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A Fortaleza em 1810 POR J. BRIGIDO. ! Planta da cidade. Primeivos: edificios. Ru jueiro, Pleito, Agougue, Aldeiota. Prime! Mudancas dos indios. Marinha. lo Ca- Breve estardo perdidos, paraa chronica da cidade da Fortaleza, dados importantes, que se encontrao nos livros do antigo senado da camara, sobre o seo desen- volvimento e progresso. O modo, por que se fordo pro- jectando as suas ruas a configuragdo, que a povoacdo teve primitivamente ou foi adquirindo, e as modificagoes que foi soffrendc, séo curiosidades, que interessio aos que costumdo julgar da actuatidade pelo que foi o pas. sado, aos que desejao saber que causas induziréo a er- ros ora reconhecidos. Além da ma lettra, com que esto langados os as- sentos do senado da Fortaleza, ja agora bem dificeis de decifrar, e da tinta, que vae cedendo 4 accdv do tempo, a pessima conservagdo dos papeis nos archivos da pro- viucia eo despreso, em que geralmente se tem os livros de catadura feia, concorrem para que dentro em pou- cos annos nao reste cousa alguma dessas antigualhas e para que se ignorem as origens desta aprazivel cidade, destinada a ser uma das mais populosas do norte do Brazil. 84 DO INSTITUTO DO CEARA Ha questdes mesmo, que ficaréo sem uma solucdo. Tem-se pretendido, por exemplo, que a forma correcta da Fortaleza veio de um plano que fez adoptar 9 finado Antonio Rodrigues Ferreira, um dos mais zelosos pre- sidentes da camara municipal. Da leitura das actas da velha corporagdo se vé que © grande servigo prestado por elle, como presidente da camara municipal algumas vezes, consistio no empenho, com que fez observar 9 plano da cidade, quando qual- quer desvio o podia comprometter; mas que este plano. foi obra do tenente coronel de engenheiros, Antonio José da Silva Paulet, ajudante de ordens do Governador Sam paio, isto ha quasi 100 annos. Para salvar do esquecimento estes factos, faremos 0 transumpto do que se encontra nos livros alludidos e outros documentos, e bem assim do que a tradigdo conserva ¢ nos foi attestado por testemunhas occulares. Os edificios mais antigos da Fortaleza sdo o—quar- tel e fortim de Nossa Senhora d’ Assumpeao, no local em que os hollandezes projectardéo uma fortaleza, de que nos. falla Candido Mendes, e que teve o nome de Schoonen,, borch, em honra do entao governador hollandez de P. nambuco. Desta fortificagdo, que ndo chegou a realisar-se; possue o auctor uma planta mui curiosa com indicagdes do lugar do desembarque dos hollandezes em Mucuripe e outras até Maranguape e Villa Velha. Este fortim dominava a barra do rio, que elles cha- mavao Marajaitiba ou antes Matias de Palmeiras, por isto que o planalte que ficava a margem direita do regato era povoado de Catolezeiros Fsse regato se encontra tambem, pelos tempos adiante, com os nomes de fpojuca, Tetha_e ultimamente Pagehii, Sobre topographia esse documento graphico de 1649, nao fallando de outro de 1637 referente a barra Siard, € o maios curioso da nossa historia. O croquis indicado da o alinkhamento da nossa costa desde 9 cabo Mucuriba (Mucurive, Mucuripe} até a barra daquelle rio (ltarema), casa do indio chefe Caraja. Projectando-se para o sul indica as paragens seguintes : REVISTA TRIMENSAL 85 1~Aqui chegamos primeiramente com as nossas embarcagdes e ancoramos na bahia Mucuriba. 2—Visitamos este lugar para desembarcar a nossa gente mas 0 ndo achamos capaz por causa da arreben- tacdo. 3-—-Aportamos aqui com as pequenas embarcagées. (Porto de Fortaleza, ao sul do arrecife). 4—Isto é um porto capaz para barcos. 5—Aqui se achavam os indios quando desembarcd- mos. 6—Aqui fizemos © nosso quartel sobre o monte Marajaik. (Onde agora estdo o quartel e passeio publico). 7--Ribeiro chamado Marajaitiba (Matta de Pal- meiras). 8—Forte Schoonenborch. g—Armazem. 1a—Caminho para o monte Itarema. it--Ribeiro chamado Tipoig. 12—Rio Cearé (Itarema). 13—Velho forte chamado S. Bastiao {barra do Ita- rema) 14—-Casa do velho Caraja (chefo indio). i5—Casa de Francisco Aragiba (indio chefe}. 16—-Ribeiro chamado Igaté (Pict ?). 17-—Ribeiro chamado Piraocai (Pirocaia). t8—Caminho que vae para o Ceara. ig—Pequena lagda chamada Imboena Ponga (Po- rangaba), 20--A lagoa grande chamada Monduig (Mondubimi. 21—Rio chamado Itapeba (Siqueira). 22--Caminho para aldeia chamada Pirapedoba, 23—-Ribeiro chamado Itarema igesab, 24—Quartel do Commissario Hendrick Van Ham (em Ttaquara). a 25—Aqui os mineiros comegaram e d’ahi tiraram mineral junto ao monte Itarema (serra de Maranguape). 26—Rogas de Mandioca e milho. . 27—Pequena fenda onde os mineiros disseram exis- tir mineral. . bo INSTITUTO DO CEARA 28—Isto é a grande fenda (boqueirio de Itaquara). 29—Isto @ 0 monte chamado Itarema (serra de Ma- ranguape), 30—Isto é 0 monte chamado Maragoa (Maranguape), Nesse fortim residia 0 commandante do presidio, que “em comego foi a unica autoridade nesta regiao. Havia ahi uma capella, que foi reconstruida, como tudo mais, no fim do seculo passado, pelo padre José Rodrigues, residente na Soledade (Soure), que tudo offe- Teceo ao rei sem retribuigio. Havia a um lado, uma laranjcira, objecto de venera- ¢do publica, 4 qual punhdo uma sentinella e chamavao de—S. Gongalo, Pela fachada de léste, as aguas do mar chegav4o até onde agora se acha o sobradinho n.° 29, que foi de Ber- nardino Pacheco, sendo aii que se faziéo os desembar ques e desembarcardo os hollandezes em 1949. As aguas do oceano lambido as encostas do pla- nalto hoje do Outeiro, abaixo do qual agera se encontra todo bairro da praia, Em 1817,as marés ainda chegavdo até o sobradinho indicado, Existia alli uma casinha, com uma bonita caja- zeira, junto a ponte de madeira que havia no lugar ora chamado Chafariz, em consequencia de ter alli existido um, comecado em fevereiro de 1813 e concluido em se tembro desse anno No sitio accupado até pouco tempo pela casa em tuinas do Sr. Guilherme Miranda, agora n.° da rua Senna Madureira, em frente ao muro do palacio do governo, havia um cajueiro, tambem celebre, que servia de agou- gue da villa. E’ delle que procede o nome da rua, cuja ex tremidade occidental vae ter 4 praga do Ferreira, rua que foi em comego estrada para Arronches. O almotacé da villa mandou derribar esta arvore. Oppondo embargos o capitao mér Antonio José Moreira Gomes, allegando ser ella o morador mais antigo da po- voacao, seguio-se uma demanda que deu occasido 4 Rela- gao da Bahia mandar conservar o venerando cajueiro, que assim veio a morrer de velho. Do ponto dessé cajueiro transferio-se a venda da carne para o local occupado agora pela casa da finada me do Dr. Paulino N. Borges da Fonseca, n.