You are on page 1of 138
Henrique C. L. Vaz, S.J. Eee, 6 ANTROPOLOGIA ~ FILOSOFICA _ Il COLECAO a ) Filosofia as COLECAO FILOSOFIA «@ ©, de Lima Vaz, S.J. to de religibo em Hegel {O}, Ma © método no segundo Wittgenste da modernidade, M LM, Pilosof 15, Antropel TROPOLOGIA TLOSOFICA I cocke, Edgard J. Jorge tra, Regis de Morais Jordin Marques Heidegger, FILOSOFIA pela Faculdade de Filosofia do Centro de Estudos Diretor: Marcelo Perine, 8. Av. Cristiano Guimara 15-15-00072-3 (obra completa) 4, Antropologia FitosStica T, Titulo. 12. série, Indices para catalogo sistematico: 41, Antropologia Filosofia 128 dieses Loyola Rua 1822 dos. Nenhuma parte desta obra pocle ser reprodusidla forma efou quaisquer meios (el © EDIGOES LOYOLA, Sip Paulo, Bras ADVERTENCIA PRELIMINAR ‘As mesmas observacdes que foram feitas no limiar do volume (Antzopologia Filosofica, 1, colegio Filosofia, Loyola, 1991, p. 7), no que diz respeito a origem, natureza icularidades de redagao do texto, aplicam-se igualmente a e segundo volume. [A diferenga mais notavel entre os dois reside no amplo desen- mento aqui dado a exposigao das categorias, exposicao que, ume anterior, teve de ser condensada em razao da parte rica, que ocupou metade do volume. Renovamos muito sinceramente os agtadecimentos aos que, jguma maneira, nos ajudaram na redagao desta Antropologia ica, Seja-nos permitido acrescentar trés nomes aos anterior- . Custodio, pela diagramacao ¢ elegante apre- 1e40 dos dois volumes; e 0 de Edson Carvalho Guedes que aborou eficazmente na primeira correcéo do texto digitado. Mas nao pode: de renovar mais uma vez a expres- inda gratidao para com nosso colega ¢ compa- ‘com dedicagao incansavel, texto € as provas, organizou indices ¢ cuidou com solicitude, em perfeita sintonia com o imico e benemérito diretor das Edigdes Loyola, P. Gabriel C. Galache, da publicagao da obra. Belo Horizonte, agosto de 1992 HENRIQUE @. DE LIMA VAZ, S. J. UNIRI Aquisigao; Comp 2A o _ sa INTECCIENCIA 26,60 Segunda Parte a00 094.329 SISTEMATICA Segunda secao RELACGOES FUNDAMENTAIS DO SER HUMANO CATEGORIA DA OBJETIVIDADE 1, Introdugao ica do nosso Curso {vol. 1, pp. 157-1 nos fundamentos da Antropologia enquanto sujeito, A Antr m em mira, portanto, a organizacio conceptual ¢ iva dessa experiencia fundamental. ‘Mas, exatamente por se tratar de uma experiéncia, cla nio se ta da epoché edo sparéncia a si mesmo. Sai ri¢ncia do homem nterrogante] que co! ‘ual no qual se desenvolve o discurso da Antropologia pois, as dimensoes da auto-expe- situado (e, por isso mesmo, Como toda experiencia é iproca de presengas, ow seja, presenca imediata do suj do objeto a (constituindo o pri estégio do que seré a identidade amplo, podendo assim a eléssica definigio zdon Iégon jon on z6on logikén ser traduzida como o homem é lingui om, ou 6, essencialmente, movimento incessante de auto-expri mir-se conierindo, nessa auto-expressio, uma significacao propria- mente humana ao seu ser e 2 realidade na qual est situado. Essa pois, a estrutura do Cogito ou do sujeito na Antropologia Filo- sofica, a de ser essencialmente mediacdo entre a Natureza e a orma, nao tendo nenhum sentido aqui a fic¢ao de um Cogito itirio e vazio, ou de um Gogito como prinmam Togicum na dem das raz6es, segundo a instituigdo cartesiana do saber !, O izer-se a si mesmo do homem, ou a sua subjetividade como encial movimento de mediagdo, é a primeira dimensao da sua ealidade situada a ser tematizada pela Antropologia Filosofia, 0 foi feito na I secao da parte sistemética do nosso curso. mo, nesse dicere seipsum, nesse dizer-se a si mesmo, 0 ho- mem diz igualmente o mundo € as outros € tenta mesmo dizer Outro absoluto, ou seja, desdobra o seu dizer — ou a sua pressividade — na dimensao objetiva das coisas e na dimensio \tersubjetiva dos outros sujeitos? Bis o campo que, a partir de ra, se abre & nossa reflexio. nal final do cognitum in actu est cognoscens in actu}, sio as modalidades da presenca do homem as realidades fundamentais que circunscrevem a sua sitttacdo que irio, finalmente, definir as dimensdes da sua auto-experiéneia como sujeito, vem a ser, da auto-experiéncia que constitui a matriz tematica da Antropologia Filosofica, Ora, néo sendo o homem, repetimos, um sujeito puro — ou no tendo a intuigéo imediata e absoluta de si mesmo — a pri- meira realidade que circunscreve a sua situagdo é a realidade do seu préprio ser situado —a realidade que se apresenta a ele ou que ele experimenta como questdo sobre si mesmo. A tarefa que nos ocupou na primeira segio da parte sistematica do nosso curso foi justamente a elaboragao conceptual dessa realidade num sis tema de categorias, ou seja, num discurso dialeticamente articu lado dos conceitos primeiros que dio razio da situagao funda- mental do ser humano, vale dizer, que exprimem essa situagao como uma estrucura conceptualmente cocrente. “Estruturas fun- damentais do set humano", tal foi o titulo dessa primeira seco ¢ nela foram estudadas as trés categorias do “corpo préprio", do “psiquismo” e do “espirito”, cuja unidade tem lugar na segundo o espirito”, que € a vida propriamente humana, Fssas trés categorias abrangem, pois, na sua articulagio dialética, a totalidade estrutural do ser humano, isto 6, circunscrevem a sua realidade como sujeito ou como Eu que se interroga sobre si mesmo. Se, portanto, admitirmos que as dimensées fundamen- tais da realidade na qual 0 homem se situa como sujeito sio 0 mundo, a sociedade e 0 proprio Eu, a construgao sistemética da Antropologia Filossfica comeca pelo Eu, nao no seu impossivel isolamento mas, exatamente, enquanto ele exprime a sua situa- a0 na triplice forma da presenga corporal, da presenca ps{quica € da presenga espiritual. O homem, em suma, ¢ inicialmente um dizer-se a si mesmo e, como sujeito, cle é essencialmente media- sdo entre o que é dizivel — compreendendo 0 que designamos como pélo Natureza |N) — ¢ a expressio humana do que é dito — compreendendo 0 que designamos como pélo Forma [F] ¢ que abrange os trés grandes dominios da expressao, conceptualizados como categorias ¢ articulados dialeticamente: 0 “corpo prs 0 “psiquismo” e 0 “espirit Para hem defini-lo ¢ para apontar, desde logo, a diregao do sso caminho, devemos observar preliminarmente que a dialé- das estruturas fundamentais do ser humano, tal como foi jculada, teve em vista as estruturas formais da expressividade 1 da constitui¢ao do homem como sujeito. Bla articulou entre trfplice modo de presenca do homem a realidade ou a triplice mensao da sua experiéncia fundamental como sujeito — corpo- J, psiquica e espiritual — do ponto de vista da forma da expres- 10 que o homem da realidade através daquelas modalidades da experiéncia, Trata-se agora de determinar 0 conterido dessa rma e € evidente que, em razo da finitude do homem como ser jado — ou como ser no Ser — esse contetido advém 20 ho- jem ab extra, nao sendo ele 0 criador ou a fonte do Ser no qual Assim, constituido estruturalmente por formas de expressio, 0 essencialmente, zelacdo com a realidade, & qual cont uma expressdo humana — ou com o Ser que nele se manifesta mente nessa expresso. A passagem da estrutura a relacao é, or conseguinte, a passagem da forma ao contetido da expressio em termos de linguagem, do significante ao significado. E verdade que a constituicao da subjetividade — ou a dialética das © esquema {N) —> (S) —> (F} tra- duz, desta sorte, a expressividade essencial e constitutiva do ser humano, que deve ser também designada como Linguagem no 10 nu estruturas fundamentais do ser-homem — move-se igualmente no horizonte tematico de uma relacio do homem consigo mes- mo e traduz, portanto, 0 contetido da sua ipseidade na forma da sua auto-expressio, Essa relagao & expressa na reflexividade do ‘“dizer-se a si mesmo”, do dicere seipsum, e ela € constitutiva do sujeito como mediacao de si a si mesmo, ou do sujeito como reflexdo. Mas, trata-se de uma relagao impropriamente tal, cujos termos permanecem circunscritos a identidade ontolégica do sujeito, ao seu ser-em-si (in se)’. E uma relagao do mesmo [ipse) a0 mesmo ¢ que, por conseguinte, se desdobra no dominio da forma ou da estratura eidética constitutiva do homem. Essa trutura é, enquanto tal, perfeicao (enérgeia} mas é, por outro lado, essencial abertura a realidade na qual 0 homem se situa, ou se € estruturalmente esse ad aliud. B exatamente enquanto 0 ho- mem se constitui como telacio consigo mesmo {ipseidade ou identidade reflexiva} que ele € igualmente abertura & realidade exterior na forma de uma relagdo ativa. Em outras palavras, 0 relacionar-se com 0 outro (relagao de alteridade} é, para ele, igual- mente, ato, perfeicao, enérgeia * Desde esse ponto de vista, podemos afirmar que a unidade estrutural do homem, ao mesmo tempo que asscgura a sua iden- tidade ontologica ¢ lhe dé a forma da ipseidade |reflexao|, define- +0 como ser-em-situagao ou como ser-de-presenga a uma realida de com a qual se encontra dialeticamente relacionado — dialética que é, fundamentalmente, uma dialética do interior-exterior. Com efeito, sendo inicialmente uma relacao de exterioridade (a reali- dade na qual o homem se situa lhe 6, evidentemente, exteriot]*, a relagio de presenca, como relacao essencialmente ativa ou como expressio do sujeito segundo a realidade na qual ele é— ou como passagem dialética da Natureza (dado ou realidade) a Forma (sig- nificagdo ou expresso) pela mediagao do Sujeito — pode ser centendida como progressiva interiorizagdo da realidade exterior a0 homem no universo da significado ou da expressio, que € 0 universo propriamente hitmano. Mas aqui 6 necessério observar que a interiorizagdo da realidade ou do “dado” (Natureza) na expresso ou na Forma é, em virtude de uma inversio dialética absolutamente fundamental, sua verdadeira exteriorizagiio para 0 homem, sua exteriorizagao em verdade, ou seja, a constituigao da realidade especificamente humana, na qual e pela qual o homem se exprime, Essa dialética interior-exterior ¢, pois, decisivamente » sportante para entendermos o homem como expressividade. alética singular e tnica que, em ultima instancia, articula-se no homem em razio da suprassungio (Aufhebung) do coxpo pr6= prio no psiquismo ¢ do psiquismo no espitito. Ha aqui um mo- yimento de negagao do exterior pelo interior que tem inicio na nstituigdo do corpo proprio e se consuma na pura imanéncia do pirito; mas esse primeiro movimento é, por sua vez, relangado por um movimento de negagdo da negagdo que restitui a reali- dade no seu em-si ow na sua exterioridade verdadeira, que é a sua ealidade significada, Essa dialética exterior-interior foi, convém recordé-lo, exposta ao termo do nosso capitulo sobre espitito * Aqui, a0 iniciarmos o estudo das categorias de relacao, aparece toda a sua importincia, pois ¢ em virtude dela que podemos falar de uma abertura intencional do homem, na sua unidade estrutu- ral de corpo-alma-espirito, a realidade na qual esta situado, Aber. ttira que se desdobra em niveis relacionais distintos, segundo a Jorma prépria da realidade com a qual 0 sujeito se relaciona, mas que € determinada fundamentalmente pela presenca espiritual, la pela dialética do_em-si e do para-nds descrita a propésito pré-compreensio do espirito ”. Expliquemos mais pormenorizadamente esse ponto de extre- ma importdncia para a articulagao coerente do discurso da Antro- ‘los6fica nesse novo passo que agora nos dispomos a dat, 30 passarmos das categorias de estrutura para as categorias de Convém observar inicialmente que, ao caracterizarmos 0 1em como ser situado, & a totalidade do sen sex que nos siquismo, ¢ a identidade dialética do exterior e do interior ho espirito constituem uma totalidade estrutuzal e é essa totali- que define homem como ser situado ou que circunscreve paco intencional da sua presenga ao ser, No entanto, essa -2 do homem como totalidade apresenta caracteristicas que rem da unidade ontoldgica que subjaz. A presenca, Em pri- meiro lugar, em virtude da dialética que articula entre si as ca- wias de estrutura, e que se exprime nos silogismos da unidade tural do homem ’, a presenga humana a realidade é, em ul- instdncia, uma presenga espiritual, sendo assim 0 espirito 0 erminante tltimo da situagao do homem no Ser. A vida vivid pelo homem na finitude da sua situagao é sempre uma vida 13 € exterior, Como 6 sabido, “objetividade” € um ipregado em virios sentidos. Entre esses, pode- ignan al segundo a qual um objeto € considerado em minada ciéncia objectum formale quo}; b) sentido gnosioldgi jeto na ordem do conhe wvidade e da objetivida tido epistemoldgico, designando o alcance objetivo dos concei rico & 0 sentido dado por para designar 0 ciagdo se apresenta na forma das tres grandes regides do ser que configuram a situagao fundamental do homem: 0 mundo, 0s outros © o Transcendente. Flas determinam trés esferas de relagao do homem com a realidade: as esferas da relaga ijetividade, da relagio de intersubjetividade e da relagao de transcendéncia. Ora, em cada uma dessas esferas observa-se a primazia de uma das ,€ na relacao ‘Mund 0 08 trés termos das relacdes constitutivas da abertura do homem a realidade, vem a ser, da sua situagdo fundamental. A primazia 4 qual nos referimos significa que 0 corpo proprio & a condigio primeira de possibilidade da nossa presenga a realidade na forma de uma abertura consi € a condigao primeira de pos dade n 1, a norma da reta raz&o, a lei mor tropolégico, segundo 0 qual o temo é usado no nosso, ologicamente, pelo esquema S —> O. No sentido antropologi- jedade que diferencia especificamente [ou ialmente} a relaedo do homem com as coisas {td prdgma lade das coisas que constituem o mundo. Por con- fo d dade da nossa presenca a forma de uma abertura constitutiva ao 0 espirito é a cond ira de poss presenca a realidade na forma de uma abertura constitutiva ao Absoluto 4, © hom: que 0 constitui como corpo, psiqi ferenciar-se esse set-em-relacao conforme a diferencia. do Ontica da realidade & qual ele se refere, essa diferenca na adentidade € determinada pela homologia entre as estrut rio se tratando aqui do problema critico- jdade do real, mas do problema antropol6gi- n com 0 ser, ou inem a situagéo do homem na uni . Assit, ao considerarmos o mundo (conceito antropolégico} como antropol6gicas a diferenciagao Ontica do zeal: diferenga na iden. mo da relacio de objetividade, afirmamos que uma das formas de tidade da r ndamental homem = Ser. E essa diferenga que mem ao ser € a sua presenga mundana, ou seja, a sua permite a articulagao dialética das trés formas de relagao que bjetos e eventos cuja interconexio constitu o mu © homem em face da real lade: objetividade, idade, transcendéncia *. meiro nivel da expres r justamente como relacao de objetividade. E importante ob: iador do, proprio, do psiquismo ¢ do espirito na unidade estrutural do como tal que ele mediatiza a passagem da exterioridade 2. Pré-compreensao da relacao de objetividade: 0 homem e¢ 0 mundo liferenciada, 0 homem existe ou € ser-no-mundo, Conyém inicialmente explicar lizado para designar o pri mo objetividad de relagéo do hom com a 4 A pré-compreensio da relagao de objetividade tem lugar, por. tanto, na experiéncia da constituicao do mundo pelo homem, ou no exercicio da presenga do homem ao seu mundo“ ou, ainda, no. exercicio do seu ser-no-mundo, Sera, pois, 2 uma fenomenologia do mundo que deveremos pedir a elucidagao das caracteristicas fundamentais dessa presenga e definir o nivel de pré-compreensao. da relagao de objetividade. A nogao de mundo, fenomenologicamente considerada, & de apari¢ao recente na hist6ria da filosofia. Na filosofia antiga, nogio de kdsmos ou mundus era empregada num sentido expli- citamente ontoldgico, ou seja, para designar 0 Todo (t6 pan) en- quanto ordenado e adornado, Era, pois, uma nogio filosdfica com uma dimensio estético-religiosa, sendo que essa tiltima prevalece na concepeio do mundo como grandeza teolégica®. O tema do Késmos ou do mundus percorre, assim, toda a filosofia antiga ® ¢ € uansmitido a teologia medieval, apresentando sempre as duas faces, cosmoldgica e teoldgica. Ao conceito de késmos na tra- dicdo antiga permanece préximo o conccito de physis (natura) no sentido de que o késmos, ou como ordem eterna filosofia grega) ou como criado por Deus (teologia cristal, exprime a ordem das coisas na sua inteligibilidade intrfnseca, ou seja, na sua natureza (physis). A nova imagem do mundo que resulta da revolugao ci- entifica moderna modifica profundamente a concep. ésmos, Mas o problema do mundo como realidade em. nece um problema filoséfico e teol6gico fundamental antiga do perma- A nocio antropologica de mundo, conquanto aparentemente ausente do pensamento classico, pode ser considerada como implicitamente presente, por exemplo, na constituigio da antro- pologia aristotélica*. Na verdade, porém, cla permaneceu como um implicito nao-pensado € 56 veio a tornar-se um tema filos6- fico explicito a partir de Kant”. Um dos resultados da Critica da Razdo Pura foi_o abandono do antigo conceito de késmos ou mundus em razao do seu carter metafisico. Deixando de ser em- +8i, 0 mundo, para Kant, torna-se uma idéia reguladora da razao pura, ou seja, passa a integrar 0 dominio a priori da raza0 no Seu uso transcategorial. Kant distingue, desta sorte, natureza e smundo, separando assim os dois conceitos que, na concepgao clissiea, estavam implicados um no outro. A natureza 6 0 domi- nio dos fendmenos, seja no seu aspecto formal enquanto legalida- de dos fenémenos no espaco € no tempo ou sua conexio segundo 16 Ibis universais ®, seja no seu aspecto material, enquanto totalida- mesmos fendmenos *. 