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170 ‘CONVERSACOES ABCLICIONISTAS procedimentos referentes a 2769 'criancas; foram atquivados 1345 procedimentos referentes a. 1999 crianicas; foram. didas 807) orientagdes por telefone, 30 buscas ¢ apreensées por ordem judic foram realizadas; 849 remogdes. de.criangas’ foratt-e (criangas levadas. para’ atendimento, médico-hospitalar, -terapias, etc). Em suma, tivemos um atendimento durante 0 ano: de $299 criangas, excluindo-se os adolescentes acusados de autoria de infragdo penal. sees O setor de psicologia atendew 1505 eriangas e/ow adolescentes ¢ foram realizadas 784. visitas. dor em creche particular, aguardando decisio judici adogo, outras aguardando a recuperagio da fs las. O.CERCA, para melhor desempenhar seu tr um departamento médico, com pediatra, gi além de dados ¢ a ma que’se enfrenta nesta Area é-a jica, tanto na” esfera. juridi iu promotores advogados, como também do miagistéri da psicologia e do servigo social. A capacitagio, pot lemby judaré a resolver problemas se 1s forem © comprometidos com 0 direito das criangas € dos adolescentes. Afinal, a infincia € um. perfodo muito curto na vida de uma pessoa, mas fundamental para. a sua’ vida adulta ¢ a reprodugao da prépria espécie. O CERCA tem por objetivo principal garantir a vida de eriangas © adolescentes e contribu que eles. consigam discemir caminhos para terem seus direitos: efetivados ¢ educarem-se para sempre revisé-los, buscando preservé-los da violencia, tanto de pais, estranhos ou do Estado, Acima de tudo, ¢ antes de-mais nada; frente 4 situagdes de violéncia para as. quais somos chamados, a defesa dos direitos nao esta vineulada & criminalizagao dos acusados. i 86, vale aT ae SEmindaio 3 “DROLIC ONIS vo" (oBetaat aio PRISGES DO FUTURO? PRISGES NO FUTURO? Sérgio’ Saloméo Shecaira Presidente do IBCCtim @ professor da. USP.. A solugao dos problemas interpesssoais tem lugar, com maior freqiiéncia do que se cré, em_um contexto extra-penal. Qualquer tipo de. conflito, surgido no seio da comuinidade faz com que as pessoas. penser em resol seja através de um contato entre 108 envolvidos, seja pela utilizagdo de interposta pessoa. Os meca- nismos naturais de regulagdo social foram criados muito antes dos g0vernos ou mesmo da existéncia dos: chamados: Estados. Na_definicao’ da’ Constituigo Federal, a Brasil’ € um Estado Democritico de Direito. A. partir dessa formulagdo, que situa a dignidade do cidadao como um dos pilares sobre os quais se assenta © Estado, ‘cabe indagar -quais formas so. autorizadas para a regulagio social. ‘Duas so. as formas bésicas de controle social: a primeira delas € a forma mais exacerbada, € aquela que: vemos hoje, infelizmente, na nossa sociedade — 0 controle social formal, exercido através das agéncias estatais, normalmente implementado através do medo: E © poder humano ¢ n&o-humand que se serve da obediéncia cega as leis, que se serve da idéia de que a-crenga na punigéo é a’ tinica, saida para 0. nosso sistema: Ea afirmacio extrema de que sem punicio n&o haverd respeito as:leis. E desse fato fez-se.0 Estado gendarme. E a idéia de que o descontrole faz-se 172 CONVERSAGOES ABOLICIONISTAS. pelo controle (formal). Quando este falha — e falha cada vez mais — exacerba-se mais. mais © mais... jeologias com vistas. a postergar uma eventual. inter- vengio do Estado. F 0 pensar que aquilo que fazemos possa servir nio a alguns, mas a todos; no aos que querem a.realimentacao do sistema, mas aqueles que pensam: que algo. melhor. seja construido. do nos remete ao pensamento do qi s. Deum lado 0 sister lores dessa ideologia como o Poder mas, principalmente as prisées, inguagem da criminalidade como. impureza social que precisa.ser-extirpada, Tal ideologia repressiva, que vem desde os-tempos coloniais, faz com que 0. pol © tinico intérprete dessa linguagem,.agindo sempre com como se esses aspectos merecessem uma reagdo armada e impla. cAvel, Essa confrontagao entre 0 crime ea violéncia policial gera uma crescente violagdo dos direitos humanos, ati a dignidade dos cidada de torturas, de examinado 0 poder como elemento cond Ter para o agente de um delito a decretagio da prisid, dinica linguagem que satisfaz a engrenagem penal, € ter todas as con- seqiiéncias que a violéncia institucional pode acartetar alravés da pena privativa de liberdade. Perdendo 0’ ditei livremente, o preso perde sua identidade s. No 8&0: poucos os casos de excesso, de direitos, dai a necessidade de ser de escolha entre as alternativas de comportament da Propriedade de certos bens materiais, a possibilidade de relacio normal com as pessoas € uma série de