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1. Introdugio A responsabilizacao do exequente por danos causados ao executado, em virtude de uma con- uta praticada com negligéncia leve, repousa sobre uma norma criada pela Reforma da Ac- Go Executiva de 2003 ('). Tal como consta do novo art. 819.°, a responsabilidade do exequen- te deseniha-se em tomo do direito a execugio € da reaceo perante a execugdo injusta. O tema remete-nos, juntamente com outras circunstin- cias, para um ponto central de muitas opgées, legislativas que integram a Reforma da Acgéo Executiva, Bm particular, 0 novo regime juridi- co sancionat6rio da conduta do exequente faz apelo a regra geral da penhora sem citagio pré- via e relaciona-se de perto com o enfoque dado 8 oposigio a execucdo, entre outras novidades introduzidas por aquela Reforma. (0 texto que agora se publica corresponde, com al- guns corles no texto e nas notas de sodapé, 20 relatévio elaborado no Ambito da disciplina de Direito Processial Civil, sob orientagio do Senhor Prof. Doutor Miguel Tei- xeira de Sousa, do Curso de Mestrado de 2003/2004 da Faculdade de Dieito de Lisboa. Pretendeu-se proservar © conterido do texto apresentado, pelo que se aptos por rio introduzir quaisquer publicagées acortidas depois de 30/9/2004, Salvo indicagio em contrério, as referéncias 8 ‘normas juricas legais pertencem 0 Cédigo de Proceso Givi vigente, (0 Dine 28/2003, de 8/3, eo DI. a? 199/2008, de 10/9, sS0 05 principais diplomas da Reforma da Acco Executiva. Sobre os instrumentos legais desta Reforma, cfr, Taxa De Sousa, A Reforma da Argo Executiva, Lex, Lisboa, 2004, pp. 12-13. 13 | A responsabilidade do exequente na nova acc4o executiva: sentido, fundamento e limites () A compreensio das raizes do instituto da responsabilidade do exequente nao prescinde, como é normal, de uma breve anslise das mani- {festagdes hist6ricas do sancionamento de condu- tas processuais, bem como de uma aproximago as solucbes de direito comparado. Nesta sede, caberd ressaltar 0 regime juridico italiano, pela afinidade entre este ordenamento e a nossa ac- ‘clo executiva reformada (). A reflexio acerca da norma contida no art 819.° implicaré ainda um exame dos requisitos de indole processual e dos contornos materiais da responsabilizacio do exequente imprudent, entre outros aspectos. Este exercicio facultard 0 confronto entre este (novo) instituto e as situa- ses contempladas nas (antigas) disposicées normativas dos arts. 390.° e 456.°, permitindo obviar ao receio de dispersao e de incoeréncia do sistema de responsabilidade processual civil. No desfecho, nao resistimos a questionar se a reparagio dos danos ocorridos na acco exe- cutiva nao teré, afinal, de ser equacionada em funcio de uma possivel responsabilidade do agente de execugdo. Os meandros deste pro- biema séo complexos, extravasando do escopo deste estudo. Ainda assim, julge-se pertinente ) Texsina 0s Sousa, “Aspectos gerais da Reforma da ‘Acgio Executiva", CDP, n° 4, Dezembro de 2008, nota 3, edie, do mesmo autor, A Reforma da Acgio Execution, cit, p. 30; Levee pe Pees, “La riforma italiana del processo cesecutivo (il disegno li legge delegn della Commissione Tarzia", RDP, $4, 1999, n° 4, pp. 1039 e.sogs. A responssbiidade do exequente na nova aco exccutiva set, Fundamentoe ites aflorar os termos em que se poder descobrir um novo equilfbrio sancionatério no Cédigo de Processo Civil. 2. Breve referéncia histérica A matéria da responsabilidade processual remonta ao direito pré-justinianeu (), estandoa ela associada a pena processual que era impos- ta a0 litigante temerério ou a obrigagao civil de indemnizar os danos injustamente causados aos adversérios (). As fontes que se Ihes referiam integram instituigdes diversas, como a legis ac- tio per sacramentum, a sponsio dimidae partis e a calumnia ©. As raizes da responsabilidade processual ci- vilsdo evidentesno caso da calumnia, resultante da consciéncia do injusto que justificava que 0 autor vencido tivesse de indemnizar o vencedor. Surgia, pois, aflorada a ideia de censura do autor vencido e temerario pela pritica de um ilicitono Ambito de um processo. O juramento da caliinia, contemplado nas Institutiones de Gaio (G. 4.179), visava frustrar a md fé das partes, Bste acto ad- ©) A doutrina ndo é unanime quanto & origem © evo- lugio do sentido da responsabilidade processual, ora sui~ gindo ascociada &ideia de culpa, ora ligando-sea cinones cbjectivisas. Sobre este aspecto, confronte-se a tese objec tivista de Luso Soanss, A vesponsabildade processual cv Almedina, Coimbra, 1987, p. 65 et passin, e a construcho subjectivista de Aussero Dos Rus, Codigo Processo Civil Ano- tado, vol T, 3. ed, Coimbra Eaditora, Coimbra, 1981, pp. 200 segs. () Atstsro pos Ras, Cétigo Procsso Civil Anotedo, ct, 200. A nossa andliserestringir-se- aos casas de respon- sabilidade processual, maxine do exequente, deixando de parte os casos de reeponsabilidade pelo pagamento de custas, Assim sendo, néo abordlaremos a questo da condenagio em custas, mesmo quando esta se liga a um comportamento processual do exequente que conduz a uma penhora injusta. Sobre esta questio vide, por todos, Ausro 008 Ras, em, pp. 200-210 © Sobre estas figuras, Luso Somes, A responsabilidade rocessual civil cit, pp. 58-64 7 quitiu especial relevancia prética e densificagio normativa no direito justinianeu (°). Aiideia de boa fé processual esteve também presente no direito intermédio, através do jura- mento da manquandra, referido nas Partidas (IL 11,23) (). Aboa fé encontra acolhimento nas Or- denagoes Afonsinas (*) e ainda nas Ordenagdes Filipinas e Manuelinas, através da referéncia a0 aludlido juramento de calinia (?) Alitigancia de mé fé foi contemplada no C6- digo de Processo Civil de 1876 (")e erajé abun- dantemente referida em obras da década de 30, ainda anteriores 0 Codigo de Processo Civil de 1939, como 6 0 caso da obra intitulada Simula- $f processual e anulagto do caso julgado de Pano Conta (®). A mengio a responsabilizagdo pro- cessual por via da litigancia de ma f constava também do art. 465.° do CPC de 1939.On.22.do att, 264.