Regras reativas a observayao dos fatos soKiais.. 15 UL Regras reativas a disting2o entre normal e pato- loxico. 0 Regras relativas 4 constituigio dos ipos saxiais... 77 V. Regras relativas 4 explicagio dos fats socias.. 91 VI. Regis relativas & addministragao da prova 2? Camclusao, 15 ‘Novas 153 INTRODUCAO, [Mt 0 presente, os suciélogos pouco se preocuparam fem caracterizare definir 0 metodo que aplicam a0 estudo dos Fatos sociais sm tola @ obra de Spencer, © problema metodologico nao ocupa nenhum lugar; pois fs Intvodugdo a ciéneta social, eo tielo poderia dar est ilusao, destina-se a demonstra as diiculdades e a possi lidade da sociologia, nao a expor os procedimentos que cla deve utilizar. Stuart Mil, ¢ Verdade, ocupou-se longi ‘mente da questio!, mas ele nto fe sendo passar sob 0 tivo de sua dialésica 0 que Comte havia dito, sem acres: ‘centar nada de verdadeiramente pessoal, Um capitulo do ‘Cuyso de flosofia positca, eis praticamente 0 tnico estu- ‘do original e importante que possuimos sobre © assunto. ena decpreocupacio aparente, als, nada tem de surpreensdente, De fato, os grandes socidlogos cujos no- mes acabamos de mencionar raramente sairam das gene: ralidades sobre a natureza das sociedades, sobre as reli ‘28 do teino socal e do reino biologico, sobre a marcha eral do progresso; mesmo a volumosa sociologis de xxxIv AS REGIRAS nO METODO SOCIOKEICD {quase no tem outro objeto senio mostrar come, lei da evolugio universal se aplict as sociedades, Ona, para tritar essas questoes filosifieas, nio sio necessirios procedimentos especiais € complexos. Fra sufciente, por- fanto, pesir os méritos comparados da deducao e da in dugao e fazer uma inspe¢ao sumria dos recursos mais eruis de que dispoe a investigacao socioldgica. Mas as Drecaugoes a tomar na observagae dos fatos, a manele ‘como 0 principais problemas devem ser colocados, © sentido no qual 2s pesquisis devem ser dirgidas, a8 pit cas especials que podem permitirchegar 40s fatos, as re igs que devem presidir a administagio ds provis, tudo [sso permanecia indeterminado. [Uma série de circunstincias felizes, entre as quais & Justo destacar a iniciativa que criow em nosso favor um ‘curso regula de sociologia na Faculdade de Letras de Boréus, o qual possibilion que nes dedicassemos desde cedo a0 estudo da cigneia social ¢ inclusive Fi2gssemos dele 0 objeto de nossas ocupagdes profisionais, nos fez stir desas questoes demasiado geais ¢ abordar um certo rnimero de problemas pariculares, Assim, foros levadlos, pela forea mesma das coisas, a elahorar um método qu jullmos mais definido, mais exatamente adaptado na tureza particular dos fendmenes sodas, Sdo esses resulta dlos de nossa pritica que gostariamos de expor aqui em Conjunto © de submeter a discussie. Claro que eles estio Jmplictamente contidos no livro que publicamos recente- mente sobre 4 dtrisao do trabalho socal. Mas nos parece interessante destici-los,Formuli-los 3 parte, acompanha- dos de suas provas e lustrados de exemplos tomados tan- to dessa obra como de trabalhos ainda inéditos. Assim poderio julgar melhor a orientagio que gostariamos de tentar dar aos estudos de sociologia capiruno 1 O QUE E UM FATO SOCIAL? Antes de procurar qual método convim ao estudo dos Fatos soca, tmpemta saber quais ftos chamamos assim. [A questlo € ainda mais necessaria porque se utili, essa quulificago sem muita precisio. Ela € empregida ‘orrentemente para designar mais ou menos todos os fe snémenos que se dio no interior da sociedad, por menos {que apresentem, com uma certa generalidade, algum inte esse Social. Mas, dessa manera, no hi, por assim dizer, ‘acontecimentos humanos que so possam ser chamados socitis, Todo individuo come, bebe, dorme, raciocina, ¢ a Sociedade tem todo o inteesse em que essas funcoes se ‘exergam regularmente. Portanto, se esses fats fossem $0: ‘ais, a sociologia mo tera objeto prépri, ¢ seu dominio ‘se confundiria com 0 da biologa e da psicologia, ‘Mas, na realidade, hi em toda sociedade um grupo determinado de fenémenos que se distinguem por ex- racteres definidos daqueles que as outras ciéncias da ne- toreza estudam, ‘Quando desempenho minha tarefa de irmio, de ma Fido ow de cidadio, quando executo 0s compromissos 2 AS RRGRAS DO MOBO SaxOKGKO que assumi, eu cumpro deveres que esto definides, fora cle mim e de meus atos, 90 diteito e nos costumes, Anda que eles estejam de acordo com mes sentimentas p= prios e que eu sini interioemente a realidide deles, est no deixa de ser objetivas pois i> fui eu que os fi, mas os recebi pela educacao. Alki, quantas vezes nto nos focorre ignorarmos o derathe das obrigagiies que 108 in umber e precisarmos, para contecé-las, consular 0 Ci dligo e seus intémpretes autorizades! Do mest moxlo, as ‘renga ¢ as priticas de sua vida rligiosa,o fel as encom trou inteiramente prontas a0 nascer; se es existiam tes dele, € que exisem fora dele. O sistema de signos de que me sirvo para exprimir meu pensamento, o sistema de moedas que emprego paea pagar minhas dividas, os ins trumentos de crédito que utiliza em minhas relagdes co- merciais, a8 priticas observadas em minha profissio, ec Funcionam independentemente do uso que Figo deles. Que ‘© tomem um a um todos os membros de que & compost a sociedade; 0 que precede poder: ser repetilo a propos to de cada um deles, Eisai, portarto, maneciras de agin, de pensar e de sentir que apresentam ess notivel propria de de existrem fora das conseiéncis individiais sses tipos de conduta ou de pensimeno nao ape nus sio exteriores a0 individio, como