° 20, na ex- tremidade norte da rua Boa Vista, ora Floriano Peixoto. Foi este agougue a origem da edificagéo que se fez na alaem frente, desde antes de 1810. O matadouro trans- ferio-se para o local onde existia o sobrado de José Maria Eustachio Vieira, antigo caixeiro de Moreira, edificio que passou ao dominio do commendador Luiz Ribeito e acha-se agora transformado em—Palacio Guarany. A edificagdo que se seguio immediatamente depois da do quartel, residencia do commandante do presidio, foi a de Aldeiota, povoagao de indios no sitio conhecido por este nome, nas immediagdes de Pajehii. Mais tarde os adventicios, portuguezes e mestigos, comecardo a editicar pequenas casas de barro e telha, ou choupanas de carna- hubas, 4 margem direita e esquerda do regato Ipojuca. Na curva, gue faz este ribeiro, os indios collocaram sua igreja, precisamente no terreno onde agora estd a cathedral, Este velho templo, para onde fordo transferidas as imagens existentes em uma capella da barra do Ceara, Villa Velha ou Mathias Pacheco, foi demolido no comego do secculo XIX pelo vigario Antonio José Moreira, Con- rado, em 1825, the trou patie das madeiras para fazer © pontilhao do fugar Chatarig; outros Ihe tirarde o res- tante para a igreja do Rosario. Quando os indios se passaram de Villa Velha para o seo novo domicilio de Aldetota, conduziram nos hombros o pelourinho, que era n’aquelle tempo uma decoragdo das villas, sindo o signal de cathegoria do povoado e collocaram-n'o a 50 passos ao lado da egreja. E’ tambem muito antiga a ermida do Rosario e ao lado desta a casa que servia de Pagos do concelho e acha se agora convertida em palacio da presidencia, por troca com o senado da camara em 3 de Janeiro de 1809 por outro predio com terrago olhando para a ala orien- tal da rua ora Senna Madureira; nelle residiréo os go- vernadores terceiros, pois que os segundos moraram n’um _8s __ bo INSTITUTO DO CEARA Pequeno sobrado de madeira em ftente a igreja actual da Sé ¢ os primeiros, no quartel do Marajatk; na troca voltou a fazenda real a quantia de 1:368$668 réis. Esta casa, ora palacio do governo, consistia primeiro do lango que fica do lado da ermida. Desde 0 fim do seculo passado ja existia, mais ou menos, casas de taipa, a dla oriental da rua dos Merca- dores, hoje Conde d'Eu, a qual se extendia desde o pre- dio na extremidade norte n.» 45, até o sitio de D. Anna da Costa, depois conhecido por sitio do Gouveia. Em seguimente estava o sitio Marinhas, na visinhanga da la- goa denominada outr’ora~-Garrote, actualmente Parque da Liberdade. . Essa denominagdo —Marinhas suggere uma idéa: Este sitio foi outr’ora occupado pelo mar? contestavelmente e bem assim todo valle do Pagehi_e por elle até mui longe, as terras superiores. Os vestigios sdo os mais evidentes, Si na épocha, a que hos referimcs ja the nau cabia a denominacdo, é forga admittir que esta lhe vinha do tempo em que comecgou a ser frequentado Este sitio entrou na sesmaria concedida no Ceara. Felippe Coelho, como descobridor das. terras que ficavdo nas Immediagoes da Fortaleza, a obteve em 1663. Com 0 levantamento do sélo e a consequente afas- tamento do oceano, que se observa no Ceara, Marinhas, ha 249 annos, deve ter sido effectivamente marinhas. Nao € lugar aqui para mais longos desenvolvimentos desta questdo. Constituia um suburbio da villa o engenho de Ber nardo José Teixeira, no sitio justamente onde se fez o agude da provincia, Era este um lugar de distraccao e passeio da gente béa da terra Deste homem conserva a tradicdo uma triste memo tia. Refere se que teudo perdido uma demanda, que sus- fehtara com a administragéc de S. José, por extremas de sua terra, recorrera para a ultima mstancia (Relagao da Bahia} e achava-se em Lisboa, quando soube que tinhy tido confirmagdo a sentenga proferida em favor do Santo REVISTA TRIMENSAL 89 patriarcha. Tomado de remorsos, se suicidou. Consagra ainda a supersticéo’a memoria de outro castigo tremendo, em consequencia da sacrilega demanda. O official de justiga que citou o santo, conhecido por Pedro Mentira, morreo de lepra em razéo deste enorme peccado! O que, porem, se encontra nos documentos é que Bernardo Teixeira era um homem civilisado, boticarig e pessoa de estima da villa Figuradas as cousas mais antigas, vamos dar uma jdéa total do que foj'a villa da Fortaleza, no periodo do governo de Luiz Barba Alardo de Menezes, o qual co- meca em 21 de Janeiro de 1803 € termina em 19 de marco de 1812. : Para a parte superior da cidade, temos consultado os antigas, livros do senado, e para o bairro da praia, abaixo das barrancas, a planta levantada pelo capitao de fragata Giraldes da armada portugueza, de ordem deste gover- nador . Acerca de uma e de outra, temos recolhido as tra- digdes mais criteriosas e ouvimos, na mocidade, alguns contemporaneos, j4 mui raros. Barba Alardo. Fortins, -Ineremento da povoagao. Commercio divecto. Fabricas. Populagao. O governador Barba Alardo ndo sé levantou a pri- meira carta da provincia, que se conhece, depois das plantas da barra do Ceara feitas pelos hollandezes, e cunservadas por Barleus, no seo precioso livre sobre o governo Nassau, como mandou estudar o porto da villa da Fortaleza pelo capitéo de fragata Francisco Antonio Marques Giraldes, que tirou a planta delle, alias a per- spectiva da povoagdo, olhada do mar. Este trabalho foi mais tarde repetido pelo governador Sampaio ¢ existe no archivo militar do Rie de Janeiro, para onde foi remettido, 50 DO INSTITUTO DO CBARA Do. importante documento de Giraldes, existente na- quelle archivo, nos extrahio uma'copia o distincto ccarense. capitéo Antonio Americo. A elle devemos a exactiddo com que estamos habilitados a figurar a cidade de ens tdo, na sua parte maritima , Trataremos desta primeira parte, depois da superior, que demora na barranca fronteita ao mar. . Em: Mucuripe, existia no pequeno promontorio, face occidéntal, extremidade norte, um fortiin que servia de vigia, Seguido-se a este, os fortes de S. Jodo “do Principe, Carlota e Bernardes, ou como dizem.outros, S. Bernardo. Ao lado do forte Carlota, para o nascente, havia . uma-casa construida de pedra, que servia de quartel, ¢ ao lado desta uma menor gue fazia de appendice, ser- ‘ vindo para paiol de polvora Alem destas, nenhuma edi- ticagdo