° deste Cédigo, por seu turmo, dispunha que “as partes tém o dever de conscientemen- te nao formular pedidos ilegais, nao articular factos contrérios & verdade, nem requerer dili- géncias dilatérias”. Nesta altura, a opgao clara do legislador foi no sentido de nao sancionar a lide temerdtia ("), O Cédigo de Proceso Civil de 1939 continha, ainda, uma disposicao sobre a responsabilidade do requerente no arresto (art. 415., § Gnico), valendo solugio idéntica para o (0 Sconaio, Dever de veacidade das pares ne proceso civ Baigbes Cosmos, Lisboa, 192, pp. 17-24. €) Sobre anatureeaefrga cogent das Parties aste- Ianas, vide R. p= Atauqunque/M. DE ALBUQUERQUE, Hsté- ria do Drea Portugués, vol. 1, 10% ed, Lisboa, 1989, p. 192; cfs também Sos, Dever de werecdede cit p. 5. (0) Mavezss Conpeno, Da bo én diva eal, Almedi- 1a, Coimbra, 2001, nota 446; p, 280 (©) Sono, Dever de verucidade, cit, p86 (09 Mekezas Connen, De boa diet cal cit, nota 446, p. 380. ©) P. Conta, Simul proessualeanalac do cso ju nto, Lisboa, 1935, p35. (9 Lame oF Fremas/Mentawio Mackano/R. Posto, Cidigo de Proceso CivitAvotad, vo. I, Coimbra Bditora, Coimbra, 2001, pp. 194-195. arrolamento, mediante a remissio operada pelo seu art. 435.° ("), As referéncias a litigéncia de ma fé mantém- -se, no essencial, no Cédigo de Processo Civil de 1961 (*), Em relagdo a responsabilidade em sede de arresto, 0 legislador estabeleceu que o reque- rente seré responsavel pelos danos provocados, se 0 arresto vier a ser julgado insubsistente por ter havido, da sua parte, ocultacio intencional ou deturpacko da verdad ("). Na vigéncia deste (Codigo, a jurisprudéncia foi constante no senti- do de restringir a responsabilidade processual a lide dolosa, excluindo a meramente temeré- ria (9. Ressalva-se, porém, depois da revisio de 1967, a disciplina sancionat6ria em sede de providencias cautelares (*. im 1995, a expressdo da litigancia de mé £6 amplia-se, passando a abranger casos de negli- géncia grave ("*), E reformulada a redaccéio do art. 456.°, acrescentando-se a omissao grave do dever de cooperacio, como causa dema fé. Além disto, 0 Cédigo de Processo Civil passa a dispor de um attigo especifico ~ 0 art. 266.°-A - sobre © dever de boa fé processual das partes ("). Em. (°) Leune be Fasinas/Mosratvao Macnano/R, Pesto, Citgo de Processo Coit Anotado, wo. 1, cit, p. 58 (9) Lente ve Fresmas/Mowtatvto Macsano/R, Pivto, Citgo de Processo Ci! Anotado, vol, ct, pp. 14-195. (°) Lens be Frerts/Mowtatvio Mactabo/R. Pivto, Citgo de Processo Civi! Anotado, vol. I et, p. 8. (1) Neste sentido, pode ver-se, por exemple, os acs. do ST) de 17/11/1972 (BM), n° 221, p. 168) e de 28/10/1975 (BMI, n- 250, p. 156). () Esta reviséo, além de outras alteraghes, unificox rum preceito a matéria da responsabilidade quanto & generalidade das providéncias cautelares @ fixou a negra segundo a qual o requerente é civilente responsével quando no age com a prudéncia normal: Leone ve Fre ‘us/MonTalvao Macuapo/R. Pro, Cédig de Process Ci- vil Anotado, vo. I, it, p. 59 () Leots be Frutas/Montaivao Maciavo/R. Pavto, CAtigo de Proesso Civil Anotade, vel. I ct, p- 195 (*) Sobre as lgeiras alteragbes em sede de providén- cias cautelares trazidas pelo DL n? 328-A/95, de 12/12, Lene De Frsttas/ Monatvko Macuano/R. Pasto, Cédiga de Prooesso Ciuil Anotado, vol. Hct, p. 59, 18 ‘weno Paenoo n® 19+ Absi/Fanho 2005 1996, permite-se, sem quaisquer limitagoes, a condenacéo como litigante de mé fé da propria parte vencedora, desde que 0 seu comporta- ‘mento preencha alguma das previsdes do art. 456., n° 2, Chegamos, agora, ao tiltimo grau da evolu- 0 da responsabilidade processutal. Em 2003, 0 DL n° 38/2003, de 8/3, que reformou a aco execuitiva, consagrou a responsabilidade do exequente, fuundada em casos de inobservancia da prudéncia normal que 6 exigida a esta parte processual. Nestes termos, dispée hoje 0 Codigo de Processo Civil de duas normas sancionat6rias abstractamente aplicdveis & relagao processual executiva: a do art. 456.° ea do art. 819° 3. O tratamento da responsabilizagao do exequente em alguns ordenamentos juridicos europeus 3.1. Inetrodugio Aassimetria do regime juridico da acedo exe- cutiva nos Estados-membros da Unio Europeia reflecte-se igualmente em sede de responsabi- lidade processual (*). O direito italiano possui ‘uma disciplina jurfdica da responsabilidade do exequente proxima da portuguesa, separando 08 casos de litigancia de ma fé, em que se exi- ge 0 dolo ou a negligéncia grave, dos casos de © As diferenas estrtaras entre os regimes jurid cos euzopeus manifstan-se quanto a matérias diversas, como gr de intervensio do tribunal na exteuso, 6x. tensio do titulo executive ou a formas de proceso, entce coutras: cf Lam oe Prem, "Os pacedigmas da aio exe catva’, Bolen information. Assciag Sin! dos Jukes Portgess, Lisboa, n° 3, Margo de 200, pp. 43 @ 46; of também Tata, “Prospective di armmonizzaione delle norme alescusione forte nella Comuntt Economica Eoropen’, RDP, 4, 1994, 1.1, pp. 205 e segs, e"Le droit des saisies dans les douzes Btats membres de Union Eu- ropéenne", Actualité du drt, 1985-2, pp. 316 esegs; ort ata, "Civil Justice Reform: Acces, Cost and Expedition The gesman perspective", Ctl jestiee m Cri. Compara: tive Prspectves of Ci Preceture, ed. Adsian Zuckerman, Oxford University Press, 1999, pp. 207 e cogs Acesponcsbldade do eqs nova aesto eceti responsabilidacle do requerente de providéncia cautelar ou do exequente, em que € bastante a mera negligéncia leve. Em contrapartida, os or- denamentos juridicos francés, espanhol e alemao no posstiem uma norma juridica espectfica re- lativa a esta matéria. 3.2. O caso frances, espanhol ealerdo Em Franga, 0 Code de Procédure Civile vigen- te disciplina, genericamente, a responsabiliza- Go processual em sede de abus dans lexercice de Vaction (#). Destaca-se, nas disposigdes ge- ais do Code de Procédure Civile, o art. 32.°, n° 1, que contempla situagdes préximas da litigancia de mé fé (), As leis acerca das diferentes voies d éxécution nao prevéem um regime especial pa- ra 0 exequente temerério. Em Espanha, a Ley de Enjuiciamiento Civil de- diica um tinico preceito & boa f€ processual e as consequéncias sancionatérias resultantes do res- pectivo incumprimento. Com efeito, 0 art. 247.