também sao doa dos de uma orga imps ativa € coeccitiva em virtude ds ‘qual se impoem a ele, quer ele queita, quer no. Cert mente, quando me conformo voltptariamente a ela, ess coercio no se faz ou pouco se faz sentir, sendo inti Nem por isso ela deixa dle ser um cariter intrinseca ck se fitos, e a prova disso € que el se afiema to logo te (0 resist. Se tento violar as regras do diteto, elas eager contra mim para impedir mev ao, se estiver em tempo, 1 para anuelo € restabelecé-1o em sua forma normal, xe tiver sido eferuado e for repacivel, ow para fazer eom que que reareaTo soctate 3 «2 0 expie, se no puder ser reparado de outto modo, Em se tratando de miximas puramente morais, a consciéncic pblies reprime too ato que as ofenda através da vig fia que exerce sobre a conduta dos cides € das peas tespeciais de que dispie. Em outros casos, a coeng0 & menos violent, mas nao deta de exist. Se no me su mero as consengdes do mundo, se, a0 vestinime, mio levo fem conta os costumes observades em meu pais © €m mi nha classe, o rso que provoco, o afasamento em relaclo a mim produzem, embora de maneira mais atenuada, os ‘mesmos efeitos que uma pena propriamente dita. Ade mais, a coereao, mesmo sendo apenas indineta, continua sendo eficaz. Nao sou obrigado a falar francés com meus compatriots, nem a empregar as moedas leyass mas & Jmpossivel agit de outro modo, Se eu quisesse escapar essa necessidade, minha tentativa fracassaria miseravel ‘mente. Industrial, nada me probe de trabalhar com pro: ‘cedimentos e métodos do séeulo passado; mas, se 0 fiz, E certo que me armuinarei. Ainds que, de fato, eu poss I hrertarme dessts regis e Viollas com SuceSsO, I80 jt mais ocorre sem que eu sejt obrigado a lutar contea elas ainda que elas sejum Finalmente veneidas, demonstran sulfleientemente su forca coercitva pela resistencia que ‘opoem, Nao hi inovador, mesmo aforunado, cujos em: preendimentos nao venham « deparar com oposigtes esse tipo, is portanto uma oxdem de fitos que apresentam cx racteristicas muito espeeitis: consistem em maneiras de tgir, de pensar e de sentir, exteiores 20 individu, € que Sto dotadas de um poder de coergio em virude do qual tsses fats se impoem a ele, Por conseguinte, eles nao ppoderiam se confundit com os fendmenos orginicos, fh ‘que consistem em representagoes e em agbes; nem com ‘08 Fendmenos psiquicos, os quais s6 tém existéncia ma 4 AS REGRAS HO METODO SO«IOLOCICO cconsciéncia individual e através dda, Essex fatos consti- ‘wem portanto uma espécie nova, €€ a eles que deve ser dada € reservacs 4 qualificacio de socias, Essa qualifien ‘cto Thes convénn; pois é clam que, 20 tendo 0 indviduo por substrato, eles ndo podem ter cto Sendo a socieks- {, sea a sociedad politica em seu conjunto, seja um dos srupos parciais que ela encerra confissbesreligiosas, es Colas politica, iterieias, comporagdes profissionais, ete Por outro ldo, é a eles s6 que ela eanvém, pois a palavra social 56 tem sentido definido coma condicio de desig nr unicamente fendmenos que nio se incliem em ne nhuma das categorias de fates ji constiuidos e denomi= nados. Eles Slo poranto 0 dominio proprio da sociologia E verdude que a palavra coeesio, pela qual os definimos, pode vir a assustar os zelosos defensores de um individuae Tismo absoluto. Como estes professim que 0 individuo & perfeitamente auténomo, julgum que 0 diminuimos sem pre que mostramos que ele nao depende apenas de si mesmo, Sendo hoje incontestivel, porém, que a maior parte de nossas idéias & de nossas endéncias nao € ela boracla por nds, mas nos vem de fox, eas $6 podem pe netrar em nds impondo-se; cis tudo 0 que significa nossa efinig2o. Sabe-se, alls, que nem teda coergio social ex lui necessariamente a personalidad individual. Entretano, como os exemplos que acabamos de citar (egras juridieas, morais, doganas reliiosos, sistemas finan ceiros, etc.) consistem todos em cencas e em priticas constituidas, poder-seia supor, com hase no aue precede, due 86 ha fato social onde ha organizago definida. Mas existe outros fitos que, sem apresentar ess formas cris- talizads, t&m a mesma objetiidade e a mesma ascend. a sobre o individuo. € 0 que chamamos de correntes so- Cais. Assim, numa assemble, os grandes movimentos de centusiasmo ou de devogio que se preczem no tém por gure near sociale 5 lugar de orgem nenhuma consciacia panic. Hes nos ‘inca um de, dk forse so ears de nos ae haar conta nossa vontide. Ceramente pode ocorter que, entegandosme a les sem reser, et no sine a fhessio que exercem sobre mi, Mas ela se seus 0 fo- fo procuro luar contra cls. Que im indivi tent se Sport uma desostanfetaics colts: on sentimentos Ge ele nega se vollaro conta ele. Ors, se est frgs de ‘evco externa se afm com fl rier ns esas er Sistncia,€ porque ea este, sind que inconscinte, 005 {Cason contarion Somos eno vim deans avs tus fz cre que elaboramos, nox memos, qe 5 eps fos de fora, se complacenia com gue nos entre amos a est forga encobre a pressio sofia, el mio 4 Riprime. Assim, também o ar no deisa de sr pesado, trrbor no sintamos mais eu fxs0, Nesmo que, de no St parte, tenftmoscolaborado espontaneamente para & Ginogio comum, impress que sentimos € muito df ‘ene da que teams sentido se exivéneriossozinhos. fan a parte do momento em que a assembiia sed solve, em que esis influénci cowsam de agi soe nos € nos vemos de novo 46s, os snmento vidos nos do {mpressao de algo eatranfio no qual nao mas 0s 00- nihecrmon. Entio nos damnos conta de que saemos esses entmentos bom mas do que os prochziios. Poe acon