A autora propõe uma reflexão sobre a análise da sociedade levando em conta o papel da escuta e dos sons urbanos. Ela discute como a sociologia e antropologia poderiam se aproximar nesta abordagem, utilizando o conceito de "paisagem sonora" e a figura do "ritmanalista" para analisar as dinâmicas sociais através dos sons das cidades. No entanto, ressalta desafios como a falta de objetividade de certos conceitos e a dificuldade de conciliar plenamente sociologia e antropologia
Original Description:
Resenha crítica de um artigo científico de autoria de Luciana Ferreira Moura Mendonça acerca dos alcances e limites das ciências sociais que tratam do estudo do espaço e as relações humanas nele contido por uma perspectiva de auscultação, abordando também o tema das fronteiras entre ciência e recursos metodológicos empregados no exame do campo.
IN ENGLISH: Critic review of a scientific article by Luciana Ferreira Moura Mendonça about the extent and limits of the social sciences concerning the study of the space and human interative relations on it. The methodological scope used concerns a 'hearing" perspective, counting with a reflection about the borders between research methods used on camp.
Original Title
Resenha Crítica Sonoridade e Cidade, De Luciana Ferreira Moura Mendonça
A autora propõe uma reflexão sobre a análise da sociedade levando em conta o papel da escuta e dos sons urbanos. Ela discute como a sociologia e antropologia poderiam se aproximar nesta abordagem, utilizando o conceito de "paisagem sonora" e a figura do "ritmanalista" para analisar as dinâmicas sociais através dos sons das cidades. No entanto, ressalta desafios como a falta de objetividade de certos conceitos e a dificuldade de conciliar plenamente sociologia e antropologia
A autora propõe uma reflexão sobre a análise da sociedade levando em conta o papel da escuta e dos sons urbanos. Ela discute como a sociologia e antropologia poderiam se aproximar nesta abordagem, utilizando o conceito de "paisagem sonora" e a figura do "ritmanalista" para analisar as dinâmicas sociais através dos sons das cidades. No entanto, ressalta desafios como a falta de objetividade de certos conceitos e a dificuldade de conciliar plenamente sociologia e antropologia
UniversidadeFederalFluminense(UFF) desdobramentos em detrimento de outras formas, isto,ouso
InstitutodeCinciasHumanaseFilosofia(ICHF) de outros sentidos, demarcadamente a audio, de se tratara
SociologiadaMsica experinciaterica. Professor:JorgedeLaBarre Atravs de recursos argumentativos, a autora demonstra Perodo:2017.1 como a cincia socialapoia-seemdemasianaviso,demodoa incorrer com frequncia em assertivas de teor puramente Estudante:OtavioLimaOliveira observacional (como perspectiva, ponto de vista (do Outro), GraduandoemCinciasSociais,n116005087 viso de mundo) de modo a engendrar uma trajetria, ou, ainda, uma tradio, quev-setoimediatamentemergulhada Resenha crtica: MENDONA, Luciana Ferreira Moura. em apenas um modo de perspectiva que mesmo ao incorrer Sonoridade e cidade. IN: Carlos Fortuna e Rogrio Proena em intentos de abranger outras formas de observao, o faz Leite,PluraldeCidade:NovosLxicosUrbanos. coligando-se de pronto a leituras ou qualquer forma de Coimbra:GrficadeCoimbra,2009. anlise que achega-se mais aos valores propostos por um _________________________________________________________________ panoramadadonoespectrodoolhar. Na antropologia vemos o uso de metforas sonoras, comoo Aautorapropeumareflexosobreaspossibilidadesquese advento das vozes em etnografia comomenopresenados abrem para a anlise cientfica da sociedade quando atores sociais, ou metforas sonoras como polifonia para colocamos em evidncia o papel da escuta e dos sons dos referir-se s narrativas diferenciadas quepartemdepontosde espaos como uma forma de apreenso das movimentaes e vista mais particulares; j a Sociologia, na