° da LEC unificaas situagdes de responsabilizacio processual, estabelecendo que os intervenientes ‘em qualquer tipo de processos devem conformar as respectivas actuagdes em sentido conforme as regras da boa fé (). €) Sobre o abuso do direito de acco, vide Vincent/ /Gunctano, Procédure Civile, 27° ed, Dalloz, Pars, 2008, pp. 1134114; Coucisz, Procure Civile, 7* ed, Siey, Panis, 1992, p. 107. (7) O texto do art. 322, n? 1, € 0 seguinte: “celui qui agit en justice de maniéxe dilatoire ou abusive peut étxe condamné & une amende civile de 100 F [€15] & 10 000 F (1 500], sans préjudice des dommages.intéréts qui se- raient réclamés", A orientagio jurisprudencial tradicional cexige malicia ox mé f@ para que a parte lesada passa re- lamar uma indemnizagio pelos prejuizos sofridos: assim, Cava, Code de Procure Civile, 2008, 16 ea, Lite, Paris, 2008, p. 46. Porém, um recente revirementjurispeudencial rmarcou um nove entendimento interpretatlvo. Assim, ac- tualmente, defende-se queo simples comportamento feutif pode fundar o dever de indemnizas, Neste sentido, pode verse VincenT/ Guncxano, Procédure Cie city p. 14 ©)Cir, por exemplo, Zaracoza Canros, “La ejecucién ‘en la nueva ley de enjaiciamiento civil, Bole de Iyforma- ion, n.* 1895, 2001, pp. 2019 e segs. 16 So, fndomentoeimies Finalmente, na Alemanha, a Zivilprozess- ordnung nao reconhece igualmente autonomia a responsabilidade processual do exequente. Anorma mais proxima deste tipo de casos cor responde, alids, a0 disposto no § 945 da ZPO, 0 qual estatui o dever de indemnizar em virtude de danos emergentes da apreensao de bens, se 6 requerimento de arresto for infundado ou se a medida vier a ser levantada, por caducidade, a0 abrigo do § 926 (2) e do § 942 (3) da ZPO (*) A falta de fundamento do arresio (ou de outra medida cautelar) pode ficar a dever-sea diversas circunstancias, nomeadamente a falta de direi- to do requerente, de pressupostos processuais ou de prova, o que tera implicagSes sanciona- t6rias (*). A doutrina alema alude a um principio de objectivagio da responsabilidade em apreco, que aaproxima de uma responsabilidade pelo risco (Risikohaftung), atendendo ao respectivo funda- mento, 0 qual de resto, préximo da incerteza getada pelo procedimento cautelar, desacom- panhado de uma deciséo final exequivel () Jé no caso de nao ser decretado o arresto (porque, por exemplo, 0 devedor depositou a prestagio litigiosa) e de a acgéo principal vir a ser julgada favordvel ao devedor, 0 requerente (credor) nao responderd nos termos do aludido preceito da Zivilprozessordnung, mas, quando muito, caso tenha agido de forma ilicita e culposa, nos ter- mos gerais da responsabilidade civil aquiliana (§ 823 do BGB) (”). 3.3, O art. 96.° do Codice di Procedura Civile No direito italiano, 0 art. 96.° do Codice di Procedura Civile ocupa-se da responsabilidade ©) fe, por exemplo, Rosewarnc/Gaut/Scaxen, Zunngswollstrecungsreclt, 11 ed, C. H. Beck, Miinchen, 1997, pp. 1056 segs. (©) Hens, Minchener Kommentar zur Ziilprozss- ondtuang,2*ec..C. H. Beck, Miinchen, 2001, vol. I, $945, 4 seas (@) Honas, Mitnchener Kemuenay, et, § 945, 2. ©) Hanze, Micachener Kommentar, eit, § 945, 6 processual (%). Segundo 0 n.° 1 deste artigo, a regra geral & a de que s6 ha dever de inde- mnizar sea parte que pratica o facto lesivo tiver agido com dolo ou culpa grave. O n.° 2 prevé as situagdes de danos ocortidos em sede de pro- vidéncias cautelares, de aco executiva ou de procedimentos especiais. Os elementos de que, neste iiltimo caso, depende a concretizacao da responsabiliti aggravata so dois: um de indole ob- jectiva, correspondente a inexisténcia do direito que funda a execugao; outro de cariz.subjectivo, que € a culpa leve do exequente (*). A culpa le- ve identifica-se com situagdes em que o sujeito agiu sem a prudéncia normal (*). A doutrina italiana tem dedicado especial atengio a esta responsabilidade e as suas implica- es. De entre os respectivos contributos, avulta a assimilagdo da falta de prudéncia normal aos casos de negligéncia leve (*) e & inobservancia dos deveres de lealdade e de probidade, men- cionados no art. 88.° do Codice di Procedura Civile. £ discutida a relagdo entre a responsabilida- de com dolo ou culpa grave e a responsabilida- de fundada na falta de prudéncia normal, bem como 0 ambito das expresses sancionatorias vertidas no art. 96.° do Codice di Procedura Civi- (C9) Reza assim oaludido art. 96.° do Cadice di Procedure Civile: (1) Se risulta che la parte soccombente ha agite © resistto in giudizio con mala fede colpa grave i giudice, su istaica dellaltra parte, la condanna, oltre che alle spe- 50 al rsarcimento dei danni, che liquide, anche a ullicio, nella sontenza. (2) Il giudice che accorta Minesistonza del dliritto per cul stato eseguito un provvedimento cautela- 1, otrascrtta domanda gludiziale,oisrita ipoteca gi Zale, oppure iniziata 0 compiuta ’ esecusione forzata, et ‘stanza della parte danneggiata condanna al risarcimento ei danni T'atiore o il cxeditore procedente, che ha agito senza la normale prudenza. La liquidezione det danni 2 fatta 2 norma del comma precedente” (9) Rese, “Concorso di norme ¢ concorso di azioni znella responsabilit per spese e danni nel processo civile", RTDPC, 41, m2, 1987, p. 368 © Sarra/ Puna, Ditto Processuale Civile, Cedam, Pa ova, 1992, p. 130, (©) Cir, por exemplo, Sarta/Punay, Dirtto Procesuale Cite, ct, p. 112 wv DemoFanson® 19 + Abul ano 2005 le @). A segunda parte do art. 96.°, referente & responsabilidade em sede de esecuzione forzata, tem sido qualificada como uma norma de cariz excepcional (*). Esta excepcionalidade tem sido essencialmente reconduzida a circunstancia de, em sede de acco executiva (e de procedimentos cautelares), a responsabilidade processual pres- indir do requisito da culpa grave, bastando-se com a mera negligéncia ). 4, A responsabilidad civil do exequente no ordenamento juridico portugués: 0 novo art, 819.° Depois do breve exame de direito compara- do, passamos a analisar as solugdes proprias do ordenamento juridico portugués. A variedade das situagbes em que o Direito concita um jutzo de reprovagao ética no ambito de um processoé conhecida, desde hé muito, da doutrine portu- guesa. Casto Menbes distingue a acgao leviana a acgao temeréia: na primeira, o autor deman- da sem razio, de boa fé, mas com culpa; na se- gunda, demanda sem razao e de ma fé (*), Antes da Reforma da Accio Executiva, se a execugio findasse por uma causa distinta da satisfagao da pretensao exequenda ~ designa- damente, por procedéncia dos embargos de executado, com base na extingao da obrigagao =, 0 exequente podia ser responsavel como li- tigante de ma f6, se tivesse agido com dolo ou negligéncia grave (acco temeraria) (). Ora, a Reforma veio considerar a responsabilidade por acgbes levianas: o art. 819.