0 mundo € 0 lugar das antinomias mpossfvel a atribuigao a ele do “coisa-em-si’. E esse um dos aspectos fundamentais olugio copernicana” de Kant ou da inflexao antropocéntri- filosofia moderna *!, em cujo contexto surgird a nogao de mun- mmo categoria antropoldgica. No entanto, o conceito de mundo Kant, sendo simples Idéia reguladora, permanece puramente mal. Na época do Idealismo alemao, encontramos uma con- io hist6rico-cultural do mundo em A. de Humboldt # e uma foncepcao dialética em Hegel, na qual entre o seu aparecer uscheinende Welt} & consciéncia ¢ 0 seu ser-em-si (an sich seiende Welt}, 0 mundo pode ser considerado sob os aspectos nenoldgico, estético, ligico, ético e religioso®. Por outro 0 conceito hegeliano de natureza, essencialmente dialético mo mediacdo entre a Logica e a Filosofia do Espirito, distin- se tanto do conceito de mundo como idéia reguladora da pura, como da natureza como legalidade dos fendmenos no 0 € no tempo™, Sob certo aspecto, ¢ dentro da visio toriocéntrica de Hegel, ele antecipa a concepeao antropologica le mundo, ao apresentar a Natureza como “contradi¢a0 nao-re- e que serd resolvida na esfera do Espirito, “verdade ‘iltimo da Natureza”*, A nogdo de mundo, no sentido em que o termo passou a ser jsualmente empregado na filosofia contemporanea, tem sua ori- jem em duas fontes: 0 historicismo de W. Dilthey e a discipulos introduziu a idéia de “visio do mundo! { ischawung), que exprime a relacdo do homem com o mundo exterior num contexto cultural dado ou numa época com carac- {otisticas culturais préprias ”. A “visio do mundo” pode ser con- anto é referida as caracteristicas culturais de uma época ¢ ntra expressio modelar nas grandes obras de cultura dessa ca; esse € o aspecto da “visio do mundo” estudado com pre- 10 por Dilthey; b) o aspecto da “forma de pensamento” ;kform) que imprime seus tragos originais as diversas “visbes mundo” e diz respeito, por conseguinte, a sua estrutura noscitiva *; c) o aspecto psicolégico, ou a incidéncia da “visio windo” na formagao psicoldgica dos individuos ®. Mas foi a cortente fenomenologica que contribuiu decisiva- mente para que o tema do mundo se tornasse um tema fundamen- tal na filosofia contemporanea. E. Husserl, 0 fundador da Fenomenologia, introduz tematicamente a nogéo de mundo ao tratar da consciéncia natural e da experiéneia no caminho aberto pela redugao fenomenoldgica para chegar a conseiéncia pura *?. Na sua Ultima grande obra, deixada incompleta e publicada somente apés a sua morte !, Husserl introduz 0 conceito de “mundo da vida” (Lebenswelt), que se tornou um dos t6picos clissicos da exegese do seur pensamento. De resto, o problema do mundo es- tava implicito em dois dos temas fundamentais desenvolvidos por Husserl nas suas Investigagoes Logicas *: 0 tema dos modos de intencionalidade ¢ o tema dos tipos de objetividade que Ihes sao correlatiyos. Esses temas estio na origem da idéia das “ontologias de Nikolai Hartmann, Hartmann, no entanto, nao leva suficientemente em conta a nogio de intencionalidade, 0 que Ihe no permite elabotar uma adequada nocao de mundo “. Foi, portanto, no circulo dos discipulos diretos de Husserl que se det 0 aprofundamento fenomenolégico da nocio de mundo, tornando- -se ela uma das noges-chave da filosofia contemporiinea. As prin- cipais contribuicdes nesse campo foram dadas por Max Scheler, M. Heidegger e E. Fink. Max Scheler, no contexto do seu personalismo, tematizou o problema do mundo ao refletir sobre a correlacio mundo-pessoa: assim como cada ato s6 adquire sentido na unidade da pessoa, assim cada objeto s6 é tal na unidade do mundo a0 qual a pessoa se abre “. © passo decisivo na tematizacao fenomenolégica da nogéo de mundo foi dado por M. Heidegger “’, com suas célebres andlises na primeita parte de Ser ¢ Tempo, complementadas por algu- mas péginas importantes de Sobre a esséncia do Fundamento ®. Nas suas andlises Heidegger tem em vista o que ele denomina a “mundaneidade do mundo em geral” ¢ que ele distingue de outras acepgdes de mundo que sao: a} © mundo como totalidade dos entes acepcio dntical; o mundo como ser dos entes compre- endidos na acepeao éntica [acepeao ontolégica); 0 mundo como realidade na qual 0 homem, como Dasein, vive facepedo pré- ontoldgico-existencial). Dessas acep¢oes distingue-se aquela que Heidegger designa como “nocao ontolégico-existencial da mundaneidade", ¢ que tem em vista o ser do mundo na medida em que ele uma estrutura existencial do Dasein. Por outro 18 ado, Heidegger distingue esse conceito ontolégico-existencial da nundaneidade como estrutura do Dasein, do conceito categorial se aplica aos objetos intramundanos (innerweltliche) enquan- ‘ais, € que corresponde ao conceito de Natureza {Natur}, com- preendendo a totalidade categorial |kategoriale Inbegriff} dos ob- ctos das ciéncias naturais ®, Heidegger é, assim, uma das fontes a distingZo, que se tornow usual na filosofia contemporanca *, ntre “mundo” e “natureza”, (em sentido diferente da distingio kantiana que acima mencionamos) e que € pressuposta a distin- que fazemos entre pré-compreensdo e compreensdo explicativa relagao de objetividade, A anélise que acompanha a definicao le mundo no sentido heideggeriano ¢ extremamente cuidadosa *, © fio que a conduz é a nogao de “mundo ambiente”, povoado de sas” (prdgmata) com as quais o homem entra em relagao de 80. Trata-se, pois, de coisas-utensilios que, como tais, desvelam iatamente a sua caracteristica de “estarem a0 alcance das mios” (Vorhandenheit}. Elas descobrem assim a analise nomenolégica a sua estrutura essencial de “referencia” © seu ser “para-que” e o "poder servir’ |. Essa € a determinacao ontolégica do “utensilio’ istinta da sua determinagao Ontica, e que se refere a0 seu uso al e concreto, O fendmeno do mundo 6, desta sorte, definido Heidegger como 0 “em qué” (Worin| 7no qual 0 Dasein pre- mente se compreende segundo o modo do “referit-se” (sich weisen}, sendo que este “em qué” ¢ igualmente 0 “em vista de que” (das Woraufhin) que torna posstvel o encontro prévio do ute; de tal sorte que o fendmeno do mundo seja o “em qué” do “compreender que se refere” (des sich verweisenden Verstehen: rr encontrar 0 ente no modo de ser conjuntura ®, Por sua vez, a “mundaneidade” (die Weltlichkeit) inida como a estrutura do “referir-se” do Dasein. Fica claro, , que Heidegger substitui definitivamente a concepgio do lo como késmos, ou totalidade ordenada dos entes, pela speao do mundo como 0 que torna possivel, na correspon- a entre o “em qué” (Worin) e o “em vista de que” ow pers- Pectiva (Woraufhin), a manifestagdo do “ente” (Seiendes), Trata ois, de dar ao mundo uma interpretacao antropolégica como trutura constitutiva do Dasein, mas essa etacao antropolégica é, em Heidegger, voltada nao para a ‘io do sex do homem, segundo a perspectiva da Antropo- josofica entdo em voga por obra de M. Scheler, e rejeitada 19 explicitamente por Heidegger, e sim para a preparagio de uma ento do Ser, como anunciam os primei- ros parigrafos de Ser e Tempo. Nao obstante, a contribuigao nova iniciativa do pensai heideggeriana a fenomenologia do mundo tornou-se, sem diivida, uma das referencias principais para o estudo desse tema na filo- sofia contemporanea e € como tal que aqui a ela nos referimos *!, A caracterfstica fundamental do mundo desde o ponto de vista da pré-compreensio da relagao de objetividade € dada pela meté fora classica de horizonte, que sofre uma notével mudanga de significagdo ao passar da sua acepcao tradicional para a sua uti- lizagdo fenomenolégica. Lé, horizonte era tomado, segundo a acepgio literal do termo grego, como linha diviséria que atraves- sa 0 interior do homem, definindo-o como um ser de fronteira entre 0 mundo material ¢ o mundo espiritual ®, Aqui, o horizon- te circunscreve o ser-no-mundo do homem e é, nesse sentido, em. primeiro lugar 0 horizonte da “temporalidade” |Zeitlichkeit}, no qual coisas ¢ eventos se sucedem e que é, segundo Heidegger, 0 horizonte transcendental que delimita as fronteiras da questio sobre o ser. Nessa acepgao o horizonte adquire a sua significagao fenomenolégica enquanto ambito intencional do manifestar-se do mundo ®, No entanto, seria errOneo, ao se caracterizar 0 mun- do como horizonte primeiro ¢ englobante da relagio de objetivi- dade, considerd-lo como um eftculo tragado de antemao, em cujo interior 0 sujeito se move, ou como limite estabelecido a partir da perspectiva do sujeito, 0 que implicaria, na relagio de objeti- vidade, um insuperdvel relativismo, O mundo como horizonte er descrito como espago intencional eujas lindes estao movimento, sendo essa a justificagao da metafora do horizonte como exprimindo a primeira determinagao da forma de expressao do sujeito ao relacionar-se com a realidade que Ihe € exterior. Essa realidade, ele a organizard justemente como incerconexao de coisas, eventos, representagdes, significagoes, constituindo desta sorte a trama do mundo. Trata-se de uma relagao nio-rectproca entre o sujeito € o mundo, ¢ daqui lhe advém © cardter de objetividade. O sujeito se encontra, primeiramente, situado numa realidade que lhe € exterior. Ele mediatiza esse estar-no-mundo (0 mundo, aqui, é simplesmente dado) conferin- do-the a forma do ser-no-mundo (0 mundo, aqui, € a expressio primeita ¢ englobante do existir objetivo do sujeito). Por sua vez essa forma se desdobra em modalidades que correspondem aos 20 niveis estrnturais da automediacao do sujeito: 0 corpo pro- 0, 0 psiquismo e 0 espfrito, pois, jd 0 assinalamos anteriormen- ¢, 0 stijeito & termo da relagao de objetividade enquanto consi- ado na totalidade constituida da sua estrutura ou, mais exa- lente, enquanto se constitui como movimento dialético de rassungio do corpo proprio ¢ do psiquismo no espirito © de itagao da amplitude transcendental do espirito na particulari- le psicossomatica ®, Desta sorte, como horizonte da relagao de ctividade, 0 mundo se apresenta como mundo dos objetos, mélogo a0 nosso corpo na sua localizagao espacio-temporal, 10 mundo das representagdes e desejos no espago-tempo da crioridade psiquica, e como mundo das significagdes ¢ dos fins (0 dominio do espirito. O mundo pois, tal como é entendido omenologicamente na pré-compreensio da relacao de objetivi- lade, nao é uma soma, de resto impossivel, de “coisas” "nem a moldura estética em que “coisas” © “eventos” se istribuem e se sucedem mas, justamente (sendo esta, portanto, Afora inevitavel), 0 horizonte mével em cujo fundo enha-se o perfil das coisas ¢ 0 tempo transcorre como trama acontecimentos. Na seqiiéncia dessa caracterizacao funda. ntal como horizonte, algumas determinages ulteriores da jo fenomenolégica de mundo podem ser enumeradas: a] 0 ter concreto do mundo como englobante ultimo das coisas e acontecimentos, 0 que distingue a acep¢io fenomenolégica da acepedo légica de uma unidade abstrata, seja da acepcao Sgica do késmos na concepeao classica, seja enfim da acep- critica de mundo como idéia reguladora da razio, segundo 1; b) 0 carter aberto da representagio do mundo, designado ransposigdo metaférica pela mobilidade da linha do horizon- acompanhando a posigdo do observador no espago. Essa aber- a do mundo passou a exprimir-se com a distincao entre o toro” (Umwelt) ao qual esta circunscrita ecologicamente a a animal, ¢ a “paténcia” (Welt) que se desdobra diante do nem ser-no-mundo®. Entre 0 entorno do seu horizonte proxi- Mo ¢ a paténcia ou abertura do horizonte distante, pressentido (0 possibilidade ou como apelo, 0 homem se exprime como sorno-mundo ow situa-se em face da realidade que se abre para ‘cino da objetividade no qual ele desde sempre esté, que ara ele 0 “envolvente” ou 0 “englobante”, mas com o qual relaciona ativamente (esse ad, edificando o seu mundo ®, ido” (Sinnesfundament) da a a1 nogdo de mundo como solo primeiro no qual se enraiza a vida do. homem enquanto propriamente humana ou do mundo como ‘mundo da vida” (Lebenswelt) ®, O “mundo da vida’ é 0 terreno onde se exerce a pré-compreensio da relacao de objetividade ou © horizonte que engloba os horizontes possiveis de uma com- preensao explicativa ou cientifica do mundo 7}; d) o carter is. t6rico-cultural da nogao de mundo que se torna vis(vel na elabo- ragao das “visoes do mundo” e na construgao social do espago ¢ do tempo ®, O caréter hist6rico-cultural ja implica, por sua vez, a suprassungao da relacao de objetividade na relagio de intersubjetividade denotando a natureza transubjetiva da expe- rigncia do mundo, 0 “ser-com” (Mitsem) implicado no ser-no- -mundo ”e atestado na linguagem ”, e) finalmente, em razao da estratura paradoxal que o mostra a um tempo como o “englobante” € 0 “aberto”, 0 mundo se apresenta como caminho para uma realidade transmundana, 0 que torna possivel a suprassungao da relacio de objetividade na relacao de transcendéncia, como a seu tempo veremos ", Na medida em que a relacao de objetividade se constitui como relagio nao-rec{proca, tendo como termo 0 mundo que est sen- pre em face do homem como ob-jectum (o que esti desde sempre langado diante,..) 0 homem, termo ativo dessa relagio, leva a cabo necessariamente a expressdo do mundo na forma do discur- so (logos}. A primeira articulacio desse discurso se dé na lingua- gem comum que é portanto, enquanto linguagem sobre 0 mundo, a primeira forma da relacio de objetividade. A organizagao dessa linguagem obedece a certos “esquemas” * fundamentais, sobre 0s quais se apdiam as multiplas variantes de “Vises do mundo” pelo homem ”. a) O primeiro esquema € 0 esquema topomorfo"s, ao qual cor- responde a categoria de coisa (prdgma) atestada na linguagem comum, Segundo esse esquema, o mundo recebe, na objetividade, a expresso da paisegem, ou seja, da abertura pri meira do sujcito a consisténcia e permanéncia do que estd af como “aberto” (Welt)”, A paisagem é habitada pelas coisas que assinalam os pontos estaveis de referencia na sua construgao topomorfa’®. Elevando-se sobre 0 esquema topomorfo e sobre a presenga das coisas, o mundo se constréi como habitagdo ou do: micilio, lugar da presenga humana (oikos, oikuméne, domus) ¢ da sua permanencia (manere, mansio, maison, mansao) na vastidao 40 2 espaco*". E desde a perspectiva da habitagao que 0 espago se apresenta como “mundo aberto” (Welt), ¢ nele se faz presente a listing’ do proximo e do distante bem como a oposigao do € do ignoto™, Nesse espaco as coisas se dividem entre coisas-utensilios ou, propriamente prdgmata, 0 que pode ser ipulado, estando ao alcance da mao para 0 uso ¢ nao tendo, tanto, segredo para 0 homem, € as coisas-enigma “ que nele oyocam admiragio (thawma) ou espanto (thdmbos). b) © segundo esquema ¢ 0 esquema cronomorfo%, a0 qual rresponde, na linguagem comum, a categoria de acontecimen- Segundo esse esquema, 0 mundo recebe, na relagao de objeti- vidade, a forma de curso ou sucessio de acontecimentos, segundo dem nao-revers(vel do antes e do depois. A sucessio dos ‘tecimentos atravessa assim o mundo com a flecha do tempo, permite ao homem estar presente ao fluir das coisas, dando-lhe “aconteceu”, do que “acontece” ¢ do 6, Do mesmo modo como nas sas podemos distinguir entre 0 proximo e o distante, assim demos distinguir no tempo os eventos repetiveis, que sio cfelicos previsiveis e permitem ao homem fixar pontos de referencia sucesso dos acontecimentos e mesmo, familiarizan tempo, construir nele a sua morada (0 tempo da vid: eventos insdlitos, enigméticos ou inesperados, com os quais 0 ymem nunca se familariza totalmente, como 0 nascimento ¢ a te, que rompem o fluxo habitual do tempo, assim como as enigma rompem a continuidade familiar do espaco”. 