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Va reYSO) iCal ITT ON CetNS twa, Rudin nines ae (srr A LAMPADA DA MEMORIA ss nela deseritos tinham eile nclados”, dea lorimanilinne John Ruskin obra, uma vez que os ediffe ou raspados [scraped] © uma forma mg trdgica do que a rufna mals extrema” OU Ge designa o procedimento de raspar as pinturae antiga iy jai ificios (scraping), de forma a conferilhies unidal) © On de reeém-construidos, deu Origen WH NINE amente inglesa, conhecida como 1 = que, wicergale a contra s restalLragiio, HVOmNI a to constantes don MONI econstitui uma das bases do debate atual sobre preservagia dos e espacial e aparé preservactonista tipi VIHOWAW Va Vave Movement, ou Movimento Anti-restaura “LampadadaMemdrla®, coloc contrapar da, oenidado ¢ a manu ‘wormateliesm be aEEn a aoe Ian 978-83 7480-4064 My 9768574" 804064) ea Hainha Vitoria, John ‘Wek (11119-1900), 0 principal We a jroservngt rn Ingato: He etoile XN, foi ues dow mai Hee Hale permploaros erftivos das nuniformnages por que Pipe tie, estrigio da nate Wee Hae nition Sua conteibuigao Wh Peeetietal pan we reformas so- Woniotinnn e de protegao A Lampada da Memoria ca Spal opi da rule 2006 Movi Lacia Besse Pinel Diviton reservados potion pla 9,610 io 1.024 I poll repro tna ov paral eat aulokeaga, wareerta th edie, ot Mls origina “Ths Vat sf Mewony rasa, Tra eit patra ef 198, pp, 170-1 Prana: Reproburias nis Bl, The Seven Lamps of Archer. Used simile da ech de 1820, New York Dover, 1a 6 eligar Sunsyside, Goya Allen, BBO Darks Tnersachnls de Catalogs na Publ ‘Gimara Bruneea dy Liv SP, fas 80,10) anc THTUI9OT, - \ Lega la rena f John Ruskin eadagao « tag do. Maria Lucia Bressan Pieris ey Fests Gladys Aligayr Koh, ~Cota-SP, eit Ba Yael, 2006, SUN — 9TB.85-7197-406-1 Thelo eins: Mhetwop of meniory 1, Anpatetunne sicfolade 2, Nacknaliam¢ al fetara 3, Ruskio, fle 1@]O-U0NN = Cth ere tate, Phen, Magi Laci Brenan. Talo, mille par catilge sar 1. Aegina: Padanonts tefrkor 120. Distr rseradieh ATIUE EDNTOWAL Tata do Alda de Casa 6798-300 = atin ~ SP Telefon 1) 4612-9646 wiewtilncom br /atelieatele a, 292 ei be Printed in nil 2008 Ti ita 9 depo log Sumario John Ruskin eas Sete Lampadas da Anquitetura — Alguinas Repercussdes no Brasil Maria Lucta Bressan Pinheiro A Lampacla da Meméria me} Jolin Ruskin John Ruskin e as Sete Lampadas da Arquitetura — Algumas Repercussées no Brasil Maria Lucia Bressan Pinheiro. John Ruskin (1819-1900), considerado prin- 10 da preservagao do século XIX na Ingla- cipal teér \ 6 também @ até por isso mesmo — uma das mais omblemdtioas ¢ controvertidas figuras daquele con- lida. se des- turbado perfodo, em que “tudo o.que é mancha no ar”, como magistralmente escreyeu Karl Marx. Quase exatamente contemporineo da Rainha Vitéria (1819-1901), Ruskin vive durante poderio econdmico e militar da Inglaterra ~ “o melhor uge do © 0 pior dos tempos, no dizer de Dickens —, dele des- toanda fortemente, por sua capacidacle de vislumbrar 0 reverso da medalha, por assim dizer. igo. da Excéntrico, reaciondrio, intransi gente ini industrializagao — diz-se que nao admitia que nem se- (pr Wo © Sol Raskin (quer os seus livros fossem transportados por ferrovia flies ro (& Ruskin foi um dos maiores expoentes da mantica, de cunho socialista, a sociedade eapitalista tial e. suas evidentes mazelas ~ miséria genera- destruigio da indu lizada, injustiga social. inchaco tirham nalureza, entre-outras —, e sua contribuigao foi essen- cial para as correcdes de rumo que, pouco a pouco. foram feitas em termos de refornias sociais. urbantsti- cas, de protecao ao meio ambiente e outras. Entretanto, para além da dimensto politica — tal- veza mais conheeida — dos mtiltiplos interesses de John Ruskin, mio menos importante 6 sun reflexio Sobre 0 papel daarquitetura,¢ sua preservacdo, para a socieda- de moderna: reflexdo por yezes obscurecida pela gene: ralizada aversio eontemporanea ao exacerhado roman tismo oitocentista, do qual eonstitul um dos pilares, Em que pese tal preconceito, o pensamento de Ruskin apon- lu para varias questdes ainda exttemamente perlinentes rae dla ao debate anquileténico alual. A presente trac pitulo VI= "AL mpada da Memoria” - de sua obra As Sete Lampadas da Arquiteture visa, precisamente, contribuir para o aprofundamento de tal debate. Oriundo.de fart! m pré ~ atividlade que. a lia escovesa, seu pai era peru comerciante de vin xen despelto de seu cariter inevitavelmente mercantil, go- ravi de social oltocentista ero prestigio na esteuti A suum inglesa; sua mite, puritana calyinista, ‘eit rigicha ~ extremamente devotada a seu tinico filha, \ educagito de Ruskin foi muito severa, com poucas di- A Limpada ila Memoria #1) versdes, ¢ bastante solitdvia; nao the era permitido possuir brinquedos mais sofisticados do que uma | bola, um carrinho de madeira e blacos de mont n Acostumado desde pequeno a entreter-se sozinho, logo desenvolveu_o habito de observar minuciosa- mente as coisas ao seu redor: o desenhio-do-tapete, a estampa do papel de parede, os nés do assoalho de madeira, os tijelos das casas vizinhas ete!. Nao frequentow sistemat amente escolas até os quinze anos, mas cedo se familiarizou com autore como Scott, Pope, Shakespeare.e Byron; além, natue ralmente, da leitura cotidiana da Brblia, Alids, seu profundo conhecimento do Livro Sagrado transparece —) em todos os seus escritas, sendo particularmente evi dente nos primeitos = entre os quais se inclui As Sete Lampadas da Arguitetura, publicado em 1849 —nio 86 pelas vitagies constantes, como pe © dogmatico; caracteristicas mais tarde criticadas pelo proprio Ruskin, como veremos. eu também te tom moralista des cle musica, a. Inclusive através de Desde pequeno re desenho © observacaio da natu imuites viagens — a primeim das quais pelo interior da Ingla- tema, quando tinha quatro ou cinco anos, De fato, por profis= so ¢ por gosto, seu pai viajava muito, levandto a famitia em sua companhia; 0 parimeito e inesqueesvel contato de John fim de sun vida, entre os anos de 1884 ¢. 1889, Rush Practerita. Excertos dessa obra Cacrier, England and ius esther . 199 utabiograd fi lerdam, Goll Ants Toternat am reproduzidos em Da Biogrophy and Taste, Am M+ Joho Ruskin Suas atividades como artista e erftica de arte comegaram logo apés sua graduagiio em Oxford, em 1842, consubstanciando-se no primeiro volume de Madern Painters, uma elaborada defesa do pintor William Turner, publicada em 1843, Também suas viagens de estudo pela Europa, sempre acompa- nhado da famflia, foram retomadas a partir de en= tao: a Itélia era um de seus destinos favoritos, como se depreende dos iniimeros exemplos citados em As Sete Lampadas da Arquitetura e no livro que se seguiu, As Pedras de Venexa, publicado em 1851. Em 1848, John Ruskin casou-se com Euphemia Chalmers Gray, mas 0 casamento nao foi feliz, e acabou sendo anulado em 1854. Euphemia casou-se posterior- erett Millais, mente com o pintor pré-rafaclita John E numa siluagiio curiosamente bastante parecida com a (que mais tarde viria a ocorrer a um de seus principais seguidotes, William Morris, cuja esposa se apaixonou por outro pintor pré-rafuelita, Dante Gabriel Rossetti. Esse desafortunado episédio assinala, por outro lado, a proximidade de Ruskin com o efreulo dos pintores pr posicao favordvel,. manifesta-naqueles anos, emrela- gd0 2 corrente neogstiea. é-rafaelitus, que também repercutiw em sua predis- “Essa aproximagao também 6 corrobarada pelo seu envolvimento ~ inclusive finaneeira — na cons- trugaio do Museu de Histéria Natural de Oxford, projeto em estilo “g6tico veneziano” — um dos pre= feridas de Ruskin, como veremos — dos urquitetos A Lada dla Me irlandeses Deane ¢ Woodward, com participagao do proprio Millais, no detalhamento dos capi Esse museu € @ nica obra construfda a ostentar elementos arquiteténicos desenhados pelo proprio Ruskin’ Alids, ainda que de forma intermitente, boa pare te de sua carreira po pr estaria associada a | versidade de Oxford, onde foi admitido na categoria de Slade professor *em.1869; nesse periodo, suas au las © palestras eram extremamente concorridas. Em 1879, devi tomariam recorrentes a partir de ent loa problemas de sacide mental que se =. Ruskin teve de abandonar sua carreira de professor, retornand.o-a novamente em 1883, por apenas um ano, pelos mes: mos motivos. A década de 1860 marea 0 infeio de uma impor- tante mudanga na vida do escritor, que coincide corn 4 publicagao do segundo volume de Modern Painters. sua atividade tedrice come erflicutheurte, suas idéias evolufram para o campo da polftica, assu ho socialista ao defender quesives tio atuais arc doum ¢ 3; nactonalizagio da como: ensino publ produgao e do comércio dos bens de consumo elemen: 4. Ver a respeito Kenneth (lark, The Gusio Reviowt — an Essay in the History of Taste, Landon, Gonstolse, 1950, po 2004 5, Algumas day mais tradicionais universes iglesns ~alfw a Odor as universidoley de Cambridge e 4 Univesity College, en Laney =e ceberam sma dazagae do eolectonadot # mecenay dart, Relia-Slade (2790-1868), para w contratagao le peofessnnen ere olay aly a conteatagdo de Ruskln deve fer so wn las pri a, sen. pit a, em Oxford i we y } a 16 © John Ruskin tar, em um regime de coexisténcia e concorréncia com a iniciativa privada: seguro-desemprego: prexidéncia social para invalidez e yelhice A partir de entao, Ruskin passou a empenhar-se mais ¢ mais ~ inclusive financeiramente — em cai e suas mais famosas iniciativas esta a Guilda sociaisy de Sao Jorge. uma organizagio social ¢ industrial mo- delo, em sistema de eooperativa, para a qual contribuiu com @ vultosa quantia de 7.000 libras, destinada & juipamentos. Ruskin também colaberau para a fundagdo de um museu de compra de terras, moinhos € arte e ciéncia em Sheffield, visanco a melhoria dos produtos industrializados 14 produzidos, de péssima qualidade e desenho’, No entanto, tanto uma fase — se assim poclemos chamié-la - da obra de Ruskin, quanto a outra, sio abso- hutamente interdependentes ¢ cocrentes, diferenciando- Se apenas pelo seu paulatino distanciamento do acentuae do carater puritano dos primeiros wabalho Suag prorias palavras no prefécio & ediglo de 1880 de As Sete Lam- padas da Arquitetura sio dignas de nota, a esse respeito: 6, Ao que se pode depreender, w postura de Ruskin exe de.um socia- Uismo oodoredo, Hntvetanto, para DE Stefano, Ruskin teria apro- vado 0 comunisnie, especialmente o chinds, eujas comunidades rosa Koguen exalanienle © m4 eventado na Gull of George. Mas nto ha qualquer mengao a nomos come Mats, {ingels, Prouliom, Saat-Slman-om-seus-eserits-~ somnente Carlyle cltado. Segunda Clark, Gandhi-disia-que-Herkin-tinha repre- wlo-uria das prineipais influérclas na sun vida (Hobesto Di Stefano, John Ruskin ~ Intinprete det Arehiteanura # def Restaaes Napoli, Eelieloni Sctentifiche Italiane, 1988, p, 69), Agradego Beatsia Mugayar Kahl jindivasao deseo text, A Liimpacln da Meméiria #17 {..] como 0 embritio do que eu escreyi desde entto se encontra de fato aqui [..}.aqui ele @ ofereoido novamente ma velha formas tudo, exceta alguns trechas des um protestantis= mo fandtico © completamente false [. Estudiosos de sua obra apontam também. que Rus- kin, nesses anos, cogitara de retinar de circulagho seus primeitos escritos sobre arte; mus tal intengio parece li- gar-se & sua convicgto da inutilidade desses escritos, como éle préprio aponta no mesmo prefic Eu nunca tive a intengdo de republicar este li que se tomo o mais inttil de todos os que eu escrevt: os ediffe cios nele desctitos com tanto prazer tendo sido ou demolidos, pu raspados [scraped] « remendados para tornarem-se presun= gos08 ¢ polidos de uma forme mais trégica do que a rufna mais extrema, Mas ew vejo que o piblico ainda gosta de lie yr = €0 18, ainda que ndo preste atenedo [naquilo] que The seria realmente til e necessétio [.!. 0 termo em inglés utilizado com tanto desgosto por Ruskin em referéneia ao procedimenio, usual no perfo- ntigas das paredes dos monu- do, de ruspar as pintura inentos — serape ~, de forma a conferirlhes unidade ¢ de recém-cons- clareza espacial, bem como aparénci tnifdos, deu origem a uma linha preservacionista tipiea- mente inglesa, conhecida como. Anti-Serape Movement, J. John Ruskin, The Seven Lanps of Architecture, New York, Dover 1909 (edigio fae-sinlar da edigto de 1880), ¥ 8, fem, note 7 y ( ki 18 + John Ruskin g (ou Movimento Anti-Restauragio, come 6 conhecide en- tre nds, Alicergaco em todas us Lampaclas da Arquitetu- ra, porém mais especificamente vinculado a Lampada da {PMeméria. o movimento = como seu nome jd indica ~ co- ndlo loca-se radicalmente contra a restauragia, advoga em Contrajartida 0 Cuidado © a maniteneio constantes aos monuinentos. A fendéncia aleangou grande popula- ridade na Inglaterra na segunda metade do século NIX. difundindo-se logo pelo « intinente europeu, & contaya ie entre seus principals expoentes com o arquiteto e d ner William Morris que, inspirado nas idéias de Ruskin, fundou em 1877 a Society for the Protex Buildings (SPABYrou Sociedad ficios Antigos’, jon of Ancient pam a Protegdo dos Edie A ampliagto do debate preservacionista no século x aliada as notérias dificuldades contempordineas da ura de Ruskin ~ cujo estilo ele mesmo critieou como “sobrecarregado de douragpes, © excessivo, com dema- siado estardalhago & em cascatas de palavras...”" ~ fea com que a “Lampacla da Meméria” — que conslitui ape- nas una, dentre as Sete Lampadas da Arquitetura (Saeri- ficio, Verdade, Poder, Beleza, Vida e Obed: sumisse 0 eardter de um texto autdnomo, especifica-mente neia) — as- voltado para a restauragiio. Porém, & necessério examin la no contexto de que faz parte, pois intimeros aspectos af 9. Vor a respeito Maria Luc SPU. Rotunda; n. 3, rotundarotuniaO3. pel 10. tdem nota 7 Bressan Pinheiro, “Williams Mortis ¢ 4 105, pp. A Lipide dn Mernéria © 19 abordados esto intimamente vineulados a iddias desen- volvidas nas demais Lampadas: ¢ é justamente nessa co- ere ra preservagao do quattro cultural mais amplo, que a atualicade das idéias ruskinianas a esse reapeite, Ruskin escreveu As Sete Ldmpailas da Arquite- cia geal, de nao dissoc) eside o valor. a profundidade ¢ tura “no olho do furactio”, vendo o mundo em que fora criado eshoroando-se & sua volta, Suw prine}- prinet= pal preocupacao ¢ a dissolugao de val pios.