mais se encontrava nv pequeno promontorio. O quartel de Mucurive, mandado edificar eth 27 de maio de 1801 pela junta de fazenda, e concluido em 6 de setembro de 1802, custou 5455903 réis; 0 que ndo era mui pouco naqaella épgcha. Completavao o systema + de fortificagdes da costa, que a erdo bem frageis, pois que parte dos reductos ou “rtins era de madeira, Outros pequenos reductus para o prente, os quaes indi- caremos, . No extreme de Mucuripe beira d'agua encontra- vase um frondoso joaseiro do qual ficou memoria por ter sido muito tempo o abrigo eo ponto de reanido dos pescadores. Todo promontorio estava arborisado e na cncesta do poente existia uma fonte d'agua potavel, que as areias ja soterraram. Na enseada, em que se acha actualmente a povoa- do chamada de Muacuripe,, encontrava-se uma unica ha- _ bitagao, com uma forta no oitéo e duas pequenas ja- nellas na frente . A praia era despovoada d’ahi por diante na dire- egdo da villa, apenas se encontrando, na barranca ao norte antes de confrontar com o recife, seis easas de alha em aliuhamento e trez outras dispersas na baixa. ava se a esta regiéo 0 nome de Prainka, Ao norte destas résiden- REVISTA TRIMENSL OL cias ficava uma ponte de desembarque, ao lado desta um pequeno reducto, construido de madeira, cheios os vaos de areia, um verdadeiro entrincheiramento corn duas ‘pecas de pequeno, calibre. Para se ter um idéa exacta desta regido, figure-se que nao existit a esse tempo os morros. que hoje ob- struem o sitio conhecido por Papi; que a barranca, sobre que esta situada a ermida da Prainka, corria livremente para o sul;-que finalmente erdo verdadeiros salgados os terrenas em que foi gdificada a alfandega actualmente em ruinas e as ruas que lhe correm pelo fundo e pelo lado do mar. : . ' Ainda na primeira administragdo do senador Alencar, © ehgenheiro francez J. F. Seraine fazia aterramentos nessa regido. Pois bem; precisamente onde esta agora 0 predio do conselheiro Araripe, n.¢1 da rua do Chafariz, existia uma casa que se chamava da Prensa, mais. ou metlds, onde se fez mais tarde a Alfandega primitiva: servida pelo trapiche indicado. . Este trapiche era em frente a casa que edificou o inglez Ellery, n° 15 da rua da Alfandega. Atraz della collocou-se um morro onde foi mar navegado por suma- cas que demandavdo o trapiche da Carreira do sul. Na barrancay um .pouco ao sul do alinhamento do actual seminario, havia duas casas, uma dellas de appa- rencia soffrivel. . Logo abaixo da casa de, Prensa hravia outra para recolher alvarengas e a estes dois predios reduzido-sé os que servido para o trafego do porto. Em conclusdo, formavdo a vista do mar, desde a ponta do Mucuripe, casas pequenas e.choupanas na praia @ sobre as dunas em numero. total de 37, sendo a ulti-* ma o pequeno paiol da polvora, na extremidade norte, local hoje occupado pur um angulo do Passeio Publico. © fortim da cidade estava na eminertcia ao. lado do quartel. > . A elle é que succedeo a fortaleza actual, da qual ja, cogitava Barba Alardo recolhendo os donativos do cos- 92 50_INSTITUTO DO CEARA tume. O capitio mér dos Inhamuns, José Alves Feitosa subscreveo para ella, na sua administragdo, 7oo$000, acto de generosidade que Ihe valeo o habito de Christo. Esta obra foi mandada comécar no governo de Sam paio, erm 12 de outubro de 1812 e concluio se em 7 de agosto de 1822, sempre com donativas, que sé em dinheiro prefiserao a somma de 16:103$267 réis. No periodo de, sua edificacdo, as aguas lambido a face que fica para o mar. - . ‘Viviéo ainda’na nossa mocidade, nesta cidade, pes. sdas que presenciaram os trabalhos. Foj justamente no tempo de Luiz Barba Alardo, que © bairro maritimo da villa comegow a ter algum incre mento, pois que foi elle o creador do commercio directo da capitania, até entao reduzida a permutas com Per- nambuco. Ja pelo alvara de 17 de Janeiro de 1799, separan- do o governo do Ceara do de Pernambuco, se lhe tinha permittido fazer commercio dirécto com Portugal. Em_ 1809 conseguio este governador que negocian- tes da villa mandassem o primeiro navio a Londres, com productos da terra e atnostras de algodao. Foi a galera—Dous amigos, 4 qual seguirdo-se outros: navios, Elle deu todo impulso ao plantio do algoddo e man- dou ao governo amostras de tucum e¢ croald, suppondo poder tornal-os artigos de exportagao. Em maio de 1811, estabeleceu-se na Fortaleza a_pri- meira casa estrangeira de commercio directo, sendo seo fundador 0 irlandez William Wara, que veio para isto no bergantim inglez Sophia e Berthse. © algodao exportado no seo tempo reguiava de 16 -a17 mil arrobas por anno. Barba Alardo fundou na Fortaleza uma fabrica de louga vidrada (no Outeiro), e conseguio productos tao bons, diaia elle ao conde de Linhares em officio de 34 de agosto de 1809, como os da Bahia. Hoje, porem, nao se conhece o lugar onde essa fabrica existio. Natural. mente succumpbio 4 falta de consumidores; pois que a po- REVISTA TRIMENSAL 93 pulagdo da provincia apenas de 150 mil almas, como elle calculava, , estava grandemente dispersa pelos sertdes, que nao se communicav4o com a Fortaleza mas fazido «seo commercio exclusivamente pelo porto do Aracaty. A populagao da villa da Fortaleza, dizia 0 governa- ‘dor Barba Alardo, em uma memoria dirigida ac rei em 18 de agosto de 1814, ndo excedia de 3.000 habitantes. Assegura, porem, o viajante inglez Henri Koster, que esteve na Fortaleza de 16 de dezembro de 1810 a 8 de janeiro de 1811, que tanto quanto elle podia julgar ella nao excedia de 1.200 habitantes. / Este viajante da o embarque ¢ desembarque neste porto sendo feito como aré muito ‘depois, isto 6, na-ca- beca de trabalhadores que entravdo-pelas ondas! No anno de 1810 sahirdo do porto da Fortaleza: Com destino a Pernambuco—sumacas Triumpho do mar, Galedo, Athlante, S. Romao e Thiumpho. Com destino a Inglaterra ~ Brigue Gavedo, escuna Li geira, dita Flor de Maio, galera Alardo de Menezes. Esta ultima foi tomada no Canal por dois corsarios francezes de Dieppe . Todas elles carregaram 3.385 saccos de algoddo com - 11,271 arrobas. : M1 Disposigoes de solo. Valle do Pageht. Garvote e Lagoinha. Planaltes. Extineto lagamar. Wartim Soares. Antes de darmos uma idéa do que foi, em 1810, a villa de Fortaleza, na sua parte superior e no tocante a se0s arruamentos, ndo sera féra de proposito fallar da dis- posigéo dos terrenos ou da conformagdo do solo, que ella comegava a occupar ¢ velo a abranger annos depois, ad- guirindo uma frente de