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Introducdo, tradugao e notas: Vietor Jabouille (Capa: Pormenor do Mosaico «Academia de Platdo», arranjo gréfico de estidios P. E. A © Victor Jabouitle, 1988 Direios em lingua portuguesa reservados ‘por Editorial Inquérto, Lda. Nenhuma parte desta publicacao pode ser re produzida ou transmitida por qualquer Jorma (ou por qualquer process, eleirimica, mecdnco ow fotogrifica, incluindo fotocépu, Nerocdpia ow gravacdo, sem autorizardo previa e escrita do editor. Exceptua-se neluraimente a transcr ‘0 de pequenos textos ou passagens para apre- Sentagdo ou critica do vro, Esta excepedo ndo deve de modo nenhum ser interpretada como ssendo extensiva & transcricao de textos em re colhas ancoldgicas ow similares donde resuite brejuizo para o interesse pela obra. Os trans [ressores sdo passiveis de procedimento judicial Editor: Francisco Lyon de Castro EDITORIAL INQUERITO, LDA. Travessa da Queimada, 23, 1.* Dr.* 1200 LISBOA PORTUGAL Edigao n.° 816119/0111 Execupto téenica: Gréfica Buropam, Lda ‘Mira-Sintra~ Mem Pept Lea 1575788 ae CLASSICOS INQUERITO PLATAO ION Introdugio, tradugdo ¢ notas de VICTOR JABOUILLE Prof, da Faculdade de Letras de Lisboa form EDITORIAL INQUERITO LIMITADA LISBOA «CLASSICOS INQUERITO» Fiel @ sua longa tradigao de servir a cultura, a Editorial Inqué- rito pretende, com esta colecedo, divulgar obras-primas que sto ‘monumentos imperectveis a marcar a histéria cultural da Huma- nidade. Obrigatbrias para especialistas e estudiosos, estas obras, de que muitos leitores ouviram falar e que ndo deixariam de conhe- ‘cer directamente se a elas tivessem facil acesso, ficardo assim ao alcance de todos e ndo apenas de alguns. Obras publicadas nesta colecedo (0 1 — Eaipo Rei, Sofocles 2— As Suplicantes, Esquilo 3 = Medeia, Euripides 4 — Antigona, Sofocles $— As Bacantes, Euripides 6 — As Vespas, Aristofanes 7 = Os Persas, Esquilo 8 — Prometeu Agrithoado, Bs 9 — Novelas Exemplares, 10 — As Aves, AristOfanes 11 — Arte Postica, Horicio* 12— As Nuvens, Aristofanes* 13 — Uma Histéria Veridica, Luciano* 14— Anfitrido, Antonio José da Silva, «0 Judew» 15 — Em Defesa do Poeta Arquias, Cicero* 16 — Hermotimo ou As Escolas Fitoséficas, Luciano* ION Oo 1, O AUTOR Marco indelével da cultura, Platdo é figura eminente do pensamento ocidental. Chegou até nés um elevado ntimero de obras cuja au- toria the é atribuida, sobressaindo os didlogos'e as cartas. Platao elevou a género li- terdrio os didlogos ou dramas filosdficos, mo- dalidade praticada pelos sofistas e por Sécra- tes, pois considerava que a forma ideal de transmissdo do saber era oral, embora nado desdenhasse expor as suas doutrinas por escri- to. O objectivo final do seu ensino era 0 co- nhecimento humano. 1 Tradicionalmente divididos em trés grupos: @) Apologia, Criton, Laques, Lisis, Carmides, Eutifron, Hipits Menor, Flipias Maior, Protégoras, Gérgias, fon; 'b) Menon, Fédon, A Repiiblica, Banquete, Fedro, Euti- demo, Menéxeno, Crétilo: ‘G) Parménides, Teeteto, Sofista, Politico, Timeu, Critas, Filebo, As Leis. Descendente de uma familia aristocratica ateniense, Platdo*, que nasceu por volta de 428-427 a. C., comecou a acompanhar Sécra- tes com 20 anos de idade. Apés a morte de Sécrates e de