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APINTURA Colegio em 14 volumes 1,0 mit da pintura 2. A teologa da imagem e o extatuto da pintura 3. Adela eas partes da pincura 4.0 belo 5. Da imitasgo expressto 6.A figuea humana 7.0 paralelo das ares 8, Descrgho intexpretagio 9. 0 desenho € cor 10. Os gneros picréicos 11, Asescols€o problema do estilo 12, O ati, a formagéo¢ a questo sodal 13.0 elt do pintor 14, Vanguard ¢rupeuras Dikegéo geral de Jecqueline Lichtenstein Colaboragio de Jean-Frangots Groulies, Nadeije Laneyrie-Dagen Denys Riour A PINTURA Testos essencis Vol. 14 ‘Vanguardas e rupruras Aprecentagio Denye Rout Coordenagto da tadugto Magnélte Costa editoralll34 ‘Vanguardas e rupturas Denys Riout No século XIX, a valorizagio do génio, associada as uma fronteita nftida entre dois campos antag6nicos: de um lado, 0s pintores cobertos de glia, favorecidos por enco- mendas oficiais e, no entanto, fadados ao esquecimento; de ‘outro, os artistas incompreendidos, estigmatizados pela maioria de seus contemporaneos, porém apoiados por al- guns apreciadores esclarecids, cujo mimero no parava de aumentar. Os primeitos respeitavam as regras transmitidas pela tradigfo, cujo valor estava provado. Os outros inova- vvam, desafiando assim as opiniGes formuladas no contato com as obras e as concepgbes estabelecidas. Nos anos 1880, ‘Théodore Duret apontou esse anta~ gonismo ¢ propés uma explicagio: 0 pilblico ¢ capar,de sentir ¢ apreciar as obras de arte “quando estd diante de Toumasigeltas Cae procedlimentos tradicionais”, paisa “de- cifragio” j4 estd feita. “Mas, se as ideias so novas, as ma- nneiras de sentir originais, se a forma que as ideias possuem, oe ' 1 Bassas mudangasestio vinculadas is novasrelagbes entre arte e pi- tic: desde que o Salo liberou as ages das exigttas du encomends, todos podem jugar as obras, agora destinadas ao mercado lve poranto submetidas 8s leis da ofertae da procure. A pineuca seo molde que as obras adotamn sio novos e pessoais, i Theapacidade do grande pablico de compreendei ceber imediatamente € certa c absoluta. “Amigo de tlcr ede Manet, em 1885 Durct reané seus artigos numa obra cujo titulo & emblemético: Critico de vanguarda. O «0 eftico de vanguarda deve preparar seus contempordneos ¢ ‘peragées futuras para melhor avaliarem as inovag6es. a Os militares haviam cunhado o termo “vanguarda’, No século XIX, os socialistas o empregaram num sentido metafdtico: ee figura nos titulos de numerosas publicagbes das diversas correntes de esquerda. Mais tarde, quando pe- netra no campo artistico, o termo consetvaré suas resso- “Za compreende un elemento “eterno, inva- ¢ outro, “relativo, circunstancial, sendo estes — sucessives ou concomitantes — como quiserem, a época, 2 moda, a moral, a paixo’,? objetivo da busca do novo 6 permitir As obras de hoje rivalizarem com as de ontem, a fim de serem dignas destas tltimas e de pocerem sucedé- las. Uma outra concepgao do vanguardismo triunfa no século XX, quando 0 novo € promovido a categoria de valor. Nessa perspectiva, a luta contra 0 passado, conside- rado sempre caduco, por mais préximo que ele seja, privi- legia a ruptura radical, incessantemente reiterada, como finico meio de manter viva a ctiagéo artistica, B verdade que.asucessio répida dos tsmas comegou na segunda me tade do século XIX, mas ela se acelerou con: or siderayelmente 2 Théodore Duret, “Let peintes impressonnists’, em Critique Eavo-grde, Pats, Carpentier, 1885. 