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10 A CIDADE E SEU ENTORNO EM MEIO SUBDESENVOLVIDO IxrRopucao. té © momento temos considerado diversos aspectos do fend- A= de urbanizagio, mas concentrando nossa reflexio na propria cidade. O estudo das relagdes cidade-regido obriga @ examinar, também, o problema do mundo rural em relacao com 0 mundo urbano. ‘Trata-se de uma série de questdes das mais controvertidas, algumas sendo das menos sistematicamente estudadas. Alguns autores conde- aun axativamentea cidade, acusando-a de todos os males de que sofre © campo; com ou sem alusao ao fato incontestavel do éxodo rural, eles renovam uma atitude caracteristica da mentalidade européia do século sks a cidade esvaziaria © mundo rural nfo 86 de suas riquezas, que sla uilizaria para suas préprias despesas improdutivas, como também de seus habitantes, aos quais no seria capaz de fornecer empregos na Proporcao desejavel. E : Ger + oauosaamne xn 1p Em um trabalho coletivo, Lacoste! faz-se intérprete desse ponto de vista: “Essas regides de economia moderna (ele fala das grandes cidades], que combinam 0 efeito de estagnago econdmica e os fatores, de crescimento demogratico, podem ser consideradas nao como ‘polos de desenvolvimento mas, ao contririo, como *pélos de subdesenvol- vimento”. Entretanto, mnias constatagdes recolhidas na preparagio desse trabalho contrariam a visdo pessimista de uma cidade parasitar “leera que se desenvolve em detrimento de tudo o que a rodeia”. Essas constatagdes talvez no sejam suficientes para refutar a tese ‘posta, mas permitem, ao menos, questio Além do mais ~ ¢ isso mostra que nem todos esto em perfeito acordo quanto a esse ponto ~, no mesmo trabalho coletivo B. Kayser sustenta um argumento radicalmente oposto ao de Y. Lacoste: la, Ascidades que se formam e 1m em rtm ripido mao podem ser] con sieraclas como quistos existentes no interior do tecdo neogifico: elas sto pate integrante desse tecido ¢ desenvolvem se sobre um sistema compleso de 103s vittis, Por mais lentos que Sejam, em alguas paises, os progressos do equipamiento em vias € melos de comunicacio, ees failiam e aceleram 0 funcionsmento do sistema, Ei conseqncia, a vida regional tende a surgit ea adquite ampliude em um espago cad vez maior do nosso globo’ Segundo B. Kayser, a evolugio, longe de ser regressiva, determinaria uma integeagao crescente: osatrasos, as descontinuidades que se podem constatar scriam devidos a um atraso do equipamento e crescimento espontinco ¢ nio a um vicio fundamental vi lugar a solug6es reformistas. ‘Ainda que sustentemos uma clara posigio a esse respeito, nao é nossa pretensio tentar solucionar o debate, mas sim aprofundar a relacio ao 0 que dé 1. Y, Lacoste, “Perspectives de la géographie active en pays sous développé”, em P George, R. Guglielmo, B. Kayser e Y. Lacoste, La Géographie active, Pris, ut, 1964 2. B. Kayser em P George eal, La Geognaphie action, op cit p 320. anilise, insistindo nos aspectos metodoligicos do problema. Além do mais, a escassez dos estudos disponiveis limita bastante o mimero de exemplos utilizaveis. Praticamente, seremos levados a colocar di- vversas questdes. A primeira delas, Leitmotiv desta obra, é a seguinte: existe uma especificidade propria dos paises subdesenvolvidos? Ou as relagdes que, nesses paises, a cidade mantém com o espaco em sua volta sio da mesma natureza das que existem nos paises desenvolvi- dos? Segunda pergunta: quais os graus das relagdes cidade-regido na \¢20 atual, e quais os tipos de regides geograficas dai resultantes? Por fim, veremos se é possivel propor um balango (econdmico) dessas relagdes e confirmar a validade de uma ou da outra tese. Evitamos claramente, tanto quanto possivel, o emprego do termo regio, j4 que ele prejulgaria nossas conclusdes; de fato, segundo B. Kayser, a regio se define como “um espago polarizado”. Para simplificar a anslise, podem-se distingnir dois elementos do subdesenvolvimento: = na medida em que a economia dos paises subdesenvolvidos permanece em parte tradicional, 0 subdesenvol por uma debilidade geral no nivel das trocas (ndo esquecer que as disparidades regionais constituem regra geral nesses paises); —na medida em que 0 subdesenvolvimento resulta da introdugio recente de elementos modernos em uma economia “tradicional”, sin imento se caracteriza seus efeitos mais caracteristicos consistem no aparecimento de dis- torsbes. a, Fraqueza geral As zonas subdesenvolvidas sio muito mal providas de meios de comunicagao e de instrumentos de trocas: debilidade dos flusos monetdrios, fraca densidade das redes rodovidrias ¢ ferrovisrias, escassex de centros regionais subordinados, inexistencia, as vezes, de centros sub-regionais. Esse subequipamento é fruto de uma astenia goral das trocas, ao mesmo tempo que eontribui para manté-la, Essa astenia resulta, principalmente, da fraqueza do poder de compra por parte das massas rurais, que quase nao tém excedentes para vender nas zonas mais tradicionais ou que, nas regides de cultura comercial especulativa (cultura do amendoim on do cacauna