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Mecanica dos Fluidos @Leonor Cruzeiro-Hansson, 2004/2005 1 Introdugéo A matéria pode organisar-se em diferentes estados. 'Temos alé agora considerado ‘8 movimentos de pontos materiais e sdlidos vigidos. Os s6lidos tém forma propria porque sao formados de moléculas que interagem entze si por forgas fortes. Muito do que interessa a biologia, ¢ em particular & biologia marinha ¢ pescas, passa-se na gua, um clemento num estado diferente, 0 estado liquido. A parte da Fisica dedicada ao estado Ifquido chama-se Mecénica dos Fluidos Neste capitulo, va- mos descrever como se comportam os fiuidos e os objectos dentro dos fluidos. Os fluidos so formados por moléculas que interagem através de forcas fracas e caracterizam-se por terem ume forma e volume varidveis, Por fluido entende-se tanto 0 estado liquido como o estado gasoso. Uma das grandes diferengas entre os dois € que os gases so fluidos muito mais compressivels que os liquidos. Aqui va- mos tratar essencialmente do estado liquido, o qual, numa primeita aproximacéo vamos considerar incompressivel Os fluidos exercem uma acgéo sobre os recipientes onde esto contidos. Essa acgiio chama-se presséo, p, € define-se como a forga por unidade de area: B a @ Se a forga F tivesse uma componente tangencial as paredes do recipiente, o fluido estazia em movimento, porque os fluidos no opdem resisténcia a0 movimento. Por isso, os fluidos em reponso exercem uma fora normal, que é contrariada pelas paredes dos recipientes ¢ a pressdo é perpendicular em todos os pontos da superficie onde é exercida Pp A unidade da presséo no SI.é 0 1 N /m?, que tem o nome proprio de Pascal (Pa), em honra do cientista francés, Blaise Pascal (1623-1662), cujo Principio iremos estuder Outra unidade da pressio & a atmosfera, que é igual ao peso por unidade de drea de 760 mm de merctirio, igual a 1013 x 105 Pa. Uma outra unidade é o Torr, em homenagem ao fisico italiano Evangelista Torricelli (1608- 1647), que € igual ao peso de 1 mm de Hg. Finslmente, ua outra unidade de presséo é o bar e temos que I bar = 10° Pa, ou seja, 1 atm = 1.013 bar Aplicagao. ‘Uma pessoa em pé distribui o seu peso tipieamente por uma érea de 250 cm? @L Cruscive Hansson, reservados todoe oe disitae Mecanica. dos Fluidos 2 Se essa pessoa tiver uma massa de m = 75 kg, a pressio exercida pela pessoa no chlo é: _F_ mg _ (75kg) x (9.8m/s?) _ : Pa Ra pom 2 x LEP (2) um velor 3.4 vezes menor que 1 atmosfera, & pressdo normal do ar 2 Hidrostatica Quando um objecto est imerso num liquido, a pressio do Kquido sobre o objecto aumenta com a profundidade. Se a pressdo A superficie do liquido for po, a forga exercida por uma coluna de liquido de drea A A profundidade h abaixo da superficie 6: F=pA+mg 3 onde mg & o peso da massa, de Ifquido da coluna. Sendo p = m/V 2 densidade do liquido, a massa, m, dessa coluna 6 m = pV = pAh. Assim, a pressio & profundidade h, p = F/A, é: P= Pot pgh (4) ou seja, depende da densidade do liquido, p, ¢ da profundidade h a que o corpo se encontra. Qualquer ponto do liquido & mesma profundidade h exerce a mesma pressio. Aplicacées. A pressiio do sangue & safda do coracao nos mamiferos, chamada presséo sistélies, tem que ser suficientemente grande para transportar o sangue ao cérebro com pressGo ndo nula em relagio & pressiio ambiente. Assim, a altura correspondente & pressio sistdlica de um animal tem que ser pelo menos igual & distancia na vertical entre o coracéo e o oétebro, Para uma girafa, que é um animal com um pescogo de 3 m, sabendo que a circulaggo do sangue no eérebro precisa de uma, pressdo sanguinea de 60 mmHg (Torx), temos: Pais = 6OmmITg + pgh ) Assumindo que a densidade do sangue 6 igual A da 4gua, ¢ substituindo h pelo comprimento do pescogo da