fever até que nos cause hor, no eran COMES & ross nature E asim que ididuos perfetament ino fensivos na maior parte do tempo podem ser levados @ fos de atocklade ean reunion em muti, Ora 0 “ie dizemos desis exploses passages plica-se dent “Gimente aos movimentos de opinito, mais darivel, awe Se prise a tou inante a nosso redo sea em to fxtenao da soda ea em ctclos mais ests, 0 bre assunts religosos olen, iecces, asics, te 6 AS REGRAS LO ME TODO So«IOKO.ICD Als, pode-se conlirmar por uma experiéneta cate. teritca essa defiigio do fato sociak basta observar a ma neira como sto edueadas as eriangis, Quando se obser- ‘vam 0s fatos tis como slo tas como sempre foram, sale tt aos olhos que toda educagao consiste num esforeo continuo pars impor a erianga maneinis de ver, de sentir ede agir 3s quais ela nio teria chegado espontaneamen- te. Desde os primeiros momentos de sua vida, forcamo- las a comer, a beber, a dormir em horitios regulares, for ‘gamo-las 2 limpeza, 4 calma, 3 obediéncia; mais tarde, Forcamo-las para que aprendam a levar em conta outrem, 4 respeitar 08 costumes, a conveniéncas, forcamo-tas 40 trabalho, et, etc. Se, com 0 tempo, essa Coerpio cess de ser senda, & que pouco a pouco els di origem a habitos, a tendéncias interna que & tornam inti, mas que $6.3 substituem pelo fato de derivarem dela, E verdade que, sequndlo Spencer, uma educacao racional deveria repro var tas procedimentos e deixar a erianga proceder Com todk 2 liberdade; mas como essa teoria pedagogica jumais foi praticada por qualquer povo coahecido, ela constitu: apenas um desideranum pessoal, nio um fato que s¢ pos- st opor aos fatos que precedem. Ora, 0 que torna estes itimos particularmente instrutivos & que a educagio tem justamente por objeto proxhizt o ser social, pode-se por- tanto ver nela, como que resumidamente, de que mantra ‘ese ser constitui-se na historia. Esa prestio de todos os instantes que softe a crianga é a pressio mesma do meio social que tende a modelivla & sa imagem € do qual os bls os mets no so sen os epresernes€o Assim, nfo € sua generalidade que pode servie para caracterizar os fendmenos sociologicos, Um pensamento {que se encontra em tods as consciencias puriculanes, um movimento que todos os individvos icpetem nem por isso oque pum naT0 sociale so fatos sociis, "Se se contentaram com esse carter par Uefini-les, € que os confundlram, erradamente, com © que se poderia chamar de sas encamagoes individuals. O que fs constitu sf0 as crengas, as tendncias e as priticas do grupo tomado coletvamente; quanto 3s formas que assu- ‘hem os estas coletivos a0 se refratarem nos indviduas, lo coisas de outa especie” O que demonstra categori mente essa dualidace de nanureaa é que essas dus ordens le fatos apresentam-se geralmente cissociads, Com efet ‘o, algumas dessas maneinas de agir ou de pensar adqui rem, por causa da repetigio, uma especie de consisténe ‘que as precipita, por assim dizer, e as isola dos aconteci mentos particulies ‘que as reletem*. Els assurnem sim um corpo, uta forma sensivel que Ihes € propria, e ‘constittiem Uma reaidade sui generts, muito distinta dos fatos individuals que a manifestam. O habito coletivo nae existe apens em estado de imanéncia nos atos sucessivos ‘aie ele determin, mas se exprime de uma vez por toda por um priilégio co exemplo io encontramos no reine hiolégico, numa formula que se eepete de boca em boc ‘que se transmite pela educacio, que se fsa através da es tila, Tais Slo a origem © 4 natureza das regras jridicas ‘morais, das aforismos ¢ dos ditos populares, dos artigos dle fé em que as seitas religiosas ou polticas condensa sas crengas, dos cGdligos de gosto que as escolaslteririas (stabelecem, ete **Nenhuma dessus maneiras de agi Ov tle pensat se acha por inteito nas aplicagdes que os part: sh cia pres uh eu se ream Cada Eo svi conse ‘a numa crogamoms trac enum pati, le € = e ‘pa testo citrate que eto dnt oss em ue care Saat non nao Che psenpbgus tomo AXXO 8 AS RBS bo atB7ODO So«IO4OICO culares fazem delas, i que elas podem inclusive existir sem serem atualmente aplicadas. Claro que essa dssoviacio nen sempre se apresenta ‘com a mesma nities. Mas basta que eta exista de ue ma eit incontestivel nos casos importantes e numerosos qe acabamos de mencionar, para provar que 0 fato social & dlstinto de suas repercussdes individaais. Allis, mesmo que ‘la nio seja imediatamente dada & observagio, pode-se ‘com freqiéneia realizi-la com 0 auntlio de eertos atficios ‘de método"; é inclusive indispensivel proce a essa ope= ragio se quisermos separat 0 fato social de toda mists para observi-io no estado de purerat. Assim, ha cenas cor rentes de opiniio que nos impelem com desigual intens: dade, conforme os tempos e 0s higates, uma wo easamen- to, por exemplo, outea a0 suicidio ou a uma natalidade mais ou menos acentuacl, ete. “Trta-se, evidentemente, de fatos socinis” A primeira vista, des parecem inseparde vis cas formas qe assumem nos casos particulares, Mas estatisica nos fornece 0 meio de iso:+-les. Com efeio, eles so representados, mo sem exatidac, pelas taxa de natal dade, de nupcialidade, de suicidios, ou se, pelo nme ‘que se obtém ao dividir« média anual tet dos nascimen- tos, dos casamentos e das mores voluntarias pelo total de homens em idade de se casa, de proctae, de se suicd. Pois, como cada uma dessas cifas compreende todos os casos partcutares sem distingo, as ircunstinciasindvi- dns que poem ter agua parca ra proud do contibuem para determiné-o. *O que esse ato expritne tum cero estado da alma