Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza
Metaconsumidor é aquele emergente do processo de transformação de
mercado que concilia seu crescente poder, por conta do aumento de participação dos meios e canais digitais de comercialização e relacionamento, com sua maior sensibilização para as questões que envolvem consumo consciente e sustentabilidade. O conceito do Metaconsumidor tem sua inspiração na palavra grega Meta que significa além de. Como o conceito de Metafísica, elaborada por Andronico de Rodes, no primeiro século a.C., ao organizar os trabalhos de Aristóteles, selecionando parte do conteúdo para colocá-lo antes dos conceitos que envolviam as partes mais ligadas à física. Com a mesma idéia, o Metaconsumidor tem preocupações que transcendem ao benefício econômico esperado do produto ou serviço adquirido, para incorporar aquelas que digam respeito à sua produção, distribuição e consumo e seu impacto na sociedade e na sustentabilidade. O conceito de Sustentabilidade tem se incorporado ao elenco de atenção da sociedade, das empresas, do cidadão e do consumidor, mais por força da sua presença na mídia do que por real conhecimento de seu significado. Isso pode ser atestado em recentes pesquisas realizadas pela GS&MD – Gouvêa de Souza, uma mais específica sobre Sustentabilidade e o Consumo Consciente e outra envolvendo o universo das Marcas Próprias. Nos dois casos, que reforçam outros trabalhos realizados, Sustentabilidade pode querer dizer tudo, ou pode não querer dizer nada. No extremo de alienação com respeito ao tema, chega-se à idéia de Sustentabilidade associada a uma alimentação rica e nutritiva que gere energia e força! A percepção do real significado da Sustentabilidade é difusa e, logicamente, varia de forma significativa entre diversos segmentos socioeconômicos, acompanhando o nível de educação e informação das pessoas. Mas mesmo em níveis mais altos em termos educacionais, exceto pelos nichos engajados em trabalhos envolvendo consumo consciente e Sustentabiliade, a percepção de seu significado também é difusa, indo de temas ligados exclusivamente à ecologia e preservação do ambiente até questões ligadas à qualidade de vida. Mas sua percepção mais convincente ocorre quando relacionada ao Consumo Consciente, ainda que também esse conceito tenha um espectro de percepções também muito amplo, embora um pouco menos disperso que a Sustentabilidade. As dimensões do Consumo Consciente e Sustentabilidade são os fatos novos que se incorporam à curva de aprendizagem e maturidade dos consumidores, diretamente associadas a níveis superiores de conhecimento, informação, educação, consciência sobre seus direitos e responsabilidades, poder de compra e valores éticos. Em linhas gerais, quanto mais educados, informados, maduros e com maior poder de compra, maiores as preocupações do cidadão e consumidor com Sustentabilidade e Consumo Consciente. De nossos trabalhos anteriores vínhamos destacando a profunda transformação da sociedade e do mercado pelo surgimento do que havíamos caracterizado como Neoconsumidor, aquele que incorporava crescente poder, capacidade de escolha e discernimento, à medida que se tornava digital, multicanal e global. Pela associação desses três elementos o mercado se transformava, pois a qualidade, quantidade e velocidade das informações disponíveis nas relações de consumo impunham um processo de mudanças significativo, com mais poder para o consumidor; mais influência das relações entre consumidores sem envolvimento das marcas e das organizações formais; mais elementos de comparação para definir opções; maior pressão para melhoria das condições de compra; e a tendência de redução da rentabilidade de negócios, exigindo excelência operacional e de gestão. O ciclo do Neoconsumidor tem vida própria e independente e se amplia conforme aumenta a presença e participação dos meios digitais na vida das pessoas e seus elementos são incorporados na forma de ser e se comportar, num avanço inexorável. Mas os vetores do Consumo Consciente e Sustentabilidade, quando incorporados ao poder advindo do estágio de Neoconsumidor, criam uma nova dimensão, que estamos caracterizando como Metaconsumidor, pois suas preocupações vão além do presente, para incorporar as preocupações com o futuro. Questões importantes que envolvem o tema da Sustentabilidade e do Consumo Consciente têm sido colocadas a partir da posição das empresas com o tema, seus programas de Responsabilidade Social e suas ações em temas ligados à Preservação Ambiental. De forma geral, essas questões enfatizam os benefícios para as empresas pelo alinhamento e adoção de programas nessa área. Mas pouco tem sido trabalhado na visão dos consumidores e cidadãos em relação a esses temas e como suas preferências, hábitos, comportamentos e rejeições poderão impactar o mercado futuro. Alguns poucos estudos, em sua maioria locais ou regionais, têm buscado monitorar e entender a cabeça dos