gitata, fica: Ap = pais ~ 60mmHg = pgh = 1x 10°kg/m* x 9.8m/s? x 3m > Ap = 218mmHg (6) ou seja, a presséo sistélica tem que ser superior a 278 Torr (num adulto saiidavel, essa presséo é 120 Torr) * Obs: na realidade, @ densidade do sangue 6 um pouco maior que a da dgua, aqui usada @L Cruzeito-Hansson, reservados todes os deltas Mecénica dos Fluidos 3 Mercury reservoir Figure 1: Manémetro ‘A pressfo sobre um mergulhador que se encontre no mar a 100 m de profun- didade 6 p= pgh, onde p é a densidade do mar. Ou seja: p= (1.025 x 10°kg/m®) x (9 8m/s?) x (100m) = 10.045 x 10°Pa_—— (7) cerca de dez vezes maior que a presséo atmosférica normal. Quem pratica mer- gulho sabe das precaugdes que é preciso tomar por causa de difereneas de pressiio como estas! ‘A pressio mede-se com uns sparelhos chamados manémetros. Um exemplo de um manémotro esté na figura 1 Este mandmetro pode fazer-se da forma seguinte. ‘Tome wm longo tubo de ensaio, encha-o de mereirio e vire-o sobre um tubo largo cheio de meretirio O meretirio dentro do tubo fino vai descer, formando-se vacuo acimna da coluna de mercirio. Do lado de fora do tubo, & superficie, a pressiio € presstio atmosférica, Usando (4), temos também que a presséo num ponto da superficie em contacto com o ar e a pressiio num ponto do merctirio dentro do tubo & mesma altura so iguais, Mas a pressiio dentro do tubo, & mesma altura, é a prossdo exercida pela coluna de merctrio acima desse ponto. Portanto, a pressdo exercida pelo ar é igual & presséo exercida pela coluna de meretizio com @ altura que essa cohine tem dentro do tubo. Normalmente, a press do az, a que se chama uma atmosfera, é 1013 x 10° Pa. Podemos calcular a altura de merotirio que equilibra esta pressiio. O peso da coluna de mexctirio com uma ézea A é: Fam 9 = pm V9 = pu Ahg> p= (8) a @©L Cruzciro-Hensson, reservados todos os direitos: Mecanica dos Fluidos 4 onde py é a densidade do merctirio, ga = 13.6 g/em*. Temos entio que a altura he p__ilatm 1013 x 10° Pa fu a) GSE WP Kelas) X (OBO m/Ry ~~ = "PMD (9) © valor mencionado antes. Na verdade, a pressfio varia com a temperatura outras condigdes atmosféricas, pelo que 8 altura do mereiirio neste mandmetro varia. com 0 tempo h 2.1 O Principio de Pascal O Prinefpio de Pascal, que é uma consequéncia da Eq (4), pode enunciar-se as- sim: num fluido incompresstvel em repouso, a presséo € transmitida igualmente a todos os pontos do fluido Considerando uma superficie qualquer dentro de um fluido, com uma direcgio arbitzéria, conclufmos que a pressio é igual em todas as direegdes, ou seja, transimite-se igualmente em todas as direcgdes. Num certo sis- tema de eixos x,y, 2 concluimos que p. = Py = Ps Qualquer vasiagéo de pressio exercida em qualquer ponto de um fiuido é transmitids igualmente a todos os ponios do fluido O macaco hidrdulico, que é um dispositive que permite levantar grandes pesos com forces de pequena intensidade, constitui uma aplicagio do prinefpio de Pas- cal. Consideremos a figura 2. Quando o Iiquido est em equilibrio, a pressdio dos dois lados é a mesma ¢ a eltura dos liquidos nos dois lados ¢ igual. Suponhamos que exercemos uma forge F; no lado de rea Ay. A presséo resultante, ps, é p= Fif/Ay (10) Do outro lado exerce-se uma forga total F> tal que: Fo = prAg (al) Como a presso p; é transmitida a todos os pontos do liquido, temos: Pa= Pr (22) Ou seja, a forga propagada ao lado 2 é: nant i) a Se a d1ea do lado 2 for 10 vezes maior que a drea do lado 1, exercendo uma forca de 1 N do lado 1 gera-se wma forga de 10 N do outro lado. @b Cruzeiro-Hansson, rservades todos o» direitos Mecénica dos Fluidos 5 Figure 2: Macaco Hidréulico 2.2. O Principio de Arquimedes Consideremos um corpo de forma arbitréria, imerso num fluido Se 0 corpo néo Yai para o fundo, é porque hé uma forca que