— morais.cestélicos, e vice-versa, jd que am- bos slo indissocidveis em set quais acreditaya profundamente, procurando a todo pensamento = nos custo preservé-los das transformagdes em curso De fato, As Sere Lampadas esiio marcadas pelo exacerbado puritanisme que earacteriza:a primeira fase de sua obra, como fica evidente, entre outros aspectos, pelo usode aforismos, isto ¢, méximas morais. Assim, © primeira aforismo — ainda na introdugio do livro ~ es~ tabelece que devemos fazer 0 que 4 certo seni nes preo-(} cuparmos com os meios para isso: Aforismo 2: “Todas as leis priticas representam leis moras" (Introdugio, p. 4)!!. Percebe-se desde logo, LA. Ag teferdncias ts Sete LAmpadar este texto, serie todas presenta indicandoy na orden, capitulo, 9 Joli Ruskin das entee pargnteses, The Seren Lamps of Architecture, New otk, over, 1 simular da edigto de 1880), Ax wet Irupaday ue capsules do lvzo saoy na orem: LA, blip am “A Glmpacla da Verde”: Hl “A LAnpaca 1A Lam pact do Belem": V."A Lampaala dh Vali VIA Lapa dy Me He -hempatar itn econo A numeragao day pagin 0 (aig ae 20 © John Ruskin portanto, que, embora mente voltada A arqui tetura ~ ou talvez por isso mesmo, j4 que essa eviden- ciava claramente 0 contexto de crise entio vigente — todo o livro é antes de mais nada um libelo contra 0 excessivo materialismo do perfodo. Assim, ao mesmo tempo em que procurava desenvol- ver leis adequadas para a Arquitetura, consonantes com a hatureza humgna e cam o momento presente ~ que, ele re conhecia, colocava novas demandas para a arte ~ Ruskin mostrava- » preocupado em impedir a completa dissolu- gio de tudo @ que é sistematico e consistente. na. nossa, pra 1p. 8), Por outro lado, 6 stupreendente constatar que, nesse que ¢ um de seus primeitos escritos, ele jé admitia a possibilidade de que houvesse questaes mais prementes da que a arquitetura, “inzidas & nossa. conside- rugio pelo curso selvagem do presente século” (Cap, VIL, § VIII, p. 210) — numa mengi questies sociais que, mais tarde, polarizariam seus préprios sesforgos intelectuais e financeiros Seo tom piedoso e moralista de Ruskin, e sua lin- guagem rebuseada e dificil, uligueart-se antiquados ~ até das dramaticas Fo premonitéri nigsme superados = neste infciv de séeulo XI, 0 mes- tho nfo se pode dizer de sua corajosa e franca dendncia da supremacia de valores materiais, da destruicao da natureza, da injustiga social. da hipoctisia, do conven- cionalisimo, @ da Tealdade = pot ele considerada indfcio seguro do estdgio material ¢ espiritual de uma socieda- de — imperantes na Inglaterra oitocentista, dendineia essa que perpassa toda a sua obra, A Lampaia da Meméria ¢ 2 Essa dentneia tem sua origem no inabaldyel hu- de John Ruskin, tos dle sou pen \ mo que caracteriza as que constitui um dos mais bonitos asp samento = € que se anuncia jana definigio de arg tura que abre a Lampada do Saetificio: “Arquitetura @ a arte-que de tal forma dispde e adoma os eifetos cons: ) Iruidos pelo homem. para qualequ ontribuir para a sua sade mental, poder, ¢ 08, que WSU Vi sio_po prazer™ (Cap. I, § 1, p. 8) Trate-se de um humanieme p da, por vezes q profur jlano, é fato; mas mesmo assim uma ereng .e orgulhosa — por isso humanista =, nas potencialidades humanas, no valor do trabalho hue ‘era compaixio pelas mano, que se alterna com uma si vieissit repleta — © homem coumm, temente a Deus e cheio de uides e sofrimento de que a vida do homem esté fraqiuezas: por isso, humanismo puritano. A importaneia central do Grnamento, por exemplo — um dos elementos imprescindveis da Beleza arquitetd- niga, na visto de Ruskin — reside na sentido de trabalho © cuidado humanos que € capaz de revelar, Afirma ele ira de ervas daninhas cres- que, embora qualquer touet cendo numa rufna seja geralmente mai hela do que @ mais elaborada pega escultorica encontrada nessa mes: nosso Interesse da 2 rufna, esse fato no reti sspria escultura; ¢ isso devido A “nossa consciéneia de que se trata da abra do pobre, desajeitado, luborioso homem (Cap. 1, § XIX, p. 54). F, portanto, o trabalho humano em si que confere valor ao omamento; “pois nao 6 0 mu terial, mas a auséncia de trabalho humano, que torna 0 y yt \ 22+ John Ruskin objeto sem valor” (Cap. IE, § XX. pp. 55-56), Daf as cox nhecitas invectivas de Ruskin contra o ornate feito maquina — mesmo supondo-se que possa ser executado com grande perfeigao e qualidade «que nfo Lem a parti- cipagaio-humana-e,| rem valor. ante, nda! Essa oseilagdio de postura entre 0 que poderfamos chamar de “orgulho humanista” e de “huntanismo puri- iano! transparece em todas as lampadas, mas ¢ especial mnente evidente nas da Beleza e do Poder, que constituem, n, “as dluas-rancles-Eaimpad: Arquitetura’” (Cap. IIL, § Il, p. 72). Com efeito, nesses dois, in trata das diferentes for beleza a arquitelura, numa yisao muito pessoal — como. sempre ~ d para Ru ritelecteais da s de conte capftulos, Ru nogdes estéticas entéo preponderantes na cultura européia:.o ideal-eléssien-de-Beleza,tzatado na propria Lampada da Beleza: ¢ 0 Si de empatia assoeiativa entre 0 hom tada na Lampada do Poder, A nogao correlata de pito- resco ¢, por sua vee, wbordada na Lampada da Memoria P . como ele diré na Lampada da Meméria — “cone Lime, aquela-nogao ¢8 nalureza, tra- sua vistio, a Beleza absoluta — a bele- te numa justa e humilde veneracao pelas obras de Deus na terra idem, ibidtem); tal veneracao humilde, porém, ndo pode prescindir da interme io intelee- tual do homem entre natureza ~ isto é, “as obras de Deus na terra’ ~ e arquitetura, Em outro trecho, alir- ma também que a beleza traz a marea da capacicade intelectual do homem, pois ela “e sle numa inter melagido nobre de nagens de Beleza, originadas print fimpadta da Men = 28 cipalmente das aparéncias extern a” (Cap. IV, § Lp. fica mais claro nesse belissimo trechos are 5 da natureza orga nic 3, prifo nosso), Esse aspecto Consideremos primeira que as earaetertsticns dos objetos entar ao poucas ea haturais que o arguiteto consepue n clas quae. Natu tvatas, A maior parte dessas alegrias atray reza se torna atraente ao homem em todos os momentos, Zo pode ser transmitida por ele & sua ob ativa, Ble nao pode fresca © hoa para se descansary © que fazer a sua grama verde nia natuéeza constitui seu principal uso para o homent; ele tam= las e cheias ile cor & béen nio consegue fazer suas flores delic dde perfume, que wa nalureza sho os seus prinetpais pouleres de dar prazer. As unicas qualidades que pode garantir $80 certas cardcteristicas severas de forma, tais que os homens 86 véem na natureza em exame deliberado, e através da plena e predetermi- nada aplicagto da vista © do pensamento: um homem precisa do @ parse a observar ¢ perserutar dcitar-se de baugos no grama elagamento, antes de encontrar aguilo que € bom para ase ser recolhide pele arquiteto, De forma que, embara & natureza hos seia sempre prazerosa, © embora a visio e a percepeda da sua ‘obra possa mistorar-se alegremente com todos os nossos pensa~ mentos, € esforyos, © tempos de existéncia, aguela imagen dela, que © arquiteto lene consigga, representa 0 que nde 35 pordemos per onde quer que ceber por esfarco intelecduat dlireto, © exiie de ai aparega, am esforyo intelectual siinitar para compreendéta ¢ s Li-da. £4 impressao eserita ¢ ratificada de algo perseguidos & 0 resultado modelado da investigagio & a express do pemsamento (Cap, IV, § XVI, pp, H1-118, wrido Essa definigao da Beleza expliea a reite viegtto de Ruskin de que ninadas a requer dete 24+ John Ruskin condigdes para sua fruigto; yeja-se sua afirmagio axiomatica: “Onde Fepouso © proibido, também a be- lezn 0 6” (Cap, IV, § XIX, p. 119). Mas ¢ na Lampada do Poder que humanismo de Ruskin apresenta-se com insuspeitado orgulho; de entem afini~ fato, embora as idéias ali expostas apre dades com a nogiio setecentista de Sublime ~ aque- las sensagies associativas despertadas por fenéme- nos naturais que evidenciam a pequencs.e-fragilidade ~, elas ass ntrari diz respeito ao poder humane de ir além da imitagao do homem mem uma conotagio espect + quase visdo de Ruskin, o Sublime das formas naturais ~ que 6 onde, como.vimos, resi= de tudo o que é belo em arquitetura — através do uso controlado dé caracterfstioas arquiteténicas andlogus as da natirem, (als como: tamanho, massa, volume. jogo de Tiz © sombra ete. O dominio, pelo homem, dessas caracterfsticas — minuciosamente analisadas na Limpada da Pod — faz com que suas obras esta belecam relagSes diretascom-a-obra-de-Deus, torman- do-se, assim sublimes; pois Ruskin, em certo ponto, define 0 Poder como “a afinidade [sympathy], na ar quitetura, com-os.vastos. poderes de dominacio da propria Natureza”, Assim, em sua acepgao, tal Poder con: iste “numa compreensae do dominio sobre essas 12, Vejam-ne 9 Enquiry into the Origin of Fudewund Burke, publicad eito vérine obras dbo perfodo, como A Philosoy Iideas of the Sublime and Beawtifl, do 751 mente em A Litmpada la Moméria #25 ¢ foi inyestide. no homem” obras [de Deus na terra] « (Gap. Il, § Il, p. 72 © Al Idéias andlogas quanto 4 capacidade in rismo 17, p. 71). al do homem de suscilar sentimentes profundos através da arquitetura comparecem em todas as Sete Lampa- das ~ como, por exemplo, na Lampada da Vidi Coisas semelhamtes om todos os aspectos, como na su substincia, sos, ou formas extemas. 880 nobres ou igndbels pro- porcionalmente & plenitude de vida de que elas mesmas gozan ou de euja ago ostentan 9 evidéneia, como as areias da pra ‘anin-se belas por portarem as mareas do movimesto dus gua iss0 ¢ especialmente verdadeimo para todos as objetos que oster- tam a impressiio da mais alta ordem da vida eriativa, isto é da mente do homem: eles tornam-se nobres ou jgndbels proporcio~ veria daqquela mente que foi visivel- 18). nalmente & quantidade de mente empregads neles (Cap. V, § [. p. E isso é ainda mais aplicdvel & Arquitetura, “que, nfo senda verdadeiramente capaz de qual- quer outra vida a niio ser essa, ¢ niio sendo essencialmente composta de coisas agraddveis em si mesmas - como os doces sons da miisica, ou as co- res harmoniosis da pintura, mas de substancia ine te — depende, para sua dignidade e prazer nom alto grau, da vfvida expresso de vida intelectual en- volvida na sua produgio” (Cap. V, § 1, pp. 148-149), Mas o humanismo ruskiniano, oseilando entre uma profunda humildade eo pressa-se também de uma outra forma que perpassa ntido-orgulho, 26 © John Risskin toda a Lampada da Memétia (segdes TIT, TV e V) — que nos remete novamente ao “pobre, desajeitado, Laborio- so homem”. Trata-se da capacidade dessa “arte mag- de exprimir 9 “so- o” (Cap. éaela que Ruskin se refere em nificamente humana da arquitetura frimento e ira da vida, sua tristeza ¢ seu_misté § XII, p. 851 suas vérias passagens sobre as mo adas dos homens bons e a importineia da preservagitn-daarquitetura ‘mene quie-se identifica com a pequenez_honrada das vidas humanas: 0 que no cabe a beleza pura Fssas qualidades associativas de identifieagao, ou de empatia, entre a arquitetura, obra humana, ¢ a matu- reza, obra de Deus ~ também presentes na exuberante descrigao Teltarfor Ruskin da pais 2) capitulo = constituem @ prope vagio, De fato, ao exprimit compreenstio, © até mesmo wem do Jura, que abre justificativa da preser- compuisio, pelas vicissitudes dos homens, ¢ sendo capaz de consolé-los, a arquitetura toma-se sublime, influenciande e transformando nossa vida cotidiana. Nesse sentido, para Ruskin, a Sublimidade € “agracia- da pelo Senhor com uma gléria adicional, por suaasso- ciagao com os mais sinceros esfargos do pensamento humane” (Cap. Hf, § TL, p. 72), tomando-se quase su- aida dive, perior 4s obras puramente belas, pois essas a to em momentos de descanso ou de homens, ex (Cap, Ill, § XHIE, p. 84), isto é, exigem eandigdes sta fruigdia, como vimos, prazel exeepeiona have para a Sublimidade, no senti- do abordado na Lampada da Meméria, porém, 6 0 tem- A Liimpacla da Mend Jenne his euc po—o que vale dizer, a histéria. E na longa duragiie, com A passage m dio Tempo, que a arquitetara va impregnando da vida e dos valores humanos: dat a importincia de consiruir edificios durdveis, ¢ de pre= servar aqueles que chegaram até nds. Nao é & toa que Ruskin cogitou em chamar o sexto capftulo das Sete Hinpadas de Lampada da Historia, em vex de “Lam pada da Meméria”". Tao importante € a historicidade da arquitetura, que, para enfatiaé-la, Ruskin nao sé admite, como chega mesino a preconizar, na Lampada da Memsria, a utilizagito de um recurso que ele eriti- cara veementemente na Limpada da Beleza: a deco ragilo herdldica..e, entre ns véving formas que ela pode ‘08 brastes @ as inset igdes. Em sua visto, tais mentos essencialmente anti-naturais nda podem ser considerados ornamentos, nem fazer parte da Beleza; 86 pwoulem ser utilizado portanto, “em lugares onde 0 sentido du inscrigdo é mais importante do que o orna- mento externa” (Cap. 1V, § TX, p. 111). mente, © caso da arquitetura doméstica, vernécula, ‘Tal €, precisa onde o sentido de comunicagao entre os homens ¢ a arquitetura é 0 principal-valoradestacar. Nessa perspectiva ¢ que se inserem as longus ~ e, inegavelmente, im tanto confusas ~ divagagies de Rus- kin sobre 0 pitoresco, que constitui outta das nogdes es: Léticas vigentes no perfado a remeter-nos cliretamente A 13. Ver a respeito Stephun Tach toration, Oslo, Universitet \i-Madsen, Restoration ancl AntisRess laget, 1976, p. 45, Agradeco Beatriz Mugasar Kuhl pela indieagto desse 2h © Johe Ruskin natureza", De fio, apés tratar nes capitulos pre tes das vérias formas em que — segundo sua visio ~ 0 stan Sublime se manife arquitetuza, com destaque para o tempo, Ruskin define 0 pitoresco, genericamente, como o Sublime Parasitdrio, isto é, um aspecto