consumidores, em especial em sua dimensão como cidadão envolvido com esses temas, buscando antecipar percepções e comportamentos futuros e, dessa forma, permitir que as organizações, o Estado e as empresas possam criar propostas alinhadas com essas demandas emergentes. O que se tem aprendido, em especial de alguns trabalhos feitos pela McMillan | Doolitle nos Estados Unidos, empresa também membro do Grupo Ebeltoft (como a GS&MD – Gouvêa de Souza) e cujos sócios Will Ander e Neil Stern são os autores do livro Greentailing, é que existe uma linha clara de mudança de comportamento dos consumidores em relação ao tema, que tende a fazer crescer sua importância ao longo do tempo, mas com a possibilidade de contar com recaídas por conta do cenário macroeconômico. Nos Estados Unidos, onde eles têm pesquisado sobre o assunto, no ano de 2009, por conta da crise econômica e financeira, houve estabilidade no percentual, contrariando a tendência, de consumidores que se dispunham a pagar mais por produtos sustentáveis. Com base nas pesquisas realizadas em 2007, 2008 e 2009, dentre os que se dispunham a pagar mais por produtos sustentáveis, o acréscimo médio ponderado era 5,8% em 2007, crescendo para 9,6% em 2008 mas se mantendo exatamente no mesmo patamar em 2009, o que faz pressupor que a disposição para aderir, pagando mais, arrefeceu por conta da crise no mercado. Ou, em outra interpretação, a disposição inicial amorteceu por conta de uma maior consciência de que o que é sustentável não deveria custar mais. Ao que tudo indica, existem dois movimentos que caminham em paralelo. De um lado, é o processo de informação e amadurecimento dos consumidores com relação à relevância do tema da Sustentabilidade. Nesse caso, podemos caracterizar um ciclo de amadurecimento do Metaconsumidor. Na sua fase inicial ele é Indiferente, quando por questões pessoais, falta de informação ou situação econômico-financeira, o tema não desperta o menor interesse e não suscita qualquer diferença de comportamento. No momento seguinte ele se torna Informado, pois, por informação dirigida ou pela mídia habitual, toma conhecimento das ações que têm sido desenvolvidas e estabelece alguma conexão com o tema, podendo mencionar algumas iniciativas e, eventualmente, alguns impactos que o processo atual pode gerar no ambiente. No estágio seguinte ele se torna Sensível, pois demonstra um nível maior de informação sobre o tema, repete conceitos, busca aprofundar conhecimentos e toma a iniciativa em discussões envolvendo Sustentabilidade e Consumo Consciente. O nível seguinte é o Aderente. Imagina-se que nesse estágio, evolução do processo de conhecimento, seu nível de adesão o torna mais envolvido com o assunto, buscando mais leitura e informação, prestando atenção aos rótulos dos produtos, acompanhando notícias e programas e prestando especial atenção à comunicação publicitária envolvendo o tema. O estágio seguinte, o primeiro com um comportamento pró-ativo de consumo, é o Comprometido. Nesse momento, ele já tem seu comportamento de compras e consumo impactado por seu nível de conhecimento. A escolha de marcas, produtos, preços a pagar, canais e locais de compras é agora influenciada por seu conhecimento. O estágio final seria o de Influenciador. O consumidor muda seu comportamento de compras e consumo, orientado pelas questões que envolvem Sustentabilidade e Consumo Consciente, e também assume um papel de advogado das causas que envolvem o tema, tentando influenciar outros consumidores, pessoas de seu relacionamento e a todos com que tem contato a respeito da relevância do tema e de como ele deve influenciar seu comportamento de compras e consumo. Como todo modelo teórico de Ciclo de Vida, o que se tem é um quadro de convívio de diferentes consumidores em diferentes momentos em seu processo de amadurecimento. Entretanto, parece existir uma relação entre o maior nível de informação, educação, poder aquisitivo e maturidade do próprio mercado com a predominância de alguns desses estágios. Assim países, regiões ou mercados mais desenvolvidos tenderiam a ter uma maior participação de Metaconsumidores em estágios mais avançados dentro do seu ciclo de amadurecimento e, ao contrário, quanto menos desenvolvido um mercado, maior parcela da população estará nos estágios iniciais. Mas o que é suficientemente claro é que se vive um processo irreversível de tomada de consciência e evolução do comportamento dos consumidores em direção a um impacto muito maior em sua decisão de compra e consumo, ligado a questões envolvendo Consumo Consciente e Sustentabilidade. E menosprezar essa tendência pode ser um erro irreparável. Ou com um custo muito maior.
Esse é o tema de um amplo trabalho, multidisciplinar, que será realizado pela
GS&MD – Gouvea de Souza nos próximos anos e terá um ponto importante no 13o Fórum de Varejo da América Latina, que se realizará nos dias 19 e 20 de outubro, no Hotel Transamérica, em São Paulo.