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Jorge Zahar Editor | I ’ Evolucionismo CULTURAL TExTOS DE MORGAN, TYLOR £ FRAZER CaN Sets ropologia cultural, A SOCIEDADE ANTIGA Ou investigacées sobre as linhas do progresso humano desde a selvageria, através da barbarie, até a civilizacao. 1877] me i RNC PREFACIO grande antigiiidade da humanidade sobre a terta jé foi A conclusivamente deve provas ce inada, Parece singular que as 1am sido descobertas, entemente, ape mos 30 anos, e que a atual geragao seja a primeira chamada a reconhecer ato tao importante. Sabe-se agora que a humanidade existiu na Europa durar ceo periodo glacial, e até mesmo antes de seu comego, havendo toda probabilidade de ter sido originada numa eta geolégic. anterior. Sobreviveu a muitas ragas de animais das quais foi contemporanea e, nos diversos ramos da familia humana, pas- sou port so de desenvolvimento (ao notivel nos cami- n proc nihos seguidos quanto em seu progresso. Como a provavel extensao da carreira da humanidade esta, ligada a periodos geolégicos, exclui-se, de antemao, qualquer medida limitada de tempo. Cem ou duzentos mil anos no Seria uma estimativa excessiva do tempo transcortido desde 0 desaparecimento das geleiras no hemisfério norte até o presen- te, Independentemente de quaisquer ciividas que possam cer- car os cdlculos aproximados sobre um periodo cuja duragao real ndo se conhece, a existéncia da humanidade estende-se pelo passado imensurdvel € se perde numa vasta e profunda, ancigitidade e “4 Evolucionisme Cultural Esse conhecimento muda substancialmente as idéias qu prevaleceram a respeito das relagdes dos selvagens com os bar- baros e dos barbaros com os homens civilizados. Pode-se afir- mar agora, com base em convincente evidéncia, que a selvageria precedeu a barbarie em todas as tribos da humanidade, assim como se sabe que a barbarie precedeu a civi da raga humana é uma s6 ~ na fonte, na experiéncia, no pro: giesso, E tao natural quanto apropriado desejar saber, se possive como rodas essas eras apés eras dle tempos passados foram utili- zadas pela humanidade; como os selvagens, avangando através de passos lentos, quase imperceptiveis, alcangaram a condigao mais elevada de birbaros; como os birbaros, por um avango pro- gressivo semelhante, finalmente aleangaram a civilizacao; ¢ por que outras tribos ¢ nagdes foram deixadas para tris na corrida para o progresso - algumas na civilizagao, algumasna barbarie e outras na selvageria, Nao ¢ demais esperar que, em algum mo- mento, essas diversas questdes sejam respondidas Invengdes e descobertas mantém relagdes seqitenciais ao longo das linhas do progresso humano e registram seus suces- sivos estagios; por outro lado, as instituigdes sociais e civis, em vireude de sua conexao com perpétuos desejos humanos, de- senvolveram-se a partir de uns poucos germes primarios de pensamento. Flas exibem registros de progresso semelhantes. Essas instituigdes, invengdes e descobertas incorporaram e pre- setvaram os principais fatos que agora permanecem como ilus- trativos dessa experiéncia. Quando organizadas e comparadas, tendem a mostrar a origem tinica da humanidade, a semelhan- ga de desejos humanos em um mesmo estagio de avanco e a Apresencagio 4s formidade das operacdes da mente humana em condigdes similares de sociedad Ao longo da tiltima parte do periodo de selvageria e por todo o periodo de barbarie, a humanidade estava organizada, em geral, em gentes, Fratrias e tribos.' Essas organizagdes preva- leceram, em todos os continentes, por todo o mundo antigo, ¢ constituiam os meios através dos quais a sociedade antiga era organizada e mantida coesa. Sua estructura e suas relagées como membros de uma série organica, bem como os direitos, priv sgios € obrigacdes dos membros das gentes, das frattias ¢ das tribos, iluser: o crescimento da idéia de governo na men- ce bumana, As principais instituigdes da humanidade tiveram origem na selvageria, foram desenvolvidas na barbarie ¢ esto amadurecendo na civilizacao, Do € ctiou grandes sistemas de consanguinidade e afinidade que esino modo, a familia passou por formas sucessivas, duram até os dias de hoje. Esses sistemas registram as relagdes existentes na familia no periodo em que cada um, respectiva- mente, foi formado, e contém um registro instrutivo da expe- neia da humanidade enquanto a familia estava avancando da consangtiinidade para a monogamia, passando por formas incermediarias, A idéia de propriedade passou por um crescimento ¢ um desenvolvimento semelhantes. Comecando do zero, na selva~ getia, a paixdo pela propriedade, como representando a sub- sisténcia acumulada, tornou-se agora dominante na mente humana nas ragas civilizadas As quatro classes de fatos indicadas acima’ se estendem em linhas paralelas ao longo dos caminhos percorridos pelo pro 46 Evolucionismo Cultural esso humano, da selvageria a civilizagio, e constiruem os Principais temas de discussao deste volum Ha um campo de trabalho no qual, como americanos, ‘mos um inreresse ~ bem como uma obrigagao - especial. Sendo reconhecicdamente abundante em riqueza material, 0 conti- hente american é cambém o mais rico de todos em mater noldgicos, filolégicos e arqueolégicos que ilustram o grande periodo da barbarie. Como a humanidade foi uma so gem, sua trajetéria cem sido essencialmente uma, seguindo por canais diferentes, mas uniformes, em todos os contine muito semelhantes em todas as tribos e nagdes da humanidade que se encontram no mesmo status de desenvolvimento. Se- gue-se dai que a historia ¢ a experiéncia das tribos indigenas americanas representam, mai: ‘ou menos aproximadamente, 2 histéria e experiéncia de nossos prprios ancestrais remotos, quando em condigdes correspondents. Sendo uma parte do registro humano, suas instituigdes, artes, invengdes e experién. cias priticas possuem um grande e especial valor que alcanga muito mais do que apenas a raca indigena. Quando descobertas, as tribos indigenas americanas re- Presentavam trés periodos étnicos distincos, e mais completa- mente do que eram entao representados em qualquer outra parte da terra, Materiais para a etnologia, filologia e arqueolo- gia estavam disponiveis em abundancia sem paralelo; mas, como essas ciéncias praticamente s6 passaram a existir no pre- sente século, e sao incipientemente exercidas entre nés ainda hoje, o trabalho a ser feito superava os trabalhadores. Além dis- So, enquanto os restos de fosseis enterrados serio mantidos na tetta para o fururo estudante, 0 mesmo nao aconteceré com o Apresentagio ” que sobra das artes, linguagens e instituigées indigenas. Elas estdio perecendo a cada dia, rem sido assim por maiscle trés sé- culos. A vida étnica das tribos indigenas esta de suas artes e da civilizagao american: tao desaparecendo € suas instituigdes estio se dissolvendo. Dentro de mais uns poucos anos, fatos que podem ser agora facilmente coletados serio impossiveis de descobrir. Tais circunstancias apelam fortemer aos americanos para queen- ndante seara, trem nesse amplo campo e colham 5 Rochester, Nova York, marco de 1877 PARTE 1 — Desenvolvimento da inteligéncia através das invencées e descobertas CariruLo {= Periodos Etnicos A ho ascendente, desde a selvageria até a civili- zagao, através de lentas acumulagées de cor nto experi mental, Como é inegavel que partes da familia humana eenham existide num, ado de selvageria, outras partes numestado de barbari outras ainda num estado de civilizagao, parece tam: bém que essas trés distintas condicdes esti conectadas umas as outras numa seqiiéncia de progresso que é tanto natural como necessaria. Além disso, é p cel supor que essa seqaén- cia tenha sido historicamente verdadeira para toda a familia umana, até o status respectivo Essa suposicio baseia-se no con ecimento das condigdes em que ocorre todo progresso, ¢ também no avango conhecido de diversos ramos da familia através de duas ou mais dessas condigaes, Nas paginas seguintes, sera feita uma tentariva de apresen- tar evidéncia adicional da rudeza da condigao primitiva da hu- de seus poderes mentais ¢ morais através da expe de su prolongada luta com os ‘obstaculos que encontrava em sua marcha a caminho da civ zagao. Essas evidéncias estardo baseadas, em parte, na grande sequiéncia de invengdes e descobertas que se estende ao longo de todo © caminho do progresso humano, mas levam em con ta, principalmente, as instit ‘bes domeésticas que expressam o cres nento de certas idéias e paixoes. A medida que avangamos na diregao das idades primitivas da humanidade, seguindo as diversas linhas de progresso, ¢ eli- minamos, uma apos outra, na ordem em que apatecerem, in- vengdes e descobertas, de um lado, e instituigdes, de outro, tornamo-nos capazes de perceber que as primeitas tm uma re- Iago progressiva entre si, enquanto as tiltimas foram se desdo- brando. Ou seja: enquanto invengdes ¢ descobertas tiveram uma conexio mais ou menos direta, as instituicées se desenvol- veram a partir de uns poucos germes primétios de pensamen- to, As instituicdes modernas tém suas raizes plantadas no periodo da barbirie, ao qual suas origens foram transmitidas a partir do periodo anterior de selvageria. Tiveram uma desce: déncia linear através das idades, com as linhas de sangue, ¢ também apresentaram um desenvolvimento logico. Duas linhas de investigacio independentes convidam, as- ‘sim, nossa atengaio. Uma passa por invengdes e descobertas; a outra, por instituigdes primadrias. Com © conhecimento propi- ciado por essas linhas, podemos esperar indicar os principais estagios do desenvolvimento