intrinseco ao Sublime, ainda que secundério. Daa importancia que e mancha dourada.da tempo, em ifere & patina — a" suas palavras —, elemento acessério que condensa, por assim dizer, os sinais da passagem do tempo, possibili- tando a obra arquitetonica comunicar ds levas sucessivas da humanidade as ligagdes entre os periodos da histéri Assim, a patina ¢ 0 eq lente, na arquitetura, des dons de linguagem e de vida encontrados nos objetos natu- rais, como ele diz na Lémpada ca Mem@érias lat a intran- signcia de Ruskin quanto 2 nece periosa de sua manutengio. Mas nao ¢ apenas na “LAmpada da Meméria” que Ruskin desenvolve princfpios apliedveis A preservagao dos monumentos, Varias nogoes importantes a esse respeito sto desenvelvidas na “Lampada da Verdade"; como sua afirmagdo de que é preferfvel “dei sas] paredes.tlo.nu: onstruflas de -barm seco e palha amassada, se ne- ixar [nos quanto uma prancha aplainada, ou cessdrio; mas-nao-executé-las em moldes. artificialmen- ap. IL, § XIX, p. 55). De resto, as associa le Wwseps 14, Sulxe a nogio de pitoresso, ver o artigo de Mario Henrique Simo DApostino e Maia Lucia Bressan Pinheito, "A Nolo de Arquitetusa”, Desdenin Revista de Hisiéria da Arqaitetura ¢ do Urb ni 1, Sao Paulo, Annablume, mxargo de 200M, pp. 119-128, A Léanipada da Memérin © 20 ges entre av Ruskin, e © principio atual da res de em arquitetura, tao cara a John uragtlo de jamais imitar a Tinguagem de estilos passudos, sin evidentes ainda que Ruskin, colocundo-se ira qualquer intervengto de restaun, no tenha formu lado explicitamente a preceito da distinguibilidade. ‘Mirmagio andloga @ encontrada na “Limpada da Beleza”, quando Ruskin critica o “mau habito de ten- tar disfarcar necessidades desageaddveis com alguna forma de decoracao instantanea” (Cap. IV, § XX1, p. i: para disfargar os ventiladores nos forros das cape’ Ele deixa implicito que seria preferfvel deixar tais ) — por exemplo, a aplicagiio de rosas ornamentais *ne- cessidades desagradaveis” & vista — 0 que nos remele sua defesa da colocagae franca de reforgos © escores num mon mento a ser preservado, conforme a “L&m- pada da Meméria”, Embora tais afirmagies estejam re lacionadas a idéia de verdade arquitetonica, fonbands he evidenciam que o prin ficio digno de p mas seu as- € a beleza. esse sentido, subli- Ig €, Meas m aspeeto da “Lampada da Meméria” reveste-se ids sldgica em sua abordagem da preservagiio.| de incontestavel pioneirismo e atu dimensioec Referéneias & Natureza como inspiradora. da helen tanio- por motivos morais como. estéticos ~, nity soy © dentemente, privilégio de Ruski le ha mas nilo po divida sobre a intuigho premonitéria ~ num momento jade: @ incluso tay. pal aspecto que tora um edi- ~) A al adicalmente mela 30 + Jobe Ruskin de transformagio predatéria do meio ambiente, aclama- da como simbolo de progressa — de seu Aforismo 2 terra é um legac iendyel, nao uma propriedade’ ‘Tao grande 6, de fato, a comseiéneia de Ruskin da fragilidade do equilfbrio da natureza — bem como da ea- pacidade humana de destruigao — que, na “Lampada do Poder”. ele jd afirmara que nente o hi destréi_a sublimidade natural, do que a natureza esmaga o poder humano, Nao é necessério muito para humithar uma montanha” (Cap, IL. § LV. p. Mais pioneira ainda 6 a associagdo precoce — feita “mais freqte mel no pardgeafo final da “Lampada da Memd- entre o meio ambiente natural e 0 meio ambiente consirafdo, uma postura que 86 encontrar eco nos meios x, jo de seu tempo, Rus- preservacionistas ctade. do aéculo, segunda. Como se yé, embora t kin de grande repercussao & época: Beleza, Sublime, fo, Natureza, entre outros, Entretanto. um aspecto da cultura \iloriana encontra total ressonfincia em sta obra: wolve nogSes muito préprias quanto a tem ssula jacdim ¢ quintal preporcionais ao vivasse lilases 6 laburnos bem crescidos: © quintal, de setenta jardas , Famoso em toda « regito por Jo-compeimento por vite de larg ras ¢ mags. que tinham sido escolldas cor muito euldado por nos 0 predecessor, (¢ um vergonha que ew eequege agora o wore de un omen a quent deve t David Cartier ap et ps B91 A Limpada da Meméria #31 bendo-se que o omamento constitufa @ pedra de toque da idléia ruskiniana de beleza = como a tiica mancira de impedir a morte da arquitetura (Cap. Vil, § LV, p. 202 seguintes). A esse respeilo, Ruskin preconizava uma ene colha democritica e consensual, if de pilblico ne escort es versal’ tanto de arquitelos corn © sue lilizagiio.uni- quase como pun plebiscite". $) predilegdes.se voltavam = uy pr ating pi mr y 1ordem de referencia © roménic pisano: 0 p6tieo prin las ropa dentais ilalianass 0 gotieo veneziano: &. finalment -0 decorado inglés mais primitive (ap. VIL, § VIL. p. 208). ‘Trata-se de fato de uma escolha entre estilos medi vai na. qual, porém = ao contréio do que se poderia es: . a alternativa nacional ocupava o iltimo lugar idamente oitocentista, porém nao perar numa operagiio menos surpreendente, Ruskin aceitava a possibilidade de ial proselinanoSnoontramcre datalhadamenta ju Aifcaday ta "Llnpad ds Obedtoc ia E cela. ports, qu, dec damente, Huskin ae worveda a anguitetuta cldssicw: sua isercae ine cial, wo propet_a escalha consensual de uni esiile. paran napdo, Hesaparese dionte-de-sua afismagaa de no poser “inaginay que al umn atguitelo [seja] insano o susiciente pare propor a vulgatizagdo dy senqulletinageega” (Cap, VIL, § VIL pp, 200- rnitsse tal pscolha paca alguns casos espectfieas do e 8) ainda qe a ices plc 17. Dames aig etvo a epi dslegto dec afte Joe oats gun stele | Gflibede qu ceceitans a Abe Om Fe ain ae de coe Si etoene pute hi, eso iene oven, Tans ta a a pads © furnigasbes tornavanenay perfel Inofensivay & sale” (Prefdcio & 1 edigdo, xi), Dade 0 carte nl aque este aspecto — a ulllieaga avquiteltnicas. verladciron cxemplot de’ erqullettta Viva n, (e i Rushin Wore. 6 posaty tiling ha ineonsclentemente com uid para a predilegte confor a estes eatiles, (V9 i 52+ John Ruski enriqueeimento do estilo decorado inglés através da in- clustio de elementos do gétice decorad francés. Mas Ruskin admit anquitetura, haseada em pesquisa profianda-e dominio das ‘teristicas do estilo escolhido a partir do consenso go — controlada ~ da ca proposto, Em sua visio, gradualmente, ) medida que estilo se-tornusse familiar e natural, af sim seria possivel rods leradas nec as nudangas cons virias para sia adaptagaio As necessidades préticas da vida moderna, “Desse modo, ao longo do tempo ¢ par um grande movi- mento 1 icional, pode acuntecer que um novo estilo surja, assim como a propria Tinguagem muda; nds poderiamos por exemplo comecar a fular italiano em yer de Latim, ou falar inglés modemo em ver do antigo; mas que nao poderia ser apressado ou, evitado, por vontade ou waco" (Cap. VIL, § VIE, p. 207)" E fata que, na década de 1850, Ruskin parece terse deixado contagiar pela voga neogotica que atin- gia enlalo 0 seu auge — 0 que eoineidiy com a publica- so seria algo determi Gao da segunela edigio de As te Lampadas, em 1855. No prefacio a essa edigio, autor manifestou seu de- sejo de corrigir “a expresso de diivida quanto ao es- tilo que deveria, no momento, ser adotado por nossos arquitetos. Eu no tenho nenhuma ditvida, agora, de que o tinico estilo adequado para obras modernas no Norte é 0 gético setentrional do século NAIL, tal como exemplificado, na Inglaterra, principalmente pelas 11 Fm links gerals, esse process + doy Movinsento Arts & C parece ter side pereor pasta das idan ho pelos ade Ruskin A Limpada da Meméria #8 catedrais de Lincoln e Wells, ¢ na Franga pelas de Paris, Amiens, Chartres ete.” Certamente foram sas manifestacdes, bem como seu envolyimento no projeta © construcda do Museu de Oxford, que acarre- taram sua irremedidvel associaczio com a tendéncia jente até os dias de hoje. Entretanto, na edigdto de 1880 de As Sexe Lampadas da Arquitetura, tal prefécio foi suprimido, levando-nos a lara de ieléia quanto a sua exor- neogdtiea, pre neluir que Ruskin n agai a0 neogétien. Als, vérins so os momentos a0 lon- go da obra em que ele expressa diividas a respeito, como na seguinte passagen 0 movimento que tem tido lugar nos nossos objetivos & interesses arquiteténicos nesses dltimos anos, 6 considerado, por muitos, eheio de promessas: eu espero que sim, mas ele me parece um tanto doentio, Eu ndo sei dizer se se trata de fato de um florese cossos [..-] (Cap. Vs 8 IL p. vento cle sementes on de une acomorlagao de tie De qualquer forma, parece ter constitute um trage da complexa personalidade de John Ruskin sua 19, Clark, op. fs ps 274. nesta 18m bea nengitien recente: a, eneontiase outa releréncin erica wa Hi ur igrela tien recentomenteconstnlda nem vi na sin compsigao etal as exc dos detulhes odo devenhndn coi de Rouen, extrem sivamente rice em detalbe: mute muito gosto, eevideatemente por uns homem que estou as on al as com eidado, Mas ela € lo morta quanto as fohas ein Desembiy ilo hi nenhunv toque de ternura, nenhurn gotpe ealorons, ie ton dotain gre 4 fochaila, Os homens que a constrattam esl aram: {a8 quand foi terminada” (Cap, ¥, $ XXLV, ps 17M M+ Fohu Ruskin propensio a intempestivas mudangas de opiniéio — verdadeiro pendor para a contradigta —, como apon- tou Kenneth Clark"!, Diante cla abrangéncia de temas enfoeados por John Ruskin, de suas idiossincrasias pessoais, e de seu ra- lismo e yeeméncia, pode-se imaginar as intimeras polémicas nes quai esteve envolvido, Em 1874, por exemplo, rec sou uma medatha de ouro que the fora conferida pelo Instituto Real de (RIBA ~ Royal Institute of Briti atividade preservacionista, Justificow a recusa denun- quitetos Ingleses ish Arehitects) por sua clando a “destruigo, sob 9 nome de restauragito, le- vada a eabo pelos arquitetos”, citando nominalmente 21, Segundo Clark, Ruskin celeitava-se em contradizerse a si préprio, © 46 senila que estava perto da verdade quando sp contradizia pelo Ps ele. Pps 265-206), Nesse sentido, n ree Apindice | da eligi de 1880, de um os: au primido preficlo a euligao de 1899 das Sete Ldmpadas. 0 twecho robwastle i Gate Medas. de Adesinagie® ds or ura ~ contradiz © seguinte trecho da “LAmpada da (bediéneia"y "a snquitetura deve ser 0 comego de todas as artes: as outeas devern inclusto, ¢ ial Buea em seu tempo ¢ ordem: r ex exelo que a prosperidde de now. sis esvolas de pintira ¢ eseultura [..] depend da de nossa arquite- tra” (Cap, YL, § VI. p: 205), Notrecho anexaie camo apéndice em 1880, Ruskin afirmava ter chegada d ennelisio de ae & eseultuta & 1 pintura eram, na verdade, senhoras de anquiteturas sepsindasse ste comhecida frase — que desperiou irala reagio de Philip Webb ~ de que “o ang elo qu aun molduteleo 6m gran eto que Mio forse esvullo ow pittor no set seal” dp, 20 Como tals afta: G88 estd0 no apendice, deduerse que prevalecem ax do texto princl= pal ~ matizadas peor nue dle John Ruski ns, OU nn, muna se sabe, em se tratando que toena a tneeta de axalisar seu de wna dnica obra, mais cheis de armadithas do que 0 iqualqyer autor A Lampada da Meméria # 6 proprio presidente do RIBA a época, George Gilbert Scott, como “o pier ofensor”. Porém, sua obra escrila sempre gozou de grande prestigio © popularidade, a ponto de a venda de seus lis vtos constiluir sua prineipal fonte de renda ao final de suia vida® , quando j4 se esgotara a grande heranga que recebera de seu pai (estimada entre 150 ¢ 200 000 li- br ais, como a Guilda de 3), empenhacla em sua maior parte em causas soci 10 Jonge, © mesmo ~ em escala incomparayelmente menor, 6 yerdade — em eontribui (des financeiras para_a causa preservacionis ‘Assim, nio é de toda urpteendente constatar a ressandincia de suas idéias em um Ambito tao distante da Inglaterra vitoriana quanto o panorama cultural 22, Conhecide voma autor da Estagto de St, Ps Geurge Gilbert Soot! (1811-18: perfodo, Apenas na dres da tuo = esteve envolvide nas obras le cerca de 26 catednais, 182 igee= 0 Felt as, oa Londres, Sir 2B) foi us doa enais ives atquitetos do nid en agau ~ tal como e' ja2 15 alrailian «6 castelon, Em. gue pescen ay ert Ihe ditigin, 9 + sobre eestauro ~ que estio na base do guia Consethon Gerais para os Promotores ta, Restaurapao de Kulficior Antinos publicado pelo RIBA em 18K was do perfodo, embora ner seenpre estejam refletidas em su pra 23, Foram venilidas $8 000 e« tials populares eoletaneas d blicaglo, em A871, até 1900, Consta que a venda de seus livros Une fendia entgo a expressiva quantin de 4.000 libuas por an, 24. Fm 1855, Ruskin propés « criagao, no Smbito da Sociedade de Antiqudrios, do unt Furvlo para a Conservagao (Contervution Fumi destinad® & mawilenyso ¢ eventual aquisigae de: tndveis hi ameagados dle destrulgao, Esteve também entre ns primeiroy siecle dy SPAB, a Sociedade para a Protegto dos Edificios Antip da por sev aeguidor William Morris, ett 1877 = esto nite as mais avane as de Sesame andl diies ~ uma de suas eseritoe © palesiris desde mun p 36 © John Ruskin sileiro das primeiras décadas do séeulo XX, prin- cipalmente entre os adeptos do Neocolonial. Um dos primeiros @ evidenciar tal repercussao ¢ o préprio deflagrador do movimento: © engenheiro portu- gués Ricardo Severo, que se mostra um leitor bastante atento de John Ruskin, como se potle ver no seguinte tre- cho de sua conferéneia “A Arte Tradicional do Brasil” Algans reclamam que, para compor a arquitetura mom tuental de uma cidade moderna, sito necessérios os moles elds sieos consagrados das obras-primas da humanidade, aplicando cada arquiteto 0 estilo a que o seu talento pode dar mais inten= sa expresso artistioa: essa deveria ira fonte da inspiracha ~ a arte é universal ¢ nto nacional, Mesmio quando seja justa esta maneira de ver, hd que ponderar que o carter dee uma cidade no Ihe 6 dado pelos seus monumentos, colocadas em pontos dominantes, grandes pragas ou lugares histérieos. Ligam esses locais as ruas ¢ avenidas, marginadas por casas de vartaclo des- tin ¢ sio estas que dio a caracterfstica arquitetdnica da ¢ dade: com efeita, 0 monumento @ uma excegaa, a casi & a nota nommal da vida quotidiana do