9G, Bauddate, “O pintor da vida modern (1863), ver o volume 4, Obelo 10 (EE, 0 “ereacbes, de adesbes © 1c ae NE hos, em seguida o fututismo, o raionismo, o suprematis- VVanguardas ¢ rupturas = aolongo do século XX, cuja histdria artistica parece — er: _Foncamente— poder reduair-sea uma sie de proposigées rbes: depois do fauvismo, trans- hordante de cores, a cnbismo e seus dégradés de tons casta- seh mo, 0 construtivismo, 0 unismo ete. Além de causar vertigem tanto nos apreciadores como nos especialistas, por mais receptivos que sejam, a sequén- cia de rupwuras resulta na incompreensao dos contempor neos. A indignagio ou o riso — reagées muito comuns no século XIX — ainda se repeter diante das criag6es van- guardistas. Em 3 de dezembro de 1912, por exemplo, 0 deputado socialista Jean-Louis Breton, incomodado com a presenga de obras cubistas no Salo de Outono, interpela © governo: “Ei absolutamente inadmiss{vel que nossos pa~ licios nacionais possam servir a manifestagbes de cardtet to nitidamente antiartistico € antinacional”, Contudo, muitos artistas do século XX nao reagem mais a esses ata- ques da mesma maneira que seus predecessores, Em vez de esperar que os critics expliquem 20 piiblico suas inteng6es c estratégias, eles préprios decidem assumir a pena e parti- cipar dos debates. Certamente nem todos fazem isso, ¢ hé vitios antecedentes dessa pritica, inclusive entre artistas jlustres. Mas a importincia quantitativa e qualitativa dos Spr ecritos de artistas & uma das caracteristicas principais da arte no século XX. Eis por que decidimos privilegiar, neste volume, os textos dos préprios pintores. we Os primeiros manifestos artisticos sio literdtios; so- ww 7 4s wy mente no comego do século XX os pintores adotam o gé- ~ nero, Obra de um autor ot: de um grupo, o manifesto " p@P —apregoa e defende posigdes bem definidas. Como um ato de oposigio, ele néo se contenta em criticar. Apoia-se na anilise que faz do presente para propor solugoes de futuro, " A pintura prescreyer valores alternativos. Enquanto texto program4 tico, o manifesto estimula as tomadas de consciéncia e so- licita os alinhamentos. Em outras palavras, o manifesto” areistico, sempre militante, pretende ser 20 mesmo tempo Sees baarldins Incisive: peremptbro, dle devolve aot riticos conservadores a violéncia de seu tom. Hi um ma- nifesto futurista tuss0, por exemplo, que se intitula “Tapa na cara no gosto do piblico” (1912). Um pouco mais rar- de, Maliévitch dirige-se a scus ouvintes nestes termos: “Re- jeitamos o futurismo, ¢ nds, que somos os mais audaciosos, ‘uspimes no altar de sua arte. Ser& que 0s covardes poderio ccuspir sobre seus {dolos? Como nés, ontem!!! Eu Ihes digo que nfo veréo novas belezas e uma nova verdade enquanto nao ousarem cuspir”.4 ‘Ao lado dos manifestos ruidosamente polémicos, que com frequéncia dominaram a cena, 08 artistas e os erfticos, interessados em explicar € convencer, publicaram indimeros textos tedricos ou didéticos. A abstragao, em suas miiltiplas formas, ainda hoje choca uma parte do piblico, embora ‘muitas andlises tenham tentado provar que ela se inscreve nna continuidade da arte anterior. Seu surgimento, nos anos 1910, foi sentido como uma ruptura definitiva. © abando- no da mimesis constitui, de fato, uma ruptura maior. Seus principais precursores, Kandinsky, Maligvitch e Mondrian, procuracam explicicar suas intengdes; teservamos um lugar de destaque para seus escritos 4.0 cent dessa confetacia de Maléritch, por ocso da primeira exposigio do Quednado negro, fi publcado em francés com o titulo “Dt cabiame et du faturisme au supeématisme, le nouveau raisme pictur", tem De Cleanne au sprématione, Jean-Claude Marcadé (org), Lausanne, Age d Homme, 1974 2 oe wh) oe, al \Venguardas © rupturas Os textos reunidos neste volume devem possibilitar, também, uma melhor compreensio de algumas conse- ‘quéncias significativas da crise dos valotes art{sticos provo- cada pelas vanguardas entre 1910 ¢ 1920, Eles sio apresen- tados em trés partes, intituladas “Rumo a pintura pura’, *O fim da pintura’ e “Da pintura as artes plasticas’. Essa orden de exposicéo segue a do encadeamento ligico das etapas, mais do que a cronologia estrita> Muitos desses artistas anteciparam as iltimas consequéncias do desenvol- ‘vimento vanguardista, para entio encerrar a histéria da pintura c inventar outros tipos de atividades plasticas. f, em particular, 0 caso de Marcel Duchamp, reagindo contra © puro retiniano, e cujos ready-made provocaram um ver- dadeiro cisma no sistema das artes. I, Rumo A pINTURA PURA gir, Ao acitat o modelo de desenvolvimento proposto pelo vanguatdismo, o pensamento attistico permanece tri butétio das concepgées teleoldgicas da histéria.