humano. As provas a serem apre- sentadas derivarao, principalmente, cle instituices domésticas; Lewis Henry Morgan as referéncias a realizagdes de nacureza tritamente intelectual serio de caniter geval e receberao atengio secundatia aqui Os fatos indica a formagao gradual e o desenvolvimento subsequente de certas idéias, paixoe: aspiragées. Aquelas que ocupam as posigdes mais proeminentes podem ser generaliza- das como sendo ampliagdes das idéias particulares com as quais esto respectivamente conectadas. Além das invengdes ¢ descobertas, essas idéias sto as segui V. Religiao VI. Vide domeéstica e arqritetara VIL Propriedade Primeina. A subssisténcia foi aumentada ¢ aperfeigoada por uma série de artes sucessivas, introduzidas no decorrer de lon- gos intervalos de tempo e conectadas mais ou menos direta- mente com invengdes e descobertas. Segunda, © germe do governo deve ser buscado na organ! zasio por gentes no status de selvageria, ¢ seguido, através de formas cada vez mais avangadas, até o estabelecimento da socic- dade politica. Terceira. A fala humana parece ter se desenvolvido a patti das formas mais rudes e simples de expressdo. A linguagem de gestos ou sinais, como sugerido por Lucrécio,’ rem que ter prece- dido a linguagem articulada, assim como 0 pensamento precede a fala, O monossilébico precedeu o silabico, ral como esse prece- dew as palavras concretas. A inteligéncia humana, inconsciente A Sociedade Arviga de propésiro, desenvolveu a linguagem articulada utilizando os ‘sons vocais. Esse grande tema, em si mesmo uma area especifica de estudo, esta fora do escopo da pri nte investigacao. Quarta. Com respeito 4 familia, seus estagios de erescimen- to estio incorporados em sistemas de consangitinidade e afini- dade nos costumes relacionados ao casamento, por meio do qual, coleti historia da familia pode ser seguramente tracada através de diversas formas sucessivamente assumidas. Quinta. © crescimento de icéias religiosas esta cercado de tantas dificuldades intrinsecas que talvez nunca receba uma explicacao perfe mente satisfaréria. A religido trata, em 10 grande medida, da natureza naginativa e emocional e, conse- giientemente, de tao incertos elementos do conhecimento, que todas as religides primitivas sto grotescas e, numa certa medi- da, ininteligiveis. Esse cema também esta fora do plano deste trabalho, exceto quando puder fazer sugestoes inciclentais. Sexta, A arquitetura da habitagao, que esta ligada 4 forma da familia e ao plano de vida doméstica, permite uma ilustra- sao razoavelmente completa do progresso desde a selvageria até a civilizacao. Seu crescimento pode ser tragado da cabana do selvagem, através das habitagdes comunais dos barbaros, até a casa da familia nuclear das nagées civilizadas, com todos 05 vinculos sucessivos através dos quais um extremo estd co- nectado ao outro. Esse tema serd observado incidentalmente. Ultima. A idéia de propriedade foi lentamente formada na mente humana, permanecendo em estado nascente e precio por imensos periodos de tempo. Surgindo durantea selvageria, requereu toda a experiéncia daquele periodo e da subsequente barbarie para desenvolver-se e preparar o cérebro humano para @ aceitago de sua influéncia controladora. Sua dominancia, Lewis Henry Morgan s ‘como uma paixio acima de todas as outras, marca ocomeco da civilizagao. Ela nao apenas levou a humanidade a superar os obstaculos que atra wam a civilizagao, mas também a estabe- lecer a sociedade politica baseada no territério e na proprieda- de. Um conhecimento critico sobre a evolugao da idéia de propriedade incorporaria, em alguns aspectos,a parte mais no- cavel da hist6ria mental da humanidade. Tratarei de apresentar alguma evidéncia do progresso hu mano ao longo dessas diversas linhas e através de sucessivos pe- jodos étnicas, tal como revelado por invengdes e descobertas e pelo crescimento das idéias de governo, familia e propriedade cada aqui a premissa de que todas as For- mas de governo so redutiveis a dois planos gerais, usando a palavra plano em seu sentido cientifico. Em suas bases, os dois sio fundamentalmente distintos. © primeiro a surgir esta ba- seado em pessoas e em relagdes puramente pessoais, ¢ pode ser distinguido como uma sociedade (societas). A gens é a unidade dessa organizagao. No periodo arcaico, ocorreram estagios su- cessivos de integracio: a gens, a fratria, a cribo e a confederagao de tribos, que constituiam um povo ou nagio (populus). Num perfodo posterior, uma coalescéncia de cribos na mesma area, formando uma nagao, tomou o lugar da confederagao de tri bos ocupando areas independentes. Assim ocorreu, através de prolongadas eras, apés o aparecimento da gens, a organizagio quase universal da sociedade antiga; e perdurou entre os gregos € romanos apés 0 surgimento da civilizagao. O segundo plano é baseado no territério ena propriedade, € pode ser distinguido como um estado (civitas). A vila ou distri- to, circunscrita por limites e cercas, com a propriedade que contém, éa base ou unidade do estado, ¢ a sociedade politica ¢ seu resultado. Essa esta organizada sobre areas territoriais ¢ trata da propriedade e das py través dee laces cerrito- riais. Os sucess Ws estiigios de integracdo soa vila ou distrito, que é aunidade deo ‘ganizagao; 0 lado ou provincia, que uma agtegacao de vilas ou dit its; € 0 dominio ou tertitério nacional, que é uma agregacao de condados ou provincias; e 0 povo de cada 1 delas esta organizado em um corpo politico, Apos terem ngado a civilizacao, coube aos gregos ¢ roma nelo suas capacidades até o limice, inventar a vila eo disctito e, sim, inaugurar o segundo grande plano de gove ho, que pe: € até © presente entre as nagdes civilizadas Na sociedade antiga, esse plano territorial era desconhecido. Quando cle apareceu, fixou as linhas de fionteira entre a socie- dade antiga ea modern: homes com os quais a distingao sera reconhecida nestas paginas. Pode-se observar também que as instituigoes domésticas dos barbaros, e mesmo dos ancestrais selvagens da humanida de, ainda estao exemplificadas em parces da familia humana, ¢ com tamanha completude que, exceto pelo periodo estrita- mente primitivo, os diversos estigios desse progresso estao ta- zoavelmente preservados, Bles sao vistos na organizagao da sociedade com base no sexo, depois com base no parentesco finalmente, com base no territério; através das sucessivas for- mas de casamento e de familia, com os sistemas de consan- giinidade assim criados; através da vida familiar e de sua arquitetura, e através do progresso nos usos relatives a proprie= dade ea A teoria da degradacao humana para explicar a existéncia ansmisso da mesma por heranca. dos selvagens ¢ dos barbaros jé nao é mais sustentavel. Ela apa- Teceu como um corolario da cosmogonia mosaica’e foi accitaa Lewis Henry Mosgan partir de uma suposta necessidade que jé nao existe. Como teo- tia, € nio apenas incapaz de explicar a existéncia de selvagens como também no enconera porte nos fatos da experiencia Os remotos ancestrais das nacdes arianas presumivelmen- te passaram por uma experiéncia similar a das tribos barbaras e neia dessas nagdes con- jodos dle selvagens exisrences, Embora.a exper tenha todaa infor agao necessaria para iluscrar os pe! civilizacao tanto antigos quanto modernos, e também uma parte do rem que ser deduzida, em sua maior parte, da conexdo que mo periodo de barbarie, sua experiéncia anterior pode ser tracada entre os elementos de suas instiruigdes eine ventos existentes ¢ os elementos similares ainda preservados nas instituigdes ¢ inventos das tribos selvagens e birbaras. Pode ser observado, finalmente, que a experiéncia da hu- manidade tem seguido por canais quase uniformes; que as necessidades humanas, em condigdes similares, tém sido subs- tancialmente as mesmas; € que as operagdes de principio men- tal tem sido uniformes em virtude da identidade especifica do cétebro em todas as ragas da humanidade. Isso, no entanto, € apenas uma parte da explicagio da uniformidade dos resulta- ida foram dos. Os germes das principaisinstituigdes e artes da desenvolvidos enquanto o homem ainda era um selvagem, Em larga medida, a experiencia dos periodos subseqiientes de bar- brie e de civilizagao foi plenamente utilizada no desenvolv mento que se seguit a esas concepedes originais. Onde quer que se possa tracar uma conexao, em diferentes continentes, entre uma instituigdo hoje existente e uma origem comum, es- tari implicito que os préprios povos derivam de um estoque original comum. cada um representando uma condi¢ao distinta de sociedade ¢ podendo ser distinguido dos outros por seu modo de vida peculiar. Os eermos “Idade da Pedra”, “do Bronze” e “do Ferro” roduzides por arquedlogos dinamarqueses, rém sido ext certos propésitos, ¢ continuarao a sé-lo para a classificacao de objetos de arce antiga; mas o progresso diferentes subdi- tos de pedra nao foram totalmente deixados do conhe co tornou Necessarias outs im visdes. Impler de lado com a introdugio das ferramentas de ferro nem das de bronze. A invengao do processo de fundigao do minério de fer ro criou uma época étnica, mas dificilmente podemos datar uma outra que se tenha iniciado com a produgio do bronze Além disso, como a época dos implementos de pedra se sobre- pde aos periodos dos instrumentos de bronze e ferro, ecomo a do bronze também se sobrepoe a do ferro, nao é possivel cit cunscrever cada um desses periodos e trati-los como indepen- dentes e distintos. Dada a grande influéncia que devem ter exercido sobre a condigao da humanidade, as sucessivas arces de