quasi 2 kilometros, com fundo igual, ndo incluindo as irtadiagdes ou transbordamentos, na, direcgdo de Mucuripe, Cocé, Mecejana, Patha, Serri- nha, Arronches e Soure, cujas estradas estio ladeadas de habitagdes, ds vezes em alinhamento e continuidade. . O vento, que vinha de longe, na tareta de dard 94 DO INSTITUTO DO CEARA costa do Ceard a’ forma rectilinea, que um dia tomara, alinhando-se por elle, incumbio sé de aterrar os laga- mares do perimetro da futura cidade, langando sobre elles uma quantidade enorme de areias e fazendo.os per- der 9 seo primitivo caracter de martnhas. . A este poderoso instrumento das transformacées da” " , -terra deve a Fortaleza o assento, que lhe coube, A conformagao do solo, 20 comecar a povoacdo, era mais ou menos esta: Oribeiro do Pagehii dividia em duas zonas distin- ctas as terras immediatas 4 tortaleza de N.S. da Assum- P40: na margem direita, o planalto, conhecido por Oiteiry da Prainha;.ao lado opposto, terrenos ligeiramente acci- dentados, onde se acha agora a maxima parte da cidade. Estes erfo, 4 sua vez, divididos em outras duas. zo- fas, como mostraremos, O ribeiro Pagehii corria em uma baixada ou valle, que naturalmente inundava em suas grandes cheias, Este valle esta representado por toda largura da antiga rua Di- reita dos Mercadores, moderna Conde d’Eu. Na parte in- ferior, parallela ad ribeiro, edificou-se a ala oriental desta Tua e sobre a quebrada, que dava accesso para os terrenas da esquerda, a dla fronteira. . : Dao testemunbo disto a casa da Ribeira e os edificios contiguos, os quaes, aproveitando -a Tampa,.assobradardo na frente. : Dois tributarios do Pagehu cortavdo os terrenos da margem esquerda, dividindo-os em duas collinas ou lom- badas, que corriao no mesmo sentido, a saber: 0 corrego de Lagoinha eo do Garrote. . Destas duas lombadas, os pontos culmifantes erao : na do sul, o local em que existio o theatro Thaliense, hoje sobrado n.> 112 -da rua Formosa, actual Baréo do Rio Branco, na do-norte, a Posigdo occupada pelo hospital de Misericordia ¢ edificios, que alinh&o com aquelle, ~ Esta ultima eminencia, ao tempo em que o terreno da cidade estava a nu, se destacava tanto que o viajante inglez Koster diz que a fortaleza e paiol da- polvora. es- , tavdo situados sobre uma montanha deareia. ~ REVISTA, TRIMENSAL Acbaixada, corrego ou valle do norte, servindo de des- aguadouro de Lagoinka, indica que esta represa esteve em communicagao com o mar e fol mesmo uma dependen- cia delle. Hoje, esta quasi extinctae no local della se construio uma praga. . . As aguas de Lagoinha, aproveitando a ‘baixada, que as‘areias the deixavdo, escoavao-se por ella, atravessando,, na rua do Senador Pompeo, o terreno da casa do tele- grapho n.° 80; na rua Formosa, 0 do sobrado n%72; na tua da Palma, actual Major Facundo o do sobrado da Relagdo n." 28, Yahi, inclinando para léste, passavao no becco do Mercado e penetravao no ribeiro Pagehi, ao lado da- Notaimos que ainda em abril de1815, seguindo para Angola na sumaca S. José dois infelizes que ido cumprir pena de degredo, a camara, que pata viagem delles tinha feito despeza nao pequena com dois pares de grilhdes Ihes mandava dar i$260 réis para meio alqueire de farinha e um sacco, unica provisdo para to longa’ viagem! . A carne era vendida ao povo com preco taxado, que regulava fresca 960 por arroba, fazendo a camara effe- ctivo o-supprimento, ora por derramas; ora por contra. tos, 7 : A derrama era uma obrigagéo,. qute’ se impunha aos criadores de gado..de talhar carne no agougue exclusivo * 14 DO INSTITUTO DO CEARA da camara, a preco fixo, distribuindo-se por elles os dias do. anno. Todos os fazendeiros desde Cauhype até Canindé vinhéo obedecer 4 ordem do- senado; e que o ndo fizessem! Em abril de 1812, pouco depois da posse do go- vernador Sampaio, deo-se um conflicto por amor disto, que. tornou este governador irreconciliavel com 0 po- tentado da terra, sargeato-mér Antonio José Moreira Gomes. Tendo este sahido na derrama, excusou-se. della, : como ja fizera em julho de 1808, allegando e prevale- cendo-se de privilegios da éulla da santa cruzada; que dizia eximil-o; mas realmente, por despeito para com o juiz de fora Jusé da Cruz Ferreira, que tinha annullado um contracto firmado pela camara com um. amigo de Moreira, para talhar carne a 1$200 por arroba. Foi isto origem de uma divisdo na villa, e pela pri- meira vez se ouvio a palavra-—partido—que era quasi um motivo de devassa! . As pescarias e consumo do peixe, tudo estava re- gulado de uin modo vexatorio, ficando es pescadores reduzidos a uma condigdo quasi servil e prevalecendo sempre a lei do maximum, que passava por verdade eco- nomica n’aquellas éras. : Para transportar o leitor aquelles tempos, aqui trais- crevemos ‘alguns artigos das posturas de-26 de outubro de 18ii. 1° Que todos os . jangadeiros: serdo obrigados to dos os dias a ir pescar com suas jangadas’ ao mar e isto a horas competentes, salvo quando'o tempo for tal, que elles dé forga ndo: possio ir ao mar, debaixd das penas de 30 dias de cadeia, cada um dos jangadeéiros». «2.© Que, para execugdo deste. artigo primeiro, ele- “ gem e determinio que um dos jangadeiros de mais porte © capacidade seja cabg,.a:quem-tedos os outros janga- deiros respeitaro e obedecerdo, como official de -justica ficando este cabo obrigado a fazer sobreditos jangadeiros irem pescat ao. mar, assim ‘como pertence tauibem a este “ cabo decidir, si os ventes e os tempos so favoraveis ou REVISTA ~ TRIMENSAL uz SOLDOS Governador annualmente 1:6008, ajudante de ordem 2408. secretario. 240%, naturalista Feijé, em commissdo 712$, sargento-mér de milicias de marinha do Jaguaribe e Siard 312%, ajudante dito 144$, escrivao da vedoria de guerra 100§, alferes de milicias de marinha.. 30$700, sargento idem 19$200. Capitaéo de infantaria da guarnigéo mensalmente 19$700, tenente 11, alferes 10%, cirurgidu-mér 30$, ca- pelldo jo$, sargento 2$560, furriel 1$600, soldado 1$280, tambor 2$400. Alferes de milicia, mensalmente, 2$560, sargento 1 $600. . 