43. Compreensdo explicativa da relagao de objetivi- dade: 0 homem e a natureza ‘A pré-compreensio da relagao de objetividade exprimiu a pre- a do homem na realidade gue The é exterior sob a forma de m ser-no-mundo, O mundo é, pois, 0 termo primeiro da relacao » homem com 0 Ser ou o horizonte imediato da sua abertura ao Scr ¢, como tal, foi analisado fenomenologicamente, Apoiando-se experiéncia do mundo e nela langando suas ratzes, 0 homem jovas formas da sua presenca a realidade exterior, Todas clas {endem, na sua intengao profunda, a dilatar essa presenca dando- uuma medida plenamente humana, medida essa que s¢ avalia 23 segundo as dimensées do espago de intencionalidade no qual se estrutura a auto-afirmagao do homem como sujeito e que, como vimos, so as dimensdes do corpo proprio, do psiquismo ¢ do espirito. A partir, pois, da experiéncia fundamental do mundo estende-se 0 campo intérmino da atividade simbolizante do ho- mem, que justifica a sua caracterizacio como animal symbolicum"* ¢ que se propée explicar, no sentido literal, o mundo, ou seja, desdobré-lo como mundo das significagoes , assim, compreendé-lo. Dentre essas formas de expressio, que sio ‘outros tantos “discursos” (J6goi) sobre o mundo™, algumas vic- ram a constituir o objeto de disciplinas prdprias do saber filos6- fico, como a propria linguagem na Filosofia da Linguagem, a arte na Filosofia da Arte, 0 mito na Filosofia da Religiao. Delas nao trataremos aqui. A compreensio explicativa da relacdo de objeti- vidade tera em vista, para nés, o mundo como Natureza, vem a ser, o mundo tal como se ofercee ao homem como campo do seu fazer (potesis) e do seu contemplar (theoria). Se tomarmos o ter- mo poiesis no seu sentida amplo, correlativo a logos, todas as formas de expressio da relacéo de objetividade sao, na verdade, uma forma da pofesis ou do fazer simbélico do homem™. O. diseurso humano (0 seu Jogos) é originariamente poiético ¢ a emergéncia, nessa estrutura poiética, do momento da theorfa é um dos problemas fundamentais da Antropologia Filoséfica”! Desde o ponto de vista da utilizagao ¢ transformagio do mundo pela poiesis® fabricadora ou pela Técnica e sua explicacao e compreensio pela poiesis epistémica ou pela Ciéneia, 0 simbolo fundamental com que 0 mundo se apresenta a0 homem é 0 con- ceito de Natureza, ¢ € em tomo desse conceito que se desdobra a compreensio explicativa da relacao de objetividade. Como foi anteriormente observado, a distingao entre "mundo" e “nature- za!" é uma distincao relativamente recente na conceptualidade e na terminologia filos6ficas. Tendo recebido um estatuto critico em Kant, ela fixou-se na sua significagao atual a partir das and- lises de E. Husserl e M. Heidegger, passando entao “mundo” a ser empregado como nogio fenomenolégica e “natureza”" como no- sao cientifica, no sentido das ciéncias empirico-formais ®. Como a Ciéncia e a Técnica formam hoje um tinico complexo epistemo- logico ¢ operativo, a distingdo que aqui fazemos entre 0 discurso da Técnica ou da poiesis fabricadora, eo discurso da Ciéncia ou da poiesis epistémica tem sobretudo uma finalidade didatic: 24 endo as dimensées da compreensio explicativa da relagao bjetividade que a tradicao reuniu sob o nome de Natureza, nto, sfio necessériasduas observagdes preliminares a fospeito desse conceito. A primeira diz respeito ao carater da pbjetividade do conceito de Natureza tal como aqui o considera- 10s. Nao se trata da objetividace cientifica (sentido gnosiolégico- emoldgico} como atributo primeiro da Natureza em-si, en- to dominio de entidades e processos, formalizados pela Ci- @ncia em leis e teorias, e que regulam igualmente o fazer téenico; m se trata da abjetividade fenomenal sentido eritico-kantiano) (quanto oposta a objetividade em-si do mundo, Trata-se da re- 9 de objetividade (sentido antropoldgico} segundo a qual 0 se comporta em face do mundo, transformando-o pela (nica ¢ explicando-o pela Ciencia. A segunda observagio diz peito a polissemia do termo “natureza”” que 0 acompanha pro- welmente desde as suas origens € acabou por nele se fixar na \guagem comum dos idiomas modernos ocidentais. Entre as Wyersas significagoes do termo “natureza”™, duas interessam & pectiva antropolégica na qual aqui nos situamos: a) a primei- rovém de longinguas raizes hist6rico-culturais ¢ ¢ aquela na a Natureza é pensada ou representada como o “fundo origi- (Orgrund) ou matriz primigénia dos seres que povoam 0 » e dos fendmenos que nele tém lugar. Nesse sentido ela é endida como “natureza originante” (natura naturans) ®* ou 0 “mie natureza” (mater natura}, ¢ sua representagao ali tou as especulagdes cosmogdnicas ¢ cosmolégicas ao longo tempo. Nessa sua acepcaio abrangente, o conceito de Natureza oxima-se da nocio fenomenolgica de “mundo”, mas um matiz ortante 0s diferencia: a Natureza ¢ aqui pensada ou represen- ila no scu oferecer-se ou estar aberta a poresis fabricadora ou ¢pistémica do homem, como atestam-no desde as préticas magi- até as operagies e elucubragdes dos alquimistas na Renascen- onificadas no mito de Fausto”. Considerada nessa pers- ‘iva, a Natureza aparece inicialmente como tma oposi¢do caos- 1ese, desordem-ordem ”, ¢ nela se manifesta uma diregao fun- jental que aponta para a diferenciacao a partir da indiferenca, 1a a organizagio a partir da desorganizagio; b) € seguindo essa egao que se encontra o segundo conceito de Natureza ¢ que é priamente aquele com 0 qual aqui nos ocupamos. Segundo conceito, a Natureza é pensada e representada como a rea- Iidade exterior na medida em que é submetida as normas de uma 25 fica, exprimindo-se em teorias, leis, mode articula-se organicamente com a outra forma funda- conecitos, ¢ que estende sua judicatura tanto a ex; (Cién: a Ciéncia, Dada a multiplicagao dos objetos técni- cia) como a utilizacao (Técnica) dessa realidade. Assim ent }0 do mundo técnico na forma de uma objetividade paradigmatica que ¢ atribu- c dor a todos os aspectos da vis to da ciéncia ¢ se ester virtude dessa 6 é ju-se um dos topi ea, A atitude que preconiza a desa técnico 0 zetorno a alguma forma de relagao p inio de uma forma de presenca humana no a natureza,¢ a tecnocracia que espera dos progresos undo que acabou por tornar-se a forma dominante na ci is, tantc 40 ocidental *: politica € mesmo re essas duas tendéncias, nas quais prevalece uma sua referencia Entendido nessa acepgio, o conc uma filiagao histérica que 0 acompanha desde as si gregas até nossos dias”. Ao acompanharmos essa h vel gue, nesse nivel da relagio de objetividade no qual 0 homem 30 do homem com tenta compreender racionalmente o mundo, representando-o como smo vida segundo o Natureza, estao indissoluvelmente implicados os dois as} ¢ assume a forma espectfica da relagao de objetivida: do fazer ¢ do conhecer, a Técnica e a Ciéncia. Por meio dela: ie homem satisfaz a duas das necessidades fundamentais que se inifestam na sua relagdo com a realidade exterior: a necessida. de de satisfazer as suas caréncias, que se estendem do biologico espiritual ®, satisfazer a sua inata e percivel necessidade de conhecer !"1, A satisfagao dessas neces- sidades pressupée necessariamente na realidade exterior certos predicados fundamentais, tais como a distingdo ordenada das coisas com suas proptiedades especifica: que entre elas tém lugar, a invari interagGes que pode: de Natureza apresenta juncao com a Ciéncia ¢, de outro, a relag a com 0 modo de desvelamento ou de verdade (a-létheia) ino ou a historia do seu es 10s na unidade de um mesmo ite, 08 predicados reunidos sob o A sua morada no mundo. Nesse sentido a obje- tividade da natureza ¢ correlativa a forma de presenca do homem no mundo que se exprime nessa forma de atividade se revelou dotada do mais poderoso dinamismo: a entifico-técnica. (0 instrumento neutro para a satisfacao das necessidades,, 10 evento ft ici historica do homem do desenrol A Técnica € uma das formas fundamentais da compreensio tura do evento técnico segundo a chave hermenéutica explicativa da relagao de objetividade e ela antecede, prepara c, ), no qual termina a historia da Metafisica. Ora, como 26 27 compreenséo explicativa da relacao de objetividade, a iniciativa técnica deve ser referida A unidade estrutural do homem na me- dida em que ele faz face 4 exterioridade do mundo. Como evento humano ela é, pois, em ultima instancia, um evento espiritual ™, nao sendo sendo um capitulo (talvez o capitulo final} da longa dialética histérica homem-matéria ™, ou um dos aspectos do movimento de suprassuncao do corpo e do psiquismo no espirito na sua face voltada para a realidade exterior, com a qual estabe- lece uma relacao propriamente humana e que, na sua face voltada para a realidade interior do homem, esttidamos como movimento constitutivo da estrutura fundamental do ser humano, © segundo passo, portanto, na constitnigo da categoria da objetividade tem em vista a compreensao explicativa da telacao homem-realidade exterior que se exprime no conceito de Nature- za e na sua conceptualizacdo ao longo da historia " e que, nos nossos dias, se cumpre efetivamente no enorme desenvolvimento da tecnociéncia, Do mesmo modo como a Técnica, também a Cigncia, entendida aqui no sentido das ciéncias emptrico-for- mais '"!, 6 0 outro aspecto da relacio de objetividade na sua com- preensio explicativa. &, pois, a Natureza cientifica que se cons- titui para o homem moderno em dominio por exceléncia da rea- lidade objetiva, e & no horizonte tracado pelo saber cientilico que acabam por assumir fei¢do aparentemente definitiva as for mas eficazes de relacdo com a realidade exterior que o homem vem tentando edificar ao longo do tempo. Por outro lado, 0 cara- ter absolutamente original, na sua estrutura te6rica e na sua pra tica, desse tipo de relagao do homem com o mundo que é a Ciencia, criando uma esfera de objetividade que a humanidade pré-cientifica ndo conhecera, levanta problemas de natureza cul , ética | ¢ filosdfica ! que devem estar presences quando se trata de proceder 4 compreensao filosofica ou transcendental da relacdo de objetividade. 4. Compreensdo filosofica da relagao de objetividade Ao procedermos A elaboracao filosofica da categoria de obje- tividade, temos em vista expor 0 movimento dialético por meio do qual 0 sujeito, sempre entendido na sua totalidade estratural 28 alma, espiritol, mediatiza ontologicamente a experiéncia ido e a explicagao do mundo como natureza, “Mundo” e so, como jé sabemos, formas de expresso préprias iy pré-compreensao c da compreensio explicativa do relacionar- homem com a realidade exterior. No ambito dessa relacio, lortanto, a suprassungao da pré-compreensio e da compreensao sativa no movimento da mediacao transcendental que € 0 objeto proprio da Antropologia Filos6fica, na medida em que esta {em por objeto a auto-afirmacéo do sujeito como ser. Trata-se, , de fazer avancar 0 discurso antropoldgico na sua destinacao sencial, que € a de construir a auto-expressao do homem como Sabemos que, do ponto de vista metodol6gico, 0 primeiro mento da construgao conceptual da categoria é um momento primeiro passo da compreensio transcendental ‘em vista explicitar o objeto proprio da formalizacao categorial pecto problematico com que ele se apresenta tanto do ponto e vista histdrico como do ponto de vista critico. Trata-se, em a, de tracar as linhas do problema que a reflexao filosstica m diante de si, tais como resultam seja da rememoragao que era 0 longo caminko de reflexio que a tradicZo filosética wveul hos seus termos, seja da reducdo orftica desses termos orizonte tematico que se abre ao ato de filosofar na sua con- presente. 1, Aporética histon harmos, na sua vertente antropoldgica nto histérico do problema da relacao do homem com a reali indes temas que nao somente se alinham em. sucesso cronologica, mas também se fntrelagam conceptualmente, vindo a formar 0 complexo te6rico a Antropologia Filosofica tem hoje diante de si. Bis esses as: a) 0 tema do késmos no pensamento antigo — O problema de objetividade exprimiu-se aqui no modelo da muitua flexio entre 0 homem e 0 késmos, consagtado no tépos do ismos. Tal modelo tende a acentuar a lexio cosmocéntrica da relacdo de objetividade, tornando-se 0 kosmos 0 espelho no qual o homem se mira "* ¢ vindo a revestir- ae do predicado de “divino” (theion|. © conceito de “natureza” 2» (physis) em Platao © Aristételes compreende 0 homem na imutabilidade de uma ordem de esséncias. Como parte do késm0s, © homem ¢, por outro lado, o contemplador (theor6s) privilegiado da sua ordem ¢ beleza, dando assim sentido a sua presenga no ‘Todo (t6 pan), que o envolve com sua majestade, A antropologia tende a ser um capitulo da cosmologia, b) 0 tema do mundus no pensamento cristZo-medieval — f sahido que em tomo da divin- dade do késmos travou-se uma das grandes batalhas teolégicas do Cristianismo antigo |. A “desdivinizagao” do késmos ¢ {rato da doutrina crista da criagao e ela prepara, provavelmente, a emer- géncia da “natureza” modema, conforme a tese conhecida de Pierre Duhem e de outros", Mas, por outro lado, ela ¢ a fonte préxima das antinomias nas quais Kant viu enredada a Razao pura, dando origem, sobretudo, & oposigao entre causalidade na- tural ¢ causalidade livre, desconhecida do cosmologismo antigo; ¢} © tema da natureza cientifico-técnica na filosofia moderna — A profunda revolugao nas relagdes do homem com 0 késmos ou © mundus que tem lugar no século que vai de Copérnico a Newton leva a cabo, primeiramente, a dissolugao do antigo késmos ¢ da sua verséo teoldgico-crista, o mundus medieval ?!. A. “matematizagio” da natureza' e a génese de uma segunda natureza com a constituigio do universo cientifico-técnico re- pdem, com acuidade muito maior, a aporia presente no cosmocentrismo antigo ™'. Com efeito, 0 homem vé-se aqui con- frontado com 0 gigantesco sistema da tecnociéncia que, a0 invés de permanecer, como o antigo késmos, sempre igual a si mesmo na majestade de uma ordem eterna, envolve o homem, seu ceria dor, agora feito sua criatura, num prodigioso ritmo de mudanca crescimento. Mas, os fins desse processo permanecem indefini dos em virtude do carater essencialmente operacional da forma de racionalidade que rege a atividade cientifico-técnica, d) o tema do mundo na filosofia contemporinea — Vimos anteriormente que esse tema deve sua origem a descoberta husserliana da elucidagao das estruturas do ser-no-mundo do homem, bem como. a recuperagao da “esl (Husserl) na qual se enraiza para nés, na forma do “mundo da vida", nossa presenga as coisas € aos outros. Essa presenca assume, por sua vez, as caracteristicas de um mundo “concreto” que integra elementos da tradicao cul- tural, das experigncias individuais, das inter-relagdes sociais de todo © tipo. A emergéncia da nogdo de “mundo” na filosofia 30 mpornea deu, indiscutivelmente, um relevo particular & 4o antropolégica da relagio que se estabelece entre 0 ho- ca realidade que Ihe é exterior ¢ que, familiar para ele na ssenca cotidiana, tantas vezes Ihe aparece como algo estranho ostil. A aporia que se desenha sobre o fundo dessa recupera- le uma dimensio humana do mundo diz respeito, como viu lusserl, a incidéncia sempre mais poderosa das estruturas da weiéneia sobre o “mundo da vida", submetido a presenca fda vez mais dominadora da racionalidade empitico-formal da € da técnica, Foi nessa perspectiva que Husserl meditou a crise da humanidade européia (ocidental}, A questio, no to, se descobre dentro de um horizonte mais amplo ¢ foi na diregdo que se encaminhou a reflexio de Heidegger: desde 0 o de vista do ser-no-mundo do homem ou do que denomina- is a “relagdo de objetividade”, a recuperacao do “mundo da & capaz, por si s6, de restituir o sentido mais profundo ou sentido ontolégico da presenga do homem no mundo? e) 0 tema Wi alianga antropocésmica no pensamento atual — Talvez se Jjorsa considerar como antecedente ideo-historico desse tema a jo da Natureza matriz e norma de vida, bem como fundo ordial do ser, tradigao que se estende das suas origens estoicas ntes teorias, umas de carter cientifico outras de inconfun. ilivel feicgao mitica, que propugnam uma “nova alianga” do ho- Jem com a Natureza™, Nelas se recupera uma certa posigio fontral ow axial do homem no devir cOsmico, seja como hipétese , como no chamado “prinefpio antr6pico”, seja em pers- va finalista e teista como em Teilhard de Chardin, seja ainda 9 expressio de respeito e admiragio religiosa diante do uni- como em A. Einstein "S. A importancia desse tema tende, avelmente, a crescer, fortalecido que ¢ pela sensibilidade ica ¢ pelas visoes do mundo que ela inspira. Em nivel filos6- ‘mos aqui, sem dtivida, 2 um ressurgir, em novo contexto e cultural, da aporia que assinalou o cosmologismo antigo € fa Antropologia Filos6fica contemporinea vé delinear-se com igura na esteira da nova sensibilidade cdsmica: pode a relagZo -Natureza ser considerada 0 espaco conceptual primeito ¢ entro de cujo ambito deve ser pensada a auto-afirmagéo }homem ou sua auto-tealizago como ser aberto a0 Ser? 2, Aporética critica da relagdo de objetividade — A aporética ca da relagao de objetividade tende a formular-se hoje nos al termos com que acima descrevemos 0 advento de uma nova sens sibilidade cosmica, embora em contexto historico-cultural pro fundamente diverso daquele que viu florescer no mundo antigo a ji0 do Deus cosmico™, se inclina a fazer do Universo o fundo primordial, 0 Urgrund do qual o homem procede e a0 qual retorna. Nessa perspectiva, 0 ser-no-mundo viria circunscrever, para o homem, a esfera do Ser. E mesmo se nos representarmos © homem como “clareira” (Lichtung) através do qual passa a ilu- minacao do Sex, como quer M, Heidegger, somos forados a dizer que nessa sua situagao singular no espago do mundo exaure-s¢ a significagao do homem: seu ser, afinal, nao é senao um momento. evanescente, ou apenas um “evento” [Ereignis) no destino do Ser que se eleva sobre 0 nosso efémero ser-para-a-morte ¢ lembra inresistivelmente a serena e indiferente majestade do logos estdi- co. Desta sorte, a aporética critica surge dentre os termos da telagio de objetividade como uma interrogacio sobre o significa- do ontologico ou categorial do nosso ser-no-mundo. A tematizagio dessa nossa situagao mundana incorpora na filosofia contempora- nea, como acabamos de ver, dois aspectos fundamentais: de um. lado 0 mundo vivido seja como Universo ou Proto-natureza que envolve o homem, seja como solo concreto onde se enraiza a sua vida ou que é, para cle, 0 “mundo da vida", de outro lado, o mundo construido seja pelo processo de objetivizagao tedrica da ciéncia empfrico-formal, seja pelo processo de objetivizagao prd- tica do fazer técnico, ambos se entrelagando no universo da tecno- Giéncia que se dilata indefinidamente para estender-se a todas as dimensoes da realidade explorével pelo homem. Entre 0 vivido e © construido poderé 0 homem, af encontrando a resposta final a pergunta sobre o scu ser, abrigar-se na necessidade de um ciclo eza ea cla retorna, sendo o arco do “compre- do “fazer” apenas um intervalo onde tem Lugar o efémero Cintilar da consciéncia entre