Africa), rém rendas muito variaveis ~ segundo as estagdes e segundo 0s anos -, incapazes, em todo caso, de suscitar ou de, além de um certo nivel, manter rela- des continuas com a cidade, Ante 0 subequipamento encontrado na maioria dos paises subdesenvolvidos, 0 menor esforgo de equipamento acarreta um transtorno mais que proporcional, uma ruptura geral de um equilibrio instavel, Basta a constr a Panamericana, na América Andina, para desarranjat 0 equilibrio o de algumas rodovias, como regional dos paises que ela atravessa’. Ora, 0 periodo atual caracteriza- se pelo brusco aparecimento dos meios de transportes rapids, e em grande escala, em um espago ainda nao modernamente organizado'. ssa “fragilidade” da regionalizacio é ainda mais aumentada pela instabilidade histérica esultante da exploragao colonial que os paises subdesenvolvidos sofreram e que superpos varios tipos mais ou menos cfemeros de organizacio do espaco. Tal instabilidade é maxima no caso das atividades mineiras: cidades do Altiplano boliviano ou da Chapada Diamantina brasileira. Mas ela é geral, mesmo quando no acarreta uum decréscimo urbano; no Brasil, Salvador, depois Rio de Janeiro € posteriormente Sao Paulo organizaram, sucessivamente, uma porgio do espago em seu proprio beneficio; na China, o centro de atividades do baixo Yang Tsé destocou-se de Nanquim para Xangai etc. Fs longe do lento e seguro crescimento da regido lionesa De um modo geral, 0 passado econdmico dos paises subdesenvol- vidos, passado distante ou recente, & um passado irregular e cheio de contrastes, Isso nos leva a enfatizar as distorgdes nas relagdes cidade- regio, que atingiram seu grau maximo no periodo contemporanco, b. Distorgées apresentadas A introdugio de certos elementos {incompletos) da economia capitalista moderna nas estruturas tradieionais, associada & brusea acentuagao da pressio demogritfica, ocasionou uma desagregagio das 3. J. Chapouli, Fanmaton tél des réseanse urns dans les pays de "Amérique ‘adie, Bordeaux, vis, 1967. 4. Kayser em P. George eta, La Géographie active, op city ps 329, regides urbanas, nos paises onde estas j4 existiam, ¢ a constituicio de “bacias urbanas” inorganicas, nos paises desprovidos de pasado uurbano. Em intimeros paises de velha civilizagio (Asia Ocidental, India, Asia Oriental), o fendmeno regional nao era desconhecido: a China das dezoito provincias “era um pais de forte organizagio adminis- trativa local, com uma polarizagdo de cada provincia em corno de sua respectiva capital. Entre a cidade e a regio, hayia se constituido uma solidariedade global”, especialmente em zonas isoladas, como Sechuan, e essas estruturas foram suficientemente fortes para resistir 2 revolugio de 1949, que conservou as antigas provincias como cir- cunscrigdes politicas. Mas haviam sido muito maltratadas quando da “abertura” e, posteriormente, na época do “desmembramento” da China, no fim do século xix. Pode-se pois afirmar, de forma bastante paradoxal, que a integracio regional, fundamentada entio no comércio € nos servigos, era mais forte que hoje, quando os fluxos econdmicos si0, no entanto, mais importantes. De fato, essa solidariedade global entre cidade e regido era 0 re- sultado da fraqueza industrial. A implantacao irregular de indistrias determinou uma especializagao regional, portadora de heterogencida- de, O crescimento de grandes cidades com ati lades diversificadas, io Paulo ou Casablanca, originou a destruigio da como Xangai, solidariedade regional, ao mesmo tempo que fez progredira integracao do mercado nacional. Entretanto, na medida em que as atividades tradicionais subsistem a0 lado do setor moderno, a maioria das mecrépoles regionais conser- vou certa influéncia de natareza politica e econémica sobre sua regio. Na verdade, existem dois circuitos de produgio e de consumo urbanos. O circuito moderno, apoiado na economia internacional que the traz 5. Chamsmos de “solidaricdade global” as rlagiesbilaterais stabcecidas entre a cidade e sua zona de ifladnca, esta dina mio podend excapar 2 influgncia dx ‘idade em nenhum tipo de aa 6 i capital e téen as, € pouco criador de empregos e grande criador de riquezas, ao menos em aparéncia, e acha-se quase totalmente desvin- culado da regio. O circuito tradicional, a0 conteario, esta vinculado as inversées endégenas e exerce demanda sobre as produgdes regio: ‘mantém com elas, de forma bem natural, uma certa integracios desenvolve-se em funcdo do crescimento demogrifico ¢ do éxodo rural, que renovam uma populagdo conservadora de habitos de vida (costumes alimentares, vestuirio ete.) préximos ao do mundo rural, Por scr incapaz de participar completa e freqiientemente de um tipo moderno de consumo. racteristicas ligadas ao papel funcional da cidade no espago subdesenvolvido Adoramos aqui as categorias estabelecidas por Nicole Lacroix e Michel Rochefort, de acordo com a anélise realizada pela Orstom sobre as relagdes cidade-campo nos paises tropicais*, ~ Na medida em que a érea circundante da cidade é quase exclusi- vamente agricola, a cidade deve ser considerada, antes de