coletwva, Eis 0 que Sio os fendmenos soxais, desembaracados ‘de todo elemento estranho* Quanto as suas manifestagbes ome euw EAT soc privadas, elas tm claramente algo de social, f8 que repro- ‘uzem em parte um modelo coletivo, mas cada uma delas| Udepende também, e em larga media, da constituigao or seinico-psiquica do individuo, cas circunstincias particu- cs nas quis ele esté situado. Portanto elas no sto fe= Smenos propriamente sociolégicos. Pertencem simulta heamente @ dois reinos; poderiamos chamé-las sociopst {uicas, Essas manifestagdes interessam 0 sociélogo sem ‘constituienn a matériaimediata da sociologia, No interior ‘do organismo encontram-se igualmente fendmenos de ns- tureza mista que céncias mista, como a quimica biovOgica, estudam ‘Mas, dirt, um fendmeno s6 pode ser coletivo se for ccomum a todos os membros da sociedade ou, pelo me: ‘nos, &- maior parte deles, porinto, se for geral. Certamen te, mas, se ele € geral, € porque menos obrigatorio), 0 que é bem diferente de por ser geral. Esse Fendmeno é um estado do grupo, que te repete nos individuos porque se impoe a eles. Fle est: Com cida parte porque esti no todo, o que € diferente de testar no todo por estar nas partes. Iss0 € sobretudo evie lente nas erent e pritieas que nos sio transmitidas in- teiramente prontas pelas geragdes anteriores; recebemo- fas e adotamo-las porque, sendo 20 mesmo tempo uma cba coletiva ¢ uma obra secular, elas esto investidas de lum particular autoridacle que a educagio nos ensinow reconhecer e a respeitar. Ora, cumpre assinalar que 3 imensa maioria dos Fendmenos sociais nos chega dessa Forma, Mas, ainda que se deva, em parte, 2 nossa colabo~ rago direta, 0 fato social & da mesma natureza. Um sent mento coleivo que irrompe numa assembléla nio expe: ine simplesmente o que havia de comum entre todos os sentiments individuals. Ele € algo completamente lstin- to, conforme mostramos. E uma resultante da vida co- 0 AS REGRAS nO. METODO SOCIOLOCICD mum, das agdes € reagdes que se estabelevet entre as conscigncias indvidusis;e, se repersite em cada uma de las, € em virtude da energia social que ele deve precise mente 2 sua origem coletiva, Se todds os caragdes vibran fem unissono, nao & por causa de uma concordincia es- pontinea e preestabelecida; € que uma mesma forga os move no mesmo sentido, Cada uit € artastadlo por tos, Podemos assim representar-nos, de asaneira precisa, ‘0 dominio da sociologia. Ele compreencle apenas tm gt po determinado de fendmenos. Un fato social se reco inhece pelo poder de coereio extemt que exerce ou € ca paz de exercer sobre os individuos; € a presenca desse Poder se reconhece, por sua vez, seit peli existencia de alguma sancao determinac, seja Fela resistencia que 0 fato opde a tol temtativa individuel de fazer dhe violén- cia “Contudo, pode-se defin-lo também pela difusio que apresenta no interior do grupo, contanto que, conform as observacbes precedentes, tenha-se 0 cuiclado de acre ccentar como segunda ¢ estencial caracteristica que ele ‘existe indepenlentemente das formas indivicuais que as- sume ao difundiese-* Este limo erro, emt certos casos, € inclusive mais fic de uplicar que o precedente, De fa- fo, coereio € fie de constatar quando se tichtz exterior ‘mente por algum reacio direta da sociedade, como é o caso em selagio ao direto, 1 mora, 1s renga, os cost mes, inclusive 4s modas, Mas, quando & apenas inditet, como a que exerce ums organizacio econdmica, ela nem sempre sc defta pemeber to bea. A genetaliade ct brinaca com a objetividade podem entio ser mais ficeis de estabelecer. Allis, essa segunda definigo no € senao Poles defini jgunente: at ancl Je pero de aie ave pel exe uo mas gu exe epee gue Bur eavo sociale u ‘ute fooma da primeira; pois, se ust maneita de se con sluzit, que existe exteriormente as consciéneias indivi ‘duais, se generliza, ela 56 pode fazé-o impondo-se Eniretanto, poderse-kt perguntar se essa defnicio & ‘completa, Com efit, 08 fatos que nas foreceram su ba: Se sto, todos eles, mamestas de fazer, 80 de ordem fsio- logics, Ora, ha também manettas de ser eoletivas, isto & fatos socias le orem ansatomica ou morfologica. A socion logit nao pode desinteressar-se do que diz respeito 40, substrato i vida coetiva, No entanto, © ntimero ea nat reza das partes elementares de que se compa a socieds dlc, « manera como elas esto dispostas,o grau de coals ‘nein # que chegaram, a distbuigao da populacio pela superficie do terrt6rio, o numero e a natureza das vias de Comunicacio, # form das habitagoes, etc. nto parecem ‘capazes, num primeiro exame, de se reduzit a modos de sage, de sentir ou de pens. Mas, em primeiro lugar, esses diversos fendmenos. presenta a mesma caracterstica que nos ajudou a dei hiros outros, Essis manciras ce ser se impoem ao indivi- ‘duo tanto quanto as maneitas de fazer de que falamnos. De fat, quuindo se quer conhecer a forma como uma so- ciedade se divide polticamente, como essas divisbes se ompoem, a fusao mais ou menos completa que existe tentre elas, nto & por meio de wma inspegio material e por observacoes peogrifics que se pode chegar a isso: pois esas divisies sio moras, ainda que tenis alum Fhase na natureza fisiea, E somente através do direito pie Iico que se pode estudar esse organizacdo, pois & esse Mlveito que a determina, assim como determina nossas re- lucdes domésticas e civiexs, Portinto, ela no é menos: ‘hrigitoria, Se a populagio se amontoa nas cidades em ver de se dispersar nos campos, € que hit uma corrente dle opin, um movimento coletive que