cidadao, & come wna lapis epigrifica du sua ascencéneia eda sua histori, ‘Tais ecos da segto V da “Lampada dla Meméria” podem ser retragados a partir das afinidades entre Ricardo Severo ¢ o movimento da “Casa Portuguesa” = movimento de valorizagio da arquitelura vernécula portuguesa apoiado pelo historiador Rosa Peixoto & ade de Cultura Antica, Conferieios 1914-1018, $30 Paulo Tiposralia Levi, 1916, pp. 79-B1, Tratasse da conferéneia eta que Tango ¢ movlinente ne ato dizer A Tampada da Meméria #8 pelo arquiteto Raul Lino — estabelecidas quando de sua estadia em Portugal entre 1897 e 1907. Raul Lino —cujas idéias aleangaram certa ressonfincia no Bra- sil, através da obra A Nossa Casa — Apontamentos so- bre o Bom Gosto na Construpdo das Casas Simples ¢ de artigos difundides na imprensa espectalizada — estu- dou arquitetura na Alemanha, onde teye contato tam bém com a tendéncia romantica inglesa de matria ruskiniana ligada ao Arts & Crafts, As idéias de Ricardo Severo, por sua vez, conta- giaram aquele que vitia a tornar-se 0 principal pala- dino da arte e da cultura genuinamente brasileiras: Mario de Andrade, que, no infeio da década de 1920. entusiasmou-se geandemente com_o Neocolonial”. Em 1920, apés empreender uma viagem a Minas Ge~ rais, Mério escreveu uma série de artigos invocando nominalmente a autoridadle de Severo como estudio- so da arquitetura colonial brasileira’, Significativa~ mente, 0 trecho da conferencia A Are Trusdicional no Brasil acima citado, relative a importineia da arqui~ 26, Para wena biogeafia de Raul Lino, ver Joto de Souza Hodolfo, Luts Critino do Sita «0 Arqutensa Madea em Portugal, Lisbon, Dom Quinoie, 2002. FE digno de not, a vse wspeita, que a Began de arqutetara de Sen nude Arie Nodema de 1922 so eompunta de-un projet teecolon de auorin do aruiteto pols Georg Praytembel alm de daemon de influénela Adt-Déco realizados por outro estrangeitm, Ant Moya. 28, Publicadas originalmente em A Cigarra ¢ na Revista do Brasil, © tes artigos foram reproduridos por Claste Kronloauer (ng) 4 Ate Religinn no Brosil, Croniens Publicedas aa Reviv do rw! om ist0, Giordarn 1908, Sto Paulo, Experimenta’ 386 John Ruski tetura dloméstica, chegou a ser entao transcrite por Mario: Os grandes monunentos podem ser consirados nos estilns aque se universalizaram mais ou menos pel sua beleza, No mo difiea a feigdo dunia cidade brasileira que Ihe seja a catedtal de estilo gético. A justificativa da nossa estaria nas proprias paz 1, layras do St. Ricardo Severo, apéstolo do estilo neocolo quando diz: “o carater duma cidade nao @ dado pel seus momumentos, olocados em pontos dominantes, grandes pracas ou lugares histéricos, Trata-se, portanto, exalamente dacuele trecho em que é evidente a repercussao a “Lampada da Memé- ria", como vimos. Embora o tom geral desses artigos esteja distan- te da espontancidade ¢ ousadia intelectual que viriam a caracterizar a obra de Mivio de Andrade, assomam aqui ¢ ali pontos de vista potico convencionais em seus enmentirios ~ prineipalmente sobre as igrejas do Rio de Janciro e de Minas Gerais, que visilara pesso- almente, Comparou, por exempla, a Igteja de Sao Bento do Rio de Jane’ Nibelungos”: considerava Sao Franc com “a eaverna dos co da Penitén- cia “positivamente feia", devido a seu “aspecto exte- isonho ¢ desajeitado”, Seu interior, porém, era dligno de elogios: Mario comparou-o a uma casa de moradia: “..apesar de totalmente dourada, € afetuo- 20, Krona: 94, ALimpata da Meméria ¢ 9 sa, 6 alegre, tem um ar familiar de quem dizz ‘Sente: se, A casa é sua’ Esses mesmos trechos nos remetem novamente a outros trechos de Ricardo Severo, em que ele de monstra compartilhar das nogdes associativas de Be- leza to exploradas por Ruskin: Na arquitetura de uma casa so partes integrantes da su armadura externa 9 Lelhada € os muros, como na cara os belos 6-0 rosto. ¢ so datos de expresses as janelas © as por- tas, como os alhos © a boca, dando a caractertstiea da sua fisionomia, Assim, hd casas de amoroso semblante que pare- cet ninhos perpétuos de idilins « naivados, outtas de aspece to hospitaleito © generose como fraternais albergues. graves algumas ¢ sisucas como tribunais on cadeias. autras ainda que so antipiticas ¢ repulsivas, ¢ mais raramente agunus que por sotumnas e misteriosas, como habitagdes de duu jes, s¢) causa, assombragdo © despraga”, Mas camente voltade & dimensaa fisien da preservagio de também de um ponte de vista mais especifi- jar a ressondncia de Jolin monumentas, 6 possivel det Ruskiit no contesto-brasileiro, Por se tratar de ampo imo explorado, tal ressonfincia se reve: ainda pouquts te de maior interesse ~ tanto mais se pensarmos na abe soluta predominancia da cultura francesa na intelli 80, Hd 31 69.70, iriedade de € wea Amistica. op. eft pps 5 legiasse associagdes morais, em alguns: momentos n privé fa la hhém associagaes cle eunho picaldgico ~ 20 com oy mataedes-em balango do Palazzo Vecchio, de Flarengay 9 wm lu Fraseido (Cops IH, § NIL ps 76 ar por ese 0 * John Ruskin gentsia brasileira, 0 que, no tema em questiio, nos reme- teria a sew antipoda Viollet-le-Duo™. De fato, conceitos ruskinianos sobre a importfin- cia dos ediffcios antigos e sua conservagao ~ em opo- sigdo a qualquer idéia de intervencao restaurativa — esto presentes em data tio precoce quanto. 1904, no relatério sobre “Os Reparos nos Fortes cle.Bertiog: preparado por Euclides da Cunha para 0 Instituto Histérico-c Geogréfica de-StoPaulo®; Trata-se de conservar duas grandes reliquias, que com- pensam a falta ubseluta de qualquer importincia estreitam cn te utlitaréa, como ineateuldvel valor histérieo que thes advém das mossas mais remotas tradiqies Compreende-se, prorén que Lals reparos tendom apenas a-sustar a marcha das ruinas, Quaisquer melhoramentos ou te toques, que se executem, sextlo contraproducentes, deade que om como de fato estd, na sua mesma vetuster, no aspecto caruce terfstica que Ihe imprimiw o curso das ielades, cipal encanto dos dois notiveis monumentos. esteja, 42, So surpreendestempate raras as mengdes a Viollet-le-Duc na ime prensa do perfodo, ¢ gezalmente ligadas a sun dimensto dla wstulioso dda arquitetura gética ~ coma 60 caso do longo artigo “A Alma das Catodrais”, et que Gustavo Barroso discorre sobte as eatedrais g6- eas européias, citando nominalmente Viollet-le-Duc, No Aigo fol tanseito também um trecho da LAmypada da Meaméria (ure trajdo Brasileira, m, 16, dezembro de 1921). J4 0 deputado pemombueano Luiz Cedro, em seu projeto de lei de cxiagtn da Tos= petoria dos Mosumenas Nactonais, em 1923, meneio Francesa ale 80 tke margo de 1887 ¢ inxocava © artigo " démoliaseurs", de: Victor Hugo, em defest de seus arguments, foia, Rio de Janeieo, José Auuilar, 1966, vol. 1. pp. mata a lel A Lampadn da Meméria + 41 Euelides da Cunha toca aqui ne questo da patina, um dos temas ruskinianos que ganha desta- que na década de 1920, como se vé no artigo “Chala- rizes do Rio de Janeiro”, em que o gravador Adalberto de Mattos pelos chafarizes carioeas, const realizando uma peregrinagio imagindria a: Bem raras sido as vetustas recordagdes historieas que conservam 0 cunbo caraeteristico ¢ tradicional. Tudo tem mus dlado, mais ou menos dentro do prisma estétioo, deste quele administrador, As grades clos mossos jardins, a cantaria dos nossos ediffcios af esto, elamando piedade. Os nossos thonumentos acompanham em cato esses queixumes. A Lnpie- dade 08 atinge, emprestandorthes um aspecto de masearacla, Pore simular iin amar que no existe, Langam mao da es cova e dos edusticos, com que inutilizam as patinas, pn sa colaboragao do tempo, Exeruplo vivo desse sactilégio € 0 so- berbo monumento de D. Pedro L, ques violentamente esfregaclo, para em seguida serem os seus dau e ver em quand, 6 rados avivados com o faitdics onro bananat,.2! A mengao ao ouro “banana” ~ sucediineo barato do metal precioso, visualmente espalhafatoso artifi- cial ~ remete a consideragdes feitas mais ou menos na mesma época por um jovem arquiteto bastante préxi- mo do cfreulo neocolonial c lémica figura de José Mariano Filho: Liicio Costa, sea, liderada pela po- Em geu artigo “A Alma dos Nossos La condenava o ideal de perfeigio doméstica entilo vigen- 84, ttustrapao Brasileira, n. 10, Rib de’ fanoirm, junio dk 102, 42° © John Ruskin te, em que imperava o aprego pelo “novinho”, * dinho™, “bonitinho”, afirmando; © ideal ens arquitetioa domeé to etermamente novo, reluzente, lustrada, polida, que parece gri- Jado coma tinta!” Nao, tar-nost “Cuidado, no mie toguem! Ct Tonge disso, A verdadeita casi 6 aquela que se harmoniza com o ambiente onde situada esti, que tem cor local; aquela que nos eonvida, que nos airai, © parece dizer-ness Sea henvindo** Seguem-se palavras em que a nogio de empatia entre a edificagito ¢ » morador ~ tio eara ao pensamento suskiniano — 6 enaltecida: Com o mesmo amontoatlo de moedas que se fax uma casi pretensiosa, inexpressiva e fria, de uma complicagiio que nada exprime.., pode-se fazer uma jéia de arquitetura, tum parafso onde se viva: uma casa rica de simplicidade, de beleza, de conforto: que parcga viver conosce e conosco sentir: que tenha personalidade: que esteja em harmonia com o temperamento daquel que nela mora... Uma casa qqie tenha alma, enfin, A repercussiio do pensamento de John Ruskin particularmente evidente nos eseritos do médico per- nambueano José Mariano Filho, mentor intelectual do Neocalonial no Rio de Janeiro e um dos primeiros a en- saiar uma abordagem da arquitetura colonial a partir de condieionantes de partido ~ téonicas e recursos dis- pontveis, earacterfsticas climdticas do pafs, ete. (o que A Noite, 19.3,192 A Lampaita da Memdrin #49 ele chama de “arquitetura mesoldgica”}, A despeito de suas intimeras incorregbes a esse respeilo, 6 ines gavel sua postura de valorizagao daquilo que ¢ espe: effico, local, nacional, expressa em varios artigos, tal como “A Nossa Arquitetura”™: Que espirito & esse que emoldura docemente nutn quae dro de tranqilila beleza as velhas cidades de antanho? Por que motivo inexplicével o velho solar da marques de Sane tos é mais nobre. mais “nosso”. do que o earicato Pavilhao Monroe? (...) Eo esptrite do pasado; e & a ease espirito que eu chamo o “cardter” na arquitetura colonial, As evidentes referény ¢ pictdricas remetem-nos a0 Setecentos; mas a mengio ao “espirito do pi a do” nos leva diretamente & nog&o ruskiniana de pito- resco, Alids, 0 préprio Mariano Filho encarrega-se de cité-lo nominalmente ao longo do artigo, quando trata da verdade dos matetiais ¢ do anti-convencionalismo das arquiteturas locais: A simplicidade desse easardo proyém daquele disereto equilfirio de massas de que os grandes mestres possuem a justi medida, Tudo nele € verdade, Tudo tem a sua razdo de see, a suid Jogica. o seu sentida, O patio estabelece a corrente de ar emine 0 clausteo ¢ 08 aposentos que Ihe estado em torno, 0 aljendie ali gareite quebra « trunqdilidade da fachada engrinaldada trepadeitas virentes, Brasileira, ne 19, Tio de Janielto, mango de 122, af H* John Ruski Ruskin, © gético, 0 teria canonizado sob a lux serena das sete Itmpadas eternas da arquitetura, Mariano Filho também revela-se partidario cle uma postura nio intervencionista, de respeito & manuteng&o das caracterfsticus arquiletonicas ¢ da dignidade dos monumentos, como se vé no artigo sobre a demoligaio do Solar de Megafpe, uma das primeiras vit do do debate preservacionista no pats Conn orte brasileira acontece exatamente w que est acon lecendo com as florestas brasileinas, Discursos, poesias, © devas- ago por fi [uJ Chegou a vez [de Megaipe}, Ao menos nao lhe profanaram 9 corpo, como ao yelho edificia da rua do Pas- seio, onde funcionou a Maganaria brasileira, hoje loja de a metade inferior numa “boutique” modema, revestida de pedra attifici automéveis. Transformavam- 1, ¢ dei- xaram a parte superior tal como a havia coneebido a gran de arquiteto Grandjean cle Montigny Megarpe, av me nao sofrew o aviltamento de yestir roupas eanalhas, Mor reu com dignidade, EF de destacar, af, a comparagao entre a arte © 0 meio ambiente natural brasileiros ~ numa incipiente dentneia que nio.tem-paralelo entio. 3T-*A Casa de Megalpe' 6m Jord Mariana Filho, & Margem da Probl ina Arquitetonico Nacional, Rio de Janeiro, s.csp. 1943, p. 35. 