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gent YY _ cae Detates Digi por J. Guinsborg anatol rosenfeld TEATRO MODERNO Sl att — Omi Pin 2 a: W\ es Dp Pte os ins sn Bop Poe Ss fortes We Mee hon Ga RE eee pet nap ee ney rere em nent tet a EEE TATE NEE 6. SHAKESPEARE, 1. Shakespeare & Romaniismo A descobertae a Jenta assimilagso da obra de Shakespeare no eobtineite evropeu & um capitulo fas- cinante da hist6ria da literatura e do teatro. J4 pelos fins do séeulo XVI of: famosos comediantes ingleses surgiam principalniente nos paises da Europa Central, convidados por priacipes ou perambulando pelos pat. ses. Ao lado de Marlowe, Kyd, Massinger, ¢tc., apre- sentavam também pecas de Shakespeare. No entanto, io viahem como iatérpretes de um grande poeta dra: mético. A préprih lingua inglesa teria impedido, no 7 > inicio, tal empeno literdrio. as tradugées que pouen ‘2 pouco iam surgindo deformavam os originais de um ‘modo atroz. Pelo menos 2 documentagio alema mos- tia gue @ prépria lingua, naguela fase, era totalmente incapaz. de reproduzit, em prosa ou verso, a riqueza da obra shakespeatiana, ‘Antes. de tudo, porém, os comediantes ingleses vinham com contratos que os emprezavam como mi- sicot ¢ acrobatas, expoentes de espeticulos mais ou menos citcenses d¢ que o teatro declamado era somente apéndice, Mesmo esse apéndice tinha de ser aduptado a0 gosto rude da época da Guerra dos Trinta Anos, Prevalecia o espetéculo bruto e sensual; a palavra era substiulda, em larga medida pela paatomima. Em muitos casos 9 texto servia apenas de esquema para a improvisagio de cenas sangrentas e cruéis, contraba- langadas pelas obscenidades quase inconcebiveis da figurazcémics, y g somente no séevlo XVII que” se fnicia um esfore> mais sério para apreender o ubiverso shakes- peatiano, Mas ainda David Garrick, o gfande ator que fanto_se empenhou pela difusio da ofira de Shakes- feate] apresentou nas suas viogens A. Franca textos tutlidos. As diversas adaptages da Epoc) apresen- tam Hamlet e Otelo com happy end. Df granide impor- Lincif iriam ser, na Franca dos meadch do, sécilo, as iraduyées de De la Place; cerca de yinte nos mais tarde (1762-1766) seguem-se as primeiras Yersbes ra- zofvéis em alemio, fetas por Wieland, hosnem tipico do Rococé que, evidentemente, consegiiu sh aprender tuma:faceta diminuta de Shakespeare, ") deve ser imaginado como um grande quadra ert cae, alm das figuras e dos movimnentos do. grupo, agora bem mais rico, ainda € repriduzido 0 mundo- stimbiente ¢ uma vista panoramica, mait. dstante — tuo isso sob iluminagdo mégica gue Uetermina de ripdo vévio a impressio perspectivien.geral.. O que fora se destaca, bem mals que a {igurs (0 tipica) € 2. fisionomia (indivi pila luz que modelam ‘as malt out nuangas da express eapttual nae faces “Thmmbém podeinos lor profundaments aha e\nos seo" to: lientae tisimos, meres. do ofhar ques exalts 8 pode epredusir de "mod mpetft B exeepcional a agudez com qie Schlegel destaca ke“impressto perspectivica geral”, 0 da afte e do teatro pos-medievais. ‘Uma das poucas vozes discordantes da época € ade C.D, Grabbe (1801-1836), dfamalurgo contem- jbrineo de Buechner, muito estimadé por Alfred ery. No entanto, seu ensaio poléinico Sabre a Sha- espearomania (1827) 6 mais uma: diavibe contra 05 9% “manfacos” do que contra 0 ptfprio Shakespeare. Ha imitagio cega que considera nelasta, De qualquer xodo coloca os gregos acima do inglés e — fendmeno ro na época — recomenda a leltura dos eléssicas Hanceses; neles, os dramaturgos alemges encontrariam 3 que thes fat 88 5 seriedade, rigor, ordem, forga tcatral ¢ dramstin, ere nidade, ritmo i4pido' da agH0. ‘Enconiram all tambem (---) Sing de carats, coma Shakespeare nfo oS tem Como comedidgrafo prefere Moliére. Shakespeare, no cfmico, nem, evitou tantos eros, nem realizou tana coisa bos como Moliée © curioto & que a obra de Grabbe se situa entre aquelas que mais nitidamente mostram a influéncia de Shakespeare. 