tudo, como lum “elemento de penetracio da economia moderna ¢ industrial nos ncios agricolas, com predominio do-autoconsumo”, Nos paises subdlesenvolvidos essa penetracio apresenta um carter particular, resultante do contetido das trocas. Freqiientemente, a eco- ‘nomia rural ¢ bissetorial, associando uma atividade tradicional produ tora de viveres com produgdes ditas coloniais, “exportadas em bruto e submetidas as associagdes do mercado financeiro internacional”, A nai associaglo pode ocorter num mesmo tertitério ou pode, a0 contritio, determinar ma divi tem ambos os casos, a cidade desempenha em relacio a sua regio uma fo do espago (0 que ocorre muito mais raramente), clupla fungio de centro consumidor de viveres ¢ de etapa entre as reas produtoras de matérias-primas eas metrpoles industtiais, nacionais ou estrangeiras, ou entre estas © o consumo da populacao regional. 6. M, Rochefort © N, Lacroix, “ntérée de Pets des relations entre les villese es ‘ampagnes dan es paysen voie de développement (document prdliminate)" Bal let de Liaison, Sciences Fumaines, 1, 1965, 31 p. (Otsomn fst iter), Ao funcionar apenas como etapa, a cidade é incapaz de desempe har um papel de centro regional auténomo, uma ver que acaba Ihe escapando a parte essencial do controle das atividades da area que deveria dominar, em proveito das metrépoles industriais: as capitais Portudrias da Asia ou da Africa, a drenarem seu interior através de tuma estrada de ferro ou de uma rodovia, metas prolongacdes terrestres das linhas maritimas, muitas vezes nada mais sao do que pontos de ruptura de carga Por outro lado, a inclustrializagao € um fator imediato de inte- sracio, desde que sua diversificacio e seu grau de tecnologia sejam suficientes para evitar que seja vitima de uma evasio, freqiientemente fatal, principalmente quando se trata de indiistrias de exportacao, que ainda constituem uma porcentagem considerdvel da atividade secun- «léria dos paises subdesenvolvidos. Ou, desde entio, que se acentue @ importancia das indlistrias de equipamento que respondam a uma demanda interior maciga e estavely neste caso, porém, acentua-se 0 problema do financiamento, assim como o da rentabilidade, de vez ‘que somente uma cadeia de indiistrias complementares (setor energé- tico, siderurgia, quimica de base, maquinatia) é capaz de assegurar tum prego de custo aceitivel e a almejada independénc: Na falta disso, um inicio de integragao regional reside no fato de que toda grande cidade de pais subdesenvolvido constitui um mereado econdmica, consumidor regular de géneros alimenticios de primeira necessidade: cla organiza, bem ou mal, seu aprovisionamento, construindo uma rede de comunicagbes que ela mesma polatiza (exemplo recente de Brazavilley’. Se o campo, tanto por seu nivel técnico quanto por suas estruturas sociais, esté em condigdes de responder a demanda urbana © se a defasagem entre a oferta c a procura nio é grande, a integracio progride, Ao contririo, se as condigdes do crescimento demogrifico Urbano e a estagnagio econdmica rural slo tais que se faz necessaio re- correr a produtos importados em grandes quantidades, desencadeia-se 7. M, Venneten “La vie agricole uebaine § Pointe-Noite”, Cables d'outrewer, 4 (5366-80, jameomars 1961, tuma evolugio regressiva ea cidade torna-se eada vez mais dependente de fora ecada vez menos capaz de polarizar a regio. A modificacao dos habitos alimentares, especialmente nas cidades ex-coloniais da Africa, onde foi mais visivel 0 “efeito demonstracio”, acelera 0 processo de desintegracio regional ou, ao menos, o facilita. — Na media em que, nos paises subdesenvolvidos, 0 éxodo rural alcanga dimensdes ¢ uma rapidez sem precedentes, as migragies cons- tituem um elemento primordial das relagdes cidade-regiao e tém como caracteristicas principais o faro de que se dao praticamente em sentido Linico, e isso em uma “bacia urbana” que nao coincide necessariamente coma dra de influéncia econémica da cidade. Esse espago € geralmente limitado: assim, em Salvador, em 1962, 75% dos imigrantes eram originarios do Recdncavo¥; da mesma for- tma, em Saigon, os imigrantes s40 na maioria refugiados do delta do Mecong; © mesmo ocorre na planicie do Ganges’. Mas os imigrantes podem também proceder de areas bem distantes. = A cidade € consumidora de mao-de-obra, bem como da renda da terra; mais adiante insistiremos nesse ponto, Nenhuma medida precisa parece possivel quanto a esse aspecto, mas é necessirio que se evite subestimar sistematicamente esse fator. No que diz respeito a arrecadagao fiscal, as cifras que possuimos mostram, em todo caso, que 0 imposto sobre a renda 6 proveniente principalmente das grandes cidades (na Turquia, 60% desse imposto € fornecido por Istambul, Aneara ¢ Esmirna)". ~ Finalmente, nos paises subdesenvolvidos as cidades desempenham, 10 As suas regides, o papel de eentros de servigos. A aces dade desses servigos, porém, é espacial e socialmente restringida pelas dificuldades das comunicagdes e pelo custo dos préprios servigos. 