0 oda Tn aco, em 1928, Solar de Megatpe foi demalido logo més a ¢ tadual de Monumentos Nacianais de Peruam ALimpada da Meméria #45 Um seu conterraneo, o poeta modernista Manuel Bande’ _ também compartilha da meame-postura, a0 alertar, em 1928, para a nee essidade de protegio do monio da cidade de Ouro Preto; OAL ¢ pat Essa tradigdo é que cumpre zelar. Nao pecmitir qu J arrufnem, como esté acontecendo com a deli+ sous templos eiosa eapelinha do Padre Faria, contempori descobrimentos cle ouro, Sobretude nto consentir nas rest dos primeires + ragiies depredadoras do vellio carater dos seus monumentos. A isso seria mil vozes de prefezir a rufna, que destrdi a maté= rig mas respeita a alma”. Como se ve, a idéias de John Ruskin repereuti- ram em literatos-e-intelectuais-de-vérhas-tendéncias, ainda que’se manifestem mais consistentemente no lo de adepios do neocolonial, tanto em Sto Paulo c como no Rio de Janeiro — onde se destaca Léicio Cos- la, que se revela leitor atento de Ruskin ao longo de toda a déeada de 1920, De fat, nv aitigy “O Aleijadinho © a Arquitetura icional”, de 1920”, encontram-se alguns dos tr chos mais genuinamente tuskinianos do perfodo, com Vendo aquelas casa surpresa, a gente como que s6 encontra, fica contente, feliz, aquelas igeejas, de surpresa em 88, Antigo “Defesa de Ouro-Paato", publicado originalmente enn Husa 40 Brastletra, 1, 97, setombyo de 1928, 9h can Crdnicas da Provincia do Brosil, Rio de Janein Givillnagto ura, Pato. Alegre, 4é © Jobn Ruskin ¢ se lembra de coisas eaquecidas, de coisas que a gente mune ea soube, avait) dentio de nds, no sei, Ao exaltar aquilo que é essencial na arquitetura colonial brasileira ~ 0 “verdadeiro espirito de nossa gene te” — em detrimento do decorativismo que attibufa ao artista mineiro, Liteio Costa investiu corajosamente con- tra o tinico scone entio reconhecido da arquitetura co- lonial brasi ra: assim qi 1 gente compreende que ele [0 Aleijadi= ho} tinka expfrito de decorador, nie de arquiteto, O arquix eto ¥4 0 conjunto, subordina o detalhe ao todo, «ele 96 via o sletalhe, penlia-se no detalhe, que as vezes o obrigava @ solue ‘e0es imprevistas, Forgas, desagradaveis, Ora, stias erfticas ao Aleijadinbo tém elaras afi- nidades com a adverténeia, contida na “Lampada da Beleza” (Cup. IV,§ XXXIV, p. 135), sobre 0 perigo da sedugao do ornamento escultérico para o arqtiteto: No momenta ea que o-auitetn se permite dar énfase as por Ses de imitagto [as omnatos copiados da natureza). existe uma cle que: ele perca de vista a dever do omamento de seu pate pel como parte da composig#o, © sacrifique 08 pontos de sombira & feito pelo prazer da talha delicada, E entiio ele i perdido. O desfavor das idéias de matriz ruskiniana fica, por outro lado, evidente a partir das palavras do mesmo Lite 10 Costa, anos depois, quando, descartando seu envol- vimento com © neocolonial, tachou-o de “ruskinismo re- A Lampaita da Memdria #47 na conhecida passagem do artigo “Depoimen- . de 1951": tardado to de um Arquiteto Carioc Foi contra essa feira de cendrios arquitetinicos impro Visadlos que se pretenden invocar 9 artificiose revivescimento formal do nosso préprio pasado, donde resultow m is um Lo, & neocol jal, fruto da interpretagto erréne jo Vi Ricardo Severo © por pationo José Mariano Filho. pseu das sébias lipdes de A |. que texe como precursor Tratava-se, no findo, de um setardado ruskinismo, quan- do jf no se justific esconltecimento do Av mais, na época, 0 entimenta profundo implicit na industrializagai, ner 0 mes 3s inelutéveis, Relembrada hospreze par suas conseqiéne agora, ainda mais avulta a irreleviincia da querela entre o fal- 20 colonial e @ ecletismo dos falsos estilos europens: era como nelada de vés- alheasento da tempestade iminente pera, ocorresse uma disputa por causa do feitio do toldo para sen 0 “gurden-party”, Apesar de desdenhar entdio essa matriz comum — 0 pensamento romintica do séeulo XIX em geral, ¢ de John Ruskin em particular =, nao seria surpreendente se estudos posteriores vierem a constatar que ela teve significa ior do que o proprio Costa se mostrava disposte a admitir. Afinal, as idéias de Ruskin, filtradas pelo grupo Arts & Crafts, constituem parte dos fundas mentos da prépria arquitetura moderna, 40, Conta, op. its ps LBS, grild-news. 41, Leonardo flexevolo considera @ ano de 1 = in da firma Mortis, Faulkner, Marshall © Co. idealizada por Willian Morris, o principal segvider d Ruski na Lngaterr = en thos marcos fr sane Moderna, Sto Paul rquitetura medlerna (itieia da Arguite pectivay 1976, ps 1) 48. © John Ruskin wee Tarefa drdua, sem diivida, a leitura e andlise de As Sele Lampadas da Arguitetura: extremamente spira- dora, por outro lado, De qualquer forma, 6 inegavel que 4 obra apresenta um rieo manancial de reflexes nto s6 tetura € sua preservagio no século XIX, sobre «ard mas ~ principalmente ~ sobre os ramos e dilemas aluais ie nos cabe enfrentar, a respeito esses mesmos temas. A Lampada da Memoria John Ruskin 1. Entre as horas de sua vida que e: memora com peculiar geatidao — por terem sido mar- cadas por mais do que a habitual plenitude de alegria ou clareza de ensinamento —, esté aquela pussacla, ja hé al- guns anos, perta do momento do por do sol, entre 0s ma= Cigos integulares de foresta de pinheires que orlam o curso do Ain, sobre a aldeia de Champagnole. no Jura, E um lugar que tem toda a solenidade, mas nada da sel- yageria, das Alpes: onde existe uma ser grande poder comegando a manifestar-se na terra, uma harmonia profunda e majestosa no ascender longas e baixas linhas das colinas de pinheiross a prime ra expressfio daquelas podetosas sinfonias das inonta- rihas, que logo se elevarao mais alto ¢ se despedi 2+ John Ruskin rio de modo indémito contra s ame! s dos Alpes, Mas esta contida; e 08 cumes distantes montanhas pastorais se sueedem uns aos outros, como a longa ¢ su a sua forga ainda de pirante onclulagalo que move dguas tranqiti- Jas yindas de algum distante mar tempestuoso. B existe uma profunda ternura perpassando aquela vasta mono- tonia, As forgas destrutivas © a expressio severa das cadeias centrais encontram-se igualmente recolhidas. Nenhum eaminho de antiga geleira suleado pela geada ow obstrutdo pela terra pertutha as macias pastagens do Jura; nenhuma pilha estilhagada de e pea scombros interrom- fileiras regulares de suas florestas nenhum rio fue rioso, entrincheirado ou pélido rasga seu percurso rude e instavel ent suas pedras, Pacientemente, redemoinho por redem inho, a8 claras correntes verdejantes serpen- teiam em seus leitos bem conhecido: le e sob a qui escura dos pinheiros impasstve bata, ano apés ano, tal quantidade de flores alezres como eu nao conhego igual entre as béngiios da tema, Era primavera, também: to- das estavam desabrochando em cachos, apinhadas por puro amor havia espago para todas, mas elas impren= savam suas folhas nas mais estranhas formas, apenas para ficarem mais préximas umas das outras, Havia a anémona dos bosques, estrela apds estrela, agrupando- se aqqui ¢ ali em nebutlosass ¢ havia a oxalfdea, tropa apés ropa, como as procissées virginais cdo Més de Maria, transbordando das seuras fendas yerticais nu pedra caledria como se fosse neve pesada, tocada pela hers nas bordas — hera tio delicada ¢ adordyel como a vinha oa) a pa de yer em quando, um jorro azul de violets, ¢ prfmulas ‘em lugares ensolarados: ¢ nos espagos mais abertor, & ervilhaca, o confrei, « mezerelio, & os pequenos bottes cor de safira da Poligala Alpina, e 0 morango silvestee, apenas uma floreseéneia ou duas, tudo salpieada em meio a macieza dourada do musgo de uma cor de Ambar quente e profunda, Eu entda atingi a beira do desfila- deiro: 0 munmtirio solene das suas aguas elevousse su- bitamente de baixo, misturado com a cangtio dos tordox entre 08 ramos de pinheito; e, do outro lado do vale, q cos cinzentos de cal- redado par penhas parecia emp: cdrio, um gavido voaya lentamente sobre os cimos, qua- se os tocando com suas asas, com as sombras dos pi nheiros adejando sobre a sua plumagem; mas com a escarpa de cem bragas sob © seu peito, € 08 pogos en- crespados do rio verde deslizando ¢ cintilando vertigi- nosamente debaixo dele, suas bolhas de espuma moven~ do-se com ele em seu vou, Seria diffeil coneeber uma enw menos dependente de qualquer outro propésite do que de sua prépria beleza séria e erma; mas o autor se lembra bem do repentino vazio ¢ frieza que foram Lan gados sobre ela quando tentou, para identificar mais pre- sencia, imagind-la cisamente as fontes de sua magnifi por um momento como uma cena de alguma floresta pativa do Nove Continente, As flores imediatamente i; a8 colinas tor perderam seu brilho, o rio a sua music haram-se opressivamente desoladas; o pexo clos ramos da Mloresta escurecicla mostrou quanto do sett poder an= terior dependera de uma vida que nao era suay quanto S4 © John Ruskin dla gloria da in ago & um reflexo de coisas mais preciosas do que ela para serent lembradas, em sua renovagao, Aquelas flo- res sempre a desabrochar e ribeites sempre a corer ti- nham sido tingidos pelas cores profundas da persistén- cia, do valor ¢ da yirtude humanas; ortal — ou continuamente renovada ~ cri- as cristas das colinas escuras destacadas contra o eéu yespertino me- rece! m uma veneragdo mais profunda, porque suas sombras distantes se projetavam a leste sobre a muralha de ferro de Jour © sobre a torre quadrada dle Granson', yt como centralizacora e protetora dessa influén- {Evel sogradi que a Arquitetura deve ser considerada GARE por nos com « inaior seriedade. Nos podenus.viver {oC sem éla, @ orar sem ela, mas ndo podemos rememorar fw sem ela, Conio € fia toda a histori toda fantasia, ¢ . como 6 sem vida miparada Aquilo que a nagao viva es 7) Orsreve, © o miirmore incorrupttyel ostenta! — quantas j/"" paginas de registros duvidosos nao poderiamos nos ‘ dispensar, em troca de algumas pedras empilhadas \ is sobre as otitras! A ambicdo des construtores da velha Babel vollava-se diretamente para esse mundo: hi apenas dois fortes ve icedlores clo esquecimento dos homens, Poesia e Arquitetura; ¢ a ultima de alguma forma ineclui a p imeira, ¢ é mais poderosa na sua rea- lidade: € bom ter ao aleance nao apenas 0 que os ho- 1. Ao mencionar a fortaleas do Gransom. Ruskin sssinala a pr ‘nana nacuela regido, impeegnandona de virtudes hi serem encunradas 1a na is ~ possi Novo Continente, 20 desol A Laimpaclay ala Me mens ponsaram © sentiram, mas 0 que suas milox Mm nusearam, ¢ sua farga forjau, e seus olhos conten plaram, durante todos os dias de suns vidas. A época de Homero esté envolta em escuridao, sua prépriit personalidade, em divida. O mesmo niio acontece com a época de Péricles: © esta préximo o dia em que nis achmitiremas ter aprendido mais sobre a Grécia através dos fragmentos esfacelados de suas esculturas do que de seus doces trovadores ou historiadores soldados. Ese de fato houeer algun proveite ein 51: nosso conhecimento do passado, ou dl~ uma alegria na idéia de sermos lem brados no futuro, que possa fortalecer o exforco presente, ou dar alento a presente resignacao, hd dois deveres em relacde @ nossa arquitetura nacional cufa importdneia é imposstivel superestime o primeizo, tornar a arquitelura tual, hisiBrica; ¢ 0 segundo, preserear, como a mais pre- ciosa de todas as herangas, aquela das épocas passadas. Lae TH. Fem relagao d primeira dessas duas orie goes que a Meméria pode ser verdaceiramente conside- rada como a Sexta Lampada da Arquitetura; pois, é ao is ou monumentais que os ediffeios se lomarem memor civis e domésticos alingem uma perleigio vendadeinas ¢ “0 em parte por eles serem, com tal intento, construslos dena manera nid ida em parte por atiay dC piradas por wn ragies serem conseqlientemente significado historiew ou m 56 + John Rusk! Com relagao aos Qdilfe sempre haver uma certa limitagiie para intengdes desse Lipo nos poderes, assim como nos coragees, dos homens, mesmo assim 56 posse considerar como um mau pre: gio para um povo quando suas casas siio eonstrufdlas para ( far por uma geragio apenas, Existe uma santidade na casa de um homem de hem que no pode ser renovada em qialquier mioradia levantada sobre as suas rufnas; € acredito qué 08 hoinens honrados sentem isso, em geral que, tendo vivido suas vidas feliz © honradamente, eles ficariam desgostosos, ao fim de seus dias, ao pensar que © lugar do seu domieflio terrestre, que testemunhou, e parece mesmo compartilhar, sua honra, suas alegrias, ou seu sofrimento, ~ que esse lugar, com toda a histe que Tevelava delés, e de todas as coisas materiais que eles amaram e possuftamn, sobre as quais di java sua marea — sera arrasado, assim que houvesse lugar para eles no wienalar ja seria demonstracdo para com tal lugar, nenhuma afeicao conferida a ele, ne- nhum bem a ser extrafda dele por seus filhos; que em- bora houvesse um monumente para eles na igreja, nao havia nenhum monumento afetuoso em seu lar € mora- dia; que tudo © que sempre prezaram seria desdenhado, € que os lugares que os abrigaram ¢ confortaram sc a eduzidos 6. Eu penso que um homem de bem teme- ria isso; e que, mais ainda, um bom filho, um de jss0 8 casa de sew pai. Creio que, se os home he dente honrado, is vivessem de Nona | fato come-homens, suas casas seriam A Lampada da Memorig +5 templos — templos que nds nunca nos atrever(amos a vio- lar, e que nos fariam segrados se nos, fosse permit mo: rar neles; @ qué deve haver uma estranka dissolugiio do afeto waturat ima esteanha ingratidao para com ludo que 08 lares propiciaram e os pais ensinaram, uma estra~ nha-eonsettrcia de que nds nao fomos fidis a hanra de nossos pais, ow de que as nossas prdprins vidas nao silo dignas de tornar nossas moradias sagradas para nossos fithos, quando cada homem se resigna a construin para si proprio, e para a curta duragaa de siea propria vicla ape- nasE ofho para essas lastimdveis conerecdes de cal © ar- ila que brotam, precocemente emboloradas, alas campos comprimidos em volta da nossa capital ~ para essus cas instéveis, sem fundagies, de fuseus de madeira cas finas, @ imitagéto de pedra; para essas fileiras esqudlidas de mes- quinhez formalizada, semelhantes sem diferenga e sem so- lidariedade, to solitdrias quanto similares ~ nao apenas com a repugndneia indiferente da visdo afendida, nao apenas com pesar diante de uma paisagem profanada, mas com tum penoso pressentimento de que as ratzes de nossa grandeza nacional deve estar profundamente car- comidas quando elas estdio assim tito frouxamente cra- vadas em seu solo natal; de que essas habitagoes sem con- forto e sem dignidade sao os sinais de wn grande crescente esptrito de descontentamento popular; de que indicam um tempo em que a aspiractio de cada homem é estar em qualguer esfera mais elevada do que aquela que Ihe é natural, ¢ que a vida passada de cada hornem & se objeto de despreco habitwal: quando as homens coustrocen 5 © John Ruskin na esperanga de abandonar os lugares que construttam, & rivem na esperanca de esquever os anos que viverars quan do o conforto, a pas, a religito dolar eessaram de ser sen tidos; & as habitagoes apinhadas de uma popuéagas com bativa ¢ inguieta s6 diferem clas tendas eos drabes ow dos ciganos por serem menes saudavelmente abertas aos ures do eu, ¢ por sur nuenos felis escodha de sew lugar na terras pelo seu sactificio da tiberdade sem o ganho do repouso, ¢ da estabitidade sem o privilégio da nauclanga. IV, Esse nto € uny mal insignificante, sem cons quéncins; € ameagador, infeecioso, e fértil em outros erros ¢ infortiinios. Quando os homens nflo amam seus Jares, nem reverenciam a soleira de suas portas, @ unt nal de que desonraram a ambos, ¢ de que munca se deram conta da verdadeiza universalidade daquele culto eristao que deveria de fato superar a idolatria da pagiio, mas