impoe aos indivi 2 AS REGRAS DO METODO SoCIOKEICD ‘duos essa concentragio. Nao podemos escolher a forms de nossa casas, como tampouco a de nossas roUpAs; pe Jo menos, uma é obrigat6ria na mesma mecha que @ ou tra. As vias de comunieacao determinam le manera im- periosa 0 sentido no qual se fazem as migragdes interio- Fes € as trocas, € mesmo a intenstce dessas trocas € dessas migragdes, et, et. Em conseqéncia, seria, quin- do muito, 0 caso de acrescentar lista dos fendmenos {que enumeramos como possuidores do sina disintive do fato social uma categoria a mais; e, como essa enumeri- 10 nao tinha nada de rigorosamente exaustiva, a adicho ro sera indispensivel Mas ela no seria sequer proveitosa; pois essas mac neiras de ser nto sio Sendo maneins de fazer consolid las, A estrutura politica de uma socedade nao € sero 2 rmaneira como os diferentes segmentos que a compoem se habituaram a viver uns com os ovtt0s. Se suas reacties so tradicionalmente proximas, os sgmentos tendem 4 se confundir, caso contritio, tendem a se distinguie. O tipo de habitacio que se impoe a nés nio é senio a mancint ‘como todos 20 nosso redo e, em parte, as geragbes ante- Flores se acostumaram a consiruir Stas casas. Ax vias de ‘comunicago mito sio sendo o leit excavado pela propria ccortente regular das trocas das migagoes, correndo sempre no mesmo sentido, etc. Cetamente, 0s fend menos de ordem morfol6gica fossent os Gnicos a apresen- tar essa fixidez, poderiamos pensar que eles constituer luma espécie & pare. Mas uma rea juridica & um aeranjo rndo menos permanente que um modelo arquitetonica, 1o entanto € um fato fisiologico. Uma simples maxima ‘moral é seguramente, mais maledvel, porém ela possi Formas bem mais rigidas que um simples costume profi sional ou que uma moda. HA assim toda uma gama de nuances que, sem solugio de continudade, liga os fatos our um es10 sociae B ‘esiruturais mais caracterizaddos a correntes lvees dt vida social sind nao submetidas 2 nenhumm mokde definido, € ‘que entre os primeiros ¢ as sexundas apenas ha diferen- ‘cas no grau de consolidagio que apresentam. Uns e ou tras so apenas vida mais ou menos cristalizada, Claro ‘que pocle aver interesse em reservar o nome de morfolo- -2ic 08 08 Fatos Sociais que concexnem 40 substato social, ‘mas com a condigio de mao perder de vista que eles S10 dla mesma nanureza que 0s outros. Nossa definigio com preenderi portanto todo o definido se dissermos: E fato social toda manteira de fazer fivada ou ndo, susctive de exwrcer sobre o individuo uma coeredo exterior ow ails, toxla maneita de fazer que @ geral na estensia ce uma so ‘tedade dada ¢, a0 mesmo tempo, possul uma existéncia [pripria, independente de suas manifestagdes indicia 66 AS RaGRAS 0 MENODO SoRIOLOAICD uM Estamos to hubituados a resolver com uma palavra cessas quesioes difceis €a decidir rapidamente, a partir de ‘observagies sumirias © a base de slogismas, se um fato social € normal ou nao, que esse procedimento talvez. vi ser considerado inutilmente complcado. Nao parece pre- iso darse tanto trabalho para dstinguir a doenga da S10 de, Acaso nio fazemos dartamente distingbes desse ipo? E verdad; mas resta saber se as fazemos devidamente. O ‘que nos mascara as dificuldades desses problemas & que ‘vemos 0 bislogo resolvé-los com relativa facilidade, Mas cesquecemos que & muito mais fied para ele do que para ‘© socidlogo perceber como cada fendmeno afeta a forga dle resistencia do onganismo e com isso determinar seu Ci iter normal ou anonmal com uma exstidio praticamente suficiente, Em sociologia, a complexidade e 4 mobilidade iaiores dos fatos obrigam a muias precausdes, como ‘rovam 8 julgamentos contradiérion Feitos sobre 0 mes- ‘mo fendmeno por diferentes parts, Para mostrar bem © ‘quanto essa cautela & necessina, Fagtmos Ver, por alguns cexemplos, em que eros se incorre quando ela no & res peitida © sob que luz nova os fenéimienos mais essenciais Aaparecem quando sao tratdos metodicamente Se hi um fito cujo cariter paolbgico parece incon- testivel, € 0 crime, Todos os criminologistas esto de aacordo nesse ponto, Ainda que expliquem essa morbidez de maneitas diferentes, eles sio uniinimes em reconhecé |i. problema, porem, deveria set tratada com menos presteza Apliquemos, com efeito, as regras precedentes, O cri ime mio se observa apenas nt maior parte das sociedad desta ow daquela especie, mas em lods as sociedades de todos os tipos, Nao hii nenhuma one no exista uma eri Disicio Ems NORMAL E PaTOLOAICD 6 inalidade, Esta muda de Forma, 08 atos assim qualifiew dlos mio Sio os mesmos em toda parte; mas, sempre e em toda pare, houve homens que se conduziram de maneies 1 atrir sobre sia represso petal. Se, pelo menos, medi dda que as soeiedacles passam dos tposinferiores 108 mals clevados, 0 indice de criminalidade ~ isto & a regio tee 6 niimero anual dos crimes e o dt populgio ~ tender sea diminuir, poder-se-a supor que, embort permanect tum fenémeno normal, o crime tende, no entanto, a perder eter. Mas mo temos razio nenhuma que Nos pet ‘ita acreditar na realidade dessa regressio, Muitos itos pareceriam antes demonstrar a exisieéncia de um movi fnento no sentido inverso, Desde 0 comeca do século, a ‘ettistca nos fornece © meio de acompanhar a marcha dt criminalidade; ora, por toda parte ela aumentou. Na Fran- (2, 0 aumento & de cerca de 300 por cento, Nao ha por tanto Fendmeno que apresente dat maneira mais irecus- vel todos os sintomas ds nonmalidade, jf que ele se mostra lngimamente ligado as condigoes de toda vida coletiva. Fa- ver