° integra uma norma 9 Chr. Rit, "Concorso di norme”, cit, pp. 372 € segs G. Monre.sone, Drito Procssuale izle, Cedam, Pa- ova, 2000, p 167 ©) Mowretsone,DirittoProcessualeCivil cit pp. 167-168 () Monretsowe, Drito Processule Cl, et, pp. 167- 168, €) Caso MeNoas, Dire Processual Civil, vol. I AAFDL, Lisboa, 1987, pp. 240-241 (09) Texeia oe Sousa, Aepto Executive Singular, Lex, Lio boa, 1998, p. 416, Arasponesilidae do exaquerte na nos apo axeatvs: snide, undamento eines sobre a responsabilidad do exequente pelos da- nos culposamente causados ao executado, ndo citado previamente, quando a execugao venha, através do julgamento da oposigio, a revelar- -se ilegal ©). 4.1. Acedo executiva, diveito de acgio e garantias do executado Asituagio juridica do credor integra o direito a execugéo da sua garantia patrimonial, isto é,0 direito de requerer a penhora, para conseguir 0 valor necessério’& satisfagdo do seu crédito. A tu- tela da efectividade da acco executiva eo prin- cfpio do favorecimento do credor inspiraram as recentes orientagées legislativas. Emergente num cenario de crise, a Reforma da Acco Exe- cutiva acolheu, quanto a este aspecto, solugies inovadoras e que tém merecido o olhar eritico de certa doutrina (*). ‘Uma destas novidades consiste na regra que dispensa a intervencdo do juiz.na fase inicial da aco, mediante dispensa de despacho liminar {modelo desjudicializado) (*). Alids, hoje, em re- gra, a falta de despacho liminar coincide com os, casos de falta de citagao prévia (art. 812°-B, n° 1) (), do que resulta um outro desvio ao mo- (7) Costa e Suva, A Reforma da Acgio Executive, 32 ed., Coimbra Bditora, 2003, p. 75. (©) Sobre ae principals orientagbes da Reforma, pode ver- se Tene ve Sous, “Aspecios gers", cit, pp. Se segs, do mesmo autos, A Reforma de Acato Exscutiog, cit, pp- 13°36. (©) Nae hs lugar a despacho Himinar nos casos previs- tos no n 1 do art. 812A, maxime, execugses baseadas fem decisio judicial ou arbitral, e ainda nos casos do art 812°, n° 7. Sobre a dispensa de despacho liminay, pode ‘verse TrnxRa Dé Sousa, A Reforma da Accfo Execution, cit, pp. 109-111; Costa eSiuva, A Reforma da Acco Executia, cit, p.35 esegs.R. Privo, A Aoplo Execution depois da Reforma, Ler, Lishos, 2004, pp. 67-71 (©) Sobre a dispensa de citagdo prévia vide Tantsea Ds Sovsa, A Reforma da Acgio Executoa cit, pp.20€ 115; Costa Suva, A Reforma da Acpto Executiva cit, pp. 66 e segs, R. Peto, A Acco Execution depois da Reforma, cit, pp. 67-71 Sobre a compressso do principio do contraditrio na acco executiva ea sua compatiblidade com as garantias de um. processo justo, vide Taz,“ giusto processo di esecuzio- ne", RDP, 57, 2002, n* 18 delo tradicional do processo executivo, baseado na citagio do executado préviaa penhora (regra da inversdo do contencioso). O direito do credor & execugiio nao é, consa- bidamente, ilimitado: assenta em condigées da acgdo executiva, que sao os pressupostos pro- cessuais e as condicdes de exequibilidade da pretensio (#). Ora, pode suceder que o credor disponha de um titulo executivo ~ até mesmo de um titulo judicial -e que nao se preencham incasu as condigoes de exequibilidade intrinseca da sua pretensio. £ certo que o titulo executive 60 documento constitutive ou certificativo de obrigagées, a que a lei reconhece a eficécia de servir de base ao processo executivo (#), mas nem sempre a realidade do mesmo acompanha- réa realidade de facto, de modo a permitir reco- nhecer a0 credor exequente o direito que este se arroga. A susceplibilidade de execucao, quando referida a obrigagzo exequenda, reclama desta determinadas caracteristicas, nomeadamente existéncia, certeza, exigibilidade e liquide. (*). Estas qualidades carecem, também, de concreti- zac, sob pena de claudicar o direito do credor exequente. As solugdes provenientes da Reforma da Acco Executiva visaram propiciar uma inten- sificagdo do direito de acgdo, 0 que favoreceu, (°) A exequibilidade da pretensdo pode ser intrinseca ‘ou extrinscea. A primeira refere-se A obrigagio exequenda (as suas caractersticas materiis; a segunda é atribuida pela incorporagio da pretensio num titulo executive: ef. TTenina ve Sousa, Estudos sobre 0 novo processa civil, Lex, Lisboa, 1997, pp. 607-610, Acgo Executiva Singular, cit, pp. Be segs, e,em especial, A Reforma da Aco Execution cit, pp. 69 e segs (2)M. be Anpaabs, Nogies Elementares de Process Civil, Coimbra Editora, Coimbra, 1973, p. 58 (©) Sobre alguns aspectos relacionados com as condi= ‘besa acgio executiva depois da Reforma, Lores 00 REGO, ""Requisitos da obrigagio exequenda”, Themis, n° 7, ano 1, 2003, pp. 67 segs, Tena De Sousa, A Reforma da AC- lo Execution, cit, pp. 69 e segs; Leste ve Fests, A Aco Exzcutiva (depois da Reforma), Coimbra Ealtora, Coimbra, 2008, pp. 81 e segs; R.Prsto, A Acgto Execution depois da Reforma, ct, pp. 40-1, em certa medida, 0 risco inerente & propositu-" ra da acgao executiva. Nao obstante, o legisla- dor nao foi indiferente ao facto de 0 executado, num modelo de “desjudicializagao” e de “in- verso do contencioso", se achar numa posigao de alguma vuinerabilidade. Tanto assim é que © muni de instrumentos de reacgao perante agtessbes ilfcitas contra 0 seu patriménio (#). 6 neste ambito que surge enquadrado o novo art. 819.°, 0 qual veio dar cobertura a0 ressarcimen- to de danos que, antes da Reforma, no seriam indemnizéveis. 4.2, Condigbes de responsabitizagto do exequente A obrigacio de indemnizar a cargo do exe- quente prevista no art. 819.° depende generi- ‘camente do preenchimento de duas ordens de exigéncias: requisitos processuais (a procedén- cia da oposig&o & execucfo e a inexisténcia de citagao prévia do executado); e condicées ma- teriais (maxime, a falta de prudéncia normal do exequente). 4.2.1. Requisitos processuais Em regra, a falta de despacho liminar coin- cide com os casos de falta de citacao prévia do executado (art, 812,°-B,n."1). Além dassituagées de dispensa legal (arts. 812°-A, n.° 1, e 812.°. n° 1), cexecutado no é citado antes da realiza- ‘Goda penhora quando tribunal o determine, a pedido do exequente (art. 812.