a obscuridade do Comego e do Fim ‘Trata-se, pois, de responder A aporia da relagio de objetivida de estabelecendo 0 contomo categorial do seu eidos e refe ~0 A atividade tética do sujeito no movimento da sua auto-afirma- gio. O momento eidético dessa resposta tem em vista, por conse- suinte, definir a forma da relagao de objetividade que se constitui como expresso do ser-no-mundo do homem ou que resulta da mediagao pela qual 0 homem, enquanto sujeito, confere signili- 32 20 seu existir no horizonte do mundo, Essa mediagao tem jicialmente no plano da pré-compreensao e aqui ela pode nominada uma mediacao empérica no sentido de que a sua de expressdo compreende a experiéncia do mundo como pnte englobante do relacionar-se do homem com a tealidade or e como solo fundante (“mundo da vida") da sua presenca sume 0 cariter de uma mediagio abstrata no sentido de forma de expresso que dela resulta traduz o mundo em ruras formais de conhecimento e em normas formais do tecnico, configurando-o como universo da tecnociéncia, exercicio dessas duas mediacOes 0 sujeito aparece, na relagao realidade na qual se situa, como Eu que experimenta vital- pensa ¢ transforma o seu mundo, ao mesmo tempo em ste Ihe aparece, em envolvente ¢ infrangivel unidade, como jae destino: como tarela, pois 0 homem nao ¢ para jase ad} o mundo sendo na medida em que sobre ele age pela jéncia, pela citncia e pela técnica, como destino, porque o onte do mundo envolve 0 homem nio somente na fixidez, ica das coordenadas do espaco, mas no inelutvel avangar da do tempo que aponta para 0 horizonte absoluto da mor- a © momento tético, por sua vez, refere 0 contetido eidético da 10 de objetividade ou o ser-no-mundo do homem 3 amplitu- endendental da auto-afirmagio do Eu como ser, ou 2 (thésis) do Fu son, O Eu sou aparece aqui nao na reflexao in, ou dominio do ser substancial na termi- se relativo ou ainda da relagdo predicamental ogia tradicional), “Eu sou para 0 mundo-natureza” ou Bu sou no mundo-natureza”, 0 que significa aqui uma in- ia ow relagao transiente a uma realidade exterior, distinta sténcia (subsistere) imanente do Eu sou no dominio A categoria da objetividade exprime, pois, essa referéncia tutiva do Bu sou ao eidos do ser-no-mundo. Trata-se, com de uma referéncia constitutiva ou essencial (eidétical, lo uma dimensio categorial do Eu son, pois, na medida Eu aparece estruturalmente sitwado (categoria do corpo 1a relagio necesséria com uma realidade que lhe € ex- 33 terior ¢ que justamente define o contoro da sua situagdo, é uma relagao com 0 mundo, definido como primeiro ¢ englobante ho- rizonte do seu ser-para, No entanto, poderd essa abertura constitutiva ao mundo, pensada como categoria segundo a qual é afirmado 0 ser do ho- mem na sua relacao com a realidade exterior que 0 envolve (ser- -no-mundo}, igualar-se & amplitude transcendental da afirmagao Eu sou! Ou poder o homem, ser-em-situagao, identificar os limi. tes que circunscrevem essa situacZo com 0 horizonte tltimo do, Ser ao qual ele, enquanto estruturalmente ser espiritual, constitutivamente se abre? A resposta a essa questéo nos introduz no terreno da Dialé- tica, segundo a qual a afirmacao do ser-no-mundo, exprimindo- -se, na verdade, como ser-para-o-mundo (relacao atival, deve ser integrada no dinamismo totalizante do discurso da Antropologia Filoséfica. Ora, se considerarmos esse discurso desde o ponto de vista da Timitagao eidética dos seus momentos, vemos que aqui, no caso da relagio de objetividade, o eidos do ser-no-mundo é referido a unidade estrutural na qual o homem, na reflexio sobre si mesmo ou na constituicao da sua ipseidade, articulou a forma da sua auto-expressio nas categorias do corpo proprio, do psiquismo ¢ do espirito ™. Se é verdade que o contetido categorial primeiro ¢ fundante (na ordem da inteligibilidade para-nés} do nosso ser € 0 “corpo proprio”, pelo qual nos situamos no mundo. ou anunciamos nossa presenga no mundo, a suprassungio dialé- tica do “corpo préprio” © do “psiquismo” no “espirito” mostra que a significagéo mais profunda ¢ a elucidacdo definitiva dessa presenga deve ser buscada na abertura transcendental do espitito a0 Ser (ou do homem ao Ser, pelo espirito], naquela que foi por nés denominada a inteligibilidade em-si da unidade estrutural do ser-homem ', Em outras palavras, a limitagdo eidética ou categorial do ser-no-mundo pressupde a ilimitagdo tética pela qual, ao auto-afirmar-se como ser, 0 sujeito deve submeter-se 20 dinamismo dessa afirmagio que aponta para a infinidade formal da idéia do Ser ¢, nela, vé delineada a possibilidade do conheci- mento {analégico) da infinidade real do Ser absoluto ¢ a conse- qiiente livre inclinagaa (amor) sua Bondade infinita Desta sorte, o movimento de totalizagdo do discurso dialético no nivel eidético da relagao de objetividade implica, de um lado, 34 magao da identidade [dialética) entre 0 ser do homem e 0 a da sua relacao com o mundo-natureza, e que pode ser ex- ao : "Eu sou para o mundo-natureza”; de outro, ) ou negagao instalada no interior da identi- e em virtude do dinamismo da afirmagao que, ultrapassando nteiras conceptuais (ou a limitagio eidética) do mundo- 2a, para visar A infinidade do Ser, nega a identidade entre sujeito € 0 para da sua relacéo com 0 mundo-natureza. Essa io pode ser expressa, por sua vez, na proposigdo “Eu nao a o mundo-natureza” . A afirmagao e a negagéo que em 0 desenvolvimento dialético do discurso da Antropolo- Filos6fica no terreno da categoria da objetividade tracam, to, um espaco conceptual no qual se inscrevem as formas xpressio do homem como ser-no-mundo, Entretanto, se con- irmos 0 ulterior desenrolar-se do discurso, essas formas per- jecem aqui absiratas, e devem receber um conteitdo concreto tategoria de realizagdo a qual compete tematizar a unidade do mem como processo de unificagdo (segundo a norma do -te aquilo que és"} do qual uma das linhas diretrizes ¢, mente, a realizagéo humana em face do mundo-natureza, indo a dupla modalidade do conhecer-contemplar (theoria) ¢ Na verdade, esse movimento de realizagao se ara como movimento de wniversalizagdo concreta do sujci- partir da particularidade da sua situacao corporal no espaco- npo. Nessa perspectiva, a efetivacao da relacao de objetividade ndo-natureza aparece como a primeira obra da vida segun > espirito que, nela, se dé um corpo objetivo, extensio da ihjetividade do corpo proprio. relago com 0 mundo-natureza, a firmagao que dilata o Bu sou as dimensdes do Ser descobre, {10 aspecto, a impossibilidade radical de cingir essa afirma- i) aos limites da objetividade mundana ou natural, ou de per- \ecer na identidade intencional homem-mundo, Com efeito, a de objetividade & uma relacdo ndo-reciproca na medida a em que uma relagao intencional. Bla se significa na ager mas, interpelados pela linguagem, 0 mundo e a natu- respondem a nao ser pelo proprio dizer do homem que Wiluz na sua linguagem a significacdo que jaz silenciosa nas {guturas do mundo € nas leis da natureza ™, Ora, a linguagem @ssencialmente antincio, mensagem, interrogacdo, interpreta- Ao enunciar, porém, 80 35 tagdo, promessa ou ainda demonstragéo e narragao. El: supde ¢ postula, portanto, uma relacdo reciproca entre sujci tos ou suscita 0 aparecimento do perfil do outro no horizonte d sendo 0 meio (tedium) no qual 0 “Eu € um Nos e 0 Ne segundo a expresso de Hegel "*. E no medium da lint guagem, portanto, que se faz presente a relacdo intersubjetiv. como nova forma de relagdo fundamental do ser humano. NOTAS um logicum © 0 primum to, ver Antropolagia Filo ap. 4, pp, 268-269. Ver ainda, desde o ponta de vista com, cconsidcramos, a discussio sobre a significagio do Cogito de Pa néme comme un autre, Paris, Seuil, 1990, pp. 15-22 mente no pronome pessoal Bu € no abertura ao outro que serd igualmente compreendide na identidade |mémotd) lagio ativa, comum analogicamente a todo ser vivo, & totélico-tomésica das dyndmais ou potentiae activac, 3 1a Antropologia Filoséfica I, p. 230 n. 38; p. 274 n. 3, seria, talvez, ser comparada como o "ser lanca 38, 8 ed, Tubingen, Max Niemeyer, 1957, pp. rutura existencial do Dasein 6 an: der realen Welt: Grandriss der nuyter, 3 ed, 1964, pp. 311-321, 7. Ver Antropologia Pilaséfica, 1, pp. 208-206. 8, Convém ter presente aqui a sentenga de Santo Tomas vila, 1adologie Allemande J [Feuerbach], Oeuvzes, éd, Rube, Ul, p. W0)/. 0 animal néo se situa no mundo, mas ¢ eireunserito pelo seu Umwelt ou 1ccossistema, Sobre a especificidade éarelagio do homem com seu Umvvel, ich Galer, System des Handelns: eine rekonstruktive swissenscheft, Stuttgart, Klett Cotta, pp, 132-142. Ver Antropologia Filoséfica, 1, pp. 239-240. no teria dade de situarse num se fazer presente por uma praesentia circunseriptiva ox local, juestao ver Santo Tomas, Summa Theol, J, q. 52, a, 1c. 37 leito, através das estruturas imagindrias e afetivas, como mostrou particularmente Max Sehel ‘ abertura ao outz0 e se estabelece © nivel fundamental das relagdes intersubjetivas om o Absoluto &, essencialme mem todo, ela suprassun igdes de objetividade e ©, por sua vez, determinam a forma do conhecimento humano de Deus © do amor humano de Deus. 15. Podemos propor 0 seguinte esquema: + Mundo/Psiquismo —> Outeo/Espitito —> Absolute, Estruturas —> Relagoes —> Realizagao —> Esséneias. Das Objeke (Enz, der phil. 18, O substantive pragena, des -se fundamentalmente & signiticagao das coisas colocadas no ak f pertence Bscritos de Filosofia I sinda M. Heidegg 19, B interessante comparar a aqui, com a nogaa de Eexposta por HE. Hengstenberg, Philosophische Anthro} Kohthammer, 1966, pp. 9-18. Sachitchk io fenomenolégica, designando a ser do berg, abcange os dominios por nbs caracterizad incersubjcviad | Hengstenberg distingu cntendida segunda a meditacdo 10 da unidade estrutural do home “ um simples ‘mas termo de uma relacao segundo'a qual © omen exprime seu ser ent fos seres, aqui propriamente seu ser entre as coisas e os 08 22. Ver o capitulo “Linguagem do mundo e linguagem do e em ILC, az, Esetitos de Filosofia I: Problemas de Fronteira, Sao Paulo, Loyola, ressio clissica desse tema é 0 tratado pseudo-aristotéico {De mundo), ilo séc. 1P. C,, sobre o qual consultar A. J ‘d'Hermés Tris jeu Cosmique, Paris, Gi '520 (com traduio parcial do texto}. 10 aspeeto propriamente tcoldgico da nogio de al, ver L, Bouyer, Casmos: le monde et la gloire de Di 0 histérica de A. N. Wildiers, Welebild ‘Benziger, 1974, H.C, Lima Vaz, "Linguagem do mundo op. cit, pp. 238-240. A evolue: jea da idéia de “das origens ao pensamento contemporineo, é reconsticuida ma 'W. Kranz, Kosmos [Archiv for B ver também G. Morra, “Mondo 728-740), G. Gusdors, Les origines: ‘tla pensée occidentale I), Paris, Payot, 1967, pp. 23-49; M. Hk des Crundes, Sed, F Wissenschailiche Buchgesellschatt, 1977, pp. 322- dda nogio de Késrnos & deserita enberg, ischen Welt, 3 vols, Trankfurt a. M., Suhrkamy tiga de mundo pode trade no neo} oelo: i fondamenti della sua metafisica (tr. it pp, 256-276) pensamento eldssico pensa o ser do mundo como 246, Essa a tese exposta por R, Bragh ‘csquema da p. 517: 0 lugar do “mundo” no ponto de enk fl comme probleme philosophi f, 1976, pp. 86-90. Em Vor Wesen des ides. op eit, pp. 28-36, Heidegger chama a atencio para a nogao de “mundo” mente anttopoldgica que Kant propoe na Antropologia a partir de menologica, 68), La Haye, M. DS. Ver Kritils der reinen Vermuunft (KV), 8, 582ss. Ver KrV B, 165; B, 263; B, 479. 1972, pp. 84-143, sn Kant ver as reflexses de S. Breton, “M ‘du monde et philosophic de la nature, \Recherches de DDB, 1966, pp. 9-92 (aqui, pp. 10-16) ratocka, Le monde naturel comme probleme philosphique, op. Ver H. Glockner, HegeF-Lexikon, s. v Seutegatt, Frommans- og, 1957, p. 2654 4, Hegel alasta'se igualmente do conceito schellingiano de “natureza", que | de alguma manera, & natura naturans espinozista. Ver a introdugio de retry, Hegel's Philosophy of Nawure, Lonres-N. Y., G. Allen, 1 4, 1970, 1, pp. 7-114. 85. Ver Enayklopidie der phil. Wissenschaften (1890), § 248, Anmerkung, 36. sid, §§ 248.281 87. W. Dilthey desenvolveu a idéia da Abhandlongen zur éorie des cont México, ‘problema del mundo” vere. X, 38. Este aspecto foi estudado, latmente por Hl. Leisegang, na sua obra de Gruyter, 1951 {IF ed. 1928) e por E. Rothacker © seus a respeito € a de Karl Jaspers, Paychologie der Berlim, de Gruyter, 1922 (tr. esp, Teoria de la conicepeiones de] mundo, Madrid, Gredos, 1967) O cap. 2 eata da "imagern do mundo" {Weldbild) também do érico-culeu Weltanschauung in psychologischer Sicht, Munique, Reinha si0 do mundo" ver o artigo de J. Ferrater-Mora, Diccionario dé Filosofia, 6 ed, i, Alianza, 1979, UI, pp. 2291-2204, 40. Ver Ideen zu einer reiner Phin introduz aqui a idéia de romenologia do mundo, O mind, por sua jo eomo a "soma dos abjetos de uma exp 41. Die Krisis der europaieschen Wissenschalten und dio transcendentale Phanomenologie {Husserliana Vi, 1954), t, fr de G. Grancl, Pa 1976. 49. Vera excelente exposicio de L. Landgrebe em Philosophie der Gegenwatt ‘Athaeneum Yerlag, 1953, pp. 58-81, 43, Sobretudo na sua obra Der Aufbau der re de Gruyter, 5 ed,, 1966 (I ed,, 1939}, na 2a. P, 1, see, pp. I 44, Ver L. Landgrebe, Philosophie der Gogenwart, op. cit, pp. 64-65; HE. Hengstenberg, Philosophische Anthropologie, op. cit, p. 22 45, De B. Fink ver sobeetuio 5: a Haye, M, Nijhof, 1958, 46. De M. Scheler us in der Bthik und die materiale Yertethik: neuer Versuch der Grundlegung eines ethischen Personalisrus, # ed. (Gesammelte Werke, 2), Bema, Francke, 1954, pp. 403-406, Vee 0 Sachregister ‘mundo-pescoa seré estudada infra, nda Die Stellung des Menscher que, Nymphenburger Verlag, 1947, pp. 34-46, egpet_na tematizacio fenomenolégica da nnogio de “imu ta magistralmente por L, Gogenvvatt, op ¥ ard, foxes, 1988-1989, es Die Crandbegriffe dor hkeit, Einsamkett (Gesamtsausgabe, 29-30, ed. FV. von. ure 2. M,, V. Klostermany do fundomenta (W ed, 1929} tr, port. de Ernildo Stein, 1, $42; op el ph Suz, op. et. pp, 645, ver W. Concept de Loui Patty Naow eles Vin, 1950, py, 1925 (2 et, Ven 1984) celene intodeao a conesio de Sado” er Heideggc. 5. A taduedo basicza de Sere Tempo tidus Dasein com pr-senra, Ver Ledo, tr, cit, I, pp. 309-310. 4, Ver, por ex Breton, *Mionde et Noto’, art. itn. 31 y |, $40 Paulo, Loy. pp. 68. lo do “estar no espago” da Dasein, mas no da sua situacao \verso das referencias, Ver W. Biemel, Le concept de monde chez Heidegzer, 8 Su op cit, p. 86 Sobre essa definigio pica da linguagcm de Heideezer, a concept de monde chez Heidegger, op. cit,, pp. 51-52, Fizemos nl do texto de Heidegger, vor a tradugso portuguesa Je 1-17, sobre wma antropologia fundada sobre a a Daseia e que cccu tum desideratum nao realizado, cit, pp. 2-15, te fr Veain, pp. 25-89, tr port. pp. 27-41. Gi, A preceugo a er tomata aqui diz renpito & diferenga entre os pare Pioismuefeatjete © Dagela mundo, dtenea explicinente eats jomenologia do “mundo”, ver L. Landgrebe, Philosophie. der Gegenwart, pp. 72-73, ¢4 teansigao de Husserl 2 Heidegger no ambito 14-78. (6, Comparer com a “esfera infinita” de Nicolau de Cusa; ver Antropologia ‘aI, pp. 101 m. 12. Vor Antropologia Filosofica I, p. 225. 06, Ver A. de Waelhens, La Phi se om Sr Tempo dus ce gual © homem se encontia (SUZ “mundanidade” de 6 wages de FV {a Dieogia iL porque ¢ todo @ ser do (© mundo. Como do home; “Lebenswelt” ap, Diccionario de pla elaboracio da conceit de Lebens de Hsserle stendendo aos problemas dae tre 0s homens da eivilizagao da percepedo e da ‘A propio ver W. Biemel, Le concent de monde cher Heidegger, op pp. 80-96. i, ao 74, Ver A. de Waelhens, Le philosophic et es P. 122; } Patocka, Le mondé naturel comme pro 16-88. 1a modida em que a generalidade ‘ usado no nosso ‘dc expresso da iseurso sobre 0 mundo. 146. jpos ~ lugar € morphé = forma. sr com a *abertura” correlativa do ser ¢ do Dasein iva de F. Veain, pp. 588540). tag” ver G. Hachel fea "casa" ver ainda Patocka, Le monde naturel comme problime philosophique, op. Idas Zeug] em SuZ, § 15, pp. 66-72, § 22, pp. 102-104, pp. 846-549, da linguager comum, a sintese entre o esquema “copomorfo” jema “eronomorfo" é feita na estritura elementar da frase entre 9 subs: ©. 7}, caracterizando-2 assim: “Os outros processos de geragio se cha- 43. ccontemplagio ¢: ia poiesis, a atividade poidtiea se diversifica em fabuladora = mi stética = arte, c} potesis fabricadora = poiesisepistéimica = ciéncia, Sobve um sentido ver Jean Beaufret, Dialogue avec Heidegger, Paris, 169, F Tinland usa o neologismo artfactuel para Gesignar lhumano produzido pelo Jogos poiético e no qual o homem se situa ¢ se desenvol- quelques nouvelles perspectives sur la nature dla question du mode. ‘ure propre aux hommes", ap. G. Florival [ed,}, Etudes d'Anthsopologie. Philosophique, I, Louvain-ls-Neuve, inst. Supérieur de Philosoph 38 92, Observe-se que a potesis tem em vista a simbolizacao do mundo nal relagio de objetividade. A simbolizagio do outro tem hugar pela présis na relagsa. de intersubjetividade, © a relagi0 dialética entze os dois momentos eonstitui o echo do discurso filosdfico sobre a relagio do homem com a exterioridade do ‘mundo e do outro, 93, Ver L. Landgrebe, Philosophie dee Gegenwart, op. eit, pp. lessa nocio ver K. Hedwig, em Historisches Worterbuch der Philosophie, op. cit,, VI, 504-510. 