do crime uma doenga social seria admitir que a doenc rnio € algo acidental, mas, a0 contrrio, deriva, em eens ‘i808, da consttuicio fundamental do ser vivo, seria apa sar toda distinglo entre 0 fisiologico @ © patol6gico, Certa mente pode ocorter que 0 proprio crime tenhs formes anormais; é o que acontece quando, por exemplo, ele atinge um indice exagerado. Nao é duvidoso, com efeito, tyue esse excesso seja de natureza morbid O que & nor. ‘nal @ simplesmente que haja uma criminalade, contaaxo "ue esta atinja e no ulirapasse, para cada tipo social, cee te nivel que talvez nio seja impossivel fixar de acordo om as repras precedentes™ Eis-nos em presenga de uma conclusio, aparente- mente, bastante paradoxal. Pois nao devemos iludi-nos tyuanto a ela, Clasificar 0 crime entee os fendmenos de os AS REGRAS YO METODO SocIOLOGICD sociologia normal é nao apenas dizer que ele & um fend ‘meno inevitivel ainda que lstimsvel, devido & incorrig vel maldade dos homens; ¢ afimar que ele é um fator da sade pablica, uma parte integrante de toda sociedade St ia. Esse resultado, & primeira vist, & bastante surpreen: dente para que tenha desconcertad> a nés prOprios e por muito tempo. Entretanto, una vez dominad essa primei- 1 impressio de surpeesa, no & cfc encontrar as eiz0es um essa normalidade e, a0 mesma tempo, 4 Em primeiro lugar, o crime € normal porque uma so- iedade que dele estivesse isenta seria inteiramente im- possive. © crime, conforme mostramos lures, consiste num ato que olende certos sentimentos coletivos dotados de uma energia e de uma clarezt panicalares. Para que, numa Sociedade dada, os atos reputados criminosos pusdessem deixar de ser cometidos, seria precho qe 0s sentimentos {que eles ferem se verifcassem em teas comsciéncas in dividuais sem excecao e com o griu de forca necessario Para conter os sentimentos contririos. Ora, supondo que ‘ess condicio pudesse efetivamente ser realizada, nem por me desaparecera, ele simplesmente mudaria de formas pois a caust mesma que esgotara assim as Fontes dla criminalidadeabriia imediatamerte novas Com efeito, para que os sentitrentos coletivos prote- sidos pelo direito penal de um poro, aum momento de- terminado de sua histéea, consigam penetrar nas conscién: cias que thes eram entio fechadas au ter mais influencia 1 onde nio tinham bastante, € predso que eles adquiram uma intensidade superior a que possuiam até entao. E preciso que a comunickide como um tod os sinta com mais ardor; pois eles do podem obter de outra fonte a fogs maior que thes permite imporse aos inividuos que Lismngo ENIKE NORMALE PATOLOICD © até entdo hes eram mais refrattios. Para que’ os assas fos dessparecaim, € preciso que o horror do sangue der ramado tome-se maior naquelas camadas socias em que se recratam 08 assassinos; mas, para tanto, € preciso que cle se corne maior em toda a extensio da sociedae. Al ‘auséncéa mesma do crime contribuiria diretamente part produzir esse resultado; pois um sentimento mostra-se Imuito mais respeitivel quando ele & sempre ¢ uniforme ‘mente respeitado. Mas nlo se pereebe que esses esados fortes da consciéncia comum nao podem ser assim refor ‘sidos sem que 08 estados mais fecos,cuja violaeio dava antes origem apenas a falas puramente moras, sejam. igualmente refargados; pois os segundos so apenas 0 prolongamento, @ forma atenuacla dos primeiros, Assim, © roubo ¢ a simples indelicadeza nio ofendem senao um finico e mesmo sentimento altruista: 0 respeito 4 proprie- lade de ourtrem, S6.que esse mesmo sentimento é ofendi- ‘do de modo mais fraco por um desses atos do que pelo ‘outro; © como, além disso, ele nao tem na média das ‘consciéncias uma intensidade suficiente para sentit viv mente a mais leve dessas duas ofensas, esta ser objeto de uma maior tolerincia. Fis por que se censura simples mente 0 indelicado, 20 passo que 0 lado é punido. Mas seo mesmo sentimento lomae-se mais forte, a ponto de fazer calar em todas as consciéncias aquilo que inclina 0 hhomem a0 roubo, ele se tornari mais sensivel as lesdes ‘que, até ento, apenas o tocavam levemente; ele rea pportanto com mais firmeza contra elas; tais lees sera0 objeto de uma reprovagio mais energica que Fars passar sigumas delas, de simples falas morais que eram, 20 est {lo de ctimes. Por exemplo, os contratos indelicados ov ‘ndlelicadamente exeeutados, que implicam apenas uma reprovagio publica ou reparagdes civis, se torario deli- tos. Imaginem uma sociedade de santos, um claustro 7” AS REGS 90.aTOPO SoctOLOGICO ‘exemplar ¢ perfeito, Os crimes propriamente dios nela sero desconhecidos: mas as fallas que parece veniais 0 Vulgo eausario © mesmo escindalo que proxiuz.o del ‘© ondinario nas consciéncias ordinirias, Portanto, se esst Sociedade estiver armada do pode de julgir e de pus, ‘la qualificara esses atos de ctiminosos e os trataei come ‘ais. pela mesma ruzio que o horvem honest jul menores fraquezas morais com uma severidade que a ‘multiddo reserva aos atos verdadeiramente delituosos, Outrora, as violéncias contra as pessoas enim mais Ire aientes do que hoje, porque o respeita pela dignidace individual era menor. Como este aumento, ees crimes ormaram-se mais raros; em compensago, muitos atos que lesavam esse sentimento entraram no dieeto penal, ‘no qual primiwamente no constavstn ralvez se pergunte, para esgosar todas as hipdteses Jogicamente possiveis, por que esse unanimitade nio se estenderia a todos os Sentimentos cletivos sem exceed, Por que mesmo os mais fracos nao ackuinriam sulciente ‘energia para prevenir qualquer