°-B, no" 2a). O fundamento da responsabilizacdoex viart 819. assenta, parcialmente, na circunstncia de terem sido praticados actos de agressao sobre bens do executado, sem que este disso tenha sido avisado, jé que a citagao do executado foi dife- Fida para um momento posterior ao da realiza- fo da penhora. Esta circunstancia justifica uma extensdo da "zona de protecgo” do executado, (9 Sobre os meios de tutela e garantias do exeestada fem geral, vide, por todos, Costa & Suva, “As Garantias do Executado”, Themis, n.°7, ano IV, 2003, pp. 199 ¢ segs. Tar is, “Il giusto processo di esecuzione”, ct, pp. 329 e segs. 19 Dinara Pameon 10 + Absi/unbo 2008 reconhecenco-Ihe a possibilidade de ser ressar~ cido dos danos que Ihe tenham sido infligidos pela penhora indevica dos seus bens. Além da falta de citacéo prévia, exige-se que 2 oposigio deduzida pelo executado tenha si- do julgada procedente. Tradicionalmente, a lei previa duas formas de oposigdo do executado: © agravo do despacho de citacao e os embar- gos de executado (**). Na nova acgio executiva, ‘mantém-se, no essencial, enquanto fundamentos da oposicao do executado, as razdes que ante- riormente correspondiam aos fundamentos dos embargos (“). A oposicao a execugao consagrada pela Reforma da Accio Executiva difere, contu- do, dos anteriores embargos no que respeita 20s, respectivos efeitos e tramitacéo. Independentemente das criticas que s¢ pos- sam assacar & norma do art. 819.%, a verdade que a mesma constitui um modo justo e eficaz de protecgio do executado. Parece-nos légico que se contemple a situagao do exequente que beneficia de uma penhora sem prévia citacdo do executado, na medida este mesmo sujeito estaré aqui mais exposto a lesdes patrimoniais (*) Certa orientagéo, baseando-se no facto de a falta de citagdo prévia se poder traduzir num facto processual alheio vontade do exequente, entende que o regime jurfdico constante do art. 819.° penaliza esse sujeito processual por uma opeio legislativa de reordenagao da marcha da acedo executiva, em termos tais que o intérprete deveria confinar-se a uma exegese restritiva da (©) Auserro 00s Rass, Process de Execugéo, vo. I, Coim= ‘bra Bditora, Coimbra, 1985 (eimpressio), pp. 12 € segs. (4) Sobre a oposigio & execuio, pode ver-se Texsiaa peSousn, A Reforma da Acgto Execution, lt, pp. 98-104; Cos- tae Sv, A Reforma da Acpio Executva, cit, pp. 69-72: R. Posto, A Aopto Execution depois da Reforma, cit, pp. 74-76 (©) Compreende-se a restrict do legislador aos casos em que no hi citagio prévia, Na verdade, nestas crcuns- Lincias no serd possivel recorter A méxima segundo a qual a melhor vacina contra 0 virus da fraude é 0 contra- dit6tio, Ja que 0 executado 86 ¢ citado depois de agredido © seu patriménio. Neste sentido, Texeta 0€ Sous, “As- pectos gerais, cit, pp. 6-17 ‘A responsabildade do exequente na nova aco exec et, fundamen ines norma, O que equivaleria, segundo compreen- demos, a restringit os casos de responsabilidade do exequente as situagdes em que ha dispensa judicial de citacéo prévia, apés requerimento do exequente nesse sentido (*). De acordo com este ponto de vista, a obrigagao de indemnizar dependeria de o exequente provocar culposa- mente danos ao executado se, tendo impedido a intervencao desta parte na execugio em mo- mento anterior & penhora, ele vier a executar uma pretensio que sabe ou que nao pode igno- rar que no tem fundamento. Aculpaeailicitude do exequente correspon dem ao facto de este ter adoptado uma conduta lesiva da esfera jurfdica alheia, em termos con- trérios ao Direito. Parece-nos, pois, que a sua responsabilizagaio nao pode depender de ele ter ou nao suscitado a intervencdo do juiz. Na verdade,a restriggo da responsabilidade do exe- quente aos casos em que este tenha contribuido para a falta de citagio prévia do executado é ‘uma interpretagdo que a lei néo comporta. Para delimitar zonas de responsabilizagao e zonas de isengdo, ndo parece fazer sentido distinguir consoante a causa de falta de citagao prévia do executado seja um requerimento do exequente ou uma norma legal que automaticamente cria esse efeito, Coisa diversa ¢ parametrizar o ambi toda responsabilidade do exequente em fungao da condigao processual objectiva de o executado nfo ter sido previamente citado e, depois, discer- nir diferentes graus de culpa do exequente, Nestes termos, discordamos da doutrina que estreita os casos de responsabilidade do exequente as situagdes em que ha dispensa ju- dicial de citaco prévia, apés requerimento do (©) # a ovientacio sufragada por Costa © SvA, A Re- Jorma da Acpto Executiv, cit, p.76. Segundo esta autora, 0 sistema s6 seria aceitével sea lei previsse a possibilidade de o exequente obter, através da formulagdo de pedido, 0 proferimento de despacho liminar, apesar de a lei o decia- rar dispensado (idem, p. 76), 20 exequente nesse sentido (®). Aderimos, antes, 8 construgo oposta, segundo a qual a inexis- tencia do despacho liminar nao deve excluir a responsabilidade do exequente, mas antes aumentar 0 grau de diligéncia que é exigivel a esta parte (9), Em suma, cremos razodvel a ponderagéo legislativa: 0 exequente que beneficia de con- digdes favordveis para execucao do seu crédito deve poder ser responsabilizado se, mau grado © auxilio do favor creditoris, nao tiver usado da prudéncia que Ihe é exigida. 4.2.2, Requisitos materiais Aconcretizagio do dever de indemnizar exi- ge a verificagao de um conjunto de pressupos- tos, nomeadamente, facto lesivo, ilicitude, culpa nexo de causalidade. Estas condigdes expri- mem-se com singularidade quando reveladas no seio de um processo, pelo que nao podemos deixar de sublinhar, a este respeito, elgumas circunsténcias Quanto ao facto lesivo, € de salientar que, mesmo quando o exequente requer a dispen- sa de citagéo prévia, a lesto da esfera juridica patrimonial do executado é materializada pela agressdo da penhora (*). A ocorréncia do dito re- (°) Che. Costa s Sin, A Reforma da Acgéo Exscutiva, ct, P76. (9) Teoma ve Sousa, A Reform da Acgéo Execution, ct, 31, dofondendo a insusceptibilidade dea dispensa legal de citacio prévia isentar 0 exequente da responsabilida- de estabelecida no art. 819°, Segundo Leone pe Faarmas © Rretino Manos, a norma em apraco aplica-se @ quaisquer situagies em que tenia havide clispensa de despacho Ii- mina, seja qual fo a sua natureza, e nfo apenas naquelas em que a citagko prévia & concedida por dispensa judicial, apés requerimento do exequente: Less os Frrras/ Risto Manoes, Céilgo de Processo Ciil Anotado, vo. MH, Coimbra Bditore, Coimbra, p. 231 (©) Discordamos da orientagéo que, reconduzindo 0 acto danoso & penhora, onelui que, no sendo o exequen- teo “agente” da penhora, no podia ser responsabilizado: reste sentido, Costa e Sta, A Reforma da Acrio Executing, Cit, p- 75. AS consideragies em torno do facto lesivo e do nexo de causalidade nZo podem alhearse da ciecunstén- querimento pode ser, quando muito, observada como um factor de agravamento da culpa (*) Relativamente a ilicitude, se é certo que 0 dover de indemnizar a que alude o art. 819.