96. Ver Brian P. Copenbaver, “Astrology and Magic”, ap. Ch. Schmitt-Q, Skinner, The Cambrdige History of Renaissance Philosophy, Cambridge University, Press, 1988, pp. 264-300, G. Gusdor!, Les origines des sciences humaines, op. ct pp. 441-482, 97. Uma analogie poderis ser pensada com a chara platonica que se olerece maledvel a agi0 orlenadora do Demiurgo, Ver Platio, Time, 48 ¢ - 51 b. Ver ainda J. Seides smo-logique", ap. Enoyclopédie Philosophique Universelle, 1, op. cit, pp. 353-362 {aqui pp. 360-361) ¢ também E, Morin, La Méthode I: La Nature de Ia nature, Pati, Seuil, 1977, pp. 33-93. 98. Vero sugestivo livre de S. Moscovict, Essai d'une histoire humaine de Ja nature, Pati, Flammarion, 1968, 99. Sobre a hist nceitode “natureza”, além dos artigos do Histoxisches Woerterbuch der 94 sup dentre uma vasta ingwood, The Idea of Nature, Oxtord, 44 ‘supra nstrumento para a satisiag ude eminentemente espiritual da comunicag.o, ines tou eidénai orégontal physet, -xpresso sob forma da curositas, ates a nossos dias, passando pela tradigdo erista e pela modernas, ¢ cle, Paris, Colin, 195: 5 Paz ¢ Terra, 196 'schnik, Frankfurt a. M., Knecht, 1958; sobre a contibuicio de Dessauer ssio do problema da técnica ver H. Stork, Eiajahnung in die Philosophie ik, Darmstadt, Wissenschaftliche Buchgesellschaf, 1977, pp. 15-22; nessa 85) ver uma ampla exposicio sobre os aspectos antropolégicos da ugestivo também o estudo de D. Janicaud, "Phénoménologie, conscience le t monde technique’, ap. Phénoménologie et Métaphysigue, (dit, JL. © G, Planty-Bon io 0 dominio da relagdo de objetividade e a 9 homem a traduz, ver as profundas reflexbes de J. de 1 Affrontement de I autce, Roma, PUG, 1978, pp. 164-177. Em Vortidge und Aufsatze |, 3. ed, Pfllingen, Neske, 1967, pp. 5-36 (t A. Peéau, Essais et Conférences, Paris, Gallimard, 1958, pp. 9-48). Um texto de Heidegger € 0 de J, Beaultet, Dialogue avec st, pp. 142171, 106, Ver Jean Beauftet, op. cit, pp. 170-171 Ver Antropologia Filosofica I, op. eit, pp. 263-265. 108, Sobre © sspecto espiritual da séenica ver W. Schadewaldt, *Di Anforderung det Technik an dic Geisteswissenschaften”, ep. Humanisrus | Oppermann), op. cit, pp. 468-492; D. Jonicau so autocizada dessa hist homme et la matibre, 2d, Pa lar dessa bistria,€ imporcante levar em conta a de ruptura epistemol wat no sécvlo XVII com a substtuigao udaa partir das qualidadessensive na cineia moderna. Dentee aro livro de R. Lenoble, cit supra ia Filasofica, op. cit, p. 102 n. 29. Sobre € tedrico-experimentais do surgimento do universo cope: Hans Blumenberg, Die Genesis der kopernikanischen Welt, op. cit, 299, 111, Ne clasificapdo de J. Ladkitre; ver AntzopologiaFitosdfica 1, op. ci 210.8. 112, Ver Bseritos de Filosofia, It: Btica © Cultura, op. eit, pp. 40-211 113, Bosea problemas sio teatades de uma maneira abrongente € numa per 14. Ver 0 capitulo “Ftica e Ciencia” em Bscritos de Filosofia II: Etica 1, 0p. cit, pp. 181-226, ibid, *Cigncia e Sociedade”, pp. 274-279, ver tama 115, © problema de uma Filosofia da Natureza, di ruito antiga linhagem, pois com cla comega a Filosofia entro os grezos, depo de ter sido sucessivamente submergido pelas vagas do caiticismno, do positivism edo historicismo, renasce hoje ¢ se propoe como de extrema atu texto nao somente entre o homem © a Naturezi, tal como a definem, por exemplo, I. Prigogine ¢ I La Nouvelle Alliance, Patis, PUF, 1979. Ver as reflexdes de F. Gutty, de Ia nature aujourd! hui", ém Enoyelopédie Philosophiques Univercelie, 1 eF. Selvagei, Filosofia do Mundo, (tr. port], Si0 Paulo, Loyola, 1990, pp. 143-164, 116, Os dois conceitos de finitude e situagdo, na sua acepeio antropologica, suites vezes tomados como equivalentes na literatura filos6fica contempordnea, na verdade néo o sio. A finitude denota a inadequacio entre a infinieude inten ional do espirito sberto 20 ser, ¢a infinitule real do ser: a inadequacio, ‘sum, entre 0 espirico capax entis e 0 ens ipsum. A siuagdo exprime a relacao, consticutiva de homem com uma realidade que Ihe é exterior fo mundo). Todo ser situado € finito, mas a reeiproca nio é verdadeira. Os seres vivos infra-humanos © 05 puros espiritos (na hipétese da sua existéncia sio fi dos: os primeiros por estarem eircunscritos 20 seu ni ‘minados por ele, 08 segundos por intwirem, por definigao, a reaidade em si mesma) 117, Distinta, convém lembré-lo, da vertente gnosioligico-critics, 118, Ver J. M. Aubert, Philosophie de la nature: propédeutigue & la vision) chrétienne du monde, 46 Rese recente desses pro de la cosmologie contemporaine, Aix en Provence, Le M ret, “Le principe anthropologique ite et Culture, Le Supplement, nn. 181- “Le principe anthropique et la finalité", ap. Follon — ‘intentionnalité: doctrine thomiste et perspectives modemes, Louvain- 7 vaga de do mando ies, IV (ed. Bonsiepen-Heede, Gesammelt Na verdade, essa sentenga célebre dle Fle Ht) CATEGORIA DA INTERSUBJETIVIDADE Introdugao stender-se do conhecimento cientifico sobre 0 dor de objetividade, que as recentes teorias cosmolégicas di- -m perspectivas prodigiosamente vastas no espaco-tempo, inevitavelmente a reflexdo sobre 0 paradoxo assinalado hen W. Hawking ao fim do primeiro capitulo da sua A ry of Time e que se manifesta no fato de que, na teoria do universo, para a qual tendem os esforgos mais tenazes sica contemporanea, estariam contidas as premissas inantes da nossa compreensio do mesmo universo, pois ip somos parte. Seria essa uma versio puramente ca do. antrépico”, segundo a qual a compreensao do universo ser inteligente que dele faz parte implica a presenca, no no universo, das condigdes de possibilidade do seu ser com- justamente por esse ser. Como, pois, compreendendo 0 Wyorso como um todo nele compreendermos a nds mesmos e, ompreendermos as razGes da nossa compreensio sem, de maneira, transcendermos 0 universo, transcendendo 0 parte? Esse paradoxo, para o qual Hawking oferece uma rwiniana ad hoc, e que, em Pascal, suscita a atitude do har-se diante do lugar do homem na natureza ', seria le- extremo se pretendéssemos ineluir na teoria geral do s premissas do nosso conhecimento do outro, ou do ser ienos em prinefpio, poderia tam- \ compreender a teoria unitdria do universo e, nela, a si mes- 9 mo € a nés. Na verdade, essa forma singular e paradoxal da rel ¢0 parte-todo [homem-universo}, exprimindo-se como relago nai reciproca de objetividade, parece mostrar em nés a presenca a uma dimensio irredutivel a0 dominio da objetividade e que, p tanto, nao pode estar contida numa teoria unitéria do univers justamente a dimensao estrutural que denominamos espirit Desta sorte, ao passarmos da relagao ndo-reciproca de objetivid: de para a relagao reciproca de intersubjetividade, encontramo-nos em face de uma nova forma da dialética em que dois “infinitos!! se relacionam (paradoxalmente!} ou dialeticamente se opdem. Co: efeito, na relagao de objetividade, a infinitude intencional do s jeito faz face A infinitude potencial do universo no seio do qual se articula a dialética pascaliana dos dois infinitos e se manifesi © paradoxo de Hawking. Na relacdo de transcendéncia, com veremos, a infinitude intencional do sujeito faz face a infinitud real do ‘Absoluto. Mas, na relagao de intersubjetividade, infinitude intencional do sujeito tem diante de si outra infinivud intencional, e € a reciprocidade da relacdo entre ambas que cons} titui 0 paradoxo proprio da intersubjetividade, manifestando- primeiramente na finitude da linguagem como portadora do unit ‘verso infinito da significacao. © aparecimento do outro no horizonte da intencionalidade d Eu tem lugar, por conseguinte, no medium da linguagem ent dida no seu sentido mais amplo como estrutura significante qui se diferencia em miiltiplas formas, desde a postura corporal ¢ gesto até a prolacéo da palavra e a articulacao do discurso, e particular do discurso da interlocugao (did-logos}. f sabido que linguagem tornou-se um dos tpicos mais freqitentados da refle xio filosofica contemporanea, e a filosofia da linguagem passou ser um dos ramos mais frondosos da rvore da filosofia®. N entanto, como observava ha pouco um lingitista de reconhecis competéncia’, o enorme desenvolvimento das ciéncias da lingua gem ¢a répida ascensao da filosofia da linguagem ao zenite d céu filos6fico, no se fizeram acompanhar por uma adequad: reflexdo antropoldgica, seja no proprio plano de uma elucidaca cientifica do fendmeno da linguagem, seja no plano da sua inter pretacio filosofica, As razdes dessa caréncia paradoxal (sendo homem, afinal, 0 portador € 0 usuario Ginico da linguagem} sa mtiltiplas e nao € aqui o luger para examiné-las *. Nossa atenga se volta particularmente aqui para a dimenséo da linguagem de 50 omo medium da interlocugao ou como terreno no qual se »bra a relagao recfproca entre os sujeitos: a relacao dual Eu- ) constituindo o cireulo originério do Nos, ¢ a relagao plural ip se estabelece entre a multiplicidade de centros egolégicos §, itituindo o Nés plural e expandindo-se em circulos concéntri- dlos pequenos grupos as grandes comunidades hist6ricas. Do modo como na relacao de objetividade a realidade exterior surmida pelo sujeito nas formas de expresso que configuram esferas do mundo e da natureza, assim a relagao de orsubjetividade deverd encontrar formas de expressio que tra- lyom a originalidade do encontro do outro — dos outros — no iizonte do mundo. Convém no entanto, no limiar desse capitulo que assinala a Wwsagem da categoria da objetividade para a categoria da \crsubjetividade, voltar nossa atencio para uma observagdo wlodol6gica de extrema importéncia. © desenvolvimento do discurso da Antropologia Filoséfica wdece, como sabemos, a um esquema linear de seriagéo das orias percorrendo, como regides categoriais fundamentais, —> Mundo —> Outro —> Transcendéncia —> Unificagao jalizagao) —> Unidade (Esséncia), Esse esquema apresenta uma com o esquema hegeliano da Filosofia do Espirito, to subjetivo —> Espirito objetivo —> Espirito Ab- into. Trata-se de um esquema linear que, sendo articulado na ha da inteligibilidade para-nés, é reversivel na linha da lade em-si dos seus momentos, pois a esséncia é que constituir 0 fundamento ontolégico de inteligibilidade no mento de auto-realizaco do sujeito, das relagses de trans. ‘ncia, intersubjetividade e objetividade, bem como das cate- de estrutura 6. Essa reversibilidade do percurso dialético, reularidade da compreensao filoséfica ’, mostra que 08 mo- intos do discurso no seu desenvolvimento para-nds devem ser jsados exatamente no movimento que os faz passar um no ro: assim, na regido categorial da estrutura, 0 corpo proprio s6 enquanto passa dialeticamente no psiquismo e este no espi- p Por sua vez, 0 Bu como estrutura s6 é tal na medida em que (dialeticamente) na relacao de objetividade e, mediatizado a, na relacao de intersubjetividade. Seria, pois, compreender ira incorreta 0 desenvolvimento do discurso da Antropo: losofica supor seus momentos categoriais como unidades sh discretas e totalmente constitufdas na sua inteireza conceptu do discurso relagao as categorias que finalmente, a impossil de de se pensar o homem na sua unidade *. Essa observa deve ser levada em conta sobretudo se considerarmos as cater e & verdade que o homem € um todo nk ‘ica do corpo, do psiquismo e do espitito, es inte de um todo paradoxalmente aberto ou, segund ». Vale dizer que o homem nao se abre ao mundo ¢ ao outrg como uma espécie de ménada leibniziana, & qu: janelas de onde a realidade exterior ceito paradoxal do “perder se para encontrar-se""® reeebe aqui transposigio filoséfica que se mostra deci discurso antropol6gico, Portanto, na perspectiva do desenvolvim to do discurso, a autoposigao do suj osi¢ao concreta nas categorias de auto-realizagao ¢ de Bases eupressumem ni concreto o ser relacional homem, mostrando a i lade radical do sujeito na sfntes do ser-em- ) edo esse ad (ali e enquanto figuras do desenvolvimento do conceito tempo. No nosso caso, se a figura do Fu antecede relagdes de objetividade realizagao, ela s6 alcanca sua plena inteligibilidade ao atingir categoria da esséncia, quando a aparéncia do Eu abstrato que d efetivamente no seu relacionar-se com 0 mundo, com o outro com a ‘Transcendéncia © que neste e por este relacionar-se, a mesmo se realiza como pessoa *. 52. 8 Com 08 quais se tece o 0 do outro — dos outros. Assim, a pré-compreensio da de intersubjetividade tem lugar justamente no terreno uunciar-se ao outro ¢ a ele responder, e & nesse terreno que ‘ersos aspectos podem ser analisados. ‘Pré-compreensao da relagdo de intersubjetividade * ata-se, pois, de tragar as grandes linhas dessa experiéncia que tompe a objetividade do horizonte do mundo ¢ na Sgica, estritamente reciproca, e que se constitui como ia de invocagao € resposta entre sujeitos que sc mos- sou € aqui suprassumida no movimento relacional que como outro termo da relacio exatamente um outro Eu: paricio da telacio de reciprocidade manifesta a reza primeira € originante no desdobramento da a do sujeito, na primazia que Ihe compete com rela~ fermos € que nos autoriza a falar de um primum, caracterizacao dessa reciprocidade que denominamos ica: partimos da unidade estructural do cdo de objetividade ¢ essa, por sua vez, situagao relacional de ser-no-mundo. Do Eu- \do o discurso avanga para compreender, no curso do seu lar dialético, a relaco de bjetividade © essa Ime entdo o Eu e o seu mundo na prioridade fundante da idade dos termos egoldgicos entre os quais ela se estabe- dialético que articulon a essencial reflexividade do Bu, express nas categorias de estrutura ¢ formalizada nos silogismos do ¢1 si € do para-nés", e operou, assim, a passagem a esfera da ob} tividade e a0 Ser-no-mundo. lexivo ", ou que sdo capazes de exprimir-se smos na auto-afirmagdo do Eu sou. Em virtude di reflexividade dos seus termos, a relacdo € relacao de reciprocidadk e, especificamente, relagao de reconhecimento, losofia pratica de Kant e herdado d: constitui um dos temas fundament Na verdade, porém, ele se inser Hegel, num contexto muito mais vasto do que o da simples ex pressio da relagao de intersul asso de um movimento di passou a ocupar lugar de relev egeliana, integrado & corrente de pen: samento que fez do problema da intersubjetividade seu problem: fundamental . No entanto, a exposicao que Hegel faz da dial tica do reconhecimento na Fenomenologia do Espirito permane modelar ¢ até hoje no superada *, podendo ser aceita como melhor introdugao_& pré-compreensio da intersubjetividade, Com efeito, a originalidade do ponto de vista hegeliano, co no sew através de Jético, a0 aparecimento da nogao de infinito, do 0 desdobrar-se interno da consciéncia, agora assumindo a f ra da consciéncia-de-si. Essa encontra, no fluir da vida e na pulsai do desejo seu primeito esbogo ou figura na realidade objetiva. Ajj porém, o objeto € arrastado na inquietagdo sem fim da vida ou consumido pela satisfagio do munca saciado e sempr renascente, impelido por um movimento sem termo ou pela dial lética do mau infinito. Desta sorte, a consciéncia deve necessariamente para 0 moi do desejo — ou seja, deve eni of pela qual ela se conhece concretamente exatamente, em outra consciéncia-de-si (alter ego}, jue nao € senao © proprio reconhecimento®. Hegel, ido, encontra na oposicao histérica do Senhorio ¢ da © paradigma que lhe permite expor a dialética do zeco: jento ¢, com cla, a entrada no rein do Espirito ou na natal da verdade” , que a consciéncia deverd agora percor- Mas, desse célebre Jov \teressa-nos apenas reter fia de que a dialética da alteridade ou da essencial (esse ad, ou relacao de a compreensio do. sui a necessariamente a passagem do outro-objeto (tematizado tividade) a0 outro-sujeito, ou seja, implica 0 Jyualmente ele mesmo {ipse| no seu ser-conhecido e no conhe- m suma, no reconhecimento™, ‘no-mundo como auto-expressao do sujeito implica neces- mente a forma do ser-com-o-nutro que é, justamente, a for- relagio intersubjetiva. © lugar privilegiado do tema do ‘ofia contemporanea ¢ as tentativas de uma podem ser vistos de um lado como tentativas de supe- 0, consequéncia aparentemente inevitavel das 10, de outro, como reagio contra o predominio ;cional e do operacional na sociedade dominada pela tecno- a, ven a ser, em termos antropolégicos, pela primazia dada de objetividade na forma de compreensiio explicativa da ago do ser-emerelagio do homem moderno. © problema da experiéncia do encontro com 0 outro, ou da féncia da relacao intersubjetiva, por nés formulado como compreensdo da relagao de intersubjetividade, ¢ tratado na enfoques teméticos 55 jéncia da physis “, Com efeito, o pensamento antigo nao co- wocu esse problema na sua versio gnosioldgica, ndo obstante do o “viver em comum’” um tema fundar ssica, sobretudo no que diz respeito a vida ética, eA amizade ®, Na tradigao crista desse tema, fundada na do préximo no NT, a existe }ém uma evidéncia contida na urgéncia absoluta do precei- mor, mas, aqui, a raiz mais profunda da alteridade mergu- ato criador de Deus: 0 que, segundo Lain Entralgo””, definitivamente 0 tema do outro na histéria es} -lo exemplarmente a reflexio de Santo '. No entanto, para que a existéncia do outro assumis- carater problematic, em termos gnosiol sofia moderna, era necessério que profu rrico-culturais, agudamente analisadas por Lain ig, tivessem lugar na historia do Ocidente. Desde os iros passos da filosofia moderna, o problema do conheci- do outro esté presente, assinalado com 0 argamento que ornara ¢lassico de Descartes a Husserl, e que pretende expli- al conhecimento entendendo-o como conclusao de um racio- ntativa da fi nal6gico que parte da experiéncia do Bu proprio". As la- osas tentativas para fundamentat ecimento do outro a dar-Ihe um estatuto gnosiolégico adequado * repousam pre, e definidamente, sobre a realidade primeira do encontro, desenrola em formas sempre mais profundas a partir da fondamental do reconhe: ‘0. No encontro, em suma, mpreensao da relacao de intersubjetividade exerce em ato ento do outro. na.sua irredutfvel originalidade em da relacao de objetividade, nao obstante as forma: icantes que o encontro pode assumir, ou que podem ré-lo. c. psicolégico — O problema psicoldgico da relagio de ibjetividade formula-se no plano da realidade empftica do 10 Com 0 outro, na medida em que ele se efetiva at psiquica, desde a simples percepcio 4 imaginagao ¢ \de. Ao psiquismo, com efeito, cabe uma fungao privilegiada sstabelecimento das relacdes intersubjetivas j4 que esse tipo \cio, em virtude da sua essencial reciprocidade, deve ser iwamente vivida, ou seja, deve realizar-se como vida de Se ao metodolégicos. Em cada um deles 0 caminho para o outro é tra sado num terreno que parece apresentar-se como 0 mais apte oferecer um fundamento sélido, scja a expresso tebriea da real dade do outro, seja a experiéncia de uma figura auténtica da sua alteridade, Assim, 0 rotciro para o outro é tragado sucessivamen eno terreno da fenomenologia, da gnc da psicologia, da wees vanes historia. Apontemos rz ipidamente a diregao) a. fenomenolégico — Seu Ponto de partida pode ser encontra- do na tentativa de E. Husserl”” para estabelecer a realidade do} " ional do Eu e dentro do problema lade enquan a ere Eu transcendental, problema que olerece ¢ linia © Meditagées Cart as **, ‘Trata-se, para Husserl, de estabelecer’ uma teoria da ridade transcendental rtigorosamente segundo as exigéncias do método fenomenoldgico ®. 