se opde ao seu peso. Lista forca. a impulsio. Vamos ver qual a sua expresso. Suponhamos que substituimos © volume ocupado por esse corpo por uin volume iguel de fluido As forgas de pressio exercidas sobre esse volume de fluido sio ainda as mesmas que se exerciam sobre 0 corpo. A forga total que se exerce sobre o volume de fluido é Pr=mg-I (a4) onde o primeizo termo é 0 peso do volume do fluido ¢ J é a forga que 0 resto do fiuido exerce sobre o corpo. Como 0 volume de fiuido se encontra em equilibrio, a forge total que actua sobre ele é nula’ Concluimos que a forga I do resto do fiuido sobre esse volume do fluido é: T=mg=eVg (15) onde p é a densidade do fluido Como esta forga é igual & que o fluido exeroe sobre 0 objecto com o mesmo volume deduzimos o Prinespio de Arquimedes (287 AC. - 212 AC.): qualquer corpo, imerso num fluido, recebe uma impulsao, debaizo para cima, igual ao peso do volume de liquido deslocado. Em (15), 1 6 & impulséo. Aplicagdes. Contrariamente as outras substéncias, a égua no estado sdlido é menos densa @©L Cruzeiro-Hansson, reservados todos os direitos: Mecanica dos Fluidos 6 que no estado liquide Por esta razSo o gelo flutua Mas a densidade do gelo 6 apenas um pouco menor que a da gua e por essa razo a maior parte dos icebergs esté submergida (o que causa muitos acidentes, 0 mais famoso dos quais, sendo o naufrégio do Titanic). Vamos caleular a percentagem de um iceberg que se encontra submergida. Seja py a densidade do gelo ¢ p, a densidade da dgua do maz. Se o iceberg esté em equilibrio na Agua o peso é igual & impulsio: P=1> pVg= Vig (26) onde V 60 volume total do iceberg ¢ Vj é a parte do volume que esté imersa De (16) deduzimos que: Yi _ fe a7) Vo pa Sendo a densidade da égua do mar p, = 1025 x 10° kg/m? ¢ a densidade do gelo py = 0917 x 10* kg/m’, a fracgio do volume imerso é: Mi _ 0.917 x 10? ke/m* Vo 1025 x 10° kg/m? Ou seja, 89 % do volume de um iceberg encontra-se debaixo de dgua A paite visivel do iceberg é apenas de 11 % = 0.892 (as) Todos sabemos que a densidade de wm objecto € igual & razdo entre a sua, massa e 0 seu volume. A massa de qualquer objecto é f4cil de determinar usando uma balanga, mas o volume pode ser dificil se 0 objecto tiver uma forma muito irregular Usando o principio de Arquimedes é possfvel determinar a densidade de um objecto sem determinar o volume, Suponhamos que temos um objecto qualquer e que medimos o seu peso, P,, quando imerso nun Iiquido de densidade conhecida, py e quando suspenso no ar, P. Temos que: P-P Pps P-1pjVg=P-RaV= (29) oro Sendo pa densidade do objecto, m ea (20) Arguimedes usou este método para resolver ina questo que Ihe foi posta por Hieron Il, rei de Siracusa Este queria saber qual o grau de pureza do ouro de uma coroa nova, O ouro é um metal que se combina facilmente com 0 cobre € a prata e o rei queria ter a certeza que a sua coroa era essencialmente de ouro Consta que Arquimedes estava no banho quando arranjou uma solugio para 0 problema e que saiu do banho a griter Eureke! (Descobri!) Arquimedes com- parou a densidade da coroa, calculada por aquele método, com a densidade do ©L Ceuzeiro-Hansson, rcervades tedee o¢ disitos Mecanica dos Fluidos 7 ouro determinada pera um pedago de ouro puro Consta que s cotoa continha uma grande parte de prata, eo ourives foi executado! O principio de Arquimedes aplica-se tanto a gases como a Iiquidos e 6 usado nos Zeppelin, que so aparelhos que se elevam por serem mais leves que o at Para isso téin grandes volumes cheios de gases menos densos que 0 ar, como 0 hidtogénio on o hélio. 