uma estada em Mégara, instala- ~se em Atenas, onde se impée como filésofo. Ausenta-se varias vezes da cidade para viajar, adquirir e aprofundar conhecimentos e para contactar experiéncias diferentes; é assim que passa pelo Egipto, por Cirene, pela Magna Grécia. Em 368 a. C., esté em Siracusa, talvez numa tentativa frustrada de ver 0 seu pensa- mento politico adoptado. Por volta de 387 a. C., Platao funda em Atenas, no parque do heréi Academo, junto @ estrada para Eléusis e préximo do rio Céfiso, @ sua escola, a Academia. E af que ensina e, simultaneamente, redige os seus didlogos. tore em 346-346 a. C., quando redigia As eis. 2. A DATA DE COMPOSICAO DO DIALOGO Numerosos criticos tém procurado locali- zar a data de composigao do didlogo ion. De um modo geral, podemos dizer que sto dois 2 © seu nome era Aristocles; a denominacto Platio deri- va da largura dos ombros. “ * 8 ‘os argumentos cronolégicos fornecidos pelo texto. a) a referencia a trés estrangeiros que assu- ‘miram cargos em Atenas: Apolodoro de Cizi- co, Fandstenes de Andros e Heraclides de Cla- zémenas (541 c-d); b) a referéncia & dependéncia civil e militar da cidade de Efeso em relagdo a Atenas (541 9. Estas referéncias, confrontadas com infor- magdes de autores antigos — principalmente Tucidides, Xenofonte e Pausdnias—, levam a situar a redacgao do didlogo na primeira déca- da do século IV a. C., isto é, alguns anos apés a morte de Sécrates (399 a. C.), mais propria- mente entre 399 e 391 a. C. Em termos de cronologia relativa, as opi- niées dividem-se e 1on é considerado como posterior a Fedro (Schleiermacher) ou a A Re- pablica (S. G. Stock), contempordneo do Tee- teto (F. Diimmler) ou do Hipias Menor (W. Janell) ou, mesmo, o primeiro diélogo socrati- co de Platao (U. von Wilamowitz). fon é um didlogo que parece pertencer ao grupo de obras que prosseguem, através de pesquisas particulares e tal como Primeiro Alcibiades, Laques e Eutifron, a investigacdo definida por Sécrates na Apologia. 3. AS PERSONAGENS 3.1. SOCRATES Figura-simbolo da historia da cultura, Sé- crates (469-399 a. C.) é a personagem central dos diélogos de Platéo. Momento indispensd- vel para a compreensdo da evolucdo da filoso- fia, Sécrates tem uma biografia’, mas o seu pensamento chegou até nds através do teste- munho de contempordneos. E, pois, dificil saber aquilo que 6 pensamento original de S6- crates eo que é desenvolvimento dos seus di cfpulos, sobretudo Platao‘. Impondo-se 0 ensino como missito, Sécra- tes proclama a necessidade de 0 homem se conhecer a si proprio, de adquirir a conscién- cia dos seus limites e da consisténcia verdadei- ra do proprio saber. A sabedoria nao esté no saber mais coisas que os outros, mas no saber do nao saber, ao contrdrio daqueles que acre- ditam saber 0 que nao sabem. Dai a maxima «s6 sei que nada sei». A consciéncia da pro- pria ignorancia é uma forma de purificar as almas do erro, fonte da culpa. Por isso, o seu Aristofanes, As Nuvens; Xenofonte, Banquete, Apologia, Econémico ¢ Memoréveis; Plato; Aristoteles, Me- tafisica, As Partes dos Animais, Etica a Eudemo e Etica a Ni- ‘cémaco. Para a critica destas fontes, cf. H. M. da Rocha Pe- teira, Estudos de Histéria da Cultura Cléssica, Lisboa, Fun- ago Calouste Gulbenkian, 