nfio sua devogaio. Nosso D Fle t 5 é um Deus nts do edu Har na moras tanto qu vam da de Gada homem: que os: homens estejam atentos quando destruiremena levianamente € jogarem fora suas cinzas, Nao é uma questo de mero deleite visual. nao é questio de orgulho intelectual, ou de eapricho erftico, a maneira como, e com qual & sofisticado pecto de durabilidude ¢ de perfeigao, as con clomésticas de uma nagtio devem ser erguida: daqueles deveres morais que nio deve ser negligen- ciado mais impunemente — porque sua percepgito de- pende de uma consciéneia sutilmente alinada e equi- A Lampadi da Meméria # librada — 0 de construir nossas moraciay com euida- do. paciéneia e amor, ¢ perfeigho diligente, com vistas @ sua duragdo ao menos por um perfodo tal que, no cure s0 sus supor que pet> dlos cielos naciomais, possa- dure até a completa alteragao de ditegilo dos interess ses locais. Isso, no mfnimo: mas seria melhor se, em todas as insténeias posstveis, os homens construfssem suas préprias casas numa escala mais compattvel com sua situagtio iniei final de sua carreira mundana; ¢ construissem-nas para 1, do que com suas realigagbes ao clurar tanto quanto busta obra humana; pode esperar que dure a mais ro- wzistrando para seus filhos 0 que eles foram, ¢ de oncle ~ se isso Ihes tiver sida permiti- do — eles as enderam. E quando as casas forem assim construfdas, poderemos ter aquela verdadeita arcuit tura doméstica, que dé origem a todas as outras, que dleragio a nao desdenha tratar com respeito con: pequena habitacdo, tanto quanto @ grande, e que in veste com a dignidade da humunidade sutisfeita a es- jas mundana: treiteza das circunstfin 2, Em sua autoblografia Prosserdtas Muskin affniaa cei ter tide conys ade para cam cvis fe sempre preferin as moradias rural (cottages) aoe caitelon Hum dese stan man Bo iieita vingein A Floresta Negra, teve w confirma ‘pho dessas preferéncias J Ie alpina (Suiss cottage) “escul inte ds moradia rural da regio, 0 chat ‘cov sofistieagao pola nével R soubea dos pinhil sun terra ancestral, ~ sem ser atacado © sem atacar, na grag pobreza virtuosa, da paz religtosa”, Ver publica Dovid Carrier, England and fre Aesthetes: Biography anit Awsterdatn, Gell Ants Intemational, 1007, py, 20-0 35 (N, da Yo) da vida eamponesa ano. 60 © John Ruskin V. Considero esse espftito de autodominio nobr orgulhoso e pacifico, essa plécida sabedoria da vida fon tes de grande poder intelectual de todas as époras e, al da grande arquitetura da velha Htélia e da Franga, Até hoje, a atraciio de suas ide nao na riquezaisolada de satisfeita, como provayelmente uma das maior sem divida, a fonte primor: mais belas cidades re: seus paldcios, mas na decoragdo requintada © cuida- dosrdas-menores troradnas de ‘eiis perfodos de maior esplendor, A mais elaborada pega de arquitetura em Ven E uma pequena casa no comego do Grande Canal, consistindo de um piso térreo © dois andares superiores, com és janclas 0 primeiro piso ¢ duas no segundo, Muitos dos mais refinados ediffeios se treitos, e nao tém dimen- s pegas da arquitetura do século XV no Norte da Lidia é uma pequena casa numa rua secundéria, atrés da praga do mercado de Vicenza; ostenta a data de 1481, ¢ 0 Lema encontrar nos canais mais sdes maiores, Uma das mais interessant IE west rose sans épine’s também possi apenas um piso Idrreo © dois andares, com trés jarielas em cad 8a. parados por uma tiea decoracio floral, e com baledes. 6 central sustentado por uma dguia com asas abertas, os laterais por grifos alados apoiados em eomucépias. A idéia de que uma casa precisa ser grande. para.po- dex see bem coisa de orige! de ralelo na idéia de que inteiramente_mo- tem pu enhuma pin- 5, Fin fvanees no originals Viao hd rosa sem expinko (N. da Ty. A Limpada da Mem tura pode ser hi 1, exceto se seu tamanho admi~ tir figuras maiores do que o natural, VI. Gostaria, entiio, que nossas casas de moracia usuais fossem construfdas para durar ¢ construfdas para serem belas; tao ricas ¢ cheias de atrativo quanto ponst= vel, por dentro ¢ por foras com qual grau de semethanga entre si em estilo ¢ maneira, dire’ em breve mm outro, t6pico!; mas, de todas as formas, com diferengas tabs que estejam de acordo com, € expressem, 0 cardter ¢ oCupit= Loria. . pertence a seu primeino cio de cada homem, e parte de sua h se di- reito sobre a moradia, ere construtor ¢ deve ser respeitado por seus filhos: seria desejdvel deixar pedras sem inscrigdo em determina- dos lugares, para nelas inserever um resumo de sua vida e sua experiéncia, elevando assim a habitagae a uma espécie de monumento, desenyolvendo, de for- ma mais Sistematicamente educativa, aquele bom cos- tume ha muito universal, e que ainda permanece en- tre alguns dos sufgos ¢ alemae: de reconhecer a graga de Deus na permissio para construir e possuir um refiigio sereno, em palavras tao doces que podem bem concluir nossa mengao a tais coisas, Copiei-as da fa chada de um chalé construfdo recentemente nas pas- vem da aldeia de Grindelwald tagens verdes que des para a geleira inferior: 4. assinto & rotomadto por Huskin ne capitulo seu da Obediéneia”, especialmente segdes V1 e VIL A Lampacln 62. + John Ruskin Mit hordlichen Verteawen Hat Johannes Mooter und Maria Rubi Dieses Haus baven lassen, Der liebe Gott woll uns bewahten Vor allem Unglick und Gefabren, Und es in Segen lassen stebn Auf der Reise durch diese Jammerzeit Nach dem himmlischen Paradiese, Woalle Da witd Gott sie belohnen Mit dor Friedenskrone Zu alle Ewighe' Vil, verla ser ainda mais prec quitetura gética ~ uso © term gético no sentido mais jew genética ao cl to mite uma riqueza de regisiros totalmente ilimitada, Suas decoragies esculléricas minuciosas ¢ multiplas Cm ediffeios publicas a intengdo histérica de- sa, Uma das vantagens da ar- amplo de op ssico — é que ela ad- ou lie proporeionam meios de expressar, seja sib teralmente, tudo 0 que precisa ser conhecido do senti= 0, de mento ou das realizagies da nagao. Mais decorag fato, sera requerida do que € previso para tio elevado fim; e muito, mesmo nos perfodos mais austeros, foi deixado a liberdade de imaginagio, ou constituin de 3. Em ale inal: Com afetuosn congangu ¥ Johannes Mooter « Marka Rubi / Fizeram consienir esta ease, / Qeeim ness0 amado Beas proteger / De toda a infelividade « perigos. / B manti-te {a axa) 1 ho Parts ce= ‘abencoada, / Na wayem através deste vale de lige lest (Ona des ws poses. / La Deus ox eovompensard / Ci 1s vine dw pas, / Por toda M, Kuhl e Lucia Becker (i ternidade (N. da Ty que sgradece Paslo 12 do texto aero} A Lampaila da Memoria © 63h eras repel blew ni de algum sfmbolo ou e nal. E, entretanto, geralmente insensato abdiear do poder ¢ do privilégio da variedade que o espitito da arquitetura gética admite, mesmo em meros ormaniens tos de superficie: mais ainda em elementos imporlan~ tes = capitéis de colunas ou-pedras-chave®,.e-fris0s, ey a, conta uma histéria ou do, naturalmente, em todos os baixos-relevos visfvei preferivel a obra mais rude que registra um fato, do que a mais rica sem signific Nao se deveria colocar um tinico ornamento em gran= des ediffcios cfvicos, sem alguma intencto intelectual, 4 representagao real da histéria tem sido, em tempos modernas, impedida por uma dificuldade, banal de fato, mas permanente; a da vestimenta indéeil’: toda- ufieiente- via, através de um tratamento imaginativo s mente corajaso. e franco uso dos simbolos, todos esses obstdculos podem se venvidos: talvez nio no gray ne= cessario para produzir escultura satisfatoria por si 96, mas de qualquer modo para Habilita-Ia @ tornar-se um grandioso e expressive elemento da composicao arqui- dderemos, por exemplo, 0 tratamento dos 6, Usualmente tradurida por 1 scinalment empregarta aqui vo, ott bossagems a palavra boss ti efinida com a signifiendo espectfien de pedtacchave por Augustus Welby Northmove Pugin, em The Prog Principles of Pointed or Christian Architectures Lailonls Heny. Bohn, 1858, p. 6 (N. du Ts), 7. No original, unmanageable costume, Ao que parven, to cites deste parigrafo, Ruskin se sefere a dlficuldade = tanto. Mone quanto expressiva ~ dos escultores contemporaneos we 1 Wal © panefa 64 © John Ruskin capitéis do pakicio ducal em Veneza A histéria, propria- mente dita, fora efetivamente confiada aos pintores de dus foi caste: ignificado. Aquele grande ~ a pedra angular seul interior, mas cada capitel de suas at gado de do conjunto, préximo a entrada —, foi dedieado a simbo- lizar a Justiga Abstrata cultura do Julgamento de Salomao, notavel pela bela sub- sobre ele encontra-se uma es- missio de 11 {ratamento & sua intengdo decorativa. As figuras, se o tema fosse unicamente composto por elas. teriam interrompido de modo indbil a linha do angulo, ¢ diminuido sua forga aparente: por isso no meio delas, in- teiramente sem relagdio com elas, ¢ exalamente entre 0 carrasco © a mie suplicante, irrampe 0 tronco rugosa de uma volumosa drvore, que reforga e continua o fuste da coluna do Angulo, cujas folhas acima dominam e enri- quecem 0 conjunto, 0 capitel, abaixo, porta entre sua fi Thagem uma figura entronizada da Justiga, Trajano fazen- do justiga & vitiva, Aristoteles “che die legge”’, e um ou dois personagens atualmente irreconheciveis devidlo & deterioragto, Os capitéis seguintes representam suces- sivamente as virtudes € os vicios, mantenedores ou des- nando com. truidores da pae © do poder nacionais, t a Fé, com a inserigtio “Fides optima in Deo eat”. Vé-se uma figura do outro lado do capitel, adorando 0 sol. De- pois desses, uum ou dois capitéis sto decorados de modo 8. Em italiano, com essa grafis mo original; textuadmente, a expressto significa “Aristoleles que de a Jes", no sentido de Aris dteles que formula, que eauncia, que ministea a lei (N. da T.. que ugradece Lisciano Wigliaccia e Simona Sal » pelos estan mentos), A Lampada da Mombria #65 Lene > imaginoso com passaros‘(Prancha 5)} ¢, entiio, vert nti série representando, primeiro as véirias frutas, a seguir 8 trajes nacionais, e, por fim, os animais dos varios es tados sujeitos ao dominio de Veneza, VIII, Agora, para nao falar de outros ediffeios pil- blicos mais importantes, imaginemos a nossa propria India House adornada deséa maneira, com escultura simbolica ou histérica: macigamente constru(da, para comegar; depois esculpida com baixos-relevos sobre nossas batalhas indianas, € ormada com entalhes de fo- Ihagem oriental, ou com incrustagoes de pedras orien- tai os mais importantes elementos de sua decoragtto compostos de grupos da vida € da paisagem indianas, destacando de modo proeminente 03 fantasmas do culto hindu em sua submissiio & Cruz, Nao seria uma tal obra melhor do que mil histérias? Se, entretanto, ndo pos- sufrmos a inventividade necessdiria para tais esforgos, ou itui provavelmente uma das mais nobres se~oque cons desculpas que nés podemos oferecer para nossa d ficiene’ falar sobre nés pri em tais assuntos temos menos prazer em prios, mesmo através do mérmore, do que as nagdes continentais, pelo menos nao Lemos deseulpa para qualquer falta de zelo nos aspectos que asseguram a durabilidade do ediffcio, Coma essa questo 6 de grande interesse em suas relagiien «ui to a escolha das vérias formas de decoragho, seri necessario abordé-la com certo detalhe, 66 © John Ruskin IX, Os cuidados e propésitos benevolentes das massas humanas raramente se estendem para alén da sua prépria geragio, Elas podem olhar para a posteri- dade como uma audiéneia, podem esperar por sua aten- ¢do, e mabalhar para seu louyor: podem confiar em seu reconhecimento de méritos até entao des ipercebidos, Mas tudo isso ¢ mero egofsmo e nado envolye o menor res- ¢ exigir sua justica pelos erros contemporaneo: peito ou consideragao pelos interesses daqueles cujo niimero ineluirfamos com prazer no efreulo tle nossos aduladores, ¢ cuja autoridade nés de bom grado invo~ cariamos em defesa de reivindicagdes ara contestadas. Nis 29 A idéia de auto-remineia em nome da Ac Tg in ‘hia Cos tal posteridade, de praticar hoje a econo- mia em nome de eredores que ainda nao nasceram, de plantar florestas em etija Sombra pos- sam viver nossas descenclentes, ou de construir eidades para serem habitadas por fituras nages, nunca, oreio ete incui-se de fato entre os motives de empenho publicamen- te-reconhecidos--Todavia, esses nao deixam de ser nossos deveres; nem serd nosso quinhdo sobre a terra adequaca- mente mantide, se 0 eseopo de nosso pretendido w delibe- rato proveito nao ineluir apenas os eomparhetros, mas também ox sucessores de nossa peregrinagdo, Deus nos emprestou a terra para @ nossa vida: é uma grande res- ponsabilidade, Ela pertence tanto dqueles que virdo de- pois de nds, e cujos nomes jd estdo escritos no linro da cria= gd, como a nds; e nde temas direito, por qualquer coisa que fagamos ou negligencieinos, de envolvé-las ern projut= ida da MM 20s desnecessdrios, on privé-los de beneficios cujo logadlo nos compete, F isso tanto mais, porque constitud ume das eondigdes prescritas do trabalho humano que a plenitude da, fruta seja proporeional ao tempo trenscorrida entre 0 plantio das sementes ea colheita: e que geralmente, por tanto, quanto mais distante colocarmos nossa meta, quanto menos aspirarmos a testemunhar, 16s mesmos, 0 resultado de nosso trabalho, tanto mais abrangente e rica serd a medica do nosso sucesso. Os homens nao sdo ca pe podem beneficiar os que virdo depots dete humana se faz ouvir, de 1 do benofiviar aqueles que esto com eles tanto quanto ede todos os puilpitos @ partir dos queais av nenhum efa aleanca tao longe quanto de titneuto, X. Nao ha, de fato, qualquer prejuteo para o sente, a esse respeito, em favor do futuro. Toda a agiio humana ganha em honra, em graga, em toda a verda- i, por sua consideracio pelas coi deira magnilicéne sas que virdo. Fa visao distante, a paciéncia serena ¢ confiante, que, acima de todos os outros atribuitos, di eu Cris tancia o homem do homem, eo aproxima de s dor; nao existe agdo ou arte, cuja grandeza nao possd ser medida por esse critério, Assim, quanclo