3 Dinadmica dos fluidos. Equagdo de Bernoulli. ‘Até aqui temos considerado as propriedades dos fluidos estaticos. Vamos agora considerar fluidos em movimento. Vamos resizingir-nos a fluidos incompressiveis. Considerando uma porgio do fiuido, entre duas secgdes 1 € 2, 0 principio da ‘conseryagao da massa diz-nos que se uma masse, com um certo volume entra num certo intervalo de tempo d ¢ do lado 1, entiio uma massa, de volume igual tem de sair pelo lado 2 no mesmo intervalo de tempo Se nfo for assim vai haver uma variagdo da massa sem haver vatiagdo de volume e o fluido no é incompressivel. Sendo A; ¢ 5; a drea ¢ 0 deslocamento do finido do lado 1, ¢ As, $2 a é1ea ¢ 0 deslocamento do fluido do lado 2, temos nao 6 que Ais: = V = Az se como a variagéo de volume de um lado é igual A variagio de volume do outro lado: aArsi) _ d(Ays) 4 dor _ 4 doe ae dE aA Ag dt (21) Sendo 2 € vz a velocidade do fiuido quando entra e sai, respectivamente, temos: Arty = Aatis (22) Quando se caloulam as diferengas de volume numa conduta que se ramifica, (22) transforma-se em: Ne Na DA = Ae (23) ai a Por isso, ao considerar as variagdes de velocidade entre o fuxo de sangue que sai do coragéo pela aorta e os fiuxos de sangue nas artérias, é preciso ter em conta a drea da aorta em comparagéo com @ soma das éroas de todas as artézias. Isto faz que a velocidade do sangue nas artérias mais pequenas seja muito pequena, como convém para que o sangue tenha uma permanéncia no locel suficiente- mente grande de forma a permitir as trocas gasosas ¢ de nutrientes necessérias 3 manutengio das células Uma linha de fluxo é uma linha para a qual a direcgao local do movimento de fluido é sempre tangente Menos rigorosamente trata-se de uma linha que traga a trajectéria num campo de fluxo ao longo da qual as particulas de fluido viajam @L. Cruselto-Hansson, resevador todos 0 diteitoe Mecénica dos Fluidos 8 Yelocy = Figure 3: Equacéo de Bernoulli Na pratica, as linhas de fluxo podem construis-se tomando os vectores velocidade em pontos sucessives do fluxo e suficientemente préximos uns dos outros. Com uma particula luminosa ¢ imagens estrobosedpicas, que mostram uma sequéncis de muitos instantes na mesma fotografia, pode fazei-se a vistalizacéo das linhas de fluxo. Por definigio, qualquer componente da velocidade perpendicular & linha de fluxo tem de ser mula, ou seja, 0 fluido néo corta a linka de fluzo. Isto faz com que seja fécil construir mais linhas de fiuxo a partir de uma linha. jé determinads. Num fluxo bidimensional duas linhes de fluxo constituem uma maneira de dividit 0 fluido em tubos independentes. De acorco com (22), nas secgdes desses tubos onde a area € menor, os fluxos tém maior velocidade, ou seja, a pontos onde as linhas de fluxo se aproximem cortespondem velocidades de fluxo superiores Consideremos a figura 3 ¢ a adigio de uma massa do lado 1 como o resultado da aplieagdo de uma force. desse lado. Essa forga realiza um trabalho sobre a porgio de liquide situada entre as seogdes 1 ¢ 2. Pelo principio de conservagio da. energia (ignoramos forgas dissipativas como a fricg’o) o trabalho total realizado sobre essa porgio do fluido vai ser igual & variagdo da energia total do sistema, ou seja, A soma da variagio da energia cinética com a energia potencial: W = AEp+ AEc (24) Svponhamos que realizamos trabalho empurrando com uma forga F), uma secgio do fnido de érea Ar, deslocando-a de um certa extenséo s:. O trabalho realizado pela forga F, é W; = Fis; e coresponde A deslocagéo de uma massa com um volume V = A131 Considerando outra seogio do fluido, de 4rea Ae, sendo o fuido ©L: Gruzsiro-Hansson, reservados todos os direitos MecAnica dos Fluidos 9 incompresstvel, essa seegdo do fluido faa deslocar o mesmo volume V = Ays. Ou seja, © fluido realiza o trabalho F282. O trabalho realizado sobre a porgio de uido entre as duas secgies é 0 trabalho realizado pela forga / sobre essa, porgéo de fuido menos o trabalho realizado pela porgio de fluido sobre o resto: W = Fysy — Fas. = py