1980, pp. 388 ¢ segs. 4 Socrates apenas est ausente de As Leis 10 ‘ensino é uma continua exegese, um interroga- tério em que as perguntas conduzem @ aceita- ¢Go de Sécrates como mestre. O objectivo ul- timo do seu ensino era o culto da virtude (ey%- eareta) ou 0 dominio de si mesmo’. O método de investigacdo de Sécrates, que Platdo exemplifica em varios didlogos, assen- ta em dois aspectos distintos: a) uma fase de interrogacao e de repeticao; b) a maiéutica (uowev7ixi), isto é, a arte de levar os interlocutores a dar @ luz (uowed)* as ideias que existem no fundo da mente huma- na. A purificagdo espiritual perseguida por Sécrates é ética. Através de um método indu- tivo, caminha do particular para 0 geral, afir- mando que a culpa provém da ignordncia e do erro. A educag@o, ao tornar os homens cons- cientes, torna-os também virtuosos. O util identifica-se com o bem e é a ignorancia que leva 0 homem a proceder mal. Fazer bem é viver bem; por isso, os ho- mens virtuosos sdo felizes. Mas o homem jus- to é aquele que procura ndo s6 0 seu aperfei- goamento como o dos seus semelhantes. A concretizagdo desta acedo aproxima o homem 5 Cf. Xenofonte, Memordveis, 1, 5, 145; 1V, 6, Le 8 M. ; © Socrates afirmava que tinha aprendido este método com a mae, que era parteira. u \ do divino, pois, tal como a alma imortal go- verna 0 corpo, também uma divindade ou in- teligéricia suprema governa o mundo. O ho- mem deve, assim, lutar para conservar uma alma recta’. 3.2. O RAPSODO ION fon, a personagem que dialoga com Sécra- tes, 6 um rapsodo (éaywdés), isto é, alguém que, sem acompanhamento musical, recitava poemas de que nito era autor, distinguindo-se deste modo, e talvez a partir do século V a. C.', do aedo, o poeta épico que declamava os seus préprios poemas. A designacdo de rapsodo teria a sua origem na vara (§d(60s) que o declamador segurava ou no facto de os auditores se reunirem (8énre.y) para escuta- rem ou, finalmente, no facto de comporem 7 Ocensino de Socrates, que era oral, foi | 0 , que era oral, foi perpetuado atra- vis dos Sets dciplos. Etre a Eso subsidiris de 8 es, e para além da «Escola Socratica Maior», a erates, ¢ pa Socratica Maior», a de Platao, @) a Cirenaica ou Hedonistics a cre’ a, fundada por Aristipo de ) a Megarica, fundada por Euclides de Mé legarica, fund le Mégara; ©) a Elidense — Eritreia, fundada mn de Menodemo de Erétria; lt 4) a Cinica, fundada por Antistenes. im $e Eustitio, ad I, 6, Cneto de Quios tera sido iracusa, no ano da 69.* Olimpiada, 0 primeiro a intervir gm Siracusa, impiada, o primeiro a intervir 12 (outro dos sentidos do verbo éantw), 0 que equivaleria a identificar rapsodo com aedo. Os rapsodos espalharam-se por todo 0 mundo grego, e existiam concursos de rapso- dos quer nas grandes festividades pan-heléni- cas quer nas festas locais’. Ja no século VI a. C., segundo Didgenes Laércio”, a cidade de Atenas conhecia as actuagées dos rapso- dos, que iam de cidade em cidade, recitando, sem acompanhamento de lira, e explicando todos os poetas, embora Homero fosse privi- legiado. A declamacdo era acompanhada por um trabalho de mimica, o que leva Platdo a aproximéd-los do actor (6xoxgurjs)". O rapso- do aparecia numa tribuna (Biy)”, vestido com fatos vistosos e de cores vivas®, com uma coroa de ouro na cabeca", e a sua actuacdo era remunerada"*. Como rapsodo, fon nao se limitava a uma fungao de mero declamador: ele é, também, ‘um comentador de Homero. Este trabatho, exegético, que parece ser o mais dificil", é, no fundo, 0 ponto de partida da discussdo com 9 Isocrates, Paneg., 74 a-b, fala na importancia dos reci- tais dos rapsodos como elementos essencial para manter vivos (08 valores patrios contra os barbaros. 