construir- mos. lembremo-nos de que constraimos para sempre, Que nan seja para o deleite presente, nem para o uso presente apenas: que seja uma obra tal que nosso descendentes nos sejam gratos por ela; que nds pe bre pedra, quer semos. enquanto colocamos pedra vir 1am tempo em que aquelas:pedtas so 68 © John Ruskin deradas sagradas porque nossus mios as tocaram, € que os homens dirfo ao contemplar a obra © a matéria tra- balhada, “Vejam! Nossos pais fizeram isso por nds". Mwowan Pois, de fato, a maior gléria de wm edificio nao estdé em sicas pectras, ow em sew euro. Sua gldria estd em sua Idede, ¢ naquela profunda sen- sage de ressondncia, de vigilancia severa, de misterio~ sa compaixdo, até mesmo de aprovasde ow condenagao, que sertimos em paredes que hé tempos sao barhadas pelas ondas passageiras da humanidade, [Sua gldria] Estd no seu testemanho duradouro diante dos homens, no seu sereno contraste com o cariiter transitério de to- das as coisas, na fora que — através da passagem das estagoes ¢ dos tempos, e do declinio e nascimento das di- nastias, ¢ da mucanga da face da terra, e dos contornos do mar — mantém sua forma eseulpida por wna tempo in superdvel, conecta perfodos esquecidos ¢ siicessivos uns aos outros, ¢ constitui em parte a identidade, por con- contrar a afinidace, das nagéies Fi naguela mancha dourada do tempo que devemos procurar a verdadeira lus, a.cor e o valor da arquitetura; e somente quando une edificio tiver assumido esse cardter — apenas quando ele tiver se imbutdo da fame dos hamens, ¢ se santificado pelos seus feitoss apenas quando suas paredes tiverem presenciado o softimento, ¢ seus pitares ascenderem das sombras da marte — sua existéncia, mais duradoura do que a dos objetos naturais do mundo ao sew redor, pode- rd ser agraciada com os mesmos dons de linguagem e de vida que esses possuern, A Limpada da Meméria © 69 XI. Com vistas a tal duragito, portanto, & que deve- mos consteuir; nilo, certamente, recusando a nds mesmos a alegria da conclusio opartuna do edliffcio, ne tando em conferirthe aquelas earacterfaticas que depen dem da delieadeza de execugio no mais alto gran post vel de perfeigaio, mesmo que saihamos que no clinse dos anos tais detalhes farcosamente desaparecersios danda para que em obra desse tipo nenhuma qualidac duradoura seja sacrificada, e para que o efeito geral do ediffoio nfo dependa de nada que seja perecedouro, ssa seria, de fat, a lei de boa composicao em qualquer es & sempre uma questo mais importante do que o tratame: cunstincia, pois a disposigao das massas maior to das menores: mas, em arquitetura, muito desse me: ino tratamento deve ser habilmente proporeional & justa consideracdo dos provaveis efeitos do tempo: e (o que ainda é me importante considerar) hé uma beleza na- préprios, que nada mais pode subs- queles efeitos em s lituir. e que é sensato levar em consideragte e ambi nar. Pois embora, até aqui, estivéssemos falando do sentimento da idade apenas, hd uma beleza real em mareas, tao grande que tem com freqtiéncia constitufda scolas de art 0 assunto preferido de certas .-€ que ime primiu nessas escolas o cardter usual © vagamente ex- presto pelo termo “pitoresco™. £ importante para 0 nos so propésito alual determinar 0 verdadeiro significado dessa expressio, tal como é hoje geralmente usaday pois existe um prinefpio oriundo desse uso que, ao mesmo tempo em que tem implicitamente eonstitufdo a base de 70 * John Ruskin muito do que é verdadeiro ¢ justo em nosso julgamento, de arte, nunca foi compreendide de forma # tornar-se yerdadeiramente proveitoso até agora. Provavelmente henhuma outra palayra da Ifngua (com exeegao de ex- pressdes teolégieas) se tenha tornado o alvo de contro- yérsia Lio freqtiente ou tao prolongada; mesmo assim, nenhuma permanece to yaga em seu significado; assim, parece-me de nao pouco interesse investigar a esséncia daquela idéia de que todos compartilham, ¢ (ao que pa- rece) em relagao a coisas semelhantes, mas da qual to- dag as tentativas de definigto resultaram, acredito, ou na meta enumeragio dos efeitos @ objetos aos quais 0 termo foi aplicado, ou entiio em ensaios de abstragan mais vaos do que quaisquer outras malfadadas investigagies meta fisicas, Lim erftico de Arte, por exemple, hi pouco expis seriamente a teoria de que a esséncia clo pitaresco eon- to da “decadéncia universal”. Seria cu- te na expres rioso ver © resultado de uma tentativa de ilustrar essa idéia do pitoreseo, numa pintura de Mares mortas @ frutas estragadas: igualmente curloso seria tragar 6 desenvol- simento de qualquer raciocinio que, buseado em tal teo- ria, explicasse o caréter mais pitoresco de um filhole de asno, quando comparado a um potrinho, Mas hé muitas deseulpas para 0 completo fracasso de rackocinios ess lipo, uma vex que 0 assunto é, de fato, um dos mais obs- curos entre todos 0s que pocem legitimamente ser sub- metidos & razdio humana: a idéia 6 ela propria (Mo varia danas mentes de diferentes homens, conforme seus tens de estuco, que nao se pode esperar que nenhuma A TAmpade da Memoria» 7 definigio abarque mais do que un certo niimero «de suas infinitamente variadas formas. XII. Aquela caracteristica peculiar, entretanto, que distingue o pitoresco das caractertsticas dos temas que pertencem a mais allas ( Isso 6 tudo que ¢ necessdrio definir, no momento), pode ser expres sa de forma breve e conclusiva, 0 pitoresco 6, nesse sentido, a Sublimidade Parasitéria’, Charo que-toda,. st- blimidade, assim como toda a beleza, é no sentido eti- moldgico simples, pitoresca, iste é propria para se tor-y)) naPo tema de uma pintura; e toda a sublimidade 6 mesmo no sentido peculiar que tento desenvolver aqui, pitoresca, em comparagao com a beleza; isso quer dizer que os temas de Michelangelo sto mais pitorescos do que 08 de Perugin », em relacdo d preponderancia do ele- mento sublime sobre 0 belo, Mas aquela caracterfstica, cuja busca excessiva se considera geralmente aviltar a arte, 6a sublimidade parasitdria; ou seja, uma sublimi- dade que depende de avidentes, ou das caractertst as menos essene is, dos objetos aos quais pertence: 0 pi- toresco desenvolte-se inconfindivelmente na proporean exata de sua distancia da centro conceitual daquetes as- pettos de-vardtrer nos quails subtimidade & encontrada, 9. Enhera ps preferénela ao terme bub imidade ~ ov “qualidade daquilo que é sublit I do original em o usual em ponugues, deus como trea Uh fi ‘usual ta Hitetaaea ingen lo basta hos eosiances de Jane Auton (N. aT) 0. De teat tstarxe de tem + John Ruskin Assim, duas iddias s 10 essenciais para o pitoresco — a primeiri, aqiela da sublimidade (pois a beleza pura nBo é nuda pitoresea, & 86 assume tal carter na medida em que o clemento sublime se mistura com ela); a segunda, ‘de tal sublimida- . Portanto, 6 claro que quaisquer caracterfsticas de 4 posigao subord d linha, ow sombra, ou expresso, que produzam sublimi- nada ow parasil dade, prodwairto também o pitoresco; quais silo essas caractertsticas @ 0 que tentarei demonstrar detalha- damente, daqui por diante; mas, entre aquelas usual mente reconhecidas, posso mencionar linhas angulares ¢ quebradas, oposigoes vigorosas de luz ¢ sombra, © 0 res escuras, profundas, ou fortemente contrastadas; to das essas caracteristicas producirto efoito em grau ain= dda maior, quanda — por semelhanga ont associaco — elas sublimidade ver- . como roched nos relembrarem de abjetos nos quai dadeira e essencial exit e montanh nuvens tempestuosas ou ondas, Agora, se essas carac~ terfalicas, ou quaisquer outras de uma sublimidade mais alta mais abstrata, forem encontradas no proprio dma- go e substincia daquilo que nés eontemplamos ~ assim como a sublimidade de Michelangelo depende da ex- pressio da qualidade mental de suas figuras, muito mais do que das préprias linhas nobres le sua disposigto varie que representa tais qualidades no pode ser cor- relame’ ie chamada de pitoresca: mus, se elas forem en- contradas nas qualidades acidentais ou externas, 0 re= suiltado seré @ inconfundivel pitoresco. pada da Memoria 73: XII, Assim, no tratamento das feighes da face hu mana por Francia ou Angélicn, as sombras so enpregt- das apenas para tornar os contornos das feighes claraneni- te percebidas; é para essas m do observador ¢ exclusivamente dirigida ( smas feigdes que a atengllo io & pata as caracter forca e toca a sublimidade residem nelas as sombras sso ticas essenciais da coisa representada), Toda a usadas apenas pata destaque das feigdes, Ao contrério, em Rembrandt, Salvator, ou Caravaggio, as feigdes igicla, as= silo. usadas par curse das somibrasy @@ atencio € sim como a energia do plntoy, para caracteristicas de luz e combra acidentais, langadas sobre aquelas feigdes, ou em No caso de Rembrandt, encontra-se freqtien- torno del temente, além do mais, uma sublimidade essencial em expressio, e sempre um alto grant dela na luz @ na propria sombra; mas se trata, nia maiotia das vere da sublimidade parasitéria ou enxertada em relag&o a0 tema da pintura, e, nessa mesma medida, piteresea XIV, Por outro lado, no tratamento das esculturas do Partenon, a sombra é freqlientemente empregada co- mo um campo escuro sobre 0 qual a8 formas #40 dese~ ithadas. Esse € visivelmente 0 caso nas métopas, ¢ deve ‘camente o mesmo no frontdio, Mas 0 uso dit ter sido pra quela sombra se destina inteiramente a mostrar os Timi tes das figuras; é para as suas dinkas, @ nfo para as fore mas des sombras atrés delas, que a arte e o alho sao dirigidos, As propri 5 figuras sto concebidas, tanto quanto possfvel, em plena luz, auxiliadas por teflexos 74+ John Ruskin brilhantes: so desenhaclas exatamente como as figuras brancas sohre fundo escuro, nos vasos: e os escultores dispensaram — ou mesmo se esforcaram para ¢ todas as sombras que nao fos Lar ~, m absolutamente neces siirias para a explicitagtio da forma, Ao contririn, na es cultura gética, a sombra toma-se ela prép som @ objeto de tengo, FE considerada como uma eor escura, @ 8eP di posta em determinadas massas agra ddiveis: as figuras sito muito freqiientemente executadas de forma subordina- dad disposigao das suas dr. 5: seu tray é enriquecide em detrime 10 das formas recobertas, para aumentar a complexidade ea variedade dos pontos de penumbra. Existem, assim, tanto em escullura quanto na pintura, duas escolas opostas, por assim diz das quais uma busca como tema as formas essenciais das coisas. © a outra, as luzes © sombras acidentais sobre elas, Ha varios esidigios nessa oposigdo: graus intermedidrios, como nas obras de Correggio, @ todas as gradacoes de nobreza ott slegradogt aay inais vatiadey formas: anes a primeira sempre reconhecida como a escola pura, ¢ a outra, como a escola pitoresca, Partes de tratamento pitoresem serio encontradas em obras gregas, e de puro e ndo-pitoresco no go re 0s quaiy se destacam as obras de Michelangelo, nos ic; ¢ em ambas hé inumerdveis exemplos. quais as sombras se tornam valiosas como meio de e: pressio e, portanto, alinham-se entre as caracteristicas Sobr essenciai: essay numerosas distingdes © 0 alongar-me agora, desejancle apenas provar a ampla aplicabilidade da definigao geral cagbes ndlo pos A Limpada de Memérin x Ao, nao apenas entr - Por outro Lada, poide-se encontrar uma distin= e formas é sombras como temas de sssenciais © ndo-essenciais, escolla, mas entre formas Encontra-se uma das principais distingdes etre as es: colas de escultura dramética & pitoresea ne tratamento do cabelo. Este era considerado pelos artistas do tempo de Pétieles uma exereseéncia, indicada por poucas € rudes linhas, e subordinada, em cada detalhe, as carac- terfsticas principais da pessoa, Quao completamente a era uma idéia artistica, e niio nacional, é desneces~ sério provar, Precisamos apenas lembrar da atividade dos Lacedemdnios, relatada pelo espido persa na véspera da hatalha das ‘Termopilas, ou langar um répido olhar ent qualquer deserigito homérica da forma ideal, para ver quo puramente escultieral era a norma que restr representagio da cabeleita, afim de que, dadas as des- vantagens inerentes ao material, ela niio interferisse na Ao contrério, na escultura clareza das formas pesso. posterior, os eabelos recebem quase todas as atengdes do artifice; ¢, enquanto as feigdes © os membros sao desajeitada © toscamente executados, os eabelos sao ca- cheados ¢ trangados, recortados em saliéncias audazes e sombrias, ¢ aranjados em massas ornamentais elabo- radas; existe verdadeira sublimiclade nas linhas e no ela~ ro-escuro dessas massas, mas ela 6, em relagio a ra representada, parasitéria, ¢ portanto pitoresca. No mesmo sentido, podemos compreender a aplicagao do termo d moderna pintura de animais, que se tem distin- rilho, @ textu- guido por uma peculiar atengan as cores 26 © John Ruskin ra do pelo; nfo & somente na arte que a definigio se pro- va adequada, Nos préprios animais, quando sua subli- midade depende de suas formas ou movimentos muscu lares, ou de outros atributos necessérios © principals, como acontece principalmente com os cavalos, nio os denominamos pitoreseas, mas os consideramos particu larmente aptos a serem associados com temas puramen- te histéricos, Exalamente na propargio em que seu ca réter sublime se revela em exerescéncias ~ na juba, como no leflo: nos chiftes, como no veado; na pelagem aspera, como no acima mencionado exemplo do filhote de asno; nas listras, como na zebra; ou na plumagem =, eles se tornam pitorescos, e so assim na arte exatamente na proporgito da proeminéneia dessas earacterfsticas secun- dévias, Muitas vezes, pade ser muito conven te que sejam tao proeminentes; cam freqtiéneia hé nelas 0 mais alto grat de majestade, como nas caracteristicas do leo pando ¢ do java: e nas n trih ¢ Rathens. taie as mais allas ¢ as pitoreseo de seus intentos & sempre claramente reconhe= civel como acerente & superficie, & caracterfstica menos essencial, e desenvolvendo daf uma sublimidade diver sa daquela da propria eriatura; uma sublimidade que é,de ¢ sempre ames a forma, comum a todos 08 objetos da criagao, ma