0 itinerario da 5* Meditagdo ™, apesar de nao ter con. vencido nem mesmo os discipulos mais préximos at oe ito de paradizma as tiscussées contemporaneas sobre 9 , atestando m varias diregies b. gnosiologico — ages Pa a intima vinculagéo eo l6gico, nao sendo o lo mais apto para 0 conhe- i ee entanto, a dimensao especificanene ca apresenta-se nesse campo com caracteristic. i Rais na exata medida em que, dentro da telagio peal de sored a entre 0 cognascente ¢ 0 conhecido, o perfil do outro se destaca el por entre a mi omo descrever e fundamentar c de conhecimento que se estabelece entre sujeit que 0 enfoque gnosiolégico do problema do outzo se propée cum. rir. A proposi¢ao da questio nesses termos tem algo de parado- Xal, uma vez que a existéncia do outro é, primeiramente, uma evidencia da qual seria tao ridfculo (geloion) duvida Tal a tarefa 56 corpo proprio cabe a primazia na relagao de objetividade, na medi em que por ele nos situamos no mundo, na relacao d intersubjetividade 0 espaco intencional no qual 0 corpo prépri do eu € do outro entram em relagio de reciprocid: espago da sua situacao obj inal” ou da sua io rica € complexa, Scheler “, 4. Idgico — O aspecto légico da relagao de intersubjetividade estd essencialmente ligado ao medium da linguagem em que essa relacdo se estabelece, uma vez que toda légica ¢ linguagem e todo uso da linguagem implica uma l6gica, vem a ser, uma sintaxe dos seus eleinentos e um conjunto de regras que em termos de significacdo e significado a relacdo entre a get © as coisas ou a sua seméntica ¢, finalmente, as regras do uso ou a pragmdtica da linguagem. A dimensao légica da intersubjetividade desdobra-se propriamente no campo da prag- matica e encontra sua expresso primeira e, de alguma maneira arquetipal, no didilogo. As origens dialdgicas da ldgica sao comumente admitidas pelos estudiosos da ldgica antiga, tendo sido a estrutura formalmente dialégica do procediment inyestigada particularmente por P. Lorenzen € seus colaborado. res“. Por outro lado, 0 didlogo, como é sabido, tem seus titulos de nobreza filo todos, de PI a tematizacio filoséfica se como via para a superagio do solipsismo A teoria transcendental da intersul nara propriamente légica do 0g0 abriu-se um amplo campo de reflexio na filo: porénea, no qual alguns problemas classicos da loséfica séo repensados em novas perspectivas *, da relagao de intersubjetividade manifesta-se originariamente a luz da mesma evidéncia com que se faz presente a existéncia do outzo e, com ela, o fato primitivo do existir-com-o-outro. Com efeito, esse co-existir se mostra 58 co-existir no espaco do ethos, ou no ’. Assim, 0 questionamento dialdgico ersubjetividade ar, ica ou 0 exercicio da jente voltada, na sua acepeao grega origi- corte, sob a égide de Sécrates, um lexao sobre as formas da relacao jetiva, Ser necessério o advento e o triunfo do individua- lade aos recessos da Jade torne problematica a intersul Jlecer com a universalizacao formal da maxima rrativo categorico da razao pura pratica. Mas, de fat da reflexao ética com o conceito hegeliano de “eticidade” ®. A experiéncia do encontro do outro como expe- 6tica tomna-se um dos temas cardeais da ia contem- tendo sido ilustrado, entre outros, por G, Marcel (ver . 48} ¢ por E, Levinas ®. Por outro lado, as tentatives ee em K.O. Apel, ou 0. ) wi Ctica da ipseidade do $i, manifestada na linguagem, na aio ticularmente na narracdo, tal como o apresenta P. Ricoeur, rico — Todos esses aspectos convergem para a nature- idade ¢, de maneira, nela se fundem, sendo a histéria 0 dominio lo existir-em-comum dos homens. A histéria ente enquanto designa o fato natural do orrer, cronologicamente datado, da vida humana individual iva, mas 0 modo proprio com que a comunidade humana tempo e que encontra suia efetivacdo nos costumes, nas ‘gdes, na linguagem, na sensibilidade comum, em suma iversos aspectos da relacdo de intersubjetividade que defi 0s individuos e para 0s grupos a forma do seu existir ico. Aos conceitos de “mundo” e “natureza'” na relacio de de correspondem, assim, os conceitos de “hist6tia” lade" na relacdo de intersubjetividade, Em termos dialéticos, 59. ie a existéncia mundana e natural do homem suprassumida pela sua existéncia historica e social e € nela 0 individuo existe humanamente, vale dizer, co- rica ¢ complexa de um mesmo sum , portanto, o mundo da do nés ou da e que é 0 lugar da gan: palavra propriamente Desdobrando-se nesses diversos aspectos, a pré-compreensa da relagdo de intersubjetividade tem lugar, pot co: “mi o da coexisténcia, em que a ipseidade do Eu emerg les identidade ¢ se i reflexivamente na recis procidade da relagao com 0 outro © homem ¢ ser-no-mundo; pela relagao de intersul situagio mundana do Eu € suprassu do ser-com-o-outro: um que lembra a esfeta infinita d Nicolau de Cusa ¢ Pascal, pois seu centro esté em toda a parte, onde quer que o Bu itradie a sua presenga pela linguagem , mag cuja circunferéncia nao se fixa do Eu se dilata na dele partem para estabelecer com 0 outro a relacéo reeiproca da intersubjetividade: a relagio reciproca da proximidade, que se telagéo Eu-Tu no amor, na amizade, na vida em comum; a relagio reciproca da convivéncia, que se exerce como relagio Eu-Nos no consenso, na obti 3. Compreensao explicativa da relagao de intersubjetividade A relagao de intersubjetividade como terreno do encontro com © outro ¢, mais amplamente, do serem-comum dos homens di origem a ricas ¢ variadas formas de presenga reciproca dos sujei: tos. Foram justamente essas formas que procuramos dlescrever 20 tematizar a pré-compreensio dessa exp nossa vida que € ser-com-os-outros. Eng vida, clas constituem 0 resultado de uma mediagao joa que deve ser suprassumida nas formas mais elabora- lis mediagbes abstrata ¢ transcendental. digo do pensamento classico, as formas de experiéncia jetividade, constituindo o dominio da su ompreen- n diretamente conceptualizadas no discurso filoséfico, dan- anto no seu aspecto diacrénico ‘ria quanto no seu aspecto sincrdnico como Sociologia, antigo, nao lhe © conecito de “sociedade” como grandeza cuja estrutura e leis de funcionamento devessem poe «las e abstratamente formuladas, como nem o de “hist6ria” smetido A investigacdo metédica ‘ou leis que supostamente rege- repos, a Unica forma de vic vo, a episthéme politiké, que Aristételes define como mo ordenador entre os saberes” *., Sociedade e Hist6ria sao, modemos, como sfo recentes as cincias que delas remota deve ser buscada, sem duivida, nas erela medieval, que ops a sociedade rel Inreja, ea i te sociedade politica em -ado soberano ®, f justamente na seqiéncia ormacio do conceito moderno d que ido fr e crescer aquelas que vieram a denominar-se “ciéncias hu- citneias do Espirito” (Geisteswissenschaften), As no- t6ria e Sociedade {abrangendo a esfera da dialética do real .0s. Mas foi justamente a ta anthrépina), como ira Aristoteles “, a0 codigo epistemoldgico da nova ‘eza que surgira no século XVI, a dar origem aos complexos, Jdgicos e metodolégicos presentes ao longo do desenvol. jas modemas “ciéncias humanas’ A compreensio explicativa da relacao de intersubjetividade, na medida em. que exerce sobre o ser-em-comum dos homens mediagio abstrata propria do conhecimento cientifico, € uma forma tipicamente moderna da zutocompreensao do homem, iva do espirito, anteriormente considerada “, Mostraq efeito, que 0 procedimento operatério ou expé mncia nao se aplica ao espirito em si mesmo, pois sendo cle identidade reflexiva consigo mesmo nao pode expri= mir-se diretamente em conceitos construfdos abstratamente r de uma impossivel auto-experimentac0. A compreensio rages do homem enquanto ser e: objetivizacao em processos e formas presenca espi- nao pode ser submetida diretamente a0 procedimento abstrativo da ciéncia, Para tanto seria necessario que a relacéo de intersubjetividade deixasse de ser 0 encontro de sujeitos que se reconhecem como ta a ipseidade ou da sua i termos da ‘0 campo das “ciéncias 10 de uma metodologia acordo com as normas } das praticas ¢ obras do hist6rico e social do homem que apresenta dificuldades mncias humanas conti- nua sendo campo de vivas discusses, 1 do seu objeto entre os pOlos da Natureza, do Sujeito e da Cultura ®. Cada um desses polos, como foi visto na Introducao do nosso Cul uma atragao poderosa sobre as duas faces com as quai senta o existir-em-comum dos homens, a face histdrica ¢ a face social. Hist6ria e Sociedade sao fatos da Natureza que devem sex oo. cados a partir das leis que regem a estrutura e 0 movimento \cessos naturais? Serio criagdes de um Sujeito universal, 03 individuos sao momentos tra cde Marx? Ou deverao ser explicadas pela pluralidade e diver- das respostas com que os grupos humanos fazem face, tuindo a sua propria tradicio cultural, a0 desafio da s cia € permanéncia no tempo? Estas interrogagées acom- am a formacao e desenvolvimento das ciéncias humanas a do século XIX € dio origem a uma constelacao de proble- loséficos que passam a cot tuit a ten a da chamada fia das ciéncias humanas”. Assim como aconteceu no caso imbém no caso da relagdo de intersubjetividade a ta-se distendida entre o ideal ese indissocivel entre 0 fato e © sentido nas isas humanas”, o que leva inevitavelmente as ciéncias huma- onstituir-se como ciéncias hermenéuticas ¢ a penetrar no da filosofia®, falar de uma prit do “explicar” sobre o “compreen- pois, ndo obstante as ci ias da natureza, consideradas expressdo da relago do homem com o mundo objeti m em si a ineliminavel dimensao da interpretagdo, nel: m deve sul Ao invés, na compreensio ridade, a primazia cabe ao “compreender’ scende, explicando-o e com- io da legalidade da Natureza”, Ora, a si 4 coisa, O problema fundamental, iva na relacao de intersubjetividade -ma da sintese entre o explicar e 0 compreender, cons- ma expressio que se possa denominar “cientifica” do ir em comum dos homens. a-s¢, na verdade, de definir 0 estatuto cientifico dos dois grupos de saberes que a enciclopédia moderna reuniu sob 63 © nome de “ciéncias histéricas” ¢ incluindo-se as ciéncias da cultura, nestas a tamentos col izonte tematico, apenas contemplado na sucessdo temporal d passado e do presente: o horizonte das estr mentos que tecem juntos a Hist6ria seria a sociologia do pasado, as como a Sociologia seria a historia do presente: uma tenta des ver as estruturas © comportamentos na reconstituigio do que aconteceu, outta descreve as mesmas estruturas e comportamer tos como explicagio do que ests acontecendo”. Num e noutrd caso, 0 operar do homem no dominio do ser-em- éncia intersubjetiva — que 6, propriamente, a sua prd: to de uma explicagio que tenta compreendé-lo segundd formas estveis ¢ explicé-lo segundo um tipo de ordem proprio dé uma realidade na qual nao reina a necessidade nomolégica da Natureza, mas em que tem lugar uma conjungao tipica de fr qiéncias ”, cont |. Desta sorte, entre os alvos permanentes do saber moderno esté a compreensio explic tos (sociedade dual) 01 entre muitos (sociedade plural) se estabelece, por meio da lingua. m, a reciprocidade do recomhecer-se e, a partir desse primei com-o-ouitro (iMitsein} "4 A necessidade desta compreensio exp se desde qua a descoberts, no ectimeno mundial, da imensa variedade das so ciedades e das suas culturas ea recuperacio, nas profundezas dd tempo, de detna a Sociedade e a Histéria. Levantou-se assim imperativat mente o problema de uma ciéncia do agir humano, ou de umal tcoria do operar (Handlungstheorie} que passou a ser, aparente: mente, o problema dominante do pensamento contemporanco No entanto, como jé anteriormente observamos, o floxescer xe as d Compreensao filoséfica da relagao de intersubjetividade A tarefa de claborar a categoria de intersubjetividade e de la a dialética que conduz o discurso da Antropologia ica vé-se em face de uma singular situacdo teérica, de resto lineada na introdugio do presente capitulo € na des Sabemos, com efeito, que todo o discurso da se objeto para visar, como tl wversalidade do ser. Bssa estrutura gico deu origem, na elaboracéo da categoria do esptrito, a Ora, no ter da relagao intersubjetiva, o sujeito tem diante de si um e deve assumi-lo no discurso da auto-afirmagio de ale dizer, tem diante de si uma outra infinidade in- jonal, Essa paradoxal relagao reciproca de dois infinitos® é no funda do mistério do conhecimen tro, que s6 pode ser um reconhecimento, expresso na ident tica do Eu com o nao-Eu como Eu (alter ego)". A itamente, dialetizar esse paradoxo do encontro huma- ne & sempre, fundamentalmente, um encontro entre sujeitos um encontro espiritual". Ela deve explicitar o sub conceptual que permite ao sujeito afirmar a infinidade i jonal do seu Eu nela compreendendo a infinidade intencional e sendo por ela compreendido. Tal condicao significa me € possivel afirmar 0 outro ou acolhé-lo no espago icional do meu sentir, entender ¢ querer na medida em que or ele também afirmado. Do contrério le objetividade, ou no caso extremo da coisificacdo do outro. justamente a partir dessa reciprocidade da ilimitag civiséria entre 0s filésofos da intersubjetividade: é possivel 65 pensar a relagao entre os sujeitos sem atribuir de alguma form a um dos termos a primazia sobre 0 outro? Mais exatamental ida no discurso da Antropologia Filos6fica, a catego ria da intersubjetividade compreende 0 outro no ambito intenci nal da autoposigao do Eu ou no momento tético do discursd Dessa posigao fundante do Eu no discurso nao deriva necessari mente sua precedéncia sobre 0 outro na conceptualizagio filosd) fica da idéia do homem, ow seja, a necessidade de se the atribuil 2 dignidade de primum ontologicum na relagao Eu-Tu ou Eu-N6s de sorte a desequilibrar definitivamente a reciprocidade da rela do intersubjetiva? Eis af uma das questoes em tomo das quais sd unem as diversas correntes de eritica as filosofias do Cogito qu cruzam 0 ar filos6fico do nosso tempo *. Ela opée notadament no terreno da filosofia da intersubjetividade, dois extremos, 0 pados respectivamente por E. Husserl e por seu discipulo 5 Levinas. Entre a egologia radical de Huser! ¢ a no menos radical heterologia de Levinas ™, o discurso da Antropologia Filosofica deve encontrar, sem chivida, uma via media. Esta deve compre ender na forma da categoria de intersubjetividade 0 paradoxo dil presenca do outro Eu no espago de intencionalidade do Bul afirmante que é, a0 mesmo tempo, 0 sujeito ontolégico (coma) mediacdo) ¢ 0 sujeito Iégico (como termo de atribuigao} do diss curso, mas de tal sorte que essa compreensio nem implique al primazia ontolégica do Eu sobre o outro, nem deixe que a clare: do seu afirmar-se a si mesmo seja ofuscada pela presenga irradianté do outro, Trata-se, em suma, de mostrar como 0 discurso antro poldgico, enquanto construgéo conceptual do Eu, a0 acolher outro Eu na ordem das suas razdes — ou scja, ao integrar ne ordem a categoria da intersubjetividade — atinge um momento] singular da dialética da identidade na diferenga que é constitutival do espirito, articulando essa dialética no terreno da presenga es piritual, Vimos anteriormente que a dialética constitutiva do esprit 2 dialética do em-si e do para-si®. O para-si €, aqui, o moment da reflexividade do espirito ou da sua identidade ativa consigi mesmo na afirmacdo da sua identidade |intencional) na diferen: ¢a {real} com o objeto“. O em-si é 0 momento da realidade da} ‘objeto — da sua verdade — que ¢ normativa com relagio a sua expressio pelo sujeito. Na relagio de intersubjetividade, enquan. to propriamente zeconhecimento, temos a identidade na diferen 66 ilo Eu, fazendo face a identidade