1, 2, 52. 4 332d. 2 335. 3 53374. 4 535d. i 535 e. 16 $35 ed. 13 ‘Sécrates. O que nio fica esclarecido é 0 mo- mento em que se efectuavam esses comenté- rios brilhantes aos poemas. A utilizagdo do vocdbulo badeyeasau" sugere sessdes privadas e ndo grandes sessdes piiblicas, como eram, por exemplo, os concursos explicitamente re- Jeridos no didélogo. A aproximagdo, aparente- mente autorizada pelas referéncias de fon a Metrodoro, Estesimbroto e Glducon, sugere, naturalmente, 0 passo de O Banquete"de Xe- nofonte em que se alude ao «sentido escondi- do» (ixévo.a) existente nos poemas homéri- cos. fon procederia assim a uma exegese de ti- po alegérico. O vocébulo que Platao utiliza é, porém, bickvore, 0 que sugere que 0 comenta- rio de fon a Homero, longe de ser exegese ale- gérica, é, apenas, uma parifrase elogiosa. 4, ESTRUTURA it eames — apresentagdo de fon (530 ad). 2. O talento de fon (531 a-532 ¢). 3. O talento de fon nao é fruto de uma ar- te: 1.* demonstragao: fon é habil a fa- 1 526 b. 1 3, Se segs. i“ lar de Homero por inspiragao: divina (532-536 d); 2.4 demonstragdo: cada arte tem 0 seu objecto préprio (536 e — 542 a); 4. Conclusdo: 0 rapsodo, tal como o poeta, é divino (542 a — 542 b). 5. O CONTEUDO ‘A questao primordial que Plato levanta no ion, jd aflorada na Apologia, é a da cria- ¢do poética: arte ou inspiragao? O rapsodo deve, segundo Sécrates", interpretar o pensa- mento do poeta para o seu auditério e para isso deve compreender tanto 0 pensamento como as palavras®. Mas se o talento de fon diz apenas respeito a Homero e se este poeta trata dos mesmos temas que os outros, entao 0 rapsodo nao possui arte. A compreensiio dos poetas —e ndo apenas de Homero — deve ser 0 objectivo réxvn gaywdx1, da arte do rapsodo, que é, assim, declamacao e criticis- mo. Se a arte de fon apenas se manifesta a proposito de Homero, tal deve-se, como a 8 530 b-c. 2 Xenofonte, Banquete, 3, 6, ¢ Memordveis, 4, 2, 10, ‘mostra-nos um Sécrates com uma opiniao muito mais elevada ‘a respeito dos rapsodos. 15 criacao do préprio poeta, a inspiragao ou for- ¢a divina (Seta divas), tratando-se, por con- seguinte, de um apelo emocional"'. E no estado de possessdo divina que 0 poe- “ta comp6e; 0 poema é, assim, tdo irraciona: como as manifestacées dos Coribantes e das Bacantes®. Este éxtase 6 comunicado ao rap- sodo, que, por sua vez, tal como a pedra de Magnésia, 0 comunica aos seus auditores. O proprio fon confirma que ao recitar passos de Homero se deixa possuir pela piedade®. E de- vido a esta possessdo irracional que justifica que um poeta componha um tipo de poesia ou, até, um tinico poema bom. Como rapsodo nao é um especialista em todas as matérias que os poetas abordam e co- mo para os respectivos assuntos os melhores criticos sto 0 médico, 0 cocheiro ou o general, - nao havendo lugar para uma arte especifica do rapsodo, fon sé pode concluir, com algu- ma satisfagdo, que a sua habilidade especial ndo é arte mas um dom divino. A discussto entre Sécrates e fon, se tem como tema central a defini¢do da base da «ar- te do rapsodo», tem, como objectivo tiltimo, a poesia. As duas longas intervencées de Sé- crates comprovam-no™. A. réxvn, isto 6 @ 1 $33 dee. 534. 