Ar81 — PpAase = (1 — Da) (25) Este trabalho ¢ igual & variagdo da energia cinética, Aig e potencial, AEp dessa porgéo do fluido. A variagio da energia potencial ABp = mgAh = mg(ho — ha) = pV g(ha — ha) (26) onde hy ¢ hy so as alturas do fluido nas secgdes 1 e 2. A variagio da energia cinética &: Alo = 5m (of 28) = sev (g-8) (27) onde ¥; € v2 sio as velocidades do fluido nos pontos 1 e 2. Igualando 0 trabalho € vatiagéo total de energia temos: 1 ( — a)V = pV alla — hn) + 5eV (08 - v2) (28) Eliminando V e reorganizando fica: 1 1 Pit pghi + 3p0t = Pa + pghe + peu} (29) Como as secgdes 1 2 so completamente arbitrétias, a equacdo anterior é equi- valonte & conservagao da fungéo p+ pgh-+ 3 pv? em qualquer ponto do fluido: pt pgh+ 5 pu = constanie (30) (30) € conbecida como a equagdo fundamental da hidrodindmica ou equagio de Bernoulli, em honta do fisico Daniel Bernoulli (1700-1782) que a apresentou, em 1788, no seu estudo sobre Hédrodénémica A equaco de Bernoulli podem acrescentar-se outros termos relatives a outras trocas de energia. Por exemplo, o cano por onde o fluido flui pode incluir uma, bomba para aumentar a velocidade do fluido ow a pressio. ‘Também a tempera- tura pode aumenter ou diminuir, por haver trocas ou geragio de calor 3.1 Aplicagdes da equagao de Bernoulli 1. Fluxo a altura, constante Neste caso a equacéo de Bernoulli, eq (29), reduz-se a: 1 He Pit 5eut = pat 5eu (3) @©L Crvacite Hansson, ceservades todes os ditettos Mecanica dos Fluidos 10 ar Pads Figure 4: Diferenca de presso devida a diferentes velocidades Consideremos um caso em que o fix se afinila Como vimos acia, a velocidade de um fluido incompressivel vai aumentar quando a érea da secgio diminui Sendo vp > v1, temos que p1 > Pa, 01 scja, a pressiio de tum fluxo é tanto maior quanto menor for a velocidade desse fluxo. Se nés meditmos a pressiio pelas alturss do liquido como na figura 4, ternos que: Pim P= pod (32) onde d é a diferenca entre as alturas das colunas de liquido 2. Bquagio de Torricelli Seja o tanque da figura 5. Assumimos que as aberturas siio suficientemente pequenas para que se poss considerar que o nivel 2 no varia (ou seja, a velocidade do fluido em 2 é ze10) Qual a velocidade de escape do fuido através das aberturas? Se for ‘Pa = Po a pressio da atmostera, temos que no topo a fungio de Bernoulli se reduz a p+ pg he. Por ouizo lado, & saida das aberturas, a presséo é mais uma vez a pressio atmosférica, a altura é hy € a velocidade do fluxo é vy Pela equacio de Bernoulli temos ento: 1 po+pghn=potpghi+ spot (33) Resolvendo em ordem am, fice: 29 (ha — In) (34) v @L Ciuzee Hansson, reservados todes os ditetes Mecanica dos Fluidos 11 Figure 5: Velocidades de fluxo em varios pontos Vemos que a velocidade que o fluido tem quando sai de orificio & profundi- dade h = hy ~ fy € igual & que uma particula teria quando largada dessa altura, Essa velocidade ¢ igual para todas as aberturas, isto 6, nfo depende da direceao em que 0 Buido se desloca. 3. A forca que sustenta os avides Os avides voam por um mecanismo muito diferente dos Zeppelins. En- quanto os Zeppelins so mais leves que o ar, ou seja, usam o principio de Arquimedes para voat, os avides s80 mais pesados que o ar e, numa primeira aproximagéo, voam segundo a equagio de Bernoulli Considere a figura 6. As linhas de fluxo do ar & volta da asa do avidio mostram que caminho percorrido pela linha de fluxo de ar que vai por cima da asa é mais, Jongo que 0 caminho percortido pela linha de fluxo que vai por baixo da asa. Sendo o fluxo regular, as duas linhas voltam a ser patelelas depois de passar pelas asas (ou sejam ndo se criam zones de densidade diferente pela passage do avidio). Se as particulas de ar que constituem o fluxo chegarem a0 mesmo tempo 80 outro lado é porque as que foram