anlise do universo caracteressociaisurbanos. sonoro, musical, trata o objeto de estudo em moldes Abordando uma espcie de panorama, onde vrios estetizantes, relevando caracteres da indstria cultural e acontecimentos e sons se sobrepem de forma a estabelecer mercado, cultura de massa, ideologia e construo de relaes dadas no social, procura-se trazer baila a identidades. possibilidade de um encontro entre a sociologia e a Se no primeiro temos a proposiodeumapolifoniaevozes antropologia urbanas no que tange s formas de anlise dos que mais tm a ver com mtodos interpretativos dados pela grupos humanos, tomando como ferramenta principal de leitura e observao do que pela audio e escuta em si, na elaborao os sons, ou a ausncia deles, queperpassamavida segunda temos uma elaborao terica quenotomaoespao cotidianadascidades. urbano de audio como um dado de anlise possvel de A esquematizao deste encontro se d atravs da resultar em uma compreenso mais robusta do espao da proposio de novas formas de se enxergar o fazer terico, cidade. onde vemos a assero crtica da autora sobre uma cincia Parademarcarainstrumentaotericadeanlise,aautora social que, em seus moldes contemporneos, afeta suas introjeta temascarosvidacotidianadascidadesnossonsque observaes em uma perspectiva que valoriza o visual e seus perpassam aurbe.quandoasformassonorascarregamemsi sentidos especficos capazes de expor, demonstrar ou revelar escuta da cidade dada diretamente e imediatamente no efeitos ressignificadores, reelaborativos de identidade, quebra contexto urbano, de onde todos os efeitos e apreenses debarreirasouatmesmoconstrutoresdasrelaessociais. oferecem pistas das relaes dos diferentes grupos que Por essa perspectiva, o ato de auscultar uma cidade seria habitam estes meios. Desta forma, enfim, temosumanoode capaz de denunciar marcadores sociais que oferecem um paisagem sonora que venha a efetivar a organizao das panorama dos diversos estratos que compem o agregado dinmicas dadas no social capazes de serem apreendidas pela social citadino. Sons de aparelhos eletrnicos como celular, escutadacidade. rudo de sirenes e canes passam a ser no s resultados de Ainda pensando em um possvel encontro das cincias que uma dada organizao social, cultural e econmica, mas tratam o social, Luciana Mendona nos traz um advento tambm instrumento de anlise em si, capaz de oferecer, retirado diretamente das consideraes de Lefebvre, o atravs da audio, materialdecompreensodasformaspelas ritmanalista. Este seria o analista das sonoridades urbanas quaisavidasocialsed. capaz de retirar delas os elementos necessrios a uma anlise A anlise proposta, no entanto, exige uma certa concretude da vida social nos espaos urbanos. Localizando este em seus meios de implementao, elemento este que nos auscultador das cidades em um entremeio entre o poeta e o suprido atravs do advento da Paisagem Sonoraedafigurado cientista, a premissa central do fazer terico proposto ritmanalista. imbricar os conceitos j consagrados da observao Explorando o conceito de paisagem sonora proposto por R participante com um importante foco na presena fsica, Murray Schafer, Luciana Mendona caracteriza o agregadode vivncia e corporalidade do ritmanalista. Associando estas sons de determinado espao social urbano como uma dimenses diversas como forma de instrumentalizao ferramenta operacional para pesquisa emprica. Entretanto, cientfico-metodolgica de anlise, seria possvel estabelecer Schafer em suas elaboraes subordinou a paisagem sonora a uma relao dialtica, como diz a autora, no campo que uma hierarquizao,ondeossonscitadinosocupamopostode aproxima o ritmanalista do antroplogo urbano, tomando a mera poluio sonora que encobre os sons naturais,rurais,de experincia como uma forma possvel de se fazer forma a estabelecer paredes sonoras, isolando os indivduos conhecimento. deseuprprioambiente. Proposta a viso do