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A arte pré-histérica africana J. K-ZERBO Com o aparecimento do homem, surgem nao s6 utensilios, mas também uma producio artistica. Homo faber, homo artifex. A pré-histéria africana nao foge & regra. Ha milénios as reliquias pré-histéricas deste continente vém sofrendo de- gradagGes provocadas tanto pelo homem quanto pelos elementos naturais. Ja na pré-hist6ria, movido por uma iconoclastia ritual, o homem perpetrou por vezes atos de destruicio. Os colonizadores civis ou militares, os turistas, os industriais do petréleo, os autéctones, entregam-se ainda a essas depredagoes e “pilhagens desavergonhadas” de que fala L. Balout no prefacio da brochura de apresentacgéo da exposicdo: “O Saara antes do deserto” ! De maneira geral, a arte pré-histérica africana ornamenta a Africa na repido dos planaltos ¢ dos macicos, enquanto a Africa das altas cordilheiras, das depressoes e das bacias fluviais ¢ florestais da zona equatorial ¢ incompa- ravelmente menos rica nesse campo. Nos setores privilegiados, os sitios localizam-se essencialmente no nivel das falésias, formando o rebordo das terras altas, sobretudo quando avangam sobre os talvegues de rios atuais ou ja desaparecidos. Os dois centros mais importantes so a regido do Saara e a Africa austral. Entre o Atlas ¢ a floresta tropical de um lado, e o mar Vermelho ¢ o Atlintico de outro, foram locali- zados inimeros sitios, contendo dezenas, talvez centenas de milhares de gra- vuras e pinturas. Alguns desses centros sio hoje mundialmente conhecidos, gracas aos trabalhos de pré-historiadores franceses, italianos, anglo-saxGes ¢, cada vez mais, africanos. Bons exemplos podem ser encontrados na Argélia — ‘9 sul oranés, o Tassili n’Ajjer (Jabbaren, Sefar, Tissoukai, Djanet, etc.) —, no sul do Marrocos, no Fezzan (Libia), no Air e no Tenere (Niger), no Tibesti (Chade), na Nubia, no macico da Etiépia, no Dhar Tichitt (Mauritania), em MogAmedes (Angola). © segundo epicentro importante situa-se no cone meri- dional da Africa, entre 0 oceano Indico e o Atlantico, tanto no Lesoto quanto 1H, Luore refere-se a militares franceses que em 1954, na Argélia, cobriram cam uma camada de tinta a éleo o magnifico painel de elefantes de Hadjira Mahisserat, para melhor fotografé-lo. Outros crivaram de balas de metralhadora a parede proxima A grande grayura do escorpiio, em Geret ct-Taleb. Em Beni Unif, as cristas decoradas com gravuras foram demolidas € as pedras utilizadas como material de canstrugde, etc. Cf. H. Luore, 1976. Mesmo certos especialistas nao estio isentos de culpa; intimeras ‘obras foram recortadas ¢ enviadas para Viena por Emil Holub, no fim do século XIX. 668 Metodologia ¢ pré-histéria da Africa em Botsuana, em Malavi, em Ngwane, na Namibia e na Republica Sul-Afri- cana, particularmente nas regides de Orange, do Vaal e do Transvaal, etc. Nessas regides as pinturas encontram-se em abrigos rochosos, ao passo que aS gravuras estao a céu aberto. As grutas, como a de Cango (Cabo), sao excepcionais. Raros siio os paises africanos em que ndo se tenham descoberto vestigios estéticos, embora, é verdade, nem sempre sejam pré-histéricos. A Pprospeceao, no entanto, esta longe de se completar. Por que esse florescimento nos desertos ¢ nas estepes? Em primeiro lugar, porque, na época, a regido nfo era de desertos e estepes. Em segundo, porque, ao tornar-se como é hoje, transformou-se num meio propicio a conservagdo, gracas A propria secura do ar; no Saara, por exemplo, descobriram-se objetos que estavam in situ ha milénios. Por que 4 beira dos vales que recortam os macigos? Por razGes de habitat, de defesa e de aprovisionamento de Agua ¢ de caga. No Tassili arenitico situado ao redor do niicleo cristalino dos montes do Hoggar, que avanca para o sul por uma falésia de 500 metros, as alter- nancias de calor e frio sensiveis sobretudo no nivel do solo, juntamente com os pequenos cursos de dgua, cavaram