8. J. Beaujen-Garnies, “As Migeagdes para Salvador”, Boletin Baiano de Geosratia, 78), 1961-1962, 9. Ph, Hauser, Les Villes ot urbanisation en Asie dc Sud-Esty Pais, Uneseo, 1986. 10, M, Rivkin, Area Development jor National Grows: The Turkish Precedent, New d. A assimetria das trocas Nos paises subdesenvolvidos, a caracterist ivel das relagdes da cidade com seus arredores é a auséncia de organizacao cocrente, tal como concebida no Ocidente. Essa forma de organizagao se encontra tanto nos paises novos, sem tradigao urbana, quanto nos paises de urbanizagio antiga, onde o equilibrio regional tradicional foi destruido. Isso 6 decorrente da astenia, mas principalmente da assimetria das trocas, que determinam “espagos de consumo” que conservam um poder de compra reduzido: dat a dificuldade de toda tentativa de regionalizagao. Por outro lado, segundo o nivel das trocas, 0s tipos de relagdes cidade-regiio sio muito diferentes, isto é, se elas se prolongam ou nio até escalas inferiores & do “centro regional”, Por tltimo, as fangées urbanas e a extensio da area de influéncia variam consideravelmente segundo o nivel social dos usuarios de -a menos dis tais servigos, se bem que freqiientemente se esta em presenca de dois circuitos de coleta e de distribuicao. 10.1, Grau pe INTEGRAGAO £ Twos DE RELAGOES Cipade-REcUO A procura de uma divisio regional adequada é uma das maiores preocupacdes do gedurato ¢ do planejador. Toda regio sendo por defini anilise da zona de influéncia urbana, Ora, sucede que, no easo dos pa indissociabilidade entre a cidade e seus arredores é, no minimo, discu- tivel. Assim, uma tipologia apoiada no modelo de fungao exercida por cada “metr6pole” em relacio a cada “regio” pressupde a existéncia de um grau de integragao que, na realidade, raramente ocorre, Uma tipologia das relagoes cidade-regito tomar, pois, por ritério o gra de integracio e nao o tipo de funcio dominante, sendo a integracio tanto mais completa quanto mais complexos € diversificados scam os vineulos. (0 um espago polarizado, melhor eritério deveria provir da cs subdesenvolvides, a famosa ® a. O grau de imtegeagio Geralmente se exagera a importincia do centro sobre a sua “re~ ssi40”, jf que ela parece facilmente mensurvel em termos geogréficos €, além do mais, as delimitacdes satisfazem ao espirito..." Existe ainda indissociabilidade entre a cidade e a regio, assim como, por exemplo, nos primérdios do capitalismo? A perguna parece ‘Go valida nos paises industriais como nos paises subdesenvolvides. ‘A evolugao da economia internacional nos iiltimos vinte anos ocasionou o arrefecimento da importincia da nogio de perfeita indis- sociabilidade, Numerosas sio as cidades sem regio. Na origem dessa mudanga se acham © desenvolvimento, atualmente bastante ripido, dos meios de transportes nos paises subdesenvolvidos, ea divisao das decisoes “estruturadoras”, por causa da auséncia de multipolaridade industrial. A “solidariedade global” cede lugar a uma convergéncia, sobre um mesmo espaco, dos resultados de decisoes de diversas or- dens, tomadas em diferentes lugares ¢ tendo conseqiiéncias espaciais também diferentes. 'b. Conseqiiéncias metodol6gicas © questionamento da indissociabilidade cidade-regido obriga, para fins analiticos, a tomar a cidade e a regido como dois organismos econdmicos distintos. Conseqiientemente, nao s6 o estudo dos equi- pamentos (dos quais nao se sabe freqiientemente com que intensidade sio utilizados] mas também o dos fluxos sio insuficientes, pois relagbes ma ‘(de ordem demografica, por exemplo] entre a cidade e o campo no significam uma integragio avangada: tivemos mesmo ocasiao de constatar que @ inverso ocorria freqiientemente. Praticamente é preciso comecar pela apreciagéo do grau de com- plementaridade entre esses dois organismos, o que consiste em medir a porcentagem da atividade urbana dependence, direta ou indiretamente, da atividade da regido, distinguindo-a da porcentagem de atividade induzida e da porcentagem ligada as trocas com o “estrangeiro”. 11. B Kayser, Séminaire cvis sur la régionaisation a Brésil, Bordeaus, 1968 jeom- Em seguida, 6 preciso fazer intervir o nivel de vitalidade econdimica dos dois conjuntos e a real intensidade das trocas e, posteriormente, um determinado nimero de varidveis consideradas independentes para fins analiticos, tais como a importancia da populagio urbana em relagio & populacdo regional, a densidade demogrfica e o tamanho da regio, a antiguidade do fato urbano. Finalmente, o grau de integra¢ao regional resulta da interferéncia de elementos econdmicos ~ ¢ outros mais ou menos espontaneos ~ € do clemento “voluntario” constituido pelas estruturas politica-ad- ministrativas. Tomemos 0 exemplo da pequena cidade de Kinkala, estudada por A. Auger!