por cima foram a uma velocidade superior As que foram por baixo Pela equagio de Bernoulli a pressdo do ar em cima da asa é inferior & pressfio do ar debaixo da asa Esta diferenca de pressiio gera uma forga vertical, debsixo para cima, que sustenta 0 avidio. Desprezando a diferenga de energia potencial em cima e em baixo da ase temos: ae eee Pot 500 = Pe + 5prE (35) @©L Cruzeito-Hansson, reservados todos os direitos MecAnica dos Fluidos 12 Figure 6: Fluxo ao longo de uma asa de avido. onde py € pe sio & presséo em baixo e em cima da asa, respectivamente, p 6. densidade do ar e ty € vy; s8o a velocidade do fluxo em baixo e em cima daasa. A diferenga de presséo debaixo para cima é: pe pe= gp 18) (36) Se J e J, forem os caminhos percorridos pelos fluxos de ar por baixo e por cima da asa temos: 4 = mt (37) le = ud (38) Como o tempo ¢ é igual deduzimos que: Substituindo em (36) fica: Bo ~ Pe uy (40) Vemos que, em primeira aproximagdo, a diferenga de press%io que sustenta © avido 6 proporcional a0 quadrado da velocidade do avido, ou seja, para poder levantar voo o avido precisa primeiro de adquirir uma certa velocidade minima ©L Cruzshto-Hansson, revervades todos os direitos MecAnica dos Fluidos 13 4 Fluxos laminares ec fluxos turbulentos Até aqui temos ignorado os efeitos da viscosidade. A viscosidade de um fluido pode medit-se da forma seguinte. Considere um fluido em repouso entre duas placas Suponha que uma forga F actua sobre a placa de cima e que esta comega, a deslocar-se. A tendéncia a parte de fluido que esté jumto & placa de cima continuar em repouso em relagdo & placa e portanto deslocar-se com a mesma velocidade que 8 placa. A paxte do fluido que contacta com essa tem uma re- sisténcia & mudanga do estado de repouso e vai deslocar-se com uma, velocidade menor que a velocidade dla placa. B assim sucessivamente, para as outras partes do fluido. Vai portanto eriar-se um gradiente de velocidades na direegao normal i da deslocagao da placa. Se a velocidade da place é pequena, gera-se tm fluxo suave, sem irregularidades ou turbuléncia. A este fluxo chama-se laminar. Como 6 que vatia a forca F com as grandezas do sistema? Quanto maior for a éres da placa, maior é a forga F necessdria para atingir a mesma velocidade v, F' x A. Se aespessura do fluido, d, é pequena, 0 gradiente de velocidade é maior e é preciso uma forca maior para atingit a mesma velocidade, Fo 1/d. Finalmente, quanto maior a forga, maior a velocidade Temos portanto F x vA/d A constante de proporcionalidade é a viscosidade, 7: Faq (41) As dimensbes de n so: 42) No sistema CGS a unidade da viscosidade é o Poise ¢ temos 1 Pas = 10 P = 10° cP. A taxa média de fluxo, ou débito, Q, ao longo de uma conduta de drea A pode escrever-se como: Q=Av (43) onde v é a velocidade média do fluxo na conduta. Num fluido viscoso, a tendéncia para o fluxo junto as paredes ter a veloci- dade da parede manifesia-se quer & patede esteja em movimento ou em repouso Quando se tem a situagdo inversa A descrita acima, em que um fluido laminar se desloca dentro de uma condute, hé ainda un gradiente de velocidade mas desta vez, em direcg&o inverse: junto as paredes a velocidade é nula, sendo méxima ao centro da conduta I por isto que os canos néo se estragam por desgeste das paredes, Em ver disso, os canos deixam de funcionar por ficarem entupidos & @L Cruzeito Hansson, reservados todes os diteitas Mecfnica dos Fluidos 14 medida que se acumulam mais ¢ mais coisas junto as paredes as quais eventual- mente chegam an centro bloqueando o fluxo completamente. Isto é verdade para os canos das casas e também para as veias, artéries, capilares e demais ‘canal- izagSes’ do organismo. Na verdade pode deduzir-se que a expressiio da velocidade em fungio da distancia r do centro da conduta (ou da artéria) é: v= Gam) («?