na diferenga do outro Bu, vale , temos a afirmacao reciproca do outro como Eu. B essa yao da objetividade do em-si [mensurante com relagio ao isi ow A identidade reflexiva do Eu) como atributo da subje- le para-si do outro, que torna possivel a relagao de jetividade como relagao reciproca na pluralidade dos su- \s finitos. Com efeito, aqui o predicado essencial do sujeito jritual — a consciéncia-de-si — é atribufdo ao outro e nele sume dialeticamente © momento do em-si ou 0 ser-posto objeto, fazendo-o surgir como sujeito diante do sujeito (alter, ” Por outro lado, é essa reciprocidade da identidade na di- longa (s6 possivel, convém lembri-lo, se dois infinitos de nalidade paradoxalmente se teconhecem) que permite insgredir 0 teor literal da expressio alter ego como anulagao da Hyinalidade do outro pela simples duplicagio do Eu, o que de- a a forma extrema do solipsismo. A alteridade aqui € cons- ida pela diferenca intencionalmente infinita com que a iden- Ale dos sujeitos (ou a identidade da sua ipseidade| € posta na o de intersubjetividade, o que exclui definitivamente, na néutica do alter ego, a simples equalizagao objetiva ou ticamente formulada, dos sujeitos *. ydemos agora tragar as grandes linhas da aporética histérica \ga0 de intersubjetividade e esbogar os termos com que hoje mula a sua aporética critica Aporética historica da relacdo de intersubjetividade ” ..O problema da comunidade humana no pensamento antigo ‘A afirmagao de que o tema do conhecimento do outro enquan- Jp menos, nao faga parte da tépica filoséfica usual dos autores , tornou-se um lugar, comum da historiografia filosofi- que o problema da comunidade humana, liversas formas de convivéncia entre os ho- ‘ocupa um lugar importante na literatura filos6fica da an- ade. Dentro da ética do universal ou da idéia de comunida- uumana é que o problema do outro faz sua aparigo como as relagies especificas que definem as formas da comuni- humana e¢ a sua hierarquia. O outro é, entaéo, 0 eu mesmo or ‘comunidade de que cidade, confrarias rel do os Estéicos ”!. Entre os vinculos que podem ligar os homen entre si na comunidade, destaca- cujo louvor torna-se um topos elassico da filosofia e antigas. Sio dois os fios que se cruzat provavelmente a di ida anifesta na disy dade, na afetividade, ¢ 0 fio da “razao! ogos) que se manifesta no ideal do bem e da virtude como da amizade*. Assim os sujeitos, termos da relacao tersubjetividade, conquanto mergulhados nas contingénei sua existé omunicacao no logos, esséncia da amizade, encontra po sua vez suas formas mais elevadas de rea € politico b. O préximo na tradiga -medieval — A revelaga no (o pl no AT, no fundo da poderosa vaga de justiga que rompe as b as da moral arcaica para espraiar-se no profetismo, no qual invocagio do outro surge no contexto ético-cultural em que fa: sua apari¢ao a nogio de responsabilidade pessoal, e como julga ‘mento que pesa sobre as decis6es da liberdade de cada um”, Ma: €na revelagio do préximo do NT que se da a profunda revoluca espiritual na compreensao do outro que marcaré para sempre cultura ocidental e que poe radicalmente em questo a exigé da amizade antiga como relagao que 86 pode vigo: A revelagao do préximo no NT e sua presenga n: tradicao crista tem seu fundamento tiltimo na revelagao da agape, do amor-dom de Deus (charitas, ca e nas tradigdes paul joanina qu alimenta, ao longo da historia do pensamento cristio, a teologi da caridade. A revelagao da agdpe crista abre assim uma dimen- sio que, na sua novidade, nao fora pressentida pelo pensamenta 68 no espago da relagio com o outro, dividida até entio a philia®, Nesse contexto seria n paradoxo na revelacao crista do ‘a vigente entre se propde, mas a sua -se, na verdade, de um (0 profundo que nos mostra, de um lado, o préximo como ¢, de outro, a alteridade radical que separa 0 Eu ¢ 0 procedendo cada um da relagao de criaturalidade de iuo singular para com Deus ¢, mais ainda, da assungéo |, 0 préximo é aceito na diferenga infinita do in- -signio da agdpe divina que 0 envolve, Por outro lado, (0 da relagao com o proximo pela caridade manifesta-se 10. de um amor que é gratuito como agdpe ‘0 como mandamento. Mas € justamente esse paradoxo com incomparével forga na formacao dos ideais de ide e dom de si ao longo da histéria espiritual da civili- 19 do Ocidente. A oeultagio do ontro no racionalismo moderno — A revo- pernicana iniciada por Descartes ¢ levada a cabo por Kant, a a primeira jornada da filosofia moderna, ao promo- fut penso ao centro do sistema do saber, erigiu em regra nental do método a construcao conceptual da realidade a se vé elevado a dignidade de sol do mundo ise heliocentrismo egolégico teve como conseqiién- uurgimento de uma questao que pod derada uma rias fundamentais do raci a partir pluralidade dos sujeitos? Descartes, por primeiro, perce- \damente a dificuldade da 4 Na verdade, a luz do envolve 0 outro ¢, de alguma maneira, 0 ofusca ou para- nte 0 oculta, tomando necesséria a exploracdo de cami- 20s que trabalhosamente 0 alcancem, tais como 0 io por analogia "2, 0 sentimento na tradi¢ao do empirismo ‘universalizagao da norma moral em Kant e, finalmente, ia de presenca do outro na constituicio do universo ie encontra em Fichte sua expressio sistemstica ". Tendo necido na sombra da luz que irradia do Eu, 0 outro reapa- 6 eee, por outro lado, no contexto das teorias que m plicat a origem da sociedade e da cultura pelo pasta de neg € reconstituir assim conceptualmente a formagio da su civil e politica. O problema da deste modo, para o pl: impor-se ao pensament to dos meios e formas de comunicagao e sua extensdo mun- nto, sem a qual a comunicagao se jente, se desumaniza. Como jé foi vis 10s convergem para esse lugar central © € nesse pil pés-kantiano. 9 outro no horizonte da do pensamento filoséfico a pai ente 0 problema da humana no centro da reflexao filosfica. A solidao ica Eu cede lugar a emergéncia do Nés e aos passos da sua constitu a0 como sujeito da historia: a luta, o reconhecimento, a cultur A teflexio sobre existir histérico, fundado na‘ tividade, apreset 10s quais podem ser associados se dedicaram a esse tema . Sartre; 0 caminho légico, tra- bre a natureza e estrutura logi- tico, avangando ao lado do 16- ¢ freqiientemente cruzando-se com ele, ¢ estendendo-se no se da linguagem, considerada como medium pri- para 0 encontro com 0 outro. A grande aporia que domina joblema do outro na filosofia contemporanea — seja como mncdo do outro, seja como justificagdo racional da relagéo subjetiva ou como sua expresso no universo da linguagem aquela na qual converge toda a aporética hist6rica da relacio {a Sociedade, o Estado ou a pripria Histe imponha como iinico e verdadeito ator historico ". De a Feuerbach ¢ Nietzsche ¢ aos pés-nietzschianos, age no sentido de precipitar a crise das ‘ ler de alguma maneira o seu acontecer natural e hist6rico constituir-se como relagao que revela no ouiro a presenca de dimensio axiol6gica f dignidade de um outro ‘A essa interrogacdo, que se eleva incontornével no centro da ca contemporanea da intersubjetividade, a Antropologia Fi- scar uma resposta que se delineard exatamente ¢. Fenomenologia, légica e linguagem: 0 problema do ou contemporanea — O retraimento das filosofias d ¢ da histéria € 0 pressuposto teérico que e problema da intersubjetividade no horizonte da reflexdo contemporénea, nao obst © genial esforeo de E, Husser para integrar 0 conhecimento do outro na esfera da egologi lade 2, Aporética crftica da relagéo de intersubjeti tentarmos caracterizar a aporética critica que, de diversas \6rico-culeural,impeliu problema da vlagse lovee hone {Geee-cltural, impel problema da relagio intra io entre © sujeito empirico e 0 sujeito transcendental ou seus diversos aspectos (pscologico, socioldgico,filossfco| para a vel, oposigao que esteve presente a0 longo de toda a nossa plano da reflexio antropol6gica contemporanea: o verti: xio sobre a unidade estrutural do homem '. Como no caso sinoso adensar-se das relacdes humanas com o enorme cresci- jeito individual, também a reflexao sobre 0 Nos vé-se em logia com a classica 70 a lembrar-nos de que, a0 tratar da categoria de espitito, ti- jos presente a analogia que vigora entre o Espirito absoluto ¢ to, que € reflexao subsistente em si mesma, ¢ 0 espirito i) ¢ situado — 0 nosso — que se constitui pela med 0 dado — que cireunsereve nosso ser-em-situacao — © 0 ido no qual se exprime a reflexividade do nosso ser espi- |, Nessa analogia de atribuigao, o primeiro analogado (ana: princeps) é, evidentemente, 0 Espirito absoluto, ao passo is, enquanto constituidos estruturalmente como espiritos {0s ¢ situados, somos os analogados secundarios (analogata Wiora). £ em virtude dessa analogia que a categoria do espirito jo vida, inteligencia, ordem ¢ consciéncia-de-si'" pode ser la dos frageis ¢ efémeros seres que somos nés. Mas, jus ite enquanto nos referimos a0 Espirito absoluto € nos cons. 10s como sujeitos, podemos estabelecer entre nds a relacao ividade nas suas variadas formas. Dessa relacao Jo entre o Nos empfrico, cuja efémera unidade s cia do puro acontecer *, ¢ 0 Nés inteligivel ot transcendental, mantido nos vinculos de uma forma que asseguré sua permanéncia ou sua razdo de ser (assim os vinculos da f milia, da amizade, sociais, politicos ete...]. Ora, a aporétiea critie da relagao de intersubjetividade delineia-se exatamente na pass gem do Nés empirico a0 Nos inteligivel, na medida em que o Sujeitos que se unem pela forma, qualquer que ela seja, da relagai de incersubjetividade so os sujeitos que, de alguna mane transeendem o nfvel empitico do simples acontecer do seu cra zar-se na vida. Em outras palavras: a relagao di intersubjetividade se estabelece entre os sujeitos, que se auto -exprimem ou se auto-significam na forma do Eu sou, vale dize1 cuja estrutura se constitui através do movimento daalético au suprassume 0 “dado” no “significado” ou a "natureza” na “tor ma”, segundo 0 esquema (N] —> (S) —> (P}. Ora, esse esquem néo pode ser simplesmente ou univocamente estendido do Eu a N6s, pois tal extensio implicaria uma eontradigao entre 0 Eu ¢ és, ambos exercendo a mesma mediagdo entre 0 dado ¢ o sigs » sendo que, para 0 Nés, 0 dado seriam os sujeito empiticos ¢ o significado ou a forma seria a propria relagao « intersubjetividade. Nesse caso, com efeito, 0 Eu seria simples: mente absorvido no Nés como um ndo-Eu, 0 que contraditia propria natureza da relagdo de intersul lkigica, pois 0 Nés nao €, como vimos, uma simples extensio do Eu. No 10 do analogatum princeps |, pois & em referencia a sua liberdade — que podemos sstabelece normas ¢ fins", A aporia da intersul istamente nessa extensio analdgica ao Nos da ititui o mais intimo cerne da unidade do Bu, na sua reflex ile como espirito conscience € livre. Esse cerne fintimo nao 6, 0 reduto sagrado ¢ inexpugnavel do solus ipse? Como mesmo analogicamente, para a unidade plural de sujeitost Por outro lado, se 0 Bu nao se faz presente na Uiticao do Nds — ou se 0 Bu nao é um Nés, na expresso de mo evitar fazer da relagio de intersubjetividade uma ntingéneia, que afeta apenas acidentalmente a solidao da uida humana encerrada solipsisticamente no circulo que fecha {i no scu mundo? Mas a impossibilidade radical dessa safda da intersubjetividade'"® manifesta-se j4 no fato de que a rela- objetividade ou a abertura do sujeito ao mundo encontra inte seu fundamento na relacdo de intersubjetividade, na J ¢ suprassumida segundo a ordem do discurso da Antropologia (fica. O homem é, por conseguinte, ser-no mundo porque ser- do sujeito singular, estendendo-o a constituigao do Nés, pois sen tal mediagao a comunidade dos sujeitos permaneceria no nivel di simples agregado. Como, portanto, preservar a originalidade d sujeito individual ao ser ele suprassumido na unidade de un sujeito transindividual que é, ao mesmo tempo, plural nos sujei t08 coneretos nos quais se realiza e uno pela relagao intersubjetiv que se estabelece entre eles? primeiro passo para a solugio dessa aporia'"” & dado, por conseguinte, ao se levar em conta a analogicidade da nogao'd sujeito, quando predicada do sujeito individual e do sujeito plural ou comunitirio. Para bem entendermos essa analogia, é conve: B -com-o-outro e 0 mundo é, fundamentalmente, para o h mediagiio para 0 encontro do outro ™, Sendo o ser- constitutive da estrutura relacional do sui constitutivo d: éncia — o ser-com-o-outro devera igual mente ser afirmat ha da aut desdobramento ad extra ou do seu abrir-se a0 horizonte do ser. mundo é, para cada um de nés, 0 camino para o encontro di outro. intersubj ja configuracdo conceptual resulta da aporéticas ica c erftica, pode ser, pois, caracteri oposicao fundamental inerente ao eidos do existir inters entre 0 Eu, que s6 pode ser pensado ser-com-o-outro na sua dutivel singularidade ¢ reflexividade, e 0 Nos, que se constitu justamente ao termo do éxtase ou da safda do O eidos da relacio de intersubjetividade ¢ circunscrito, ‘espago conceptual delimitado pela pluralidade d sujeitos ¢ pela relacdo que estabelece entre eles a forma de um unidade na pluralidade. Esse contorn tude da tensao dialé jetivo da relaga igualmente subsistindo par dos sujeitos nega o seu da relaga iva) nega o isolamento monsdico do para-si di 9. Dessa dupla negacao, resuilta a posigao do Nos, desdobran- do-se nos niveis do reconhecimento, do co: ide cultural. Nessa unidade ito singular como espir relagdo se a pensarmos do ponto de vista da untdade que cla estabelece entre os sui © ha uma primazia do para-si dos itos se pensarmos a relacdo do ponto de vista da singularidade si da relacao tomada adequa- ente como relacao de idade compreende justamente o para-si dos sujeitos ¢ 0 em-si da relagdo na sua especifi amizade} e, como ™ jue, na relacdo de amizade, 6, enquanto sujeito, o amigol. ssujeitos e do seu idos da relagio de \de, por outro lado, s6 é pensdvel 20, de modo que o ser-em-comum dos c pela identidade dialética {identidade na dife- seja, resultante da dupla negacdo acima exposta) entre si dos sujeitos e 0 seu ser-para-o-outtro ,, assumni-lo no ambito da autoposicdo do Eu como sujei- m efeito, € essa autoposicdo que faz avancar o discurso; eve ser afirmada a identidade na diferenga do ser-para-st 108 e do seu ser-para-o-outro: identidade na diferenea que amente, a unidade intersubjetiva do existir-em-comum, a ser, a expressao dialética do eidos da relagao de dade. Por conseguinte, 0 momento tético se expri- siramente na afirmagéo “Eu sou um Nos". Mas, do pré- ior dessa afirmagao, surge a negagao da simples identi- re 0 En e 0 Nés, negacao presente no Eu sou; de sorte a nos concluir que a simples identidade entre 0 Bt ¢ 0 Nés, letizada por essa negacao, seria rigorosamente contradité- movimento dialético 0 eidos da proposigao “O Eu € 0 discurso da Antropologia Filos6fica confere a esse forma de uma categoria antropologica, ou seja, de uma nceptual fundamental da auto-afirmagao do Eu ou da sua ‘0. © prinefpio da limitacdo eidética 1 ou categorial da auto-afirmagao do Bu intersubjetividade, nela compreendendo a \de dos sujeitos na alirmagio “O Eu € um Nés’. No sabemos que 0 movimento da auto-afirmagao do Eu é Jo pelo principio da ilimitagdo tética que aponta para 0 universal do ser. Ora, a identificagao deste horizonte mmunidade, seja ela embora pensada segundo o paradigma ‘comunidade ideal de comunicagao submetida a regras de ia da linguagem comunicativa, esbarra com fvel da contingéncia mundana dos sujeitos 8, do seu ser situado e, portanto, da impossibilidade de uma intuicdo absolutamente transparente dos sujeitos entre si. f justamente a auséncia dessa intui¢ao que impée a necessidade dé se submeter a relagao de intersubjetividade ao principio da Ii mnitagdo eidética. A impossibilidade de se fazer da comunida dos sujeitos 0 horizonte universal do ser, em direcao ao qual sd moveria o dinamismo da auto-afirmagao dos sujeitos singulares € atestada elogientemente na historia da filosofia pelas tentacoeg simétricas do solipsismo absoluto ¢ do absoluto altruismo qué nela se manifestam, Dois extremos que se engendram um ad outro, € cuja incidéncia na historia recente foi ilustrada peld alternéncia, como fonte de inspiracao dominante na vida politica entre as ideologias do individualismo ¢ do totalitarismo. © principio da ilinitagdo tética introduz, pois, necessaria mente a negacdo no seio da Limitaedo eidética que, no casi circunscreve a categoria da relagdo de intersubjetividade, negacad] que se exptime nessa proposi¢ao “O Eu nao é um Nos”. A iden. tidade na diferenga se constitui aqui, portanto, como uma dialé tica da ipseidade e da alteridade ''*, Nela fica claro que o movi mento de negacdo com que o Eu, na sua reflexividade ou media gio estrutural (ipse} nega a sua identidade com o outro (alter), qua € igualmente um “ele mesmo" (ipsel, nio procede de um comd que ultimo reduto autérquico ao qual o Eu se recolhe como & secreta e inalcang4vel fortaleza do Cogito, ergo sum. Na verdade, conquanto na relacio com o outro a ipseidade permanega na sua essencial negatividade, € exatamente a abertura transcendenta do sujeito ao ser, constitutiva da estrutura do espirito e que d iva do centro mais profundo da sua interioridade, que esta origem do dinamismo da auto-afirmagio do sujeito e que o leva a transgredir toda limitagao eidética e, no nosso caso, a limitagag eidética da relagao de intersubjetividade. Nao é, pois, em razio dg uma primazia do sujeito, traduzindo uma tltima insidia da ten taco solipsistica, que a auto-afinmacao do Eu transcende as fron. teiras da intersubjetividade, mas em razdo da primazia do se: primazia essa que 0 sujeito reconhece na submissio da sua finitude 2 Presenga infinita que 6, nele, 0 interior intimo e 0 superior summo®, Do mesmo modo o primum relationis, a primazia dal relacdo no espaco intersubjetivo, exposta brilhantemente por F Jacques, permanece submetida a primazia do ser, pois $6 essal primazia toma posstvel, no itinerario dialético do sujeito, a pas sagem da intersubjetividade a transcendéncia. 