° Cada ino- vvacio é vista como tum passo a mais na busca de uma vet- dade, menos metafisica que ontolégica. Uma ver abando- nadas as suas fang6es servis tradicionais, a pintura se ve autonomizada ¢ se refugia na busca por uma especificidade, O nascimento da abstragio permite romper os vinculos de prt sujeigao impostos pela mimese. Assim, 0 relato ¢ o Utpic- 4 5 Contudo, em cada pact,‘ sucesto dos textos segutd a order cronoldgia de publicagt. 6 Sob esse aspect, Hegel continua sencdo o lider espirtual de qual- quer vanguardismo, Vero vlume 5, Da imitate & expres 3 Vanguardas e rupturas awk OO, ON sas pox | or noe athe ene an Ss a tun poet sto epdiados, , junto deles’o tetas que passa ser nfo essencial, Guillaume Apollinaie tira disso uma i conchatn provisre “East cman porn sr, : inteiramente nova, que sera para a pintura, tal com # Cun nihecemos até agora, o que a musica é para «literatura, muecerios ate eoity OLAUe TOs Serk pintura pura, assim como a misicaé literatura pura’. em duas normas ou convenges que Ihe sio préprias: a planatidade e a delimitagao da planaridade”.'° U1, O vine Da pnvrora ae A sibstltuigao do antigo “realismo”, imitativo, pelo reali ‘mo pldstico convida os artistas a prestarem atengio nos “ele- mentos plisticos” que constituem a obra pictérica: 0 estu- do de seus efeitos e de suas combinagées faculta 0 acesso ao que Kandinsky denomina “a linguagem das formas e das cores”? ‘Nunca se atinge a pureza logo de saida, Muiltiplas ex- perigncias acompanhadas ¢ estimuladas por anilises criticas assinalam as etapas de uma ascese autopurificadora a que ‘uma parte da pintura do século XX se submeteu. O ctftico snorte-americano Clement Greenberg formalizou, 20 longo de textos que marcaram época, a esséncia do modernismo: “exacerbagio da tendéncia & autoctitica cuja origem re- monta a Kant".? A planaridade do suporte desempenha aqui um papel fundamental. Nem o relato — literfrio ou teatral —, nem a ilusio de tridimensionalidade — escul- tural —, nem mesmo a cor, que a escultura também utiliza, especificam a pintura coma tal. O esforgo de purificagio revelou que “a irredutibilidade da arte pictérica sé consiste 7 Vex o teat de Apolinaze nese volume. -W1 Kandinsy, “A linguagem das Formas eds cores’, rm Do ep ritual na arte (1912), tad de Alvao Cabral e Antonio de Pius Da- ‘es, $50 Paul, Martins Fontes, 2000, 9 C, Greenberg “La peiatre modernist" (1965), traduaido par 0 francis por Anne-Marie Lavagne, Pewe, Gabiers Theeriques, 0° 89, f= venue 1974. 4 A eliminaggo de tudo que nao Ihe € prdprio e a pes- quisa da planaridade rapidamente conduziram a pintura & monocromia radical — afirmagio literal do plano, e a0 mesmo tempo “muro cego ¢ sem voz" onde vem despeda- at-se uma longa tradigao, 0 que provam, segundo ‘Tara bikin, as trés pequenas pinturas, uma amarela, uma ver melha ¢ outra azul, expostas em tiptico por Rédtchenko em 1921. O futuro demonstraré, porém, que a monocto- imia pode ser diversificada a ponto de constituir um género pictético: uma s6 pintura de cor uniforme nio esgota de ‘mancira alguma todas as suas potencialidades. No entanto, 2.morte da pintura atormenta os espiri- tos. Maliévitch virara a pagina em 1920, antes de se dedi- car a ela novamente: “O tempo da pintura se extinguiu hé.. muito, ¢0 proprio pincor é um, preconceito do passado”.!! Outros, como Mondrian, the dio um suis, X espera de quea vida, quando se tornar de faro humana, a transforme definitivamente em algo indtil, Quanto.a.Klein,.cle.a.pr0- jeta na invisibilidade da sensibilidade imaterial. °© Idem, “hptés Vexpressionisme sbstrale™ (1962), em Régards sur Vers amiricin des antes sixans,Batologaectia organizada por Claude int, Pacis Editions Tersoies, 1979. Greenberg sustenta que o sexpito a essasconvengbes nfo gatante em nada o dito das obras, este fun pponto fundamental com o qual os artistas se preocuparam, tanto em scus steliés como em seus textos. 11 Vex abaixo 0 texto de Malivitch,

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