nos seus elementos constituintes, se jam eles procurados nas ragas e dobras das pelagens hirsutas, ou nos abismos e fendas das rochas, ou no cojar do mato nas encostas das colinas, ow nas alter- A Limpada da Memoria © ndneias de vivacidade ¢ tristeza no coloride da conchay da pena, ou da nuvem. XVL Agora, retornando ao nosso assunto prinelpaly focorre que, em arquitetura, a beleza acessdria © ack tal 6 muito freqtlentemente vagio do cardter original [da obra}; 0 pitoresco ¢ assim a na deterio= den- \compatfvel com a preser- procurado na rufna, € supde-se que com ragio, Sendo que, mesmo buiscado af, trata-se apenas da sublimidade das fendas, ow fraturas, ou manchas, ou ve~ Nature- ra dla getagio, que assimilam a arquitetura & ob za, e conferem a cla aquelas particu jiidades de cor caras aos olhos dos ho- forma que sio universalment mens; Na riedida ein que Is60 acarreta o desuparecimen- trata to das verdadeiras caracteristicas da arquitety se do pitoresco, € 0 attista que presta mais alengao na haste da hera do que no fuste de coluna realiza com mais cia do escultor decadente ousado atrevimento a preferes pela eabeleira em vez do semblante, Mas us inedida em que possa lornar-se compalfvel com o caréter inerente da arquitetura, 0 pitoreseo ou a sublimidade extrinseca terd exatamente essa funcdo, mais nobre nela do que em qualquer outro objeto: a de evidenciar « idade do edifi- cio - aquilo que, como jé foi dito, constitui sua maior gld- ria; €, portanta, 08 sinais exteriores dessa gléria, tendo poder ¢ finalidade mais importantes do que quaisquer outros pertencentes a sua mera beleza sensivel, podem colocar-se entre suas caracteristicas mais puras @ essen 5; tdo essenclais, em minha opinidio, que pense que 78+ John Ruskin nao se pode considerar que um edificio tenha atingido sua plenitude antes do decurso de quatro ou cinco sé- culos: € que torlas as escolhas e disposigaa de seus de- talhes [construtivos} deveriam ar-em conia sua apa réncia depois de um tal periado, de modo a nio admitir nenhum «que fosse suscetivel ao dana material necessa- riamente imposto por esse lapso de tempo, seja pelas manchas de exposigio as intempéries, te mecdnice eja pelo desgas- XVIL Nao é minha intenedo abordar nenhuma das questies que a aplicagio dese principio envolve. Elas sda de um interesse e una complesidade grandes dlemais para serem ape i tocadlos dentro de meus presentes li- mites; mas se deve genericamente notar que aqueles « tilos de arquitetura, que sto pitorescos no senticlo expli= cade sicima a respeito da eseultura, isto é, cuja decoragao depence da disposigao dos pontos de sombra mais do que da pureza tle contomo, naoapi mitral 40 prejudi= cados, como, ao ci , geralmer nefietam de orseus detalhes ao parchifmen- te desgastados! par isso Tals eatilos, principalmente riqueva de efeito quam aquelés do gético francés, sempre devem ser adotados quando 05 materiais a Serem empregados forem sujeitos a deterioragao, tais como o tijolo. 0 arenito, ou a macia pedra calcdria; e os estilos ependentes em qualquer grau da pureza da linha, como o g6tico italiano, «lever ser totalmente executados inateriais dures e nao depradive tais como 0 granito, a serpentina ¢ 08» \ Leawmpada da Meméria © 79 mares eristalinos, Nao pode haver david que a na- tureea dos materiais disponfvels tonha influenciado a for- raggio de ambos os estilos; ¢ cla deveria delerminar em mais autoridade ainda nossa escolha entre: ambos bboeoeucPo XVIIL Nao faz parte de meu presente pltino & enitiar em alongadas consideragées sobre a segunda categoria 1 preservagito ieriormente: de deveres que meneionei dda arquitetura que possufmos!: mas algumas poteas pa lavras podem ser desculpadas, por serem especialmen- va Me te necessdrias nos tempos modems. A sss chads Ree: vem pelo pribléco, nem por-aqueles en- we w pier forms de Dest ‘carregados dos: monumentos prtblicos, ro significado da palavra restauragdo é com- o verdad preendido, Bla sisenifica a mais total destruigo que um struiedo da qual nao se salva edificto pode softer: uma 4 ngrhum vestigio: uma destruigato acompanhada peta fel- sa descrigao ta coisa destrulda’’, Nd nos deixemos en- ganar nessa importante questio: ¢ impossivel, #éo impos- sivel quanto ressuseitar os mortas, Festaurar quctlquer cots que ja tenha sido grandiosa ou heda em arquitet ra, Aquila sobre 0.que insisti aeima como sendo a vida do conjuato, aquele esparto que s6 pode ser daclo pela Wid, ou pelo olhar do artifice, nado pode ser restinuldarrirncn. 10, Coma se v8 Ruskin referesse ainda uo Aforismo. 27: assim, Lilo « obra catngorla de, leveres que abordoy até agora diz respeito & pel nqultctura contempatdira (N Af sugerida, isto 6, tort histériea de Ts 11, Falsa, tamhéos, como uma parcdia, 2 mais odiosa forma de fal: dade (Nota do Autor aceoscentada b edigto de 1880), BO + John Ruskin Uma outra alma pode ser-the dada por um outro tempo, ¢ serié entdo wn novo edificios mas 0 espirito de ariffice mor- 10 ndio pode ser invocado, ¢ intimado a dirigir outras maos e outros pensamentos, E quanta a edpia direta ¢ simples, ela 6 materialmente imposstvet. Coma se podem copiar su- perficies que se desgastarem em meia polegada? Todo 0 acabamento da obra estava naguela meia polegada que so foiz se voce tentar resteurar aquele acabamento, voce 0 fard por conjecturas; se vocé copiar o que permanece — ad- mi indo ser possteel a fidelidade (e que cuidado, ou pre- caugato, o1 despesa pode garantir isso? J, como pode a nova obra ser methor do que a antiga? Havia ainda na antiga alguma vida, alguma sugestio misteriosa do que ela fora, ¢ do que ela peedera; algume dogura nas linhas suaves que « chuwa ¢ @ sot laeraram. ‘a0 pode haver ne- nhuma na duresa bruta da nova talha, Obs rie 08 ani- mais que apresentei na Prancha 14, como um exemplo de obra viva, ¢ suponha que, tendo sido apagadas as marcas das escamas e do pelo, ou as dobraes da fromte.quem seria ctpaz de restaurd-las? O primeiro passo para a restaura- eia.(j4-0-testemunhei vérias vezes — no Batistério de Pisa, na Gasa d'Oro em Veneza, na Gatedral de Lisiewx,) € des- pedacar a obra antiga; 0 segundo, usualmente, ¢ erguer imitagdo mais orilintria~e-walear qe possa escapar & deteopito, mas em todos os casos, por mais eudadosa, ¢ por mais elaborada que seja, & sempre uma imitagao, um mo- delo frio daquelas partes que podem ser modeladas, com cadigoes conjeturais; mink experiéncia me apoata apenas um tinico caso, aquele do Paldcio de Justiga de Rouen, no A Lfimpadla da Memoria 6 81 quad mesmo isso ~ 0 mais ielto grau de fidelidadle posst- vel tenha sido atingldo, ou sequer tentado, Tt dex MAYO) nf) XIX. Nato ficlemos, pois, de restadragde, uma Mentira do comego ao fiir, Voce pode fazer um ne rata-se de delo de um edifieio como também de um eaddver, #0 set modelo pole conter o contorno das antigas paredes den- tro dele, assim como 0 seu molde pode conter o esqueteto, sean que et possa ver ow apreciar qualquer vantagem nis: $0. Mas 0 antigo edificio estard destretdo, de uma forma mais completa ¢ impiedosa do que se tivesse desabadlo num amontoado de terra, ow derretido numa massa de barrot mais pode ser resgatado da devastada Nteve do que ja- mais o sere da reconstrutda Milao. Mas, diz-se, pode sec necessdria a restauragdo! Que seja, Encare tal névessi dade cont coragem, ¢ compreenda o seu verdadero sige eado, Eun ssidad a neces: como tal; arfase 0 ediffcio, amontoe suas pedras em ear de destruig&io, Aceite-a tos esquecidlos, transforme-as em easealho, on argamas- sa, se yore quiser: mas 0 faga francamente, e no colo- “neare tal necessicade: que uma Mentira em seu lugar com coragem antes que ela surja, e yore poderd evit la, O prinespio vigente nos tempos modemos (um prine pio que, acredito, pelo menos na Franga, tem sido siste- maticamente praticado pelos pedreiros, com 0 objetivo de anranjar trabalho para si, tal como na abadia de St, Quen, que foi demolida pelas autoridades da cidade para dar ocupagdo a alguns vagabundos) é o de descurar dos edi- fe primeiro, € restaurd-los depois. Cuide bem de Mind 826 John Ruskin e 9 LAA UL ink ¢ niio precisakt restauni-los, Algumas cha- monurne pas de chumbo colocadas a tempo num telhado, algu- ma mas folhas secas ¢ gravetos removidos a tempo de calha, salvardo tanto o telhado como as paredes da rut n ntigo Com ansinso desvelo; pro- is Zele por um edifi de todas as tejaco_o melhor possivel. © a qualquer ¢ ameagas de dilapidagao. Conte as suns pedras coma se fossem as jéias de uma coroa; coloque sentinelas em vol- ta dele como nos portées de uma cidade sitiacla; amarre- a com tirantes de ferro onde ele ceder: apsie-o com es- conas de madeira onde ele desabar; nao se importe com feta do que ahd apurtine cose C Melhor wa fibro pertictor e-tagaao coy ce réncia, & continuamente, @ muilas gerag io © desaparecerio sob sta Sombra, Seu drfotal por uum ai niura mn reves s ainda nas- / fim chegaré; mas que chegue declarada ¢ abertamente jue neulum substitute desonroso-e falso prive o mo- “Snumento das honras fiinebres ca meriisria, bitrdria ou ignorante [do palavras nfio XX, De destruigdo mais a que a restauragasPé init fala ingirao aqueles que as cometem! minha _@ mesmo asin, ou vinlo ou nao, nao posso deixar de declarar essa verlade: a opgao por preservar ott no os ediffeios dos que ano: tempos passados nao é uma questdo de convent 12, es mbnbias de fatol ~ De palavras mais desperdigadas do Tangado cnt dyes mais: ama cuyi falar: Este asinno parggrafo do sexto cap fala € o melhor, crelo, rio livro, ~ e a mais vao (Now do Autor & edighe tle 1880), fmpurla da Memoria #18 de simpatia. No nido Lemos qualquer direito de tocd-los, Fles fio sto nossos, Eles perte ern ein parle Aqueles ques construfram, ¢ em parte a todas as geragies da humanidade que nos sucederio, Os mortos ainda te sei diteito sobre eles: aquilo pelo qual trabal eXaltagdo da faganha ou a expresso do sentimento gioso, ou o que quer que exisia raqueles ediffeios que tencionavam perpeluar, nao temos o direito de obliterar, © que nés mesmos construfmos, temos a liberdade de demoliry mas o direito sebre aquile pelo qual outros ho- mens deram sua forga ¢ riqueza ¢ vida para realizar, nfo expira com a morte deles; menor ainda é o nosso direito de dispor daquilo que eles legaram. Essa heranca per tence a todos os seus sucessores, Milhde: no futuro, po- idicados pela destruigto de lar OU Sereml pre} deri Tami edificios que nés dispensams levianamente, em nome tal perda, nito temos o direito de infligir. Pertenceria a catedral de Avranches mais a plebe amotinada que a destruin do de nossa presente conveniéneia, Tal pesar, que ands, que perambulamos com tristeza sobre suas fundacdes? Do mesmo modo, nenhum outro edi fi 0 per- tence a ralé que o violenta, Pois é de ralé que se trata, € sempre ser; ndo importa se enraivecida, ou em loucura deliberada; se agrupada em mimeros incontéveis, ou em comissies as pessoas que destroem qualquer coisa de maneira infundada sAo ralé, e a Arquitetura sempre é destrufda de modo infund iado, Um belo edifieio semp vale o terreno bre 0 qual foi eonstrufde, ¢ sempre vas lerd até que a Africa Central ea América se tornem tao © John Raskin populosas quanto o Middlesex: nao ha jamais qualquer motivo vélido para sua destruigao, Se alguma ver che- gou a haver, certamente nio o serd agora, quando o lu- gar tanto do passado como do futuro se encontra dema- siadamente usurpado em nossas mentes pelo p) sente agitado e insatisfeito, A propria serenidade dla natureza é gradualmente arrancada de nés; milhares [de pessoas] que, outrora, em viagens necessariamente demoradas, foram submetidos & influéncia do céu silenciose e dos campas adormecidos, mais efetiva do que advertida ou confessacla, agora eartegam consigo, até mesmo Id, a fe- re incessante de suas vidas; a0 longo das veias de ferro que atravessam 0 arcabougo do nosso pats, batem fluem os pulsos faneos de seu esforgo, mais quentes ¢ mais népidos a cada hora. Toda a vitalidade se concen- tra através dessas artérias pulsantes em diregdio ds cida- des centrais; o campo é transpasto como um mar verde por pontes estreitas, e somos jogados em multidées cada yer mais densas sobre os portBes da cidacle, Lf, a tinica influénoia que pode de alguma forma tomar o lugar da- quela dos bosques e campos, ¢ 0 poder da Arquitetura antiga, Nélo a abandone em troca da praga formal, ou do passeio cercado ¢ ijardinado, ou da rua vistosa, ou do lio esta af, Deixe-os mas, lembre-se de que certamente ha- amplo cais. O orgulho da cidade para a multidac verd alguém denteo do perfmetro dos muros desassosse- gados que preferitia outros lngares que ndo esses para percorrer; outras formas para contemplar com farnitiari dade: como aquele que se sentou com tanta freqiéneia A Laimpada da Memé onde 0 sol batia do oeste, para abservar os contornos do domo de Florenga reeortados contra o eéu profundo, ou como aqueles, seu nfitrides, que se permitiam diaria- mente, dos aposentos de seu paldcio, a contemplagio dos Ingares onde seus antepassados descansam, nos en- contros das ruas escuras de Verona. Venza or do Palin do Doge em Prout Earl Cans de Pea Tepes Tyologie Pope Aiamens de Pagina Impreaitoe Acabarens A Lampadt da Merion Joan Ruskin Mar Lucia Bressan Pinbeice Pa Te Mati ate (profes tle) execu) dye Mugoyar Kel 1264.20 an sont Ba Catto Supe a8 Pol Gielen 0 meio ambiente, pouco a pouco conquistadas, Nio menos importante do que «.dimensto politica do pensamen- to de John Ruskin 6 sua reflexito sobre o papel da arquit stia proservagtio, para a sociedade moderna; aspecto por vexes obs por ranea ao exacerbado romantismo oitocentista, do qual eonstitul um ddos pilares, A despeito de tal pre coneeito, seu pensamento aponta para varias questoes ainda extre- mamente pertinentes para o debax te arquitetonico atwal. A presente Uwadugito do Gapttulo WI="A Lm pada da Meméria® ~ de sua obra As Sete Lampadas da Arquitetura vies, precisamento, cantribuir para @-aprofundamemo de tal dehate.

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