dissidéncia, A conscignela moral da sociedade se manifestaria por inteiro em todos 6s individuos e com uaa vitalidade suficiente para impe- dir todo ato que a ofendesse, tanto as faltas puramente ‘morais como os crimes. Mas una tniformidade tio uni versal 120 absoluta é radicalmerse impos ‘vel; pois 0 eo fisico imnediato no qual cada um de nds se encontt 18 antecendentes hereditirios, as influéncias socials de ‘que dependemos variam de um individuo a outro e, por ‘conseguinte, diversificam as consciencias. Nao € possivel ‘que todos se assemelhem nesse pom, pela simples r1zi0 dle que cada um tem seu organism >r6prio, ¢ esses OnBa rnismos ocupam porcdes diferentes do espaco. Por isso, ‘mesmo nos povosinferiores, nos quai a originale in dlividual € muito pouco desenvolvds, ela nao chega a ser Disicio EXE NORMAL FPATOLOGHCD smula, Assim, como nao pode haver sociedade em que o% individuos ndo divijam em maior ou menor geau do tipo coletivo, & também inevitivel que, entre exsas diverséncias, Tas algumas que apresentem um cariter eriminoso. Pois ‘6 que confere a elas esse cariter no é sua importancia intrinseea, mas a que Ihes ateibui a conseigncia comum. Se esta € mais forte, se tem sufciente autoridade para tor har essis divergéneias muito fracas em valor absoluto, elt serd também mais sensivel, mais exigente, e, reagindo contsa os menores desvios Com a energia que manifesta lures apenas contra dssidéncias mais considers, i strbuirlhes a mesma gravidade, ou sea, iri marcclos co ‘Orme € portantonecetsini, cee igo 38 con- dicoesfundamenras de tod vi sociale, por so mes tno, € it pots 1s condigdes de que cle €solidiio IO Clas mesma indspensivels 8 evolugio normal da moral do dct. De fro, no € mais posivel hoje conestar que no apenas o dra ea moal vat de bm tipo soc 3 os to, como também muda et rgd umn meso HPO, se as condigbes da exsténc cota se modicum, Mas, ra que esas tansfonmagdcsscjm ponies, & preciso apenas urna energia moderid, Se ose demand fo tes debi dese plaios Todo aan, com ef, tnt solid foro aranjo printvo. Quanto ma frtemen fi qualquer moda, e is vale to par om ane js fanconis come pars ox anatmicos. Or, no ow esse crimes, es Condgio nao sera preenchi, po ta Iipotese supde que os sentmentorcoleuvow teria ches n A REGRAS 00 METODO SoCIOLBEICO <4 un ry de inetd sem xeon ir. a & bom indeinidamente ese sta, pees qe dutoridade ques conscienia me possi ne ses eke faint ela se crialianame fort mul. Pra gue ch poss eon ¢ pec ue a onal nd ha poss vie hz or, pars quo seas que ron Super seu seulo poms se anna, © pr ie J ériminoso, que est abaixo de seu tempo, ses pose Ua no exe sem out, Eno tudo Ale des uid ine, o propio crime pate deena om papel tess cen as maangas neem coin tame, em cers canon, Preparadretamente esse mucang No apes fom estado de mslesbiade necesso pm ai a for tna nov come ele tation cont ds Nez pata pe {Quamiss vez, com eft, cine no Sento um a cepa da mor por vir wn encsminhumemt edie Gio 20 que sed! De acodo como eto mentee So frates er um crminenoe sa conden simpsenente ssa No eno seu ere, ibe, independents de Seu pensatmeno, er ail nto somente 4 bumanidade, tas sun pia Pos cle sera yr prepara moe uma fe nvas dn quai owateneses nam eno ne Eessiade, porque as tadies sein sus tis ‘id at entao mio mas estavam em harmon om se Conlgdes de extent. Or, o co de Series nao € isola: ele se eproir penoamete na hit & Ie berdade de pensar ee desta atualmente ats prtera ter sido prociamada ses ees qe proibam fio dvesem ido vilidas anes de sere solenemente DISTINGO TRE NORMAL PATOLOICO a abolidas, Entretanto, naquele momento, essa violaglo ert tum crime, fi que era uma ofensa a sentimentos ainda mu to fortes na generalidade das consciéncias. Todavia esse crime era dil, pois preludiava transformagoes que, dia pds dia, ornavam-se mais necessrias. A livre flosotia teve por precursores 0s heréticos de todo ipo que 0 br ‘0 secular justamente persegui durante toda a Kdade ME tia, até as vesperas dos tempos contemporineos. 1Desse ponto de vist, of fats fundamentas da cximi ologi apresentam-se a nds sob um aspecto de todo no- vo. Contrariamente s idéias co ‘mais aparece como um ser radicalmente insociivel, como tuma espécie de elemento parasitirio, corpo estranho & inassimilivel, introduzido no seio da sociedade'; ele & um ‘agente regular da vida social. O erime, por sua vez, m0 deve mais ser concebido como um mal que no poss ser ‘contido dentro de limites demasiado estretos; mas, longe ide haver motive para nos flietamos quando Ihe ocorre ‘descer muito sensivelmente ahaixo do nivel ordinatio, po- ‘demos estar certos de que esse progresso aparente € a0 mesmo tempo contemporineo ¢ solidirio de alguma pe turbagdo social, Assim, 0-nlimero de agressbes ¢ de Feri tnentos gamads ca tanto como em tempos de pentiria!