3 535 ¢. 530 ¢ — 536 ae 535 ¢ — 535d. EUR 16 _- posse de um conjunto de regras que assentam num conhecimento cienttfico (éxtariun), ndo é atributo do poeta. Este, tal como o rapsodo, é possuido por uma forca divina, um entusias- mo que supée a perda momentanea da activi- dade racional. Recorde-se que, jd na Apologia®, Sécrates concluira que a criagao dos poetas ndo se devia a uma forma de saber (oovia), mas sim a um dom que é de inspira- sao divina. Esta é, alids, a posicdo homérica, também materializada em Hestodo e em Pin- daro. O poeta, possuido, é inspirado pela di- vindade para compor num dominio espectfi- £0; e, com ele, o rapsodo”. 6. A TRADUCAO Ao apresentar ao pitblico leitor da lingua portuguesa a tradugdo do didlogo platénico lon, foi nossa intengdo possibilitar a consulta de um texto influente e importante para a his- toria da teorizacdo literdria. A tradugao, ba- seada nos textos das edigées de Oxford e da Société d’Editions «Les Belles Lettres», pro- % ac, 26 Esta posigao foi muitas vezes defendida, inclusive por Shelley, tradutor de fon, que dela faz eco na sua Defense of Poetry. Chasis ING. 19 = 7 cura ser um compromisso entre a relacdo in- trinseca com o original grego antigo e, por ou- tro lado, uma linguagem coloquial e acessivel. ‘Dat que se tenha optado por apresentar, nal- guns casos, um texto que, sem trair 0 seu espi- rito, se afasta da letra. Ao fazé-lo, pensémos principalmente no cardcter heterogéneo do piblico a quem a traducdo se destina. A tradugao beneficiou substancialmente com as sugestées apresentadas pelo Professor Doutor Custédio Mangueijo, distinto Cate- dratico da Faculdade de Letras de Lisboa, a quem manifestamos publicamente 0 nosso agradecimento. 18 ION P.530 1QN ZQKPATHE ION BQ, Toy Tova yaipew. réden ra viv iy Imded}- peas; 4 olcoden #€ "Epéaov; ION, Oapds, 2 Zdepares, GAA’ & "Emibavpou ex ray *AgrAnmelov. 20 39, "Emibadpior; ° Mav nai fayydav ayava rBlaow rh Och ot ION (Ou sobre a Jliada; genero probatério) SOCRATES Ora viva, fon. Desta vez, donde é que tu vens?', Da tua terra, de Efeso”? ion Nada disso, Sdcrates. Venho mas é de Epidauro’, das festas em honra de Asclépio‘. SOCRATES ‘Sempre € verdade que os habitantes de Epidauro organizam um concurso de rap- sodos em honra desse deus? © A forma de perfeito dxSedrjunvass esclarece que fon «ti- nha acabado de chegar». 2 Cidade da Jonia, na Asia Menor, foi fundada no sée. xa. C. 3 Cidade da Argélida, sede do culto de Asclépio. 4 Deus da medicina, era filho de Apolo. Celebravam-se ‘em sua honra, de quatro em quatro anos, na cidade de Epi- dauro, as festas denominadas «Grandes Asclepiadas». 