subsisténcia, surgidas a longos intervalos, provavelmente vito a possibili- tar, ao final, bases mais satisfatérias para essas divisdes. Mas a pesquisa nao foi levada suficientemente longe nessa diregio para produzir a informacao necessaria. Com nosso conheci- mento acual, o principal resultado pode ser obtido selecionan- do outras invengdes ou descobertas que permitam suficientes testes de progresso para caracterizaro comeso de sucessivos pe- dos éxnicos. Mesmo que sejam aceitos como provisérios, es- ses periodos se revelario convenientes ¢ iiteis. Veremos como Lewis Henry Morgan E cada um dos que serio propostos em seguida cobriré uma cul cura dist ae representard us modo de vida particular, © periodo de selvageria, de cuja parte mais antiga sabe-se muito pouco, pode ser dividido, provisoriamente,em trés su periodos. Esses podem ser chamados de periodo inicial, interme didrio ou final de selvageria; e a condicao da sociedade em cada tum, respectivamente, pode ser distinguida como status infertor, intermedidivio ou superior de selvageria. Da mesma forma, o periodo de barbsirie se divide nacural- do mente em trés subperiodos, que serao chamados de pe intermediério ou final d. ie; ¢ a condigao da sociedad em cada, respectivamente, seri distinguida como starus info rior, intermediério ou superior de barbaric. Para marcar 0 comego desses diversos periodos, é dificil, se nao impossivel, encontrar testes ce progresso que se revelem absolucos em sua aplicacdo ¢ sem excecdes em todos os conti- hentes. Mas também nao é necessdrio, para o propésito em mios, que ndo existam excegdes, Ser suficiente que as princi pais tribos da humanidade possam ser classificadas, de acordo com o grat de sett progresso relativo, em condigdes que pos sam ser reconhecidas como distincas. 1. Status inferior de selvageria, Esse periodo comegoucom ainfan- cia da raga humana, e pode-se dizer que rerminou com a aquisi- cio de uma dieta de subsisténcia a base de peixes e com um conhecimento do uso do fogo. A humanidade estava entao vi- vendo em seu habitar original restrito, subsistindo com frutas e castanhas. O comego da fala articulada ocorre nesse period. Nao restou, no periodo histérico, nenhum exemplo de tribos da humanidade nessa condigao. UL Status intermedidrio de selvageria. Comegou com a aq a0 de uma dieta de subsisténcia baseada em peixes ¢ com um conhecimenro do uso do fogo, ¢ terminou com a invengio do areore-flecha. A humanidade, e Info nessa condigio, espa- thou-se, a partir de seu habitat original, por grande parte da su- da existentes perficie da terra, Entre tribos a encaixam-se no stralia status intermediario de selvageria, por exemplo, os a nos © a maior parre dos polinésios, quando descobertos. Seri suficiente dar um ou plos de cada status. ‘Status superior de selvageria. Comegou com a invengao do Mecha e rerminou com ainvengao da arte da ceriimica. No tempo de selvageria as tribos dos arapascos, 1a descoberta, m-se no status superior de ia de Hud- tas tribos costeiras da o werritorio da son, as tribos do vale do Columbia e América do Norte ¢ do Sul. Isso enes ra © periodo de Selvageria. IV. Status inferior de barbérie. Quando se levam em conta to. dos 0s aspectos, a invencao ou pritica da arte da ceramica é, Provavelmente, 0 teste mais efetivo ¢ conclusive que se pode escolher para fixar uma linha demarcatéria, necessariamente entre a selvageria ea barbarie. Ha muico foram reco- nhecidas as especificidades de cada uma das duas condigaes, mas nao se produziu, desde entao, nenhum critério para defi nir etapas de progresso de uma condicao para a outra. Assim, todas as tribos que nunca alcangaram a arte da ceramica serio classificadas como selvagens, e aquelas gute posstiem essa arte, ‘mas nunca chegaram a um alfabeto fonético e ao uso daescrita, serio classificadas como barbaras. © primeiro subperiodo da barbarie comecou com amanu- facurade objeros de ceramica, seja por invencao original ou por adogao. Para determinar seu término e 0 comego do status in- ide de os dois hemisférios is distintas, © que comesou a ter doo pe- influencia sobre os ja. No egicion nos depois de p Kanto, pode-se resolver isso com a riodo da s mai adogio de equivalentes. A domesticacao de igaclo de mitho e por exe s igenas a leste do. cados Unidos, ¢ aquelas tribos da Europa e da Asia que prat cavama arte daceramica, mas nao domésticos. irbirie. Comegou com a domesti- r 11a de itrigacdo e com o uso de tijolos de adobe e pedras V. Status intermedicirio de cagto de mais no hemisfé no ocidental, com a agricu ha arquitetura, como mostrado. Seu término pode ser fixaclo pela invengao do processo de forjar o minério de ferro. Isso situ dios pueblos do Novo no status intermedi México, do México, da América Central e do Pe bos do hemisfério oriental que possuiam animais domésticos, io, por exemplo, o: eaquelas cri- hecimento do ferro, Numa certa medi mas nao tinham m con da, os antigos bret&es, embora familiarizados com o uso do fer~ Fo, também pertencem a essa subdivisio. A vizinhanga com tribos continentais mais adiantadas havia avangado as artes de subsisténcia entre eles muito além do que correspondia ao esta~ do de desenvolvimento de suas instituigdes domésticas. VI. Status superior de barbdrie. Comegou com a manufatura de ferro e terminou coma invengao do alfabeto fonético eouso. da escrita em composigao literéria. Aqui comeca a civilizacao, © A Sociedade Anciga Isso poe no status superior, por exemplo, as tribos gregas da idade de Homero, as tribos italianas logo antes da Fundagao de Roma eas tribos germanicas do tempo de César. VIL. Status de civilizagdo. Comegou, como dito, com o uso do alfabeto fonético ea produgao de registros literarios, ¢ se divide em Antigo e Moderno, Como um equivalente, pode-se admitir a escrita hieroglifica em pedra, RECAPITULAGAO Pevodos | Condes deselvageria ncaa do arco-e-flech Status inferior de barbarie Status, | ineermedianio barbie de bad ho e plantas, com o uso fejolosde lobe epee, sien Vi Pesodo Dain ebartide | Randi mineode fer com 0 tsodeframesta debe, | vu sauusde | stausde Da invenst do alfibero rico, com o uso da eserita, Lewis Henry Morgan Cada odo de vicla mais ou menos especial e peculiar. Essa espe- m desses periodos tem uma cultura distinea ¢ exibe seu cializagao de periodos étnicos possibilica tracar uma sociedade especifica de acordo com suas condigdes de avango relativo, € comé-la como um tema independente para estudo e discussio. Nao afera o resultado principal o fato de qu num mesmo tem- po, diferentes tribos © nagdes do mesmo continente, ¢ até da jam em diferentes condicées, mesma familia lingtiistica, e pois, para nosso propésito, a condigso de cada uma éo fato ma- tempo sendo imate bel Outea v: ragem de fixar periodos étnicos definidos é que isso possibilica orientar uma investigagdo especial paraaquelas cribos © nagdes que oferecem a melhor exemp ‘agao de cada status, a fim de tornar cada caso t m padrio quanto um, elemento ilustrativo. Algumas tribos ¢ familias foram deixadas em isolamento geografico para resolver os probl emas do pro- gresso através de esforco mental original e, conseqiientemente, mantiveram suas artes ¢ insticuigdes puras e homogéneas, en- quanto aquelas de outras tribos ¢ nagdes foram adulteradas |, enquanto a Africa era e é um. pela influéncia externa. Ass a Australia ea Pol caos éenico de selvageria e barbari tavam na selvageria pura ¢ simples, com as artes e instituigdes proprias daquela condigdo. Da mesma forma, a familia indige- na da América, diferente de qualquer outra existente, exempli- ficava a condigao da humanidade em trés periodos étnicos sucessivos, Na posse nao perturbada de um grande continente, com uma linhagem comum ¢ com instituicdes homogéneas, aqueles indigenas iluscravam, quando descobertos, cada uma dlessas condigées, ¢ especialmente as condigdes dos stacus infe- le Artiga Nor e intermediario de barbarie; e isso se dava de uma forma aborada e mais completa que entre qualquer outra p: cela dah anidade. Os indios do extremo norte ealguimas das bos costeiras da América do Norte ¢ do Sul estavam no sta~ fs superior de selvag 0 indios parcialmente aldeados, a se do Missi ipi, estavam no status inferior de barbarie, e os pueblos da América do No te e do Sul estavam no status int mediitio. Dentro do pei istérico, ainda nao houvera ma oportunidad como essa para se recuperar uma informa- (Ao completa © minuciosa sobre © curso da experiéncia e do Progresso humanos no desenvolvimento de suas artes e insti Cuigdes arta desses periodos sucessivos. Deve-se acrescentar que 2 oportunidade eem sido aproveitada de maneiras de guais. Nossas maiores deficiéncias estao telacionadas ao tilti mo periodo nomeado, Sem diivida, exist. n diferengas entre culeuras do mesmo perfodo nos hemisférios oriental ¢ ocidental, em conseqiéncia das caracteristicas desiguais de cada continente; mas a condi- Sao da sociedade no status correspondente tem que ter sido, em sua maior parce, substancialmente semelhante. Os ancescrais das tribos gregas, romanase getmanicas pas- saram pelos estagios que indicamos, e, na metade do tiltimo, a Juz da historia caiu sobre eles. Sua diferenciagao da massa in- distinguivel de barbaros nao ocorreu, provavelmente, antes do comego do periodo intermediario de barbarie. A experiencia dessas tribos foi perdida, com excecao de tudo que é represen- tado pelas instituigdes, invengoes e descobertas que trouxeram com eles e que possuiam quando pela primeita vez se encontra- ram sob observagao histética. As tribos gregas ¢ latinas dos periodos de Homero