° 56 existe porque alguém actuou em termos contré- ios ao Direito, parece-nos que esta contrarie- dade se entrelaca, na légica do art. 819.°, com © juizo de culpa, Nesta disposigéo normativa parece, assim, estar em causa um certo sentido de violagdo descuidada da norma legal. Adiante retomaremos este ponto. A doutrina portuguesa tem feito correspon- der os casos em que o exequente nao agiu coma prucléncia normal as situagdes em que esta parte requer, sem a prudéncia exigivel, uma execugao inadmissivel ou infundada (®). Nestes termos, a imprudencia é reconduzida ao comportamento leviano ou adoptado com negligéncia leve (*). Ainda que noutro ambito, ajurisprudéncia por- tuguesa também tem assimilado a falta de pru- déncia normal aos casos de negligéncia leve. Afigura-se necessério, na apreciagéo concreta da prudéncia normal, destringar as hipéteses de pretensio infundada stricio serisu dos casos em quea mesma é materialmente fundada, mas falta um pressuposto processual, especialmente um pressuposto alheio as partes ou ao objecto do proceso, (Odano indemnizavel 6 0 prejuizo que emer- ge para o executado do facto de ter sido instau- rada a acg4o executtiva, logo, de lhe terem sido cia deestarmos perante uma relagio processual triangular CCremos, contude, que as observagéee criticas da autora podem servir de suporte para a indagacio da responsabi- lizagdo do agente de execu. () Dagui resulta, natutalmente, que, sendo a execu fo infundada e tendo o exaquente requeride a dispensa de citagdo prévia, ndo haveré Utigancin temerdeia, mas sim, provavelmente, doloelitigdncin de ma f (®) Teneima DE Sousa, A Reforma da Aglo Executive, elt, p30. (*) Tencma pe Sousa entence que, no fundo, a response bilidade do exequente provsta no art. $19. via eobrt as hi- pétesesdelitigancia temeracia que nfosio sancionadasppelo regime da mé f€ processual (“Aspectos gerais’ cit, p. 1) 21 Diseno Pano i? 10+ Absl/fanho 2005 penhorados bens. Ser, pois, um dano patri- ‘monial emergente da privagao do uso de uma coisa ou do desfrute da titularidace de um bem, decorrente da sua apreensio em sede de acco executiva. Antes de finalizarmos esta materia, saliente- se que parece correcto situar a aferigao dos re- quisitos (materiais) do dever de indemnizar a data da propositura da accao. E, alias, esta asolu- ‘eho preconizada pela jurisprucéncia portuguesa em sede de providéncias cautelares (), 42.3, Tentatioa de densifiagto da falta de pru- déncia normal do exequente Um aspecto que nos parece importante é 0 da‘especial natureza do juizo de culpa televante para a responsabilizagao do exequente. A culpa de que aqui se trata ¢ proxima da faute francesa, unificando ilicitude e culpa propriamente di- ta (°) e significando a omissao da observancia de uma determinada diligéncia. Quem pratica certa conduta sem a prudéncia normal, isto 6, com faute, deve ser obrigado a indemnizar () Allei nao nos diz, contudo, qual a bitola desta ©) também esta a solugio defendda pela doutzina alema em relagio ao § 945 da ZPO: Hence, Mitnckene Koreta, it, § 945,21. ©) 0 Cadigo Civil napolednico velo consagrar uma téusulageralderesponsabilidade alicercada sobre aidein de fate, Ea seguinte a redacgio do art 382° do Cade Ci ts “tout fait queleonque de Yhomme qui cauoe & aut um dommage oblige cei para fats duquel et arivé a le répazer, Sobre a fut, Mavzss Coroeo, Da Response bilidede Ciel do Advisors dos Societies Comerciis, Le, Lisboa, 1997, pp. 469-470, e Da boa fn direc, cit, nota %,p. 68%; Mazes LsTA0, Dna das Obras, vol. {37 ed, Almedina, Coimbra, 200, p. 351; Casco a Feo, Teva de ConfengaeResponsaiidade Ci, Alme- ina, Cobra, 2004, nots 282, pp 301 segs ©) A.mé f& process édintinta da fete, muito em- bora, segundo certadoutring, com ela partihe certos ele rmontos: asim, Mazes Conte, De bun fo dite i vil cit, pp. 382-38, e reerindowse 8 mé fem gera, pp. 1226-1227, Sobre a evolugéo histérica da faxite, Gazzanica, “Notes ur hisoite dela faut", Rerue Panis de Théorie Juritiqe, m5, 1987, pp.17 esegs A cesponssbiliade do exequente na nova sto exeutva sentido, undamentoe Hotes prudéncia normal, cabendo ao intérprete a sua compreensao. O processo assenta, como a melhor doutrina desde hé muito reconhece, numa relagao jurf- dica (*). Ora, no ambito desta relacdo avultam, determinados énus e deveres a cargo das par- tes (®), Em sede de acco executiva, normalmen- te alheia a actividades de discussao da causa e de julgamento, estes deveres assumem uma fei- ao singular). No ordenamento juridico portugués, a pru- déncia normal resulta do eminem Iaedere e dos deveres gerais do tréfego que incumbem aos sujeitos no seu relacionamento (#). E, porém, curioso notar que, 20 contrario do que sucede na responsabilidade civil aquiliana, na respon- sabilidade processual civil existe um particular envolvimento entre individuos, apesar de nao ser legitimo aludira deveres especificos de pro- tecgio, emergentes da regra-da boa fé. Na ver- dade, em proceso, 0 didlogo possui contornos substancialmente diferentes daqueles quese ve- rificam em outros relacionamentos sociais (®).A responsabilidade processual representa, assim, uma espécie de responsabilidade intermédia, ‘ais intensa que a fungio meramente delitual emenos rigorosa que a imputagao obrigacional. Em qualquer caso, a autonomia do direito processual civil dispensa tentativas exagera- das de reconducao da responsabilidade em processo ao(s) universo(s) da responsabilidade () Neste sentido, pode ver-se, por exemplo, M. ps Avoraoa, Nogbes Elementare de Processo Civil, cit p. 12; CCastno Menoes, O direto de agéo judicial (estudo de proceeso iui), Lisboa, 1989, p. SL. (@) Sobre adistingao entre 0s Gnus eos deveres n0 pro= cesco civil cfr Lane, “Obblighi eoneri nel praceaso civile”, RDP, 9, 19541, pp. 151 € 157-158, (9) Canneuurny Sistema di Ditto Processuale Civte, Ce- dam, Padova, 1936, pp. 882-883, (8) Sobre os deveres gersis do teéfego, Cawano px Feapa, Tore da Confiang, cit, pp. 251 €sogs. (2) Sobre 0s deveres de prolecgio, Cartoon Fave, Contato Devers de Protecgto, Coitnbra, 1994, pp. 143 e ses, 2 civil. O dever de cuidado a cargo do exequente € préximo da prudéncia exigida ao requerente de uma providencia cautelar (*). As situacbes abrangidas pela norma do art. 390.