na base das montanhas coberturas e abrigog grandiosos que dominavam os talvegues dos rios. Um dos exemplos mais impressionantes € 0 abrigo sob rocha de Tin Tazarift. Por outro lado, os arenitos tabulares foram escavados ¢ suleados pela erosao edlica, formando galerias naturais, logo exploradas pelo homem. Tal ¢ 0 quadro de vida tragado com tanta fidelidade e brio pelas obras-primas da arte mural africana Cronologia e evolugao Métodos... e dificuldades de datacao A aplicagaa do método estratigraéfico 4 rocha in sity freqilentemente se revela de pouca utilidade, pois o clima timido que perdurou por longos periodos da pré-histéria provocou uma lixiviacdo profunda das camadas que recobrem o solo dos abrigos. Contudo, na Africa do Sul encontram-se 4s vezes gravuras sob as pinturas; os restos de matérias orginicas (pintura) caidos das paredes numa camada nao explorada podem fornecer alguns indicios. Mas os aterros e desaterros, 4s vezes intencionais, dessas camadas confundem a datacio, mes- mo relativa, que sé poderia esperar obter. Recorre-se entiio, algumas vezes, is patinas dos quadros e das rochas- -suporte, fazendo-se um estudo comparado de suas imodificagdes cromaticas. Este método, que se mostra adequado ja que leva em conta 0 proprio objeto em estudo, parte do principio de que as pitinas mais claras e mais distintas da rocha-mae sao as mais recentes. Com efeito, a formacao da patina opera-se lentamente sobre todas as rochas, inclusive os arenitos brancos. Trata-se de um processo andlogo a laterizacdo, através da qual os éxidos e carbonatos infiltrados sob forma liquida pela chuva ou pela umidade voltam 4 superficie por capilaridade e, gracas a evaporagéo, formam uma crosta sélida, mais ou menos escura conforme sua antiguidade. Ter-se-ia entéo, tomando como refe- réncia a rocha local, uma base tedrica de cronologia relativa. Mas sao muitos os obstéculos: tudo vai depender da natureza da rocha, de ela estar ou nao exposta ao sol, de ficar na diregado do vento ou contra ele, etc. Essa crono- logia é, pois, dupla ou triplamente relativa®. Qutras vezes, para avaliar a antiguidade dos quadros, tomam-se por base os animais. representados, j4 que nem todas as espécies viveram nos mesmos grandes periodos. O bibalo, por exemplo, é uma espécie muito antiga, hoje extinta, conhecida apenas através das ossadas fésseis. Mas esses animais nao podem ter sido reproduzidos como lembranga de um periodo anterior? Os estilos também nao constituem, como veremos, um ponto de referéncia pr longe disso. E bem verdade que, no comego, a observagao parece ter sido predominante, donde uma veia seminaturalista caracteristica. Por outro lado, as gravuras bubélicas do Saara sao, em geral, anteriores as pinturas. Os objetos subjacentes que tém o mesmo tipo de decoragdo que as pinturas sao, em prin- cipio, contemporiineos destas. Mas nao ha, absolutamente, nenhuma regra geral. Outro procedimento que também se utiliza as vezes é a datagao relativa a partir de tragados superpostos, ou seja, tragos que recobrem outros tragos e que, portanto, so mais recentes. Contudo, nem sempre se encontram tais superposig6es, e, além disso, a deterioragaa das rochas ¢ a alteragéo dos pig- mentos freqiientemente tornam a interpretacdo arriscada e contraditéria * Resta, é claro, o método do C14, que é o ideal mas cuja aplicagio é muito rara, devido as razées ja mencionadas, Além do mais, impGem-se nume- rosas precaucdes: O fragmento de pintura nao esteve em contato com matérias organicas recentes? O fragmento de carvao nfo provém de um incéndio pro- vocado por um raio? Apesar de tudo, as datas obtidas por esse método multi- plicam-se pouco a pouco. Em Meniet, por exemplo (Mouydir), no Saara cen- tral, um carvéo recolhido numa camada profunda forneceu a data de 5410 + 300 B.P. A politica também pode se imiscuir na cronologia. Os observadores boeres, por exemplo, estao muito pouco dispostos a aceitar a grande antiguidade da