76 Ao termo da compreensio filoséfica ov transcendental da cio de intersubjetividade convém voltar nossa atencdo para 0 fo de que a categoria do existir intersubjetivo € 0 terreno fun- imental da articulagao conceptual entre a Antropologia Filos6- ca Etica, Com efeito, a comumidade ética, estruturada se- lo formas originais da relacao intersubjetiva, € a mediagao Dike 0 agir ético subjetivo, determinado formalmente pela cons- [incia moral, e 0 universo ético objetivo, constituido por valo- normas ¢ fins", Desta forma a relacao de intersubjetividade, Kezoria antropoldgica fundamental, transpde-se cm categoria Yea, na medida em que o set-com-o-outro apresenta-se origina- jente como uma estrutura normativa que se configura como dever-ser no sentido ético € 4 qual Kant, como € sabido, dew 11 forma rigorosamente universal no imperativo categorico. A esenca desse dever-ser no proprio coragao da relacao de subjetividade mostra a impossibilidade de se pensar um exis- intersubjetivo que seja eticamente neutro. A comunidade 1 € pois, j4 na sua génese, constitutivamente ética, e essa icidade se explica, na sua razdo ultima, pela submissio, tanto ijeitos como da relagdo intersubjetiva que entre cles se fabelece, a primazia e A norma do ser. Seja na sua infinidade uinal como conceit de Verdade e Bem, seja na sua infinidade al como Existente absoluto, o ser rege tanto o agir individual 10 0 agir social. Tal & a intuicdo profunda, subjacente a logia platOnico-aristotélica, que legou a tradigao filos6fica do Irilente, como proposicio fundadora do pensamento metaffsico- Ico, aquela que estabelece a adequagao entre o ser ¢ o bem: Ens bonum convertuntur ™, A luz dessa articulagdo entre Antropologia e Btica, podemos pnsiderar o desdobramento dos nfveis da relagao de subjetividade pois, em cada um deles, deverd manifestar-se ia forma propria de relagao do homem com a transcendéncia constituigdo desses niveis ¢ antropoldgica, sua efetivacao Hstencial € sempre ética, de tal sorte que o agir dos sujeitos em um deles ndo pode ser pensado adequadamente senio na spectiva de uma perfeicdo ou virtude (areté|, a ser praticada » forma ética da relagao de intersubjetividade A relagio de intersubjetividade mostra-se desdobrada em qua- cis fundamentais. Neles se articulam as formas do existir- -comum que suprassumem as relagdes homem-mundo ou nm homem-natureza, ou seja, suprassumem a relagdo de objetividadt naquela que ¢, propriamente, a existencia historica do homem. a, Nivel do encontro ou do existir interpessoal no qual ten lugar a relagio Eu-Tu € em que a reciprocidade da relagio assu: um caréter oblativo mais ou menos profundo ¢ tende & gratuida do dom-de-si. £ nesse nivel que se situa a realidade humana amor, na sua tri-unidade de pulsao, amizade e dom ™, A relaca intersubjetiva no nfvel do encontro pessoal € especificada etica mente pelas virtudes proprias do amor, particularmente a fideli dade ™ b. Nivel do consenso espontaneo ou do existir intraco munitdrio, em que tem lugar a relago Eu-N6s intragrupal, e ni qual a reciprocidade da relacdo reveste-se do caréter d convivialidade propria da vida comunitéria e de um colabora espontanco ¢ cordial nas tarefas da comunidade, A. relaga intersubjetiva no nivel do consenso esponténeo € especificad: eticamente pela virtude da amizade ™, c. Nivel do consenso reflexivo, que se exprime na recipro dade de direitos ¢ deveres ou na forma da obrigacao civica. E ess: ‘© nivel do existir-em-comum que podemos denominar int -societario, ¢ no qual se di a passagem da sociedade convivi para a sociedade politica. Aqui a relacdo Eu-Nés € extragrupal se estende até os limites definidos pelas regras institucionais, consenso (politeia ou Constituicao), A reciprocidade da relacak tem primeiramente um caréter fornial, expresso nas leis do exis tirem-comum. A relagio intersubjetiva no nivel do consens reflexivo é especificada eticamente pela virtude da justiga ™ nesse nivel que se dé, por conseguinte, a necessaria articulaga entre Etica e Politica. A absolutizagio do politico, que passa a s¢ © pélo indutor do pensamento politico moderno, mostra aqui set erro profundo, seja do ponto de vista antropolégico, pois restringg aos limites da comunidade humana o horizonte do ser para 0 qui se abre a auto-afirmacao do sujeito, seja do ponto de vista étici pois acabaria reduzindo ao nfvel do politico e submetendo as 5 Tegras € 303 seus condicionamentos a riqueza ¢ significago ht manas dos outros nfveis nos quais se desdobra a relagio dk intersubjetividade '”, 4. Um quarto nivel, mais amplo, pode ser designado nivel d comunicacao intracultural, na medida em que a cultura se apr 78 como 0 horizonte que continuamente se dilata ¢ em cujo ito tém lugar todas as formas de comunicagao intersubjetiva. sse nivel situa-se propriamente o existir histérico do homem, a Histéria 0 englobante wltimo da comunidade humana nto tal. Com efeito, nenhuma comunidade humana parti- subsiste sem xecuperar continuamente na meméria hist6ri- vodificada em formas diversas que vao da narracio mitica & (ricdo historiogréfica, 0 seu passado, no qual estao inscritas js razdes de ser. Desta sorte, a relacao de intersubjetividade, \lobrando-se desde o nivel da rela¢ao Eu-Tu no encontro, atin« 4 amplitude da relagio Eu-Humanidade na longa dimensio do npo e do espago onde se desenrola a Historia. A essa Histétia wa histéria pessoal esté ligada por mil fios — os fis do uni- cultural. E sabido que esse nivel mais abrangente da relacao intersubjetividade, seja na sua incidéncia subjetiva como nsciéncia histérica, seja na sua face objetiva como sentido da iria, passou a ser um lugar privilegiado da reflexio sobre 0 iniem no pensamento filos6fico, de Hegel a nossos dias. A re- sobre a Hist6ria ™ mostra-se, igualmente, como passagem Sria para a reflexao sobre a Transcendéncia, sendo a His- a alternativa mais sedutora ao pensamento do Ser como um ontologicum e, portanto, como conceito fundante das s da imanéncia que se sucedem depois de Hegel. Evocado no contexto da relagao de intersubjetividade, o tema da ria deverd reaparecer ao tratarmos das categorias de realiza- © de pessoa, NOTAS Pease, n 199, £3, Laan (Lindale, Sel, pp 55 corunicgio” ds cinervadre funatnealnenteconidera Ver} Demaes, £-Univers, ep 2. Sobre gesto ea palara, vera obra gusta poole vi Py Al losofiacontemporinc, por alguns compara co Kant ver asreexbs de fcguey apc eg 1) Pars, PUE, 1983, pp 541.568 8. Ver. 1-221 ler. port. em Sinese, 5 igo do F. Jacques, “Référence ct Difference: la situation origina ip. Encyclopédie Philosophique Universelle I, pp. 492-31 Fu enquanta capac de pp. 121-123}. Quanta a Begrundang des Zitkels it Souche-Dagens, Le cercle hegélien, 8. Convém lembrar Inteligit sed homo 24; 17,38; Jo 12,2, en der Philosophie des Rees Michael, 7, pp. 84-87, com a nota - vegeliana e, paticula lopddie der philosephischea Melder [A reciprocidade exprime aqui somente a capacidade de responder, sem ssde dissimetria entre os sujeltos na relagio incersubjetiva que po- 'e deformar — a reciprocidade fundamental que a defi ‘ap. d J-B, Sarre, 'Btre et Phénoménologie fsption, Paris, alte et Ini '’extérionté, (Phinomenologica, 8, La Haye, M. Nijhol ilontologie der Gegenwart, Berlim, de Gruyter, 1969 "Teoria y realidad del oto, Maduid, Revista i Die Begegnungsphilosophie: hee Cesch- IK, Alber, 1970; E. Hegstenberg, Philoso jdlogisehes Denken, nee, L’Affronterment , L. Pateyson, Esistenza ¢ Pe Sobre a primatia da rlagdo ou 0 primum relations ver F. Jacques, pect rité, op. cit. pp. 141-189. A aparigao do “outro Eu" ao deve oo cntenia,evidentmente, co 1 piimatia de rlato, ine exatamente, como 16, Essa expressio é de Lucien Malverne, Signi ja Pilosofica 1, op. eit, pp. 224-225, Lucien Malvern me, oP. Cit, PP. 44, now 1. ote 1 snto em Hegel acompanha a formagao di tempos de lena e, explicitamente, nas ligdes de i Fenger Systementwriefe I, Hambur- (1820), shen Philosophie, Friburgo B.-Munig ‘G. Gérard, 1, 1980, pp. 108-118, a del Espiita, Barcelona, Les premiers combats de la r Hegel, Feuerbach, passa por Marx a fenom eM, Buber ¢ E. Levinas a [-P. Sartre ortente encontra-se em J. Béckenk Malverne, Signification de homme, op. cit, p. 58. . Lima Vaz, "Senhor e Escravo: uma patdbola da filo 108, ver p. 108 re esse problema, ver & exporgio, de inspragio hegliana, de Labaritre, Le discours de Totdit, Patty PU, 1982, pp. 908 346 a dsting conhecimento do outtocaino “ois” ald) c como Samenteestudads por J de Fi dade Gregorian, 1979, pp. 75. ‘outros & pensada aqui no qual 0 01 esti sob a mao (Vorhendenes), em ¥i ses sio patentes, que se desvela ‘onstituigao do dela 26. Na obri dade, 1968, pp. 281.298 mead pct, 28. Vero eatudo analtico das Meditactes por P. Ricoeur, Meditations Cartesiennes de Husset!”, ap. Tole ¢ 1987 pr. 75.109. 2. Vero amplo estado sistemtico da teoriahusetllana em M, Theunlse Der Andere op. sit, pp. 18-116) Cesar Moreno Masque, [a ologa 30. Ver a minuciose andlise de Ricoeur “Husse cartésienne", ap. A I'école de Ta Phénomenolog se distal onaltica do Dasel tla as poigdes em M.Thounten, Der Andee, op ele Ty ISS i iano om Difience conv ar sen ME Hee LP. Screws aes 2 Pormen des Sympathie, tante no tenha ele tematizado for subjetividade, e sim o problema do aceso 20 “ow- 5" (fterndes Ich), suas andlises pioneiras nessa e em outtas ferecem um rico material para a caracterizagao fenomenolégica da pré: ‘da clagio de intersubjetividate, Sobre Scheler, verP. Lain Entalgo, realidad deb ot1o, op. cit, 1, pp. 221-225 Ver Aristoteles, Fisica, Il 1, 193 a 1-10.35. J.CL. Fraisse, Philia: lo notion d’amitié dans la philosophic antique, Questo compreendida na questio geral discutida mas: tram lutudo et distinctio sit a Deo [Summa Thoolog 4. 47 al), 7. Teoria y realidad del otro, op. cit, pp. 29-34. ng, "Saint Augustin et la connaissance ince et de V'Etcanger, spungsphilesop ‘A VEcole yngamente discutido na filosofia ana mnhecimento do “outro espitito” (other mind). Vero artigo de J. M. Shorter ap. Enoyclopedy of Philosophy (P. Edws "Affroatement a solugao proposta por A. Brune, La Personne Incaznée, chesne, 1947, pp. 203-227, |. Backenhoif, Die Begegnungsphilosophie, I, pp. 326.379. Uma ampla ¢ profanda meditagéo sobre o “encontro" D 7, op. cit, U, pp. 85-23 cit, pp. 2 B, Presenca, sgico jreconhecimento) e contém virtualmente a reciprocidade ética 83 44, Vex Cartesianische Meditationen. op. cit, V, § 50, pp. 130-181; A Técote de la piénoménelogie, op. cit, pp. 205. Vera jd citada exposieao do pensamento de Scheler por 237-255, e sobre a percengao do ou 3. A filosofia do didlogo como alternativa 8 fenomenologia transcendent lada por M. Thou tudo, B. Cas Denken: eine Untersuchung der religionsphilosephisehe Bedeu F. Bbners M, Bubers, Fiburgo em B., Herder, 1967, 49. Destaca-se aqui a obra de Francis Jacquet que acentua fortemente a pi ridade da relagio sobre os termos no diflogo, clevado & dignidade de prin areté, Bt, Nic, obra de B. Le io do universo da linguagem e do sen ‘As obras princi Dialogiques 1: SL, Ver o papel exemplar do “homem sébio" (phrdnimos) na dé 16 b 36, e Btica # Cultura, op. cit, pp. 10 52. Convém lembrar que o “reconhecimento” (Anerkennung) og 0 aleanga sua plena significagdo com a di 0 “Moralidade” (v ico do encontro ver J. Bécken! pp. 878-405. As obras 1982. Sobre Levinas ver Ulpiano Vasques, s, Madrid, UCPM, 1982 (ver pp. 54, Ver Btica © Cultura, op. eit, pp. 71-72. 55. Ver, de P. Ricoeur, Sok-méme comme un autre, op. cit, études 7, 8, 9, 199-344, 84 Ver H. C. Lima Vaz, “Conscitncia ¢ Histéria”, ap. Oncologia e His DP. 266-280 lagui, pp. 275-279), 1a do “centro” pode parecer uma izremedivel concessio a0 jsmo. Mas tratase, sem divida, de uma 160-162, ‘medieval origins of modern Stave, Princeton ft, Patis, Payot, 1979) 181 b 15: as “coisas humanas” slo 0 objeto proprio da Problemas estudados magistralmente por G, Gusdorf na sua grande obs por nds citada, Les sciences Buumaines et la pensée occide) pp. 207-208, » P. 207, & verdade, como vim ‘ituem momentos necessérlos do procedimento metodaldgica ‘ou de uma Teoria da Interpretagdo como metodologia propria das hhumanas” como mostta Th. Rodamer, op. eit. (ver bibl, pp. 249-303). icia dominante do modelo organicista na o 1 citaelas humanas rerméneutique (Les sclences hrumaines fot, 1988, pp. 344-428), Ver ainda M. 85 a ‘com introducio do A. éa de Nymphenburger Verlagshandhung, 70. Ver a releréneia ao para 71, Na sua conhecida obra Comment on éce Pais, Seui (0 que seria 0 trabalho te6rico, logo, 72. 6 a forma de necessidade que Arist dda natu a possivel a esta proceder “ah sempre” ‘os epi to poly, ut in pluribus) da mesma maneira, Ver Eseri tea e Cultura, op. cit, p. 1. 74, Com cfeito, aio as formas da intersubjetividade: linguagera do ree do interesse, linguagem do con saber, linguagem da amizade e do amor, Gaier, System des Handelns, op. cit, pp. 17-19. As obras all mp0 sao, provavelmente, as de. Habermas ¢ de K-O. A Mas 6 impossve oohecki univertamente a NESS content, como terreno de encortrs da combrenrato exp ds intersubjetividade. Ver, a propo die Entwicklung des Werkes von G. H. Mead, Frankfurt a. M, Subrkamp. 7. Vee Antropoloia Piloseica 1, op. eit, p. 167, Ver a obseracio de in, Des Problem des gtsige Sein, 2, Berl, de Gruyter, 194 78. Ver Antropologia Filosdfica I, op. cit, pp. 222-223. So méme comme un exe Ricoe| 0 que implies, ecssartamente ee nde sed, po cteltncl oconbecient do sido ndeguadarnente na sua conceptualizacio eg tad e583, por sua vez, 86 pode ser adequadamen ida ee aceitarmos como termos da relagio do encontro os sujeitos na sta lade estrutural na qual, sabemos, 0 espirito suprassume 0 somd 360 espirito cesta questio, ver F. Jacques, Dialogiques: recherches logiques sur le dialogue, op. 83, Ver P. Ricoeur, Soi:méme comme un autre, Préface, op. {84,0 termo 6, provavelmente iniel A intengao profunda de E. Levinas, dado ow esforga constante em superar 0 logos ‘dade {eterotés) que irradia da face do inasiano ver F. Jacques, Différence et iione cognoscens toma-se outro 420i) &justemente o que torna impossfvel a0 conhecimento ‘Néant elevar-se ao plano do reconhecimento autentico, 0 que ‘uma das aporias fondamentais do pensamento sarttiano, ‘Ver 0 esbogo histérico de J. Béckenhoff, fe Begegnungsphiosoph 5-210; e0 de P. Lain Entralgo no 1° volume de Teorta y realidad del otto. 87, 91. & ropisito,consltac Ansan Volks, Le cappor avec philosophie grecque, d's te @ Panetius, if 92, Eases apectoscomvergem sent, para complexe noi est notion tee do amado como espelho um pa ea Fedro, 255 a}, Ver Austtles, Le Nic. IX, 9, 1169 b Thomme et sur Dieu, Paris, Belles Mente, ha concepsJo aristotélica da philia. Ver J-Cl 86, 96. A fonte clissica dessa revelagdo € a pa s a5 gh fom elias agdo a pardbols do bom Samaritano, Le 10, iragao do pensamento d ou au-déla de Vessence, op. cit, 5, 2, 4. feunidade do amor: eos, pili, apie pass, desde entéo, a cons man na tradigdo espiritual do Ocidente, ler Liebe: Eros, Philia, Agdpe, Frankfurt simblico das pp. 220-291 dade vida divina (gragal: ver Lotz, € de natureza fi all, Wott do Dias do deca epnte iad, huament smn oto tenon per. Lam elo oe Pp. 39-52, J. Béckenhot = es elucidativas de T. ap. Grundriss der rem apenas wn agregado le de se encontrarem por pode eer ido mas suprasstraido ao nivel de um nés '2 no dogma fundamental dos rotalitarismos de uma €poca recente. 0. Trata-se, como se ve, de uma forma peculiar do dilema entre 0 un0 € 0 {quando falamos de ‘mesmo pensamento lela que unida delibera ¢ decide, no consen- ucional que une as inteligeneias e as vontades num mesmo entendimento im mesano propésito em tomo de leis, etc 3. A aporia seria apenas contomada e nao definitivamente evitada na pers: tiva de ome solugdo de tipo leibniziano que postulasse uma espéete de hati: cestabelecida entre a8 ménades hurnanas, harmonia que jé estaria presente ‘ jugao desloceria para o insttuidor precstabelecer ab extza wma 5, come agu a evsaeo a ela rst da Tide ave & como ® das nogees de pessoa e comunidade na eultara veto fandador da nogio de comunidade ‘profundidade, Nao obstante, um reflexo desse mi ido pela palavra da Revelagdo, iluminando para sempre a con: identidade e Jrenca das relagies na oposigie do ser-para que as canstitui como pe distintas, Zdentidade no diferenga que é ldentidade da esséncia na distingao das ircunsessio trinitdria. Ver Summa 1 Drineipio de infinita comunhso, pol pessoas assegura sua vnidade perl a, 4. 28, a. 26, onde o mistétig er eae a. dauclra dns aby enoraconte en # eth 2 r, Le probleme de Vamour chez Saint Thornas d’Aquin, Mont Sa tees Me suprassumida naa habete habitudinem ad id in quo est vel idemticatés propter summam Dei simpli Rillestes de F. Jacaues, Diférence et Subjectivieé op. ct, pp 8697, comenta ateologiatrinitiria de Santo Agostinho, Arqutipo absolute sp

You might also like