e Romulo permicem a melhor exemplifi- Lewis Heney Morgan 6 cagio do status superior de barbaric. Suas instituigdes ram, ase homogéneas, e sua experiéneia esta direta- mente conectada com a chegada, por fim, 3 civilizacao. a guindo com as tribos de indios americanos e conchuinde com. ndo, entao, com os australianos e polinésios, se. 0s romans e gregos, que permitem as mais elevadas exempl cagdes, respectivamente, dos seis grandes estagios do progresso mano, & bastante razoavi soma de suas expe- supor qu ia he riéncias unidas éncia da fami epresenta a expe desde ostarus i io de selvageria até o final da eiviliza- iga. Conseqiientemente, as nacées © tipo correspondente a condigao de seus ancestrais remoros, quando na selvageria, nas condigdes dos auseral de barbarie, nos indios se- io, Wsios; quando no status inferio mé-aldeados da América; e, quando no status intermedi has condigdes dos indios pueblos, com as quais se conecta dire- tamente sua propria experiéncia no status superior, Tio essen cialmente idéncicos em todos os continentes sio as artes, instituicdes eo modo de vida no mesmo status, que a forma at caica das principais instituigdes domésticas dos gregos e roma- nos pode ser vista, ainda hoje, nas instituigdes correspondentes, dos aborigines americanos, como sera mostrado no curso deste volume, Esse fato constitui uma parte da evidéncia acumulada tendente a mostrar que as principais instituigdes da huma- nidade foram desenvolvidas a partir de uns poucos germes Primérios de pensamento; e que o curso eo modo de seu desen- volvimento foram predeterminados, bem como mantides den- tro de estreitos limites de divergéncia, pela légica natural da mente humana e pelas necessarias limitacOes de seus poderes. Descobrit-se que, num mesmo status, 0 tipo de progresso foi 64 A Sociedade a substancialmente 6 mesmo em tribos e nagées habitando con- entes dife Les € até mesmo nao conectados, com desvios da uniformidade ocorrendo em casos particulates e sendo pro duzidos por causas especiais. O argumento, quando desenvol- vido, tendeaestabelecer a unidade de origem da humanidade. Ao estudar as condigdes de cribos e nacdes nesses diversos Periodos étnicos, estamos lidando, substanci hist mente, com a a antiga € com as antigas condigdes de nossos proptios remotos ancests Noras Oprowse por possuit reapos, governo doy \ésticos, mas surgiam uma gundo Coulanges, “a associngio conti scendo naturalmente, segun ias ou fratrias agruparam-se e formaram i; em cada tribo houve divindade protetora.” (p.157) (N. Org.) © descobertas, governo, fa propriedade, cada qual NT) 0, autor de De rerun. também reve a su te Isc & invengox cotrespondendo a uma parte do livre Ancient Se » Tito Lucrecio Caro (96-55 a.C), Filésofo e poeta ro! natura. (NT) * A explicagao 1 paraa criacio da humanidade. (NcT.) Lewis Henry Mong Edward Burnett Tylor | A CIENCIA DA CULTURA [871] nplo senti Cc ultura ou Civilizagio, tomada em seu mais do etnogrifico, ¢ aquele todo complexe que inclui conhe cimento, crenga, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras pacidades ¢ habitos adquiridos pelo homem na condigio de membro da sociedade. A situagio da cultura entre as varias so- ciedades da humanidadc, na medida em que possa ser investi- ada se escudlo de leis do pensamento ¢ da agao humana. De um lado, a lo principios gerais, é um tema adequade para 0 uniformiclade que tio amplame permeia a civilizagio pode ser atribuida, em grande medida, 4 agdo uniforme de causas niformes; de outro, seus varios graus podem ser vistos como estagios de desenvolvimento ou evolugio, cada um resultando. dia historia prévia e pronto para desempenhar seu proprio pa- pel na modelagem da historia do fucuro. A investigacao desses dois grandes principios em varios departamentos da etnogra- fia, com atengao especial a civilizagao das tribos inferiores como relacionada com a civilizagao das nagdes mais elevadas, esta dedicado este livro. Nossos modernos investigadores das ciéncias da natureza inorganica sao os primeitos a reconhecer, tanto dentro quanto fora de seus campos especializados de trabalho, a unidade da natureza, a fixidez de suas leis, a seqiiéncia definida de causa ¢ efeito ao longo da qual todo fato depende do que se passou an- tes dele ¢ atua sobre o que vem depois. Eles se apegam firme- mente a doutrina pitagérica da ordem que permeia o Cosmo universal. Afirmam, com Aristéveles, quea natureza nioécheia 6 de episddios incoerentes, como uma t igédia ruim. Concor- dam com Leibni naquilo que ele chama“meu axioma: a natu- Feza nunca dai saltos (fam re m git jamais par saut),” seguem seu “grande cipio, usualmente pouco empregado, de que nada acontece sem razao suficiente”. Mesmo quando se estu= dam a estrucura e os habitos de plantase animais, ou se investi gam as fungdes inf sive dos seres humanos, esas idéias centr 5 ndo so ignoradas. Mas, quando passamos a fa- lar dos mais alros processos do sentimento ¢ da agao humana ~ de pensamento ¢ linguagem, conhecimento ¢ te, aparece tina mudanga no tom geral das opinides, Como um todo, 0 mundo esti mal preparado para accitar oes do da vida, na como um ramo da ciéne: plo, seg coisas naturais”,' Para muitas mentes educadas, parece hav natural e para, num sentido am- aexigéncia do poeta de “considerara moral como as algo insolente e repulsive aidgia de que a historia da hu dade seja uma parte essenci storia da nacureza; de qu hossos pensamentos, d -jose ages funcionem de acordo com leis to definidas quanto aquelas que governam o movimento das ondas, a combinagao de cidos e alealinos e © crescimento de plantas ¢ animais, As principais razdes de ser esse o julgamento popular nao sao dificeis cde encontrar. Existem muitos que voluntariamente aceitariam uma ciéncia da histéria se essa fosse apresentada com substancial definicio de principio e evidéncia, mas que, nao sem razao, rejeitam os sistemas oferecidos a eles por consi- derd-los muito distantes deum padrao cientifico. Através de re- sisténcias como essas, mais cedo ou mais tarde o conhecimento verdadleiro acaba abrindo seu caminho, ¢ 0 habito de se opor a novidades presta tio excelente sevigo contra as invasées de Edward Gumeet Tylor n dogmatismo especulativo que, as vezes, podemos até dese} que fosse mais forte do que 6. Mas outros obstaculos a investi- gagdo das leis da natureza humana surgem de consideracdes metafisicas ¢ teologicas. A nogao popular do livre-arbierio do homem envolve nao apenas a liberdade de agir de acordo com motivacdes, mas também um poder de se afastar da continui- sacle ¢ de agir sem causa ~ uma combinagao que pode set amente de uma balanga qu lustrada pela alego a habitual wwe de sua ma mas que também possu ide de mudar por si mesma, ndentemente dos pe- fa da vor sos ou contra eles desnecess au compativel com © rgumento, ico ~ subsiste como uma opiniao patente ou larente nas dos homens, afetando forremente suas visdes teéricas stOria, embora, como regra, nao seja proeminentemente izada numa argumentagao sistematica. Na verdade, a de! nigao de vontade humana como estritamente correspondente & motivacao éa tinica base cientifica possivel em tais pesquisas. Felizmente, nao € necessirio ampliar aqui a lista de disserta- sobre des sobre intervencao sobrenatural e causacao natura liberdade, predestinacao e responsabilizacao. Podemos avida- mente escapar das regides da filosofia transcendental ¢ da teologia para comegar uma jornada mais promissora por cami nnhos mais vidveis. Ninguém negara que causas definidas e na- turais de fato determinam, em grande medida, a agao humana ~ eisso.o homem sabe, pela evidéncia de sua propria conscién- cia. Entao, deixando de lado consideragoes de interferéncia extranatural e espontaneidade nao causal, tomemos essa adm tida existéncia de causa ¢ efeito naturais como nosso terreno. firme, ¢ andemos sobre ele enquanto nos der apoio. £ sobre iia da essa mesma base que, com sucesso crescente, a ciéncia fisica empreende sua busca das leis da natureza, Tampouco é neces sirio que essa restricao prejudique o estudo cientifico da vida humana, no qual existem reais dificuldades praticas decorren- ws da enorme complexidade da evidéncia e da imperfeigao dos métodos de observacio, Parece que, agora, essa ideia da vontade da conduta hu manas como sujeitas a urna lei precisa é, na verdade, reconheci- dae observada pelas mesmas pessoas que se opdem a ela quando apresentada em termos abst iq ponsabilidade pessoal ¢ © poe na cond: ros como um prin reclamando que ao livre-arbil io do homem, i seu senso de do degradada ae uma maquina sem alma. Ainda assim, aquele vida estud: do os motivos que conduzem a agao humana, buscando reali- m sui zar seus desejos através deles, construindo mence teorias de carver pessoal, calculando os efeitos provaveis de novas combinagdes e dando a seu raciocinio o atributo supre- mo de verdadeita investigagao cientifica; e, caso seus caleulos se revelem errados, presumira que sua evidéncia eta falsa ou ine completa, ou que seu julgamento foi falacioso. Essa pessoa re- sumira a experiéncia de anos gastos em complexas relacées com a sociedade declarando estar convencida de que existe uma razio para cudo na vida, e que, onde os eventos parecem inexplicaveis, a regra ¢ aguardar e vigiar, na esperanga de que a chave do problema possa um dia ser encontiada. A observagio desse homem pode ter sido tio limitada quanto sio cruase pre- conceituosas suas inferéncias, mas, ainda assim, ele tera agido como um filésofo indutivo durante “mais de 40 anos sem se dar conta”.” Ble reconheceu, na pratica, as leis precisas