*, Em razo da rece de comunicagdes com predominio Este-Oeste no Congo-Brazaville, o departamento do qual Kinkala 6 a capital esti quase totalmente polarizado por Brazavilles no entanto, a presenga de algum equipamento (hospital) na capital departamental ocasionou a eriagio de uma rede de estradas radiais e de um timido esbogo de regionalizagdo que serve As pessoas mesmo quando prescinde das mercadorias. €. Os tipos de resides Regides integrais “Trata-se de um tipo hoje praticamente mais te6rico que real; su ‘poe um nivel de trocas quase mulo da cidade com o que esta fora da sua regio; corresponde, aproximadamente, & situaco das cidades continentais mais tradieionais, como Srinagar, no Kashmir, ou Cat- mandu-Bhatgaon-Patan (niicleo triplice), no Nepal. Nesses casos a solidariedade global é maxima, o setor secundario inexistente (salvo © artesanato) e as trocas regionals, efetuadas sobre curtas distamcias, sio bastante intensas para animar a vida do pélo urbano., Zonas nao completamente polarizadas Algumas cidades bastante grandes, como Salvador, Recife e For taleza, no Brasil, exercem um comando incompleto sobre stas reas de influéncia, face a0 que B. Kayser chama de “bacias urbanas”. Por 12, A, Auger, Les Contes tmbains secondaires an Congo Brazzaville, Brarzaville, Ors tom, 1966, 42 p, Gx + camavemansoanra inna maaaDy sua propria natureza, esses lagos nao dira influéncia de Sio Paulo. moderna ~ de interferir em “suas” regides. Em menor escala, algumas cidades que comandam uma pequena regido agricola mais ou menos homogénea polarizam o essencial da atividade propriamente produ Théus-Itabuna, centro regional bicéfalo da regio produtora de cacau do sul da Bahia, Mas, nesse caso, as condigdes histdricas desempenham um grande papel No caso de capitais incompletas, é freqitente que surja um inicio de especializacio espacial entre um porto, capital econdmica, ¢ uma capital politica, situada freqiientemente no interior do tervitério: Guayaquil-Quito (Equador), Alexandria-Cairo (Fgito), Casablan- ca-Rabat (Marrocos) ete bastante fortes para impe- cidade economicamente muito mais -a do “seu territério”. £0 caso de Zonas francamente polarizadas Eo caso mais geral nos paises subdesenvolvidos. Pode correspon- der a situagdes concretas muito diversas, seja uma débil urbanizagio ¢geral eum fraco nivel de atividade econdmica em que 0 espago 6 quase indiferenciado, os fluxos no slo importantes, nem numerosos, nem ddensos (Amazonas, sul do Maranhao, Llanos de Apure na Venezuela); ‘ou, quando ha densidade de populacdo ¢ um indice de urbanizagio bastante fortes, a atividade é voltada principalmente para a especula- do, sem proporcionar uma divisdo do trabalho mais acentuada. Cidades sem regio Numerosas nos paises subdesenvolvidos, em geral elas sio fruro da implancagao de atividades modernas em um meio tradicional ou de acontecimentos histéricos excepcionais;trata-se freqiientemente de Cidades de fangZo dominante. Algumas sao portos, herancas do periodo colonial, como Hong-Kong, Cingapura, Tanger, Panamé: vivendo de sua tradi¢ao de portos livres e, para substituir 0 mercado colonial —do qual ficaram mais ou menos privadas ~, as suas atividades Sans, “La culture du cacao dans Vétat de Bahia”, Gabiers ontresmer, 16 (64)360-378, oct. 1963 comerciais juntaram-se atividades industriais, Outras se mantém com ‘uma fune3o puramente comercial. Outras se dedicam a atividade do contraband, recentemente mascarado com a criagio dezonas francas, como as que se encontram na ilha de Margarita, na Venezuela, ou em Curagau (onde esta atividade se associa a uma atividade petrolfera)s outras so cidades da rodovia ou da ferrovia, de crescimento brutal, como a cidade de Governador Valadares, em Minas Gerais, que crescet 1129% entre 1940 ¢ 1960, conquistando lugar de centro regional devido a sua sieu de Minas ¢ a rodovia Rio-Bahia. Alguns centros industriais situados no interior do territsri ~como Ciudad Guayana (Venezuela), Jamshedpur (india), Volta Redonda (Brasil) ~ desempenham um papel bastante andlogo. Por outro lado, as capitais de nova implantagao tém por fungao precisa organizar 0 espago que as rodeias no caso de paises vastos, porém, sua érea de infludncia “oficial” ulerapassa a regido limitada com a qual elas podem rmanter estreitas trocas, de forma que uma antiga capital, como Lima, aque esvaziou seus arredores por absorgio demogrifica, é, em certo sentido, uma “cidade sem regio”, a menos que se considere © pais ‘como sendo a sua regido. Mas uma capital pode viver sem integragao regional completa, 0 que nao ocorre com uma metrépole econdm por essa raziio, 6 possivel deslocar, mediante um ato oficial, a fungao o de entroncamento entre a ferrovia Este-Oeste politica de uma cidade para outra, Ulima caracteristica de tais cidades: conhecem um crescimento mais rapido que as demais; & nelas que se pensa quando se fala de cidades-cogumelo, como as cidades do petroleo ou dedicads & istria da pesca, no Peru; de faro, so, 3s vezes, corpos estranhos de ripido creseimento, 0 que nao significa que esse erescimento Ihes seja forgosamente danoso. d. A nocio da cidade-rexiao Aprofundandoa analise, cabe perguntar se algumas cidades mantém consigo mesmas um tipo de relagao idéntica & que manteriam com sua regio nos paises desenvolvidos. Com a existéncia das favelas na pai sagem urbana, diz-se, freqiientemente, que o mundo rural pode estar sie: © sieiemenceneemier piesa aga + mas na cidade