outras. caracteristicas do " DIALOGIAS 173 ‘comportamento; comum. As penas institucionais ‘t8m um efeito criminégeno grave. So intiteis aos-presos ¢ nocivas A Sociedade, reprimendas, retomarao, ao. mundo livre com redobrada propensio ao crime, em face:do estigma:¢ da discriminagio, Se-pensarmos 0 que 0 Estado Democrético de Direit Yer. com 0s. nossos. presidios, verificaremos um dado sociedides politicas e, por que nio-dizer, as nos distanciamos da repressio, para sociedade, ‘nos. acercamos da Democr técnica de coergao de individuos que de dominagio € que deixa tragos in a ela so. submetidos. No plano juridico-penal, a andlise soci que esse sistema tepressivo, calcado na, prisio, nio atua de forma isolada. © sistema. penal deve. sér visto coma um subsistema € de selegao isto 6, pois, regulagdo social, que existe para assegufar a prépria existéncia da teafirmagao estatal Pénsar ém futuro. para as_prisoes seria pensar em prisdes do futuro? Algo como algemas a‘laser, celas controladas por sistemas eletrénicos de video que garantam uma plena.visibilidade.¢, um controle absoluto? Mase 0 homem, destinatétio precfpuo de tudo? 174 ‘CONVERSAGOES :ABOLICIONISTAS Recentemente, um episédio nos levou a uma profunda reflexdo, acerca do sistema punit Um criminoso, conhecido como o. “Bandido da Luz Vermetha”, autor de mais de 80 delitos, cumpriu seus 30-anos de prisdo a que a lei estabelece (art. 75 do. Cédigo Penal). Nesse periodo em que o homem foi: Iva, que’ o Brasil fou duas copas de. futebol, que coristruiu-se 0 metré, .quic @ ditadura caiu, que 0 Muro esboroou-se e° que a democracia (meramente) formal voltou a existir entré nés,-que um presidente ~ cleito teve seu mandato interrompido pela ‘vontade popular, elé permaneceu preso. La teve crises. de sanidade, ‘problemas de- racionalidade, institucionalizou-se e aprisionou-se virow filme ¢ lenda. © dado real & que nao-hd mais ali.um homem, mas apenas lum ser que precisa de muita assisténcia para transformar-se niovamente em homem. Em um Estado como Sao Paulo em que hé 149.306 mandados de. prisdo-ndo. cumpridos desde? 1976 (dados. da propria Secretaria da Seguranca Piblica), como.puderam, trans- formar aquele pobre ser em alguém perigoso? Como fazer com que alguém que teve sua velhice antecipada, sua degenerescéncia fisica precipitada, pudesse ser temfvel pelas pessoas, em uma das muitas ages promocionais dessa agéncia reprodutora de ideologia em que se transformou — nese episédio — 0, Ministério Pil puderam tentar reeriar © duplo estado temporal entre 0 presente e 0 futuro. J4 que o objetivo é pensar um futuro para as prisdes-(se-€ que ele existe) permita-nos Pensar, artificialmente, em um estado temporal chamiado: presente préximo. Pois bem, no. presente préximo temos a principal tarefa: gias se. constituiem fantéstico depositério do sistema Promocional vigente; que pune’alguém por 30 anos — com suposto objetivo de recuperé-lo — ¢ acaba por reconhecer’ sua prépria incompeténcia, a0 afirmar-se que 0 condenado. nfo conseguiu se recuperar. © controle social formal,.repressivo ¢ eétigmatizante, seletivo € discriminatério tem sua efetividade questionada por esse episédio paradigmiitico. No dizer de Jeffery: is, mais: penas, mais DIALOGIAS 75, Policiais, ‘mais juizes, mais: prises, significa mais. presos- mais Fepresso, porém no. necessariamente. menos. delitos. \ No presente’ préximo,.a pri Para: que 0 sistema’ nfo continue a sofrer. que possam ferir a dignidade humana, despenalizagao. B08 penais certas ou fazer com que uma infragdo perca seu caréter criminal. DeSpenalizar como mecanismo de eliminagao da resposta repressiva em face da prética de certas condutas. No presente préximo a pena h4 de: pressupor um acordo de duas partes, que s¢ funde no consentimento. E um mecanismo: inserido dentro de um processo ico, que supde uma consensualidade transacional. 6° um stema; como.afirina Hulsman, que tem por objetivo a restauragio da concérdia castigo ¢ que ndo vem do-castigo, mas da reparagio. Na realidade; pasa punir um Homem’ através da prisio, ret vamente, & preciso injurid-lo. Mas para reform: melhoré-to. E os homens ‘néio sto melhoraveis através de injirias:, , mais do que privar o homem. da liberdade, mais do ‘no presente’ préximo, a0s.casos absolutamente relevantes ¢ neces- sirios. E, no futuro, podemos dizer que'talvez, seja um vaticinio, nio se vé qualquer alternativa para a pena As prisOes serio conhecidas por fats e narrativas dos livros.como aquele perfodo em qué se punia para humilhar e ndo para humanizar. Enfim, no futuro, ndohaveré futuro para as prisdes.

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