do pen- Yer n samento ¢ da agao humana, e simplesmente eiiminou, em seus proprios estucos da vida, todo aquele tecido formado por dese- jos sem motivo e espontaneidades sem causa, Presume-se aq que, dessa mesma forma, esse tecido deva ser descartado em es- tudos maisamplos, eque a verdadeira filosofia da historia este- jaem ampliar e melhorar os mérodos das pessoas comuns que Igamentos a partir de fatos e os checam com ormam seus jovas evidéncias. Quer a doutrina seja uma verdade completa ‘ow apenas parcial, ela aceita a condigao mesma sob a qual bus- camos novo conhecimento nas ligdes da experiéncia, e, numa a vida racional esc baseado nela salavra, todo © curso de “Um evento é sempre filho de outro, ¢ no devemos nunca esquecer 0 parentesco” ~ esse foi © comentario feito por um © missionario africano.' Assim, em todos, efe banto a Cas. storiadores, na medida em que pretenderam os tempos, os. ‘05 cronistas, fizeram © melhor possivel para ser mais que m: mostrar nao meramente a sucessdo, mas sim a conexdo entre os eventos que registravam. Além disso, esforgaram-se para extrair principios gerais da agao humana e, através deles, explicar even- tos particulares, afirmando expressamente, ou tomando caci- tamente como um dado, a existéncia de uma filosofia da historia, Se alguém negat a possibilidade de assim se estabele- cerem leis histéricas, a resposta esta pronta, dada por Boswell a Johnson num caso como esse: “Ento, 0 senhor reduziria toda © fato de que, ape- a historia a no mais que um almanaque.”* sar de cudo, os esforgos de tantos pensadores eminentes te- nham trazido a histéria somente até o limiar da ciéncia nao precisa causar espanto aos que consideram a desconcertante complexidade dos problemas que se apresentam diante do his- toriador geral. A evidéncia da qual ele tem que retirar suas con- clusdes & a0 mesmo tempo, to multivariada e tao duvidosa, que dificilmente se obtém uma visio completa e distinca de seu peso sobre ma questio particular; assim, rorna-se simples- ‘mente itresistivel a tentagao de decurpar a evidencia para fa- zé-laapoiar algum, mprovisada teoria do curso dos eventos. A losofia da st6tia como um todo, explicando o passado e pre- dizendo os futures Fendmenos da vida do homem com relerén- cia alets gerais, é, de fato, no atual estado deconhecimento, um rema como q | mesmo génios respaldados porampla pesqui- Sa, parecem apenas precariamente capazes de lidar. Ainda as- mb a bastante diffe sim, exiscem parces dela q comparativamente mais acessiveis. Se 0 campo de pesquisa for reduzide da F stéria como um todo para aqueie ramo aqui chamado Cultura ~ a historia nao de tribos ou nagdes, mas da condigao de conhey meno, religido, arte, costumes e sei hancas entre elas -, a tatefa da investigacao revela-se limitada a um ambito muito mais razoavel. Ainda enfientamos o mesmo tipo de dificuldades que cercam 0 tema mais amplo, mas em muimero muito mais reduzido. A evidéncia ja nao é tao erratic mente heterogénea, ¢ pode ser mais facilmente clas idade de se | relevantee tratar cada questao dentro de seu apropriado conjun- icada e comparada, enquanto a possi rar de material ir- to de Fatos faz. com que, de modo geral, a argumentacio rigorosa esteja mais disponivel do que na histéria geral. Isso pode surgir de um breve exame preliminar do problema: como o fenomeno da Cultura pode ser classificado e atranjado, estagio por estigio, numa ordem provavel de evolugio. Pesquisados a partir de uma ampla perspectiva, 0 cardtere © habiro da humanidade exibem, de imediato, aquela similari- dade consisténcia de fendmenos expressas no provérbio ita- liano: “o mundo todo é uma aldeia” (tutto il mondo & paese). A humana, de um lado, € partir da semethanga geral da nacure: nga geral das circunstancias de vida, de outro, essa dade ¢ essa consisténcia podem, sem diivida, ser eraga- das, sendo estudadas com especial proveito na comparagio de no do mesmo grau de civiliza- ragas que se encontram em t cao. B Ce pouica necessidade de se respeitar, em tais compara- h do do asteca medieval, ¢ 0 oji- da Africa n bes, data ranredos, a histéria ou lugar no mapa; o ar lagos suigos pode ser posto ao 1 do bua da América do Norte ao lado do zai de may Como disse o doucor Johns: rad Kiva, dole héus dos Mares do Sul nas Voya sabre os patagoes ¢ os ges de Hawkesworth,’ “um grupo de selvagens é igual a outro’ Quao verdadeita essa generalizagio realmente &, qualquer mu- seu etnoligico pode mostrar, Examine, por exemplo, os instru- mentos amolados e de ponta nessa colesao; 0 inventatio inclui machadinha, enx6, cinzel, faca, serra, raspadeira, broca, agulha, langa e cabega de flecha, ¢, desses, a maior parte, se nio a totali- dade, pertence, com pequenas diferencas de detalhes, as mais variadas racas. O meso se passa com as ocupagdes selvagens: cortar madeira, pescar com rede ¢ linha, cagar com funda elan- sa, fazer fogo, cozinhar, enrolar fios e trancar cestas repetem-se com maravilhosa uniformidade nas prateleiras des museas que iluseram a vida das ragas inferiores, de Kamchatka‘ a Terra do Fogo, e do Daomé ao Havai, Mesmo quando se trata de comparar hordas barbaras com nagdes civilizadas, uma consi- deragio impde-se a nossas mentes: até que ponto cada item da vida das racas inferiores transforma-se em procedimentos ana- logos nas racas supetiores, sob formas nao cio mudadas que * Ciencia da Culeure nao possam ser reconhecidas e, as vezes, praticamente intoca- das? Veja o moderno camponés europett usando seu machado sua enxada, veja sua comida fervendo ou assando num fogo de lenha, observe o lugar exato reservado a cerveja no cileulode sua Felicidade, ouga suas histérias do fancasma na casa assom- brada mais proxima e da sobrinha do fazenceiro, enfeitigada com n6 nas tripas, que entrou em convulsio e morret. Se sele- cionarmos assim coisas que pouco se alteraram no longe curso dos séculos, podemos desenhar um quadro em que estario, quase lado a lado, um lavrador inglés e um negro da AfricaCen- Estas paginas estardo to povoadas de mostras dessa cor respondéncia entre a humanidade que nio ha necessidade de entrar nesses detalhes aqui, mas isso pode ser usado, desde ja, para por de lado um problema que complicaria 0 argumen- to, ou seja, a questao da raga. Para o presente propésito, pare- ce tanto possivel quanto desejavel eliminar consideragoes de variedades heteditarias, ou ragas humanas, ¢ tratar a humani- dade como homogénea em nacureza, embora situada em dife- rentes graus de civilizacao, Os detalhes da pesquisa provario, parece-me, que estagios de cultura podem ser comparados sem se levar em conta o quanto tribos que usam o mesmo imple- mento, seguem © mesmo costume ou acreditam no mesmo mico podem diferir em sua configuracao corporal e na cor de pele e cabelo. Um primeito passo no estudo da civilizagioé disseca-laem detalhes e, em seguida, classificé-los em seus grupos apropria- dos. Assim, ao examinar as armas, elas devem set classificadas come langa, maga, Funda, arco-e-flecha, ¢ assim por diante; en- tre as artes réxteis, cevem constar tapegaria, confeccao de redes Edward Bumett Tylor 7 ediversos graus de complexidade no fazer e tecer fios;os mitos estao divididos em tépicos como mitos do nascer do sol e do poente, do eclipse, do terremoto, mitos locais que usam algun conto fantastico para explicar os nomes de lugares, mitos epo- nimicos que explicam a ascendéncia de uma tribo transfor mando seu: nome no de um ancestral imaginario; no grupo dos ritos ¢ ceriménias, ocorem praticas como os varios tipos de sa~ crificios para os fantasmas dos mortos ¢ para outros seres espi~ rituais, 0 volrar-se para o leste para orar, a purificagio de impureza cerimonial ou moral usando agua ou fogo. Tais sto uns poucos exemplos variactos de uma lista de centenas, eo tra- balho do ecnografo é classificar esses detalhes com vista a esta- belecer sua distribuigao na geografia e na historia ¢ as relagoes existentes entre eles. Em que consiste essa tarefa € um ponco que pode ser quase perfeitamente ilustrado comparando esses detathes de culturas com as espécies de plantas animais tal como estudadas pelo naturalista. Para o etnégrafo, 0 arco-e- flecha ¢ uma espécie, o habito de achatar os cranios das crian~ gas é uma espécie,a pritica decontar os nuimeros por dezenas & uma espécie. A distribuigao geogrsfica delas e sua transmissio de rogido a regido tém de ser estudadas como o naturalista es- cas ¢ zoolgicas. Asien tuda a geografia de suas espécies bot como certas plantas € animais sio pec distritos, isso também ocorre com instrumentos como o bu- fares a determinados merangue australiano, a vareta-e-canaleta polinésia para fazer fogo,a mindiscula flecha usada como uma lanceta por tribosna, regito do istmo do Panama [a zarabatanal; e, da mesma forma, com muito da arte, do mito ou de costumes encontrados isola~ damente em um campo particular. Assim como 0 catalogo de todas as espécies de plantas eanimais de um distrito representa ua flora ¢ Fauna, a lista de todos os itens da vida geral de um Povo representa aquele todo que chamamos sua culcura. B, as- sim como regides distantes tio freqtienremente praduzem ve- getais e animais analogos. mbora de forma alguma idénticos, omesmo ocorre com os deta iio de seus habitan- logia operacional entrea difu- sto de ad sao da civilizagio corna-se bem bas foram simultanea- mente produzidas pelas mesmas causas: numa regido apés ourra, as mesmas causas que tas cultivadase os an uma arte & n conhecimento correspondentes. O curso de eventos que levou cavalos ¢ trigo paraa América também levou com eles 