sem que se possa falar, entretanto, de “ruralizacao urbana”; freqiientemente, o endividamento ai geral,¢ 0s citadinos subproletarios, podem no ser mais integrados no circuito monetério que os rurais mais favorecidos. E um fato, porém, que se torna cada ver mais raro. Por ocasido de um coléquio sobre regionalizagao no Brasil", M. Rochefort e B. Kayser chegarani a um acordo em relagio & importincia da atividade induzida das cidades os paises subdesenvolvidos: “Os ‘equipamentos (das cidades} podem estar, ao menos atualmente, apenas 1 servico dos habitantes das cidades onde se eneontram”; “Estudos precisos de economia urbana mostrariam, ao que parece, que o dina- mismo da cidade ¢ atualmente, no essencial e em uma economia aberta, o resultado de forgas indutivas internas” (o grifo € nosso). Eo que ilustra o exemplo de Guadalajara: se Guadalajara vende a ‘outros Estados 73,3% dos téxteis e confecgdes que fabrica, édentro da propria cidade que ela encontra um mercado para 20,3% de produgio, enquanto 0 Estado de Jalisco the compra apenas 6,4%'", Na indistria decalcados, a situagao é parecida. Guadalajara consome 23,9% de sua prépria produgio; 0 Estado de Jalisco, 5,7%; ¢ outros estados, 70,4%. Essa produgio se refere apenas aos calgados para homens*. E evidente que as caracteristicas acima enunciadas nao sio sufi- cientes para assimilar a nogao de regito a realidade de certas cidades dos paises subdesenvolvidos, Segundo B. Kayser", uma regiio apresenta as seguintes caracte- risticast lagos existentes cate seus Habitames [. exloludy rao somente ss relates mas também as caractersticas comune, J base [estas dims} de notivel 14. Colloques sur La régionatsation au Brésil, Bordeaus, ONRS, 1968, 15. M. Santos, op. cit 16, Helene RiviredAre, “Guadalajara, Immigration et Zones dfluenoes",Villes et régions de Amérique Latine, CHS e Institut HE. de Amérique Lating, 1968, {Rappor de mission, RCP 147) 17, “La region comme objec cétnde dela gogeaphie”, em P. Geonge etal, La Goe graphic active, Pais, 1, 1964 oes espacial [. Esseslagos imprimem no espace dado uma certa homogent: dade, porém no sio suficientes para produzir un epiio se mo Sto eriadones de wa ogganizago econdmica e soca ‘Uma regio se organiza em torno de wm centro [1 A onganizaio,trchagao concrets do fendmeno de regionalzago, deve apokt-se em tam porto, “ple 6xulo’, © este & haseado nas atvidades ttc bed Una regido s temenie, 0 tereeiro grande elemento de definicio da regiao mao reside em sev Inerior provém do exterior ov, existe como parle integrante de um conjunto, Conseqien- prefertncta,refere se nos seus vinculos com ‘exterior. F sua fungio no conjunto nacional, as vezes no internacional, em uns ‘economia global. Espaco limitado, a regio partieipa de um espago mais vaso, {etal se encootra dominada [40 mesmo tempo aber € integeada Tentemos aplicar esses critérios as cidades dos paises subdesen- volvidos. Nas cidades dos paises subdesenvolvidos, principalmente nas grandes cidades, a organizacio do espaco habitado, do espaco de circulagio, do espago funcional e das respeetivas articulagées esta intimamente inculada As caracteristcas das populagbes respectivas. Cada estratoda sociedade urbana tem um comportamento prdprio, muito especifco, especificidade que se transcreve no espaco de forma tanto mais clara ‘quanto maiores sejam as diferencas do nivel de vida. Volearemos a esse tema quando estudarmos 0 espago interno das cidades. [As cidades dos paises subdlesenvolvidos ~ desde a menor & mais importante ~ encontram sua definigio em relagio com os vinculos {que mantém com o exterior. As relagdes comandadas pela cidade em sua dea de influéncia so, em grande parte, dependentes da nature- 2a, da extensio, da importancia ¢ da intensidade dos vinculos acima invocados. O que nos permite falar de uma rede urbana mundial, e iio apenas de cidades mundiais, é o fato de que a cidade participa de um espaco mais amplo, de dimensSes mundiais. Por esta razio lhe “escapa sempre [..] 0 poder financeiro e politico, isto 6, a eapacidade superior de decisio”, que esta “deslocalizada”, como na proposta por B. Kayser para a regio. wracterizagio : ioe pore Assim, segundo a citagao de P. Carrére'*, que Kayser reproduz: “A Fegiio (leia-se a cidade dos paises subdesenvolvidos) nada mais é que © instrumento ou o marco da dominagao”. A nogio da cidade-regido pie em discussio 0 proprio conceito da regio. O esforgo de aproximagio a partir de uma nogio de regiio escrupulosamente elaborada fem, mais provavelmente, um valor me todologico. F importante assinalé-lo quando a nogio classica de regio omega a ser discutida por virios especialistas da anélise chamada re- sional. De resto, B. Kayser, em sua definigao de regio, levou em conta ‘essa constatagio, na medica em que pde em relevo os fatores de origem externa responsiveis pela formagio e pela caracterizagio do espacoz Uma regio constitui sobre a terra um espago preciso, porém no el, inscrito em um dado quadro natural e que corresponde a trés caracteristicas essenciais: os vinculos existentes entre seus hahiantes, sta organizagao em torno de um centro dotado de certa autonomia © sua integragao funcional em uma economia global. Fla resulea de luma associagao de fatores ativos e passivos, de intensidades variveis, cuja dindmica propria da origem aos equilibrios internos e as suas Projecdes espaciais™. impossivel continuar sustentando o conccito de uma regio geo- srifica modelada pela interago entre um grupo humano e um espago dado, Talvezseja melhor falar simplesmente de sirbespacos geogrificos. Mas as palavras terminam sempre por adquirir uma forca proptia, ¢ € totalmente comprcensivel que seja dificil abandonar um vocébulo enraizado a tal ponto que muitos ainda consideram a regio como o uadro especitico de estudo dos gedgeatos. 