530 a 2 TON, Tlévu yey xal ris EAAys ye povoixts. EQ. Te ofv; Hywvidou re jaiv; Kal mas 1 ywriows b ION. Ta apdra ray ddwy iveyadyetla, & dxpares. EQ. EB Ayes dye 3 3nws kai ra Havabjvaca veer open. TON, "AAA forat raira, dav Ocds C8EAp. 5 ea Kai piv wodddnis ye &Gidwra ips robs dayrydoss, 3 "Taw, ris roene 13 yp dua piv +b edua xexoopiodas Ged xptrov Spsv va rH réxvp xal ds adXorors dal 22 ION Exactamente. E também em honra de to- das as outras artes das Musas’. SOCRATES E entdo? Tomaste parte no concurso? E como te correu a prova? ION Ganhamos* o primeiro premio, Socrates. SOCRATES Boa! Agora ha que fazer por ganhar tam- bém as Panateneias’. iON Com certeza que sim, se 0 deus quiser. SOCRATES ‘Confesso, fon, que muitas vezes senti, pela vossa arte, inveja de vocés, os rapsodos. Por causa da vossa arte, voces tém de an- dar sempre bem arranjados e mostrar 0 5 qFestas também dedicadas a todas as outras artes». 6 A forma da primeira pessoa do plural confere um senti- do popular a frase. 7 Grandes festas celebradas na cidade de Atenas em hon- ra da deusa Atena. As «Pequenas Panateneias» realizavam-se todos os anos; as «Grandes Panateneias», mais solenes ¢ im- portantes, realizavam-se de quatro em quatro anos, durante trés dias, entre o fim de Abril ¢ o principio de Julho. 23 veabat, Sua Bt avayxatov eva ty re BAdois mouprais bia tpiBew moRdois kad dyaBots xat 3} xal pdArera ty ‘Ourpy, 10 78 dplory kal Oewrdry rOv omray, kal rhy rotrov Bd- © voiay exuavBdvew, i) pdvov 7 tem, Cydurdy torw. ob yap ay ylvourd more Aya6is fayydés, el yh ovvedy ra s30¢ Aeydpeva trd 109 moryrod. roy yap dayyddv Epunvéa bet 108 nourod ris Biavolas ylyverdas rois dxovovor rotro 8 5 Kadas wovely wh) yeydoxovra drt yet 4 wounrhs abivaroy. raGra ofv wévra dia Gydodedas. ION, *AdnO} Adyess, & Bdepares- eal yoov roiro aAelorov Epyov waphoxen ris réxuns, rai aluat «édAiova avOpdrav Aéyew ept ‘Owipor, as obre Murpddupos 6 Aapyacnrds ofre Erqatuporos § Odows ofre Thaveuy otre Addos oidels rv mémore yevoueven Laxey elmeiv ofrw ‘ONAAS Kal Kadds Biavolas mepl ‘Ouripov Beas eyeb. 4 melhor aspecto possivel. Ao mesmo tem- po, tém necessidade de estar bem familia- rizados com muitos e bons poetas —e principalmente com Homero, o melhor e mais divino de todos — ¢ de aprofundar o seu pensamento e ndo apenas as palavras. E invejavel. Na verdade, ndo se poderia ser rapspdo se ndo se compreendesse o que é dito pelo poeta. Sim, porque o rapsodo deve ser, para os ouvintes, um intérprete do pensamento do poeta. E, nao sabendo © que diz o poeta, é impossivel fazer isso bem. Tudo isto é, de facto, digno de inveja. ton E verdade, Socrates. Quanto a mim, isso foi, na minha arte, o que me deu mais tra- balho € creio que sou, de todos os homens, aquele que diz as coisas mais belas sobre Homero ¢ de um modo que nem Metro- doro de Lampsaco nem Estesimbroto de Taso’ nem Glaucon’ nem qualquer outro * Metrodoro de Lampsaco, referido por Diogenes Laér- cio (II, 3, 7), € Estesimbroto de Taso, referido por Xenofonte (Banquete, 3, 5 € ss.), $80 0s continuadores de Anaxdgoras na interpretaco alegorica de Homero (cf. V. Jabouille, Iniciagao @ Ciéncia dos Mitos, Lisboa, Editorial Inquérito, 1986, pp. 55-56). % Glaucon podera ser Gliucon de Teos, referido por Aristoteles (Ret6rica, IIL, 1, 3), ou Glducon de Régio, tam- bém referido por Aristoteles (Poética, 1461 b 1) e autor de um tratado de critica literdria. 25

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