1.0 Tenente commandante de artilharia, mensalmente, 15 $000, sargento 38600, furriel 3$000, cabo 1 $920, tam- bor-mér 2$400, soldado 1$600. SALARIOS O administrador da-obra do quartel-e fortaleza (te- nente Torres) tinha diariamente 1$o00, mestre de car- pinteiros 640, official idem 480, mestre pedreiro 400, servente 160, dito’ tirador. de madeiras 80 réis. Os estafetas tinhdo por viagem, ida e volta, para o Crato 6$000, Aracaty 2$500, Pernambuco 208, Icd ou Acaraht 4$, Misséo-velha 5$500, Serra dos Cécos ou Arneiroz 4$800, Inhamuns 5$800, Quixeramobim 3$400, - Monte-mér_1$750, Timonha 5$670 Entre nds, quem quizer-decifrar o passado, adqui- rindo nogdes da vida colonial, ndo se deve eximir de re- volver os archivos dos antigos senados. ° Em torno da autoridade edil encontrara a descoberto para serem estudadas, debaixg de muitos pontos de vista, as populagdes, que entravde para a vida civil, sahindo das selvas, e as que vinhdo de.longe aggregar-se a ellas pelo direito de conquista, fazendo valer sua superioridade de casta, e predominando pelo ascendente do seu adian- tamento moral. - : ee 2! U8 DO INSTITUTO DO CEARA Estudados ‘com paciencia, os archivos municipaes dao -perfeitamente para se reconstruir a sociedade de outr’ora. Nao faremos tanto, mas, referindo-nos aos factos que estéo ao nosso alcance pela leitura dos documen. , tos encontrades na camara da Fortaleza, tentaremos dar a feigdo d’aquelles tempos, no tocante’ 4s institaigoes e costumes, como temos queride fazer em relacao ao des- envolvimento materia! da colonia, . Educado pelo clero -na superstiggo € na-obediencia - passiva, sem nogdo alguma da vida exterior, em verda- deiro sequestro n'um canto desconhecido da terra, o povo do Ceara vivia n’uma vida abjecta e servil. O rei era um mitho eo seu delegado na capitania. participava do culto que lhe tributavdo. Nao tinha limites o terror, que infundia sua coléra e os homens se habituavio a uma continua prosternagao moral, Abaixo do governador estava o magistrado, vindo d’alem mar, para fazer fortuna expoliando os seus juris- diccionados, juiz meio raposa, meio lobo, com ares dé gran- de senhor. . Quem vivia em contacto com o povo erdo as suas camaras envolvidas em todas as cousas da cidade, com extensas attribuigoes em materia de politica, —~ Infelizmente, compostas de homens ignorantes e aco- bardados, nem sempre servido 4 bOa causa, que lhes estava confiada, suavisando o rigor das disposig6es odio- sas das ordenagdes e leis portuguezas. Cote O individuo desapparecia e o: trabalho era uma ou* torga das camaras ou. senados. f Nenhuma arte ou officio se podia exercer sem per- . missio, isto por largos annos. Ainda em sess4o de.8 de fevereiro de 1812 se accordava'que ninguem trabalhasse | . de-carpina, pedreiro,. sapateiro, ferreiro, alfaiate, marci- neiro, etc... sem licenga, pena de multa. Para obtel-a, 9g artistas fazido exame perante o respectivo juiz de officio. S6 em, dezembro de 1813 se [hes deixou liberdade inteira, continuando todavia, por muito tempo, as corporagées de officio. a . Em janeiro de 1815 ainda se nomeavao juizes e es- * crivdes dos officios de alfaiate, carpina, sapateiro © pe- dteir . . + - * A'S vezes a licenga para trabalhar era com tempo -limitado. Assim, em 1804, “concedeo-se uma a Josepha Maria de Jesus para trabalhar no seo tear e vender o y que fizesse! : wk * ciaes. Lutos. : . . A antiga Camara da Fortaleza tazia, em corporagio, - . @ correigao das lojas, vendas e acougyes, acompanhada de seo almotacé, Nos ‘registros de 1806 ‘encontra-se a nota infra, que ndo deixa de ter seo interesse para os que das cousas procurao deduzir os homens. : hee nesta-villa.da Fortaleza’ de Nossa Senhora da my Assumpgdo, capitania do Ceara grande, nas casas da ca- > mara, dellas sahiréo em correigéo. 0 juiz presidente e mais officiaes da camara e ‘cortendo todas as lojas, nao condemnando a pesséa alguma por se achar tudo cor- Tente,s6 se indo ao agougne a: vér € rever os. pesos achou-se o agougue indigno de’ que se “cortasse carne | nelle por se achar.o cépo e tarimba com uma grande porquidade ém cima da sanguéra’ da mesma carne e da 4 . mesma forma a casa cheia da mesma porgdidade, pare-_: des e chao, e. igualmente’ fazendo-se~ da cadeira em qué se assenta'o. Almontacé igualmente tarimba.de se bater . came em cima, qi achava muito porca-¥ por-estes mo-= . tivos o mesma seriado condemnou o dito centractador em ” 6$o00 réis para as despezas do senado». ‘et “ww. A, forma dos seus despachos’era 4s vezes insolenteé. ” A Jodo. Joaquim, que requeria nao'se sabe a que, despa. - chava_igdefzrindo---por ser falto de verdade. + ¥ i Competente ‘para obrigar a‘termo de bem vivet, fazia os’ pagientes subscreverem a%\ maiores ignominias. * » » .O professor regio da villa’ se indispoz com os ve readores, quasi todes poftuguezés, pot’ lhe’ terem’ recusa- Policia odil, Aposentadorias. Lavoura, Restas of— 120 DO INSTITUTO DO CEARA do attestado para receber seos vericimentos. A camara o fez assignar o termo seguinte : «Aos 27 do mez de novembro de 1802 em. vereagdo da camara e senado desta villa, mandou o presidente della e mais vereadores, pcr ordem dos Illustrissimos Senho- res goverhadores interinos desta capitania chamar a sua presenca o pardo Jodo da Silva Tavares, mestre de gram- matica latina desta- villa, para assignar termo na presenga . de todos de viver d’squi em diante com paz e quietagdo, * conforme as leis do reino e costumes, de que deve fazer profissio, E sendo vindo o -dito Jodu da Silva Tavares, pelo dito senado lhe foi dito, que para occorrer ao so- cego e tranquillidade publica perturbada pela lingua dif- famadora, libertinagem e pessimos costumes, movendo ainda delle Joao da Silva, Tayares o justo castigo que por elles. merecia, 0 advertido de ndo continuar mais no exer cicio de mexeriqueiro, enredador e perturbador do publico; magistrados e republicos, pondo fim a dissolugdo de sua vida e assignando termo de viver como bom vassallo de sua Alteza Real e bom visinho desta villa, sob pena, si o contrario praticar, de ser na conformidade da. lei exter- minado para os lugares de Africa, alem das mais. penas, com que os seos delictcs aggravassem a primeira; o que sendo ouvide pelo dito Jodo da Silva Tavares prometteo mudar de conducta debaixo da dita ‘pena e assignou com vu mesmo.senado este termo para a todo tempo constar da sua emenda ou recaleitragdo, conforme o disposto pelo regimento do mesmo senado e leis do reino» A esté ténmo seguio-se: uma longa contestagdo entre a camara -e 0 professor, que era de uma teimosia sem limites. A camara negou-lhe ainda attestados e elle aggra vou para o principe! Na ¢oncessdo deste recurso,-a camara assistida por Um assessor que tomou para a causa, prendeo o aggravan- te porque (diz o auto) estando:o termo. de aggravo ja'la- vrado ¢ em. meio 0 .mesmo professor entrou com palavras (mpetuosas e menos