0 uso de mas de fogo eo machado de ferro; por sua vez,0 mu ido todo recebeu em troca nao apenas milho, bataras © perus, mas © habito de fuumar tabaco ea rece de marinheiro. Ha um aspecto que vale a pena considerat: os relatos de fe- nomenos de cultura similares e recorrentes em diferentes par= tes do mundo fornecem, na verdade, uma prova incidental de Sua propria aurenticidade. H4 alguns anos, um grande his- toriador me fez uma pergunta que revela esse ponto: “Como pode um telato sobre costumes, mitos, crengas etc. de uma tt bo selvagem ser trarado como evidéncia nos casos em que isso depende do testemunho de algum viajante ou missionario que Pode ser um observador superficial, mais ou menos ignorante da lingua nativa, ou um comerciante descuidado de fala irrefle- tida, um homem preconceituoso ou mesmo intencionalmente enganoso?” Essa é uma questo que, por certo, todo etndgrafo deve cer sempre em mente. Sem duvida, ele rem a obrigacao de usar seu melhor julgamento quanto a fidedignidade de todos 08 autores que cita e, se possivel, obter diversos relatos para confirmar cada ponto em cada localidade. Mas o teste de recor 0. Sedo pendentes, em paises diferentes ~ digamos, um véncia vem antes e acima clessas medidas de precat muculmano medieval na Tartaria ¢ um inglés moderno em. Daomé, ou um missionario jesuica no Brasil e um metodista nas ino ats Fiji -, esto de acordo ao descrever alguma art ou mito corna-se dif alogo re os poves que visita Ato aeaso ou a cil ou impossivel atribuir tal correspondéne fraude intencional. Uma historia contada por um fugitive da 1a Australia pode, talvez, receber objegdes e ser vista um equivoco ou uma inv \s40, mas teria uM ministro meto- dista na Guiné conspirado com ele para enganaro puiblico con- tando [4 a mesma histéria? A possibilidade de mistificacao, neemente excluida diante de cal es- intencional ou nao, é fr tado de coisas, como no caso de um relavo similar sendo feiro duas terras remotas por duas testemunhas, das quais A vi veu um século antes de B, ¢ B parece nunca ter ouvido falar de A. Quao distantes so os paises, quao afastadas as datas, quao diferentes os credos e caracteres dos observadores, no catilogo de fatos da civilizagao, sAo coisas que nem é preciso demonstrar adicionalmente a qualquer um que der pelo menos uma olha- da nas notas de rodapé do presente trabalho. E, quanto mais singular o relato, menos proviivel que diversas pessoas em di- versos lugares fossem fazé-lo igualmente errado. Sendo assim, parece razoavel julgar que, de modo geral, eles sao verdadeiros, ‘que sua proximidade e regular coincidéncia devem-se ao sur- gimento de fatos semelhantes em varios distritos da cultura. Os faros mais importantes da etnografia so provados dessa maneira, A experiéncia leva o estudante, depois de algum tem- Yo po, a esperar que os fendmenos da cultura, como resultados de causas similares de ampla atuagao, devam su te epetidamen- mundo, e é isso qu ‘a constatar. Ele chega mesmo a des- confiar de afirmagées isolacias das quais nao conhece paralelo em outros lugares, e espera que sua autenticidade seja demons- res vindos do outro lado da ter- trada por relacos correspond ta, ou da outra ponta da historia. Tao Forte, realmente, é esse meio de autentica >, que o ctndgrafo, em sua biblioteca, pode vezes ou decidir nao apenas se um explorador particular é uum obsei Passemos agora da distribuigao da cultura em diferences A qualidade mais tende a tornar possivel o estuclo siste- quis, sed q paises para sua difusao dentro de cada um dele: da humanidade qu mitico da ci aga ¢ aquele notivel consenso ou acordo ti to que, até hoje, induz populacées inteiras a se unitem no uso da mesma lingua, seguirem a mesma religido ¢ as mesmas leis, estabelecerem-se num mesmo nivel geral de arte e conhecimen- to. Besse estado de coisas que toma possivel, atéagora, ignorar fatos excepcionais e descreveras nagdes em termos de uma mé- dia geral. E esse estado de coisas que torna possivel, até agora, Tepresentar imensas massas de detalhes recorrendo a uns pou os fatos tipicos, e que permite, uma vez estejam esses consoli- dados, que novos casos relatados por novos observadores simplesmence se encaixem em seus lugares para provar a soli- dez da classificagéo. Encontra-se tamanha regularidade na composicdo das sociedades de homens que € possivel por de lado diferencas individuais e, assim, fazer generalizagoes sobre a8 artes € opinides de nacdes inteiras, do mesmo modo que, Edward By nest Tylor olhando um exército do alto de uma colina, esquecemos 0 sol- dado individual ~a quem, ce fato, mal distinguimos na massa enquanto vemos cada regimento como um corpo organizado, espalhando-se ou se concentrando, avangando ou batendo em retitada, Bm alguns ramos do estudo das leis sociais, € possivel agora recorrer & ajuda de estatisticas ¢ destacar ages especifi- Nc dle companbias de seguro. iosde cas de grandes comunidades mistas por meio de cal coletores de impostos ou de tabel Entre os modernos argumentos a respeito das leis da ago hu- hum tem tido efeita mais profundo que generaliza- © sobre a regularidade, no ape Ges como as de Quer questes como estatura média ¢ taxas anuais de nascimento € de obscuros eaparen- morte, mas da recorréncia, ano aposai liveis producos da vida nacional, como os nt temente incal meros de assassinatos e suicidios ¢ a proporgio das proprias nual armas do crime. Outros casos notaveis sia regularidad de pessoas mortas acidentalmente nas ruas de Londres ¢ as cal tas sem enderegos postas nas caixas das agéncias de correio. Mas, quando examinamos a cultura das racas infetiores, longe de tera disposigio os fatos aritméticos medidos pela estat moderna, podemos ter que julgar a condigao de tribos a partir de relatos imperfeitos fornecidos por viajantes ou missiona- rios, ou mesmo fazer inferénciasa respeito de reliquias de ragas pré-histéricas de cujos nomes ¢ linguas somos itremediavel- mente ignorantes. Esses podem parecer, a primeira vista, mate- riais lamentavelmente imprecisos € ndo promissores para. a pesquisa cientifica. Mas, na tealidacle, nao 0 si, pois produ- zem evidéncias tao boas quanto se pode obter, Sao dados que, pela maneira distinta como cada um denota a condigao datri- bo a qual pertence, realmente permitem comparacao com os resultados estatisticos. O fato é q uma ponta de flecha Feira de pedra, uma clava entalhada, um idol uma epultura onde ese1avos e proptiedade foram e dos para uso do morto, uum relato dos ritos de um feitics } para faver chover, un ca bela de miimeros, a conjugagao de um verbo, cada uma dessas S expressa 0 estado de um pove com relagde a um aspecto particular de cute , © do verdadei nente quanto a tabula- nen. so do miimero de mortes por env lento € ¢ nixas de cha importadas expressam, de maneira diferente, outros tados parciais da vida geral de toda Qu roupa, det na comunidade, sar uma det minadas ferramentas ¢ armas, ter leis especiais de casamento ¢ propriedade, doutrinas morais e religiosas es- Peciais, € um fato notavel, ¢ o percebemos tao pouco porque v vemos toda a nossa vida no meio dele. [ especialmente com tais qualidades gerais de corpos organizados de hom ns que a ec nografia tem de iar. Ainda assim, embora generalizando so- bre a cultura de uma tribo ou nagao, e deixando de lado as Peculiaridades dos individuos qu a compdem como sendo sem importancia para o resultado principal, devemos ter o cui dado de nao esquecer 0 que compée esse resultado principal. Ha pessoas tao concentradas no aspecto individual da vida de outras que nao conseguem aprender a nogo de aco de uma comunidade como um todo; tal observador, incapaz de uma vi- sao ampla da sociedade, esta adequadamente descrito no dito “as drvores o impedem de ver a floresta”. Mas, por outro lado, 0 fil6sofo pode estar tao concentrado em suas leis gerais da socie- dade que chegue ao ponto de negligenciat os atores individuais dos quais a sociedade ¢ feita, e dele se pode dizer que a floresta nao o deixa ver as arvores. Sabemos como artes, idéias e costu- Edward Burnett Tylor ky mes 1o moldados entre nds pelas acbes combinadas de muivos ndividuos, ¢ os motives e efeitos dessas agdes freqtien monia, é uma hist wengio, cle uma opinido, de uma ci sugestio e modificagao, encorajamento e oposicio, gs ho pes- soal e preconceito grupal, ¢ cada um dos individuos envolvides: conforme dewer age de acordo com seus préprios moti nado por seu carater © suas circunstancias. Assim, as vezes ob- servamws individuos agindo em fungao de seus proprios fins, pouce preocupados com os efeitos sobre a sociedade em yeral, © a8 vezes temos que estudar movimentos da vida nacional m todo nos quais os individuos partici pantes estao to- talmente fora de nosso campo de observacio. Mas, vendo gue a aio social coletiva ¢ 0 mero resultante das ages de muitosiry dividuos, ¢ claro que esses dois métodos de pesquisa, se correta- mente seguidos, tem de ser absolutamente consiscentes, Ao estudar tanto a recorréncia de habitos ou idéias espe- ciais em diversas regides quanto sua prevaléncia dentro de cada uma delas, apresencam-se diante de n6s provas sempre reitera- das de causagao regular produzindo os fendmenos da vida hu- mana, ¢ de leis de manutengio e difusio de acordo com as ‘quais esses fendmenos se consolidam em permanentes condi- Ses-padrao, em estagios de cultura definidos. Mas, embora dando total importancia & evidéncia aplicavel a esas condi- s@es-padrio, devemos ter cuidado para evitar uma armadilha que possa enganar 0 estudante desavisado. E claro que as opi- ides e os habitos que