®. Ao esmia fempo e por via inditeta, a teoria da pena se mos: tea renowada, ou melhor, por renova. Com eleto, se 0 er se € uma doenga, a pena € seu remédio e nao pode ser woneebida de out modo; assim, toxlas as discussdes que ‘la suseita tm por objeto saber o que ela deve ser para ‘camprir seu papel de remédio. Mas, se 0 crime nada tem, tle morbido, a pena no poderia ter por objeto curi-lo & sua verdudera funcio deve ser buscada em outra parte Poranto as regras precedentemente enuinciadas estio longe de terem como tinica razio de ser a satistacdo de tn Formalism logico sem grande utlidade, uma vez que, ” As GRAS RO METODO SOCIOLOE:ICD a0 contcirio, conforme as apliqueemes OX xo, fatos 0 ‘iis mais essenciais mudam totalmente de carter, Se es- se exemplo, als, & particularmente demonstrativo ~ & Por isso julgamos que era preciso nos determios nele hi muitos outros que poderiam ser wilmente citados. Nao) existe sociedade na qual nlo seja de regra que a pena de- ve ser proporcional ao delito; entretanto, para a escola italtana, esse principio mio passa ce uma inwencio de ju ristas, desprovida de qualquer solilea's, Inclusive, para cesses criminologisas, & a insituige penal invita, tal co ‘mo funcionow até o presente em todos os povoss canbeci dos, que € um fendmeno antinatual i vimos que, para 0 sy. Garofalo, a criminalidade especitica ds sociedades infe- rlores nada tem de natural. Para os socialists, € a ongani- zagao capitalist, apesar de sua genefaliade, que consti {i um desvio do estado nommal, produzido pela violencia 0 amtfcio. Para Spencer, a0 coniririo, ¢ nossa central ‘ago administrativa, € a extensio dos poderes governae rmentais 0 vicio radical de nossas soxiedades,¢ is80 peste cde ambas progredirem de maneiet mais regular © univer sal] medida que avangamos na histvia, Nao cremos que ‘em nenum desses casos se aceite como criti sistemati= co decidir do carter normal ou anormal dos fatos soci ‘com base no grau de generalidade deles. E sempre a for: ‘61 de muita dialtica que essas questies sio decidias, Entretanto, nlo respeitado esse critério, incorre-se ‘do somente em confusdes & em eros parcias, come os ‘que acabamos ce lemrar, mas a eineia mesma torna-se iimpossivel, Com efeito, esta tem por objeto imediato 0 es tudo do tipo normal; Ora, se 08 fates mais gerais poclem ser morbidos, & possivel que 0 tipo normal jamais tenha texitido nos fatos. Sendo assim, de que serve estudio les podem apenas confirmar nosses preconceitos © en= faizar nossos errs, jt que deles resulam, Se a pena, se a ismgdo EXE NORMAL EPATOLOGICD 7% responsabilidade, tais como existem na hist6ria, nio so tendo um produto da ignorincia e da barbarie, de que ilianta dedicsese a conhecé-las para determinar suas for- thas normals? Assim, 0 espirito € levado a afastar-se de ‘uns realidad desde entio sem interes, voltando-se 50 Imre si mesmo € buscando dentro de si os materais neces sitios para reconstru-ta. Para que a Sociologia trate 0s fi tos como coisas, € preciso que o sociblogo sia a neces- sklade de aprender com eles. Ors, como 0 objeto prine pl de toda ciéncia a vida, tanto individual como social, Cem suma, defini o estado normal, explici-o e dist publo de seu contri, se a normalidade no acontecer fas coisas mesmas, Se, 20 contrario, ela for um carter ‘que imprimimos desde fora nestas ou que thes recusamos por razbes quaisquer, acaba-se essa salutar dependéncia. 1 espinto se acha a vontadle diante do real, que nada de ‘nuit importante tem a lhe ensinar; ele mio mais é cont lo pela matéria a qual se aplica, uma vez que € ele, de ‘erto modo, que a determina. As diferentes regras que es tubselecemos at © presente sio postanto intimament so stirs, Pasa que a sociologia seja realmente uma ci@ncia le coisas, € preciso que a generalidade dos fendmenos seit tomada como eritério de ta normalidade Nosso método, alias, tem a vantagem de regular a slo #0 mesmo tempo que © pensamento. Se o desepivel thio € objeto de observagdo, mas pode e deve ser determi rao por uma espécie de célculo mental, nenum limite far assim dizer, poe ser imposto as livees invencoes da naginacto em busca do melhor, Pos, como atribuir& pes Ieigio um temo que ela nao pode ultrapassie? Ela escapa, por definigio, a qualquer limite. © objetivo da humanidade ponanto ao infinito, desencorajando uns por sew fento mesmo, estimulando ¢ apaixonando outros “que, para dele se aproximar um povco, aceleram 0 passo & se precipita nas revolugdes. Excapemos dessedilema pric tico se 0 desejvel fora sade, € se a sale for algo de de- Finido e de dado nas coisas, pois 0 temo do esforco 6 da {do € definido 40 mesmo tempo, Nao se trata mais de per seguir desesperadamente um fim que se afista 4 media que avangamos, mas de teabalhar com uma regular perse- vveranca para manter 0 estado nonin, para restabelecé-lo se for perturbado, para redescobrir suas conligies se els Vierem mudat. O dever do homen: de Estado mio é mais limpelirviolentamente 2s soeiedades para um ideal que Ihe parece sedutor, mas seu papel € 0 co médico: ele previne: & ecloso das doencas mediante uina bos higiene e, quan ‘do estas se manifesta, procura curls", capiruto w é - REGRAS RELATIVAS A CONSTITUICAO DOS TIPOS SOCIAIS Visto que um fato social s8 pode ser qualificado de mal ou de anormal em relacio a uma espécie social dlererminada, © que precede implica que um ramo da so ciologia € dedicade & consttuiglo dessas espécies ¢ sua classiicagio. {Essa nogio de espécie social em, als, a grande van: tagem de nos fomecer um meio-termo entre as duas con- ‘cepcdes contririas da vida coletiva que por muito tempo dlividiram os espiritos:refiro-me a0 nominalismo dos his- toriadores! © a0 realismo extremo dos filosofos. Para 0 historiador, as sociedades constituem indlividualidades he- rerogéneas, incompariveis entre si Cada povo tem sua fi- sonoma, sua consttuigio especie, seu dieito, sua mo- ral, sua organizagao econdmica que convém s6 a ele, & toda generalizagao € praticamente impossivel, Para o fl6- sofa, a0 contro, todos esses agrupamentos pariculares {que chamamos tribos, cidades, nag6es, nio So mais que ‘ombinagSes contingentes e provisérias sem realidade propria, Apenas a humanidade € rel e & dos atributos ge

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