18.1 Carrie, citado por B. Kayser em P. George eal, La Géographie active op, cit 306, 19. B. Kayser “La eégion comme objet d'tude, mm. George etal, La Géognapbie ative, op. ct IL Cipapes Preparorias ou IMputsoras? ecordemos a severa opinizo formulada por Y. Lacoste a res- Ree da cidade nos paises subdesenvolvidos: “um polo de subdesenvolvimento”. Ele a explicita da seguinte maneira: 1. As cidades nao sio pélos de desenvolvimento, uma ver que do tém mais que “um tamanho irrisério em relacio a amplitude € 4 complexidade dos pélos de desenvolvimento existentes nos paises desenvolvidos” - Exercem sobre seus arredores importantes efeitos de recessio, “constituindo-se no foco de difusto das melhorias sanitérias, que provocam a baixa da mortalidade e determinam 0 desencadear do crescimento demogrifico”. Apés anzilise, pode-se chegar facilmente a um acordo sobre 0 Primeiro ponto: as cidades, inclusive as de grande tamanho, ndo influéncias compardveis as dos paises exercem sobre sua regi desenvolvides. Por outro lado, é certo que a *civilizagio urbana” ocasiona uma difusio da higiene que nfo é acompanhada por um decréscimo das taxas de fecundidade. Mas, se 0 progresso econdmi- 0 “nao se difunde”, a culpa nao cabe as cidades, e sim ao sistema i Sigs Yosser me socioecondmico que as criou. Quanto 2 acusacHo, que recai sobre las, de bloquear 0 progresso rural, a questio merece ser analisa- da com atengio, para que seja possivel tentar a realizagao de um balango; o conhecimento do fendmeno é ainda muito rudimentar, porém alguns estudos, como os que, a respeito destas questdcs, si0 realizados na Africa sob o patrocinio da Orstom, poderao ajudar a preencher essa lacuna, 11.1, © Cramapo Parasttisao URBANO Segundo alguns autores, o “parasitismo” é exercido em diferentes sentidos, porém sempre em detrimento do campo. Estudando os di: ferentes aspectos do fendmeno, veremos se essa afirmacio € suscetivel de softer modificagées. 4. Aspectos demograficos Quantitativamente, a cidade quase sempre exerce uma forte absorgio demografica sobre 0 meio que a circunda, Essa absorgio pode constituirse em um fator negativo se 0 campo jé se encontra despovoado. Isso sera tanto mais verdadeiro se as pessoas mais em- preendedoras forem as que procuram as cidades; os jovens partem primeizo, enquanto a populagao rural envelheces assiste-se, assim, a0 despovoamento de amplas areas, como na Africa Central, por exem- plo', Assim, a cidade de Pointe-Noire atinge cem mil habitantes, a0 paso que sua regido, em um raio de 150 km, 6 rem 45 mil Inversamente, pode-se supor que, nas dreas rurais superpovoadas, 6 éxodo rural ocasiona um alivio da pressio demografica; mas isso 1. Vere, Sauter, De Atlantique a le Cong, ue graphic de sos veo Pats, imprimerie National, 1966, 2 vols, 1103 pe dversos artigos de ML. Vennetier tos Cahiers dontreser. IM. Venneticr, Pointe-Noire et la facade maritine du Congo-Brazzaville, Pats, Orstom, 1968, significa esquecer que a nogio de pressao é muito relativa: o Paquis- to oriental (hoje Bangladesh, no delta do Ganges), uma das zonas mais densamente povoadas do mundo, conheceu apenas um éxodo rural muito fraco entre 1931 € 1951, passando a populagéo urbana ,no referido periodo, de 2,7 a 4,4% da populacdo total’. O campo “subpovoado” conserva um grau de coesio rural muito maior Além do mais, grande niimero de cidades dos paises subdesen: volvidos nao tem capacidade para absorver uma alta proporgio de imigrantes rurais. Collin-Delavaud! calculou que, nos tiltimos vinte anos, as cidades da costa norte do Peru s6 haviam absorvido 13% do excedente demogréfico rural. Por iltimo, convém relembrar que, contrariamente ao que se costu- mma pensar, a drea de recrutamento macigo freqiientemente permanece restrita: em Recife, 60% dos imigrantes procedem da Zona da Mata (zona costeira}; em Salvador, 75,5% provém do Recéncavo (regio natural de cerca de 100 km de raio); na regio de Madras, 90% fixam- se na cidade da qual depende seu lugar de origem. , Aspectos financeitos De um lado, a cidade & a residéncia — a0 menos temporaria ~ do grande proprietario, que ai gasta grande parte das rendas obtidas da terra: 0 fendmeno é to antigo quanto a propria civilizacdo urbana. De outro lado, por meio de suas companhias comerciais, dle suas instituigdes banedrias, da organizagio fiscal que nela tem sua sede, a Cidade realiza uma transferéncia colesiva da poupanga. Ainda que se trate de uma poupanga limitada, pois a difusto da economia monetiti ‘no campo superou, hi certo tempo, grande parte dos mecanismos que até entio podiam ser encontrados, por exemplo, africanos. Nestes, ocitadino comprador de produtos rurais chega pela certos mercadas 3. N. Ahmad, Au Economie Geography of Fat Pakistan, London, Oxford University Press, 1958. 