civilizagfo artistica dos autéctones africanos. Tendem, pois, a reduzir-lhe o desenvolvimento, seja por omissao, seja aplicando mecanicamente métodos de avaliacio utilizados para os rupestres europeus. Nessas condigGes, as repre- sentagdes do Drakensberg so situadas por eles como posteriores ao século XVII, isto é, muita tempo depois da chegada dos Bantu. Ora, sem contar que a arte rupestre sul-africana representa, por vezes, animais que datam de épo- cas muito anteriores nessa regio, parece pouco provavel que os San tenham sperado” os conflitos com os Bantu para desenvolver uma forma de arte para cuja pratica seria necessdrio um minimo de estabilidade. Convém, portan- to, reexaminar a questéo dos periodos. 2A deformasio do perfil do trago que, nas gravuras, sob o efeito de processos fisico- -quimicos, passa do V original para uma forma alargada e rebaixada, fornece apenas indicagées muito vagas sobre a idade do quadro. J, D, Lasoux aplicou as mais recentes técnicas fotograficas nas pinturas de Inahouanrhat (Tassi Personagens vermelhas pareciam ter sida pintadas sobre a figura de uma mulher mascarada de cor marrom-esverdeada, mas os ornamentos brancos da mulher foram acrescentados mais tarde sobre as figuras vermelhas. E comum entre os aborigines da Austrélia a prética de repintar as representagdes rupestres (wondjina), a fim de revigora-las; essa prética ¢ acompanhada de narrativas milicas para invocar a chuva. L. Frobenius observou o mesmo costume entre os jovens senegaleses. 670 Metodologia e pré-histéria da Africa Periodos Quando se deseja classificar os achados da arte pré-histérica em seqiiéncias temporais inteligiveis, a primeira abordagem deve ser geoldgica ¢ ecoldgica, ja que era o meio — mais determinante do que hoje para os povos entao mais desprovidos tecnicamente — que estabelecia e impunha o quadro geral da existéncia. © bidtopo, particularmente, condicionava a vida das espécies representadas, inclusive a do préprio homem, suas técnicas e seus estilos, Se é verdade que, segundo a expressdo de J. Ruffie, ‘o homem na origem € um animal tropical” africano, as condigées temperadas do norte apés as grandes glaciacdes permitiram a colonizagao humana da Europa, que culminou com © espléndido desabrochar da arte das galerias subterrdneas, ha quarenta séculos. A arte mural africana é muito posterior. Na opinido de certos autores, como E. Holm, suas origens datam do Epipaleolitico; mas ela marcou essencial- mente o perioda Neolitico *. Tomou-se o habito de batizar os grandes periodos da arte mural com o nome do animal que Ihe serve de referéncia tipolégica. Assim, quatro grandes seqiiéncias foram caracterizadas pelo bubalo, o boi, o cavalo e o camelo. O bibalo (Bubalus antiquus) era uma espécie de bifalo gigantesco que data, segundo os paleontdlogos, do inicio do Quaternario. E representado desde © comego da arte rupestre (aproximadamente 9000 B.P.) até cerca do ano 6000 B.P, Outros animais que marcam este periodo sao o elefante ¢ o rino- ceronte. Quanto ao boi, trata-se tanto do Bos ibericws ou bachyceros, com chifres curtos ¢ grossos, como do Bos ajricanus, dotado de magnificos chifres em forma de lira. Ele aparece por volta do ano 6000 B.P. O cavalo (Equus caballus) aparece por volta do ano 3500 B.P., por vezes atrelado a um carro®. O estilo do galope aéreo, embora ndo seja rea- lista, € naturalista na trilha ocidental do Marrocos ao Sudao, sendo, contudo, muito esquematizado na “rota” oriental do Fezzan*. Aqui j4 estamos ha muito 10 Neolitico saariano mostra-se cada vez mais antigo & luz das descobertas recentes. Um sitio neolitico que continha ceramica no macico de Hoggar foi datado de 8450 B.P. pelo método do carbono 14; ¢, pois, praticamente contemporaneo do Neolitico do oriente préximo, Ver também as datas sugeridas por D, Olderogge no Capitulo XI para dois sitios na Niibia: Ballana (12050 B.P.) ¢ Toshké (12550 B.P.). Em InItinem foram encontrados restos de