decentes ao respeito que “devia ao se- nadg, dizendo que dava de suspeito o escrivio; por dizer que o insultavéo com o tratamento de’ pardo, mostrando Ser arroganté e desobediente; e finalmente por ter.alteado . as vozes sem o respeito devido. Tavares andou muito tempo em brigas com os ve- readores, até que finalmente se conciliardo. Eraa muito usados, na ‘camara, os térmos .de bem ~ " iver. Em dezembro de 1805, ella fez assignar identico a Manoel José Ribeiro, Tambem conhecia do crime de injuria, ‘tomando um’ ‘assessor, a quem pagava de 640 a 1$600 réis- por cada conselho. Promovia a aposentadoria dos - magistrados, desi- gnando a casa que deviso tomar e fazendo-lhes a despesa que regulava $600 réis por mez! Qo celebre missionario frei Vidal teve igual favor, quan- do veio ao Cearé. Em dezembro de 1790 a- camara desi- ghou para.a. residenicia delle a casa do alfaiate Salvador, 4 tua do Quartel. Tratava da abertura e conservgad dos caminhos, @ obrigava os camponezes a plantar mandioca e' cereaes diversos, sob pena de multa-e cadeia. Uma postura de marco de 1803 impunha a cada - lavrador a Sbrigacdo de apresentar annualmente em ca- mara 30 cabegas de passaros de bico redondo. Esta per- seguicdo, que alias era feita por todas as camaras da ca; pitania aos papagaios, periquitos e maracands, deixa ver que o numero destes passaros era entéo maior que actu- almente. Promovia as manifestacdes de regosijo ou de pesar, graduando-as pela sensibilidade do governador, Em margo de 1812 por.oceasiao de nascér um _filho ao infante D. Pedro ‘Carlos, successo glorioso que lhe foi communicado em officio pelo governador, expedio editaes _ * para que a populagdo o festejasse com luminarias, trez noites consecutivas, Em abril de 1816, sendo-lhe egualmente communi- .cado o decreto, que deo ao Brazil o titulo de reino, em testemunko publico da reconhecida gratiddéo por tao -alta mercé, ordenou que em acgao de gragas se expuzesse 0 Santissimo Sacramento na matriz da villa no dia 12 de 122° -DO INSTITUTO DO CEARA maio e se offerecesse a Deus 0 sacrificio de uma missa can tada, em que se pedisse a conservacdo do principe re- gente e sua familia, devendo officiar trez padres, haver serméo e Te-Deum, presente a camara encorporada aos republicos. Os habitantes da villa tiverao que illuminar - suas Casas nos dias 1, 12 € 1}. Quando se lhe communicou a noticia da morte, de D. Maria (15 de junho de 1816), o seo sentiment, agora de pezar, nao foi menos vivo. Mandou que todo povo- da villa e districto vestisse lucto rigoroso por seis mezes e alliviado por seis, Attendendo a que a pobreza e¢ os e3- cravos no podiam satisfazer rigdrosamente este dever, permittio que os homens trouxessem nos chapeos e as mulheres na cabeca qualquer retalho preto. Os que se Tecusassem a este acto de piedade e demonstragdo de magua, teriam 30 dias de cadeia, cada vez que. fossem encontrados sem o distinctive! Nas andiencias geraes dos corregedores, solemnida- de a que comparecia todo mundo official, vinha a ca- mara em corparagdo ouvir os provimentos e advertencias do magistrado. Lavrava-se de tudo um termo, que era assignado por ella e pelos republicos, os respublicos, como se encontra nos manuscriptos do tempo. . Tem seo interesse o termo de uma dessas audiencias. Damos 0 excerpto do que traz a data de 6 de feve- reiro de 1808: +ssse.+ Primeiramente perguntou (0 ouvidor) de quem era esta villa e como se denominava. Responderdo que de sua Alteza Real o Principe re- gente, Nosso Senhor e que se denominava villa da For- taleza de Nossa Senhora da Assumpgdo. Perguntou se esta camara tinha Ordenacgoes com todos os seus livros, ‘Respondeo que sim, Perguntou mais, se esta camara tinha cofre para seus rendimentos ¢ da mesma forma de orphdos, cada um com suas trez chaves. Respondeo que sim. Perguntou mais, se nesta villa havia alguma_ pess6a . REVISTA TRIMENSAL + 123 poderosa ¢ revoltdsa, assim secular, como ecclesiastico, que perturbe a quietagdo do povo e execugdes da justica, Respondeo que nao. : Perguntou mais, se nesta camara havia alguma_pos- tura oU posturas, que carecessem dereformar ou accres« centar. . Respondeo que adiante requereriao, si fosse neces sario, etc. x Vigarios. Conflictes. Moreira, Elei¢ées. Ensino pu- blico. Sevicias e premios. : ° A-monotonia da vida colonial, sem embargo dos habitos de subordinagdo e respeito-da populagéo, que- brava-se pelos conflictos que se levantavéo nas regides officiaes, : Targini poz-se em divergencia com Bernardo Manoel ethe fez curtir muitos dissabores, combatendo, como chefe do servigo de fazenda, as despezas que elle ordenava, para que o naturalista Feijé explorasse as salitreiras do norte da provincia. O governador morreo pur esse tempo. Era um velho beato, que massava as autoridades com tiradas infindas‘em forma de ¢athecismo. . As escothas de vigarios para a freguezia sempre pro- duzido brigas, resistindo o occupante ao successor’ no- meado, tomando a camara partido por um e finalmente ‘intervindo 0 povo. Em 27 de julho de 1795, a camara, em consequen- cia de requizigéo do povo, dirigiu-se 4 autoridade eccle- siastica pedindo que ndo consentisse em ser restituido ao curato o padre Felix Saraiva Ledo, que tinha sido de: posto, mas o fizesse retirar da capitania. Nomeade, *to- davia, em agosto desse anno, a camara teve que oppor-se a isto, sem que podesse obstar a posse, que effectiva- mente. teve lugar em nove mbro, occasionando’ desordens. A camara 0 communicou ao principe e ao governador, de quem parece nao obteve satisfacdo. 