4. C. Collin Delavand, “La cdte nord da Péou 3 la recherche dune mectop Avalos de Géograpbie, (103}:304-317, mai juin 1965 (Pacis) eA 2 soon manha com uma importancia em dinheiro, que ele recupera integral- mente & tarde, depois de haver vendido ao rural produtos da cidade, sem que fosse possivel haver a menor capicalizacao rural. Geralmente, 195 lucros dos comerciantes de produtos alimenticios nao sio excess ‘vos; sendo eles, porém, 0s tinicos detentores de dinheiro em espécie, desempenham freqientemente 0 papel de agiosa e dat obrém lueros enormes, como na As Balangos bancérios, como o que pode elaborar Collin-Delavaud para 0 norte do Peru, mostram que os depdsitos médios (141 milhdes de soles) sio amplamente superiores aos dos empréstimos médios (96 milhdes de soles): por meio de suas sucursais bancérias, a cidade absorve, em proveito de suas atividades, a poupanca rural. Por sit mo, 2 exagit fiscal contribui para a drenagem da poupanca rural; ‘em uum pais como a China dos prineipios do século xx, ela aleancava enormes proporgdes devido as sobretaxas ¢ & pritica do recebimento antecipado do imposto (em 1933, em Sechuan, eram cobrados os impostos de 1971) \cipalmente, porém, quando se trata de fundos obtidos das produgdes minerais ou agricolas especulativas, uma determinada porcentagem da producao e da comercializacao escapa ao controle r= bano: “deve ser muito elevada nas regides de grandes plantagies e nos paises pequenos”, As grandes companhias coloniais ~ a United Fruit nna América Central, os plantadores de Hevea no sudeste da Asia portam seus lucros prescindindo das cidades do pais. Existem também casos de curto-circuiro em sentido inverso, no nivel da distribuicio: assim, os camponeses mais privilegiados do Congo compram, através S.J. Delvert, Le Paysan cambodgion, Pais, Imprimerie Nationale, 1961, 747 p & €.Collin-Delavaud, op ct p. 77. 7. Bianco, Les Origine de la vévolution chinoise, 1915-1949, Psi, Gallimard 1967, pp. 17255. 8. Ni Lacroiy eM. Rochefore, “Intérer de Pére des relations entre le villes ct les ceampagnes dans es pays en ve de développement (document préliminaie)”, Bile lenin de Liison, Setonces Hamaines, 1, 1965, 31 p, (Orstoms disso intern} de catilogos, produtos franceses, que recebem diretamente’; 4% da rena anual da cidade de Kinkala sao exportados dessa maneira, sem vantagem nenhuma para o pats [Nao se pode negar a existéncia de um certo parasitismo, mas, na ‘medida em que as trocas cidade-regiao so desequilibradas em bene- ficio da cidade, é preciso no esquecer que peso relativo do campo za economia nacional desses paises esta em constante diminuigao. (Outros fatores que levama esse aparente “parasitismo” encontram-s¢ na freqtiente astenia das relagdes “cidade-regiio”, assim como no fato de que certas cidades experimentam um desenvolvimento autinomo, apoiado em capitais estranhos a regio. Ascidades s2o, portanto, menos predadoras do que freqiientemente se pensa. Mas ser que elas desempenham um papel impulsor? 11.2. Ex que Mapiwa as Capapus Sxo ov Tea CaPscipape be Torwan-st IMPULSORAS? ‘Também neste sentido, numerosas analises conduzem a minimiza- gio da influéncia efetiva da cidade. No plano financeivo, quando se pensa em grandes inversies, do tipo da barragem de Assua, é evidente que 0 capital urbano 96 de- sempenha um infimo papel. A parte principal das somas necessarias € constituida pelos créditos externos a regio €4 cidade, 0 que contribui ppara acentuar mais fortemente a desintegragao regional ¢, mesmo, 3s ‘vezes, nacional (0 break-off da China, exemplo da repartigio em areas de influéncia, ou a secessio nigeriana). Por outro lado, a explotacio, pela China, das potencialidades do “investimento-trabalho” para realizagdes de média importincia (tcabathos de irrigagao, por exemplo) oferece um exemplo original e vitorioso de integracio regional vinculada a tentativas, As vezes sem 9. A. Auger Kinala comtrnrbain secondaire ets ie de elation, Brazzil, Orstom, 1965, p155. i ; & exit, de descentralizagio econdmica em pequuena escala (a experiéneia das comunas populares) Nas economias subdesenvolvidas (liberais}, ao contrario, o capital urbano é destinado mais As especulagdes a curto prazo que a inversdes industriais ou agricolas a médio ou longo prazos" Nao obstante, existe, em certos casos, um circuito de retorno: na Africa tropical, por exemplo, cle é constituido pela poupanga dos trabathadores urbanos que é enviada As suas familias nas respectivas regides de origems geralmente tais somas so dedicadas & compra de terras, Em Kinkala", desenvolve-se uma colonizagio agréria por ini-

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