pertencem, em comum, a massas da humanidade sao, em grande medida, os resultados de sélido julgamentoe sabedoria pratica, Mas, também em grande medi- da, nao € assim que ocorre. Que intimeras sociedades tenham Be A Ciencia da Culeurs acreditado na influéncia do mau-olhado ¢ na existéncia de firmamento, cenham sacrificado eseravos e bens para os fantas- mas dos mortos, cenham transmicido tradigdes de gigantes es- tragalhando monstros ¢ de homens que se transformam em bestas - tudo isso ¢ base para sustentar que tais idéias foram, realmente, produzidas nas mentes dos home por causas efi cientes, mas nao € base para sustentar que os ritos em questio eram benéficos, as crengas razoaveis ea hist ia auténtica. A primeira vista, isso pode parecer um truismo, mas, de fato, é negacdo de uma falacia que afeta profundamente as mentes de 's. exceto de uma minoria critica d humanidade, Popular mente, acredita-se que o que todo mundo diz deve ser verdade, © que todo mundo faz deve ser correto ~ “Quod ubique, quod semper, quod ab omnibus creditum est, hoc est vere propric- que Carholicum” ~ e assim por diante. Ha varios eopicos, espe- cialmente em historia, direito, Filosofia e teologia, a respeito dos quais até as pessoas educacias entre as quais vivernos difi mente podem ser levadas a ver que a causa de os homens sus- tentarem uma opinido ou seguirem um costume nao é de forma alguma, necessariamente uma razio para que sejam obrigados a fazé-lo. Colegdes de evidéncia etnografica que tra- zem tao proeminentemente a vista a concordancia de imensas multicioes com relacdo a certas tradigdes, crengas e usos peculiar facilidade de serem usadas de forma inapropriada Para a direta defesa dessas proprias instituicdes, ¢ vemos até mesmo plebiscitos sendo feitos entre antigas nagées barbaras Para sustentar suas opinides contra o que é chamado de idéias modernas. Como, mais de uma vez, ocorreu a mim mesmo en- contrar minhas colecdes de tradicdes crengas artumadas para Provar sua prépria verdade objetiva, sem examinat adequada- Edward Burnett Tylor 8 mente as bases sobre as quais foram realmente recebidas, apro veito a ocasido para comentar que a mesma linha de argumen- to servird igualmente bem para demonstrar, com base no forte camplo consenso das nagdes, que a terra é plana e que pesacte los sao a visita de um deménio. Tendo sido mostrado que os detalhes da Culcura per. mitem sua classificagao num grande ntimero de grupos etnogra Ficos de artes, crencas, costumes etc,, segue-se agora a considera cao de aré que ponto os facos arranjados nesses grupos sao ese produvzidos pela evolucao de um para 0 outro. Dificilm: ia necessério apontar que, embora cada um dos grupos em questo seja mantido unido por um carater comum, nao sao. die forma alguma, definidos com exatidao. Usando novamente ailustragao da historia nacural, pode-se dizer que eles sto esp cies que tendem a uma ampla dispersio entre variedades. E, quando se trata da questa das relagdes entre alguns desses grupos, fica dbvio que estudante dos habitos da humanidade tem uma grande vantagem sobre 0 estudante das espécies de inure os naturalistas, esta em aberto a que: Jantas ¢ animais. i de se uma ceoria de desenvolvimento de espécie a espécie é uum registro de cransicdes que realmente aconteceram ou um, mero esquema ideal utilizavel para a classificagao de espécies cujas origens eram na verdade independentes. Mas, entre os etnégrafos, nao existe tanto questionamento sobre a possibili dade de espécies de implementos, habitos ou crengas terem se desenvolvido um do outro, pois nossa percepgao mais usual re- conhece © desenvolvimento na Cultura. A invengo mecinica fornece exemplos adequacos do tipo de desenvolvimento que afeta a civilizacao como um todo. Na histétia das armas de Fogo, 0 tosco fecho de roda, no qual uma roda de ago denteada la Cultura era girada por uma mola contra um pedaco de pitita até uma fagulhaacendesse o pavio, levou nvengdo do mais d vel fecho de pederny per ativa a, dos quais ainda restam uns poucos rados nas ¢ozi 1as de nossas faze eM pequenos passaros no Natal; com o fecho de pederne passou por modificacses até © fecho de cUSsAO, que esté pr samence agora mudando si pela culatra, © astrokibio medieval dew ao quadrante, ¢ este foi ago: omem do usa. o mais deb lo sextanve; ¢ assim aconeec ae longo da historia das artes e das instrumentos, Tais exem- plos de progressao sio conhecidos por nés como histsria d ta, mas essa nocao de desenvolvi ALO esti lo int nstalada em, ssas mentes que, por meio dela, reconstr sem escrtipulos, a historia perdida, confiando no con to geral dos principios do pensamento eda.acio h uum guia para p6r os fatos em sua ordem apropriada. Quer as ctOnicas registrem ou nao 0 fato, hecimen- mana como, nguém duvidaria, comp: rando um arco longo ¢ uma besta, de que a segunda foi um de- Senvolvimenco surgido a partir do instrumento mais simples. Assim, entre as brocas de fogo que operam pot fric¢ao, parece cotalmente Sbvio que a que funciona com um cordao ou arco é um avango em relagzo ao instrumento primitivo de fazer Fogo desajeitadamente girado entre as maos. Aquela instrutiva clas- se de espécimes que antiquérios as vezes descobrem ~ macha- dos de bronze modelados na forma do pesado machado de pedra - dificilmente pode ser explicada exceto como sendo os Primeiros passos na transicao da Idade da Pedra para a [dade do Bronze, logo seguidos pelo proximo estigio de progresso no edward Burnete Tylor a onsistentemente mente, séries de fatos que podem ser anjados como tendo surgide um apos 6 outro numa ordem de desenvolvimento, 1 particu! que dificilmente permiti- naor por exemple, s » serem poste lo 7, sobre “A Arte a se nivel de ct porde baixo, ¢ nao pela degraciacao desde um estado mais elevado. Entre as evidéncias que nos ajudam a tragar 0 curso que a iacao mu mente seguit esta aquela grande classe conveniente denorar usando © termo, Tratase de processes, costumes, opinides, € assim por diante, que, por forga do habito, continuaram a exis- tir num novo estado de sociedade diferente daquele no qual « ram sua origem, ¢ entdo permanecem como provas ¢ exem plos de uma condigao mais antiga de cultura que evoluiu em uma mais recente. Assim, conhego uma mulher idosa em So- mersetshire cujo tear manual data do tempo anterior intro- dugao da langadeira mével. Ela nem mesmo aprendeu a usar a novidade, ea de um jeito verdadeiramente clissico; essa mulher idosa nao est um século atras de seu tempo, mas é um caso de sobrevi- vencia. Tais exemplos freqtientemente nos levam de volta aos habitos de centenas € até milhares de anos atras. © ordélio da have ¢ da Biblia, ainda em uso, € uma sobrevivéncia;" a fo- jogando a langadeira de uma mio paraa outra gueira do solsticio de verao" é uma sobrevivéncia; o jantar para se A.Giencia da Cultura “Todas as Alinas” oferecido pelos camponeses bretdes aos espi- titos dos mortos é uma sobrevivéncia. A simples manucengao de habitos antiges € apenas uma parte da eransicdo do tempo antigo pal 0s tempos novo: Podemos ver aq que era um assunto sétio na sociedade antiga sendo reduzido a entrecenimento de geragdes fururas, ¢ suas graves crengas per durando como historias fol icas para criangas, enquanto habitos superados que Faz m parte da vida do mundo antigo podem ser modificados e adquirie formas ainda poderosas no mundo novo, para 9 bem e para o mal. As veres, v hos pensa- mentos ¢ ae hovamente, para su iticas iro ireompy pre: um mundo que os pensava hi muito mortos ou morrendo; aqui, sobrevivéncia cransforma-se em renascimento, como tem na histor aconrecido ultimamente, de maneira rio notin do espi tos do ponto de vista do etndgrafo. O estude dos principios de tualismo moderno, um tema cheio de ensinam sobrevivéncia tem, na verdace, uma importancia pratica nada Pequena, pois a maior parte do que chamamos superstigao esta incluida nas sobrevivencias e, dessa forma, fica exposta ao ata~ que de seu mais mortal inimigo: uma explicagao razodvel. Além disso, insignificantes como sio, em si mesmos, 0s abundantes casos de sobrevivéncia, seu estudo ¢ tao util para tragar 0 curso do desenvolvimento hist6rico - nica forma possivel de enten- der seu significado ~ que se tora um ponto vital da pesquisa etnografica obter a mais clara compreensio possivel de sua na- tureza. Essa importancia deve justificar o nivel de detalhamen- to que se devota aqui ao exame da sobrevivencia, com base em evidencias de jogos, ditos populares, costumes, supersticdes ¢ coisas semelhantes que bem podem servir para revelara manei- ra como aquela funciona, Edward Burnett Tylor Progresso, degradagao, sobrevivencia, renascimentoe mo- dificagao sdo, todos eles, aspectos da conexao que liga a com plexa rede da ci viais de nossa propria vida didria para nos por Jo. Basta uma olhada nos detalhes «i- vs a pensar 0 quanto somos nés realmente seus originadores e © quanto so- mos apenas os transmissores ¢ modificadores dos Fes pando a nossa vol de eras muito a igas. © ‘em que vivemos, podemes veri ssor, a Renascenca, par locados ou mutilados, es- mesmo espelho. Transformados, Jenamen ses elementos de arte ainda carregam suas hiscé ce estampadas; ¢, se a histéria ainda mais antiga ¢ menos fic} nao v . porque nao podemos discer- dle ser lil la clarament istria ali, Assim se passa até com a moda das roupas. Os ridiculos rabinhos das casacas dlos cocheiros alemaes contam, por eles mesmos, como acaba- ram chegando a uma coisa tio rudimentar e absurda; mas os colarinhos dos clérigos ingleses ja nao contam sua histéria de imediato para quem as vé, e parecem