alimentos em um abrigo sob rocha decorado com pinturas do periodo bovidiano. A ocupacéa mais antiga foi datada pelo carbono 14 de 4860 + 250 B.P. No macigo de Acacus (Libia), F. Mori encontrou, entre duas camadas com restos de ocupagiia, um fragmento de parede desabada com pintura do periodo bovidiano, As duas camadas foram datadas, descobrindo-se que o fragmento de parede data de 4730 B.P. (Ver H, Luore, 1976, p. 102 e 109). Também é citada a data de 7450 B.P. para a periodo bavidiano médio de Acacus, cf. H. J. Hucot, 1974, p. 274. J. D. CLare, uma data de 6310 + 250 B,P. para Solwezi (Zambia). Por outro lado, a data indicada ma tese de J. T. Louw para o abrigo de Mattes (Provincia do Cabo, 11250 + +400 B.P.) ¢ considerada pouco segura, O caso de Tin-Hanakatem é extraordind pode-se estabelecer uma correlago entre os afrescos ¢ toda uma série de niveis neoliticos ¢ proto-histéricos que contém esqueletos, ou seja, uma estratigrafia humana facil de datar, incluindo até mesmo um nivel ateriense. Cf. “Découverte exceptionnelle au Tassili”, Archeologia, n.° 94, maio 1976, p. 28 e 39, 5A chegada do cavalo & Africa é freqiientemente relacionada & chegada dos hicsos ao Egito. Ver a esse respeito J. KI-ZERBO, 1973, p. 99. A respeita das “rotas dos carros”, ver R. Mauny, 1961. A arte pré-histérica africana 671 no periodo histérico em que o hipopétamo desaparece das representagGes ru- pestres, © que sem divida indica o fim das 4guas perenes. O camelo fecha a fila desta caravana histérica. Levado para o Egito aproximadamente no ano — 500 pelos conquistadores persas, aparece com freqliéncia no inicio da Era Crista Em se tratando da pré-histéria, sao principalmente os dois primeiros pe- tiodos e 0 inicio do periodo eqiiidiano que nos interessam neste trabalho. Sio eles que maream a vida ativa desse espago imenso, que mais tarde se tornaria o deserto do Saara, Por outro lado, no interior de cada grande periodo, os especialistas, obcecados pela subdivisdo cronoldgica, discutem os subperiodos. Mas as descobertas prosseguem; ¢ € preciso tomar cuidado para niio colar apres- sada e rigidamente etiquetas zoolégicas sobre perfodos inteiros de um passado, tao pouco conhecido. Trata-se antes, se é que posso me expressar assim, de dinastias animais iconograficamente muito vagas, com imimeras superposicoes. O carneiro, por exemplo, classificado como posterior ao biibalo e ao elefante, parece ser As vezes seu contemporaneo. Esté presente nas mesmas paredes, representado com as mesmas téenicas e apresentando a mesma patina. Talvez ele fosse pré-domesticado ou mantido em cativeiro, para fins religiosos. Da mesma forma, os grandes bois gravados de Dider (Tassili), um deles com mais de 5 metros, com grandes chifres em lira incorporando um simbolo, pare- cem contemporaneos do bibalo. O boi com pingente de Oued Djerat é colo- cado por alguns especialistas no periodo bubdlico, Por outro lado, sao fre- qiientes as TepresentacOes de novos animais, como por exemplo as corujas de Tan-Terirt, que, em numero de aproximadamente quarenta, sobrepdem-se as imagens de bovinos. Fora da regiao do Saara, os grandes periodos geralmente sao posteriores € se definem por critéries que variam de autor para autor, sobretudo entre os que, para estabelecer uma periodizagdo, apdiam-se, 4s vezes, em técnicas, géneros e estilos *. Técnicas, géneros e estilos Técnicas As gravuras As gravuras encontradas nos locais onde também existem pinturas sao, em geral, anteriores a estas, ¢ sua melhor técnica surge nos periodos mais recuados. Aparecem sobre rochas areniticas menos duras, mas também em granitos ¢ quartzitos, sendo executadas com uma pedra apontada golpeada com um per- cutor neolitico. Alguns exemplares de percutores foram encontrados nos locais das gravuras. Dispondo apenas desse equipamento minimo, conseguiu-se gran- 7 Entretanto, 0 camelo parece ser conhecida desde @ periodo faradnico. Cf. E. DeMouEoT, 1960, p. 209-47. 