campo, paisagem sonora,edefinidoseu Vendo que a metodologia de anlise apresentada procura agente de investigao, o ritmanalista, fica possvel promover um encontro entre as cincias sociais que evidenciarmos quais seriam os desafios que mais se ocupam-sedourbano,comoantropologiaesociologia,aautora sobressaem nesta metodologia. Luciana Mendona expe, no tem reservas em implementar ressalvas pontuadas nas ento, para alm de dois pontos por onde a pesquisa poderia conceituaes de Schafer que resultam na elaborao terica se iniciar, pelas diferenas naocupaodosespaospblicose de uma paisagem sonora que no se separa do conjunto de dissonncias de estratificao social e questes acerca da prticas culturais urbanas. O que posto em evidncia, em profundidade com aqualosritmossoexploradosnosestudos oposio aos postulados de Schafer, a concepo de uma sociais, questes mais pertinentes que nos chamam a ateno ao implementar os pontos chave discorridos por ela: a autora antropolgica do que propriamente da sociologia. Isto de nos chama a ateno para o fato de certas paisagens sonoras modo algum impede uma forma de convergncia ou influxo singulares que, apesar de serem avultas, no configuram uma entre as duas cincias, mas, no entanto, lana um certo imagem marcante. Caberia ento ao implemento das embotamento ao intento de conciliar essas duas reas das premissas expostas, isto , a auscultao dos espaos urbanos, cincias sociais pelos escopo de investigao proposto pela revelar que fatores sociais, histricos e culturais contribuem autora. para que certas manifestaes do social componham um Outropontoimportantedeserressaltadoagrandefaltade cartersuigenerisouno. objetividade relegada a qualitativos como vivncia e Luciana Mendona consegue contrapor prticas corporalidade. Que caracteres estimam uma anlise mais consagradas de se lidar com a anlise do social e suas honesta do campo quando posto em perspectiva s vivncias manifestaes de forma pontuada e bem demarcada, do ritmanalista? Haveria a possibilidade de se engendrar um explorando pontos que, se no so basilares, possuem uma direcionamento mais preciso e menos subjetivo conexo intrnseca com as formas mais viscerais de se operacionalizao dos conceitos demonstrados? E quanto conceber o exame do social e suas manifestaes. A corporalidade, de que forma exatamente haveria o metodologia posta revela a possibilidade de se conceber um ritmanalista, em suaexperinciaaoexamedocampo,trataras espao urbano onde suas dinamizaes e tramitaes, formaspelaqualasuacorporalidadesemanifesta? processos e relativizaes se configuram em um quadro com Na exposio feita pela autora, podemosperceberqueestes tons novos cujas cores ousoinditasoupartemdeumamera dois caracteres so peas chaves quanto instrumentos de mudanadeperspectivaque,noentanto,fazreverberartodoo implementao terica. Assim sendo, seria justo, seno processo cientfico de observar e experienciar o social esperado, que houvesse uma ateno, qui mais cuidadosa, citadino, de forma a, ainda, apreender e engendrar o em esmiuar no os pormenores, mas os pontos mais conhecimento por vias dadas na experincia e na fundamentais na auscultao de um espao urbano que observao-participante. pedem, ou ditam, quem sabe, estmulos e respostas mais ou Entretanto, uma anlise mais atenta dos pontos propostos menos interessantes do cientista social em seu exerccio de pela autora nos revela apossibilidadederessalvartpicosno anlisedaspaisagenssonoraseespaosurbanosdeaudio. viscerais,masbemdemarcadosemsuaexposio. Ao incio vemos o intento em tratar uma perspectiva onde uma convergncia entre a sociologia e a antropologiaurbanas seria possvel. Embora esteja demonstrado na exposio avultos pontos crticos que tangem s formas de se tratar e examinar o social nas duas cincias, ao longo da enunciao fica clara a aproximao da autora concepo de grupos humanos e formas de anlise mais prprias da cincia