124° DO INSTITUTO DO’ CEARA Era candidato da camara o antigo parocho da fre- guezia Antonio José Alves de Carvalho. . Em 1798, procurando prover-se no curate o padre Joao Francisco ‘Rodrigues da Costa, que para isto se diri- gio 4 Lisb6a, a camara ainda se declarou contra ellé. O nomeado foi outro de nome Luiz José, quando ella pedia a conservagio de Claudio Alves da Costa, entdo em exercicio, Em 1800, outro vigario foi nomeado—o padre José Felix de Moraes. Vindo tomar posse a camata the -escre- veo pedindo da parte de sua Alteza Real que se retirasse e ndo prejudicasse a paz e sucego em que vivia 0 povo com © seo parocho! A nomeagao finalmente do padre Antunio José Mo: teira péz fim a estes conflictos. Este parozho foi membro do primeiro governo provisorio e deputado A constituinte de Lisbéa. : Outra intriga, que dividio os animos, foi_a de Anto- nio José Moreira Gomes com o juiz de féra Cruz Ferrei- ra em consequencia da derrama e contracto de agougue, intriga, em que se envolveo Sampaio, a quem Moreira af frontou com sua soberba e altivez. . Este portuguez, o mais rico e influente da terra, foi capitao-mér de ordenangas do termo. ‘Era sargento-mér em 1801, quando vagou o lugar por fallecimento de Antonio de Castro Vianna. Appare- cendo a disputal-o, em camara, onde se devia fazer a pro- posta, foi apresentada em segundo Ingar, sendo em pri- meiro Gregorio Alves Pontes e em terceirp Ignacio Bar- Toso, O governador annullou a proposta, pelo facto de ter © povo tomado parte nella e se procedeo a uma outra em 20 de novembro de 1802, sahindo em primeiro lu- gar Gregorio Alves Pontes,—por ser da maior nobreza; Christandade ¢ desinteresse, mango, quieto e pacifico, € alem disso. morador na villa; segundo Ignacio Barroso de Souza, morador na_villa, cheio de probidade e de-honra; terceiro Jeronymo Fernandes Tabosa, homem quieto e des: * interessado, morador no termo, Foi nomeado o primeiro, mas por sua morte, em 1810, Moreira voltou a disputar o lugar, como da. maior importancia n’aquelles tempos. Apresentados, elle em primeiro lugar, Francisco’. Alves* Pontes, e Tabosa em segundo e terceira, 0 governador Barba Alardo o es- colheo, : , Foi Sampaio quem o derribou, fazendo cassar-Ihe a patente, a pretexto de ndo ter apresentado confirmacdo -em tempoe de se ter ausentado sem licenga. Nao lhe valeo ter enviado de Pernambuco sua carta de confirma- Gio € uma licenga e ter ido ao Rio de Janeiro solicitar reparacdo da injustiga de Sampaio. . Em 9 de maio de 1814,.a camara, depois de muita ‘hesitagio, fe uma proposta que o governador exigio “sendo em primeiro jugar Antonio. José da Silva Castro, valido do governador, que ambicionava o lugar; em ‘se- gundo Lourengo da Costa Dourado, -rico negociante ou: trara do Aracaty, onde jdtivera a mesma patente; em terceiro o sargento-mér José Agostinho Pinheiro. . Foi este Castro, instrumento do governador para a queda de Moreira, quem, ganhando a estima delle, fél-o proteger a-sua familia dando-lhe muitos empregos re- tribuidos, origem da sua fortuna -politica e comeco de vida publica, : . Os parentes ¢ adhérentes de Moreira, dessa epocha por diante, acharam-se em. constante divergencia com esta familia que-tanta prepondetancia veio adquirir na pro- vincia. © no . Moreira acabou 4s m4os de um escravo, em viagem para uma de suas fazendas, no sertéo de Canindé, em tB2t. .- . A prata, possuida pela Sé, foi presente delle. Era sogro do finado coronel José Antonio Machado, seo an- tigo guarda-livros, que se fez tao notavel, depois de 1824. Vamos accrescentar ao moss quadro uns tragos do ensino publico da Fortaleza, em 1810. . ., : Havia ent&o trez cadeiras mantidas pelo Estado. Era professor de latim o padre Jodo Rufo da Costa de Freitas, com joa$ooo réis- de vencimentos. Tinha sido nomeado 126 — DO ANSTITUTO DO CEARA para o Aquiraz em 1792, e foi removido para Fortaleza em 1810 para succeder a Jodo da Silva Tavares Occu- pava a cadeira de primeiras lettras do sexo masculino loaquim Bernardo de Mendonca Ribeiro com 808000 réis, nomeado pelo governador em setembro de 1808. Final- mente regia uma cadeira de meninas, criada por Barba Alardo, Maria Gertrudes Ferreira, Os primeiros mestres regios eram nomeados em Lis- béa pela Meza censoria, em nome do rei, que Ihes as- Signava a proviséo. De ordinario, a meza expedia ordem ao ouvidor, para fazel-os examinar e prover por um anno, enviando para Lisbéa o resultado do exame. Em vista deste, passava-se.titulo por seis annos. Os vencimentos erfo recebidos na junta de fazenda do Recife, pelo ren- dimento do subsidio jitterario ou das carnes verdes ou de ordem ‘desta na provedoria da fazenda do Cearé, pelo mesmo rendimento. Havia o ensino de latim e o de der ¢ contar. ° : Algum tempo esteve a cargo do bispo Azeredo Coi- tinho. a inspectoria dos estudos, no bispado de Pernam- buco, fazendo elle a nomeagdo de professores e erdo es tes pagos pelo cofre do seminario de Olinda. O ensino daquelles tempos se reseatia da cruelda de, que era peculiar aos homens de governo, e andava associada a todd idéa de mando. Os paes de familia cor- tigido seos filhos, seviciando-os a chicote; os mestres fazido outro tanto por delegagdo delles e consenso uni- versal. A escola inspirava horror aos rapazes e nao era de. balde. Além do castigo usual da palmatoria e outros, havia o que se chamava—tomar a cavallo. A's costas de um rapaz, posto de quatro pés, ligavao © paciente e¢ Ihe flagellavdo as nadegas com disciplina ou chicote! Erdo os effeitos da maxima um véga—Littere non intrant sine sanguine. Toda sorte de estimulo tinha por base a violencia € 0s maos tratos. Havia apostas e 0 premio do vencedor era bater o vencido! Fazido-se presentes aos discipulos, que se distinguiam REVISTA TRIMENSAL — 127 ‘em alguma couza e consistiam estes em um perddo de certa quantidade de palmatoadas, que de futuro thes viesse a: caber. Estes titulos erdo as vezes transferiveis ! Finalmente os mestres estabelecido o antagonismo entre os rapazes, dividiado-os em 7ro/a é Grecia e os dois partidos se palmatoavdo arguindo-se. Vencedor considerava-se aquelle, que mais bolos dava no seo rival e nisto consistido as glorias do combate, Era assim que es mogos se habituavéo a causar dé- res € afflicgoes a seos semelhantes, tornando-se duros e crueis. A escola fundava a cadeia, dispoitdo “ao crime, que era uzual naquelles tempos de grandes, porem falsos pundonores. Frequentavao a escola ordinariamente rapazes de mais de 12 annos, por isto que as creangas nao resistirido a tao duro regimen. E os mestres, entretanto, bem pouco sabido, salvo os de latim, materia que se estudava com muito ardor, tendo-se em conta de crudito quem vertia os classicos, bem que os nado entendesse. xl Modas. Folgares, Novidades do tempo. © luxo ainda ndo tinha transposto o oceano, aguar dava o dia do superfluo, A esthetica do colono devia pare- cer-se com as circumstancias da terra e nem podia kaver gosto apurado, faltando os confrontos: Apenas os altos funccionarios e os negociantes que faziao as tardias viagens de Pernambuco, ou por via des- ta praca podido receber alguns artigos de !.isbda, da- vdo-se um tratamento mais esmerado. : Da metropole vinhao casacas de panno fino preto e azul, que servido uma vida inteira e nos primeiros “tem- pos do Ceara erdo descriptas nos inventarios, passando avs herdeiros do primeiro adquirente 128 DO INSTITUTO DO