8 Na Africa meridional, com base na forma do trago, na técnica de trabalho da rocha (incisio, martelagem mais ou menos acentuada, polimento, etc.) e no tipo de seres representados, certos autores distinguem dois grandes perfodos, o primeira com duas fases ¢ o segundo com quatro. Rinoceronte, Blaka, Niger (foto H. J. Hugot). . Gazela, Blaka, Niger (foto H. J. Hugot). . Bovino, Tin Rharo, Mali (foto H. J. Hugot). Elefante, In-Ekker, Saara argelino (foto H. P. C. Haam). A arte pré-histérica africana 673 de precisdo tecnica, O elefante de Bardai ¢ delineado com um trago leve e simples; 6 quase um esboco, mas mostra © essencial. Jé os elefantes de In Galjeien (Mathendous) e de In-Habeter II ¢ o rinoceronte de Gonoa (Tibesti) sfo profundamente burilados com um trago ao mesmo tempo pesado € cheio de vida. Os entalhes, em forma de V ou de U, tém aproximadamente | centi- metro de profundidade; foram feitos com uma machadinha de pedra ou com um pedaco de madeira bem dura, utilizando talvez areia umida como abrasivo. Algumas vezes, parece que varias técnicas foram combinadas; por exemplo, 4 martelagem delicada ¢ a incisio em forma de V. A piquetagem prévia deixou, aqui e ali, tragos de asperezas no fundo da ranhura. O polimento final era acompanhado por um trabalho de cinzelamento. Indiscutivelmente, a execugéo dessas gravuras exigiu por vezes habilidades atléticas. No Oued Djerat, por exemplo, hd um elefante de 4,5 metros de altura e esbocos de um rinoceronte de 8 metros de comprimento. Acredita-se que, na Africa central e meridional, as gravuras de contornos profundamente entalhados estivessem relacionadas a finalidades religiosas, en- quanto os desenhos feitos com ranhuras mais delicadas teriam uma finalidade pedagégica ou de iniciagéo. O refinamento provém do fato de que algumas superficies, vazadas e polidas com brilhantismo, representam as cores das peles dos animais ou dos objetos carregados por eles. Encontramos ai uma prefi- guracio dos baixos-relevos do Egito faradnico. Com efeito, a figura aparece, por vezes, como um relevo entalhado na rocha vazada com essa finalidade (camafeu). A rocha-matriz é utilizada de maneira muito apropriada. Citamos como exemplo uma girafa que foi gravada num bloco alongado de diabasio cujo formato combina perfeitamente com o da girafa (Transvaal ocidental). Na regido de Leeufontein, um rinoceronte foi entalhado sobre uma rocha de superficie aspera e¢ com arestas angulosas que reproduzem exatamente a cara- paca do animal. Na colina de Maretjiesfontein (Transvaal ocidental), uma zebra quagga foi representada por entalhe ¢ piquetagem sobre um bloco. de diabésio e seu maxilar inferior coincide com uma pequena saliéncia da pedra que lembra sua forma anatémica. No Museu do Transvaal ha um espléndido antilope macho cuja crina foi reproduzida por linhas piquetadas, e a mecha frontal, por entalhes delicados. As cores interna (azul) e superficial (ocre vermelho) da rocha sao utilizadas com perfeigdo para realgar os contrastes. Outra obra-prima dos gravadores pré-histéricos africanos é 0 grupo de girafas de Blaka, com suas pelagens manchadas, suas patas em posigdes extremamente naturais e mesmo suas caudas em movimento oscilante. Em seu aspecto global, porém, a técnica comegou a decair. Jd durante o perfodo chamado bovidiano, as gravuras sao freqiientemente mediocres, como é 0 caso das girafas de El Greiribat, entalhadas com piquetagem larga e grosseira. As pinturas As pinturas néo devem ser completamente dissociadas das gravuras. Em Tissou- kai, por exemplo, ha esbogos gravados sobre as paredes, sugerindo que os artistas gravavam antes de pintar. Também aqui os trabalhos artisticos exigiam, As vezes, proezas atléticas. Em Uede Djerat, ha uma pintura do periodo eqiii- diano com 9 metros de comprimento, feita num teto com uma inclinagao abrupta. Em alguns sitios do Tassili, como Tissoukai, as pinturas aparecem

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