- 7) (a) onde a6 0 raio da conduta e | é a distancia ao longo da condute em que a pressiio vai de p; ap. Vemos que a velocidade tem um perfil parabélico, sendo maxima no centio (r= 0). Esta diferenga de pressiio produz ume forga para 0 centro, que leva. as particulas, como os glébulos vermelhos, a concentrarem-se no centro Vimos a definigdo de débito (43) Por outro lado, verifice-se também que o débito (a taxa de fluxo), Q, numa conduta, é dada por: rat Q= Fie) (45) Esta equagio chama-se equagéo de Poiseuille, em honra do fisiélogo francés Jean Marie Poiseuille (1799-1869) que foi o primeiro a deduzi-la ¢ a testé-la Deve notar-se que o débito depende fortemente do raio a da conduta, uma vez que é proporcional & quarta poténcia de a Quando os raios das condutas diminuem, por acumulagdo de detritos (ou agregados de proteinas ou colesterol), 0 débito diminui. No easo dos vasos sanguineos, 0 corag&o, para compensar, tem que fazer muito mais esforgo para produzir a mesma taxa ce fuxo 4.1 O Numero de Reynolds Quando a velocidade do fluxo é pequena o fluxo ¢ laminar, com as propriedades descrites antes Quando a velocidade do fluxo é alta, o fluxo perde a regularidade do fuxo laminar ¢ torna-se turbulento, Num fiuxo turbulento formam-se correntes circulares, chamadas vortices, ¢ a resisténcia, ao fluxo aumenta drasticamente Ha uma quantidade cujo valor se usa para saber se 0 fluxo em certas condigies é laminar ou turbulento. Essa quantidade chama-se miimero de Reynolds, R. O niimero de Reynolds pars o fiuxo dentro de uma conduta cilindrica é 2 Rees (46) 7 onde py € 1 so, respectivamente, a densidade e a viscosidade do fiuido, a € 0 raio da conduta ¢ v é a velocidade média no sentido do fluxo, QL. Cruzsito-Hanseon, reaervados todos 02 direitos Mecanica dos Fluidos 15 O fixxo dentro de uma conduta é laminar se R for menor que 2000. Pera R centre 2000 ¢ 3000, 0 fluxo é instavel, podendo mudar de laminar para turbulento Para R maior que 3000, o fluxo é turbulento. Como as grandezas que catacter- iam R dependem da temperatura, um fluxo com a mesma velocidade pode ser laminar a baixas temperaturas e turbulento a temperaturas superiores Aplicacées. ‘Como se pode medir a pressio arterial? O fluxo laminar 6 por natureza um fluxo muito menos ruidoso que 0 fluxo turbulento Se se forgar o sangue a fluir de forma turbulenta, 0 ruido do Suxo pode ser captado por um estetoscépio colocado sobre aaitéria. Hé dois valores de pressio arterial que queremos medi: a maxima ou pressio sistdlica, que tem Iugar quando 0 corag&o se contrai e o sangue é forgado a sair do ventriculo esquerdo pata aorta e daf pare as artérias, Entre duas contracgies o sangue atinge a pressiio minima, a pressio diastélica. A técnica do som consiste em induzir fluxo turbulento por constrig&o artificial da artéria Normalmente a medigdo é feita na artéria principal do antebrago. Coloca-se uma banda & volta do antebrago Enche-se a banda de ar até uma pressiio que faz colapsar a artétia e parar todo o fluxo. Abre-se e vélvula da bands ¢ deixa-se sair ar de forma a que a presséo exercida pela banda diminua gradualmente A pessoa que est a fazer a medigao ouve com o estetoscdpio colocado na, artéria abaixo da banda. Nio hé som até que algum sangue passa através da artéria constrangida. Isto acontece quando a pressiio do sangue é mndxima e a pressdo da banda se torma menor que essa presséio méxima, a pressio sistélica. A pressio exercida pela banda quando se ouve o primeiro som é assim a pressio sistélica. A medida que a pressfo exercida pela banda continua a descer, o fluxo continua turbulento até que a pressfio exercida pela banda se torna suficientemente pequena para que a artéria deixe de estar constrangida A pressio exercida pela banda quando se deixa