bastante inexplicéveis até que se tenham visto os estagios intermediarios pelos quais pas- saram desde os colarinhos largos, mais titeis, como os que Mil- ton aparece usando em seu retrato ¢ que deram o nome as caixinhas utilizadas para guarda-los, De fato, um livro de mo- da, mostrando como um vestudrio cresceu ou encolheu em es- tagios graduais e se transformou em outro, ilustra com muita forgae clarezaa narureza da mudanga e do crescimento, do res- surgimento da decadéncia que ocorrem ano a. ano em ques- Ack 's importantes da vida, Nos livros, novamente, vemos cada escritor nfio.em © por si mesmo, mas ocupando s gar apropriado na hister amos através de cada at Mitico, qu nico, poeta, pi a0 panod cacav ~ através de Leibniz, vemos Desearte Priestley; de Milton, Hom nha contribs 0, Oestudo da linguagem talvez te- ido mais que qualquer outta coisa para removs de nosso conceito sobre © pensamento ea agao dos ho ia 8 de acaso © invengao arbitratia, e para substicu uma teoria de des por nenco através da cooperagio de ho- duais, de processos que most npr raza is quando 0s Fatos s mence conheciclos adimentar qu nda seja ac cia da cultura, esto cada ver mais Fortes os sintomas de que mesmio os que parecem Ser seus mais espontineos e imotivados fendmenos acabario por se revi 8 € efeitos ps (Go certamente quanto os fatos da mecinica. O que poderia ser Popularmente visto como mais indefinido e incontrolavel que © produtos da imaginacao revelados em mitos fabulas? A\ dia assim, qualquer investigacao sistem ‘itica da mitologia, com base numa ampla colesao de evidéncias, mostra em tais esfor- sos de imaginacao, de forma suficientemente clara, tanto um desenvolvimento de estigio a estagio quanto uma produgio de uniformidade de resultado derivando da uniformidade de cau- sa. Aqu } Como em outros casos, a espontaneidade sem causa é vista retrocedendo mais e mais e se ocultando nos escutos re- cintos da ignorancia. O mesmo se da com o acaso: ele ainda mantém seu lugar entre 0 vulgo como uma causa real de even- tos de outra forma inexplicaveis, mas, para os homens educa- dos, ha muito nao significa nada, conscientemente, além de bir as ogdes de impulses ar Sorte, icabilidade indet bsurdo ¢ inexp neadeiras pueris, superstigoes absurda: propésico sao esponi iver exata~ guem pode neos porg mente como aparec m € algo que nos lembra 0 efeity seme- ia excéntrica do arror selv hante que a ap: icanos. Te sobre a Filosofia de uma tribe de indios a na harmonia da narureza os efeitos dendo, de modo ge ‘a vontade pessoal controladora, os tedlogos si ito todas.as coi eo Grande Espirico exeeto o arroz selvagem, e que esse aparecera por acaso, von Humboldt, “sempre co “O homem”, disse W’ i nua algo a partir do que ja existe.” A nogao de continuidade da agao contida nessa maxima nao é um principio, estéril; logo adquire conotagao pritica pela consid que aqueles que desejam entender suas proprias vidas devem conhecer os estagios através dos quais suas opinides e habitos vieram a ser o que sio. Auguste Comte dificilmente terd exage- rado a necessidade desse estudo do desenvolvimento quando io de sua Filosofia positina, que “nenhuma con- cepsao pode ser compreendida exceto através de sua histéria,” € essa frase pode ser estendida a cultura como um todo. Esperar olhar a vida moderna de frente e compreendé-la pela mera ins- pecdo € uma filosofia cuja fragilidade pode ser facilmente tes- tada, Imagine alguém explicando o dito trivial “um passarinho me contou” sem conhecer a antiga crenga na linguagem dos passaros e dos animais a qual o doutor Dasent, na introdugao dos Contos nérdicos,"' tao razoavelmente traca sua origem. Ten- A Ciencia da Culeura tativas de explicar, a luz da razao, coisas que precisam da luz da historia para mostrar seu significado podem ser exemplifica- das pelos Comentarios de Blackstone. Ble acreditava que 6 pré- priv direito do plebeu de levar seus animais para pastar nas terras comunais encontra explicagao no sistema feudal, “Pois, quando os proprictarios rurais concediam parcelas de terra aos arrendatirios em troca de servigas feitos ou a m arar nem adubar a cerra sem animais; esses au m Ser mantidos sem pasto; e pasto nao podia ser ob- se no Foss nas terras desocupadas do proprietério © nas terras sem cultiv Jo cereadas, suas ou de outros arrenda- tarios. A ntO, anexou a concessio de terras esse direito 20 uso das terras comuns, como coisas insepariv orig essa foi a, nm da serviclio de pastagem,” ete." Embora nao haja nada racional nessa explicagao, ela nao esta de acordo, de forma al- guma, com a lei teuténica de propriedade fundiatia que preva- lecia na Inglaterra muito antes da conquista normanda, e da qual os vestigios nunca desapareceram toralmente. Na antiga comunidade alded, mesmo a terra ardvel que estivesse nos grandes campos comuns que até hoje podem ser encontrados €m nosso pais ainda Jo havia sido transformada em proprie- dade separada, enquanto as pastagens nas terras sem cultivo e nos campos com restos de colheitas, bem como nas terras deso- cupadas, pertenciam em comum a todos os chefes de familia. Desde aqueles dias, a mudanga da propriedade comunal para a individual transformou, em grande parte, esse sistema do mundo antigo, mas o direito que o camponés possui de levar seu gado para pastar nas terras comuns ainda persiste, nao como uma concessao a arrendatérios feudais, mas como ja sen- do direito dos plebeus antes deo senhor haver reclamado a pro- Edward Bs priedade das cerras desocupadas. B sempre arriseado sepat um costume de sua ligagdo com eventos passacos, tracando-o Jado a ser simplesmente descartado com al como um face guma expli 8 0 plausiv / Ao levar adiante a grande tarefa da etnografia racionall —a s que produziram os fendmenos de cul Investigagao das turae das leis as quais estao subordinados ~, é desejivel montar tum esquema de evolugo dessa cultura, to sistematicamence linhas. No capitulo 2, quanto possivel, ao longo de suas mui mento da Cultura”, ¢ feita uma tenrativa de es “O Desenvoll a cal como p hogar © curse resrice da civil: ser, no todo, mais de acordo com a evidencia. Comparando os varios estigios de civilizaydo entre ragas conhecidas da historia, com a ajuda de inforéncia arqueologica derivada dos restos de tribos pré-historicas, parece possivel formar uma opiniie, ain- da que grosseita, sobre uma condigio anterior geral do ho- mem. Do nosso ponto de vista, essa condigaio deve ser tomada como a primitiva, mesmo que, na realidade, algum estagio ain da mais remoto possa ter existido antes dela. E'ssa condigao pri- mitiva hipotética corresponde, em considerivel medida, a das tribos selvagens modermas que, apesat da diferenga e distancia entre si, cém em comum certos elementos de civilizagao que pa- recem residuos de um estado anterior da raga humana em ge- ral. Se essa hipotese for verdadeira, entéo, apesar da continua incerferéncia da degeneracao, a tendéncia central da cultura, desde os tempos primevos até os modernos, foi avangar,a par- tir da selvageria, na direcdo da civilizacao. Quanto ao problema dessa relacao entre a vida selvagem e acivilizada, quase todos os milhares de fatos discutidos nos capitulos 3 ¢ 4 subseqiences estao diretamente relacionados a ele. Sobrevivencias na Culeu- ta, deixando,ao longo de tocto 0 curso do avango da civilizagao, pistascl ‘as de significado para aqueles que podem cecifra até hoje sustentam, nevos dle pensamento ¢ ida barbaros. Sua inves fala fortemence a favor da idéia de que os e icontrar entre os, pcre os maoris muitos elemen: adro de seus an strais. primitivos, fa, 08 capitulos que « m do problema da or gem da linguagem (5 « 6), Embora musitas partes lessa quiestto ainda permanecam obscuras, seus aspectos mai Vestigar sea Fala reve stia ov selvagen ado dess Pesquisa € que, consistence: inte com toda evidléncia conhecida, esse pode ter sido 0 caso. Uma consegiiéneia bem mais det nida & mostrad. a partir do me da arte de contar, no capitulo 7. Pode se seguranga, q afirmado,com ndo apenas essa importante arte é encontrada, emestado rudimentar, entre cribos selvagens, mas que uma evi déncia satisFaeéria prova que anumeracio foi desenvolvida por Invengao racional, desde esse estado inferior até o que possui- mos hoje, O exame da mitologia contido nos capitulos 8,9.¢ 10 € Feito, quase na cotalidade, a partir ce um ponto de vista espe- cial, sobre evidéncia coletada para um propésito especifico: trax sara telacdo entre os mitos de ttibos selvagens e seus analogos Pas nagdes mais civilizadas. A pesquisa sobre essa questio avanga muito para provar que os primeiros fazedores de mito sutgiram e floresceram entre hordas selvagens, dando inicio a uma arte que seus sucessores mais cultos levariam adiante até que os resultados se fossilizassem em supersti¢ao, fossem to- mados equivocadamente como hist6tia, assumissem a forma de poesia, ou fossem descartados como disparates, ‘Talvez em nenhum outro campo sejam tao necessarias vir soes amplas de desenvolvimento histirico quanto no estude de cucto que tem sido eserite para dar aco: dla religiao, Ape: nhecerao mundo as teologias infer 5, as idéias popu coma fé de nagdes 0 bre seu lugar na historia e sua rela elevadas ainda sio do tipo medieval. [ maravil nos Ensaios de Max Ma alguns disrios de missionarios co comparando, de um lado, a inse sequiéneia de > sobre © brarani m zelo estreito e host mo, © budisme ¢ 0 zorvastrismo, e, de ou nhecimento pode investigar essas fases a a simpatia cate igas ¢ nobres dla consciéncia religiosa do hom

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