° corres- pondem a condutas processuais do requerente ‘que, prevalecendo-se do cardcter urgente e da sumétia cognigao do procedimento, ndo tenha procurado informar-se, com 0 cuidado de uma pessoa normamente diligente, da efectiva exis- tencia do seu direito substantivo, Estamos pe- rante um tipo de responsabilidade subjectiva para o qual 6 suficiente, em regra, a negligéncia do requerente. Esta proximidade material justifica que, em determinadas situagdes, nos socorramos do re- gime jurfdico previsto para a responsabilidade do requerente de uma providencia cautelar para acudirmos a problemas similares atinentes 20 ‘exequente, Nao obstante, convém ndo esquecer, nesta equiparacio de solugdes, que, enquantoo ‘exequente tem um titulo executivo e pode fazer uso dele, o requerente se encontra numa situa- ‘do de necessidade urgente de acautelar certa Posigao juridica, mas no conta com o factor de reforgo da confianga no exercicio da sua preten- do de que o exequente dispoe através do titulo executive. Bainda de referir que o dever de cuidado do exequente nao ¢ inteiramente comparavel a0 dever de litigancia de boa f6. O principio da co- operacao (*) assenta, quanto as partes, no dever de litigancia de boa Fé, deste decorrendo certas obrigagées, entre as quais se destacam o dever (Tene De Sousa, A Reforma de Acgto Exeeutva, ct, ‘p-30; Lenns ne Fearas/Rrwsmno Miss, Cédigo de Proesso ‘Civil Anotado, cit, pp. 330-331. Jéo fundamento do critério rio serd identico, dado que nas providéncias cautelares @ esponsabilidade do requerente figura como uma contra: partida da provisoriedade da medida judicial e 6 garanti- da peta caugéo que o tribunal, mesmo sem solicitacio do requerido, lhe pode exigir: Tenema de Sousa, Estas sobre 0 novo proceso cio, p. 258 (+) Texcma ve Sousa, Estudos sobre o novo proceso coil, cit, p82, delealdade eo dever de verdade (*). Estes foram tradicionalmente concebidos em comrespondén- cia estteita com o principio da boa fé processual em sede de processo civil dectarativo. De tal mo- do que a exigéncia de lealdade ou a obrigagao de dizer a verdade nao alcangam a mesma projec- go em sede de acco executiva. Nesta, trata-se do exercicio de uma pretensio, com base num titulo e realizado num proceso em larga medida desjurisdicionalizado, endo da discusséo de um direito, Assim, a regra de conduta da prudéncia normal do exequente h4-de significar menos do que o padrao exigivel ao requerente de uma providencia cautelar, nao sendo explicavel pela simples logica dos deveres de boa fé em sede de processo civil de declaracio. A falta de prudéncia normal na acgio exe- cutiva verifica-se sempre que o exequente in- tenta uma acco executiva conhecendo ou néo podendo desconhecer a insusceptibilidade de exercicio da pretensdo exequenda, por Ihe fal- tar alguma das condigdes, maxime intrinsecas, exigidas por lei Outro elemento a sublinhar reporta-se & in- tensidade da censura no ambito do proceso executivo. O jutzo de reprovagéo que 0 com- portamento do exequente merece terd de ser apreciado casuisticamente, Algumas circuns- tancias poderdo influenciar esta apreciacao. (©) 0 dever de dizer a verdade tem sido muito debati- do na doutrina, opondo-se as teses negativisias e a8 teses que o acolhem e que dele extraem cansequéncias: assim, Lus0 Soares, A responsabilidede processual ci, et, p. 168. Cerios ordenamentos jusidices reconhecem expressamen- te este dever de verecidade, como 6 0 caso do alemio (§ 188 da ZPO}: efx. Rosexwenc/Scawas /Gorrwaip, Ziti prozessrecht, 162 ed, C.F, Beck, Miinchen, 2008, pp. 10-1 Lent, “Obblighi e oneri nel processo", cit, p. 152, 0 Co- ice di Procedura Civite contempla expressamente © dever de lealdade e de probldade no processo (art. 88°). Sobre as concretizagdes histricas dos deveres de lealdade e de dizer a verdade no ordenamento juridico portugués Cunha, Simulagdo processunle anlage do cata julgao, cit, pp. 32 e segs, Luno Soares, A responsobildade processual c= vil, it, pp. 167-173 iso Paragon 10 + Abul 2005 Uma delas ¢ a espécie de titulo executivo (*) Se 0 tftulo executivo for uma decisao judicial ou arbitral ou um requerimento de injungio (art, 812.°-A, n.° 1, alineas a) eb), a seguranca que deles advém dé ao exequente uma especial justificagdo para o seu comportamento, a qual néo se verifica, por exemplo, na execucao de um contrato (*). Isto é, o dever de cuidado é menos forte no caso de uma execugao com base numa sentenga e especialmente intenso nas hipéteses de execugao fundada em titulo extrajudicial Esta diversidade repercute-se, alids, no regime do art, 819.5, dado que a restricéo do ambito do preceito operada pela imposicéo de requisitos rocessuais (maxime, o da falta de citagao pré- via do executado) redunda numa limitacéo dos casos de responsabilidade pela lide temerdria em fungao do titulo executive. 4.3, Dedugto do pedido indemmizatério A deducao do pedido indemnizatério & possivel na oposigéo & execugéo movida pelo executado ou em acgio de responsabilidade auténoma, Face 20 ordenamento jurfdico portu- gués, nao vislumbramos razdes para restringir © conhecimento desse pedido ao juiz da acgao executiva (*). (0) Neste sentido, R.Pivto, A Acpfo Execution depos da Reforma, ci, p. 77. Segundo Costa 5 Suva, os casos mais complexos de esponsabilizagao do exequente so aqueles fem que este intenta uma acgio executiva baseada numa sentenga deciarativa condenatéria e, portanto, de boa f6, pois que esté convencide de um direito que the foi judi- almente reconhecico € que agora pretende exeeutar, Neste caso, mesmo que a execucéo fosse injusta, s€-lo-ia, também, a responsabilizagio do exequente (A Reforma da Agi Executiog, cit, p. 76) (VR. Posto, A Acgio Execution depois da Reforma, cit, p77. (9) Bim sede de litigancia de ma fe, certajurispradéncia tem entendido que o pedido s6 pode ser deduzido na 2e- ‘lo em que a mé fé se coneretiza, mas, mesmo neste céso, Ao nos parece legitima esta limitaglo. Sobre este aspecto, ci. Leste of Frarzas/Montaiva0 Mactabo/R, Posto, Cit _g0 de Proceso Civil Anotado, vo. I, city p. 197 -Arespansblldade do exequente na nove ajo exculv: sentido, fundamen nies Nos termos do art. 817.2, n.