de ouvir 0 som do fluxo turbulento é pois a presséo diastélica, Num adulto saudavel a presséo sistélica é aproximadamente 120 torr ¢ a diastélica é aproxiinadamente 80 torr ‘A partir da expresséo (43) deduzimos que a velocidade de um flaxo se pode escrever: puoees Ana Para a aorta, a= 0.01 me Q=8 x 10-5 m*/s quando o estado é de inacgo. A velocidade média do sengue ao sair da aorta é: 8 x 10™m*/s x x (00im)? O mimero de Reynolds para este fluxo é pud (105 x 10%e/m) x (0.25m/s) x (0.02m) ee (49) Re 40 x 10-°Pa—s ce (47) 0.25m/s (48) @L. Cranciro Hansson, reservados todos os disitos Mec&nica dos Fluidos 16 Conclufmos que o fluxo que sai da aorta nestas condi condigSes activas, o valor crftieo para a transigéo para fluxo turbulento, 2000, pode ser atingido porque a velocidade do fluido aumenia Nos canais mais pe- quenos, porém, a pressfio é muito mais baixa (enquanto nas artérias grandes a pressio pode ser de 90 torr, nas artérias mais pequenas é de 25 Torr e nas veias ¢ de 10 Torr) e a velocidade mantem-se baixa pelo que o fiuxo sanguineo ¢ laminar mesmo em condigées de maior actividade. Podemos agora retomar um problem que j mencionémos antes, da veloci- dade limite de um objecto que cai? Vao actuar duas forgas sobre esse sistema, ada gravidade ¢ a da friccao, Fy. A forga total que acta no objecto é F=mg-F (50) onde o sinal menos se justifica pelo facto da triegio se opdr as outras forgas. A expresso da forga de friegdo varia consoante 0 fiuxo ¢ laminar ou turbulento Para uma esfea de raio a, se o fluxo é laminar (nimero de Reynolds < 10) ? 0 resultado € Fp=6ranu (51) como vimos no capitulo de Mecinica. Se o fluxo é turbulento (niimero de Reynolds > 200) a expresséo é: apy ee (52) 4 Como yimos, & medida que o objecto cai, a sua velocidade vai aumentando. A forga de friegdo aumenta com a velocidade. A certa altura, quando essa velocidade é suficientemente grande, a forga de friccAo é igual e oposta & forga da gravidade e a forca total que actua sobre o objecto é nula. Quando a forga é nula, a velocidade deixa, de variat, pelo que se atinge a velocidade limite. Para um fluxo laminar, essa velocidade limite, wy, é: agi (63) bran enum fluxo turbulento, a velocidade limite é: 2 fm arn (54) FNotemos que do ponte de vista fisico hé uma equivaléncia entre o caso de uma esfera que cei no at co de uma eefera fxa num fiuxo de ar que se desloque & mesina velocidade e em sentido contrétio © movimento relativo da esfera em relagSo 20 fluxo € 0 mesmo F por esta xezo que os avides comegain pot ser testacos em trineis de vento Note que o valor critico do niimero de Reynolds depende da geometria do problema e para esferas ou cilindtos que se move em fiuidos é muito mais pequeno que pata fuidos que se movern em condutes w @L Cuzeiro-Hansson, reservados todos ax diteltoe Mecanica dos Fluidos 17 Consideremos ento uma gota de chuva que cai & temperatura de 20°C A viscosi- dade do ar a essa temperatura é 1.84 x 10® Pa-s Por observacio pode estimar-se a velocidade limite das gotas como 3 m/s (% 11 km/h). O ntimero de Reynolds para as gotas de chuva 6 entao: = 2esev 2% (120kg/m) x (107%) x (Bm/9) _ oy 19 (55) o 7 184 x 10 Pas © que significa que o fluxo é turbulento. Sendo a massa da gota m = p V = gna p= x (10m)? x 10%kg/m?=42 x 10-6 kg, a velocidade limite da gota de chuva é 2 [42 x 10°F) x O&m/s?) "= 0m 7 x (129kg/m5) 4m/s=23km/h (56) Este valor é duas vezes maior que aquele que assumimos para caleular o mimero de Reynolds. O valor mais preciso para o niimero de Reynolds neste caso ¢ 900, 6 que indica um maior grau de turbuléncia que o estimado antes. Na auséncia de fricgio, vimos no capftillo de MecSnica que a velocidade da gota de chuva 20 chegar ao solo seria da ordem dos 900 km/h

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