4 um pouco distante & a atitude do grande dra. maturgo Friedrich Hebbel (1813-1863). Shakespeare ‘entdo jf se tornou um “bem cultural” ‘cléssico. Em 1858, Hebbel escreve que Shakespeare vencev por ‘completo © sem divi todh Europa comemorartem 1864 o tiene tends desu assent, oe povor derindncos Por amor © Sutton por reper Da distincia de um século cita Lessing: Shakespeare deve ser exndo © no pithado. E prossegue: 1s (Je Laing) conteporinace medion io © ‘ovina dssperdgaram sine fore. Goethe e Selle ‘ivi Tele pasedn a print embriguee juve, ts ‘am tse pomo de vita sido © nor deram tim drama nacional o"qunl be maniveram, mas cobes peviclaey, as di Tate postvel de Shakerjene, so paso que no sea todo munca o'peeram de’ vida, Exe @ 0 caminho moderado qe’ deve else pr ao © Rea aos Hanae Sn "Foi Friedrich Gundolf que, no seu grande livro Shakespeare e 0 Espirito Alemdo (1920) apresentou tuma espécie de Balango do encontro dos poetas ale~ mits (até 0 Romantismo) com a obra de Shakespeare (etn referi-se de perto & critica shakespeariana alem, aparentemente ainda nao estudada em livro especial zado). Esta obra de um dos maiores diseipulos de Stefan George tem 0 defeito de uma linguagem ama- neirada, enfética, cheia de overstatement; muitos tre- thos quase se dissolvem na bruma solene que os envol- 89 ay vve. Dificilmente teré havido um inglés que haja escri- to coisas to “‘miticas” e extremas sobre Shakespeare. inda assim, se trata de uma obra importante, cujas ‘qualidades superam os defeitos. ‘A comparacio, por exemplo, que faz entre Hamlet ¢ Fausto apresenta-nos uma visio penetrante, apesar da perspectiva um tanto teles ‘Ao destruir a imagem romantica de Hamlet — no que foi seguido or Auerbach — tomou aos alemies entendivel porque ‘Hamlet foi escrito por um inglés e no por um aleméo <0 que no fundo nenhum alemio jamais entendev, Afinal, nflo 6 Hamlet o herdi, cuja forga para realizar a coisas proximas ¢ primeiras é paralisada pela con- templagfo das coisas ‘ltimas ¢ distantes? Hé ainda hoje alemfes que — apesar do milagre ‘e:onémico — cconsideram este tema essencialmente alemdo. Gundolf, ‘nd, entanto, mostrou que iggth coragem lncondiional de enfreftar face a face realidade como ela € dstingue o autor de Hamer daqusle do Prifnira Fausto, no qual ha muito romaniismet il tortura e, por tks do mundo dada, prozirar ot etm mundo male elevado A Hamlet, prossegue, falta todd impillso idealista de transfigurar’a existencia, Mesmo no eu mais de- solado pessimismo, Hamlet afirma a realidade com um “Sim” mais incondicional do que Féusto ‘nos seus so- ‘nbos mais exaltados. Shakespeare nilo egloca a ques- t8 do valor, do bem e do mal. Basta que o mundo exista, que homem seja, Fausto esta sempre além daquilo que €; Hamlet simplesmenté é Fausto sofre pér ndo ter vida suficiente; Hamlet, por ter demais. Goethe aspica a conteddos e formas novas de vida; ‘Stiskespeare transborda de plenitude, Neste Spice da literatura alemi (como também nos seus niveis infe- reebe-se, segundo Gundolf, que ela provém 9 piipito, da eétedra, do gabinete de estudos, a0 passo que a inglesa nasceu no campo de tornelos. Tratarse, sem dtivida, de uma visio telese6pica que passa por cima de “pormenotes” discordantes (dizer que Shakespeare nfo coloca o problema do valor € absurdo!); ainda assim, esta generalizagio é aplicdvel fase romantica e pelos menos jovens de 90 Goethe. © préprio Gundolf e seu liveo ainda se encon- tram na aura deste passado alemio dos “poetas e pen- adores"; passado que ele mesmo parece tentar trans formar em passado, pela propria imagem anti-romin- tica de Hamlet. Note-se, nesta imagem, a influéncia de Nietzsche, cujo filosofar romantico visava, parado- xalmente, A destruigéo do Romantismo. ”

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