°4, a procedéncia da oposicao a execugao extingue a instancia, no todo ou em parte. A producio imediata de efei- tos extintivos significa que o devedor executado pode propor, desde esse momento, uma acgio de sesponsabilidade civil contra 0 exequente, nos termos do art. 819.° (#). Todavia, esta constata- do nao traduz uma dependéncia do pedido de responsabilizacao civil do exequente em rela- fo & extingao da instancia executiva. A melhor orientagao seré, quanto anés,ade que o pedido indemnizatério pode ser deduzido na prépria oposigao (*) ou em accdo auténoma, uma vez extinta a instancia executiva, 44, Critérios de determinagto da indemmizagao Aconduta ilicita do exequente é sancionada, nos termos do citado art, 819.°, de duxas formas: mediante a imposigao de uma multa e através da imputacéo de um dever de indemnizar. Cada ‘uma destas consequéncias possuia sua finalida- de espectfica: na multa, estd essencialmente em causa a sancéo ou castigo pessoal do exequente; na indemnizagao, 0 ressarcimento ou reparacio patrimonial do executado. A determinacdo do quantum debeatur cor- responde a um exercfcio decompasto em dois, passos: a determinacao do dano indemnizavel ea sua traducao num certo valor pecuniério. Nos termos do art, 564.° do CC, a obrigagao de indemnizar compreende nao $6 © prejuizo cau- sado, como os beneficios que o lesado deixou (@) Assim, R. Prato, A Acgio Executina depos da Reforma, «it, p-76, entendendo ainda queo preceito apenas se deve aplicar procedéncia definitive (9) Assim, 0 executado clove cumular a sua oposigio, conducente 20 efeito de extingéo da instancia executiva, como pedido de indernizagSo a satisfazer pelo exequer- te, pelos prejuzos que lhe causou com a execusio. Segun- do esta orientacso, respeitam-se as normas juridieas rfe- rentes A cumulagéo de pedidos (art. 470. « potencia-se a economia processual-neste sentido, Lents be Pxsrns/ Ri no Meoes, Cédigo de Procsso Civil Anotado, cit, p. 333 m4 de obter em consequéncia da lesto. Dever-se-é atender a esta norma quanto aos danos provo- cados pela accdo executiva indevida? A questao é complexa e passa também pela consideragdo do disposto no art. 457.°. A nor- ma desta disposicao diferencia duas possibili- dades indemnizatérias: uma restrita, limitada as despesas que a mé fé tenha obrigado a parte contréria; e uma mais ampla, que integra, além destes custos, os lucros cessantes em consequén- cia, ditecta ou indirecta, da mé fé. Determinada doutrina fundamenta a opgo entre uma e outra possibilidadena conduta processual do litigante de mé fé, isto 6, aceita pautar a escolha do tipo de indemnizagao pelo carécter do comporta- mento lesivo ("). Em nosso entender, a determinacdo da in- demnizagao devida ao lesado nao deverd ser ofuscada por uma indiscriminada convoca- ‘sho do sentido normativo do art. 457. (”). As ircunsténcias que presidem ao proceso ci declarativo nao corespondem aquelas que in- tercedem na acgao executiva: o propésito dos rocessos ¢ distinto, tal como ¢ diferente a dis- tribuigéo das vantagens ¢ dos riscos a cargo de cada uma das partes. A probabilidade de lesio da esfera patrimonial do executado resultante deuma penhora injusta é elevada, cabendo atri- buir-The meios de reacgdo adequados perante (7) Leone oe Fremas/Moxtavrio Maciano/R. Pesto, Citgo de Processo Civil Annieda, vol. I, et, p. 20. ©) O Supremo Tribunal de Justia tem entendido que «© recurso ao disposto no art. 457. n° 2, nfo se conjuga facilmente com a natureza proviséria¢ instrumental das providencias cautelares (ac. do ST} de 19/10/1999, dis- pponivel em wwwdgsip). Parece-nos que, independente- mente do que se possa concluir acerca da relagio entre @ litgancia de ma fé ea responsabilidade do exequente, seré de aplicara este tltimo institute a norma do art. 457. n° 2, segundo a qual, se no houver elementos para se fixar logo na sentenga a importincia da indemnizacio, serko ‘ouvidas as partes e fxar-se-é depois, com prucente arbf- Icio, © que parecer razodvel, podenda reduzie-se aos justos limites 2s verbas de despesas e de honorétios apresenta- das pela parte, tais situacSes. Logo, em prinefpio, devem ser atendidos tanto os danos emergentes, quanto 08 lucros cessantes, Se € certo que nos casos de conduta impru- dente esté em causa uma culpa leve, a limita do da indemnizagdo as despesas equivaleria a anular a pretensdo de ressarcimento, O dano do executado decorre na privagdo de bens de que é titular, em virtude do cardcter de apre- ensdo material da penhora. Teoricamente, nio se pode deixar de conceber o quaritum debeatur extensivel as duas espécies de prejutzos a que se refere 0 aludido art. 457.°, sem embargo de, in casu, 0 cardcter diminuto da culpa poder in- fiuit na redugéo do montante indernizat6rio. Acqualificagao do comportamento do exequente como negligente traz: consequencias no regime jurtdico, designadamente a possibilidade de fixagdo equitativa de indemnizago em mon- tante inferior aos danos causados, em atengio as circunsténcias do caso, nos termos do art 4942 do CC. 4.5. A responsabilidade do exequente no contexto a responsabilidade civil processual A dispersio de regras jurfdicas relativas & responsabilidade civil processual tem impres- sionado certa doutrina, a qual, baseando-se no cardcter fragmentério do tratamento desta ma- téria no Cédigo de Processo Civil, alude a um contexto de crise deste instituto (), Na nossa opiniéo, a descontinuidade do regime juridico da responsabilidade processual é apenas apa- rente, Diversos factores potenciam a agregacio ea homogeneidade do sancionamento das con- dutas processuais. (©) Assim, Costa e Sta, A Reforma da Acgio Executioa, city p. 75. Note-se, contudo, que esta autora adere a urn pressuposto de especialicade e de autonomia do regime de responsabilidad plasmado no art. 819, resultante da clecunsténcia de o facto danoso ser umn acto que depende

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