CEARA Tinhdo uma lapéla endurecida a ferro e a posponto, a géla levantada até meia cabega, e mangas tdo justas que comprimigo os bragos, As casacas azues tinhdo gran- les bot6es dourados. . Uns calgdes abotoados junto aos joelhos dando en- trada por um algapao, meias de séda, sapatos de entrada baixa com fivellas de ouro e prata, collete abotoado, acima dos peitos, gravata de meio-lenco envolvendo o pescoco, chapeo alto, bengala de castéo de ouro e um rabicho, -completav3o a toilette de um personagem do tempo nos dias de festa, . A classe jmmediata e a gente grada (no diario) ves- tia rudaque, especie de casacta de dbas curtas e robissao de daraque ou lila. Os pobres fazido-no de vila e d’ou- tras fazendas de menos valor . Usavaéo tambem a paqueta e 0 timdo, em certas occa- sides, o capote de barragana, fazenda de 1a aspera e ‘es- péssa de quadros encarnadus ou azues, ou de‘ambas as céres combinadas. Trazido botas de cano alto ou simplesmente sapatos de entrada baixa. . O. chapeo uzual era de baiéta preta chamado—de Braga. Tinha as abas arqueadas, a copa alta, no fundo um diametro tamanho, que erdo terriveis as encapellagdes. Davao a este chapeo o nome de bidio. Outros da mesma . fazenda, com abas longas, erao.do uzc da gente pobre Os meninos das -familias. abastadas vestido sungas, accumulagao de jaqueta e calgdes em uma sé peca que os pobres fazido de xila. . Xila era_um algodao liso. fino,-com quadros azues, de padroes diversos, fazenda mui popular e para toda sorte de roupas. . - Os criadores de gado nos sertées, alguns em visita a villa, trazido ordinariamente o uniforme da profissdo —gibfo, pernciras, guardapeito, luvas e chapéo, tudo fabricado de pelles bem cortidas, macias ¢ tratadas com esmero, 4s vezes coin bordaduras € pespontos, que pro- duzido bom effeito pelo gosto e arte. Koster ¢ Ferdinand Denis nos deixaréo a estampa REVISTA TRIMENSAL 129 desses personagens, jd hoje encontrados sémente no alto sertéo, como reliquias dos tempos coloniaes. - Viajando a cavallo, os homens montavao em seHas chamadas géafes, com duas saliencias atraz e adiante, de sorté que ndo era facil arrancar dellas o cavalleiro. Algumas erfo ricas e primorosamente trabalhadas em veibutina e marroquim, bordadas a retroz, acolchoadas, arreiadas de prata e com: grandes estribos, trazendo so-- bresancas de couro- de onga para os ricos ou de gato montez para os pobres. ~ . Todos estes luxes erdo para os dias de missa e festas de egreja.. . . .As senhoras ricas tambem faziao vir de Portugal suas roupas de gala e as meninas. guardavdo em tudo, salvo as proporgées, os uzos das maes. . Assim erdo ja, no vestir, o que fallandc dos senti- mentos, os criticos modernos chamdo—mulheres. peque- ninas. | . Vestido setim, nobreza, veludo, sarja, tuguim, cabaia e no ordinario guéagdo e chitas da India. . Era uma peca de valor o chamado siteé, capa longa de durguete (fazenda de séda) com punhos e gola de ve- ludo. Em um inventario antiquissimo encontramos um si- toé, que foi dado em quinhdo 4 herdeira da defunta an- tepossuidora Usavao. de um /é, préso a um ‘pente enorme, que era um como estandarte fincado sobre uma montanha de cabellos, formada no alto da cabeca e mui estimada sob. o nome de cdcd. O 6 servia de véo, cahindo sobre uma parte do rosto e prolongando-se pelas costas até os tor- nozellos. Substituido-no em certas idades, pelo lencol de cacundé, de matdmes e de rendas ¢ os havia de preco ele- vadissimo, obtidos no paiz. . * Usavao tambem mantilhas de gaze ou escwmilha de céres._vivas, postas sobre os hombros. Calgavaéo sapatos de -velbuiina, com fivella de ouro sobre meias abertas -presas por fitas, que se enlacavio nas pernas; chinelas de marroquim, camurga, etc, O cou- ro de polimento nao existia. . 130 DO INSTITUTO DO CEARA Ao pescoco trazido cordées de ouro, collares, gargan- tilhas e riguififes ou cordées de ouro cheios de emble- mas e enfeites; pendentes das orelhas, grandes brincos, argolas ou placas: nos dedos anneis de peso chamados — memorias. As mulheres. da classe immediata yestido xila, guin- gdos (chitas de ziguezagues), chitas federaes ou douradas. As mais pobres trazido saia e cabegdo, as da ultima camada vestido algoddo, por ellas mesmo tiado € tecido. O fuso e tear erdo entao por toda a parte. . Montando, as senhoras uzavao de saias de ganga ou de fazendas de preccs, compridas e abertas para se pode- rem arrimar aos dois estribos, Usavao de sellas com um grande bico-recurvado a que davéo o nome dé sellins e estavio em uso tambem as andilhas, sella, que permittia 4 equitante estar voltada para um lado, com os dois pés sobre uma mesma travessa, . Enormes -chapelinas comptetavdo o costume. Na Fortaleza, alem das festas religiosas, havia os arrumamentos de tropas, 0 beija-mao no dia de annos do principe, os jantares e reunides’ do governador, os baites, que consistiéo. em representagdes intermeiadas de dan- gas € cantos, O povo tinha seos folgares, rudes, como elle. Alguns cahirdo em desuzo: 0 papangu, procissao car- navalesca ; 0 pagé, representagao de scenas -da vida sel- -vagem, na qual fazia de protogonista uma serpente que acabava as m4os dos indivs; 0 batuque, danga africana; o fandango, scenas do mar; as touradas; as corridas a argolinha; as dancas de corda nas ruas e pragas. Os instrumentos usados pelo povo (alguns hoje bem raros) eréo-a viola, a guitarra, a'rabeca, o machinho, ete, . - As festas de egreja e quaesquer outrag do matto néo dispensavdo o tira de roqueira ou de bacamarte, etc Os ciganos, que, formando bandos numerosos, vi- nhdo arranchar-se junto 4s villas e povoados, os ouvido- res, missionarios e visitadores, fazendo sua entrada, com numérosas cavalgadas, ero successos. O povo se movia a vér estas cousas. ‘A predica dos missionarios deslocava as populagoes « do sertdo, que vinhao formar grandes abarracamentos, onde elles se, achavdo, para se entregarem aos exercicios religiosas taais estravagantes, resar, fazer pazes, peniten- cias, etc, Os frades aterravao-n'os com,ameagas de castigos tremendos, na outra vida, e lhes causavéo uma impres- so que. resistia d accéo do tempo. Ficavao doidos os ‘pobres de espirito,.e os assassinos limpavado se de suas culpas, confessando-as e remindo-as com) flagellagoes 4 disciplina, . . Assim era a’ vida, ha 70 annos e ‘emol-a esbocado, * ds vezes com’ minuciosidade, pard aproveitar aos + que co- megdo a éscrever sobre costumes. . od

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